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As possíveis influências dos viajantes em algumas sociedades costeiras das partes do Oriente

Selma Vieira Velho*

AS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS - ORIGENS DOS CONTACTOS DIRECTOS ENTRE O ORIENTE E O OCIDENTE

O brumoso Oriente de "gentes novas escondidas, / que nunca foram sabidas", tornou-se uma realidade física, porque era "já tudo descoberto / o muito longe nos é perto, / os vindouros tem já certo / o tesouro terreal" (1), na palavra pitoresca de Diogo Velho (da Chancelaria). Além de marcar novas rotas ao comércio dos produtos orientais na Europa, a viagem de Gama provocou a bancarrota dos mercadores Árabes e das Repúblicas Italianas e foi, simultaneamente, a culminação do desbravar sistemático do Oceano Tenebroso iniciado pelo Infante Dom Henrique. Descobrimentos que, durante dois séculos, desenvolveram e aperfeiçoaram a arte e a ciência da cartografia, da cosmografia e da navegação, como se pode observar em "Portugaliae Monumenta Cartografica" e nos apontamentos dos viajantes Portugueses sobre a geografia e a cartografia dos mais remotos pontos do Mundo até então desconhecidos na Europa, tais como as cartas dos Missionários Portugueses, o Diário da Primeira Viagem de Vasco da Gama, de Álvaro Velho, os 2 diários da Segunda Viagem de Vasco da Gama (um de Tomé Lopes, e outro anónimo), o "Esmeraldo de Situ Orbis", de Duarte Pacheco Pereira, a "Summa Oriental", de Tomé Pires, a "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto, o Diário da Navegação de Pêro Lopes de Sousa, o Livro de Duarte Barbosa, o Livro de Francisco Rodrigues, o Livro de Rotear (anónimo), o Diário da Viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil e à India (anónimo), o "Livro da Marinharia", de João Lisboa, a "Arte de Marear", de Francisco Faleiro, os "Roteiros", o "Tratado da Sphaera" e as "Cartas" de Dom João de Castro, os apontamentos de Bento de Góis, o "Novo Descobrimento do Grão-Cataio ou dos Reinos de Tibete", do Padre António de Andrade, os "itenerários" de António Tenreiro e do Padre Manuel Godinho, para citarmos alguns óbvios exemplos.

CARACTERÍSTICAS DA EXPANSÃO PORTUGUESA - O LUSO-TROPICALISMO

Impulsionado por um espírito de fé e heroicidade, Portugal doou à mediterrânica, ávida e mesquinha Europa o Universo como cenário e limite das aventuras através das suas navegações científicas à busca dos "Reis Cristãos" da Índia e pimenta às quintaladas. Geograficamente, Portugal é uma pequena faixa na costa atlântica da Península Ibérica e, mesmo nas melhores condições da sua expansão, jamais poderia possuir uma população que pudesse dominar e policiar os vastos horizontes, quase sem limites visíveis, que englobaram o Mundo Português, definido pelo Tratado de Tordesilhas. Lançados na vastidão territorial limitada entre o infinito do mar e o infinito do firmamento, os Portugueses apoiaram e promoveram pactos de amizade com os povos com quem entraram em contacto, respeitando, geralmente, os condicionalismos das suas variadas etnias. Essa foi a base e a origem do intercâmbio Luso-Tropical, cujas influências se vêem reflectidas no Pensamento e no Universalismo Português. Simultaneamente, criaram pequenas réplicas da estrutura social que governava a sua pátria, espalhando por onde iam várias instituições de grande valor humanitário, onde acolhiam, sem distinções raciais ou religiosas, todos os que lá iam buscar algum remédio ao seu mal. Observa-se que as suas Feitorias e Fortalezas no Oriente tinham no seu núcleo a Igreja Paroquial com a sua Escola, o Hospital Real, a Santa Casa da Misericórdia e, algumas vezes, tinham no seu agregado o Orfanato e o Hospital dos Pobres. Essas instituições humanitárias eram sustentadas pelas doações dos Cavaleiros da Ordem de Cristo (ligados ao Padroado desde o seu início) e pelos lucros das próprias Feitorias que canalizavam ao "Serviço de Deus e de El-Rei" as actividades temporais e espirituais dos missionários e leigos, espalhando a mensagem da fraternidade humana (2) - um flagrante contraste com a actuação das outras "nações da Europa Cristã" que, orgulhando-se do seu cristianismo e da sua superioridade racial, talharam no Oriente, à força das armas, impérios de odiosas explorações económicas.

CONSEQUÊNCIAS DO LUSO-TROPICALISMO NO ORIENTE

Que consequências teriam sofrido os povos e as civilizações do antiquíssimo Oriente, particularmente nas zonas costeiras, lugares para onde convergiam as naus da Europa? A primeira grande influência da Europa, e a mais feliz de todas, é a notável denominação - IRMÃO DO REI DE PORTUGAL - com que se identificavam vários reis do Oriente que mantinham correspondência com a Coroa Portuguesa, e o seu primeiro exemplo encontra-se na seguinte passagem: ... "no qual tempo eu não tinha nenhum socorro sòmente o dos deuses, por cuja graça e vontade me ficou uma pequena armada dos portugueses: da qual era capitão Duarte Pacheco Pereira, fidalgo da casa de el-rei de Portugal meu senhor e irmão..." (3).

É curioso observar que essa atitude fraterna foi estabelecida pelo rei de Portugal no seu primeiro contacto com os reis da Índia:

"Grande e de muito poder princepe Çamorim por merce de Deus rey de Calecut nos Dom Manuel, por sua divinal graça, rey de Portugvall e dos Algarves, daquem e dalem maar em Africa, Senhor de Guine, etc a vos enviamos muito saudar, como aquelle que muito amamos e prezamos... o principal nosso desejo para comvosquo avermos de conversar e nos aproveitar, e prestar com grande conformidade damor e irmandade como os reis christãos devem fazer antre si..." (4).

Base das relações económicas e políticas entre as nações (5), essa embaixada de Pedro Álvares Cabral marcou o início do Direito Internacional e demonstra que os Reis da Índia e do Oriente não eram adversos ao estabelecimento das feitorias e da religião dos navegadores Europeus, desde que os meios utilizados não fossem violentos - condição prévia do Samorim, príncipe Hindu, que não desconhecia os Cristãos de S. Tomé, na Costa do Coromandel. O processo da Cristianização no Oriente, quando pacífico, teve excelentes resultados, como se verifica no método inicialmente utilizado pelos frades de Santo Agostinho que empregaram com vantagem o seu saber e cultura para atrairem ao Cristianismo os membros das famílias reais e da aristocracia oriental, tais como: o Príncipe Dom Afonso Nordim e Dona Filipa, filhos do Aguazil de Ormuz; Dom Jerónimo Joete, filho e sucessor do Rei Turumxa de Ormuz, sua irmã, Dona Margarida, e seu sobrinho, Dom Filipe; a Rainha do Gurgistão, Guativanda Dedopoli; o Rei de Pemba, Dom Filipe; o Príncipe da casa real de Melinde, Dom António Clingoliat; Dom Aleixo de Meneses, "descendente muy chegado do Grão Mogor", e seus irmãos Dom Carlos e Dom Filipe; Dom Martinho, filho do Rei Mogo e Príncipe de Arracão, e Nicolau Rebelo, seu primo; Dom António do Rosário, filho do Rei de Bosna; Dona Mónica de Graça, filha do Grão-Cassis de Macassar, etc. (6).

Observa-se que vários desses Cristãos do Oriente tiveram uma vida exemplar quando a conversão foi, não por pressões económicas e políticas, mas por sincera convicção, tal como foi a dos parentes dos Reis de Cochim e Calicut, Dom Manuel e Dom João da Cruz, baptizados na corte do Rei de Portugal (7). Por sua vez, alguns desses convertidos dedicaram-se à Evangelização do Oriente tal como Dom João da Cruz, Dom António, Príncipe da Bosna, o irmão Gaspar da Graça, o Padre Frei Tomé da Madre Deus, o Padre Frei Agostinho da Conceição (de Cochim), "o mayor theologo do seu tempo, e tanto que ainda hoje o não nomeiam senão por Frei Agostinho o Mestre, teve todas as virtudes, foi exemplarissimo... ocupou na Religião os postos mais authorizados... O Pe. Sipriano da Companhia de Jesus, prezo nos carce res do Santo Officio depois de cançar inutelmente os engenhos dos maiores theologos de Goa, foi cometido ao Pe. Frei Agostinho o Mestre... sahiu vitorioso, deixando o herege... convencido das virtudes catholicas contra as suas dogmaticas prepozições" (8).

A passagem citada leva-nos de imediato à documentação das lutas entre as ordens religiosas que, algumas vezes esquecidas das virtudes cristãs, mas sob a capa delas, iniciaram desordens civis e ignominiosos processos de "baptismos gerais", francamente anti-evangélicos, provocados pela ânsia de canalizarem para os seus cofres as generosas doações que o Rei de Portugal fazia às Igrejas e Religiosos em função do seu Padroado do Oriente (9); para tanto, e por um abuso lamentável, não hesitaram em exigir e reclamar vários privilégios nocivos a Portugal e ao Oriente, valendo-se da regra geral de "isenção da jurisdição" da Arquidiocese de Goa, dos Vice-Reis da Índia e dos Reis de Portugal, como atestam o saque das rendas de Goa e os protestos contínuos dos Vice-Reis, Governadores e Arcebispos de Goa, bem como a opinião que o Papa fazia acerca deles: ..."Folgou ho Papa de saber que V. A. quer que este se passe logo a ser seu bispado, entendeu que he para naquellas partes fazer muito fruito, e não ambicioso nem desejoso de homrras e denidades, como elle tem são os mais dos frades" (10).

No seu intercâmbio Luso-Tropical, os missionários Portugueses fizeram excelentes inovações no campo de encontro cultural entre sociedades que, aparentemente, nada tinham de comum. Pioneiros no aproveitamento das tradições culturais da velha Índia, lançaram as bases da aculturação e da Indianização do Cristianismo. Entre eles, citamos a acção de Roberto de Nobili que, indo ao encontro das Castas, projectou-se nos séculos futuros, tornando-se ele próprio um Brahmane Sanyasi, convivendo nos Ashramas com os sacerdotes Hindus, com quem discutia o "Veda perdido", pregando a mensagem de Cristo. É notável o trabalho do Pe. Tomás Estevão que publicou uma versão Indianizada dos Evangelhos no seu XRISTA PURANA, obra que ainda hoje desperta enorme interesse. É inegável o valor da obra de Dom Francisco de Garcia, Bispo de Cranganor, o maior defensor que a Indianização do Cristianismo teve, e a tal ponto que não hesitou em utilizar o Pensamento e o folclore Hindus no seu trabalho missionário, porque entendia que a filosofia Hindu não só era profunda, mas concordava com o idealismo Cristão. Incompreendido no seu tempo, há quatro séculos que esse brilhante mas minoritário núcleo dos missionários Portugueses foi o precursor da ideologia moderna da Igreja Católica, proclamada pelo Concílio do Vaticano II.

Portugal não restringiu o seu campo de acção apenas à Cristianização e aos contactos sociais. Muito ao contrário, observa-se que Portugal se interessou pelas actividades educacionais, científicas, linguísticas, culturais, artísticas e humanitárias. Além de pioneira, a acção humanitária de Portugal no Oriente foi indubitavelmente uma das mais gloriosas páginas da história da Humanidade. A sua documentação, embora dispersa e fragmentária, indica que Portugal pôs a sua MISERICÓRDIA ao "Serviço de Deus e de El-Rei", praticando o ideal da fraternidade humana à custa do seu trabalho, sangue e dinheiro, sem outra finalidade ulterior além da própria misericórdia: ..."Esta compãnia de hombres portugveses se llama la Misericordia; hes cosa de admiración ver el servicio que estos buenos hombres hazen a Dios nuestro Senõr en favorecer a todos los necessitados"...(11).

A proliferação das escolas no Oriente é um outro exemplo da influência Portuguesa. A pequena escola paroquial iniciada por Afonso de Albuquerque em Cochim (12) expandiu-se por todas as Feitorias Portuguesas, e já em 1541 instituiu-se em Goa um seminário para a formação de alguns "moços de diversas nações, convem a saber, canarás, paravás, malaios, malucos, chins, bengalas, chingalas, pegus, de Siam, guzerates, abexins, cafres de Sofala e Moçambique e da ilha de São Lourenço e de outras partes e que se pudesse fazer fruito" (13), e ao qual o Rei de Portugal fez uma generosa doação das suas rendas de Goa "para a sostentação dos que ora nele aprendem e ao diante aprenderem" (14).

Mandava o Regulamento do Colégio de São Paulo que houvesse "hum mestre de grammatica a cuja obidiencia estarão todos os que aprendem no que comprir a bem do dito emsyno, e assy os outros mestres que ouver pera as outras cyencias, d'artes, logica, filosofia e teologia, terão o mesmo modo. Os quais imsynarão pellos livros e doutores mais apropriados à dita religião..."(15). Entre as artes, a música era uma das mais importantes disciplinas (16), e vários pupilos eram "jaa muito boons gramaticos, e asy em todo ho mais que lhe podem dar insyno e doutryna, ho fazem com muita diligencia e amor" (17). Observa-se que vários Jesuítas lamentaram nas suas cartas a falta duma boa biblioteca e de bons mestres: ..."tenem bons engenhos, mas não tenem mestre que hos ensegne bem, e que hos exerciti en falar latin ne en aprender de core cousa niuna sinão as reglas de Antonio, e quellas confusamente" (18).

Porém, na opinião geral, essa instituição foi um dos melhores colégios que a Companhia de Jesus teve no mundo e o mais brilhante sucesso da escola Portuguesa no Oriente (19). Essa instituição foi instrumental em introduzir a imprensa no Oriente.

Entre as outras influências positivas, o Português tornou-se por quase três séculos a Língua franca do Oriente (20), e a permutação que se deu no campo da linguística foi bastante interessante. Vários vocábulos Portugueses foram enriquecer as Línguas Orientais e, simultâneamente, muitos vocábulos orientais transitaram para as Línguas Europeias, através do Português tais como Sândalo, Nababo, Setim, Samorim, Mandarim, Lascarim, Canequim, Balão, Bambu, Gudão, Jagra, Canja, Caril, Copra, Betel, Sagu, Sipai, Chá, Chita, Pancá, Casimira, Bengala, Cabaia, Cambraia, etc. O CARTAZ e a FEITORIA dos Portugueses tornaram-se no Oriente excelentes apoios legais nas transacções comerciais. Vários outros vocábulos Portugueses naturalizaram-se no Oriente com algumas alterações fonéticas. Citando Mons. Dalgado, temos ARMÁRIO, BISCOITO, CÂMARA, CADEIRA, CHAVE, COUVE, GENTIO, GRADE, HOSPITAL, MÚSICA, PROVISÃO, PROVIMENTO, etc. Nas transacções linguísticas dum e doutro lado, nota-se que alguns vocábulos sofreram alterações mais ou menos acentuadas. Por exemplo, MAN-DOVI é hoje o nome do rio que banha as cidades de Velha Goa e Pangim. No entanto, essa foi uma alteração introduzida pelos Portugueses, como se pode observar em alguns documentos como, por exemplo:

"... demos conta ao Governador Dom Joham de Castro e a nosso regymento lhe pareceo bem trespassarmos este pagamento ha remda do Mandovim, qhe he alffandega desta cidade..." (21).

PAGODE (DA-GOBA), termo oriental para designar templo e ídolo, chegou a designar uma moeda de ouro no Estado da Índia. Embora o vocábulo tenha transitado para as outras línguas europeias através do Português, é apenas nesta que PAGODE adquiriu um significado altamente pejorativo, sendo utilizado como sinónimo de pândega ou patuscada. Esse sentido pejorativo é, provavelmente, o resultado do modo como foi executada a ordem da destruição dos pagodes da Ilha de Goa, de Dom João III.

Os vocábulos PAG (salário, pagamento) e PAGAR (usado como substantivo) transitaram para a Índia como PAG, PAGAR, e PAGARI, sendo o PAGARI sinónimo de estipêndio (22). Existe em várias línguas Indianas um vocábulo, também PAGARI, que é largamente utilizado como sinónimo de suborno nos contratos de arrendamento de casas, negócios e imóveis. Talvez esse PAGARI (suborno) seja uma derivação do vocábulo Português, embora já bastante desviada do seu sentido original.

A palavra CASTA, depois de naturalizar-se na Índia, transitou desta para todas as outras línguas faladas, tanto do Oriente como do Ocidente. Porém, esse vocábulo adquiriu um acentuado sentido de rigidez das divisões sociais, que nunca existiu na língua de origem. Hoje, o vocábulo denota, só por si, um mundo de discriminações sócio-religiosas. RENDEIRO, um vocábulo derivado de renda (do verbo arrendar) transitou para o Konkani, e designa uma "subcasta de sudras que vivem em prédio alheio, e arrendam palmeiras para extrair sura" (23).

BURRO, vocábulo que transitou para vários idiomas Indo-Portugueses, é utilizado em Konkani e Singalês no sentido figurativo apenas (24).

Além do concurso para o avanço dos conhecimentos geográficos e cartográficos, observa-se a contribuição de Portugal nos campos da medicina, agricultura, zoologia e botânica. Os Portugueses deixaram alguns estudos comparativos de medicina tropical e ocidental, contribuições de grande valor científico, sendo Garcia de Orta o seu maior expoente; ainda hoje, "Os Colóquios dos Simples e as Drogas e Cousas Medicinais da India" (publicados em Goa, em 1563) constituem uma das mais ricas fontes de informação científica. Entre os produtos medicinais que os Portugueses popularizaram no Oriente citamos o quinino e a Herba Malabárica. O quinino (Chinchona Officinalis), oriundo do Peru, era já usado pelos médicos nativos da Índia em 1676 (25), e sabe-se que as propriedades medicinais da Herba Malabárica (Holarrhena Antidysenterica), oriunda da Índia, eram já em 1563 utilizadas pelos Portugueses no tratamento da disenteria (26). Observa-se por estes exemplos que os Portugueses não só trouxeram para o Oriente o conhecimento dos produtos medicinais doutros pontos do mundo, mas estudaram também as propriedades benéficas das plantas nativas da Índia a fim de facultarem um tratamento efectivo a várias doenças locais, funestas por falta de remédios accessíveis.

A fauna oriental não só foi estudada pelos Portugueses, mas foi também familiarizada no Ocidente através de vários espécimes desconhecidos na Europa (27). Nota-se também que Portugal foi instrumental em introduzir uma troca de espécimes entre o Oriente e os mais diversos pontos do Mundo Português, enriquecendo assim a já riquíssima fauna Oriental. A " flora asiática e, em particular, a indiana devem a Portugal a introdução de numerosas plantas maiormente de origem americana, muitas das quais crescem espontâneamente, cobrem vastas áreas e são de notável utilidade" (28). Entre as plantas ornamentais que Portugal trouxe ao Oriente citamos a Jacaranda Mimosifolia e a Peltophorum Ferrugineum ou Brasiletto, oriundas do Brasil (29), e a Plumelia Acutifolia (Pagoda Tree, The Life Tree, Frangipani, e em Goa, Portugalachó Champó). Observa-se que esta árvore se tornou numa das grandes favoritas do Oriente, e é tida entre os Budhistas do Ceilão como a Árvore da Vida. Nota-se também que nos fins do século 16 e no início do 17 esta árvore teve uma marcada influência na vida cultural Portuguesa, e transitou para a Literatura através da poesia de tendência Oriental de Rodrigues Lobo (30), mormente na metáfora da Árvore Triste.

Várias outras plantas, introduzidas ou popularizadas pelos Portugueses, influenciaram mais ou menos profundamente a economia e os hábitos alimentares dos Orientais. Entre essas inovações, citamos o ananás (Ananas Sativa) trazido do Brasil para a Índia em 1548 (31), a papaia (Carica papaia) trazida em data anterior a 1656 (32) da América do Sul, a goiaba (Psidium guyava) trazida igualmente da América do Sul, e provavelmente do Brasil, no início do século 17 (33). A batata (Solanum tuberosa) foi introduzida em data anterior a 1615 (34). Ignora-se, porém, quando os Portugueses trouxeram o tomate (Lycopersicum esculenta) do Brasil, e o chicú (Achras Sapota) do México (35). Surpreendentemente, os Portugueses trouxeram da América do sul o piri-piri, ou Tabasco (Capsicum), que em 1570 já se cultivava em Goa (36). É interessante observar as denominações dele em Goa, onde temos a pimenta verde (quando fresca), a pimenta botão, a pimenta seca, e também a pimenta redonda (Piper nigrum). É possível que essas derivações estejam ligadas a alguma tentativa de cultivar o tabasco no Oriente como substituto ou complemento do comércio da pimenta (Piper nigrum). Embora o Rig Veda mencione o milho (Zea Mays), os Portugueses familiarizaram a sua cultura no Oriente (37). A couve (Brassica) possui variedades orientais, mas foi popularizada no Oriente, e particularmente na Índia, pelos Portugueses, como se pode observar pela denominação Portuguesa KOBI, que ainda se mantém em várias línguas Indianas. É possível que os Portugueses tenham introduzido no Oriente a cultura do amendoim (Arachis Hypogaea), originário do Brasil. A cultura do cajú (Anacardium Occidentale) foi introduzida há 400 anos na Índia pelos Portugueses; essa inovação transformou a Índia actual no maior produtor e exportador do cajú e seus derivados ao nível mundial, pois ela monopoliza 90% do comércio desse produto (38). A cultura da manga (Mangifera Indica), "a raínha das frutas", deve o seu aperfeiçoamento aos Portugueses que introduziram a enxertia em Goa, melhorando a fruta tanto na sua qualidade como variedade (39) a tal ponto que, em todas as exposições de fruticultura e horticultura, as mangas de Goa são, invariavelmente, classificadas como as mais excelentes do subcontinente Indiano. Citamos um curioso manuscrito que vem a demonstrar o grande interesse que Portugal teve na difusão da agricultura (40):

"Gov. do Estado da India amigo. Eu El Rey vos enuio muito saudar. Ao Padre João de Brito que na prezente monção passa a esse Estado encarreguei de procurar homes praticos na cultura das Arvores de Canela e pimenta e em sua falta recomendo o mesmo ao provincial da Provincia do Malauar para q. se remetão á Bahia e se possa tratar de cultura das arvores q. nella ha; e para este effeito dareis aqualquer dos ditos Padres a ajuda e fauor e assistindo com o gasto necessario, e mandareis remeter aos ditos dous homes em a primeira Nao que partir para que dezenbarguem na Bahia a ordem do Governador aquem tenho ordenado o que ha de executar. Escrita em Lxb. a 10 de Março 1690. Rey"

Pode-se afirmar que nenhum país praticou a mesologia tão extensivamente como Portugal.

O intercâmbio artístico teve uma atenção especial de Portugal e consideramos as artes Indo-Portuguesas o mais belo exemplo da Luso-Tropicalidade. A criação da CASA DOS VINTE E QUATRO, com competências legislativas e integrada no Senado de Goa (41), foi, quanto ao nosso parecer, a base e a origem de um dos mais complexos processos da osmose cultural, ainda por se avaliar na sua totalidade, muito embora vários estudos parciais revelem um riquíssimo património artístico (42). Os novos temas e fórmulas trazidos pelos Portugueses levaram os artífices e artistas das velhas civilizações do antiquíssimo Oriente, e muito particularmente da Índia, a manipularem as suas técnicas tradicionais, altamente estilizadas, dando origem a novas expressões da arte, onde se pressente uma retensão contínua entre a fórmula estranha e o impulso natural do artista. Factores que se conjugaram numa tão perfeita e irreversível simbiose cultural que desafia todos os conceitos pré-definidos da arte. Entre as expressões da arte Indo-Portuguesa, salientam-se a arquitectura, a escultura, a estatuária, a arte sacra, a música, o mobiliário, a tapeçaria, o bordado, a ourivesaria, e a pintura.

A acção negativa da Inquisição e dos Concílios Provinciais nas artes Indo-Portuguesas é hoje um facto; e a causa, segundo a opinião do Rev. Prof. Dr. Silva Rego, foi a norma dessa época ser "cujas regio, illius religio", tanto na Europa, como na África e na Ásia (43).

Os Portugueses foram encontrar no Oriente povos que reflectiam algo das suas antiquíssimas civilizações, embora já em decadência, particularmente no que dizia respeito à Mulher - o fulcro pelo qual se pode julgar uma época, uma civilização, ou uma sociedade. O Hinduísmo expandiu a sua influência em todo o Oriente e, no auge da sua civilização, particularmente no período Védico, elevou a Mulher ao lugar privilegiado do ser intermediário entre os deuses e os homens, e nenhuma função religiosa ou social podia ser iniciada sem a sua presença benéfica. Porém, à sua chegada, os Portugueses foram encontrar a Mulher oriental no estado da mais abjecta degradação, transformada num farrapo que se lançava nas piras fúnebres ou se arrebanhava para a prostituição ritualística em alguns dos templos que outrora tanto a tinham engrandecido.

Entre as primeiras leis a serem estabelecidas no Estado da Índia, nota-se a proibição do SATI por Afonso de Albuquerque (1510) porque a imolação de tantas "vidas inocentes" era um atropelo à "Justiça moral" (44). A dignificação da Mulher foi continuada por outras leis posteriores tais como a legalização da sua situação social, o apoio económico, e a legalização do seu direito à herança (45). Essas leis são particularmente ostensivas no governo do Vice-Rei Dom Constantino de Bragança que solidificou a sua autoridade ao apoiar-se na autoridade da Igreja e da Inquisição para mais efectivamente impor a igualdade da Mulher perante a Lei de Deus e dos Homens, não hesitando criar infra-estruturas legais, sociais e religiosas para mais efectivamente atraí-la ao seio do Cristianismo, chocando por sua vez vários grupos sócio-religiosos do Estado da Índia que até essa altura tinham pactuado no aviltamento da Mulher.

A ATRACÇÃO DOS LUCROS

O desastre de Alcácer-Quibir e a extinção da velha aristocracia lusitana afectaram toda a extensão do Mundo Português e marcaram-lhe novos rumos. Enquanto o Brasil se tornou o último reduto da defesa da nacionalidade Portuguesa, o Estado da Índia, que se estendia desde o Cabo da Boa Esperança, na África, ao longo dos mares, das praças, e das fortalezas distribuídas pelas costas do continente asiático, até à enseada de Nanquim, na China, viu-se abandonado a si próprio, sem navios nem chefes que o defendessem da indiferença dos Filipes e dos saques violentos da Inglaterra, da Holanda e da França que, na ânsia de materializarem as suas "Companhias" de exploração económica do Oriente, não hesitaram em usar da espionagem, da pirataria e até da capa da Religião para talharem vastos impérios coloniais nas áreas do Estado da Índia e do Padroado Português do Oriente. Por exemplo, é interessante observar as "rotas" dos Vigários Apostólicos da França no Oriente. Citamos um outro exemplo. As Naus Portuguesas "S. Filipe" e "Madre de Deus", capturadas pela pirataria Inglesa, tinham a bordo, além das fabulosas riquezas orientais, abundante documentação sobre o comércio Luso-Oriental - base em que se fundou, com o beneplácito de Isabel I da Inglaterra, a futura "London East India Company" em 1600, sob o título de "Company of Merchants of London Trading to the East Indies" (46).

Portugal acreditou que seria apoiado pelos Pontífices Romanos em consolidar a restauração da sua independência, porque a nação "fidelíssima", no auge da sua glória, nunca hesitara em ceder os fabulosos rendimentos do seu comércio Luso-Oriental em prol da Cristianização do Oriente, nessa época em que os "Papas tinham as mãos cheias com os negócios de Roma e da Europa e não podiam, materialmente falando, pensar em converter infiéis. Faltava-lhes tudo. Para a Santa Sé, era quase um favor o que os Reis de Portugal faziam" (47). Porém, Roma, esquecendo a sua autoridade moral, agiu como um poder político. As dificuldades para o Padroado começaram principalmente quando Portugal sacudiu o domínio Espanhol e quando a Santa Sé se recusou a reconhecer a independência Portuguesa durante um período largo demais. Essa foi a "causa principal que fez ruir tão depressa o edifício missionário de Portugal" (48). Um outro aspecto da política contrária aos interesses do Oriente Português foi a entrega, unilateralmente feita por Roma, dos territórios do Padroado Português à Propaganda Fide e aos seus Vigários Apostólicos. Roma dobrava-se perante a arrogância imperial da França e da Espanha que teimavam em ditar leis contrárias aos acordos anteriormente estabelecidos pela Santa Sé. Observa-se que a política dos Reis da Espanha após a restauração da monarquia Portuguesa foi duma dura oposição ao Padroado Português, particularmente visível no problema do envio dos missionários ao Oriente. Opunha-se ela ao envio dos missionários do Padroado que, na sua maioria, nem eram Portugueses (49) e, no entanto, mostrava uma total indiferença perante os Bispos e Vigários Apostólicos da França e da Itália, enviados pela Propaganda Fide.

Forçado a uma situação que não desejara, Portugal teve que lutar no Oriente não só contra a onda dos mercenários da Europa que capturaram o seu riquíssimo comércio Luso-Oriental, mas também contra a usurpação político-religiosa do seu Padroado, que as outras nações da Europa faziam com o apoio mais ou menos ostensivo de Roma. Consequentemente, o Oriente viu-se involuntariamente envolvido num caos, provocado pelas questões originadas na Europa.

A situação do Estado da Índia tornou-se insustentável pela sua extensão territorial. Pequenos núcleos de resistência espontânea surgiram em vários pontos do Estado da Índia. Assim, no momento mais crítico da sua existência, é notável a intervenção diplomática dos Hindus de Goa nas várias cortes do subcontinente Indiano, onde desempenharam com sucesso e tacto todas as missões que lhes estavam confiadas, despendendo das suas fazendas nas despesas que o Estado já não comportava (50). Algumas vezes, foram os próprios príncipes orientais que defenderam a velha amizade Luso-Oriental. Por exemplo, em 1620, o Príncipe de Tanjore, Ragonado (Ragunath) Nayque, farto das piratarias dos Ingleses e Holandeses, assinou um tratado de paz e comércio com os Dinamarqueses com a cláusula de haver amizade entre o seu Estado, os Dinamarqueses e os Portugueses (51). É curioso observar que num dos muitos assaltos que Goa sofreu, os Holandeses assaltaram-na em 1641 pelo mar, enquanto o Hidalcão a cercava por terra. Comunicada a restauração da Monarquia Portuguesa, o Hidalcão rompeu imediatamente o cerco, declarando-se amigo do Rei de Portugal, enquanto os Holandeses continuaram o seu assalto até serem derrotados (52). Note-se, porém, que essa resistência dos Orientais foi gradualmente desfeita pela arrogância das armas dos mercenários da Europa. Citamos dois outros exemplos dessa resistência - uma activa, em Solor e Timor, e feita com muita argúcia; a outra foi uma reacção local a vários tipos de intervenção das várias nações europeias em Sião, e produziu consequências inesperadas.

As primeiras informações sobre Solor aparecem como notícias duma zona geográfica insulíndia, vaga e extensa, passando depois a designar um grupo de ilhas e por fim, a ilha desse nome. Timor aparece na documentação Portuguesa pela primeira vez na carta de Rui de Brito Patalim a Dom Manuel, e escrita em 1514 (53). Porém as primeiras notícias narrativas de Solor e Timor encontram-se na carta do Padre Baltazar Dias, (54) escrita em 1559; nota-se a grande autoridade dos missionários portugueses nessas ilhas.

Os Holandeses invadiram Koepang em 1651, a extremo oeste de Timor, e instigaram os Reis de Amavi e Amanense (chefes locais) a exterminarem o diminuto número dos Portugueses que por lá se encontravam (55), criando uma divisão entre os nativos, o que concorreu para catalizar uma luta de resistência da população local contra os Holandeses. Estes tentaram várias vezes acabar com a resistência, enviando para esse efeito invasões sucessivas de Batávia. A resistência local foi inicialmente chefiada pelo rei de Oé-Cussi, Mateus da Costa. Mais tarde, juntaram-se-lhe Antonio Hornay (natural de Timor) e Simão Luis (natural da Larantuca, ilha de Flores), sendo este último nomeado Capitão-Mor do Sul pelo Vice-Rei António de Melo e Castro. Após vários incidentes, António Hornay tornou-se, entre 1672 e 1696, o chefe indiscutível das forças. Observando a fraqueza do Estado da Índia, Antonio Hornay decidiu pôr uma poderosa autonomia política e económica debaixo da soberania Portuguesa; monoplizou para esse efeito todos os negócios das ilhas de Solor e Timor, e enviou ao Vice-Rei o seu contributo em ouro para a defesa do Estado. Na altura em que o Rei de Portugal enviou uma carta ao Governador da Índia (1690), pedindo o parecer do seu Conselho sobre a utilidade das ilhas de Solor e Timor, António Hornay tornou-se o centro dos interesses do Estado da Índia. As opiniões emitidas nessa altura (1691) são uma fonte de informação sobre a situação de abandono total das possessões da Coroa Portuguesa no Oriente, como revelam também a extraordinária visão política de Antonio Hornay, possivelmente o mais lúcido entre os primeiros paladinos da autonomia local materializada dentro do Mundo Português, cuja hierarquia, no entanto, não estava preparada para compreender o alcance jurídico e político dessa ideologia tão avançada para o seu tempo. Citamos algumas passagens dos manuscritos do Conselho do Estado da Índia (56).

Nessa mesma data (1691), o Estado da Índia recebeu uma extraordinária comunicação enviada (em 1689) por Francisco Barreto da Pina, de Sião, informando o Estado do abandono completo em que se encontrava aquela pequena colónia Portuguesa, como também deu uma detalhada informação sobre um sangrento drama internacional lá desenrolado, em que estiveram envolvidos Siameses, Franceses, Ingleses, Portugueses e um Grego, Constantino Falcão, o agente que precipitou toda essa tragédia pela sua megalomania, à qual se juntou a ambição político-religiosa da França, obcecada pelo seu sonho imperial, ao qual nem sequer faltava a aprovação das Bulas Pontifícias (57). Incidente bastante debatido em Roma, transitou para a Literatura de vários países, incluindo Portugal (através da obra de Eça de Queirós), baseado sempre na versão Francesa (58). Apresentamos na íntegra a ignorada versão Portuguesa que explica várias lacunas da versão Francesa, como também oferece uma análise mais equilibrada desse trágico incidente (59).

CONCLUSÃO

Apresentamos factos e documentos que falam por si dessa trágica época para o Oriente, vítima de saques violentos da Europa, feitos em nome de um Deus comum e Reis variados. De todas as nações da Europa que sulcaram os mares em busca do fabuloso Oriente, apenas Portugal apresentou interesses mais duradoiros do que uma simples exploração económica altamente lucrativa e feita através da arrogância das armas - atitude da maioria das nações europeias na Ásia. Por contraste, a influência de Portugal faz-se notar nos mais variados campos da actividade humana - jurídico, social, religioso, político, linguístico, artístico, científico, cultural e humanitário, para citarmos os mais importantes, acção que nenhum outro país repetiu na Ásia.

Podemos concluir que as navegações e os viajantes Portugueses não só beneficiaram Portugal pelos contactos que tiveram no Oriente, mas criaram também um extensivo intercâmbio Luso-Oriental, através do qual trouxeram alguns benefícios, mais ou menos dilatados, a várias sociedades costeiras do Oriente. ·

LEGENDAS

1 - Tapeçaria ao gosto de Portugal e da Índia.

Pormenor de uma das tapeçarias-notícia, encomendadas por D. Manuel I para assinalar a chegada dos portugueses à Índia.

Ilustrativas do encontro do Ocidente com o Oriente, nelas se reflecte o impacto e o deslumbramento do exótico na Europa.

2 - Mesa ao estilo indo-português - ébano com incrustrações de marfim.

3 - A Virgem com o Menino - baixo-relevo em placa de marfim (arte indo-portuguesa).

NOTAS

(1) Diogo Velho, da Chancelaria, "Da caça que se caça em Portugal", feita no ano de Cristo de 1516 in "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende, pg 177-183, Coimbra, 1910; utilizamos a ortografia moderna.

(2) "Os Reys de Portugal sempre pretenderão nesta conquista do Oriente unir tanto os dois poderes, spiritual e temporal, que em nenhum tempo se exercitasse um sem outro".

Diogo do Couto, "Década VI", Cap. 4o, pg 7, Lisboa, 1786;

Ferreira Martins, "História da Misericórdia de Goa", (3 vols), Goa, 1910-1914;

Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "Documentação Para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Lisboa, 1947-1958;

Rev. Dr. A.B. de Sá, "Documentação Para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Lisboa, 1954-1956;

Ver o "Regimento dos Memposteiros Mores e Memposteiros Pequenos para a Rendição dos Cativos", datada de 3 de Janeiro de 1562, in "Monções do Reino", Livro 1o, fl103-127.

(3) Carta do Rei de Cochim, Iterama Maratinquel Unirramacoul Trimunparti, na qual se declara devedor do Rei de Portugal, enobrece e arma Duarte Pacheco Pereira, dando-lhe um brasão que, provavelmente, é um caso único na história do Oriente;

Fernão Lopes de Castanheda, "História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses", Livro 1o, Cap XLVII, Lisboa, 1551.

(4) Cópia da carta que "El-Rey Dom Manuel Escreveu a El Rey de Calecut por Pedroalvares Cabral, Capitão da primeira Armada que foi ha India depois de ser descoberta por Vasco da Gama", escrita em 1 de Março de 1500 Ms 7638, Doc no35 fl 61-64; da colecção Vimioso da Biblioteca Nacional de Lisboa, Doc no.4, vol. I, pgs 15-21; "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof. Dr. Silva Rego, Lisboa, 1947.

(5) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "Portuguese Colonisation in the 16th Century: A Study of Royal Ordinances", Johanesburg, 1959.

(6) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Vol 12, pg 62 - 66, Lisboa, 1958.

(7) Gaspar Correa, "Lendas da Índia", Tomo I, vol I, pg 220-232, Lisboa, 1858;

Carta de Dom João da Cruz a D. João III, escrita em Cochim a 15 de Dezembro de 1537, Doc no 91, vol II, pg 256-261, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof. Dr. Silva Rego, Lisboa, 1947.

(8) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "Documentação para a História das Missões do Padroado do Oriente", vol XII, pg 37-56, Lisboa, 1958.

(9) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "O Padroado Português do Oriente", pg XV - XXIV da Introdução, e pg 3-30, Lisboa, 1940.

(10) Carta de Pedro de Sousa de Távora a D. João III, escrita em Roma, aos 12 de Abril de 1537, Doc no 89, vol II, pg 247-248, "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev.

Prof. Dr. Silva Rego, Lisboa, 1947.

(11) Carta de S. Francisco Xavier a S. Inácio de Loyola, escrita em Goa, 20 de Setembro de 1542, pg 44, Doc no 8, vol III da "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof.

Silva Rego, Lisboa, 1950.

(12) "... Em Cochim achey huã arca de cartilhas por onde insynam os meninos e paraceo me que voss alteza as nam mandam pera apodrecerem estando na arca, e ordeney huum homem casado aquy, que insynasse os moços a ler e escrever, e averá na escola perto de cem moços, e tomam bem o que lh ensynam e em pouco tempo, e sam todos cristãos...." Carta de Afonso de Albuquerque a D. Manuel, escrita em 1 de Abril de 1512, in "Cartas de Afonso de Albuquerque", Carta IX Tomo I, pg 44-45, Lisboa, 1884;

(13) Carta de D. Sebastião ao Estado da Índia, Anotação no 6 do Doc No 1, Vol III, pg 8-9, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof. Dr. Silva Rego, Lisboa 1950.

(14) Doc 69, vol III, pg 334, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof. Dr. Silva Rego. Ver também o Doc 96, vol II pg 293-308 da obra citada.

(15) Regulamento do Colégio de São Paulo de Goa, Doc 75, vol II, pg 356, obra citada.

(16) "Conquista da Índia per humas e outras armas reaes e evangélicas", livro 4o, Cap 7o fl 188-190, do Códice 4o 1646 da Colecção Egerton do Museu Britânico, publicado por Rev. Prof. Dr. Silva Rego, in "Documentação Ultramarina Portuguesa" (Gulbenkian II), pg 541-543, Lisboa, 1960;

Documento Seiscentista, A. Almeida Calado, in "Brotéria", Janeiro de 1957.

(17) Carta do Cabido da Sé de Goa ao Rei de Portugal, escrita em 15 de Outubro de 1547, Doc 108, vol III, pg 517, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof. Dr. Silva Rego.

(18) Carta do Pe. Nicolau Lanciloto, ao Pe. Martinho de Santa Cruz, de Coimbra, escrita em Goa, a 22 de Outubro de 1545, Doc 52, vol III, pg 188, Rev. Prof. Dr. Silva Rego, obra citada. Ver tambem os Doc. no52, 57e 58 da obra citada.

(19) Silva Rego, "Documentação Ultramarina Portuguesa" (Gulbenkian II), pg 543-546;

"Viagem de Francisco Pyrard de Lalval", vol II, pg 47. Tradução Portuguesa de Cunha Rivara, Goa, 1862.

(20) David Lopes, "A Expansão da Língua Portuguesa no Oriente nos Séculos XVI, XVII e XVIII," Porto, 1969; ..."Portuguese was the language most Europeans learnt first to qualify them for a general converse with one another as well as with the different inhabitants of India. Throughout the eastern seas, nearly every European trading factory found it necessary to emply at least one Luso-Indian Christian professional interpreter and 'writer' of Portuguese. The language was more widely spoken in Batavia than Dutch, and in Madras and Bombay more widely than English..." Captain Alexander Hamilton, "A New Account of East Indies", Edinburg, 1727, ed. Sir William Foster, London, Argonaut Press, 1930 (pg 7);

Mons. S. R. Dalgado, "Influência do Vocabulário Português em Línguas Asiáticas", Coimbra, 1913.

(21) Carta do Cabido da Sé de Goa a D. João III escrita em 1547, Doc 108, vol III, pg 520, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Rev. Prof. Dr. Silva Rego.

(22) Mons. S. R. Dalgado, obra citada 116-117.

(23) obra citada, pg 131.

(24) obra citada, pg 33.

(25) Sir George Watt, C.I E., C.M., L.L.D., F. L.S., "The Commercial Products of India", pg 320, London, 1908.

(26) Ida Colthurst, F.H.S., F.Z.S., "Familiar Flowering Trees in India", pg 83-86, Calcutta, 1937.

(27) Damião de Goes, "Crónica do Felicissimo Rei D. Manuel", Parte III, Cap. IV, pg 185-193; e Parte IV, Cap. XVIII, pg 43 - 48, Coimbra, 1929. Citamos:... "Onças, leões, elefantes,/ monstros e aves falantes / porcelanas, diamantes, já é tudo muito geral..." /Diogo Velho, da Chancelaria, obra citada. Ver anotação no1/ Ver as "Lendas da Índia", de Gaspar Correa.

(28) Mons. S. R. Dalgado, obra citada, pg XVIII da Introdução.

(29) Ida Colburst, obra citada, pg 51 e 85.

(30) Ver o Capítulo no8 (Uma Curiosa Recorrência dum Mito - A Árvore Triste). da nossa tese de doutoramento na Universidade de Bombaim, sob o título "A Influência da Mitologia Indiana (Hindú) na Literatura Portuguesa nos Séculos XVI e XVII".

(31) Dr. Sham Singh, Dr. S. Krishnamurthi e S. L. Katyal, "Fruit Culture of India", pg 184-191, Indian Council of Agricultural Research, New Delhi, 1963.

(32) Obra citada, pg 175-183.

(33) Obra citada, pg 155-164.

(34) Sir George Watt, obra citada, pg 1028.

(35) "Fruit Culture of India", pg 192-198; G. R. Ambekar, "The Crops of the Bombay Presidency", Part II, pg 110, Department of Agriculture, Bombay, Government Central Press, Bombay, 1933.

(36) Sir George Watt, obra citada, pg 264-266.

(37) Sir George Watt, obra citada, pg 1132-1139.

(38) Sir George Watt, obra citada, pg 65-66;

"Fruit Culture of India", pg 372;

Garcia da Orta, Colóquio Quinto, in "Os Colóquios dos Simples...".

(39) "A enxertia da mangueira foi introduzida pelos portugueses, e as variedades das árvores enxertadas e os seus frutos distinguem-se por nomes ou por apelidos portugueses, às vezes feminizados, como Carreira, Colaça, Peres. Outras variedades com denominações portuguesas, que vogam somente em Goa são: Bispo, Costa, Doirada, Dom Bernardo, Dom Filipe, Fernardina, Ferrão, Malaguesta, Monserrate, Papel, Papel Branco, Rebêlo, Reinol, Salgada, Salgadinha, Santo António, Sacratina, Temuda (concani chimbúd), Xavier, Bem-curada, Mal-curada, etc.", Mons. S. R. Dalgado; Afonsa, nome duma variedade de fruta manga, in "Influência do Vocabulário Português...", pg 4.

(40) O "Livro das Monções do Reino", No 55B - fl 348.

Esse interesse pelo progresso da Agricultura manteve-se ainda nos séculos posteriores como se pode verificar nas várias Ordens Régias enviadas ao Estado da Índia. Citamos, por exemplo, "As Monções do Reino", Livro 185, fl 193, datada de 6 de Maio de 1805, a "Relação das sementes que do Real Jardim Botanico se remetem por ordem do Director delle a entregar ao Illmo. Sor. João Filippe da Fonseca, para serem remettidos para Goa, em observancia do Aviso do Illmo. e Exmo. Sor. Visconde de Anadia..."

(41) Cunha Rivara, "Arquivo Português Oriental", item V do Doc I, Fls II, pg4.

(42) Reynaldo dos Santos - "O Império Português e as Artes"; "Oito Séculos de Arte Portuguesa"; "A Índia Portuguesa e as Artes Decorativas"; "A Torre de Belém"; "O Manuelino".

Luís Keil - "Ourivesaria Portuguesa dos Séculos XII a XVII"; "Porcelanas chinesas do século XVI com Inscrições em Português"; "Faianças e Tapeçarias"; "Alguns Exemplos da Influência Portuguesa em Obras de Arte Indiana".

João Rodrigues da Silva Couto - "Os Cálices na Ourivesaria Portuguesa do Século XII ao Século XVIII"; "Alguns subsídios para o Estudo técnico das peças de Ourivesaria, no Estilo Denominado Indo-Português"; "A Prataria Indo-Portuguesa"; "A Arte da Ourivesaria em Portugal".

Joaquim de Vasconcelos - "A Pintura Portuguesa nos Sec. XVI e XVII"; "Da Arquitectura Manuelina"; "História da Ourivesaria e Joalharia Portuguesa".

Souza Viterbo - "O Orientalismo em Portugal no Século XVI"; "A Exposição da Arte Ornamental", Notas ao Catálogo.

Mariano Saldanha - "A Cultura da Música Europeia em Goa", in Revista do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, vol VI, pg 3, Lisboa 1956.

Lúcio Rodrigues - "The Mando - A Look before and After in Soil and Soul and Konkani Folk Tales" Bombay, 1974.

(43) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, anotação no 5 aos "Apontamentos do Vigário Padre Miguel Vaz sobre o Estado da Índia" apresentados a El-Rei D. João III, escritos em Évora, em Novembro de 1545, Doc no 54, Vol III, pg 203, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente".

(44) Comentários de Afonso de Albuquerque, Vol I, parte 2, Cap XX, pg 116-117 Lisboa 1973.

(45) "Apontamentos do Vigário Padre Miguel Vaz sobre o Estado da Índia", doc 54, Vol III, pg 208, Rev. Prof. Dr. Silva Rego, obra citada.

(46) Rev. Prof. Dr. A. da Silva Rego, "1622 - Ano Dramático na História da Expansão Portuguesa no Oriente e no Extremo Oriente", in "Memórias da Academia das Ciências de Lisboa", Classe das Letras, Tomo XVIII, pg 33, Lisboa, 1977.

(47) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "O Padroado Português do Oriente", pg 11, Lisboa, 1940.

(48) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, obra citada, pg 63-64.

(49) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, obra citada, pg 41.

(50) Rev. Prof. Dr. Silva Rego, "Raízes de Goa", Lisboa, 1969; "Os Ingleses em Goa", Separata dos "Estudos Políticos e Sociais," vol III, No 1 Lisboa, 1965;

Panduronga Pissurlencar, "Agentes da Diplomacia Portuguesa na Índia", Nova Goa, 1952.

(51) David Lopes,"A Expansão da Língua Portuguesa no Oriente nos Séculos XVI, XVII e XVIII", pg 9-53, Porto, 1969.

(52) David Lopes, obra citada, pg 51-53.

(53) Rev. Dr. A. B. de Sá, in "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Doc 9, vol I, pg 66-74.

(54) Rev. Dr. A. B. de Sá, "Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente", Doc 54, vol 2, pg 344-348.

(55) O "Livro das Monções do Reino", No55B, fls 265-293.

(56) Carta do Rei de Portugal ao Governador do Estado da India, Dom Rodrigo da Costa, escrita em Lisboa a 22 de Março de 1690, 2a via ("Livro das Monções do Reino", No 55B fl 265):

"Gouernador do Estado da India. Eu ElRey vos enuio muito saudar. Sou informado q. do comercio das Ilhas de Solor e Timor se poderão tirar grandes utilidades, se elle se introduzir na forma que conuem assegurandose aquellas Ilhas com gente Portuguesa q. se lhe pode mandar desse Estado e perque esta materia pede grande consideração e depende da disposição com q. se achar a India para esta expedição de gente e introdução do comercio. Hei por bem q. proponhais esta materia no Conselho desse estado e que ouvindo tambem os homens praticos que melhor possam votar nella me remetais com o vosso o parecer de todos, declarando se quais serão as conveniencias desse comercio, e os meios para poder conseguir. Escrita em Lixboa a 22 de Março de 1690, Rey".

Trecho da Carta ao Rei da Junta dos Governadores - Dom Fernão Martim de Mascarenhas de Lencastre e Luis Gonçalves Cotta, escrita em Goa a 23 de Janeiro de 1691 ("O Livro das Monções do Reino", No 55B fl 266):

"Senhor, O Governador nosso antecessor Dom Miguel d'Almeida mandou remeter aos conselheiros do estado as copeas desta carta de V. Magestade para lhe darem seus pareceres sobre a forma com que se poderia introduzir gente de guerra nas Ilhas de Solor e Thimor pa se facilitar o Comercio dellas e os pareceres q derão remetemos com esta a V. Magde em q todos concordão sera impossivel conseguir este intento a respeito d'Antonio Hornay que as esta gouernando, este home Senhor, esta mto poderoso, e intentando o VRey o Conde d'Aluor no seu tempo tiralo do gouerno informandose os Religiosos Dominicos que vierão daquella missão de q hauia em Thimor alguñs Portugueses benemeritos mandou a hum patente de Capitão Mor e a outros de Sargento mor com vias de sucessão porem estes não aceitavão os ditos postos temendo q Antonio Hornay os mandaçe matar e lhe forão entregar as patentes com q não ha outro remedio mais q conceruallo, e fazer delle confiança por q do contrario tomara motiuo pa. negar a V. Magde a obediencia q reconheçe como seu vassalo, e por esta razão sempre os q gouernarão este estado forão dissimulando com elle e escreuendo lhe o Gouor. Dom Ro. da Costa huã Carta de agradecimento do que obraua no Serviço de V Magde lhe respondeo com toda a humildade (-?-) mandando hum donatiuo emouro de vinte e dous mil res. pa. as despas. do Estado o q lhe agradeçeo denouo o dito Gouor. recompençando este seruiço com huã patente q lhe mandou de Capm. geral das ditas Ilhas e por esta honra esperamos q mande, outro donativo mayor... dos regulos que tem a Ilha de Thimor e alguns delles reconhecendo a sua obediencia costumão escreuer aeste Gouerno o q tudo fazemos prezte. a V. Magde. por entendermos q nunca os gouernadores passados o fizerão por falta de informações Guarde Deus a muito alta e muito poderosa pessoa de V. Magestade fellicissimos anos. Goa 23 de Janeiro de 1691". (Traz as rubricas de Dom Fernão Martim de Mascarenhas de Lencastre e de Luis Gonçalves Cotta, estando a primeira bastante danificada).

Trecho do parecer do Bispo de Cochim, escrito em Goa a 7 de Janeiro de 1691 ("O Livro das Monções do Reino" No 55B, fl 269-270):

"O que sobre esta proposta me parece he, que S. M. que Deus guarde primeiro de tudo mande prouer estas Ilhas de Missionarios despirito talento capacidade que possão instruir cathequizar e bauptizar os gentios dellas, e isto em numero que possão conseguir mediante a graça Diuina a empresa em breve tempo, pois por incuria nossa não estão todos reduzidos ao gremio da Igreja que por isso Deus nos não ajuda nestes comercios, antes nos desfauorece tanto como a experiencia mostra; por que nos hauemos com tão pouca atenção a propagação da fee e so pomos todo o cuidado no temporal... Conta a dita Ilha de muitos regulos, todos uassalos os mais humildes obidientes que S. Magestade que Deus guarde tem, e aestes todos domina o Capitão de Solor e Timor com trato mais de escravos que de uassalos e por qualquer pequena culpa que fazem ou os imprisiona ou os condena em sandalo; e por via destas condenações tirão os ditos capitães mores e outros seus ministros em cada hum anno assima de oito centos bares de sandalo, e cada bar tem seis picos isto he o que em muitos annos se tem tirado por uia destas condenações fora o que por infimos preços se lhes compra. He este genero tão estimado na China que sendo seu ordinario preço vinte patacas cada pico em alguns annos que faltarão bares de Timor em a Cidade de Macao se uendeo por cento e sincoenta patacas cada pico e não ha duvida que trafagandose este sandalo par huã so mão sera o seu preço subido a medida de nossa uontade;..."

Opinião emitida pelo Conselheiro do Estado D. Cosme de Paiva Correa ("O Livro das Monções do Reino" No 55B fl 271 e 271):

"Senhor, He sem duvida q das Ilhas de Timor e Solor se estiveçem debaxo do Imperio Portugues; se poderião tirar grandes utilidades pellos ricos generos deque abundão aquellas terras, porem não tendo nos nellas mais q aquele reconheçimento, que espontaniamente tem aeste estado Antonio de Ornay; aseitindo deste governo Patente de Capan. Maior, porem comtantos siumes de q possa anossa intrudução demenuir o seopoder; que não quis reçeber a João Antunes Portugal que deste estado foy mandado gouernar aquellas Ilhas não he possiuel q deixe de mal lograrçe oquererçelhe meter gente Portuguesa ainda q a miseria deste estado o permitiçe sem a situação daquelle homem; proque me parece sera eficas meio pelo de algũ religiozo Dominico, que naquellas partes ja tem franca entrada, mandar praticar este mesmo negocio con Antonio Ornay, com aquellas cautellas de que neceçitão as suas desconfianças; e com largas promeças dehonrrozas merces eajustandoçe com elle, fazer tão bem aliança com aquelles regullos seus dependentes, e com os mais que for possivel, que so asy se lhe pode hir introdusindo algũn gente, eassentando as esperanças de que possamos vir a ser senhores daquele Pais, e de suas negociações tal vez aos moradores dachina, e deste estado, isto he oq mepareçe, VSa. mandara oq for mais conveniente ao serviço de S. Magde. q Ds gde. Goa e Dezembro 14 de 1690

D. Cosme de Paiva Correa."

"Imformação dada pr huã pessoa pratica e de larga espiriençia nas terras e partes de Sul e particularmente das ilhas de Timor e Solor." ("O Livro das Monções do Reino" No 55B, fl 291-293):

"Pera hauer de tratar, dos meyos pera sepoder introduzir ocontrato na ilha de Timor, mepareçe forçozo dar as notiçias, dopoder que S. Magde que Deos guarde te, eteuena dt ilha.

Não he mto antigo o nome q S. Magde logra de Sor desta ilha que he so oq nella tem oqual teue aorigem seguinte. A ouzadia portugueza não deixou neste oriente parte por mais remota que não euistigaçe, maz ne sempre foi filha da obediençia, porque mtos portugueses uoluntariamente ambiçiozos fizerão asento onde pello contrato sua ambição achou descanço, afama dolucro adquirio moradores, eoaugmento destas, eonatural portuguez, produzio desunião, e desta seoriginou buscar remedio pra a conçeruação, eaçertar no unico, demandar pedir, ao Gouerno da Índia pessoa pa. cõ o poder real os conçeruar em justiça, e deste modo seprincipiarão nesta India muitas pouações que depois o forão degrande nome. Desta data ofoi a de Solor, que he huã ilha distante da de Timor quorenta legoas, nella fizerão asento algus portuguezes,... Asistia naquellas partes Francisco Vieira que pella mercancia, logrou grossos cabedaes, aque o VRey Antonio de mello de castro honrou, cõ patente de General do Sul debaixo do dominio do qual, cabia tãobe a ilha de Timor, e pera cappitão mor della mandou o dito Vrey patente ao dito Antonio hornay, a petição do dito Franco Vieira os quaes unidos ambiciozamente intentarão fazer estanque pera seus intereçe per o sandalo da ilha deq se originou leuantarçe hũ capitão da gente preta chamado Matheus da Costa, o qual por força de Armas fez dahir da dita ilha ao dito Antonio hornay, e o dito leuando Matheus da Costa fez auiso ao Gouerno da india, e delle lha foi mandada a patente de Capitão mor da Ilha, que gouernou algus annos cõ zelo do Serviço de S. Magestade, e da christandade, e por sua morte ficou gouernando a ilha o Tenente Manoel da Costa athe se fazer auiso a Índia, e poucos mezes depois do dito capitão mor falecer chegou aquella ilha João Antunes Portugal por cappitão mor da Viage de Timor pa. Machao mandado pello VRey Conde de lauradio, c a Nao de S. Magde. inuocada N. S. da Guia, ao qual pedio o pouo de Timor quizeçe ficar gouernando a dita ilha o que elle não quiz fazer por aestar gouernando o dito Tenente, e ter feito auiso a india pa. della hir o capitão mor que o gouerno ordenaçe, e despois de hauer acabado oq na ilha hauia do Seruiço de S. Magde. tocante a sua ocupação partio o capitão mor da Viagem pa. Machao, e chegando de caminho ao Porto de Larantuca (que dista mais de quarenta legoas da ilha de Timor) soube que o Tenente deste porto que hera Antonio hornay (merçe q lhe fez o capitão mor defunto Matheus dacosta) estaua a juntando gente pa. por força de Armas hir senhoriar Timor valendoçe depretexto dapatente antiga q tinha do dt. VRey Antonio demello,... do ql teue resposta e lhe mandou duas patentes de capitão mor da dita ilha, hua pra Antonio hornay, e outra pa. o Tenente Manoel cõ ordem que aque destes estiveçe gouernando a ilha deçe a patente eocultaçe a outra, e pa. o dt. João Antunes Portugal, mandou o dito VRey patente de General da dita ilha ficando o dito capitão mor as suas ordens. Com estas partio pa. Timor o dt capitão mor das Viagens (-?-) antes desfazer escreveo o dt V. Rey (-?) comprimto ao que lhe ordenaua, pore que renunciava o posto de General, achou estaua governando o dto Antonio hornay, Gouerno em que se hauia introduzido por armas, fazendose Sor. absoluto da dita ilha... e deu parte ao VRey Conde de Alvor e como no gouerno total senão uio castigo desta rebelião e no do Gouor. Dom Rodrigo da Costa, seuio premiada apessoa de Antonio hornay com a patente que lhe mandou de general sedeue prezuimir sera dificultozo sugeitarçe uoluntariamte a ser subdito quê por força se fez Sor. Esta he embreue relação do dominio q S. Magde te, e teue nesta jlha das riquezas da ql agora tratarey, e dos meio p. a se conseguir oitento q. S. Magde. deseja...".

(57) Rev. Prof. Dr. Silva Rego "O Padroado Português do Oriente", pg 37-78.

(58) Eça de Queirós, "Notas Contemporêneas", França e Sião, pg 447-458, Porto, 1907.

(59) Carta ao Rei dos Governadores Dom Fernão martim de Mascarenhas de Lencastre e Luis Gonçalves Cotta, escrita em Goa a 24 de Janeiro de 1691. ("O Livro das Monções do Reino" No 55B, fl 440):

"Pella Rellacão inclusa que mandou de Sião Franco Barreto de Pina Capm. Mor do Bandel dos Portuguezes daquelle Reino constara a V. Mage. da revolta que nelle ouue co' a Morte do Rey a que se seguio a do seu vallido Constantino falcão e a expulsão dos franceses e Inglezes que assistião no mesmo Reino emque refere pormenor todas as circumstancias deste sucesso, e do aperto em que seacharão os Portuguezes do dito Bandel, e como o gouerno he violento por se introduzir por Rey hu Mandary, matando pa. esse effeito os Principes sucessores, não podera durar muito esta tirania como a experiencia tem mostrado em outros Reinos e Impérios que opprimidos de semelhante jugo procuravão a sua liberdade;

Gde. Deus a mto. alta e mto. poderoza pessoa de V. Mage. Fellicissimos annos; Goa 24 de Jano. de 691".

Relaçam uerdadeira de Morte do Rey de Siam e do Grego por Nome Constantino Falcão e da Saida dos franceses botados do dito Reino"

("O Livro das Monções do Reino", No55B, fl 441-447):

"Pera clareza desta historia he necessario saber primeiro em como o Grego por Nome Constantino falcão teue tão grande Sorte e boa fortuna com ElRey de Siam que veo a gouernar o Reino, e o Rey se veo a fiar tanto delle que tudo que fazia e dispunha lhe parecia o mais acertado e sendo o dito Grego o home humilde e baixo se pôs em grande altura dando lhe o Rey grande nome e o mayor titulo do Reino com que se tão soberbo que de pessoa nenhuma fasia conta, com os naturaes titulos e senhores do dito Reino se foy odiando e malquietando fazendo males atodos aluitrando a Rey pera q puzesse grandes tributos aos naturaes, anexando e tiranizando a todos por aiuntar thezouros ao Rey, por q com esta maxima de acquirir pera a fazenda real se começou aintroduzir no Seruiço do Rey.

Persuadio o dito Grego a ElRey de Siam se unisse muito em amizade cõ ElRey de frança porque com seu fauor e aiuda senão temeria de olandezes que andauão tão soberbos por se ter senhoreado da mor parte de todo-Sul; foy o dito Grego com sua soberba por obras e palauras agrauando a todas as nações que assistião em Sião, assy as de Europa como as destas partes, com que ueo a ser oaborecido de todos, e o temião como a tirano, saluantes aquelles que erão de sua facção, e lhe dizião os amens, sendo que anenhũs fez bem, mas atodos males, com q fogiam todas as naçoes e mercadores de nauegarem ao Reino de Siam pellas forças, sem razões e tiranias que fazia aos Ingrezes com que ueo a Siam fauoreceu algu tempo elhes deu alguã mais de satenta Ingrezes, que estauão em Tanassarim o melhor porto deste reino presidiando hua força de muita importancia tendo antes disso morto a false fe ahum capm de huã Nao ingreza (?) entre mtas. couzas que este mao homem fez que se não dizem nem relatão por serem publicas e sabidas.

So com a naçam francesa se ouue bem e se meteo pera seu mor mal e destruição, meteo se logo em chegando a Siam em grande amizade com os Bispos, e clerigos missionarios os quaes desde o dia que entrarão no Reino de Siam sempre tratarão e dezeiarão de que seu Rey tiuesse no dito Reino entrada e mão, tratarão todos de saber e aprender a lingua da terra mettendo se com os grandes e com os de gouerno aquem dauão brincos e grandes pregentes pa. q tinhão comque o podiam fazer, e logo se forão espalhando por todo o Reino não ficando pedra em todos os oiteiros, matas e montes de Siam que não mandassem a frança por terra com muita facilide., como q hia por sua caza escreuerão a Roma que sô nisso se esmerarão multas mentiras, claras e embrulhadas contra os Portuguezes e nossos Padres e Religiozos, e por todas as partes por onde andauão e hião, de famarão a nação portugueza e Nossos Padres.

Duas ueses trouxerão por terra cartas do Papa e delRey de frança pera ElRey de Sião aque não digirio o dito Rey algu tempo, mas tanto emsistirão os Bispos e Clerigos francezes, e tanto derão e peitarão aos Ministros deste Rey que alcançarão respostas das ditas cartas por huã embaixada que de Sião partio em huã Nao françeza o anno de oitenta e dous a q não chegou nem se sabe ate hoje o fim que teue.

O que sabido por ElRey de frança e yuntamte. pllo. mto que os Bispos fizerão com suas cartas emformações, mandou ElRey de frança o anno de oitenta e sinco hua embaixada a ElRey de Siam com grandes prezentes e fauores pa. o grego e hum Abade pera bautizar a ElRey de Siam per que (?) tinhão escrito seus Bispos q o dito Rey queria ser Christão a ql embaixada foy recebida com grande Magestade ordenando o grego tudo, e no mesmo anno respondeo ElRey de Siam com outra embaixada a frança.

E como o Grego com estas embaixadas liongrando a ElRey de Siam chaman do lhe emperador foi crescendo em titulos e mando, e muito mais em soberba carteando se com El Rey de frança de tal modo que no mes de Outubro de oitenta e sete chegarão a Sião sinco naos in descitura de frança com hum emuiado daquelle Rey perao de Siam, e outro emuiado da Compa. com grandes prezentes e saguates pera este Rey e ao Grego mandou El Rey de frança mimos e regalos custozos, e yuntamte, o abito de S. Miguel e o titulo de Conde, e pera hum filho seu o titulo de Marques. Veo mais outro Abade pera tão bem tratar de bautizar ao Rey, ao ql. nunca lhe ueo tal amaginação, vierão nessas naos oito centos soldados separados com seu geral capitães e officiais pera seruirem a El Rey de Siam dos francezes seu gouerno e sua soberba, os Talapões e Ministros dos pagodes lhes parecia muito pyor, crecerem tantas Igrejas tantos Religiozose e sacerdotes do uerdado. Deos muito mais sentirão o que os missionarios franceses indiscretamente dizião e publicauão que El Rey de Siam se hauia de fazer Christão o que notauelmente sentiã.

Adoeçeo ElRey de Siam em Março de oitenta e oito e andou muito tempo acha cozo, e considerando e uendo hum mandarim grande de tudo e homem de juizo o estado do Reino a apriuança do Grego, o mando e soberba dos francezes senhores das forças do Reino, e a muita mão dos Bispos, Religiosos e Clerigos Seminarios e Collegios que Elrey lhes mandou fazer a pititoria do Grego nao lhes pareceu bem, e arreccearão algum ruina grande em seu Reino e Gouerno com que se aiuntarão aeste Mandarim os Talapões mais grandes e authorizados e unidos estranhauão uer o Reino no estado em q ficaua se o Rey morresse, e que o Grego com os francezes se podião aleuantar e fazer o Rey que lhes parecesse e com estas considerações conceberão logo hum odio entranhauel contra os christãos, Bispos, Pes. e mais Religiosos tendo (?) que ficaria destruida agente dita e sua emfame seita con os nomes q se tinhão lançados de que ElRey se hauia de fazer Christão. Couza q nunca tal o Rey imaginou. Mas como tinhã bem natural fauorecia aos Pes. e aos Christãos, e não impedia q seus naturaes o fossem, suposto q são estes gentios tão Idolatras e tão imbidos em sua gentilide. que forão mto. poucos escravos os q se bautizauão e algu q se conuertião era per pouco tempo por q. logo tornauão ao q. dantes erão e os Bispos e seus clerigos com dinheiro que lhes dauão os obrigauão hir a Igreja e em lho não dando largauão o ser christão, e o certo he q este gentios parecem serem preceitos por q ainda alguns Naturaes, filhos e netos da nossa gente christã que uiuem ha muitos no Bandel dos Portuguezes criados com a doutrina da Iga. Romanna, uendo os Talapões e seus pagodes, ritos e serimonias sevay sua alma a atraz delles, e sendo isto assy os Bispos e seus clerigos escreuerão a Roma e a frança tinhão bautizado milhares depois affirmarão em frança e Roma q tinhão hum conuento com dozentas freiras, e por estas e per outras couzas imprudentes tem chegado a couza ao mais miserauel estado e a maior ruina que ser podia.

Estando pois as cousas de Siam no estado que esta dito, os Talapoés e o Mandarim grande concertado e unidos hindo o Rey peyorando de seus achaques estando fora da sua cidade principal dous dias de caminho donde o Grego mandava tudo com Imperio; tratou este Mandarim grande de tomar a mão e a liberdade do Reino com os de sua facção ordenar que nhũa ordem nem dispozição do Grego se guardasse, nem se executasse, nem. obedecesse, oque todos tribunaes aceitarão pelo odio que lhe tinhão suposto que com mto. segredo, e sospeitando o Grego o que se lhe hia armando mandou no mes de Abril chamar os francezes e seu geral abanco co suas armas pera onde elle estaua adonde tinha sua guarda e capitam com soldados que o seruião e acompanhauão euindo os francezes a seu chamado do meyo caminho os não deixarão passar adiãte osoutros Mandarins parciaes dos q tinhão tomado este negocio a sua conta.

Estaua o Grego ya concertado eunido com huã criação do Rey a quem muito queria, o ql. tinha bastante gente por sy esóesperauão plls francezes pera conseguir seu intento que não sortio efeito por Deos Nosso Sor. não ser seruido suposto que o Mandarim grande não descuidou nunca de andar com os olhos sobre elles.

Foi o Rey peyorando e forão os Mandarins com dissimulação tolhedo o Grego o entrar em Palacio nem uer nem falar ao Rey com o que o dito Grego tratou adiuinhando oque lhe podia succeder, de fugir e se acolher pa. aiuntar com os francezes, e não ha duuida que se o conseguira e se ualera das mais nações de Europa que todos tremião delle elhe obedecião faria tudo que quizesse.

Conhecido pellos Sioens que gouernauão o dezenho do Grego o mandarão hum dia chamar a sala real com nom del Rel aque elle obedecesse, hindo com sua guarda aberta bem descuidado do que lhe hauia de soceder e entrando polla porta do Palacio logo lançarão mão delle impedindo a sua guarda que se não bulisse, e atodos prenderão e amarrarão, e ao Grego com grandes prizões e afrontas, e em breues dias o matarão e fizerão em pedaços, e a criação delRey com q elle estaua confederado sem contradição alguã, nem hauer quem dissesse alguã palaura o matarão tam bem, e como o Rey estaua mto mal não falaua ninguem, nem se lhe daua conta de nada. O dia da prizão do Grego os Talapões grandes induzirão ao pouo e aotra mta. gente atomarem armas todos em fauor do Mandarim grande Libertador da Patria aquem tudo obedecia, e tudo o que elle fazia e ordenaua dizia que ElRey o mandaua; e logo mandou matar tiranicamente a dous Principes, hum del Rey que lhe hauia de succeder, eoutro seu sobrinho prendendo os Mandarins que quis, matando, e cortando como tirano a (sua) uontade; prendeo a mulher do Grego, Irmãos, e Sogras e todos (?) seus parentes asoutando cruelmente e dando tratos a todos pa. confessare e descobrirem o dinhro. e fazenda confiscando tudo por perdido e por captiuos todos seus parentes grandes e pequenos homes e mulheres, e todos aquelles que a companhauão e seruião Grego (?) e captivos.

Tudo em Sião era huã confusão sem se saber do Rey ate onze de Junho dia em que se declarou ser o Rei morto com se botar bando que todos rapassem as cabeças e se uestiuesie de branco que he luto dos Sioens ainda que se entendia que hauia mto. tempo que o dito Rey era morto, a ql. noua foy geralmente sentida de todos porque foi bom Rey amigo dos estrangeiros e particularmente dos portuguezes, e tudo botou perder o Grego e a (?) sua priuança, e com trazer a Siam os franceses. Declarou-se logo o Mandarim gde. por Rey sem contradição alguã e a hum filho seu por principe.

Mandou logo o Rey Nouo a banco o Bispo D. Luis Lancan achamar geral francez com todo seguro e honra, o qual ueio logo, he verdade que de tumulto da gente recebeo algũa agrauos, mas do Rey honras, q lhe mandou dizer q o grego era morto p ser mao homem e uelhaco, e que yuntamente era morto o Rey, e que hauia outro Rey Nouo o ql não tinha necessidade, nem hauia mister soldados franceses, q entregassem as forças de q os tinhão feitos Senhores e q tudo que quizes-sem se lhes daria, e lhes farião boa passagem. O Geral que era hu homem graue e dizem fidalguo respondeo e deo sua palaura de entregar as forças dando dous filhos por refens de assy comprir, e com mtas. honras o mandou ElRey pera banco em compa. do mesmo Bispo que tinha trazido.

Chegou o Geral frances a banco achou que o seu segundo ou tenentee tinha reduzido as duas forças a hua só e a mais principal por que passa o rio pollo meyo das fortalezas estando huã de huã banda e outra da outra, aque tomarão estaua bem fortificada por elles aoutra desmãotelarão emcrauarão a artelharia, e a milhor e a mais grossa botarão no rio entro geral na fortaleza q estaua em armas fecharão as portas logo e sabendo o segundo ou Tenente o que Geral tinha asen-tado com o Rey e como deixara seus dous filhos por refens para entregar as fortalezas se aleuantarão todos contra elle (?) pondo e dizendo lhe que morressem seus fos. que elles não hauião de consentir que se entregassem as fortalezas, mas antes as hauião de defender e sostentar per ElRey de frança ja neste tempo estauão na fortaleeza que elles largarão e desmantelarão muitos Sioens q a forão reparando e fortificando, e desemcrauando as pessas, e sendo disto auizado El Rey mandou dez ou doze mil homens pera afortalesa e pera cercarem aos francezes como fizerão e uendo se os francezes com tanta gente cercados e a fortaleza preparada começarão os francezes a laborar com artelharias e bombardeando aos Sioens de dia e de noite de que se fez auizo ao Rey, que sentindo de lhe faltar com a palaura mandou logo muita gente de armas pa. acercarem em (?) forma aos francezes com tranqueiras e fortins de modo que da fortaleza onde estauão os francezees não pudense sahir nem entrar couza alguã e de banco ate a boca de Barra em q há seis legoas mandou estacar com grandes paos e traues, e de huã banda e da outra pla. terra fazer muitos fortes, huns encontrados dos outros com gente natural e bastante artelharia inda q não muito grossa de modo q nenhum mosquito pudesse passar por em carecimto. Depois dos Sioens forticados e concertados começarão tão bem a esbombardear e atirar aos francezes suposto a lhes fal tauão bons bombardross. e officiaes; e porque os francezes fazião mto. dano aos Siões por terem bons officiaes e bons petrechos e serem homens de Europa tomarão ao Bispo D. Luis Lancan q tinhã comsigoeo puzerão em hum lugar alto, que fizerão de madeira, e delle fizerão barreira pera que os francezes lhes não atirassem por aqlla. parte, assy o fizerão os francezes e pararão com abataria com q os Sioens tiuerão algum socego e tempo pera se poderem hir fortificar milhor.

Fez se auiso ao Rey que mandou mtos. Mandarins e gente de armas para banco e pera assistir em tudo per supor. ao Barcalão oql tinha hido por embaixador a frança e de lá ilha uindo comos francezes em outubro de oitenta e sete. Mandou ElRey ao geral francez os seus dous filhos que deixou de refens e lhe mandou dizer q lhe mandaria o Bispo e todos os Pes. e tudo que quizessem, por q elle não queria guerra com ElRey de frança de quem era amigo ainda que lhe tinhão faltado com a palaura e ourdenou ElRey aseus Mandarins q não atirassem mais aos francezes, mas q so fortificassem orio e tudo muito bem que deixassem estar aos francezes quanto quizessem, que elles obrigados da fome e do tempo se entregarião mto. a seu pezar.

Considerando os francezes o como os hiam apertando e atacando os Sieons ou pera milhor dizer acuzados de sua conciencia se he que elles a tem em quererem tomar Reinos alheos de baixo de (?) (?) fizerão sinal e dixerão que querião falar e capitular o que se lhes concedeu. Mandarão logo os Sioens a for-taleza donde estauão os francezes ao Bispo D. Luis Lancan e ao feitor grande da feitoria de Compa. francesa pera uerem o que queriam aos pes. dixe o Geral frances e seu concelho o que lhes estaua bem de que darão parte ao Barcalão que de tudo fez auizo ao Rey, o qual lhe ordenou fizessem os concertos e tratos que forão pella maneira seguinte, que os francezes entregarião as fortalezas a ElRey de Siam de que estauão senhores, e que ElRey de Siam lhes daria pas-sagem franca e liure pa. todos se hirem pera donde quizessem em barcos comprados com dinhro., delles, que ElRey de Siam lhes emprestaria a prata ou dinhro., que lhes fosse necessario pera se negociarem de tudo. E que ficaria em Siam a feitoria da Compa. com seu feitor eoficiaes de frança como dantes com toda amizade, e que ElRey de siam escreueria a ElRey de frança dequem era amigo, e que ficaria em Sião o Bispo e o feitor da feitoria por fiadores e refens de que nunca mais se faria mal a nhuãs das partes e ficarião em pax e amizade, e se assinarão estes apontamtos de huã e outra parte em o que se ouue ElRey de Siam com toda a benevolencia, e com estes concertos sessarão as armas duã uez de ambas as partes, suposto q ficou o Clero posto ate se concluirem os concertos. Os francezes ficarão liures para poderem hir por donde quizessem livremente comprando o que lhes era necessario, e as escondidas metião na fortaleza os mantimtos. que podiam não consentindo os francezes que na fortaleza entrasse Sião nenhum nem outra gente mais que a sua, e todos com vigilancia e cuidado, tomarão os Sioens ao Bispo dez ou doze mil patacas dizendo lhe que logo se lhe tornaria, os Pes. e Religiosos cada hum em seu lugar, cazas e Igras. ainda que com vigias e grandes cautelas porque lhes tinhão tomado grande odio pondo lhes culpa de todo sucedido.

Mandou ElRey de Siam dar aos francezes dinhro. pera se apparelharem pera se sahirem do Reino. Comprarão nauios. ElRey lhes emprestou huã fermoza fragata e elles se forão negoceando a sua uontade recolhendo sempre muito mantimto., prometendode se hirem por todo mes de Outubro.

Em quanto os francezes se negoceauão lidauão os Sioens com a mulher do Grego com sua may, irmão e parentes, prendendo atodos com grande rigor e atoda sua gente forros e captiuo home e mulheres brancos e pretos e juntamente com todos aquelles que achauão terem sido amigos do Grego e dos francezes amuitos derão tratos e asoutes pera saberem e descobrirem do dinhro. e fato do grego, e tudo o que foy seu e dos parentes de sua mulher e união com elles captivos e for-ros ficarão sendo captivos delRey, (?) fez merce de todos (?) Mandarins, a sua mulher (-?-?-?-?-?-?) asoutes e tratos que sendo mossa de pouca idade sofreo com grande valor e constancia e uarias uezes a persuadirão com ameaças eroneas pera q largasse ate prometendo lhe fauores, mas ella uaronnilmente e de muita constancia zombou de tudo ficou sendo captiva delrey seruindo de zocinhera. com tudo confiscado, nua (?) sem ter hum pano com se cobrir, e o mesmo todos seus parentes que não são pouco. Logo forão prendendo algũs Christaõs naturaes principalmente mulheres cazadas com gente Christã nossa que despois largauão por dinhero., e ainda prenderão alguas pessoas brancas nossos homens e mulheres e os tomarão por captiuos por uiuerem debaixo do emparo do Grego, e por outras uelhacarias que lhes buscauão so pera lhes roubarem o que tinhão, e passadas alguas somanas deixarão hir das prizoes os parentes do Grego pera estarem em suas cazas com obrigação de hirem de ordinario a Palacio a seruir mas ya estauão emparte aliuiados das prizoens que são crueis. A mulher do grego tinha per obrigação de hir a Palacio a fazer comer e doce pa. o Rey; mas alguas uezes alcança da por peitas ficaua em caza de sua may tres e quatro dias. Como o Rei nouo foy fazendo Mandarins e officiaes aos da sua facção e parcialidade, erão todos pobres, buscauão modos e meyos de furtar aos Christãos como fizerão.

Temerão se mto. os Sioens do Bandel dos Portuguezes e nos tinhão atodos por suspeitozos e se não fiauão de nos em nada dizendo q todos eramos Christãos como os francezes. Não podião uer homem de chapeo nem christão, nem Padre nenhum e tudo era uigia no nosso Bandel e ordens sobre nos, sem de nossa parte lhes darmos occazião pa. nada antes muita humilde sugeição, mas como gente fraca e tirana, andauão buscando occazioes pera furtarem e roubarem.

No mes de Septembro chegou a barra de Sião huã nao indereitura de frança deu por nouas uinhão mais duas em sua compa.; que não chegarão, nesta uinhão mais duzentos soldados pera as fortalezas a qual não entrou no porto por ser muito grande desembarcou o Capitam com duas Chalupas com mais de setenta homens sem saber em que estado estaua a terra. Na boca da barra tomarão ao Capitão sem lhe dizer couza alguã e mandarão pa. Sima ordenando que achalupa com gente se fosse pera nao despois soberão o estado dos francezes, e os deixarão comunicar, derão lhes agoa e o q lhes foy necessario fiado o Rey em que comprirão o contratado.

Os Francezes que estauão nas fortalezas do Porto de Tanasserim tiuerão noticia da morte do Grego e do Rey receando se do que lhes podesse soceder semeterão de noite em dous barcos que estauão no rio apar (?) fortalezas hum delRey e outro de mercadores e fugirão sem saber onde.

A mulher do Grego uendo se com aquella obrigação de hir sempre a Palacio fazer comer e doce pera o Rey custaua lhe muito (?) do feita condeza de Rey de frança e seu filho Marques, em (?) de marido tan respeitada e uenerada que se deliberou ahuma couza grande, dizem que por connselho de. algum francez e alguns Religiosos, e foi o cazo que fogio com seu filho, hum rapas, e huã mossa e se foy metter na fortaleza dos francezes ualendose das armas e bandeiras delRey de frança tendo pa. sy que a defenderião e leuarião pera frança. Esta fugida sentio mto. ElRey de Sião e com todo origor mandou prender sua may e irmãos, e todos seus parentes, que ja uiuião com alguã liberdade, e mandou yuntantemente prender aos Pes. Religiozos e ao Capm. da feitoria francesa pera q. todos escreuessem ao geral frances, que entregassem a a mulher eo fo. em que o dto geral não pos muita dificulde. porque a entregou aos Sioens, e a seu filho, couza q nunca se esperou da nação franceza, e nem o faria outra nenhuã nação de Europa; mas que todos morressem por isso; edezeiaua este Rey tanto velos fora de seu Reino q se elles emsistissem em a querer leuar, isso e muito mais se lhes. concederia pedio o geral francez não fizese mal aesta mulher e seus parentes, eos deixase uiuer liures na fe de Crhisto. ElRey o concedeo eos largou atodos, mas com uigia pa. que ella não falasse com os Pes. da Compa. de Jesus por se sospeitar que elles a emduzião pera que fugisse. Mandou ElRey logo soltar aos Pes. e Religiozos e Capm. da feitoria que todos estauão reteudos, quando os francezes entregarão a mulher do Grego tinhão na fortaleza perto de quinhentos homens de Europa e mantimentos pera hum anno e meyo.

Hia se chegando o fim de Outubro apertauão os Siões co os francezes que se embarcasem e se fosem tinhão (?) da fortaleza tres barcos, adonde forão embarcando todo seu fato, mantimto., e tudo quanto tinhão e parte de Sem (?) artelharias de ferro que trouzerão de frança com outros mtos. petrechos e aviamto. de guerras e Sinco barcos grandes carregados de refresco e comer e mtas. armas pera sahindo Da Barra a embarcarem por não darem (?) no banco pedirão os franceses se lhes dessem refens que fossem dentro dos barcos pera hirem seguros pelo rio abaixo ate sahirem da Barra sem lhes fazerem mal dos fortes que hauião de huma e da outra parte; e pedião que se desmentelassem as tranqueiras e estacadas que estauão no rio pera poderem passar liuremente, o Barcalão por ordem do seu Rey lhe deu toda a segurança, e tudo que elles quizeram, e dous Mandarins grandes pera hirem com elles, e que em terra ficassem dous filhos de geral pera que estando fora Barra e seguros entregassem os dous Mandarins e leuassem os dous francezes fiados os Sioens em que os francezes compririão co capitulado; porq os Sioens não faltarão em nada o capitam da feitoria pedio licença pera se despedir e falar com o geral, o que se lhe concedeo e no principio de Nouembro largarão os tres nauios da fortaleza de noite com amare achando o caminho franco se puzerão na boca da Barra, e com uelhacarias e dissimulação leuarão os dous filhos do Geral dizendo que trazia os dous Mandarins, emganarão aos Siões, leuando yuntamente escondido ao Camp. da feitoria e alguns Siões que apanharão descuidados deixando da Barra pa. dentro as barcas q hiam com o fato erefrescos e alguã artelharia e armas por não poderem sahir na mesma mare, e se fizerão auela não se lembrando que deixauão em Sião o Bispo D. Luis, dos Clrgos, hũ Padre da Compa., e outro Religiozo, e algũs francezes, e mais gente Christã que todos hauião prometido etinhão firmado como logo seuio e se experementou.

Tamto que se soube o que os francezes fizerão ao sahir pa. Barra e fugida co Campo. da feitoria prenderão logo os Sioens ao Bispo com corrente de ferro no pescosso e canga dando lhe mtas. pancadas e fazendo mtas. afrontas prenderão yuntamente todos os Clerigos Pes. da Compa. e algũs francezes que aqui ficarão na prizão dos Ladrões e malfeitores com sinco prizões que uem a ser correntes nos pes e no pescosso, aliemas nas maos, cepos nos pes, cangas no pescosso com que seuem apadecer muitos, e pera comerem e fazerem outras couzas he necessario. peitarem com dinheiro, e logo lhes mettem outras uezes prizões, confiscarão logo a feitoria dos (?) do Bispo e o seminario e as Igras. derão aos Talapões, as cazas eodemais que cheirase ao frances se confiscou e repartio por muitos mandarins e foy tamanho odio que tomarão aos Christãos, que huã pouação de Conhinchinas que uiuiam (?) apar do Collegio do Bispo foi saqueada captiuando atodos homens, mulheres e crianças repartando por uarios Mandarins por seus captiuos. prenderão com todo rigor a mulher do Grego sua may i irmãos auo e mais parentes que huns e outros padecem e tem padecido oque não sepode explicar; Não padecerão pouco os Portuguezes e mais uassalos de Rey de Portugal que por Catholicos Romanos os tiuerão por suspeitozos e se não fiarão delles os Siões pondo lhes grandes Vigias e rondas, receando que andassem aos francezes prohibindo que nenhum portugues entre cidade com armas nem espada na cinta, nem passe de certo limite pera huma, nem pa. outra pte. sobre certas penas, e com uigias de dia e de noite e com outros rigores; e o que os francezes fizerão em se quererem aleuantar com as fortalezas delRey de Siam e seu Reeino pagamos nos e o nosso Bandel, (?) do nos por suspeitozos, e todas as nações dizião mal dos Christhãos, e (?) fazia cada hum como podia, e principalmente acuzauão aos Religiosos que erão occasião detudo.

Assistião em Sião bastantes Ingrezes, hũs mercadores e outros seruindo a este Rey em fragatas de guerra que o Grego tinha armado e mandaua adonde lhe parecia ainda que era contra uontade delRey de Inglaterra que tinha mandado que todos os ingrezes se recolhessem as feitorias da Compa. O Grego os não deixaua sahir de Siam sendo que despos que seuio com os francezes tão bem foi dandode mão aos ditos Ingrezes e fazendo lhes algũns males declarando com pregoes guerra a Compa. Ingreza, tendo a dita Compa., declarado guerra a ElRey de Siam por rezões que pera isso deuião deter todas fundadas no que o grego obraua. tinha o dito grego tomado a mercadores ingrezes que aqui tinhão uindo, com seus nauios, bastante cabedal em fazendas pa. Rey que em sua uida nunca pagou, e depois de sua morte os ministros do Rey nouo lhes não quizerão nunca pagar, estão bem polla cauza dos francezes forão algum tanto auexados, e largando tudo por mão eo oque se lhes deuia alcansarão licença com muito trabalho pera sahirem de Sião cõ seus nauios que quazi os tinhão ja por perdidos, e ao fazer desta estão pera partirem e fazerem uiagem sem ficar na terra pessoa alguã de sua nação, não uão muy contentes, senão com auontade de se satisfazerem dos agrauos e do dinhro. que lhes não quizerão pagar. Tão bem seruião neste reino muitos mouros de soldados que agora botão fora e alguns mercadores (?) se uão tam bem por recearem grandes males a Siam; e pr. que o gouerno prezente ao que mostra e seue não quer mais trato que com os holandezes com que tem feito grandes conveniencias. Aos Portugueses e Christãos não botão fora, mas fazem com que elles seuão, mas o peyor de tudo he que o não podem fazer nem tem com que, nem barcos em que o fação, ficando expostos a grandes desauenturas de que Ds. os liure. Neste estado fica Siam ao prezente. Sião, 12 de Janeiro de 689".

* Doutorada em literatura Portuguesa pela Un. Bombaim (St. Xavier's College): investigadora da presença portuguesa no Oriente e das influências hindus na Literatura portuguesa do sec. XVI.

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