(Do livro "Poemas do Nome de Deus" editado pelo Instituto Cultural de Macau)
DO NOME
De vir chegando, ao longo de ficar
mais perto do partir, atravessando
o lugar infinito de não estar
na presença a fugir do onde ou quando
que é só pura memória de chegar,
eis quase no horizonte o sinal pando
a tremular ao sol de nau em nau:
o teu nome sem nome, ó Deus, Macau.
DA ROSA
Da rosa do oriente
deixaste-me o perfume
e a cor evanescente
do sangue e do ciúme.
Ficou só o momento
de florir por engano
num verso muito lento
de Camilo Pessanha.
Num verso e no reverso
do Cruzeiro do Sul
escrito do avesso
do sangue e do perfume,
do norte e do oriente,
da rosa e do ciúme.
DAS RUÍNAS
Arde o infinito
no altar de Paulo
pelo céu aflito
a rasar as chamas
voando num grito
da fachada alta:
a última epístola
lida pela alma
da pátria. Tão tarde
para a eternidade?
DO JARDIM
Debruçada no lago a mente pênsil
curvava-se ao silêncio da folhagem
com seus olhos de fénix fixos entre
a ternura dos lótus e a miragem
duma porta lunar ensombrecendo.
Era a hora da flor fluindo ágil
nas ruínas das águas transparentes.
DAS SETE LUAS
"i é a nota da sétima lua"(trad. do Chinês por Camilo Pessanha)
Lua, mínima lua, lua à míngua
de lua, lua amiga, lua exígua:
ao crescente do exílio tão ambígua
entre sílaba e luz, ó lua língua.
DA PROFECIA
"Um ancorar puríssimo, encantado, num Oriente mais anunciador..."(António Patrício)
Quando só formos
a vela alta
e diluída
sem mastro nem
flâmula ardendo,
que âncora ainda
anunciará
na desmemória
outro Oriente?
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até a p.