Atrium

[UNTITLED]

Lugar de afirmação e estímulo ao diálogo de culturas, R. C. será, implicitamente, factor de correspondência: tanto quanto escrevem se pretende que os autores se escrevam, e que cada leitor se sinta destinatário.

Assim também se entende que algumas cartas que nos são dirigidas -pela sua objectvidade e concorrência aos objectivos de R. C. - devem ter aqui jus de propriedade.

Por coincidência, as primeiras cartas que nos foram dirigidas são de apreço e de solidariedade à sugestão que fizemos no nosso n°.l de atribuir o Prémio Nobel da Literatura ao grande poeta chinês Ai Qing. Nelas se faz eco da voz consonante de Jorge Amado e da solidariedade activa oferecida nos E. U. A. pela Senhora Mécia de Sena, viúva do grande escritor, poeta e crítico Jorge de Sena, também proposto para o Nobel da Literatura.

"Também fiquei muito satisfeito com saber que o ICM está a trabalhar para a nomeação de Ai Qing para o Prémio Nobel da Literatura. (...) Nos últimos anos, também o governo chinês concordou em que Ai Qing é digno de merecer esse galardão".

Exmo. Sr. Dr. Jorge Morbey

Instituto Cultural de Macau

Sou um estudioso da poesia de Al Qing. ajudei-o, e a sua mulher, em várias edições, publicando-lhe mais de duas dezenas de dissertações. De momento, estou a escrever dois livros com 800.000 caracteres, que sairão a público no próximo ano. Neles escrevo sobre a recente deslocação de Al Qing a Macau. Foi em termos entusiásticos que Ai Qing se me referiu à sua visita a Macau e às pessoas que a organizaram. O V. Instituto acabou de traduzir e de publicar em português uma selecção da obra poética de Ai haviam proposto Lu Xun e Al Qing para o Nobel da Literatura. Nos últimos anos, também o Governo chinês concordou em que Ai Qing é digno de receber esse galardão. Ainda no passado mês de Agosto, o famoso autor brasileiro Jorge Amado, durante um convívio organizado pelo Departamento Cultural da República Popular da China, expressou publicamente a opinião de que devia ser atribuído o Prémio Nobel da Literatura ao grande poeta Al Qing.

Na minha opinião, o Nobel Qing. Quero manifestar o meu contentamento disso e felicitar-vos.

Também fiquei muito satisfeito com saber que o ICM está a trabalhar para a nomeação de Al Qing para o Prémio Nobel da Literatura. Todos os amantes da Cultura e da Arte não poderão esquecer as intenções e esforços de V. Exas.

Jã nos anos 30 e 40 algumas pessoas da Literatura deve calhar a um autor que dedique a sua vida e obra à paz e à fraternidade da Humanidade, à felicidade e alegria dos povos, ã sua prosperidade, e àquele que, criador de um estilo original, contribua para o engrandecimento da arte. Ora, Aí Qing reúne todas estas componentes!

Para melhor se entender Aí Qing, a sua posição e influência na China e no Mundo e o seu sucesso na literatura, junto envio algumas páginas críticas e ensaístcas.

Com os melhores cumprimentos

Zhou Hong Xing (周宏興)

Pequim, 4 de Agosto de 1987

Professor de Literatura Antiga da China;escritor e secretario do poeta Ai Qing.

"Recentemente, o famoso escritor brasileiro Jorge Amado visitou a China. Num convívio realizado em 2 de Agosto, ele disse:"Um jornalista perguntou-me a quem deveria ser atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Respondi que deveria ser atribuído a três autores: um deles é escritor brasileiro, outro é escritor cubano e o terceiro é o grande poeta chinês Ai Qing. Se eu fosse membro do júri, proporia a atribuição do Prémio a Ai Qing".

Exmo. Sr. Dr. Jorge Morbey

Presidente do ICM

Fїquei multo satisfeito ao ler o texto da "Revista de Cultura" que sugere a nomeação de Ai Qing, o maior poeta chinês contemporâneo, para o Prémio Nobel da Literatura. Venho dar toda a minha concordância ao texto: o poeta Al Qing é sem dúvida digno de receber o Prémio. Já em 1983, quando o poeta espanhol Alfredo Gomez Gil ensinava em Pequim na Academia de Línguas Estrangeiras, havíamos levantado esse assunto. Gomez Gil, é o tradutor para espanhol do livro "Poemas de Al Qing", publicado na China no ano passado.

Sem dúvida, alguns outros escritores chineses como Ba Jln (巴金) ou Cão Yu (曹禺), teriam também envergadura de candidatos, mas ao poeta Aí Qing deve ser dada a prioridade.

Num artigo saído no "Jornal de Cultura e Arte", organizado pelo Instituto dos Autores da China e publicado em 18 de Julho em Pequim, um membro da Academia Real Sueca afirmou que Já nos anos 50 e 40 o Júri havia discutido a atribuição do Prémio aos escritores chineses Lu Xun (魯迅), Ai Qing e Wen Yi Duo(聞一多). Contudo, meio século se passou e a nenhum escritor chinês foi atribuído o Nobel da Literatura. Acho isto poeta chinês Ai Qing. Se eu fosse membro do Júri, proporia a atribuição do Prémio a Al Qing".

Durante a sua deslocação a Pequim, Jorge Amado teve um encontro com os estudiosos e investigadores chineses das literaturas da América Latina. Foi um encontro multo aliciante, em que tive a honra de participar.

Sob a direcção do Sr. Presidente, o Instituto Cultural desenvolveu muitos trabalhos favoráveis ao intercâmbio cultural injusto. É de referir que dos três autores citados, só Al Qing ainda está vivo.

Recentemente, o famoso escritor brasileiro Jorge Amado visitou a China. Num convívio realizado em 2 de Agosto, ele disse: "Umjornalista perguntou-me a quem deveria ser atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Respondi que deveria ser atribuído a um de três autores: um deles é escritor basilelro, outro é escritor cubano e o terceiro é o grande luso-chlnês. Aproveito a oportunidade para desejar os maiores êxitos ao V. Instituto (...).

Com os melhores cumprimentos

Kiang Zhi Fang (江志方)

Pequim, 15 de Agosto de 1987

Professor do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade de Pequim; Vice-Director do Instituto de Literatura da América Latina.

"É absolutamente inaceitável que duas das Línguas entre as cinco mais faladas no Mundo, a Portuguessa e a Chinesa, nunca tenham sido contempladas (com o Prémio) (...)".

Dr. Morbey:

Recebi o primeiro número da "Revista de Cultura" (em inglês), que multo agradeço. Lindíssima revista, e muito oportuna. Nela li a proposta de lançamento da candidatura do poeta chinês Aí Qing ao Prémio Nobel. Eu que, com. toda a franqueza, nunca ouvira falar dele, nem dele sabia nada, dou a ideia o meu apoio total, e por uma questão de princípio.

É absolutamente inaceitável que duas das Línguas entre as cinco mais faladas no Mundo, a Portuguesa e a Chinesa, nunca tenham sido contempladas (com o Prémio) (...)

De modo que, assim sendo, penso que é dlgniflcante que nos esforcemos por reparar ao menos uma injustiça: em relação à China. Se vir que posso ser-lhe útil, diga, e como. Penso que seria indispensável fazer circular listas de apoio aqui (...).

Mécia de Sena

Mrs. Jorge de Sena

Santa Bárbara (Califórnia)

Palavras do Presidente da República, Mário Soares, no acto de posse do Governador de Macau - Lisboa e Palácio de Belém, 9 de Junho de 1987.

"Essa dimensão terá de ser associada a uma política cultural que valorize Portugal, a sua língua, a sua história e as suas qualidades de país moderno e europeu perante os países amigos da Ásia, aos quais nos liga um caminho em comum de séculos. Uma relação de descoberta recíproca, uma convivência criativa e pacífica sem paralelo. Macau é, ao mesmo tempo, o símbolo histórico e o centro moderno dessa relação. Do seu desenvolvimento económico e da sua projecção cultural dependem, em boa parte, e evolução da presença portuguesa na região e, inclusivamente, a durabilidade da presença da nossa obra em Macau. Trata-se de realizar uma política de amplo alcance, um trabalho de fundo e de grande responsabilidade nacional".

"Na verdade, o que está em jogo ultrapassa de longe, em importância, os doze anos que nos separam do final do século e projecta-se amplamente no futuro, para além de todos nós. É a preservação e o desenvolvimento das excelentes relações de cooperação e amizade existentes entre Portugal e a República Popular da China e o diálogo pacífico e criador entre o Ocidente e o Oriente, de que Macau é hoje um dos símbolos mais relevantes e significativos".

Palavras do Governador de Macau, Engenheiro Carlos Melancia, no acto de posse - Palácio de Belém, 9 de Junho de 1987.

"(...) num momento em que no longo livro da história de Macau se inicia um capítulo novo - para o qual os portugueses de hoje e o governo de Macau têm a responsabilidade obj ectiva de projectar não só a nossa cultura, mas também firmar a nossa capacidade de gerir uma sociedade no sentido pragmático do progresso e do bem-estar, de modo a que o nosso exemplo remanesça vivo para além do período de transição".

desde a p. 3
até a p.