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O IMPERADOR YONGZHEN

O Imperador Yongzhen (1678-1735), a quem D. João V enviou a desditosa tapeçaria do Condestável, não teve um reinado fácil nem isento de sobressaltos. Na verdade, foi um reformador com mão-de-ferro, sedento de poder mas, concomitante-mente, preocupado com o desenvolvimento e pacificação do seu país.

Yongzhen, que na realidade se chamava Yinzhen e foi também conhecido por Ching Shi Zhu, era o quarto filho do imperador Kangxi. Começou por não ser pacífica a sua subida ao trono, legitimada pelo facto de seu pai, ainda durante a vida, ter destituído o óbvio príncipe herdeiro, Yun Reng, o seu primogénito e irmão mais velho de Yongzhen. Depois da morte de Kangxi em 1722, os dois irmãos envolveram-se numa luta fratricida pelo trono.

Já mesmo antes da morte do velho imperador, exerciam as suas influências para obter o apoio dos homens mais poderosos do reino. Mais hábil que seu irmão na arte de se movimentar na cena política, Yongzhen recrutou para as suas fileiras Kelongduo, o homem forte do império, e Niangenyao, o governador das Províncias de Si Chuan e Shan Xi e comandante do exército mais bem apetrechado de toda a China.

No entanto, dando imediatamente provas de grande sangue-frio e calculismo, assim que se viu sentado no trono de Kangxi, conspirou de tal modo que arranjou um maquiavélico processo de afastar os dois homens que lhe tinham garantido o acesso ao poder. Quanto a Niangenyao, mandou forjar contra ele setenta e duas acusações e obrigou-o ao suicídio. Já com Kelongduo, que era seu tio, foi mais tolerante pois apenas o acusou de quarenta e dois crimes, condenando-o a prisão perpétua. Ao que parece, os dois homens tornavam-se progressivamente desobedientes e orgulhosos, facto que levou Yongzhen a não hesitar sequer um momento. Os outros príncipes, que tinham também sido candidatos ao trono imperial, ou foram executados secretamente, ou cuidadosamente trancados em prisões inacessíveis.

As suas primeiras medidas visaram obsessivamente o aumento e consolidação do poder imperial. Assim, começou por limitar drasticamente a influência dos Comandantes das Bandeiras. Ao mesmo tempo, organizou uma polícia secreta para supervisionar os seus vassalos e impedir que se organizassem em partidos. Esta força dispunha de licença para entrar a qualquer momento nas residências dos oficiais para fiscalizar as suas propriedades e procurar documentos comprometedores. Por tudo isto, Yongzhen ficou também conhecido pelo bizarro cognome de "Imperador das Buscas a Pente Fino".

Sendo um imperador de origem manchú, Yongzhen levou a peito a missão de acabar com a tradição que apregoava a superioridade dos Han. Um exemplo da sua acção neste sentido foi a perseguição que moveu a Lu Liu Liang. No ano de 1727, um intelectual chamado Zeng Jing tentou convencer o governador das Províncias de Si Chuan e Shan Xi, Yui Zhong Qi (diz-se que era descendente do general Yui Fei da dinastia Song), do superior valor dos Han em relação a todas as raças da China. Para tal servia-se da teoria de Lu Liu Liang, um pensador já falecido que escrevera um apologia contra os Manchús. O objectivo de Zeng Jing era fomentar a revolta mas o governador não se deixou iludir e colocou-o imediatamente na prisão.

Ora, levando esta questão muito a peito, Yongzhen interveio neste caso de forma radical. Chegou mesmo a interrogar pessoalmente Zeng Jing, com o objectivo de lhe arrancar todas as informações possíveis sobre os seus inimigos. Seguidamente, ordenou a destruição do túmulo de Lu Liu Liang e despedaçou em público os seus restos mortais. Depois, mandou executar todos os familiares e parentes de ambos até à segunda geração e desterrar os da terceira geração. Esta perseguição sem tréguas nem perdão abalou profundamente todo o império. Finalmente, Yongzhen escreveu e publicou um livro intitulado "A Verdade contra o Absurdo", no qual criticava a teoria de Lu Liu Liang e proclamava a igualdade de todas as raças da China. O livro foi distribuído por todo o país e todos foram obrigados a estudá-lo detalhadamente.

Em 1726, Yongzhen mandou as suas tropas ocupar as Províncias de Gui Zhou e de Yun Nan. Assim, conseguiu abolir pela força o sistema de caciques então vigente nas tribos locais, substituindo-os por oficiais directamente escolhidos e nomeados pelo imperador. Esta operação destruiu, até certo ponto, o sistema de escravatura existente nessas tribos e aumentou. o contacto entre povos de diferentes origens étnicas, o que foi considerado uma contribuição positiva para a reunificação e integração de um país multirracial.

Seja como for, o facto é que Yongzhen levou ao apogeu o poder da dinastia Ching, sobretudo depois de ter comandado pessoalmente uma expedição militar ao noroeste da China. A pretexto de facilitar o funcionamento do Estado-Maior e melhor guardar os segredos militares, criou então o Alto Conselho Militar. Este órgão, terminada a guerra, tornou-se na mais alta entidade permanente de comando, directamente subordinado ao imperador, acima do Gabinete e do Conselho de Nobres e Oficiais.

Durante o seu reinado, assistiu-se a um importante desenvolvimento da agricultura e de toda a economia, de uma maneira geral. Este facto deveu-se, em parte, à sua audaciosa reforma fiscal. Pouco depois de subir ao trono, aceitou a proposta de Li Wei Jun, prefeito da Província He Bei, no sentido de regularizar o imposto agrícola e abolir o imposto per capita, o que diminuiu a carga fiscal dos agricultores e os poupava a falsas declarações quando interrogados sobre o número de seus familiares. Yongzhen morreu em 1735, aos 58 anos de idade, depois de treze anos de agitado reinado (Nota da redacção chinesa da RC)

Entrada de Yong He Gong, em Pequim, Palácio onde viveu o Imperador Yongzhen.

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