Centenário

ÉNIO SALES NOIKOFF MÁSCARAS DO QUOTIDIANO

«Mas como expulsá-la se o mundo que rodeia o homem é violência, e da violência? Precisamente pelo pincel, eremita nos seus gestos de exorcista. Essa violência, é liberta pelo desespero do artista que não a consegue sufocarem si. Ela esbarra com a violência exterior vigente, tece algumas relações imediatas e, como que repelindo-se, é devolvida à superfície "branca" onde o artista a encarcera para sempre nas texturas dos seus traços. »

Não muito longe desse território ocupado, um outro se ergue, em liberdade. ldeias, muitas, imaginação e vontade deambulam de mãos dadas, vestidas de azul-bebé.

Novikoff procura penetrar nesses dois mundos, gerir essas energias. Consegue?

"Encontro"(tinta da china sobre papel,51×38.5cms)

Não consegue? É justamente na tela ou no papel que ele encontra o passaporte possível para a travessia desses territórios, da sua própria natureza.

"(...) imaginando tudo o que podia acontecerà volta dela (natureza), interior e exteriormente. (...)"

"(...) Fui crescendo e ainda sou o mesmo sonhador que acredita naquelas relações. Pintar é para mim uma maneira de provar que todas estas relações existem. Para mim, toda a existência sai fora do inexistente e vice-versa."

Ver em Sales Novikoff o africanismo, o primitivismo, a estamparia psicadélica dos anos sessenta/setenta, o ensinamento de Munch, Emil Nolde e Otto Mueller, o combate do Blaue Reiter, etc, parece-me de momento não o mais fundamental. Entendê-lo na sua dimensão de artista iniciário, basta para já. Um mergulho no seu mundo que, com talento e vontade, ele cria todos os dias, entre o território ocupado e o reino azul-bebé da liberdade. »

Três anos volvidos, Sales Novikoff não surpreende pela novidade, mas surpreende pela continuidade. Pela coerência. Coerência intrínseca de pintar o que quer, e no que verdadeiramente precisa de pintar. Na árida paisagem das artes plásticas de Macau, o feitiço do seu trabalho é deveras refrescante.

(1) No caso presente, ela deverá até ser triplamente acarinhada, porque, para além do duplo aspecto positivo, há que se lhe acrescentar um terceiro, que é o facto de parte significativa do lucro obtido na venda dos quadros reverter a favor da Polioplus, que é. como se sabe, uma campanha mundiai promovida pelo Rotary lnternational visando inumizar, peta vacina, 500 milhões de crianças recem-nascidas contra a Polio, o sarampo, a difteria, a tuberculose, o tétano e a tosse convulsa, duranté 5 anos consecutivos.

Em Macau, a exposição foi patrocinada pelo Rotary Amagao.

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