O Comércio

[UNTITLED]

MORREU BERNARD SANTA MARIA

Faleceu em Malaca, sua terra natal, Bernard Santa Maria, político, escritor e "leader" da Comunidade cristã lusófona de Malaca.

Bernard Santa Maria fez os seus estudos no Instituto S. Francisco e na Escola Secundária de Malaca.

Foi secretário do Partido da Acção Democrática do Estado de Malaca no seio do qual presidiu ao bureau Nacional do Trabalho, sendo também membro do Conselho Executivo Central. Em representação do seu Partido tomou parte na Conferência Socialista da Ásia/Pacífico, em 1972.

Eleito deputado à Assembleia Legislativa do Estado de Malaca em 1969, pela primeira vez, foi reeleito em todas as eleições seguintes, fazendo parte de várias Comissões especializadas da mesma Assembleia.

Em 1981, representou o Estado de Malaca na Conferência Parlamentar da Comunidade Britânica que teve lugar em Suva, nas ilhas Fidji.

Foi fundador da Portuguese Cultural Society em 1967 e dirigia o Malaca Portuguese Development Trust.

Investigador interessado sobre tudo quanto respeita à Cultura Portuguesa, nesta Zona do Mundo, visitou as Comunidades portuguesas na Austrália e no Hawai em 1981 e, em 1984, acompanhou o Primeiro-Minis-tro do Estado de Malaca na visita a Portugal em que foi assinado o acordo de geminação das cidades de Malaca e Lisboa, de que foi um dos principais obreiros.

Esteve em Macau, em Junho de 1986 e aqui proferiu uma notável conferência, integrada nas Comemorações do Dia de Portugal, subordinada ao título "O Alcance e as Dimensões da Consciência Portuguesa no Extremo Oriente", publicado pela RC no seu primeiro número, sob o título - "Portugal no Oriente, do presente para o futuro".

Entre as obras que publicou, destaca-se a que tem por título "My People, My Country", registo emocionante das agruras por que passaram os portugueses e os seus descendentes que permaneceram em Malaca, desde a ocupação holandesa, em 1641, até aos nossos dias, obra que está prestes a ser editada em português pelo sector editorial do ICM.

Malaca portuguesa tem dois tempos históricos: um tempo de domínio político e militar iniciado por Afonso de Albuquerque, entre 1511 e 1641; e um outro tempo de resistência cultural que se segue àquele e que sobrevive até aos nossos dias.

Perseguidos e deportados, por serem católicos, pelas autoridades holandesas protestantes; socialmente desqualificados durante estes séculos todos, pelo peso social reduzido que detêm em confronto com as demais etnias da Federação Malaia; sem capacidade económica para ingressarem nas universidades e, em consequência, ascenderem na estrutura social do País, - os maravilhosos luso--descendentes de Malaca não só conservaram, como puderam, a sua identidade cultural, como geraram, durante mais de 300 anos outras Comunidades espalhadas pela Malásia, Singapura e Indonésia.

Com o falecimento de Bernard Santa Maria desaparece o lutador incansável e o mais destacado dirigente da comunidade cristã lusófona de Malaca dos nossos dias •

Sobre "Infraestruturas" de Alberto Estima de Oliveira

Com a publicação pelo ICM do seu livro de poemas "Infraestruturas", Alberto Estima de Oliveira revelou-se em Macau a autor de uma poesia enxuta, sentencial, mineral quase, onde a depuração e a laboração rigorosa das formas confere ainda maior densidade e intensidade ao universo nelas vazado - um universo essencialmente percorrido de uma radical humanidade. Também com Estima de Oliveira, e depois da fecundíssima criatividade poética de António Manuel Couto Viana - ambas estímulo e encorajamento a outros poetas e à publicação das suas obrasse pode dizer que Macau começa a ter os seus poetas. E, mais do que nunca, Macau precisa neste trânsito histórico da Poesia.

Deste livro, apresentado num grafismo de António Conceição Júnior compreensivo da solenização que a impressão da forma poética reclama, publicamos de seguida o comentário apreciativo de Jorge Arrimar:

Na poesia de Alberto Estima de Oliveira encontramos a fuga a um quadro circunstancial de referência, rumo a um projecto universal. Emergindo de uma circunstância histórica, social, ideológica ou política concreta, o poeta elabora uma trama de sentidos que, apesar de inseparável do movimento histórico em que está inserido, não se reduz a ele, antes se articula em função da sua própria natureza e experiência individual.

É por isso que o poeta toma asas e se apossa do significado das coisas que estão do lado de lá, fora de nós, pesquisando com a flor da alma um sinal em cada horizonte; uma dimensão em cada homem.

O rumo da poesia do Alberto, encontramo-lo gravadó a fogo na linha do horizonte onde tudo se ganha... e se perde. É um rumo cósmico, universal, iniciado na terra onde o céu tem as suas raízes. Sim, é sondando o princípio, o primeiro fulgor-rubro das acácias, que descobrimos as raízes deste cântico. À sua própria natureza, o Alberto juntou uma outra natureza, fortemente perturbadora, "a floresta onde as folhas se descobrem nos olhos dos homens que sabem sonhar...". É por isso que o seu cântico é livre e nele se espelha uma vida cheia, marcada por um tempo cronológico que espartilha e oprime. É por isso que ele nunca diz, ao despedir-se, "até amanhã"; diz sempre "até já". É a fuga ao que está para lá desse dia e depois do sono. É a necessidade do reencontro no mesmo dia, eternamente. A inquietação é uma constante num ser que busca perdidamente o seu lugar vital, onde as raízes ainda sangram dum corte brutal; é a busca de si próprio, desesperada, no vazio cada vez maior "das madrugadas prenhes de silêncio".

A poesia do Alberto é feita de procura e interrogação. É a palavra, mágica e santa, a exorcizar os fantasmas que impedem a comunhão com o vivido, com o real desfrutado. A palavra é ritmo que leva o iniciado a desfrutar do encantamento, do sonho, da evasão. É através do seu poder que o poeta tenta reunificar as significações dispersas, aviltadas por vezes. O resultado desse conjunto de relações psicológicas, históricas e sociológicas com que ergueu a sua mundovisão, não é apenas a interiorização de uma realidade angolana com os seus mitos e os seus símbolos -opção deliberadamente assumida -, mas também, a sua capacidade de se fundir filosófica e esteticamente num sistema aberto. É a liberdade do poeta que, segundo o próprio autor, se localiza "no espaço onde não se regista o voo da gaivota... onde tudo acaba e tudo começa" e onde "amar é descobrir a proposta do infinito" •

A CERÂMICA E A MÃO OU A MÃO NA CERÂMICA

Macau teve oportunidade de assistir, em Junho passado a uma mostra relativamente inesperada se atendermos à velha tradição - quer de fabricação quer ainda de temática - da cerâmica chinesa.

Sugestivo o título, a induzir o espectador num jogo de palavras que não pecou pela redundância, antes deixou margem à formulação de juízos, necessariamente arbitrários e por isso mesmo - resultantes da inovação formal que esta mostra veio trazer às tradições aqui vigentes.

Tive oportunidade de conversar com Maria João Oliveira e com ela penetrar um pouco no campo mais íntimo das intenções que presidiram ao processo criativo. Contudo se a partilha desse mundo oculto constituiu para mim um privilégio como espectador, julgo inoportuno desvendá-lo a esta distância.

Também a cerâmica tem em Portugal tradições que mais recentemente se estribam na obra de Rafael Bordallo Pinheiro, e que foi, neste século, continuada, ainda que sem grandes aderên-cias, por alguns artistas votados a uma marginalização que importa corrigir urgentemente.

A cerâmica tem, hoje, um risco antiquíssimo: o de se transformar ou de se ver transformada em "bibelot".

Maria João Oliverira distancia-se desse risco e devolve à cerâmica o estatuto que merece e a que tem direito.

Recorrendo a técnicas mistas e, em alguns casos, à combinação com o metal e o mármore, esta exposição de Maria João Oliveira recorre à volume tria geométrica para a destruir, envolvendo-a em gestos figurativos onde se adivinham uma ruptura so frida, um quase "Seppuku" à Mishima, afinal um convite a uma leitura além das aparências tridimensionais.

Obra de mulher, esta mostra é disso a prova excelente, vencido o pudor-eu diria mesmo orgânico-de se expôr na sua riqueza emocional.

Para breve, espero, nova mostra de Maria João Oliveira e de 9 outros ceramistas Portugueses, entre eles Júlio Resende, na Galeria de Exposições do Leal Senado.

António Conceição Júnior

«A Cerâmica e a Mão» de Maria João de Oliveira

    Quem moldou esta mão de silêncio e
                         abandono
    Junto à taça fendida, arrancada do sono
    Calmo, verde, subtil, do abismo
                            marinho; 
    Esta mão que morreu doente de beleza
    Ao mergulhar e ao erguer da profundeza
    A taça ébria de lágrimas e vinho? 
    
    Quem moldou esta mão crispada 
    Rasgando, retalhando como a espada 
    Sob a mortalha da emoção, 
    Exibindo um corpo nu e frio 
    Como sepulcro vazio 
    De onde fugiu, intacto, o coração? 
    
    Quem moldou esta mão, viril suporte
    Do escudo marcial, troféu severo e forte, 
    Forjado no bronze dos heróis? 
    Todas elas de barro, como a carne e o
                                 desejo, 
    Quem as moldou como se molda o beijo
    E as decepou, cruel, depois? • 
              António Manuel Couto Viana

Actividade Editorial do ICM

Merece destaque nesta secção de Noticiário a actividade do Sector Editorial do ICM, pelo dinamismo e por se tratar de uma laboração normalmente mais clandestinizada na publicidade do que outros sectores e iniciativas de maior impacto público. Mas no silêncio se germinam as coisas duradouras, e a carteira de títulos já em fase de edição e a editar pelo Sector Editorial constitui uma das escoras basilares da continuidade da presença portuguesa em Macau e do intercâmbio cultural luso-chinês. Adequadamente bilingues, muitas das edições previstas (e até ao final deste ano sairão da estampa cerca de vinte títulos mais) serão sem dúvida um importante factor do conhecimento da Cultura portuguesa dentro da China.

Durante os últimos três meses sairam a público nove títulos, fluxo editorial apenas ao alcance de grandes máquinas editoriais:

"Cartas de um comandante no Extremo-Oriente", do Vice-Almirante Raposo de Matos e "Navios de Guerra Portugueses nos Tufões do Mar da China" (de mesmo autor) são "diários de bordo", de feição memorialista e científica, relativos à experiência vivida em comissões de serviço em Macau e Timor, no Aviso "Gonçalo Zarco". Resultou o primeiro de coedição com os Serviços de Marinha e o segundo da colaboração editorial dos dois referidos participantes com os Ser viços Meteorológicos.

Relevou nesta carteira trimestral de títulos a edição do"Culto do Chá", de Wenceslau de Morais, estampado em escrupuloso fac-simile que as boas selecções de cores e impressão garantiram e que já está a ser um dos "best-sellers" de livraria. É um serviço prestado à divulgação dos autores de Língua portuguesa, que atingirá também os públicos de Línguas chinesa e inglesa quando brevemente o original do autor das "Cartas do Japão" sair também impresso naquelas respectivas línguas.

Ferreira de Castro, com a "Missão, é de novo editado, agora em chinês, correspondendo à sua popularidade entre os meios leitores e literários da China.

Na comemoração do 120° aniversário do fundador de China moderna, lançou o ICM uma belíssima edição ("Retratos de uma vida", "Protraits of a Lifetime"), evocativa da vida de Sun Yat Sen, figura histórica que muitas vezes se acolheu a Macau.

Trata-se de um livro-album, com reproduções de 60 pinturas alusivas do pintor Shen Yao-Yi, diplomado pela Escola de Belas Artes de Pequim, legendadas pela sua mulher, Zhao Wei. A edição é trilingue (português, chinês e inglês).

"História de Maria e Alferes João" é a versão em língua portuguesa da novela de Jośe dos Santos Ferreira, originalmente escrita na "dóci papiaçám di Macau antigo"-"Estória di Maria co Alféris Juám".

A reedição (a 3ḁ) de "Cheong-Sam -A Cabaia" de Deolinda da Conceição merece o destaque de republicização, nos dias de hoje e para as actuais gerações, de uma obra e de uma autora de Macau, que escreveu febril e apaixonadamente sobre a vida desta terra. É uma colecção de contos, escritos durante os tempos áureos do "Notícias de Macau", jornal pioneiro e que congregou algumas das melhores penas e estudiosos de Macau dos anos 50. Edição fac-similada, com prefácio evocativo do seu filho, António Conceição Júnior.

Com características pedagógicas, dois títulos mais -"Música Popular Portuguesa" (com letras e pautas musicais de algumas dos mais populares canções portuguesas) e "Curso de Língua Portuguesa (colaboração com os Serviços de Educação).

Uma das últimas publicações, mas de primeira importância, foi a reedição fac-similada do livro de Jack Braga - "A voz do Passado - redescoberta de A colecção de varios factos accontecidos nesta mui nobre cidade de Macao" - compilação por autor anónimo de documentos vários encontrados nos registos do Leal Senado, importante à reconstituição da cronologia histórica de Macau.

Nos fins do mês de Setembro foi ainda dada à estampa uma simpática edição - "Fotobiografia de Deolinda Salvado da Conceição"- a referida autora de "A cabaia", com prefácio e evocação de António Conceição Júnior e José dos Santos Ferreira.

De referir finalmente que entre os vinte títulos a editar até ao fim do ano, será publicada a edição do livro "La Chine et les Chinois", ilustrado com as famosas e belíssimas gravuras de August Bourget •

Edições de Macau distribuídas na China

Para aprofundar o intercâmbio cultural o conhecimento mútuo da política, economia, sociedade, cultura e arte, o ICM e a Companhia Geral de Import & Export dos livros da China, sucursal de Cantão, assinaram recentemente um acordo para a distribuição dos livros e revistas editados pelo ICM, na R. P. China.

O acordo foi assinado pelo Presidente do ICM, Jorge Morbey, e pelo Gerente da Sucursal de Cantão, Zhang Shi Ming. A distribuição de publicações editadas pela Administração de Macau na R. P. China marca um novo desenvolvimento no campo do intercâmbio cultural entre a China e Macau.

A partir de agora, os leitores chineses poderão adquirir as publicações do ICM em todas as livrarias da China, naturalmente as editadas em chinês, inglês ou bilingues (português-chinês).

Este acontecimento reveste a maior importância e significado, esperando-se apenas que o acordo se efective na prática de maneira satisfatória, o que abrirá caminhos novos e decisivos à divulgação da Cultura portuguesa na China, reatando uma tradição emurchecida e que, assim revigorada agora, pode ficar nos marcos históricos do diálogo cultural luso-chinês •

2° Curso de Língua e Cultura portuguesa

Uma das iniciativas marcantes do trimestre, e frutuosa na divulgação da Língua e da Cultura portuguesas e na aproximação das comunidades de luso-descendestes, foi a reedição do Curso de Férias, dos dias 19 de Julho a 14 de Agosto. Realizado pela primeira vez em Macau durante o Verão passado, com cerca de 30 alunos inscritos, o Curso deste ano patenteou notáveis progressos, avaliáveis pela frequência de cerca de 120 alunos provenientes da Universidade da Kioto, da Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim, de Universidade da Califórnia (Santa Bárbara), da Universidade de Jinan (Cantão) e da Universidade da Ásia Oriental (Macau).

Os cursos, básicamente de Língua portuguesa, foram ministrados por professores do Ensino Secundário de Macau e da Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim.

Para além da disciplina de Português, foram dados cursos práticos de Danças Regionais portuguesas, Teatro português, cinema português e canto coral, tendo os naipes de alunos que os frequentaram animado um espectáculo com as correspondentes exibições durante a sessão final solene de entrega dos diplomas, no Teatro D. Pedro V.

Aos alunos inscritos foi ainda facultado um vasto programa de visitas a locais históricos e a instituições culturais de Macau, e um convívio final onde a confraternização manifestada tornou evidente a capacidade congregadora da Cultura •

25 anos da Academia de Música S. Pio X

A recente condecoração, pelo Governador de Macau, da Academia de Música S. Pio X. significa o merecido reconhecimento oficial do mérito cultural dessa Instituição, tão radicada já e que tantos serviços tem prestado à comunidade macaense no foro das artes musicais e do canto.

Impõe-se-nos transcrever do programa das actividades comemorativas uma breve resenha histórica da Academia para melhor conhecimento da sua vida, actìvidades e serviços realizados:

"Por sugestão - acordada anteriormente com o prelado da Diocese de Macau - e subsequentes insistências do Dr. Ivo Cruz, então director do Conseruatório Nacional de Lisboa, a Academia de Música São Pio X foi fundada em 1962, como "Escola das Missões Católicas", com a abertura do seu primeiro ano lectivo em 2 de Outubro desse mesmo ano. Para o primeiro arranque do funcionamento das aulas, contámos com o mínimo indispensável de material/mobiliário entre ele, umas carteiras e cadeiras ainda em uso - oferecido pelo Sr. Bispo D. Paulo José Tavares, que nos informou de que, no futuro, o auxílio da diocese se limitaria à concessão das instalações. Na verdade, assim tem sido. Em 1975, perante a insuficiência de espaço, D. Arquimínio R. da Costa autorizou-nos a ampliação das instalações, cujas obras foram custeadas pelo Governo de Garcia Leandro. Os recentes melhoramentos do 'auditório', integrados nas obras de restauro do edifício do Centro Católico, ficaram, julgamos, a dever-se ao então Rvmo. Vigário Geral, hoje o Sr. Bispo Coadjutor, D. Domingos Lam.

É de justiça frisar que esta Academia não poderia, em 1962, ser realidade se não fosse a muito válida colaboração do saudoso Pe. César Brianza e do Prof. António Freire Garcia, mais tarde Inspector Geral do Ensino da Música na Província de Angola.

O natural entusiasmo dos primeiros tempos, tanto nos Professores como nos Alunos, não obstou a que cedo nos apercebêssemos da debilíssima situação financeira proveniente da receita exclusiva das propinas dos alunos, a qual não oferecia garantias de continuidade. Foi então que o Sr. Governador Lopes dos Santos resolveu atribuir à Academia, como "instituição particular de carácter cultural, considerada de utilidade para a Província" um subsídio mensal através do Centro de Informação e Turismo. Nas Administrações de Nobre de Carvalho, Garcia Leandro e Melo Egídio, o subsídio, consignado no Orçamento do Estado, era-nos enviado directamen te pelos Serviços das Finanças, até que, na Adminstração de Almeida a Costa e por determinação do Sercretário-Adjunto, Dr. Jorge Rangel, passou a ser-nos abonado através do recém-criado Instituto Cultural de Macau.

A Academia de Música São Pio X fundou-se com o propósito de proporcionar aos Jovens de Macau, Portuguesse e Chineses, uma instrução musical gradualmente progressiva e em termos enquanto possível académicos. Houve, portanto que recorrer-se a um sistema de ensino bilingue, português e chinês, ao qual se juntou também o inglês. Das não poucas dezenas de alunos que passaram por esta Academia e se ausentaram, depois, para o estrangeiro, contam-se, pelo menos duas a três dezenas que prosseguiram os seus estudos musicais, diplomando-se em Escolas Superiores de Música ou Universidades. Muitos deles encontram-sejá a trabalhar no Canadá, nos Estados Unidos, na Formosa, em Hongkong, Austrália, Roma, Viena, Genebra e em Portugal, com o exemplo do agora entre nós, Professor Simão Barreto. Temos notícia de que seis ou oito destes nossos antigos alunos são hoje detentores do grau universitário de "Master of Arts". Sem dúvida que a totalidade ou quase totalidade desses alunos não pensa regressar a Macau. Da nossa parte, julgamos ter cumprido a nossa missão, e damo-nos por satisfeitos com a nossa modesta e parcelar contribuição para a educação e formaçcão musical desses Jovens, que hoje são Artistas."

Do programa das realizações comemorativas, que reuniu alguns nomes portugueses, dos mais qualificados no campo da autoria e da interpretação da música e do canto, daremos mais detalhada notícia no nosso próximo número, atendendo a que ele se desdobra ainda pelos próximos meses de Outubro e Novembro.

Mas desde já, RC regozija-se e felicita a Academia de Música S. Pio X e o PéÁureo de Castro

Três Revistas em Macau

Com excepção dessa notável instituição que se publica desde 1903 -o Boletim Eclesiástico de Macau -até há pouco mais de um ano nenhuma revista mais era estampada em Macau, desde que fora encerrada a publicação da revista "Nam Van".

Merece pois ser assinalado o facto, porque releva da pujança cultural agora vigorante no Território, de terem tido começo da publicação três revistas, desde há um ano. Três publicações com perspectivas, profundidades de abordagem e horizontes diversos mas que, no cômputo, conformam um leque editorial de cobertura, divulgação, análise e estudo das realidades macaenses em geral.

A primeira em referência, por antecedência de saída, é a revista "Hou Keng", orgão oficial da Associação de Ciências Sociais de Macau (A. C. S. M. ), que vem congregando os mais atentos, interessados e informados eruditos da comunidade chinesa, ocupados nos estudos sociológicos de Macau, sobretudo nos últimos dois anos.

No segundo ano de existência, a "Hou Keng", editada em chinês (com sumário e resumos dos artigos em português), tem inserido temas diversos que vão dos estudos históricos e politico-administrativos aos culturais e económicos, num pragmatismo de abordagem denunciado no estilo seco e conciso e na relevante intenção de contribuir para a solução das questões mais essenciais e prementes da sociedade macaense, com vistas ao estabelecimento da política "um país, dois sistemas", em 1999. Neste mesmo número de RCse insere um texto do Presidente da ACSM.

Vai em bom caminho, e cavando raízes que lhe prometem futuro, a nova revista editada pelo Gabinete de Comunicação Social (GCS) - a "Macau Ou Mun", - dirigida pelo jornalista Miguel Lemos e executivamente por Helder Fernando. Com 76 páginas e impressa em papel "couché", a revista exibe um grafismo agradável e arejado ao serviço de textos de divulgação de vários problemas e aspectos da actualidade e da realidade do Território, não deixando porém de timbrar-se com algumas secções e colaboradores que encarecem e qualificam as publicações deste género. Referimo-nos aqui aos aspectos relacionados com o universo etnográfico, linguístico e da pequena história de Macau, e sobre isto a alguns textos de maior fôlego e densidade cultural -prova de que a Direcção da "Macau" tem o sentido correcto da radicação e da estretégia única que promove nos dias transitórios a continuidade portuguesa "nas partes da China".

E sobre nós, RC, para além de deixarmos notícia de saída de três edições (em português, chinês e inglês) - informação útil a quem não queira desconhecer a nossa actividade editorial - apenas anunciamos o reforço e aperfeiçoamento das condições permissoras da nossa publicação em melhor tempo. Porque o juízo sobre o que o nosso esforço é capaz de depôr na mão dos leitores, deles apenas o esperamos e agradecemos ·

António Carmo

Foi inaugurada, na "Galeria da Livraria Portuguesa de Macau", a exposição "Da Realidade à Fantasia", do pintor português António Carmo.

Para tanto, o artista trouxe ao público macaense (nos seus 30 óleos e têmperas) um pouco do hino doirado do tipicismo português, do rosto colectivo do seu bom povo, do seu amanhecer azul ou do nocturno eterno dos seus bairros-altos.

desde a p. 133
até a p.