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HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA

Há cerca de 150 anos, a França fez uma oferta generosa ao mundo: a fotografia. Foi gr aças a uma lei, proposta pelo Governo e votada pelas duas Assembleias, com base no relatóri o do astrónomo François Arago, secretário vitalício da Academia das Ciências, que dec larou: "A fotografia será o testemunho da vida dos homens e servirá de olho aos cientis tas. É dever da França não a deixar à disposição de alguns privilegiados, mas melh orá-la para a dar a toda a Humanidade".

Este gesto único tem uma importância considerável, porque a fotografia permite-nos te r as nossas memórias de família, as recordações de férias e também jornais, revistas ilustradas, o ci-nema, a televisão e, acima de tudo, a investigação médica. É a fotogr afia que está na origem da actividade dos satélites.

Ela tornou-se indispensável à nossa vida quotidiana, como a todos os nossos estudos e actividades, a ponto de nos esquecermos da sua importância e mesmo da sua existência.

Considerada a primeira fotografia do mundo: realizada pelo investigador francês das té cnicas fotográficas, Joseph-Nicéphore Nièpce, em 1827. Conseguida com exposição de 8 horas (por isso o foco solar ilumina os dois extremos da imagem) esta foto lançava o desafio da redução do tempo da fixação das imagens, a que Daguerre viria a dar a primeira resposta.

A fotografia foi inventada pelo francês Jo-seph-Nicéphore Nièpce, que realizou a primeira imagem fotográfica a 5 de Maio de 1816, da janela da sua casa de Saint-Loup-de-Varennes, próximo de Chalon. Esta primeira imagem foi obtida em negativo sobre papel e passada a positivo por contacto, também sobre papel.

Quando fez uma viagem a Kiew a convite do botânico Francis Bauer, secretário vitalício da Sociedade Real, apresentou então as suas imagens, perante os académicos ingleses, a 10 de Dezembro de 1827.

Continuou as suas pesquisas, sozinho, até 14 de Dezembro de 1829, altura em que aceitou associar-se ao pintor-deco-rador parisiense Jacques--Louis-Mandé Daguerre para aperfeiçoar a sua invenção. Após quatro anos de colaboração, Nièpce morreu em 1833, deixando o filho no seu lugar.

Daguerre fez alguns aperfeiçoamentos e conseguiu, sobretudo, despertar o interesse das autoridades francesas por esta invenção.

Votada pelas Câmaras, "A Lei da Fotografia" foi assinada a 7 de Agosto de 1839. Na se -gunda-feira de 19 de Agosto de 1839, no Instituto, em Paris, François Arago revelou os seg redos da Fotografia, diante de representantes do mundo inteiro.

O eco desta invenção foi tão grande que a imprensa mundial falou dela. A brochura d e Daguerre foi traduzida em 28 línguas; Daguerre enviou para toda a parte as primeiras máq uinas garantidas com a sua assinatura, e ofereceu a todos os monarcas as suas primeiras imagens, com dedicatória.

A partir desse momento, foram vários os cientistas que introduziram aperfeiçoamentos. O primeiro foi a substância aceleradora que reduzo tempo de exposição de um quarto de hora para menos de cinco minutos; e, sobretudo, a primeira objectiva cientificamente calculada, deix ando penetrar muito mais luz, criada pelo professor Petzval, de origem húngara, de Viena.

O primeiro processo fotográfico chamado daguerreótipo é uma imagem captada dir ectamente, na máquina fotográfica, sem negativo, sobre uma placa de cobre coberta de prata. Este processo de imagens únicas durou de 1839 a 1855, aproximadamente.

O segundo processo, de negativo sobre papel, como Nièpce fizera a partir de 1816, foi pat enteado pelo inglês Fox Talbot em 1841, sob o nome de Talbotipia. Mas, felizmente, o fr ancês Blanquart-Evrard melhorou-o, considera-velmente, tornando-o utilizável sob o nome de Calótipo, permitindo as primeiras reportagens e a sua difusão em série.

Finalmente, a partir de uma ideia do francês Le Gray, o inglês Scott Archer pôs em prática oprocesso que duraria trinta anos, chamado "coló-dio húmido". Este processo é quinze vezes mais rápido que o daguerreótipo. A superfície sensível era colada sobre uma placa de vidro, concebida pelo sobrinho do inventor, Abel Nièpce de Saint Victor, dando imagens de uma grande definição; mas era necessário fabricá-la, expô-la e reve lá-la antes de ficar seca. Era por isso que se chamava o "colódio húmido"; e o fotóg rafo, em viagem, tinha de levar consigo a câmara escura, o laboratório e os produtos. O co lódio é uma dissolução de explosivos (solução de algodão-pólvora numa mistura d e álcool e éter). A primeira reportagem de guerra foi realizada em 1853, durante a guerra d a Crimeia, pelo húngaro Karoly Pap de Szmath-mary e continuada por oficiais franceses, o coron el Langlois e o seu adjunto Marion.

De 1850 a 1880, este processo permitiu a realização de imagens notáveis e a abertura de numerosos "ateliers" de retratistas.

Câmaras de daguerreótipo. Em cima: câmara construída cerca de 1839, com duas caixas que deslizavam uma dentro da outra. Em baixo: um modelo americano com fole (1851). In "Fotografia Creativa", de John Hedgecoe; H. Blum Ediciones, Madrid, 1976.

A partir de 1880, com os processos secos de "Gélatino-Bromure d'Argent", que são produ zi-dos antecipadamente, e em fábrica, a fotografia fica ao alcance de todos, sendo constit uída por sais de prata impregnados de gelatina animal. É a época moderna e o processo é ainda utilizado nos nossos dias. Este processo, que dura há mais de cem anos, espera novos inventores, com o su-porte electrónico ou outro qualquer.

Em cima: "Boulevard du Temple", Paris: daguerreótipo tirado por Daguerre, cerca de 1838-39, pertencente actualmente ao "Bayerisches Nationalmuseum", Munique. In"Fotografia Creativa", John Hedgecoe, H. Blume Ediciones.

Em baixo: Cena trágica da Guerra da Crimeia, registada em 1855 pelo fotógrafo do Ill ustrated London News, James Robertson, e pelo seu ajudante Felice Beato, um dos primeiros fotógrafos da China.

Este primeiro período, até à guerra de 1914, foi inteiramente dominado pelos invento res, artesãos e ebanistas franceses.

Graças ao aumento da luz solar sobre um papel mais sensível, que vai permitir reduzir a s má-guinas fotográficas, que deviam ter a dimensão da prova tirada por contacto, estas tornaram-se maravilhas da mecânica.

Até à guerra de 1939 foi a apoteose das máquinas alemãs. Depois daquela, em 1945, a França continuou a produzir, durante 20 anos, excelentes modelos: os Foca, Lumière, Semflex, etc..

Mas desde 1965 é o Japão que domina o mercado. Houve, todavia, modelos interessantes na Dinamarca, na URSS, na Suíça, nos Estados--Unidos, na Itália e noutros países. Cada um desses modelos é um exemplo do talento dos homens. É nosso dever conservá-los e dá-los a conhecer.

A evolução da imagem está dependente não apenas do gosto dos artistas, mas também dos meios técnicos postos à sua disposição: o daguer reótipo co m a sua mé dia de cinco minutos de exposição, o"colódio húmido", com dois minutos para uma fotogra fia de 1/10 ao sol, à beira-mar e, finalmente, o "Gélatino-Bromure d'Argent", a partir de 1930, que permite fotografar mesmo de noite.

Após ter procurado a maior nitidez possível, no princípio do Século, a Escola de Pa ris, influenciada pelos pintores impressionistas, criou imagens "floues", utilizando processos de impressão com tintas oleosas.

A cor foi inventada em 1869 pelo francês Louis Ducos du Hauron com a utilização de três filtros coloridos. Este primeiro processo, a Tri-cromia, está na base da impressão a cores e da televisão a cores e ainda de todos os processos modernos, sendo as três camadas sensíveis impregnadas na película.

Um repórter de guerra sobre rodas. Roger Fenton, o primeiro repórter inglês de guerra com o carro de comerciante de vinho transformado, no qual viajava pelos campos de batalhas da Cri-meia. Empregado pelo Illustra-ted London News, especializou-se em paisagens e grupos de soldados tendo recebido instruções para não fotografar imagens que pudessem ser desag radáveis. Trabalhando em condições de-sesperantes e atacado pelas moscas, pelo pó e pela cólera, o seu carro e a enorme quantidade de equipamento eram alvo fácil das armas inimigas.

In"Fotografia Creativa", John Hedgecoe, H. Blume Ediciones.

De 1907 a 1930, os irmãos Lumière impregnam estas três camadas em fécula de batata para realizar o seu maravilhoso autocromo, permitindo aos artistas restituir as cores dos obje ctos e das pessoas.

A fotografia é uma arte baseada na evolução das técnicas e dos materiais. •

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