Antropologia

AS MOEDAS DA MORTE, DA VIDA E DO DESTINO

Ana Maria Amaro*

"O Tauismo desempenhou um grande papel na história religiosa da China nos primeiros séculos da nossa era tanto por si próprio como pelas suas relações com o Budismo."

(Henri Maspero, Le Taoisme, Paris, P. U. F., reedição de 1967).

Aoferta, se exige reciprocidade, tem sido, desde sempre, uma forma de manter as relações com outrem. Na concepção popular dos chineses, é no mundo do sobrenatural que se encontram tanto os espíritos temidos, os gui e os fan [sic; 魂, hun?], como os espíritos respeitados, tais como os shen e os pou-sat [菩薩, pu sa ] protectores, aos quais é preciso manifestar-se o reconhecimento no caso de ventura e, ao mesmo tempo, prestar-se homenagem, mostrando-se respeito e veneração no caso de infelicidade, julgada consequência de não terem sido bastantes as oferendas para manter a relação de equilíbrio essencial à "vida tranquila".

Ouro de San Xing (三星) — as Três Estrelas, que correspondem às divindades tauistas da "Felicidade", da "Prosperidade" e da "Longa Vida" — Fu, Lu, Shou (福祿壽).

Ao pensamento anterior de se "obter uma vida no Além", veio juntar-se, assim, a ideia de "dívida de viver", surgindo o ritual de oferendas de reembolso e todo um imaginário complexo, relativo à "Tesouraria Transcendental", ideia aliás mais antiga e estrangeira por já discernível nos próprios Sutras. Esta ideia de dívida contraída antes do nascimento, em função desse próprio acto de nascer, desse primeiro "rito de passagem", culminou nas "cerimónias rituais de reembolso", que na altura da morte se deveriam ampliar para que as contas do "imposto de vida" ficassem saldadas e a vida pudesse, assim, prolongar-se no Além. Daí a criação dos maços de moedas-papel, simbolizando, por reprodução, sapecas de cores (e valores) diferentes, e de lingotes de ouro e prata que se queimam, ainda, em Macau durante todas as cerimónias fúnebres chinesas. O montante desta dívida, verdadeiro pagamento do "direito de nascer" e, consequentemente, de viver, depende do momento do nascimento e está relacionado com a noção de ming lu (命祿)1 que, por sua vez, implica a ideia de "Destino Fundamental", tradução imperfeitada expressão ben ming (本命).2

Ao que se crê foi para modificar os traços negativos desse inexorável Destino traçado à nascença de cada um, que os tauistas criaram, talvez no séc. III as "moedas de oferenda", que primeiramente foram reproduzidas em argila, e depois em bronze, imitando sapecas verdadeiras.

Admitia-se, então, que mediante a oferta destas moedas se estabeleceria um regime de "empréstimo" ou "imposto", um verdadeiro compromisso com as forças do Além que condicionam o "Destino Fundamental " de cada um.

Com a invenção do papel estas moedas passam a ser recortadas neste material e utilizadas em grandes maços em todos os rituais funerários.

Hoje, o porquê dessas oferendas rituais de moedas em papel de cores diferentes e de moeda-papel de ouro-prata perdeu-se entre o povo, tal como se perdeu o antigo significado do uso das moedas de argila e depois das de bronze, usadas precisamente para modificar o rumo do destino no sentido positivo.

Estas "moedas do Destino" eram porém usadas, ainda, em Macau, nos anos 60/70, por senhoras chinesas conservadoras, praticantes de um budismo-tauismo muito simples na sua concepção filosófica. Estas senhoras eram, apenas, devotas que haviam enculturado ideias herdadas, talvez. ideias que são "assim porque são", não exigindo explicações para as práticas que lhes mantinham vivas as forças anímicas para resistir a todos os infortúnios e viver, com ou sem felicidade, mas com tranquilidade, objectivo fundamental para os chineses.

Papel de cobertura dos maços de papel.

Se, nos nossos dias, as moedas-papel3 se destinam a ser queimadas nos mais diversos rituais, as velhas moedas de bronze continuam a ser utilizadas mas como amuletos e/ou talismãs.Crê-se que, penduradas ao pescoço ou à cintura, defendem os portadores de doenças, de quedas e de sustos provocados pelos espíritos malignos, actuando de acordo com o seu ming lu. Garantem-lhes saúde, maior longevidade e paz. "Orientam o rumo do destino fundamental". Para alguns autores,4 a prática do reembolso antecipado pode considerar-se um "rito funerário", uma vez que, embora praticado em vida, tende a garantir facilidades na vida no Além.

A China do Sul foi povoada, desde o séc. IV, por vagas sucessivas de imigrados deslocados da China Central. Foi principalmente em Fuquiém (福建, Fujian) que as populações Han deslocadas, uma vez isoladas pelo relevo característico das províncias meridionais, conservaram o fundo tradicional da sua cultura, contrariamente ao que sucedeu no Norte varrido por sucessivas vagas de invasores armados.

Foi assim que, em Macau, e depois. em Hong Kong e na Formosa, tanto os chincheus (de Fuquiém) como os cantonenses e demais chineses lograram conservar, politicamente isolados, antigos usos e entre eles as suas práticas religiosas, tal como ainda pudemos vê-las e estudá-las nos anos 50-60.

Nestas práticas, o aspecto mais evidente é, sem dúvida, a queima dos papéis-ouro e prata que se vendem em grandes maços em lojas especializadas, geralmente dobrados em forma dos antigos lingotes preciosos, que serviam de moeda, empilhados e ligadospor um fio vermelho.

Ouro da longevidade.

MOEDAS-PAPEL E LINGOTES DE OURO E PRATA

As moedas-papel, bem como os "lingotes de ouro e prata", e ainda as tiras de papel de arroz lisas ou coloridas e arabescadas por técnicas xilográficas mais ou menos rudimentares, que representam peças de seda, um dos antigos tributos e materiais de oferta dos mais apetecidos, são, também, utilizados por influência budista nas cerimónias dedicadas às "almas famintas", os temidos gui (鬼). Estes papéis-moedas não são, porém, queimados indiscriminadamente em qualquer sítio, como qualquer observador desprevenido poderá pensar.

As moedas-papel que se queimam em trípodes ou em incensórios nos interiores dos templos ou nos altares domésticos, destinam-se às "Divindades maiores", aos "Antepassados" e às "Divindades protectoras" em geral; as que se queimam no exterior, em lugares pavimentados ou sobre a própria terra,destinam-se às divindades mais temidas e aos fan [hun?], espíritos malignos, "emanações corruptas e maus ares", bem como às almas erradias, os tão populares quão receados gui.

Os "papéis de ouro e prata" que se vendem em lingotes constam de um quadrado ou rectângulo estanhado, impresso ou liso, aplicado sobre uma folha de "papel pagode"5 que pode medir de 4,3 x 3,2 a 12 x 11 cm.

Existem diferentes papéis de ouro, os jin zhi (金紙), também conhecidos por shou jin (ouro da longa vida, 壽金), e diferentes papéis de prata, os yin zhi, igualmente designados por lian hua yin — "prata da flor de lótus".

Nestes papéis tanto as dimensões como a maior ou menor complexidade do desenho xilografado correspondem às diferentes divindades ou aos diferentes objectivos a que se destinam. No caso dos "papéis de ouro", os maiores e mais elaborados são oferecidos à Divindade Suprema — o próprio Imperador de Jade. À medida que as divindades vão descendo de hierarquia, vão-se reduzindo de tamanho, até aos espíritos tutelares do solo e outras divindades menores, caso em que não ultrapassam, nunca, 3,1 x 2,5 cm.

Os papéis de ouro mais valiosos apresentam, geralmente, a imagem da tríade conhecida por San Xing (三星) — as Três Estrelas — que correspondem às divindades tauistas da "Felicidade", da "Prosperidade" e da "Longa Vida"6Fu Lu Shou (福祿壽).

Lian hua yin — "prata da flor de lótus".

A "passagem sobre o fogo" como ritual de purificação durante o casamento tradicional, que em Macau, também nos anos 60, ainda se realizava, ao transpor a noiva o umbral da porta de casa da família do noivo, e durante a celebração do aniversário de uma divindade fazia-se designadamente sobre as chamas de papéis deste tipo.

Durante o culto familiar (jing tian gong —敬天公) em honra do Senhor do Céu, nos dias de aniversário do chefe da família, por ocasião dos casamentos e nos dias em que se celebravam acontecimentos fastos, eram usados igualmente, em Macau, "papéis de ouro" com a tríade tauista, papéis que são os mais valorizados a par das moedas floridas (hua qian — 花錢).

Além deste papel de ouro com a figura da Tríade, existem, como atrás se disse, outros de menor categoria que são queimados em grandes quantidades todos os dias, em todos os tipos de rituais, em homenagem às divindades do Além protectoras dos mortais. Daí, serem conhecidos estes papéis de "ouro" por "ouro da longevidade".

Os "papéis de ouro" com motivos florais xilografados representam, tal como os papéis de arroz de várias cores, peças de tecido, mas, neste caso, não representam peças de seda mas de brocados dourados de maior valor.

Dos papéis dourados lisos, sem quaisquer inscrições, que por vezes apenas contemplama primeira folha dobrada de cada fiada, vendiam-se, nos anos 60-70, nas papelarias de Macau, seis variedades com diferentes dimensões e integrando diferentes números de unidades. Havia-os de 1,5 x l a 6 x 3,5 e em grupos de 13 a 35. O mais popular destes papéis era o fu jin (福金), destinado a ser queimado em honra da "Divindade do Solo" (Tu Di Gong — 土地公). Estes papéis eram queimados não só em homenagem aos espíritos tutelares de cada local (incluindo o lugar da residência) mas também ao espírito da riqueza Cai Shen — 財神.

A primeira oferenda a Tu Di verificava-se, anualmente, no 2° dia da 1a Lua, repetindo-se ao longo do ano, principalmente no dia 5 da 5a Lua ("dia de grande agouro") e na véspera do. Ano Novo.9 Nos anos 60-70 eram imagens do quotidiano de Macau mulheres com tabuleiros de oferendas queimando papéis votivos às portas das casas em plena rua e ascendendo velas e pivetes que espetam nos passeios ou em latas pintadas de vermelho.

Os mais pequenos papéis de ouro, de 1,5 x 1 polegadas por 6 x 3,5 polegadas, em fiadas de 25 elementos, eram aqueles que eram conhecidos por xiao jin (小金) — "pequeno ouro". Usavam-se nas práticas de exorcismo e destinavam-se também aos "espíritos temidos", espíritos dos mortos e espíritos erradios, geralmente associados aos papéis de prata. Eram e são ainda queimados sobre o solo associados aos "3 pequenos animais" representados por um ovo, um pedaço de peixe e um pedaço de toucinho, colocados em 3 pratinhos dispostos em fila diante de três tigelinhas de chá.

Lian hua yin — "prata da flor de lótus".

Relativamente aos papéis de prata, vendiam-se em Macau em duas dimensões ("grande prata" — 4,3 x 3,5 polegadas e "pequena prata" — 2,4 x 2 polegadas), com três variantes cada, de acordo com a forma e decoração dos rectângulos estanhados.

A hierarquia dos destinatários é semelhante à dos papéis de ouro. A decoração destes, porém, limita-se ao desenho de uma "flor de lótus", que só aparece nos papéis de grande formato. O lótus, de origem budista, representa a pureza e é o assento das suas divindades. Simboliza, igualmente, a reincarnação, o que explica o uso destes papéis no culto dos Antepassados. O lótus exprime, enfim, o voto de que os Antepassados (os shen — 神) vão residir no Além (o "Paraíso Ocidental" dos tauistas). As mulheres casadas oferecem aos Antepassados dos maridos papéis de lótus prateados e nunca dourados. E isto porque a prata é a cor da Lua em dualidade com o ouro, a cor do Sol, astros que simbolizam respectivamente o yin (陰) e o yang (陽) e correspondem aos princípios feminino e masculino.

Admitem os chineses que os Antepassados (shen) que recebem regularmente ofertas dos familiares obtêm ling (靈), "potência ou essência espiritual", e podem, assim, proteger do Além os seus familiares.

Os rituais em que se usa o papel-prata são as cerimónias funerárias, o culto dos Antepassados, o culto das almas erradias, o culto dos espíritos dos primeiros ocupantes de um local e o culto dos espíritos das pessoas que morreram de morte violenta.10

É o "grande papel de prata" que se queima à entrada da porta quando alguém morre numa casa. Serve, assim, para iluminar ao morto o caminho do Além. Para lhe pagar os custos da viagem é, ainda, este papel que a família terá de ir queimando, de tempos a tempos, até ao dia do funeral, sendo o caixão também preenchido com fiadas de "grande papel de prata" e com "moedas da Tesouraria" (gong qian — 貢錢).

É finalmente, com a incineração de fiadas de papel de prata, que se encerram as cerimónias dos funerais.

De sete em sete dias11 devem celebrar-se as cerimónias de homenagem àquele que "partiu". No decurso destas cerimónias, que se podem realizar em casa ou nos templos, são queimados vários objectos em papel, representando peças de vestuário, mobiliário, malas com roupa, pratos de ouro e prata, moradias completas com o seu recheio, um par de criados, etc., mas os mais preciosos de todos estes valores eram, sem dúvida, os papéis de prata e as "moedas da Tesouraria".

Em Macau era muito frequente, principalmente nas Hortas do Istmo, o "culto dos espíritos dos primeiros ocupantes do local", culto apenas celebrado pelas famílias rurais imigradas. Estas cerimónias realizavam-se no 2° dia da 2a Lua, durante o Qing Ming (清明)12e no 16° dia da 12a Lua. Receavam os ocupantes recém-vindos retaliações, por parte dos espíritos dos antigos ocupantes, se não celebrassem estes rituais uma vez que estavam a explorar locais de cultivo por aqueles antes enriquecidos, por vezes mercê de grande esforço.

Relativamente às ditas "moedas da Tesouraria", ao que hoje se crê, desde o Neolítico que, na China, se enterravam com os mortos "conchas de caurins" (que serviam então de moeda) ou suas imitações em osso ou em pedra.13

Não se podendo hoje afirmar, com certeza, qual a razão da inclusão nos túmulos destes caurins, é de admitir que esta prática tivesse qualquer função religiosa, se não o mero depósito de material de troca para a viagem para o Além.

Aliás, o uso de colocar caurins, grãos de arroz ou pedras preciosas ou semi-preciosas na boca dos mortos, consta já do célebre Livro dos Ritos14, cuja compilação data do séc. IV a. C. Este costume perdurou, curiosamente, até aos nossos dias, entre as populações rurais tal é a força na crença da sua eficácia em favor "do que partiu" e também a favor dos seus familiares.

Foi cerca de 1000 a. C., na dinastia Zhou Ocidental, que o uso de enterrar caurins com os mortos — caurins perfurados e enfiados num fio como depois se usou com as sapecas —teve o seu apogeu.

As moedas metálicas apareceram apenas na dinastia Zhou (周朝, Zhou zhao), sob várias formas.15 Os caurins, que foram, a princípio, simultaneamente utilizados a par das moedas, passaram a ser progressivamente substituídos por estas ditas em "nariz de formiga", feitas em bronze e que aliás imitavam aquelas conchas tão valiosas.

Na Primavera de 1972, a exumação do famoso túmulo da marquesa de Tai (軑候妻, Dai Hou Qi), datado da primeira metade do séc. II a. C., continha, além de muitas preciosidades, grandes quantidades de moedas de argila.16 Segundo as tabuletas de bambu exumadas, também, desse túmulo, onde se encontravam registados os objectos inumados, tanto as moedas de argila como as imitações de placas de ouro eram designadas indistintamente por jin qian (金錢) — "moedas de ouro", o que nos leva a pensar numa função religiosa e não sócio-económica destas ofertas. Esta prática perdurou, aliás, ao longo dos séculos seguintes.

No período das Seis Dinastias a colocação de moedas verdadeiras ou suas imitações nos túmulos tornou-se muito mais rara. Segundo alguns autores, tal facto deve-se ao início da prática da reprodução de tais moedas em papel das quais, necessariamente, não restam vestígios.

Na primeira metade do séc. VIId. C., já o uso de vários tipos de papéis-moedas se pode comprovar na China, porquanto consta de vários registos, tais como o famoso Ming Bao Ji (冥寶記) da dinastia Tang (唐).

Além das "moedas da Tesouraria" ou "moedas da Tesouraria Celeste" (gong qian — 貢錢) que se usam nos rituais funerários, existem, ainda, as que se destinam ao "pagamento da dívida de se ter adquirido o direito a nascer e a viver". São representadas pelos papéis-moedas que se queimam com grande frequência em homenagem a todas as divindades.

Ouro da longevidade.

MOEDAS USADAS NOS RITUAIS FUNERÁRIOS

Vendiam-se, em Macau, em molhos de 28 a 100 folhas com 6 a 30 incisões onduladas, cada uma das quais representa um lingote de sapecas. Destinavam-se aos "funcionários da Tesouraria Celeste", para pagar a dívida da reincarnação, servindo, também, para assegurar a tranquilidade aos "Antepassados na sua nova vida no Além".

O segundo tipo de Moedas de Tesouraria são as moedas conhecidas por moedas do "Destino fundamental" ou Ben ming qian (本命錢) distinguindo-se das anteriores por terem colado, nas embalagens, um papel de estanho dourado ou prateado. No primeiro caso,destinam-se à Tesouraria Celeste e, no segundo, ao "Mundo terrestre", à "Tesouraria dos Infernos."

A noção de "Destino fundamental", que alguns autores traduzem por "Fatalismo", é bastante complexa. Se se perguntar o seu significado a um bonzo tauista, a resposta é de tal modo vaga e transcendente que não conseguimos interpretá-la. Contudo, no imaginário popular, ben ming corresponde à ideia de que cada pessoa recebe um ming do Céu, sendo a palavra ben (nascer, emergir) correspondente a individual, pessoal ou fundamental17.

De acordo com as concepções tauistas mais simplistas, o termo ben ming utiliza-se para designar os quatro elementos que definem a data do nascimento de cada pessoa: ano, mês, dia e hora.

Igualmente nos textos tauistas, esta expressão aplica-se a certas divindades e serve para definir lugares, direcções e, ainda, rituais e oferendas. Daí a grande complexidade do seu conceito filosófico.

Em Macau, nos anos 60, vendiam-se ainda dois tipos de moedas metálicas para fins rituais ou mágico-religiosos: as que serviam de pagamento, equivalente a um verdadeiro imposto de vida, e as que reproduziam as moedas e os pendentes de bronze, já então difíceis de obter, mas que serviam, noutros tempos, para oferendas nos rituais do Destino fundamental, com o fim de propiciar uma vida feliz. Destinavam-se a "modelar o destino" por compra, ou melhor, por troca, "dom com reciprocidade" às divindades superintendentes no Destino individual.

Estas moedas de bronze de que possuímos cinco exemplares, eram usadas suspensas à cintura ou ao pescoço, funcionando de amuleto e ao mesmo tempo de talismã. Eram procuradas por pessoas cuja vida sofria revezes, ou por pessoas cuja sorte não parecia "favorável". Muitas vezes, eram os amigos que adquiriam estas moedas e as ofereciam como prova de estima aos que atravessavam um período difícil.

O uso destas moedas vem de longa data na China, e foram ao mesmo tempo adoptadas por tauistas e budistas com finalidades idênticas.

Segundo os textos tauistas, usavam-se, na cura das doenças, orações escritas, conhecidas por zhang (章), equivalentes aos actuais fu (符) — papéis com frases herméticas — destinados a colar nas casas ou a queimarem-se e a beberem-se as suas cinzas. Ao dirigirem-se às divindades, estas orações deveriam ser acompanhadas de ofertas de "seda, moedas e arroz".

Finda a cerimónia, o oficiante ficava com três décimos das oferendas, destinando-se o restante a ser distribuído pelos pobres da comunidade. O valor das oferendas devia ser, como é óbvio, correspondente à hierarquia social do ofertante.

Noutros tempos o povo era apenas obrigado a oferecer moedas de bronze e seda vulgar, ao passo que os grandes senhores deveriam oferecer cortes de seda fina e também moedas em prata, devendo a Família Imperial oferecer rolos de seda púrpura e moedas em ouro.

A seda oferecida pelos senhores e pelo povo deveria, ainda, apresentar as 5 cores do arco-íris destinadas aos Cinco Imperadores das Cinco Regiões. Mas a estas peças de seda deveria juntar-se ainda uma outra de comprimento proporcional à idade do ofertante e de cor definida pela data do seu nascimento.

Com o decorrer dos séculos, as oferendas passaram a ser reproduzidas em papel, muito embora o povo mais crédulo conservasse o uso das moedas de bronze para amuletos, como garante de uma vida mais feliz.

As "moedas do destino" ou "moedas da vida" (ming qian —冥錢) em bronze, verdadeiros amuletos antigos, apresentam frequentemente, uma das seguintes inscrições: "Magistrado da Estrela (ou Estelar) do Destino Fundamental" (Ben ming xing guan —本命星宫) ou "Espírito primordial do Destino Fundamental" (Ben ming yuan shen —本命元神). Além desta inscrição (que, aliás, pode faltar), é figurada a respectiva divindade estelar em traje mandarinal ou os 12 animais dos ciclos duodenais, ou apenas um deles, o que corresponde às antigas ditas "moedas dos doze ramos terrestres" (di zhi qian —地衹錢) ou "moedas dos animais" correspondentes ao signo do nascimento da pessoa a que a moeda se destina (sheng xiao qian —生肖錢). No reverso destas moedas-amuletos estão gravados vários motivos, isolados ou associados, tais como: — "as sete estrelas da Ursa Maior", o que confere à moeda o nome específico de "moeda da Ursa Maior" (bei dou qian —北斗錢)18

— uma tartaruga, uma serpente e um par de espadas, emblema da "Divindade do Norte", correspondente à Ursa Maior, símbolo da força e do Poder.

Desde a dinastia Song que estas moedas-amuletos eram utilizadas em grande número, não havendo hoje nenhum bom livro de numismática chinesa que a elas não dedique um capítulo especial.19

Aquela que hoje se considera a mais antiga moeda-amuleto chinesa foi encontrada, na China, apenas em 1965, no distrito de Yiyang (宜陽), em Henan (河南). É circular e com um orifício quadrado no centro, de l cm de lado. A decoração antropomórfica remonta à dinastia Han (漢).

As moedas-amuletos, ditas do "Destino Fundamental", dos nossos dias, parece serem, aliás, o resultado duma longa evolução, verificada principalmente a partir da dinastia Song (宋).

Descreveremos, a seguir, as cinco moedas-amuletos que adquirimos em Macau (quatro por compra e uma por oferta).

Exemplar N° l

Tem a forma duma placa sonora de bronze de 3,6 cm de diâmetro. No verso estão inscritos, a meio, alguns ideogramas num pequeno círculo. Sobre este círculo pode ler-se o ideograma fu (福—felicidade) e, abaixo dele, xi (喜— alegria). Dum lado e do outro estão representadas, emrelevo, asfiguras de Shou Xing Gong (壽星公— símbolo de longa vida), de um morcego e da corça malhada — símbolos de felicidade e prosperidade. Estes três emblemas representam a Tríade Fu, Lu, Shou (San Xing — Três Estrelas) do papel moeda dourado de maior valor atrás descrito. No reverso, pode ler-se: Wu zi deng ke fu shou shuang quan (五子登科, 福壽雙全): "5 filhos conseguem ser magistrados; felicidade e longa vida em conjunto."

Exemplar N° 2

De forma circular (3,6 cm de diâmetro), é perfurada a meio(orifício quadrangular de l cm de lado); apresenta na cercadura do verso umadupla voluta, decoração muito antiga que erausada nos vasos neolíticos e nos bronzes do período Arcaico; quatro borboletas estilizadas, símbolos de longa vida e dois morcegos, símbolos de ventura.

A meio, dispõem-se 4 ideogramas que formam a frase auspiciosa: Kai yuan tong bao (開元通寶) — "Abre o sistema para a utilização de moedas", que significa um voto de prosperidade, uma vez que é uma reprodução da moeda mais antiga cunhada na China.20

No reverso, com cercadura igual, está representado o ba gua (demonífugo por excelência) e os símbolos cíclicos correspondentes a cada diagrama com os respectivos nomes: gan (乾), dui (兑), kun (坤), li (離), xun (巽), zhen (震), gen (艮), kan (坎).

Exemplar N° 3

De 4 cm de diâmetro, apresenta uma perfuração circular de 1 cm. A cercadura é lisa.

No verso, estão representadas duas figuras humanas e um ling zhi (靈芝), fungo da longa vida. As figuras devem corresponder aos "Magistrados celestes do Destino Fundamental."

No reverso, vêm-se também duas figuras humanas, uma delas a cavalo e com insígnias de chefe militar (capacete com duas penas de faisão). As posições das figuras fazem lembrar uma pessoa a defender-se de outra, que a ataca. Tratar-se-á dum amuleto para afastar as más influências dos inimigos? Um amuleto usado durante a guerra?

ExemplarN° 4

De 3,4 cm de diâmetro, apresenta perfuração quadrada de 1 cm de lado.

No verso, em relevo, estão representadas figuras estilizadas, aparentemente em luta. No reverso, em ideogramas de modelo antigo, pode ler-se: feng hua yun yue (風花雲月 — vento, flores, neve e luar), o que equivale ao voto de "bom tempo, boa paisagem, boas perspectivas" (nas quatro estações do ano). Reproduz, ao que supomos, um esconjuro contra os "maus desejos."

Exemplo N° 5

É um pequeno pendente de forma octogonal (1,2 cm de lado), não perfurado a meio, mas sim num dos topos.

No verso, dispõem-se os 8 trigramas com os respectivos símbolos cíclicos e, a meio, o tai ji (太極), emblema da dualidade cósmica, do "Perfeito Equilíbrio". Esta peça apresenta uma perfuração num dos bordos, o que leva a crer que tenha sido usada suspensa dum fio. No reverso, pode ler-se "A Divindade (O Senhor Supremo) deu ordem para matar todos os espíritos erradios, afastar todos os malefícios e dar saúde para sempre (ao seu possuidor)".

Foi este o talismã que uma amiga chinesa nos ofereceu.

A título de remate convém notar que não são apenas moedas especiais ou pendentes imitando moedas antigas que sãoestimadas como amuletos. Também as moedas vulgares, em ligade cobre, outrora de uso corrente, conhecidas por sapecas, são ainda usadas, principalmente, pela população marítima para o mesmo fim.

AS SAPECAS COMO AMULETOS

As sapecas, moedas de cobre, hoje fora de uso, tinham, dantes, as mais diversas aplicações e podemos, ainda nos nossos dias, vê-las penduradas ao pescoço das crianças, como amuleto. As chamadas di kou qian (滴口錢), sapecas que foram colocadas na boca de um morto por ocasião do seu enterramento, gozam de grande reputação contra todos os malefícios, tal como sucede com pregos de ataúde.

São ainda particularmente estimadas as Bai Lao Ye qian (白老爺錢), sapecas de Bai Lao Ye (白老爺) que eram conservadas pelas chinesas mais conservadoras, como verdadeiras preciosidades. Na procissão que se fazia em honra de Cheng Huang (城隍), a divindade protectora da Cidade cuja capela se situa em Mong Há (望厦) anexa ao Guan Yin gu miao (觀音古廟), a pessoa que desempenhava o papel de Bai Lao Ye levava, entre os dentes, algumas sapecas que todos os devotos procuravam, depois, obter, porque eram consideradas defensivas das influências dos maus espíritos.

Esta procissão não se realizava em Macau com este ritual, apesar do culto prestado a Cheng Huang, mas, apenas, nas aldeias do interior da China, pelo que estas moedas eram transaccionadas por forasteiros, ou obtidas através de familiares. Pelo facto de já não se realizar nos nossos dias, na China, qualquer destas procissões, estas moedas vão-se tomando cada vez mais raras, e consideradas, por isso mesmo, verdadeiras preciosidades.

"Espada de sapecas" — Para defesa contra os espíritos das doenças infantis, provocadas pelos espíritos de mulheres que tenham morrido sem filhos, os bonzos tauistas armavam sobre cilindros finos de bronze ou, recentemente, de arame vulgar resistente, fiadas de sapecas de antigas e diferentes dinastias, ligando-as por meio de um fio vermelho, e dando-lhes a forma de espada. Estas espadas, constituídas geralmente por vinte e uma sapecas, a que se juntam várias outras formando uma esfera, ou uma flor de ameixeira, ou, mesmo, pequenos amuletos de jade, em forma de pingentes, eram colocadas nos quartos ou junto às camas onde as crianças dormiam.

Estas espadas ou sabres de sapecas, conhecidas por Zhong Kui zhi jian (鐘馗之劍), representam o sabre mágico de Zhong Kui (鐘馗), um dos 8 imortais tauistas, sendo usadas, de uma maneira geral, para afugentar os maus espíritos, uma vez que Zhong Kui foi, em vida, um famoso exorcista. Assim encarada, esta espada funciona como um verdadeiro amuleto, embora específico, noutros tempos para defender as crianças, que a elevada mortalidade infantil impiedosamente ceifava. No entanto, a sua função esconjuratória era, dantes, mais vasta.

Quando um membro da família adoecia e tinha febre, colocava-se esta espada sobre a porta da entrada da residência. O "espírito maligno" da febre não ousaria, assim, voltar. Para fabrico destas espadas são consideradas de melhor efeito as sapecas antigas, datadas das épocas gloriosas da história da China, principalmente do reinado de Qianlong (乾隆, imperador da dinastia Qing, 清), fervoroso budista a quem se deve a construção de muitos templos e o incentivo do culto de muitas novas divindades.

Além da "espada de sapecas" atrás descrita, as sapecas podiam ser ainda usadas doutras formas, principalmente se tivessem sido exumadas dum túmulo ou possuissem ling (靈, espírito) — devido à sua antiguidade. São conhecidos vários exemplos do seu antigo uso esconjuratório, uso actualmente em vias de total abandono. Um dos usos que ainda era, porém, muito frequente em Macau nos anos 60-70 era o valor que se atribuia às Zhao ling qian (招靈錢). Este nome refere-se às sapecas verdadeiras que é costume colocar-se nos quatro cantos das casas feitas de papel, casas que, habitualmente, se queimam após os ofícios dos defuntos, em cada um dos sete ciclos dos 49 dias que se seguem ao passamento. Quando o fogo consome todo o papel e parte da armação de bambu, as cinzas são, rapidamente, remexidas pelo mulherio, em busca destas moedas, consideradas, também, excelentes amuletos.

Vimos práticas deste tipo em Macau nos anos 60 em casas particulares da Aldeia de Mong Há e até em prédios em estilo ocidental habitados por chineses na Estrada da Vitória.

A origem e a finalidade da vida são problemas dramáticos que acorrentam o homem à necessidade da profecia e do pensamento religioso.

Não surpreende, pois, que os mesmos pensamentos elementares apareçam espalhados por toda a terra. De todos os fenómenos que integram a cultura são, por isso mesmo, o mito e a religião, aqueles que mais escapam a uma análise lógica.

A ciência moderna transformou o espaço mítico em espaço material, mas a verdade é que há, ainda, muitos fenómenos que escapam à racionalidade científica.

Por outro lado, recordação e imaginação levam à transmissão oral de sucessos maravilhosos muitas vezes resultantes de condicionamentos que escapam à análise lógica. A verdade é que a par do conhecimento experimental, o imaginário é também transmitido de geração em geração, evoluindo por omissões, deturpações ou adições que transformam a ideia original desfigurando-a.

Por outro lado, o conceito de tempo relaciona-se com a interiorização humana e por isso esta dimensão, estabelecendo uma ponte entre o passado e o presente, faz com que as crendices mais diversas se encontrem ainda vivas mesmo entre pessoas com elevado grau de escolaridade.

E, assim, muitas práticas que, apriori stic amente, nos parecem desprovidas de qualquer explicação para uma sobrevivência de muitos séculos, encontram uma justificação lógica se as encaramos como subtis formas de manter o equilíbrio psicológico e restabelecer a tranquilidade, e a harmonia de cada um consigo próprio.

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

O CERIMONIAL (Lei-Ky), original chinês comcaracteres e alfabeto, versão portuguesa e notascríticas pelo Pe. Joaquim A. de Jesus Guerra, S. J. (Missionário de Shiu-Hing, Macau, China), Macau, Jesuítas Portuguesas, 1988.

DAY, Clarence Burton, Chinese Peasant Cults, 2nd ed., Taipei, Ch'eng Wen Publishing Company, 1969.

FONG Yeou-lan, Précis d'Histoire de la Philosophie Chinoise, Paris, Payot, 1952.

GRANET, Marcel, La Pensée Chinoise, Paris, AlbinMichel, 1970.

HOU Ching Lang, Monnaies d'Offrande et la Notion de Tresorerie dans la Religion Chinoise, "Mémoiresde l'Institut des Hautes Études Chinoises", Paris, vol. l, C. N. R. S., P. U. F., 1975.

LI Tso-hien, Kou Ts 'iuan Jovei (Colecção de moedasantigas), exemplar xilografado (séc. XIX).

MASPERO, Henri, Le Taoisme, Paris, P. U. F., Bibliothèque de Diffusion, 1967, vol. 58.

TCHEOU-LI ou Ritos dos Tcheou, tr. de E. Biot, Paris,1851.

WALERY, Arthur, Three Ways of Thought in Ancient China, London,1939.

NOTAS

1. Ming lu, literalmente possível de traduzir por "prosperidade da vida", ultrapassa este simples conceito. A noção de ming lu corresponde à ideia de que é "o Céu que coloca cada pessoa numa determinada posição social e lhe atribui uma certa longevidade". Daí cada um teria uma vida próspera não por exclusivo mérito mas por determinação superior.

2. 本命 — "emergir da vida" em tradução literal. A palavra 本 — "emergir" ou nascer — pressupõe aqui uma noção de ascensão, subida, como o Sol quando nasce e prossegue a sua rota até se pôr. Dai adoptarmos a tradução do autor chinês Hou ChingLang(1973).

3. Os papéis-moedas de ofertório começaram a aparecer na dinastia Tang durante o reinado de Tang Xuanzong (唐玄宗, 713-755). Atribui-se a Wan Yu a invenção destes papéis-moedas neste período.

4. HOU Ching Lang, Monnaies d'Offrandes..., Paris, C. N. R. S., s. d.

5. Papel grosseiro feito geralmente de bambu.

6. Alguns chineses consideram que esta Tríade corresponde aos Espíritos da Riqueza, da Longa Prole e da Longevidade.

7. Para outros autores, esta personagem corresponde à divindade promotora da riqueza.

8. A cabaça onde, dantes, se guardavam os remédios, é um símbolo de saúde e longa vida, tal como o pêssego, por homofonia do seu nome Dao com a "Via" ou "Caminho" dos tauistas.

9. Tu di é conhecido por vários nomes, que se encontram gravados em estelas de pedra, em diversos lugares de Macau, sobre pequenos altares de rua, e que eram, dantes, muito frequentes nas áreas periféricas ocupadas por hortas, onde sempre havia alguém que ali acendia pivetes. Os mais divulgados Espíritos locais eram Fu De Zheng Shen (福德真神) e Fu De Ci (福德祠).

10. Em Macau, nos anos 60, a maioria dos chineses não distinguia estes espíritos dos "espíritos-erradios", incluindo ambos no grupo dos tão conhecidos Gui.

11. Este número sete, relacionado com os períodos em que se considera que a alma regressa ao mundo dos vivos antes de passar a viver no Além, corresponde ao número de cabaias com que se vestia o morto. Este número, porém, podia variar de acordo com a hierarquia social, reduzindo-se apenas a três se o finado for jovem e aumentando para doze se aquele for ancião.

12."Festividade da Pura Claridade", uma das duas grandes festividades dedicadas ao culto dos mortos.

13. HOU Ching Lang, op. cit., p. 3.

14. O Livro dos Ritos (Li Ky), que só veio a ser publicado no reinado de Qianlong (1736-1795) com o título Edição Imperial dos Ritos (ou Cerimonial) Comentada e Explicada, foi compilada por Confúcio e seus discípulos no séc. VI a. C.

15. As várias formas de moedas metálicas.

16. Foram exumados em 1972 quarenta e quatro caixas cheias de imitações de moedas metálicas do tipo ban liang (半兩) — "meia onça", e outra caixa cheia de imitações de placas de ouro, com a inscrição yin jian (陰間).

17. Hou Ching Lang considera ming (命) sinónimo de sheng (生) ("vida, nascimento"), op. cit., p. 106.

18. A Ursa Maior é considerada a constelação que indica o Pólo Norte e o centro do Universo. Daí o seu grande poder como força do Mal.

19. É de crer que estas moedas sejam mais antigas na China, pois, ao que parece, já existiam no período das Seis Dinastias (220-589). Nas grutas Long Men (龍門 — Portas do Dragão) esta inscrita uma expressão corrente nessa época, referente a uma "moeda da felicidade, da virtude e da longa vida".

20. Cópia dos exemplares do primeiro sistema monetário utilizado na China.

* Doutorada pela F. C. S. H. da Universidade Nova de Lisboa; professora do Instituto de Ciências Sociais e Políticas, Departamento de Antropologia. Membro de várias instituições internacionais, v. g. a "International Association of Antropology".

desde a p. 291
até a p.