Centenário

2 POEMAS DE
Miguel Torga

(Publicados no "Diário XV", depois da visitado Poeta a Macau, nas Comemorações do10 de Junho de 1987)

NA GRUTA DE CAMÕES

    Tinhas de ser assim. 
    O primeiro
    Encoberto
    Da nação. 
    Tudo ser bruma em ti
    E claridade. 
    O berço, 
    A vida, 
    O rastro
    E a própria sepultura. 
    Presente
    E ausente
    Em cada destino. 
    Do teu destino. 
    Poeta universal
    De Portugal
    E homem clandestino. 

    Macau, 10 de Junho de 1987

ERRÂNCIA

    A voar por cima de Samarcanda, 
    Aceno a súbita memória
    De meus avós almocreves
    Que, por acaso, nunca aqui passaram
    Quando iam ao Porto
    Em machos guizalheiros, 
    E onde comiam tripas, 
    A buscar as especiarias de lá
    De primeira classe, num avião francês, 
    A enjoar champanhe e caviar, 
    Vou a Macau falar de Camões, 
    Em nome dele, e por eles, 
    Obreiros dum império de ilusões, 
    Vou, como novo andarilho, 
    Garantir ao futuro que Portugal
    Terá sempre o tamanho universaal
    Da infinita inquietação de cada filho. 

    A voar por cima de Samarcanda
    5 de Junho de 1987
desde a p. 120
até a p.