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Da Biblioteca Macaense à Biblioteca Nacional

Pe. Manuel Teixeira

O Governador Visconde de S. Januário, por Port. no. 92 de 27-12-1873, determinou: "Tendo-me sido presentes os estatutos com que pretende reger-se a sociedade denominada Bibliotheca Macaense; e at-tendendo a que esta sociedade tem por fim proporcionar instrução e recreio aos seus associados por meio de leitura de livros nacionaes e estrangeiros:

Tendo em vista o parecer do delegado do pro-curador de coroa e fazenda:

Hei por conveniente approvar os estatutos de sociedade Bibliotheca Macaense os quaes constam de cinco capitulos e dezasseis artigos e baixam com esta portaria assignados pelo secretario geral do governo".

O art. 1 dos estatutos diz:

"É creada uma associação para estabelecer e manter uma bibliotheca particular de livros nacionaes e estrangeiros, sob o nome de Bibliotheca Macaense, a fim de proporcionar instrução e recreio aos sócios e subscriptores".

Os estatutos, datados de 5 desse mês, levam a assinatura de Pedro Nolasco da Silva Jr., presidente, Domingos Clemente Pacheco, tesoureiro, Nicásio Simões, secretário, António Bastos e Câncio Jorge, vogais (1). Tudo isto não passou do papel.

Em 14 de Julho de 1838, D. Maria II mandara organizar um Museu no Seminário de S. José. Ordenou também ao Governador de Macau, Adrião Acácio da Silveira Pinto, que organizasse "uma livraria composta principalmente de livros e mapas chineses, japoneses ou escritos em outras linguas orientais".

Nem o Seminário fundou o Museu nem o governador a Biblioteca.

Quando em 1 de Novembro de 1905 morreu o Dr. José Gomes da Silva, ex-reitor do liceu, doou a sua biblioteca ao mesmo liceu, sendo para ali remetidos pelo juiz, em Março de 1907, cincoenta e seis volumes do espólio desse médico. Passou a chamar-se Biblioteca Nacional de Macau.

No entanto, a verdadeira Biblioteca Nacional ainda teria de esperar longos anos para nascer.

Numa entrevista concedida ao director de O Combate pelo Dr. Telo de Azevedo Gomes, publicado em 21-7-1927, diz-se:... "ultimamente o governador Lacerda lançou a ideia do arranjo de um museu histórico e artístico, tendo anexo uma exposição comercial, para o qual aproveitou os mostruários enviados à última Feira (2), e cedeu para sua instalação o palacete da Flora, mas a nossa ideia era fundar o museu e a biblioteca conjuntamente". Fala-se aqui do museu e biblioteca. Como no Palacete da Flora não cabiam ambos, acode o Leal Senado a oferecer algumas salas, como se lê no no. 630 do diário A Pátria de 19-8-1927:

"Merece os mais rasgados elogios esta acertada e patriótica resolução da Câmara que visa salvar e conservar o património literário e histórico de Macau, disperso por tantas entidades. É ao mesmo tempo um grande melhoramento há muito preconizado, onde os estudiosos poderão saciar a sua curiosidade e a sede de ilustração.

Bem haja o Leal Senado.

Consta-nos que a Direcção do Museu Luís de Camões vai já proceder à renovação de algumas lápides para o átrio do Leal Senado e vai ser ordenada a construção das estantes para os livros".

Tudo isto era obra de Azevedo Gomes, a quem se deve a fundação do Museu, da Biblioteca Pública e dos Arquivos de Macau; esta publicação foi determinada pela P. no. 268 de 27-4-1929, saindo o primeiro número em Junho de 1929, sob a direcção do mesmo.

Já em 1927 começaram as ofertas para o Museu e Biblioteca, segundo refere o Semanário A Verdade, no. 10, de Setembro desse ano: "Estão sendo colocadas no átrio do edifício do Leal Senado, gentilmente cedido pela digna Câmara de Macau, as pedras com inscrições históricas, armas, brazões, etc., sob a direcção de um dos Directores Técnicos do Museu, Dr. Telo de Azevedo Gomes.

Brevemente vão começar os trabalhos da instalação da Biblioteca nalgumas salas do andar nobre daquele edifício, passando as Repartições Municipais para o Correio e este para umas dependências do Palácio do Governo.

Pelo sr. Constantino Maria de Sousa foi oferecido ao Museu e Biblioteca um exemplar da "Gazeta de Macau", publicada em 1826 e uma lança trazida por seu pai no dia da tomada do Passaleão em 1849".

A 24 de Junho de 1929, foram abertas ao público as secções comercial e sacra do Museu, instaladas respectivamente no rés-do-chão do edifício da Misericórdia e no 1o. andar do Senado. Neste mesmo andar se instalou a Biblioteca Pública.

Dois anos depois, aparecia a confirmação oficial: a Portaria no. 691 de 1931 determinava que ficassem subordinados ao Inspector de Instrução Pública os serviços inerentes à Biblioteca Pública e Museu Comercial e Etnográfico "Luís de Camões", revogando a P. no. 221 de 1926 (que estabelece o mostruário comercial) e a P. no. 261 de 1927 (sobre o Regulamento do Museu Comercial).

A P. no. 14 de 1945 aprovou o Regulamento da Biblioteca Pública de Macau.

Finalmente, o diploma legislativo ministerial no. 8 de 1952 deu-lhe a designação de Biblioteca Nacional de Macau.

NOTAS

(1) Bol. da Província de Macau e Timor, no. 52 Ano XIX, de.27-12-1873, p.207-208.

(2) Refere-se à Primeira Exposição Industrial e Feira, realizada em Macau de 7 de Novembro a 12 de Dezembro de 1926.

desde a p. 59
até a p.