O Comércio

ARTISTAS CONTEMPORÂNEOS DE MACAU

Sílvia Chicó*

Uma notícia de Macau, na profusão de muitas outras exposi-ções, num momento quente e ter-minal, o verão a preparar-se, uma notícia que pode ter passado des-percebida no rápido deslizar social em que a soma das coisas da cul-tura se processam, quase sem antes nem depois, nem tempo para tro-car impressões, de tanto se ver, tanto se correr, e tão pouco se re-parar no que realmente acontece.

Uma exposição que nos dá uma notícia interessante sobre um meio cultural: os protagonistas da pintura são os que fácilmente alter-nam papéis, escrevendo uns sobre os outros, recorrendo alternada-mente à caneta ou ao pincel con-soante se vai gerando a necessi-dade de expor (o assunto ou a ex-posição).

Em Portugal este facto é quase inédito, dado que se cami-nha progressivamente para uma via de especialização, "parecendo mal" alargarem-se os campos espe-cíficos de intervenção, e acusando--se de diletantismo quem não passe a vida inteira a "bater sempre na mesma tecla", e ouse aparecer em simultâneidade.

Uma influência manifesta de Antoni Tàpies, do seu Informa-lismo Matérico se sente em muitas obras, como aliás vai acontecendo internacionalmente; o apelo de Tà-pies como só talvez antes o de Pi-casso, o apelo da imagem incisiva, do prazer cursivo, a força de um certo sintetismo, como via para o díscurso pictórico, tanto a Oci-dente como a Oriente.

Nesse contexto as obras de Mio Pang Fei são expressão de um experimentalismo que, fascinado, descobre as revoluções operadas através de invenções técnicas no Ocidente, para com uma peculiar e ancestral sensibilidade à técnica, provocar situações de encontro formal em duplos ou triplos regis-tos de leitura; uma mancha tanto pode ser lida como tal, ou como montanha, convivendo estas duas realidades (ao nosso ocidental ver inconciliáveis) em perfeita harmo-nia, assim apontando o que podeser considerado o exemplo aca-bado de encontro cultural.

Lei Chan Fu,"Inspiração"

Do mesmo modo Lok Tai Tong adensa a experiência da aguarela chinesa num gesto largo, meditando sobre o aspecto pura-mente abstracto, algo que num pri-meiro olhar se relacionaria com Helen Frankenthaler mas que, vis-to de mais perto, releva da arte oriental, um quase involuntária-mente expresso paisagismo. Como uma lógica anterior que estrutura apesar de ter havido uma alteração de programa. Algo de soturno existe todavia na arte deste pintor, na sua deliberada opção por cores escuras, algo de uma gravidade re-lacionável com os climas de Her-gung, em que se deixam claras as. marcas do desenhar com tinta da China lançada no rolo de papel, o formato escolhido à posteriori.

Ung Chi Iam, não talvez tão bem representada como seria pos-sível, apresenta uma figuração de-rivada de narrativas, contos tradi-cionais chineses, em que uma certa tristeza se manifesta, a par de al-guma denúncia da infeliz situação da mulher, tema aliás recorrente na moderna literatura da Repú-blica Popular da China. Ung Chi Iam usa técnicas tradicionais, mas explora diferentes potencialidades da aguarela, criando uma situação de grande originalidade, consti-tuindo-se eventualmente como "o caso chinês" da mostra.

Carlos Marreiros, "Huang Huo"

Carlos Marreiros é o artista que talvez melhor reflecte uma apropriação tradicional do espaço, no uso da frontalidade e bidimen-sionalidade, usando a simetria como premissa e modo de organi-zar a superfície sobre a qual se ins-crevem, colam e sobrepõem, pro-fusões de materiais. Pode-se sentir um certo barroquismo quase espa-nhol, existindo todavia o signo sub-jacente, claramente apresentado, para sobre ele poderem ocorrer tratamentos textuais de grande de-licadeza.

Similar ao processo de Carlos Marreiros é o de Kwok Woon, em que a escrita se desfaz e se reestru-tura, deixando visíveis camadas subjacentes, como que uma visão de fragmentos arqueológicos, algo que sugere um olhar nostálgico so-bre o passado, uma ideia da China a desfazer-se num amontoado, sempre uma associação de mate-riais que, de algum modo, invocam dejectos.

Situação comparável a esta se pode encontrar na pintura de Lei Chan Fu: por detrás de grandes su-perfícies negras, encontramos séries de camadas que remanescem, uma ideia de destruição torna-se sensível e a excelente unidade tex-tual mais uma vez nos remete para Tàpies.

Mio Pang Fei, "Tema Sério

Ung Vai Meng conhece um lugar um pouco diferente em todo este processo, na medida em que a sua tendência para a tridimensio-nalidade o faz ultrapassar o tom in-vocativo e discreto para estabele-cer uma outra característica ex-pressiva, forte e pujante, e que, to-davia, para quem conhece Macau e a sua faina marítima, o ambiente do Porto Interior, a sua especialís-sima cor, repara como esta pintura aparentemente tão europeia e tão dentro de cânones do Informalis-mo Matérico, é afinal profunda-mente referida à sua origem, dada a sua ualidade conotativa.

Kwok Woon "Dúvida Ultrapassada"

Desinserida de uma proble-mática do gestualismo ou sequer da pintura matérica está a pintura de Anabela Canas, que apresenta as suas figurações inscritas num es-paço de qualidade cenográfica, deixando uma margem de ambi-guidade a algo que se prende, toda-via, a uma evidente estrutura nar-rativa.

Victor Hugo Marreiros apre-senta-se com um gestualimo clara-mente estruturado, em que as orto-gonais subjazem evidenciando um suporte gráfico a que se justapõe um gestualismo todavia controla-do, discreto e nocturno, aproxi-mando-se do mundo de Soulages, mas insistindo numa obscura at-mosfera, que de oriental muito tem.

Um conjunto a informar-nos do que Macau é, e pode ser, tra-zendo do Oriente uma vontade de encontro que é comum ao Ociden-te, e que, talvez antes de uma clara consciência intelectualizada, a arte esteja já a manifestar.

HAN SUYIN O ESPLENDOR DA ESCRITA

Han Suyin é uma consagrada es-critora chinesa, de origem euroasiá-tica. É inevitável referir o seu grande sucesso "Many Splenderous Things", o livro que adaptado ao ci-nema recebeu, em português, o tí-tulo de "A Colina da Saudade". Pre-sentemente vive na Suiça. No entan-to, não perdeu o seu amor e fascínio pela China: considera-se chinesa de corpo e alma e fala mandarim com desenvoltura e graça. Numa das fre-quentes viagens ao seu país, Han Suyin passou por Macau e aqui pro-feriu duas conferências. Ou melhor, duas conversas sobre a si própria e a sua obra. A escritora mostrou-se in-teressada em problemas políticos e sociais, dando a entrever um pro-fundo conhecimento da situação actual do seu país de origem.

A convite do Pen Club local, a primeira conferência decorreu numa sala privada de um hotel de Macau. Deliberadamente dirigida a ouvintes chineses, a conversa (em mandarim) fluiu viva e interessante. Os presen-tes, na sua larga maioria intelectuais chineses residentes na cidade, colo-caram inúmeras questões que, prati-camente na sua totalidade, versaram sobre a China do futuro. E Han Suyin não se furtou a expressar as suas ideias.

Para ela, a China é uma reali-dade demasiado vasta e complexa para que, de ânimo leve e apressada-mente, se possam tirar conclusões pouco reflectidas ou aplicar receitas desajustadas aos profundos proble-mas do país. O fundamental, do seu ponto de vista, será a construção de uma nação verdadeiramente multi-cultural, um mosaico coerente das notórias diferenças existentes entre as várias regiões, ainda que estejam unidas por uma história milenar.

Não se limitando a abordar as questões de um ponto de vista pura-mente literário, Han Suyin prefere até a discussão dos problemas sociais e aconselha as pessoas a serem rea-listas quando falam da China. Re-fere a grandeza do país e o excesso de população, preocupam-na sobre-tudo os focos de fome que ainda grassam, aqui e ali, um pouco por toda a RPC. É bem clara quando afirma que uma liberalização ime-diata e total levaria a nação ao desca labro, a uma situação muito mais as-sustadora (à proporção da China) do que a actual crise soviética, na se-quência das medidas liberalizantes de Mikhail Gorbachov. Neste pon-to, prefere a prudência de Deng Xiaoping à arriscada "perestroika" do líder soviético.

É neste tom que prossegue quando interrogada sobre o papel dos intelectuais na China do futuro. Com simpatia, remete os ouvintes para o realismo das questões e, ba-seada em dados que lhe chegam por via da sua experiência médica, refere números impressionantes sobre os problemas com que se debate o povo chinês.

Mais tarde, já na Galeria da Li-vraria Portuguesa, transformada em sala de conferências, Han Suyin en-controu um público diferente, cons-tituído na sua maioria por portugue-ses e outros europeus. Aqui, sucinta-mente, falou da sua vida, da sua ex-periência como euroasiática, dos problemas que essa condição lhe causou, na China e fora dela. Uma vez mais salientou a complexidade do seu país e a enorme dimensão de problemas de fácil resolução noutro local qualquer.

Seja como for, Han Suyin mos-trou não ter ilusões quanto à inevita-bilidade do modelo político-econó-mico "ocidental". No entanto, não deixou de acrescentar que "os pro-blemas da China devem ser resolvi-dos pelos chineses" e que a transição não pode ser feita de forma caótica e desordenada. Em três línguas (man-darim, inglês e francês), dissertou longamente sobre os graves proble-mas médicos, alimentares e sanitários da China. Assinala números as-sustadores que, na sua crueza, dão bem a ver a grandeza das questões e a inevitável morosidade das respos-tas. Han Suyin prometeu voltar, com mais tempo, para maiores con-tactos com os amigos que a sua sim-patia já criou em Macau. ^^ PINTURAS DA "CHINA TRADE" O Instituto Cultural de Macau organizou pela segunda vez, no espaço de cinco anos, uma exposição das pinturas conhecidas pelo nome de China Trade, um género muito característico em certas regiões da China, durante o século XIX. A mostra teve lugar no Arquivo Histórico de Macau, de 22 de Maio a 1 de Ju-nho de 1990. As 43 imagens pertencem a António Sérgio Pes-soa que, gentilmente, as cedeu para esta exposição. Segundo o proprietário, a colecção terá sido oferecida a Eduardo França, seu parente afastado, um coleccio-nador de curiosidades e grande viajante português dos finais do século XIX. O objectivo destas pinturas era servir de recor-dação aos estrangeiros que se deslocavam a Cantão em negócios. No fundo, tratam-se de uma espécie de postais ilustrados avant la lettre que retratavam cenas do quotidiano chinês. Formalmente, aproximam-se daquilo a que na Europa, cerca de cem anos mais tar-de, ficou conhecido por pintura "naif. As "trade paintings" eram feitas a gouache (uma técnica ocidental que os ateliers do sul da China aprenderam e aperfeiçoaram) sobre papel de arroz. Retratavam os temas que, à partida, mais poderiam interessar aos europeus: os processos de fabricação dos produtos exportados (chá, seda e porcelanas), a fauna e a flora chinesa, cenas da vida da Corte e dos burocratas, e paisagens dos locais mais frequentados pelos comerciantes estrangeiros (as feitorias de Can-tão, o rio das Perólas e Macau). Decorriam os últimos anos do século XVIII e a Europa, nos alvores da Revolução Industrial, intensi-ficava os seus contactos com o resto do mundo. O Velho Continente, num período de profunda agita-ção política e social, redescobria o seu gosto pelo Oriente distante e estranho. Não é, portanto, de ad-mirar que numerosos comerciantes tenham procura-do, com mais afinco, obter os bizarros produtos orientais. Neste contexto, a China não constituiu uma excepção. Contudo, não era fácil o diálogo com as autoridades chinesas, pouco abertas à presença de estran-geiros no seu território. Em Cantão, por exemplo, os europeus estavam limitados a uma pequena zona da cidade, onde podiam trocar os seus produtos com os comerciantes chineses. De um modo geral, era proibida a presença de estrangeiros em território chinês. Deste modo, compreende-se o papel importante de-sempenhado na época por Macau como base de todos os europeus interessados em negociar com a China. Claro que na Europa reinava grande curiosi-dade pelo antigo e misterioso império. Os viajantes contavam histórias de cidades exóticas, produtos fabulosos e costumes bárbaros. Os ouvintes delicia-vam-se, evadiam-se do seu quotidiano perturbado; levados pela imaginação, visionavam os portos de águas escuras e profundas, os homens de vestes bizar-ras, as delícias pressentidas dos serralhos. O exotismo tornou-se num bem de consumo extremamente pro-curado e os comerciantes aproveitavam a situação o melhor que podiam. Do lado chinês, o interesse dos europeus não passava despercebido. E, como bons comerciantes que reconhecidamente são, diversificavam a oferta como podiam e sabiam. Neste âmbito, começaram a surgir as pinturas conhecidas por China Trade que, imediatamente, tiveram grande aceitação entre os ocidentais. Se olharmos com atenção para estas pinturas verificamos que, apesar do seu caracter "naif", é pres-tada uma extrema atenção ao esbatimento das cores, bem como ao jogo de sombras e luz. Outra das mar-cas características do seu estilo é o facto de represen-tarem cenas quotidianas sem a marca subjectiva de um autor. Tendo em conta os seus objectivos estrita-mente comerciais, quase parece estranho tamanho ri-gor e minúcia, no tratamento de temas especialmente dirigidos a estrangeiros.
Sem título; Ung Vai Meng,1990.

UNG VAI MENG AS CORES DA PARTIDA

Guilherme Ung Vai Meng é um jovem macaense, um filho singular desta terra. A singularidade advem--lhe do seu talento de pintor e desi-gner gráfico, da sua capacidade in-vulgar para tomar o pulso aos materiais que servem de suporte as composições plásticas.

Ung Vai Meng reflecte ao longo da sua já considerável obra um tra-jecto peculiar, uma sinuosa elipse cujos contornos tão depressa o trans-portam às ruas castiças das cidades antigas de Portugal como às lendas, costumes e paisagens da também sua antiquíssima China. Ele é o exemplo vivo da transculturalidade, da misci-genação no melhor sentido do ter-mo.

Isto não significa de modo ne-nhum que o jovem pintor se limite a ser um produto da confluência de culturas que Macau inevitavelmente proporciona. Antes pelo contrário, Guilherme fez questão, consciente ou inconscientemente, de traçar um percurso que em muito pouco o res-tringe a esta ou aquela classificação ou inserção numa corrente claramente ocidental ou oriental. Nele a pintura flui com uma naturalidade que exorciza mestres ou ligações académicas, uma atitude pouco co-mum nos artistas plásticos orientais. Ung Vai Meng soube arriscar quan-do julgou necessário, quando prova-velmente sentiu o hiato entre a pro-dução imediatamente anterior e as novas concepções que a sensibilidade lhe exigia.

De facto, na sua obra pressen-te-se essa sensibilidade, esse cuidado e rigor especiais que escamoteiam o decalque e possibilitam a marca indi-vidual. Se tivermos sob os olhos as diversas fases do seu percurso não podemos deixar de admirar a evolu-ção traçada desde os desenhos a car-vão do rapaz que pela primeira vez visitou Portugal até aos seus mais re-centes óleos. No caminho ficaram ousadas experiências de utilização dos mais diversos materiais, a pró-cura formal de novas dimensões para a tela que o conduziu a um equili-brado excesso experimentalista, a um tempo, destrutivo e criador.

Guilherme Ung Vai Meng dei-xou Macau em Janeiro, rumo a Lis-boa, e não o quis fazer sem encerrar, ousamos prever, mais um capítulodo seu trabalho. Na galeria da Livra-ria Portuguesa, expôs os seus últi-mos trabalhos, naquela que foi, pro-vavelmente, a mais importante mos-tra individual de um artista maca-ense durante o ano de 1990. Nesta fase, as telas são de novo uma estru-tura plana, uma zona nervosa, espe-lho lacaniano da hiância original que o artista hoje experimenta de forma mais carnal do que nunca.

Uma vez mais, Ung Vai Meng é diferente de si próprio. Abandonou os trejeitos experimentalistas, váli-dos, que o induziram à utilização vanguardista dos mais diversificados materiais, para enveredar decisiva-mente pelo campo da "pintura pura", nas palavras de Wong Io Fong. Os quadros permanecem fiéis à sua matriz abstraccionista, mas pressente-se agora um despizar sub-til, no sentido de uma figuração de anjos (ou demónios) que ameaçam emergir de um novo oceano tonal.

É que, se na verdade, como diz uma vez mais Wong Io Fong no texto do catálogo, "o encanto destas pin-turas reside nas cores, variadas e ri-cas, desde os tons suaves, espiri-tuais, até aos farrapos de cor inten-sa", não podemos deixar de sentir a emergência de um novo patamar na obra de Ung Vai Meng.

Guilherme partiu para Lisboa e deixou saudades. Na Escola AR. CO terá certamente oportunidade de empreender essas viagens interio-res, agora retemperadas por novos códigos, novas formas de expressão, cuja profundidade e direcções tantas vezes já nos impressionaram.

ENCONTRO SOBRE HISTÓRIA DE MACAU

"Que História Temos? Que História Poderemos Ter?, foram os temas que reuniram, nos dias 16 e 17 do passado mês de Junho, historiadores, estudiosos e interessados da História de Macau, para além de representantes de instituições, culturais do Território, nas instalações da Universidade da Ásia Oriental, numa organização conjunta da Fundação Macau, do Instituto Cultural de Macau e do Instituto Português do Oriente.

O Encontro, proposto e moderado por Artur Teodoro de Matos, responsável pelo Departamento de Estudos Portugueses da Universidade da Ásia Oriental, integrado no Programa das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, constituiu uma importante jornada de reflexão sobre a situação actual da historiografia de Macau. Dele ressaltou, com clara unanimidade, o reconhecimento da inexistência de uma obra de síntese e de referência, metodológica e temporalmente actualizada, sobre a História de Macau, de que foram, com frequência, apontadas algumas das principais lacunas. Dedicaram especial atenção a este assunto Beatriz Basto da Silva que falou sobre a "História Por Fazer: Alguns Pontos de Partida Apaixonantes", Tereza Sena, com a comunicação "Sobre a História de Macau. Historiografia. Metodologia e Periodização" e, ainda, Avelino Rodrigues que apontou "Algumas Lacunas da História de Macau".

A importância das fontes, manuscritas, impressas e monumentais, foi, sem dúvida, o tema que congregou mais intervenientes, nomeadamente Benjamim Videira Pires que falou precisamente sobre "Fontes Para a História de Macau", Isaú Santos que sublinhou a importância de "O Arquivo Histórico de Macau, Fonte Importante do Extremo Oriente", Jorge Arrimar que discorreu sobre as "Fontes Secundárias Para a História de Macau", Pe. Henrique No. dos Rios que apontou " O Desconhecimento e a Fragilidade Singular da Documentação Histórica Actual e Futura de Macau", César Nũnez que nos trouxe "A Histórica de Macau nos Seus Monumentos" e Celina Veiga de Oliveira que interveio sobre "A Importância dos Arquivos Judiciais Para a História Social de Macau".

Apenas os dois primeiros participantes no Encontro, Mons. Manuel Teixeira e João de Deus Ramos apresentariam, ao iniciarem os trabalhos, intervenções dedicadas a temáticas mais específicas: "A Igreja de Macau: História e Actualidade" foi o assunto tratado pelo primeiro orador, enquanto que o segundo se debruçou sobre o papel de "Macau na História das Relações Diplomáticas entre Portugal e a China".

A Constituição de uma equipa que empreendesse uma obra de conjunto dedicada à História de Macau, bem como a publicação de algumas obras e a promoção de estudos e actividades dedicadas à acção da Companhia de Jesus, neste ano em que se iniciam as comemorações dos 450 anos da sua funação e dos cinco séculos do nascimento de Santo Inácio de Loiola, foram algumas das propostas saídas deste anunciado que o Instituto Cultural de Macau havia proposto ao Departamento de Estudos Portugueses da Universidade da Ásia Oriental a edição, entre outras obras, de uma História Geral de Macau.

POEMAS DE LI BAI

No passado dia 6 de Julho decorreu na Missão de Macau, em Lisboa, lançamento do livro "Poemas de Li Bai", uma tradução de António Graça de Abreu, a partir do texto original em chinês. Para além do tradutor, estiveram presentes na sessão a engenheira Costa Gomes, da Missão de Macau, o embaixador João de Deus Ramos e a poetisa Natália Correia, entre outras individualidades do mundo da cultura portuguesa e li-gadas ao intercâmbio cultural entre Portugal, Macau e a China.

E o caso não era para menos. Li Bai, nascido no século VIII da nossa era, é considerado por muitos como o "maior poeta chinês". Da sua obra encontravam-se apenas traduzidos para português uns escassos poemas, nunca reunidos em volume. Esta edição do ICM é a primeira recolha sistemática dos versos de Li Bai, em língua portuguesa.

Durante a sessão de lançamento foi lida uma mensagem do presidente do ICM, arquitecto Carlos Marreiros, salientando a importância destas edições. Nas suas palavras, o livro é uma "arca largada à navegação do futuro, nele se encerra a Memória e o destino do comércio entre espíritos, povos e culturas". Ao mesmo tempo, ficou a promessa de uma' continuidade editorial estando para breve a versão portugue-sa dos poemas de Li Ch'ing-Ch'ao, a maior poetisa chinesa, de Bai Juyi e de Song Tong Po.

Entretanto, está previsto o lançamento de "Poemas de Li Bai" no Porto, com a presença de Eugénio de Andrade. Uma antologia do poeta português foi recentemente edi-tada em Macau, no âmbito de uma nova colecção de poesia, em edições bilingue, que o Instituto Cultural de Macau decidiu iniciar este ano com o objectivo de divulgar as principais vozes de poesia chinesa emPortugal e da poesia portuguesa na China.

* Professora Assistente do Departamento de Artes Plásticas, ESBAI/Universidade Nova de Lisboa; crítica de Arte e ensaís-ta.

desde a p. 209
até a p.