Antologia Documental

RELAÇÃO DA GRANDE MONARQUIA DA CHINA*

p.e Álvaro Semedo

Álvaro Semedo nasceu em 1585 ou 1586, nas proximidades de Portalegre, entrando em 1602 para o colégio jesuíta de Évora, onde mais tarde seria ordenado. Em Março de 1608 embarcou em Lisboa com destino às missões orientais, chegando a Macau dois anos mais tarde. Desenvolve a partir de então, e até 1636, intenso e incansável trabalho apostólico no interior da China, com um breve intervalo de quatro anos passados em Macau. Naquele ano, Semedo foi destacado pelos superiores para representar os interesses da missão chinesa na Europa, onde teve oportunidade de estanciar du-rante cerca de meia-dúzia de anos. De regresso a Macau, continuaria as suas actividades proselíticas em território chinês até 1657, data da sua morte em Cantão.

O padre Álvaro Semedo viveu durante mais de trinta anos em diversas localidades do Celeste Impé-rio, convivendo intimamente com gente chinesa oriunda dos mais diversos estratos sociais e adquirin-do, entretanto, um extraordinário domínio da língua chinesa. Por força das suas obrigações missionárias, assim, o jesuíta tornou-se um grande conhecedor da realidade chinesa. Os conhecimentos sínicos as-sim adquiridos permitiram-lhe redigir um longo e bem informado tratado sobre a China, que viria a ser publicado em distintas versões durante a sua visita à Europa. Assim, em 1642 era impresso em Lisboa um anónimo resumo da obra, com o título de Breve Recompilação dos Princípios, Continuação e Estado da Cristandade da China. Trata-se de um raríssimo folheto de 12 páginas, de que não se conhece hoje qualquer exemplar. No ano seguinte, o historiógrafo português Manuel de Faria e Sousa (1590-1649), que obtivera uma cópia integral do manuscrito de Semedo, fazia imprimir em Madrid uma versão em castelhano, o Imperio de la China & Cultura Evangelica en El por los Reli-giosos de la Compafiia de Jesus. Entretanto, o nosso missionário chegava a Roma, onde, nesse mesmo ano de 1643, deu à estampa uma versão italiana da obra, a que deu o título de Relatione della Grande Monarchia della Cina. É esta, sem dúvida, a edição mais rigorosa e mais valiosa, já que foi composta sob a atenta supervisão do autor. Mais tarde, a Relação de Semedo haveria de obter um extraordinário sucesso editorial, pois seria repetidamente editada em vários países europeus. A edi-ção portuguesa integral da obra, em retroversão da versão italiana, apenas seria impressa em 1956, numa tradução de Luís Gonzaga Gomes.

A Relação da Grande Monarquia da China apresentava um retrato muito extenso e muito ri-goroso da sociedade chi-nesa de meados do sécu-lo xvII, pois, ao basear-se na própria experiência do autor e nos seus lar-gos conhecimentos de língua e literatura chine-sas, ultrapassava as gran-des limitações de outros portugueses que anteri-ormente tinham tentado descrever o Celeste Im-pério a partir do exteri-or. Como o próprio Se-medo afirmaria, antes dos jesuítas entrarem em território chinês, dele só se conhecia "aquilo que deixa escorrer, como por excesso, pelas faldas da região de Cantão". O tre-cho a seguir transcrito apresenta uma descrição informadíssima do siste-ma de exames chineses, tema que até então sus-citara enorme e insatis-feita curiosidade entre o público europeu interes-sado em assuntos ultra-marinos.

Fonte utilizada: SEME-DO, Álvaro, Relação da Grande Monarquia da China, tradução de Luís Gonzaga Gomes, Macau, Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Fundação Macau, 1994, pp. 81-100. Transcrição parcial. O texto foi ligeiramente adaptado, introduzin-do-se entre parênteses rectos algumas palavras para esclarecer passagens mais obscuras.

Álvaro Semedo. Gravura retirada de The History ofthat Great and Renowned Monarchy of China, do Padre Álvaro Semedo, Londres, 1655; in LACH, Donald F., VAN KLEY, Edwin J., Asia in the Making of Europe, Chicago, 1993, vol. 3, L. 1, est. 66.

CAPÍTULO 7

DO MODO DE ESTUDAR, ESCREVER

E SER ADMITIDO AO EXAME

Os chineses dedicam-se ao estudo, desde idade muito tenra. Para os principais existem alguns li-vros simples com textos respeitantes às virtudes, bons costumes e obediência aos pais e às pessoas idosas, e outros assuntos semelhantes. Passados poucos meses dão-lhes obras dos clássicos, que es-tudam de cor, texto e glosa juntos, como se fossem a Ave-Maria. Vêm depois as explicações do mes-tre. As lições são igualmente reproduzidas de cor pelos alunos e de costas voltadas para o professor, e assim que chegam à banca deste, deixam lá ficar o livro aberto. É por este método que dão as lições, não sendo usado entre eles outro a não ser este de poixu, 1 que quer dizer "voltar as costas ao livro". Procedem assim para que se não socorram com os olhos da ajuda do compêndio. Estudam com tanto rigor, mesmo os mais pequenos, que a ninguém é permitido qualquer entretenimento ou recreio.

Escrevem todos os dias qualquer coisa. Colocam o modelo dado pelo mestre debaixo do papel, tal como [nós] fazemos com a pauta falsa, e, como o papel é fino e transparente, vêem-se as letras [atra-vés dele], de forma que o rapaz que anda a apren-der vai facilmente decalcando as letras que vê. De-pois de exercitar alguns dias, fica o aluno com a mão ajeitada ao estilo do mestre, que vai desta for-ma arremedando. Por isso, depois de praticar este exercício durante algum tempo, escreve uma linha sobre o modelo sotoposto do mestre e outra na par-te em branco, que lhe fica ao lado, pois, como dis-semos, as linhas são dispostas de alto a baixo, até que, imitando já bem o modelo do mestre, deixa de escrever sobre ele. Enfim, esforçam-se imenso por conseguirem boa mão na escrita, porque nos exa-mes, onde não se copiam composições, basta ve-rem letra mal feita para reprovarem sem lerem. Na verdade não se convencem que possa haver quem, sabendo muito, escreva e leia mal, se bem que haja exemplos do contrário, pois dizem que o excelente doutor Navarro escrevia mal e o nosso Bartolomeu Filipe, homem singular, de tal forma [o fazia também], que, com dor universal dos doutos, se perde-ram as suas doutíssimas obras, por não haver quem as soubesse ler, sendo elas muitas, diversas e admi-ráveis, como atestam as que conseguiram escapar deste perniciosíssimo caos.

Ora os chineses, depois de terem aprendido tão grande quantidade de letras e de adquirirem conhe-cimento dos livros, são industriados nas regras de composição. Entregam-lhes, primeiramente, algu-mas desordenadas, para as irem pondo em ordem, depois abreviadas, e na devida ocasião apenas o ponto ou tema, como se faz nos exames. E como de três em três anos se imprimem as composições da-queles que tomaram grau, exercitam-se muito com elas, decorando-as quanto podem.

Não têm universidades onde estudem juntos, po-rém, todos aqueles que podem tomam mestre para ensinar em casa os seus filhos, tendo às vezes dois, se as idades destes forem muito diferentes. Os mes-tres acompanham-nos sem interrupção e ensinam-lhes não somente as letras e as ciências como tam-bém tudo quanto diga respeito à polícia civil, bons costumes morais e a forma de se proceder em todas as coisas.

Tratando-se de gente de categoria, o aluno nun-ca sai sem o seu mestre, que serve para o instruir nas cerimónias e boas maneiras, particularmente nas visitas, onde, por serem actos de cerimónia em que são muito exigentes, é coisa fácil de errar se o mes-tre o não ajudar. E não há dúvida que este modo é o mais honesto para a reputação, mais estável para o estudo e menos sujeito a conversas e companhias venenosas, muito férteis de costumes que destroem o decoro dum cavalheiro, e ainda mais na China, onde quem gozar de má fama nisso, não pode ser admitido ao exame.

Para os rapazes há muitas escolas, porém, só para a gente ordinária. Há também boas escolas onde os mestres não recebem mais que os que são suficien-tes, para que os alunos não fujam como se não ti-vessem vindo, conforme sucede na Europa, onde cada mestre se esforça por ter muitos, a fim de ob-ter mais proventos, em vez de se comunicar com todos para melhor os ensinar, porque, no fim de contas, um homem, por mais hábil que seja, é so-mente um, donde resulta conhecerem alguns a es- cola sem que esta os conheça. Tal dano é evitado na China. Cada um aceita o cargo que pode desempe-nhar e assim o mestre aceita tantos alunos quantos consiga ensinar bem. Acompanha-os com gravida-de todo o dia e eles não se afastam do mestre senão para comer; e se alguns dos alunos moram longe, trazem-lhes de comer para a escola.

Os dias de férias são somente quinze: na entrada do ano novo e alguns, poucos, na quinta e sétima luas. E como não têm dias de guarda, todo o resto do ano é uma aplicação ininterrupta ao estudo, tão grande é o conhecimento que têm de que é neces-sário trabalhar para saber. E na verdade é coisa raríssima ter alguém fama de douto sem muita fa-diga.

Quando já são mais crescidos e tenham saído des-ses rudimentos, não podendo os seus pais dar-lhes mestres particulares, juntam-se alguns parentes e vizinhos para contratarem um mestre, que come cada dia em casa de cada um, cobrando, porém, de todos o salário, que não é muito, sendo mais ou menos conforme as terras. Com o que vem a ter, por ano, dez a vinte escudos, aos quais se acrescen-tam os mimos e dádivas que recebe em dias de fes-ta e que correspondem aos nossos presentes de Natal, tais como meias, sapatos e coisas semelhan-tes.

O comer, se bem que seja em casa de pessoas muito graves, há-de ser com o pai do aluno ou, quan-do menos, com o próprio aluno. Muitas vezes os alunos não estudam em casa dos pais, havendo ou-tras excelentes [casas] para o estudo, ou dentro ou fora da cidade, mas não longe. E quando podem fogem das suas [casas], sabendo bem que a multi-dão de gente e o respeito pelo estado da casa são inimigos capitais do estudo, donde resulta, noutros reinos, ficarem muitos filhos de nobres e senhores grandíssimos ignorantes, como se a maior grande-za não consistisse no maior saber.

São inumeráveis os mestres vulgares, porque como são muitos os que pretendem o grau e poucos os que conseguem alcançá-lo, adoptam a maioria a profissão de mestres, de forma que as aulas do ano vindouro têm de ser contratadas no princípio do decorrente. Porém, nas casas principais, geralmen-te, só são mestres os graduados em bacharéis, que continuam entretanto estudando e pretendendo ou-tro grau mais elevado.

Depois de terem conseguido o grau, não obstante ser apenas de bacharel, deixam de reconhecer mais mestres. Formam então, entre eles, uma espécie de academias, onde se reúnem algumas vezes por mês. Um deles abre um livro e apresenta um ponto, que é composto por todos, conferindo depois entre si as suas composições.

Se bem que não tenham universidades e escolas particulares, têm-nas todavia gerais, espaçosíssimas e sumptuosas, com todos os apetrechos e equipa-mentos para os examinadores e examinandos, os quais formam uma multidão admirável. São as que existem nas cidades e vilas, pois as que são própri-as e excelentes encontram-se nas metrópoles das províncias, onde se fazem os exames dos licencia-dos. Estas estão instaladas em edifícios de grande-za proporcionada à multidão de gente que concorre a esses exames. A disposição de quase todas é a mesma. As de Cantão não são grandes, pois que nesta província não dão grau senão a 80 indivídu-os, ao passo que noutras se confere a 100 [e] até [a] 115, o que constitui grande diferença.

Todo o edifício é rodeado de uma muralha, e para o sul existe uma grande e sumptuosa porta, que fica à testa duma ampla rua, para a gente que ali se jun-ta. Tem de largura 150 passos geométricos de cinco pés. Não existem ali casas, mas apenas alpendres com bancos para capitães e soldados, que têm de estar presentes durante todo o tempo do exame, para fazerem guarda. Na primeira entrada aparece um grande pátio, onde se encontram os mandarins de primeira categoria com gente de guarda na parte interna. Segue-se imediatamente um outro muro com uma porta, que, tal como nas nossas igrejas, se abre e fecha em duas peças, por não ser convenien-te abri-la toda. Estando aberta, vê-se um grande espaço e nele um tanque de água, que vai dum lado a outro, sendo atravessado por uma ponte de pedra de arquitectura perfeita, e que termina numa outra entrada, cuja porta é guardada por capitães, que não deixam entrar ou sair pessoa alguma sem ordem expressa dos oficiais. Sucede-se a esta porta um outro espaço enorme, tendo dum e. doutro lado casinhotos para os examinandos, situados a oeste e a leste. Cada fileira tem cerca de 150 casinhotos, com três palmos e meio de largura cada um e qua-tro e meio de comprimento. A sua altura é da esta-tura de um homem. São cobertos por um terraço, em vez de telhas, tendo, em cada um, duas tábuas, uma fixa para servir de banco e outra móvel para mesa de escrever. Esta, depois de ter sido usada para escrever, serve a seu tempo para nela se tomarem as refeições. Entra-se nesses casinhotos e sai-se por uma ruazinha tão estreita que não cabe mais de uma pessoa, e mesmo assim muito incomodamente. As portas desses casinhotos duma fileira dão para o tardoz doutros.

Na ocasião dos exames, encontra-se um soldado em cada um dos casinhotos, sentado por baixo da mesazinha, para guardar e servir o examinando, e dizem que com um pau entalado na boca para que não fale e incomode, porquanto se tal remédio esti-vesse ao seu arbítrio não é crível que cumpra intei-ramente a sua obrigação.

Na extremidade daquela larga rua de que falámos, ergue-se sobre quatro arcos uma torre com balaus-tradas exteriores por todos os lados, tendo dentro um salão onde se encontram algumas autoridades e pessoas de respeito, que ali estão para darem conta do que se passa em todos os casinhotos que lhe[s] ficam diante dos olhos.

Nos quatro ângulos, têm quatro torreões com os seus sinos ou tambores, que são tocados se houver qualquer novidade ou desordem, para que apare-çam aqueles a quem compete aparecer. Seguem-se a esta torre outros edifícios com uma sala maior, guarnecida de bancos, mesas e todos [os] outros equipamentos necessários para o fim que nela se efectua, que é a primeira mão ou o primeiro exame de composições, ao qual assistem as autoridades mais ordinárias, que ocupam aqueles assentos.

Entrando nesta estância pelas portas que dão para o norte, encontra-se um pátio e a seguir outra sala da mesma forma, sendo, porém, os seus adornos mais preciosos e destinando-se ao presidente e às autoridades mais importantes. Seguem-se igualmen-te outros aposentos para estas mesmas personagens e para todas as outras autoridades e examinadores.

Cada aposento tem uma sala com mesas e assen-tos, para conversar e comer; um compartimento com cama, coberta com o seu docel de seda, e outras peças de mobília caseira feitas para o fim a que se destinam. Tem ainda um pátio com quintalinhos e árvores pequenas, que está ligado a outras viven-das mais pequenas, para notários, secretários, pa-jens e outras autoridades e suas famílias. Há além disso compartimentos para mandarins e ministros inferiores, e outros comuns para a multidão restan-te, estando, porém, tudo bem disposto e maravilho-samente bem ordenado.

Antigamente não se admitiam os cavalheiros e parentes do rei em qualquer espécie de cargo, nem aos exames, aqueles que estudavam para se gradua-rem. De [há] vinte anos para cá, após muitas instân-cias suas e oposições dos mais, concedeu-se-lhes o privilégio de serem admitidos a todos os exames, sendo obrigação dos examinadores dar o grau a al-guns mas poucos. Admite-se nos exames toda a gen-te do povo de qualquer espécie e ocupação que seja, excepto os infamados como são os criados dos mandarins, não os da sua casa mas os que servem nos tribunais, os esbirros, os farfantes, os verdugos e os guardiões de mulheres públicas, chamados vamos. Não são similarmente admitidos os tachados de maus costumes enquanto não constar a sua emenda.

São três os graus: sieuçai, kiugin e cinfu; e para compreendermos, podemos dizer que a seu modo correspondem aos nossos bacharéis, licenciados e doutores.2 Cada um tem as suas insígnias adequa-das. Dos simples estudantes sem graus não se faz caso, nem têm qualquer privilégio senão o de se-rem tratados como nobres, e assim os respeita o povo como lustre das suas terras, tão estimado é o saber entre eles que sabem apreciar aqueles que merecem a verdadeira estima.

CAPÍTULO 8

COMO SE FAZEM OS EXAMES

E SE CONFEREM OS GRAUS

É curioso o modo como entre essa gente se fa-zem os exames. É necessário supor que esses exa-mes, desde o primeiro dos simples estudantes até ao último dos doutores, são a coisa de maior im-portância desse reino, porque deles dependem os graus; destes, os cargos públicos; e dos cargos pú-blicos, as honrarias e os proventos, único objectivo almejado com suma atenção pelos mortais.

Comecemos do princípio, isto é, desde os [exa-mes] que prestam os meros ou simples estudantes.

Antes de se realizarem os exames, divulga-se a notícia de que eles se vão efectuar, até que por fim tomam pública a sua realização, pois, como os graus que se dão são poucos e muitos os concorrentes, não convém admitir tão grande multidão no exame para cancelários e, para que não sejam admitidos, juntamente, os aptos e os inaptos, há ordem na pro-víncia para que se habilitem aqueles que hão-de lograr a admissão, em dois exames preliminares, na cidade ou na vila. Deste modo, cada magistrado, na sua povoação, anuncia publicamente a realiza-ção dos exames e marca um dia para se reunirem os estudantes do seu distrito; e como, às vezes, o lugar geral da universidade não é suficiente para reunir nele tanta gente, enchem o campo de bancos e me-sas e ali se habilitam para os exames. O magistrado dá o ponto sobre o qual os examinandos hão-de compor e as provas começam a ser prestadas pela manhã, podendo durar até à tarde. Fazem somente uma composição, e à medida que vão acabando vão-na entregando à autoridade própria, que, depois de todas juntas, examina-as demoradamente e com diligência. Escolhidas as melhores, os nomes dos seus autores são inscritos numa lista que é afixada na parede do palácio do magistrado, e é por ela que se vem a saber aqueles que ficaram habilitados a prestar exame supremo. A esta habilitação se cha-ma "ter o nome na vila". Os que não estão mencio-nados nesta lista regressam a suas casas.

O magistrado leva pessoalmente, ao governador da cidade, as composições que mereceram aprova-ção, e assim procedem todos os magistrados do país, cada um na sua jurisdição e nas vilas de cada cida-de, pois cada cidade se divide em duas vilas com os seus magistrados particulares, além do governador da cidade. Estando juntos todos os estudantes já habilitados das vizinhanças, entram estes no lugar geral da cidade para serem novamente examinados pelo seu governador, que lhes dá novo ponto, da mesma forma como se procedeu na vila, com a di-ferença de que é feito com maior atenção, rigor e vigilância, e menos intercessões, que, por distorcerem a verdade, se encontram por toda a par-te. Destas provas escolhe o governador até duzen-tas e entrega-as ao cancelário, que, submetendo os examinandos pela terceira vez à mesma experiên-cia e quase nos mesmos termos, escolhe entre 20 e 25, para lhes dar o grau. Joeirados assim muitos por esses três crivos, e de cada vez mais apertadamente, acabam por restar poucos. Ali lhes dão as insígnias, os privilégios e as advertências da sujeição em que ficam, não somente do cancelário, mas ainda dos prefeitos, dos quais existem dois em cada cidade e se chamam hioquon, 3 isto é, "mandarins de ciência". O seu ofício é de espiar o procedimento de cada um e castigar os que se por-tam mal. Além disso, todas as vezes que desejam, examinam novamente, podendo fazer em particu-lar, e fazem-no.

O cancelário é obrigado, por dever do seu cargo, a percorrer toda a província e a convocar nas cida-des todos os bacharéis antigos e examiná-los, para verificar se estudam ou se se entregam a coisas alheias à sua profissão. Premeia os que são aplica-dos e castiga os ociosos desta forma: reunidos no palácio geral, dá-se-lhes o ponto para a composi-ção e, uma vez terminada, dividem-se os papéis em cinco decúrias ou classes. Os da primeira recebem louvores e prémios; os da segunda, a mesma coisa ou pouco mais ou menos; os da terceira são passa-dos em silêncio; os da quarta, castigados; e os da quinta, despojados do grau, insígnias e privilégios, ficando como simples populares, embora com a faculdade de voltarem ao exame. De entre os da primeira seleccionam-se os mais aptos, em número de 40 em cada cidade e 20 em cada vila, e se bem que não chegue a custar oito escudos cada um, cus-ta ao rei, pelo menos, trezentos mil, em todo o rei-no. Este trabalho é quase imenso, pois que são 444 cidades e mais de 1150 vilas. Isto é o que obriga o grau de bacharel, já para o conseguir, já para se sus-tentar e já para ser reconhecido. Tratemos agora dos licenciados.

O exame destes é feito todos os três anos, na me-trópole da província, e no mesmo dia em todo o reino, que vem a ser a oitava lua, a qual recai, ge-ralmente, no fim do nosso mês de Setembro e prin- cípios de Outubro. O exame dura 25 a 30 dias, se bem que os examinandos se submetam a ele ape-nas três dias, isto é, em 9, 12 e 15. Os principais examinadores são as autoridades superiores de toda a província, que têm muitas outras do distrito para ajudantes, sendo, porém, superentendidos pelo pre-sidente, que sai da corte para ir à sua província. Todos estes são os primeiros a congregarem-se no palácio geral, e com eles os seus secretários, escre-ventes e outra gente de guarda e de serviço, bem como médicos, para o que possa acontecer, pois que enquanto dura este acto não é permitida a entrada ou a saída a pessoa alguma.

Da parte de fora fica um magistrado de vigia, para prover com o que de dentro se pede. Disso só está isento o cancelário, por ser o mestre comum de to-dos os bacharéis. Alguns são tão infalíveis no seu saber que em Kiangsi houve um que, depois de os examinandos terem ficado encerrados, fez uma lis-ta daqueles que haveriam de alcançar o grau, e ten-do-a afixado em público só errou em 6 dos 115 que foram seleccionados.

Encontrando-se já reunidas as autoridades, apre-sentam-se os examinandos, que nas províncias e nas grandes universidades excedem 7000, às nove da manhã, com ordem e não à porfia, como às vezes acontece nos exames de bacharéis, com acidentes descompostos e indecorosos, e até mortes, como presenciei na cidade de Sumkiam, na província de Nanquim e na de Kiangsi.

São todos revistados pelo que trazem consigo, e por qualquer papel que encontrem em algum deles logo o excluem. Para que não seja fastidiosa a bus-ca, são todos obrigados a trazerem o cabelo solto até baixo, as pernas nuas, com sapatos feitos de corda, o fato sem simulações ou pregas de qual-quer espécie, ao pescoço os pincéis (já dissemos que são estes as suas canetas) e o tinteiro. Uma vez entrados, recolhem-se àqueles casinhotos de que falámos atrás, cada um no seu, com o tal soldado seu guarda, que fica a seus pés debaixo da banca. Fecham-se então as portas, dispõe-se a gente da guarda e os soldados, por dentro e por fora, com tanto rigor que enquanto dura o exame ninguém pode passar por aquela rua.

Expõem-se imediatamente os pontos que o presi-dente redigira previamente, com caracteres muito grandes, em tábuas brancas de charão, as quais são penduradas publicamente nos quatro cantos da en-cruzilhada dos casinhotos, de forma a poderem ser vistas por cada um dos examinandos do seu pró-prio cubículo.

Os pontos são sete: quatro dos Quatro Livros do seu filósofo,4 sendo estes pontos comuns para to-dos, e três de cada kim, 5 ou seja, de todas as partes, aplicando-se, porém, cada examinando apenas numa só. Sobre cada ponto o examinando terá de redigir breve, elegante e sentenciosamente, e assim cada um acaba por fazer sete composições com le-tra muito clara, bem formada e sem abreviaturas. Se emendou nelas qualquer coisa, anota em baixo que em tal coluna, existe tal emenda.

Os examinandos são obrigados a fazer duas cópi-as, sendo uma firmada com o seu próprio nome e os apelidos do pai e do avô, acompanhados de um pseudónimo que cada um escolhe, bem como os anos da sua idade. Esta cópia é fechada, escreven-do-se na parte de fora apenas o pseudónimo. As cópias abertas são imediatamente entregues às au-toridades que para este fim foram nomeadas, e que vão saindo. As fechadas são guardadas, segundo a sua ordem numérica, em lugar determinado, sendo as abertas entregues aos escreventes, que as copi-am com letra encarnada, para que a própria não seja reconhecida, sendo confiadas aos examinadores, que as repartem entre si para verem e examinarem, nos dois dias seguintes, com tão grande rigor que qualquer erro é motivo de reprovação, dando assim com isso um notável exemplo.

De entre as suas letras existe uma chamada má, 6 que quer dizer "cavalo", sendo composta de uma linha perpendicular, atravessada por outras três, e tendo por baixo um traço, que termina com um ra-bisco semelhante ao nosso S. Nesse rabisco figu-ram quatro pontos, um seguido dos outros. No caso de se pretender abreviar, são esses pontos substitu-ídos por uma linha. Deste último modo o empre-gou um examinando na sua composição, que, não obstante estar óptima, só pelo facto de ter deixado de escrever essa letra da primeira forma, o exami-nador despachou-a com os seguintes dizeres: "O cavalo sem as quatro patas não pode andar".

Depois desses dias, aparece uma grande lista na parede exterior, a qual contém os nomes daqueles que cometeram qualquer erro nas suas composições, servindo de aviso para que voltem para as suas ca-sas, o que não demoram a cumprir, em parte por vergonha e em parte porque não podem fazer os outros exames que se seguem.

Fazem pela segunda vez o exame aos doze do mês, e com este se procede da mesma forma que no anterior, com a excepção de que dão apenas três pontos acerca das dúvidas que podem ocorrer em matéria de governação, para compreenderem o modo como deverão proceder nelas e aconselhar o rei. Também, depois de bem examinadas as com-posições deste exame, se excluem muitos, dispen-sando-os do terceiro exame, que é efectuado em quinze do mês, sendo igualmente apresentados três pontos respeitantes às leis e estatutos do reino.

Recolhidas as composições deste último exame, o palácio geral é encerrado durante quinze dias, pouco mais ou menos. Entretanto, as provas são revistas e seleccionadas as melhores, sendo reco-lhidas somente aquelas que, na realidade, merecem o grau, as quais são entregues ao presidente, que faz o último escrutínio e as dispõe por ordem, con-forme os lugares, por existir grande diferença em serem as primeiras, tanto por prestígio como para o provimento.

Terminada esta última diligência, que é feita com as cópias das composições, abrem-se, imediatamen-te, as que estavam fechadas, sendo postas de parte para se conferirem os pseudónimos com os nomes dos autores, os quais se vão escrevendo conforme a sua ordem e classe. Esta lista é exposta aos olhos de incontável gente, que já se encontra esperando, quer pelos filhos ou irmãos, quer pelos parentes ou amigos, quer pelos seus patrões ou parciais, ou quer, simplesmente, por gosto de um tal espectáculo.

Na ocasião em que esses nomes, escritos de alto a baixo com enormes caracteres, num papel espes-so de dois palmos de largura, estão sendo expostos, já se vêem prontos, na parte de fora fronteira aos portões, outros tantos cavalos, que deverão servir aqueles que hão-de receber o grau de licenciado, trazendo os seus números de primeiro, segundo, etc., e a cada criado dos que têm cavalo se vão distribu-indo fichas com os nomes dos graduados e os nú-meros dos lugares que lhes cabem. Estes partem correndo a buscá-los, não sendo fácil encontrá-los, porque estão todos escondidos, mas os criados in-dicam-lhos e pedem gratificações, ficando ao seu serviço, enquanto eles não partem para frequenta-rem a corte.

Avisados os que alcançaram o grau, vêm todos a cavalo ao palácio geral, segundo a sua ordem, onde o provedor e o ministro da câmara real os estão aguardando com as insígnias das suas dignidades, barrete, toga, borla e botas, que calçam, solenemen-te, e assim paramentados vão imediatamente apre-sentar os seus agradecimentos ao presidente dos exames, que os recebe de pé e os trata já como seus iguais, sendo, porém, ainda seu mestre, pois eles continuam a ficar-lhe tão dependentes e com res-peito tão extraordinário que é coisa inacreditável. Tudo se encontra desta forma tão de acordo entre eles como se fossem irmãos, e assim denominam-se irmãos de exame e como tais se respeitam uns aos outros.

Seguem-se depois várias cerimónias, e a elas vá-rios convites feitos pelas autoridades todas juntas. Se bem me recordo são três, todos esplendorosos, sendo, porém, o terceiro, proveitoso, porque põem para cada um três mesas, a primeira com vários manjares, a segunda com galinha, caça e outras car-nes, mas tudo cru, e a terceira com frutas secas; e enviam tudo isso para as suas casas, para que o con-sumam e gozem a seu p∞Rrazer.

Depois desses indivíduos terem alcançado o grau ficam, imediatamente, importantes, honrados e ain-da venerados, e, não sei como, logo ricos. Já não põem mais o pé em terra, pois que se lhes faltarem cavalos sobram-lhes as liteiras. E não somente o graduado, mas toda a sua família muda de situa-ção, pensando em comprar as [casas] vizinhas e erigir palácios. Causará maior admiração a quem souber que muitos vêm das suas terras a pé para estes exames e com o traje que hão-de usar na cida-de às costas, tendo talvez acabado de limpar os de-dos do barro com que estavam reparando as suas modestíssimas casas, como vi alguns em Nanquim.

Acabadas essas solenidades, tratam os graduados de passar logo para a corte para se doutorarem, e se quiserem governar, são logo providos. Porém, se aceitam o governo, perdem o direito ao exame de doutor, motivo por que não há ninguém que o não faça primeiro. E se não forem bem sucedidos e já idosos e quiserem passar à frente, aceitam o cargo, apenas com o título de licenciado, sendo raro che-garem a postos mais elevados, se bem que já se te-nha visto alcançarem alguns o cargo de vice-rei, devido à sua forma de governar.

Para esta jornada que fazem à corte dá-se a cada um, da câmara real, oitenta escudos, para ajudas de custo, sendo coisa certa, conforme me afirmaram chineses dignos de fé, que todas as despesas juntas que o rei faz com um novo licenciado até o pôr na sua corte montam a mil escudos, o que, para todo o reino, segundo o meu cálculo, perfaz um milhão e meio de escudos. É quanto custa a um príncipe for-mar homens sapientes e capazes para o governo da sua coroa. É este o prémio que se lhes concede para que aspirem suficiente doutrina.

Os que de novo se fazem em todas as províncias, de três em três anos, são pouco mais ou menos mil e quinhentos. Não é isto um grande número relati-vamente aos que procuram alcançar o grau em to-dos os palácios gerais. No de Cantão, que é dos mais pequenos, onde não existem mais que 7050 casinhotos, as composições do primeiro dia mon-tam a 96148, donde se pode inferir quão admirável é o número dos pretendentes. Dedicamos agora um capítulo particular ao grau superior.

CAPÍTULO 9

DO GRAU DE DOUTOR

O grau de doutor é concedido somente na corte, na segunda lua do ano, que vem a ser o nosso mês de Março. Procede-se nisso da mesma forma como se observa no do licenciado, com a excepção de que as insígnias são diversas e os examinadores de maior reputação, pois que os examinadores princi-pais são do Colégio Real, que chamam de Hanlin, 7 sendo o presidente sempre um colao, 8 a maior dig-nidade deste império depois do rei, posto que nesta presidência se procede de modo diverso, visto que neste acto os membros do Colégio Real têm voto definitivo, isto é, repartem entre eles as composi-ções depois da primeira selecção, e as que tiverem sido escolhidas e aprovadas por eles ficam aprova-das, de modo que o presidente as não pode repro-var. São admitidos neste exame todos os licencia-dos do reino, tanto os antigos como os modernos.

Antigamente não precedia exame para se habili-tarem nos exames de doutores. Porém, como entre as suas composições se encontravam muitas com as quais se perdia o tempo sem fruto, motivo que tornava as composições incapazes não só para o grau de doutor como também para o aspirar, há menos de quinze anos introduziram-se os exames de habi-litação, e assim se efectuam presentemente, resul-tando disso muitos não serem admitidos, com gran-de vergonha e sentimento, servindo-lhes, porém, de útil lição, para não desperdiçarem o tempo em di-versões e banquetes.

Neste exame apuram-se 350 examinandos, aos quais se confere o grau. As suas insígnias, com a excepção das botas, que para todos são iguais, di-ferem muito das dos licenciados, tanto no valor como na decoração, tendo a mais uma cinta. Eles servem sempre, no governo que vão conseguindo, e a cinta vai aumentando de preço quanto ao mate-rial, à medida que eles vão avançando de posto. Recebido o grau e conferidas as insígnias, acorrem todos ao palácio real, e numa sala para este efeito preparada são outra vez examinados com uma só composição, cujo ponto diz respeito ao governo ou provisões que hão-de passar. Antigamente o rei as-sistia em pessoa a este exame, porém, hoje compa-rece apenas um colao em seu nome.

Concluído o exame, passam a outra sala, onde se encontra o rei, no seu trono, ao qual os novos dou-tores fazem, ao entrar, as suas devidas reverências, apresentando-lhe logo os colaos os três primeiros classificados. O rei, com as suas próprias mãos, entrega um prémio a cada um, e o primeiro a quem o dá fica sendo o principal de todos, com um título particular, como também o terão o segundo e o ter-ceiro. Àquele chamam chuam yuen, a este pham yuen e a essoutro thoanboa. São de tanto apreço e fama, que depois do exame, em poucos dias, não existe em todo o reino pessoa alguma que não os conheça por esses títulos e não saiba ao mesmo tem- po os nomes de seus pais e da sua terra, o que é coisa maravilhosa, num país de tão grande vasti-dão. A honra é tão grande que corresponde à dos nossos duques e marqueses, já pelo respeito com que são tidos em todo o reino, como pelos lugares para os quais são nomeados para governar, sendo os mesmos que antigamente ocupavam os senho-res, cuja autoridade correspondia, por outro estilo, a esta que está hoje em vigor.

Terminadas estas cerimónias, há ainda um outro exame, mas voluntário, sendo todavia raros os que a ele se submetem. Dá-se-lhes um novo ponto, fa-zem as suas composições e por elas se apuram os que hão-de ser admitidos no Colégio Real. Esco-lhem-se somente trinta dos melhores e despedem-se cinco, que só pelo facto de terem entrado nesse número são providos vantajosamente com cargos de governo. Os vinte e cinco que ficam, para os quais há palácios especiais, onde se alojam, pas-sam a ser alunos sob o magistério de um colao, que quase todos os dias os obriga a fazer composições e a exercitar-se em tudo o que toca às suas letras e ao governo especulativo. Dura isto até outros exa-mes, mediante os quais entram novas pessoas, sa-indo as velhas, e pelos seus graus e antiguidade vão alcançando postos mais importantes na corte, pois que, fora dela, a não ser que sejam presidentes de exames ou exerçam por ordem do rei alguma ocu-pação especial e de pouca duração, não saem nem sequer para vice-reis, por tal cargo ser inferior para eles. Só os que pertencem a este Colégio podem ter acesso à dignidade de colao.

Todos os doutores novos são empregados nesse ano, se lhes não faltar a idade. Serve para prover tão grande multidão de empregos o efectuar-se nesse mesmo ano uma visita geral a todo o reino, o que obriga a pôr fora muitos mandarins velhos, [de for-ma] que para os novos se abrem muitos lugares. Como este grau é de enorme importância, são in-críveis as visitas, as congratulações, as festas, os presentes que em tais ocasiões se fazem. As recom-pensas para a primeira notícia atingem muitas ve-zes duzentos até quinhentos escudos. Sendo nome-ado entre os primeiros, isto é, entre os três referi-dos, os parentes ou amigos fazem erigir na sua ci-dade ou vila arcos triunfais, não de madeira revestida de colmo ou cartão, mas de mármore puro, sumptuosamente lavrado, lendo-se no frontão o nome do indivíduo a quem são dedicados, o posto que alcançou e o ano de doutoramento. Em suma, o mundo, no substancial, é em toda a parte o mesmo, sendo ilusório pensar que aquele que não for pode-roso há-de ser admirado, escutado ou recebido com aplausos, pois, ou o será por zelo à verdade ou por lisonja, com interesse.

NOTAS

* 1.a edição: Roma, 1643.

1 Do chinês beishu.

2 O autor refere-se aos graus de xiucai, juren e jinshi, respecti-vamente.

3 Jiaoguan, designação de "oficiais envolvidos em funções educativas".

4 Isto é, Confúcio (552-480 a. C.). Os quatro livros são os "Dis-cursos e Diálogos" (Lun Yu), a "Suprema Educação" (Da Xue), o"Meio Constante" (Zhong Yong) e "Mêncio" (Mengzi).

5 Juan, isto é, "volume ou secção".

6 Ma (∞ ®) ou "cavalo".

7 Hanlinyuan ou Academia Imperial.

8 Colau (chinês gelao): Grande Secretário.

desde a p. 179
até a p.