O Comércio

NOTICIÁRIO CULTURAL DE HONG KONG

Jane Ram

XIII Festival de Arte da Ásia

O "XIII Festival de Arte da Ásia", realizado de 12 de Outubro a 2 de No-vembro, apresentou ao público uma grande variedade de acontecimentos, desde a dança aborígine australiana à re-presentação tradicional javanesa e Tea-tro Nô. Trata-se do festival mais ambi-cioso da região e o programa de 1990 era particularmente variado. Devido às limi-tações existentes, o festival inclui sempre visitas repetidas, mas a edição deste ano tinha como cabeças de cartaz actuações de grupos estreantes em Hong Kong.

The Guangxi Minority Folk Arts Performing Group interpretou músicas e danças virtualmente desconhecidas no exterior da distante região autónoma de Guangxi Zhuang. As peculiares shan-ge (canções da montanha) expressam o es-pírito da vida de 11 dos maiores grupos étnicos. Os trajes feitos à mão, melodio-sos e declamatórios, rústicos e amoro-sos, ecoam a alegria e o colorido da mú-sica e da dança. Muitas das danças são humorísticas e outras chegam a ser cómi-cas, caso da Clog Dance (Dança dos Ta-mancos) do povo de Zhuang, na qual nada menos que seis pessoas dançam juntas num só par de tamancos. O teatro estúdio do Centro Cultural transformou--se numa aldeia étnica, acrescentando uma atmosfera de autenticidade ao es-pectáculo.

A One Extra Company da Austrália adquiriu uma considerável reputação in-ternacional, graças a digressões pela Eu-ropa e Estados Unidos. Formada em 1976 pelo coreógrafo nascido na Malá-sia, Kai Tai Chan, esta companhia é con-siderada como uma das mais interessan-tes da Austrália, tornando-se totalmente profissional a partir de 1981. Kai Tai Chan fundou a companhia com o objec-tivo de abrir as portas à sua própria obra, assim como ao repertório tradicional. Em Hong Kong, onde os seus admirado-res são numerosos, produziu a peça Six Chapters in a Floating Life (Seis Capítu-los numa Vida Flutuante), em 1988. A sua produção de Othello (Otelo), em 1989, representada durante a edição desse ano do festival, é considerada como um dos seus trabalhos mais interessantes até à data. Reconta a história de amor, ciúme e discriminação racial, de Shakespeare, transformando Otelonum primeiro ministro-australiano (representado pelo bailarino aborígene Kim Walker da Sydney Dance Company) casado com Desdémona, uma loura lindíssima. A partitura de Verdi foi condensada e adaptada ao instrumento de origem australiana, o "didgeridoo". O público local recebeu favoravelmente a abordagem singular de Kai Tai Chan, uma combinação de dança, movimento, música, concepção, som e discurso, criando uma experiência teatral rica e poderosa.

O gugin foi o principal instrumento dos letrados da China, remontando esse interesse à época Han ou anterior, mas é raramente escutado nos dias de hoje. A rica tradição do repertório do gugin foi apresentada ao público do festival em dois concertos, três conferências públi-cas e num encontro informal entre Mestres de Gugin, da China. O festival inclui ainda outras formas tradicionais de re-presentação chinesa, tal como Sixty Years of Cantonense Operatic Songs (Sessenta Anos de Canções Cantonenses para Ópera) e Hsiao-Hsi-Yuan Puppet Show Dramatic Troupe (Grupo Dramá-tico de Marionetes de Hsiao-Hsi-Yuan) da Formosa, um dos poucos grupos de marionetes que representa no estilo anti-go.

O legado da Rota da Seda perma-nece ainda em muitas formas de arte, caso das criações do Uzbek Music En-semble (Agrupamento de Música de Uz-bek). O grupo, chefiado pelo professor do Conservatório de Tashkent, mantém vivas tradições com mais de mil anos. A interacção de culturas da Ásia Central, Índia e Médio Oriente são ainda visíveis neste precioso repertónio musical.

O Oriente encontrou-se com o Oci-dente numa atmosfera completamente diferente, durante a popular Asian Jazz Week (Semana de Jazz da Ásia). Ao procurar material novo, vários artistas ocidentais de jazz alargaram o seu âm-bito através da exploração das emoções e elementos estruturais da música asiática. Por outro lado, compositores e execu-tantes da Ásia viraram-se para os concei-tos convencionais do jazz com o objec-tivo de encontrar novas formas de ex-pressão. Os três concertos dados por músicos de Israel, Tailândia e Hong Kong proporcionaram uma visão única desta fusão de grande interesse.

A sofisticação Teatro Nô, do Japão, é universalmente reconhecida, muito embora as oportunidades de se assistir a espectáculos de grupos profissionais se-jam relativamente raras. O programa do festival incluía a primeira actuação em Hong Kong da Kita Noh Theatre Com-pany (Companhia de Teatro Kita Nô), do Japão, uma das cinco escolas tradicio-nais de Nô do país. O actor principal era Kita Sadayo, o "tesouro cultural nacio-nal". O actor de kyogen, Nomura Man-saku, participou igualmente nas repre-sentações. Foram apresentados dois pro-gramas diferentes, tendo o segundo in-cluído temas chineses como Yokihi (a versão japonesa da história de Yang Gui-fei) e Shakkyo (ponte de Pedra).

Hong Kong recebeu a dança con-temporânea da Coreia representada pela Lim Sisters Dance Company (Compa-nhia de Dança das Irmãs Lim).

Lim Hak-sun e Lim Hyun-sun fun-daram o seu grupo para explorar as pos-sibilidades de um idioma moderno, com raízes na dança ritual tradicional xama-nista da Coreia, nas danças de tambor budista e danças com máscaras Bongson. O trabalho das irmãs Lim tem sido bem recebido em todas as suas actuações, no Japão, Estados Unidos e Europa. Du-rante as Olimpíadas de Seul, tiveram uma audiência que cobriu os quatro can-tos do mundo devido à coreografia e pro-dução do grupo de dança incluído na ce-rimónia de encerramento. O programa de Hong Kong saldou-se numa tentativa honesta e interessante de reconciliar os estilos de vida modernos com os antigos, através da utilização de ideias abstractas e provocantes, resultando num programa muito interessante.

Mais radical foi a apresentação da Byakko-Sha, a companhia japonesa queinventou uma forma de dança moderna única, a butoh. Quando a Byakko-Sha faz a sua aparição no palco, vivificam-se quadros fantásticos e mágicos. A música é interpretada ao vivo pelo grupo japo-nês de "rock fusion", Mar-Pa, e os movi-mentos dos dançarinos não obedecem aos padrões rítmicos tradicionais. Este estilo singular segue uma forma primi-tiva segundo a qual os ritmos são alterna-dos livre e directamente por forma a manter-se o espírito da música. Através de sua mestria em termos de imagem e estilo, os dançarinos expressam, directa e dramaticamente, o íntimo das suas al-mas.

O programa do festival incluíu igualmente o East Java Music and Dance Group (Grupo de Música e Dança de Java Oriental), da Indonésia, e o maior dançarino indiano de Bharat Natyam, Raghunath Manet, assim como Langas and Manganiyars of Rajasthan. Esta companhia executa música do deserto do Norte da Índia, onde, em tempos distan-tes, floresceram artes clássicas de repre-sentação indiana sob o patrocínio dos go-vernantes dos pequenos estados inde-pendentes de Rajasthan. Esta herança rica e única continua a sobreviver nas aldeias e vilas desta região. Os seus músi-cos têm sido bem recebidos nos vários festivais indianos realizados em todo o mundo, cabendo desta vez a Hong Kong o privilégio de apreciar a beleza e vitalidade da sua actuação.

Primeiro Aniversário do Centro Cultural

No dia 17 de Novembro, o Centro Cultural celebrou o seu primeiro aniver-sário. A efeméride foi marcada com um programa grátis de música e outras for-mas de entretenimento, mas ao longo do mês houve uma longa celebração artísti-ca. Vários acontecimentos acompanha-ram inauguração das instalações locali-zadas em Tsimshatsui, na marginal, e com o anúncio do programa do 1991 Arts Festival (Festival de Artes de 1991), sen-sivelmente na mesma altura, pouco tem-po houve para nos debruçarmos sobre o balanço do primeiro ano de actividade. Apesar das críticas iniciais feitas à arqui-tectura do edifício, a taxa de utilização das suas salas tem sido elevada e a sua existência tem permitido apresentar pro-gramas que seriam de todo impossíveis de apresentar noutras instalações. Com a conclusão da segunda fase do edifício, que albergará o ansiosamente esperado Museu de Arte, no final de 1991, o Centro Cultural do território vai transferir-se da zona denominada Central para Kow-loon. Será interessante aferir como é que tal transferência vai alargar a camada de potenciais interessados, assim como a atracção que vai exercer relativamente aos acontecimentos culturais em geral. Os concertos e outros acontecimentos realizados no Centro Cultural atraem certamente mais variados e diferentes extractos da população do que os queeram realizados no "City Hall".

O maior acontecimento artístico do mês de Novembro foi a visita do Scottish Ballet (Bailado Escocês), incluída numa vasta digressão pela Ásia, compreen-dendo actuações no Japão. Nos seus mais de 20 anos de história, esta compa-nhia, com 70 elementos, tornou-se numa das mais bem vistas e bem sucedidas da Grã-Bretanha. Entre 12 e 18 de Novem-bro, o Grande Teatro do Centro Cultu-ral recebeu dois bailados completos, com os membros da Hong Kong Philhar-monic Orchestra (Orquestra Filarmó-nica de Hong Kong), dirigida pelo maes-tro do Scottish Ballet, Guy Hamilton, in-terpretando as partituras de acompanha-mento.

O êxito desta companhia parece ser devido ao facto de atrair e manter nos seus quadros alguns dos melhores baila-rinos britânicos. Numa época em que a capacidade técnica é um dado adquirido, estes bailarinos vão além da rotina, in-terpretando algumas das caracterizações mais expressivas que Hong Kong já tes-temunhou. A teatralidade da sua tradi-ção ficou bem demonstrada pelas obras seleccionadas para esta digressão.

Desde que o Scottish Ballet o es-treou em 1989, o bailado em três actos Peter Pan tem maravilhado as plateias. A coregrafia é de autoria de Grahame Lustig de Sadler's Wells e a fascinante partitura é do compositor escocês Ed-ward McGuire. A obra imortal de J. M. Barrie tem sido objecto de muitos abusos por grupos pantomineiros e actores ama-dores, mas a história foi revitalizada com os bailarinos a fazerem aparecer os rapa-zes perdidos e a família Darling, a fada Tinkerbell e Peter Pan, o rapaz que nunca cresceu. A dança e teatralidade pura combinadas saldaram-se numa noi-te extremamente agradável, dirigida à família. Com a sua presença graciosa e atlética em palco, Vincent Hantam in-sere-se com perfeição no papel principal, por si criado, enquanto que a estatura elegante de Linda Packer e o seu talento para caracterizações tornaram-na na corrompida e obstinada Tinkerbell. Es-tas duas figuras principais do elenco da companhia tiveram igualmente desem-penhos excelentes nas personagens de Romeu e Julieta, em Romeo and Juliet, uma produção clássica recorrendo a par-titura de Prokofiev e coreografia de John Cranko.

Enquanto a magia de Peter Pan se revelava no palco, o salão de concertos (Concert Hall) albergava os The Little Singers o f Paris (os Pequenos Cantores de Paris), na sua terceira visita a Hong Kong. Nos seus concertos dos dias ll e 12 de Novembro apresentaram desde música sacra da Idade Média a canções populares internacionais e algumas com-posições da actualidade. Embora menos conhecido que o Vienna Boy's Choir (Coro dos Rapazes de Viena), o coro francês é tido como um dos melhores do mundo em termos de execução e reper-tório. Estes concertos justificaram ple-namente o epíteto "Vozes Angélicas de Paris".

Nos últimos 18 meses aproximada-mente, têm-se revelado vários talentos extraordinários entre os vietnamitas que se encontram nos campos de refugiados em Hong Kong. Tem-se prestado algu-ma atenção às suas carências, havendo alguns que já se mudaram para o Oci-dente com o intuito de desenvolver as suas carreiras profissionais. O mundo tem vindo a testemunhar o valioso patri-mónio musical daquele país através dos êxitos de diversos músicos vietnamitas ao longo dos anos. A 16 de Novembro, Hong Kong teve a oportunidade de ouvir Dang Thai Song, formado em Moscovo, no Salão de Shatin Town. Dang Thai Song venceu a medalha de ouro do Con-curso Chopin de 1980, realizado em Var-sóvia, o primeiro pianista asiático a con-seguir tal feito desde que Fou Ts'ong Won venceu o mesmo concurso na dé-cada de cinquenta. A carreira interna-cional de Dang Thai Song desenvolveu--se e, entre digressões, dá aulas de piano em Tóquio. O seu programa tinha poucas surpresas, embora tenha sido meticulosamente concebido - Six Preludes from Book 7 (Seis Prelúdios do Livro I) e Three Pieces from "Images " (Três Peças de "Images"), de Debussy; duas baladas de Chopin e um grupo dedicado a Rach-maninoff, incluindo Four Pieces from "Moments Musicaux" (Quatro Peças de "Moments Musicaux").

A medida que o Scottish Ballet se preparava para o seu espectáculo final, o Salão de Concertos enchia-se para escu-tar uma das maiores violinistas da actua-lidade, Anne-Sophie Mutter. O seu reci-tal de 18 de Novembro, no Salão de Con-certos do Centro Cultural, foi o encerra-mento do "1980 Cartier Master Series" e resultou num acontecimento inesquecí-vel. Acompanhada pelo pianista Lam-bert Orkis, Anne-Sophie Mutter inter-pretou um programa invulgarmente va-riado: Variations on a theme by Corelli (Variações sobre um tema de Corelli), de Kreisler; Sonata 1916-17, de Debus-sy; Sonata 7 in C minor Op. 30, no 2 de Beethoven; Partita, de Lutoslawski; e Carmen Fantasy Opus 25 (Fantasia de Carmen Opus 25), de Sarasate. Esta foi a sua segunda visita a Hong Kong e a lota-ção do salão estava completamente esgotada. O sentimento generalizado era de que fora "um recital inspirado" e, antes de partir, deixou a promessa de que em breve voltará a tocar no território.

De 28 a 30 de Novembro, o Momix Dance Theatre (Teatro de Dança Mo-mix) apresentou um tipo de bailado bas-tante diferente no Salão de Concertos do "City Hall". Técnicas de palco, vídeo e televisão combinam-se nas representa-ções desta companhia, sendo notáveis pelo seu espírito inventivo e grande be-leza física. Originários de Connecticut, Estados Unidos, os bailarinos classifi-cam-se de ilusionistas e o seu director ar-tístico/fundador, Moses Pendleton, em-prega imagens sobrenaturais, humor jo-coso, juntamente com uma utilização original de estacas, iluminação, música e corpo humano.

O mês de Novembro viu ainda a Ta-felmusik, a orquestra barroca vencedora do prémio "Ensemble of Year" (Agru-pamento do Ano) do "Canada Music Council" (Conselho Musical do Cana-dá). A orquestra deu um concerto no dia 17 de Novembro, no Salão de Concertos do "City Hall". Dirigida pelo maestro Jean Lamon, este agrupamento de 22 elementos, é especialista em "autênti-cas" interpretações de repertório barro-co. Este facto pode dar a ideia de que os seus elementos são uns eruditos aborre-cidos, mas no concerto a sua música soou tão fresca e espontânea como no dia em que foi escrita. O espectáculo incluiu concertos instrumentais e as peças rara-mente interpretadas de Motet, In Tur-bato Mare Irato, de Vivaldi, e Suite for two oboes, bassoon and strings (Suite para Dois Oboés, Fagote e Cordas) e "Wedding" Cantata, BMV 202" (Can-tata "Casamento", BWV 202), de Bach. Ann Monoyios foi a solista soprano.

Ainda no mesmo mês, dois cantores visitaram Hong Kong. O tenor Robert White deu um recital de árias barrocas, baladas, canções artísticas francesas e canções folclóricas, no dia 26 de Novem-bro, deliciando a plateia com uma actua-ção leve e bem dirigida. A soprano Nancy Yuen, nascida em Hong Kong, ganhou fama na Europa, principalmente com a "Welsh National Opera Compa-ny" (Companhia Nacional de Ópera do País de Gales), regressou ao território para dar recitais nos dias 14 e 16 de No-vembro. O primeiro programa compre-endeu uma selecção impressionante de árias e baladas, enquanto que o segundo foi mais variado, incluindo selecções dos musicais da Broadway e canções folclóri-cas. A sua musicalidade polida e presen-ça em palco tornam-na numa executante de grande calibre.

A associação entre a angariação de fundos e as artes vem de há longa data, não só em Hong Kong como em qual-quer parte do mundo. No dia 22 de No-vembro, no Teatro Lírico da APA, os fundadores do "Hong Kong Ásia Trust" apresentaram a peça Visions and Har-mony (Visões e Harmonia), levando a representação de variadas formas de arte por áreas ainda não exploradas. Músicos ocidentais e orientais - membros da "Hong Kong Philharmonic", dirigidos por Zakir Hussain ("tabla") e Amjad Ali Khan ("tanpura") - tocavam enquanto pintores de Hong Kong, Formosa, Índia, Paquistão e Bangladesh trabalhavam em papel ou lona. No final, os quadros fo-ram leiloados, tendo o seu produto, vários milhões de dólares, revertido para instituições de caridade de Hong Kong, China, Paquistão e Bangladesh. Alguns dos pintores mais famosos da região doa-ram o seu tempo e talento: Fang Zhao-ling, Gerard D'Henderson, M. F. Hu-sain, Qiu Deshu, Kalidas Karmakar, Za-hoor Ul Aklaq, Irene Chou e Wang Yis-hi. Embora as condições não tenham sido as ideais, foi fascinante ter a possibi-lidade de ver tantos cérebros famosos a trabalhar simultaneamente. No leilão, os lances sucediam-se, facto que nos leva a reflectir sobre qual o exacto valor que actualmente uma obra de arte pode atin-gir.

Depois da movimentação de No-vembro, o mês de Dezembro foi conside-ravelmente mais sossegado. O ponto alto do fim do ano foi indubitavelmente o concerto dado por I Solisti Italiani no Salão de Shatin Town, no dia 21 de De-zembro. Os 12 músicos, anteriormente figuras de proa do "Virtuosi di Roma", formaram um novo agrupamento em 1979. Continuam a trabalhar sem maes-tro, facto que acrescenta concentração e ímpeto às suas actuações. Os excelentes instrumentos italianos dão um timbre particular ao agrupamento e os muitos solistas que tocam com o "I Solisti Italia-ni" utilizam igualmente instrumentos italianos. Compreensivelmente, como o seu nome dá a entender, o repertório ba-seia-se principalmente em compositores italianos, muito embora o agrupamento tenha alargado o seu âmbito ao incluir obras de "estilo italiano" de compositores como Handel, Mozart e outros.

Um destes casos foi a obra que abriu o concerto de Hong Kong, Octet in Eflat, Opus 20, de Mendelssohn. A inter-pretação desta obra deu uma impressão imediata da abordagem individual e es-pontânea que o grupo faz da composição musical, uma verdadeira antecipação do que estava para vir. O programa foi ain-da preenchido com Sonata in G, N°, de Rossini, Quartet in E minor, N&o 5, de Donizetti, e "Four Seasons" Violin Concerto, de Vivaldi. Nesta última obra, houve rotação dos solistas, traduzindo--se numa abordagem invulgar, mas que deu a oportunidade à plateia de se aper-ceber exaustivamente do grande talento deste agrupamento. Seria difícil encon-trar-se uma forma mais bela de terminar o extraordinário programa de concertos que Hong Kong teve em 1990.

Hong Kong Philharmonic Orchestra

A Hong Kong Philharmonic Or-chestra teve um programa cheio de concertos em Outubro, Novembro e De-zembro. O repertório cobriu, na sua maior parte, obras pouco vulgares, facto que beneficiou tantos os músicos como os espectadores.

A maioria dos concertos foi dirigida pelo director musical da orquestra, Da-vid Atherton. A orquestra foi igual-mente dirigida por outros maestros que se deslocaram ao território, casos de Yoshikazu Fukumura, Peter Maag e Jor-ge Mester. Este já dirigiu a orquestra várias vezes noutras visitas anteriores, parecendo sempre que a sua acção faz realçar a musicalidade das interpreta-ções.

Vários solistas internacionais toca-ram com a orquestra, casos do pianista Alexander Toradze, interpretando o pri-meiro concerto para piano de Tchaikovs-ky; a meio-soprano Alfreda Hodgson, cantando a canção de Schoenberg, rara-mente escutada, "Song of the Wood Dove"; a pianista francesa Cecile Ous-set, muito popular, tendo interpretado o primeiro concerto para piano de Men-delssohn; o trompetista Hakan Harden-berger, de 30 anos de idade, mas já mun-dialmente famoso, interpretou concer-tos de Watkins e Haydn; Daniel Heifetz afirma que acha não ter nenhuma rela-ção com um nome lendário, Jasch Hei-fetz, mas a sua interpretação do terceiro concerto para violino de Mozart, no iní-cio de Dezembro, levantou a cortina para as celebrações do bicentenário do compositor.

A orquestra encerrou a época de 1990 com duas interpretações da Ninth Symphony (Nona Sinfonia) de Beetho-ven. Esta obra é de interpretação difícil, mas apesar dos inúmeros recursos do "Kanagawa-Ken Joint Chorus" (Coro Conjunto de Kanagawa-Ken) e do "Hong Kong Philharmonic Orchestra Chorus" (Coro da Orquestra Filarmó-nica de Hong Kong), o público do terri-tório ficou uma vez mais sem assistir a uma leitura inspirada desta sinfonia.

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