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PRIMÓRDIOS DA IMPRENSA PERIÓDICA EM MACAU

Manuel Teixeira*

O primeiro que publicou um estudo de conjunto sobre o Jornalismo em Macau foi José Gabrie l Bernardo Fernandes, natural da freguesia de S. Lourenço desta cidade, onde nasceu aos 29 de Dezembro de 1848, sendo filho de José Gabriel Fernandes, natural de Goa, e de Josefa Juliana Carneiro, natural de Manila (Vid. Galeria de Macaenses Ilustres do Séc. XIX, p. 287, n ota 2). Esse artigo de Gabriel Fernandes, intitulado O Jornalismo em Macau, apareceu pri meiro em Coimbra, sendo depois transcrito pela Verdade de Nova Goa, de 7 de Agosto de 1885, pela Voz do Crente de Macau de 2 de Julho de 1887 e pelo Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 1888-89.

Fala também do jornalismo em Macau Brito Aranha nos seus Subsídios para a História do Jornalismo das Províncias Ultramarinas.

Aparecem ainda, aqui e além, referências aojornalismo nesta província, mas geralmente pouco exactas como esta de Georges Weill em Le Journal:

«Voltaire disse que os jornais"existiam na China desde tempos imemoriais".

Há nesta afirmação uma parte de verdade, desde que se entenda por jornal uma folha puramente oficial, reservada para alguns privilegiados. As Notícias dos Residentes que ap areceram na Idade Média eram folhas destinadas, exclusivamente, aos governadores das proví ncias. A Gazeta de Pequim, fundada no Século XVIII, vendia-se ao público, mas era ig ualmente oficial.

A verdadeira Imprensa só começou no Século XIX e sob influências estrangeiras. Assim, os primeiros jornais apareceram em Macau, cidade portuguesa, em 1817(1); depois em Hong Kng, ilha inglesa, em 1853; e em Xangai, na concessão europeia, em 1857».

A imprensa periódica no Ultramar nasceu com o regime constitucional, depois que o Dr. Francisco Soares Franco apresentou nas Constituintes de 1821 o primeiro projecto de lei sobre liberdade de imprensa. Aprovado esse projecto e abolida a censura prévia, decretada em. 1768 com a criação da Mesa Censória pelo Marquês de Pombal, começam a surgir jornais em todas as colónias: na Índia, a Gazeta de Goa, em 22 de Dezembro de 1821, publicada na Imprensa Nacional de Nova Goa e redigida pelo fíico-mor da Índia, António José de Lima Leitão; em Macau, a Abelha da China, em 12 de Setembro de 1822; em Angola, a Aurora, editada em Luanda em 1855; em Moçambique, o Progresso, editado em 1868 em Moçambique, ao tempo capital da colónia do mesmo nome; em Cabo Verde, o Independente, em 1877, redigido por F. Pinto Colho; em S. Tomé e Príncipe, o Equador, aí por 1870; na Guiné, a Fraternid ade, em 1883; a província mais pobre neste capítulo é Timor, pois só teve o Bole tim Oficial desde que se separou do governo de Macau.

Daqui se vê que a Índia foi o berço do jornalismo no Ultramar, vindo logo a seguir Macau.

O mais velho jornal do mundo foi um jornal chinês publicado em Pequim. Chamava-se "Pei -ping-Pao", sendo fundado no ano de 400 A. D. por lou-Chaung. Continuou sempre a usar tipos de madeira até que foi suspenso em 1939, quando os japoneses ocuparam Pequim. O jornal durou 1.500 anos.

Que contraste com os jornais publicados em Macau, que hoje aparecem e amanhã desaparecem! Conta-se que 1500 directores do "Peiping-Pao"fo-ram decapitados.

Quanto aos jornais de Macau, não existe hoje colecção alguma completa.

O major Rafael das Dores ofereceu, a 11 de Fevereiro de 1889, ao Clube de Macau, a colecção completa dos jornais e folhetos aqui publicados; mas a rica biblioteca desse Clube, como infelizmento tantas outras oficiais e particulares, era uma farta vinha vindimada peos seus fr equentadores. A colecção desapareceu sem deixar rasto.

No Macaense, de 23 de Novembro de 1919, dizia Silva Mendes: "Os jornais publicad os em Macau têm, com efeito, desaparecido quasi todos. Não há colecção nenhuma ofici al, e, em mãos particulares, que nos conste, duas há apenas de valor ou importância: uma em Shamim (Cantão) pertencente ao Sr. Inácio Pereira, e outra em Shanghai pertencente ao sr. Alfredo de Sousa. A Abelha da China, que começou em 1821, a Gazeta de Macau em 1824, a Chronica de Maca em 1834, O Verdadeiro Patriota em 1838, a Gazet a de Macao em1839 eoutros jornais ainda, onde estão eles, onde podem hoje ler-se?"

Pedro Âgelo possuía uma colecção muito incompleta que foi adquirida em 1945 pela Bi blioteca do Leal Senado, hoje Biblioteca Nacional de Macau.

"A Abelha da China"

01.o número apareceu numa quinta-feira, 12 de Setembro de 1822 e o último, o n.o67, num sábado, 27 de Dezembro de 1823. Estabelecido pelo chefe do partido cons titucional, tenente-coronel Paulino da Silva Barbosa, e editado pelo Vigário do Convento de S. Domingos, Fr. António de S. Gon-çalo de Amarante, O. P., este semanário político, impre sso na Tipografia do Governo, foi uma verdadeira abelha para o partido conservador, chefiado pel o Ouvidor Miguel José de Arriaga Brum da Silveira.

O virulento número de 28 de Agosto de 1823 foi, pouco tempo depois, por ordem do governo provisório, judicialmente queimado em público às portas da Ouvidoria.

Note-se que Fr. Gonçalo de Amarante, o violento redactor da Abelha, já em fins de 1822 deixara de ser Superior do Convento de S. Domingos, pois num documento de 2 de Dezembro des se ano figura como Vigário o dominicano Fr. Luís de Santa Rosa Pereira. Pela queda do gove rno constitucional em 23 de Setembro de 1823, Fr. Gonçalo de Amarante refugiou-se em Cantão juntamente com os liberais Domingos José Gomes e João Nepomuceno Maher; ainda lá se encont rava em 16 de Outubro seguinte na esperança de regressar a Macau, logo que mudasse o governo; algum tempo depois, embarcou para Calcutá, onde morreu.

Depois de 23 de Setembro de 1823, a Abelha colocou-se ao lado do novo governo e pas sou a ser editada por António José da Rocha, saindo o 1.o número com a nova o rientação a 27 desse mesmo mês.

No seu "Esboço da História de Macau", publicado em Macau em 1957, Artur Levy Gomes, a pg. 327, escreve: «Neste ano de 1823, o jornal"A Abelha da China", de feição abertamente liberal e dirigido, como vimos, por um dominicano, transformou-se em 27 de Dezembro, na"Gazeta de Macau", órgão do partido conservador, agora sob a direcção do monge agostiniano António José da Rocha. Como que retribuindo aos dominicanos os "autos de fé da sua Inquisição foi o último número do seujornal"A Abelha"por ordem do governo prov isório, queimado nesta mesma data, à porta da Ouvidoria».

Há aqui alguns pontos que importa rectificar:

1) O último n.o do jornal com o título A Abelha da China saiu em 27-12-1823; mas o primeiro n.o da Gazeta de Macau que veio substituir A Abelha apareceu em 3-1-1824. 2) O n.o da Abelha, queimado às portas da Ouvidoria, por ordem do governo provisório, não foi o de 27-12-1823, mas o de 28-8-1823, continuando com o mesmo título de Abelha da China até ao fim desse ano. 3) Antóni o José da Rocha, ainda que residia no Convento de St. ° Agostinho, não era monge agostinh o nem religioso, mas secular; tanto a Abelha como a Gazeta eram impressas na tipo grafia do Governo, que então estava a cargo do Senado. A Gazeta cessou a sua publicação em fins de 1826. O director e administrador da tipografia do Governo era Francisco Antó nio Pereira da Silveira (2) o qual deixou este cargo em 7 de Setembro de 1825, sucedendo-lh e Francisco António Seabra (3) em 13 do mesmo mês.

Montalto de Jesus refere-se a estes dois jornais da foram seguinte:

"Um acontecimento digno de nota neste período foi a publicação do primeiro jornal de Macau em 1822 - o semanário Abelha da China, estabelecido por Barbosa, e editado pel o superior dos Dominicanos. Zumbindo com a característica turbulência desta ordem monásti ca, o Abelha revelou-se uma verdadeira vespa para o partido Conservador. A virulenta edição de 28 de Agosto de 1823 foi, por ordem do Governo provisório, judicial e publicamente queimada à porta da ouvidoria. Quando pouco depois Arriaga foi reinstalado, o jornal foi sup rimido e publicada em seu lugar a Gazeta de Macao (4)".

Montalto tem razão; pois que, se bem que existia em Goa um jornal com o título de Abelha, este título foi certamente escolhida de propósito, pois que o jornal se propunh a dar ferroadas nos seus adversários. Note-se ainda que o director do jornal era o vigário de S. Domingos; mas, pouco depois, frei António de S. Gonçalo foi substituído no cargo de superior do Convento, continuando, no entanto, à frente do jornal. Este frade era muito apr eciado como pregador, sendo convidado a pregar nas ocasiões solenes, como sucedeu a 26 de Dez embro de 1819, dia da aclamação de D. João VI em Macau.

A Abelha da China era visada pela censura, mas esta deixava-lhe passar os mais virulen tos ataques aos inimigos do governo.

J. M. Braga dá-nos o sumário dos mais importantes documentos ali publicados, que são os seguintes:

Notas e informação enviadas pelo Secretário do Estado do Ministério do Ultramar em conexão com as instruções que devem ser feitas em Goa para a orientação do Bispo d e Pequim com respeito às suas relações com os chineses no que diz respeito a Macau.

Este documento foi enviado pelo Vice-Rei ao Governador de Macau, Senhor Bernardo Aleixo de Lemos Faria, em 1784. Perdeu-se o original de Macau, mas existe uma cópia em Lisboa.

Investigação sobre o Conselheiro Miguel de Arriaga e o estado dos seus negócios.

E' um ataque fulminante ao ouvidor que era o chefe do Partido Conservador e se escapara pa ra Cantão. Metia a ridículo o ouvidor que se embrenhara em negócios e pelos tristes resul tados que se seguiram. Foi escrito por Francisco José de Paiva e apareceu a 14 de Novembro de 1822.

Carta do Governador da Índia Portuguesa ao Leal Senado.

Estas cartas eram datadas de Goa a 11,20 e 24 de Abril de 1823. Foram publicadas a 26 de Junho de 1823.

Suplemento à "Abelha da China", datado de 10 de Julho de 1823.

Contém a correspondência trocada com as autoridades chinesas respeitante à presença da fragata portuguesa Salamandra, transcrições de documentos relacionados com uma re união pública realizada do Leal Senado a 16 de Janeiro de 1823, e extractos da "Gazeta de Goa", datada de l de Março e de 12 de Abril de 1823, relativos à situação política em Macau.

Cartas trocadas entre o Leal Senado e alguns cidadãos.

Entre as cartas publicadas contam-se as do Barão de S. João (5) do Porto Alegre, Conselheiro Manuel Pereira, Domingos Pio Marques, Rev. P.e José Joaquim Pereira de Miranda, Rafael Botado d'Al-meida, Cláudio Adriano da Costa, Ludgero Joaquim da (6) Faria Neves e outras.

Actas das Sessões do Senado e correspondência sobre a situação política de Macau.

Publicadas a 24 de Julho de 1823.

Cartas do Governador Geral de Goa, datadas de 24 de Abril de 1823 e vários relatos sobre a situação de Macau e Portugal.

Publicadas a 21 de Agosto de 1823.

Extractos (assim chamados) dos jornais publicados em Paris, Londres e Nova York sobre a situação política de Portugal e outros assunto.

Publicados a 28 de Agosto de 1823 (7).

"Gazeta de Macao"

01.° número deste semanário, que veio substituir a Abelha, saiu a 3 de Jane iro de 1824, segundo Gabriel Fernandes, e a l do mesmo mês, segundo Rodrigo Marin Chaves nas suas Efemérides, publicadas no Anuário de Macau, 1922, pág. 36. Impresso na tipografia do Governo, figurava como redactor António José da Rocha, residente no Convento de St.0 Agostinho, mas o verdadeiro redactor era um frade agostiniano, segundo afirma o P.e Nicolau Rodrigues Pereira de Borja num opúsculo de 4 de Julho de 1824:

"O Redactor da Gazeta de Macao não he, como esta há anunciado ao principio, António da Rocha; mas sim certo Religioso o qual já ensinou de Cadeira a Sagrada Teologia".

A Gazeta cessou a sua publicação em fins de Dezembro de 1826, segundo se infere do seguinte Oficio do Leal Senado:

"Illmo, Snr. Commendador Francisco Antó-nio Pereira da Silveira. Havendo o IImo Leal Se-nado na Sefsão de hontem afsentado, cefsar as des-pezas da Gazeta desta Cidade, se encarrega à VS. a conjuntamente com este feo criado pa. proceder o Inventário das couzas pertencentes à mesma. Oq. partecipa aV. Ss., pa. fua intelligencia, o execução. Ds. Ge. a V. Sa. ms. an. Macao Contadoria do Leal Senado 30 de Dezembro 1827. Tenho honra de fer D. V. Sra. atto. Vr. ob. Miguel Pereira Simoens".

Tanto a Abelha da China como a Gazeta de Macao eram impressas na Tipografia do Governo a cargo do Leal Senado.

Em Ofício de 7 de Setembro de 1825, o Senado aceitou a escusa de Francisco António Pereira da Silva de continuar a ser Director e Administrador dessa Tipografia, nomeando em seu lugar Francisco António Seabra, devendo tomar posse do cargo a 13 de mesmo mês. Esta Tipografia foi depois cedida por empréstimo ao Superior do Colégio de S. José, P.e Nicolau Rodrigues Pereira de Borja. Em 12 de Julho de 1829, o Senado oficiava ao P.e Borja "para entregar à disposição do Procurador do mesmo Leal Senado, oIIlmo. Coronel Pedro Feliciano de Oliveira e Figueiredo, a Imprensa com todos os seus tipos, e mais utensilios segundo o Inventario que V. Ra afsignou nesta Contadoria quando recebeo por emprestimo a da. Tipografia".

Em 13 do mesmo mês, o P.e Borja comunica ao Senado que no mesmo dia 19 escrevera ao Procu rador para que a mandasse receber.

Segundo depreendemos dos documentos que consultámos, a Imprensa devia ser remetida para Goa, em cumprimento da determinação do Governo da Capital da Índia. Parece-nos, porém, que essas ordens não se cumpriram, pois que em 12 de Março de 1831 o P.e Joaquim José Leite comunicava ao Senado "q. tinha mandado imprimir na Imprensa do Leal Senado huns livrinhos, e q. importaria em humas quarenta cinco pats, e q. mandasse receber", mas o Senado respondeu-lhe que, em atenção aos seus bons ofícios, tinha "afsentado em não receber a da. despeza da fua impreffão".

"The Canton Register"

Semanário fundado em Cantão por James Matheson, sendo, contudo, muitos números publ icados em Macau, no edifício de Jardine Matheson & Co., na Rua do Hospital, rua esta d esignada pelos chineses com o nome de Pac Má Hong, i. é., firma do cavalo branc o; a razão disto é que o edifício de Jardine Matheson & Co., tinha na sua fachad a, como brasão, um cavalo branco.

O l.° número deste periódico comercial apareceu em 8 de Novembro de 1827 em Cantão e o último em 30 de Março de 1844, em Hong Kong; a princípio, era editor W. W. Wood e de pois John Sla-de.

J. M. Braga escreve: "Começado em Cantão, o jornal passava para Macau quando os c omerciantes estrangeiros tinham que sair de lá no fim de cada estação comercial. Assim publicava-se em Cantão durante seis meses e em Macau nos outros seis meses do ano. Mas quand o se suscitavam dificuldades com os mandarins em Cantão, a imprensa permanecia em Macau.

O editor do jornal era W. W. Wood, americano de Filadélfia, "filho do famoso escri tor trágico dessa cidade".

Chegou em 1825 e "rivalizava perfeitamente com Chinnery em engenho e metáfora; mas quanto a fealdade cada qual insistia que era mais feio que o outro".

Não era apenas editor, mas também compositor. O jornal era de carácter comercial e social, publicando, além de importantes referências a acontecimentos contemporâneos, arti gos sobre a China e os chineses e algumas vezes sobre Macau e os portugueses.

Robert Morrison foi convidado a escrever para o jornal, pagando-se-lhe 75 lbs. por ano pelo s seus artigos "para serem dadas a qualquer instituição de caridade que ele escolhesse. Hoje, comenta Morrison, escrevi três folhas para o Canton Regis-ter. O Sr. Wood e S r... não conhecem a língua chinesa; nem parece terem talento algum para colher informação dos nativos. Eu nada tenho com o jornal além de lhe mandar um parágrafo. Julgo que é j usto encorajar a obra"(8).

"Além do registo completo das mercadorias transaccionadas em Cantão, contém grand e variedade de notícias dos seus usos, costumes, etc. dos chineses e outras nações orient ais. Quase todas as páginas do Register apareciam pejadas de matéria original; e é isto que lhe tem acarretado particular apreço no estrangeiro, onde tem contribuído muito para chamar a atenção pública para os chineses".

Em nota diz J. M. Braga que esta jornal era impresso em Macau na firma Magniac & Co., que depois de 1832 passou a ser conhecida por Jardine, Matheson & Co., no N.o l, Rua do Hospital. Era uma casa magnífica e existiu até 1944, em que foi demolida por ameaçar ruína.

Em 1831, Wood resignou do Register para ingressar na firma "Russell & Co. Printers". Mascomo tinha tinta no sangue, iniciou o Chinese Cou-rier and Canton Gazette, publicado aos sábados, cujo primeiro número apareceu, em 28 de Julho de 1833. John Slade sucedeu a Woo d como editor do The Canton Register, continuando nesse cargo até 1843.

O The Canton Register tinha um suplemento comercial conhecido por Canton General Pr ice Cur-rent, que começou em 1833 e aparecia irregularmente.

E em nota acrescenta Braga: "O The Canton Register continou com este nome até se r transferido de Macau para Hong Kong, sendo o título mudado para The Hong Kong Late Canton Register; apareceu a 20 de Junho de 1843, sendo publicado e editado por John Cairns. O últ imo número apareceu a 31 de Dezembro de 1859, sendo editor Robert Strachan. O suplemento tinha o nome de Hong Kong Register: The Overland Register and Price Current, começando a 30 de Agosto de 1845"(9).

"The Canton Miscellany"

Jornal literário, mensal, publicado em Macau pela Companhia Inglesa das Índias, na Tip ografia da mesma Companhia. O1.o número apareceu em Junho de 1831 e o último em Maio de 1832; eram editores John F. Davis e C. Majoriebanks.

Andrew Ljungstedt publicou neste jornal uma série de artigos sobre Macau, intitulados: Brief No-tice of Early Foreign Intercourse with China; e Of the Portuguese Settlements in China, principally of Macao. Estes artigos, que apareceram anónimos, foram depois publi cados em forma de livro em 1832, em Macau, com o nome do autor e o seguinte título: Contri bution to an Historical Sketch of the Portuguese Settlements in China, principally of Macao, o f the Portuguese Envoys and Ambassadors to China, of the Roman Catholic Missions in China and of the Papal Legates to China. By A. L. Kt. Macao, 1832 - in-8, pp. XIV, 174. Os artigos, correctos e aumentados, apareceram ainda em The Chinese Reposito-ry, saindo, em 1834, e m Cantão uma separata e em 1836 uma edição em Boston, com o título: An Histo-rical Sketch ofthe Portuguese Settlements in China, andof the Roman Catholic Church and Missions in China. By Sir Andrew Ljungstedt, Knight of the Swedish Royal Order of Wasa. - Boston: Jame s Munroe & Co.1836.

Deste livro diz C. R. Boxer em Fidalgos in the Far East, p. 286, que foi durante muit o tempo a única história séria de Macau, e ainda hoje é muito procurado, apesar dos seu s óbvios prejuízos e defeitos. Estes são em parte redimidos pelo facto de Ljungstedt se ter servido do material dos arquivos municipais que já desapareceu, ao passo que os seus erro s mais óbvios foram corrigidos por Montalto de Jesus no seu Historic Macao (Hong Kong, 1902; Macau, 1926).

O livro de Ljungstedt foi vertido em português e publicado no jornal Echo Macaense, de 1893 a 1896, mas ainda que prometida pelo jornal, cremos que não foi tirada separata desses artigos e assim nunca apareceu uma tradução portuguesa em forma de livro.

Há ainda na Academia das Ciências de Lisboa uma tradução manuscrita da parte do liv ro referente à Igreja Católica, intitulada: "Igreja Catolica Romana em Macau", Manuscrito a zul 1506.

"Chinese Courier and Canton Gazette"

J. M. Braga informa: "Apareceu na terça-feira, 28 de Julho de 1831, tendo por editor W. W. Wood, da firma americana Russel & Co. O recen- vindo foi aclamado com interesse pela comunidade, pols proporcionava algum entretentmento co m espirituosos comentários sobre as pessoas e acontecimentos. O Courier trilhou caminho diferente do seu contemporâneo (The Canton Register). As suas páginas eram cobertas parte com locubrações dos europeus, parte com notícias locais e informações das arte mecânicas, manufacturas e quejandos artigos chineses.

A 14 de Abril de 1832, mudou-se-lhe o nome para The Chinese Courier, sem se mudar o tom do jornal. O último número apareceu a 23 de Setembro de 1833. O Courier de Cantão teve vida efémera. Como criticava algo severamente certas medidas da Companhia da Índia Oriental, esta Companhia cortou a sua assinatura de 24 exemplares e o Courier morreu".

"The Chinese Repository"

Revista mensal, literária e histórica, de que era editor o Sr. Elijah Coleman Bridgman e depois o Dr. Samuel Wells Williams.

O1.o número apareceu a 31 de Maio de 1832 e o último em Agosto de 1852; desd e o ano de 1842 a Novembro de 1844, imprimiram-se em Macau os Vol. XI e XII deste interessante registo em 8.o, sendo o número de Dezembro de 1844 já impresso em Hong Kong.

"A colecção dos seus vinte volumes... é talvez ainda agora a melhor obra de quanta s se têm escrito no presente século sobre a história, literatura e costumes dos chins", escreveu A. F. Marques Pereira em "Ephemerides comemorativas da historia de Macau e das rela ções da China com os povos chris-tãos", pág. 42 (Ano de 1868).

J. M. Braga acrescenta o seguinte: "O fundador e primeiro editor (do The Chinese Repos itory) foi o Rev. Elijah Coleman Bridgman primeiro missionário americano na China, com o auxílio e a ajuda financeira do comerciante americano, D. W. C. OIyphant, que forneceu as ins talações e pagou a tipografia e o equipamento, em Cantão, e garantiu a publicação cont ra qualquer perda".

Braga cita K. S. Latourette, A History of Christian Missions in China, New York, 1932, que diz: "Este famoso jornal tinha por fim disseminar entre os estrangeiros não só as notícias missionárias, mas também dar informações sobre as leis, costumes, história, literatura e os acontecimentos correntes do Império (chinês). Realizou a útil tarefa de interpretar a China perante os ocidentais, que viviam dentro das suas portas e que revelavam as mais das vezes um desprezo e uma crassa ignorância acerca dela...

"O Dr. Samuel Wells Williams entrou para o jornal em 1833 e editou-o até à sua extinção em 1851 (ano em que faleceu Olyphant), tendo Bridgman ajudado a dirigir o jornal até 1847. Entre os articulistas contam-se alguns orientalistas, tais comoRobert Morrison, Sir G. Stanton, J. F. Davis, James Legge, John Bowring e outros.

"Quando as condições eram favoráveis, a tipografia do Repository ia para Cantão e foi ali que expirou. O estoque do Repository, que era grande, foi destruído no incêndio das Feitorias Estrangeiras (a 14 de Dezembro de 1856). O último número continha um index completo de toda a série de 20 volumes.

"A reimpressão do The Chinese Repository foi feita por Maruzen Co. Ltd. de Tóquio, com uma tradução japonesa. Infelizmente o estoque foi destruído quando as instalações publicitárias foram bombardeadas durante a última guerra. Salvaram-se os Vols. l até 15 desta reimpressão" (10).

(Extracto da parte inicial do capítulo O jornalismo em Macau, do livro A Impren sa Periódica Portuguesa no Extremo Oriente, do P.e Manuel Teixeira, Folhetim do "Notícias de Macau", Macau 1965).

NOTAS

(1)Note-se que em Macau só começou em 1822 e não 1817.

(2)Francisco António Pereira da Silveira, filho de Gonçalo Pereira da Silveira e Ana Joaquina Rosa de Araujo, casou na Sé, a 15-8-1819, com Ana Benedicta Marques, filha de Gabriel Marques e de Clara Maria Vieira.

(3)Francisco António de Seabra era casado com Angela Marion e faleceu a 15-1-1848.

(4)Historic Macau, Macau, 1926, p. 279.

(5)Em vez de João deve ser José.

(6)De e não da.

(7) J. M. Braga, The beginning of printing at Macao, separata de Studia n.o 12, Julho de 1963, Lisboa, pp. 77-79.

(8) J. M. Braga, ob. cit., p. 80-81.

(9) J. M. Braga ob. cit., p. 88-90.

(10) J. M. Braga ob. cit. pp. 100-101.

*Laureado historiador de Macau, da presença de Portugal e da Igreja no Oriente, com mais de uma centena de títulos publicados. Membro da Academia Portuguesa de História e de várias associações e instituições internacionais, v. g. a Associação Internacional dos Historiadores da Ásia.

desde a p. 47
até a p.