Linguística

Uma visão quinhentista de Pequim: o mito da Cidade

Maria Leonor Buescu*

InJ. B. Du Halde, “Description…de l'Empire de la Chine et de la Tartarie Chinoise”(Haye, MDCCXXXIV).

Dentro da multiplicidade de leituras que permite, a obra de Fernão Mendes Pinto é, não só um lugar de Encontro do Europeu com o Universo Asiático mas também o lugar da Demanda de um Imaginário e da verificação de uma expectativa. Não de um Imaginário cristalizado a partir, por exemplo, da obra do inglês John de Mandeville, redigida por volta de 1360, ou do Itinerarium do franciscano Wilhelm von Ru-bruk, enviado por S. Luís de França a Caracorum, capital da Mongólia, ou ainda dos relatos de Pian del Carpino e de uma pequena hoste de monges itinerantes que, durante a Idade Média, atingiram o Extremo Oriente e regressaram. Relatos cristalizados que culminaram, certamente, com a obra de Marco Polo que alimentou a esperança e o desejo da Europa medieval. É, pelo contrário, a apresentação ou representação de um Imaginário que tem como referente a própria face, perturbadora do Real, que constitui a matéria, o suporte e o motivo da Peregrinação.

Nesta abordagem particularizada não se pretende senão tentar definir o modelo segundo o qual surge, aos olhos ávidos mas ingénuos do homem quinhentista, de que tomámos como paradigma Fernão Mendes Pinto, a cidade (ou as cidades) oriental.

Não nos interessarão, e não pretendemos estabelecer, os limites ou fronteiras da veracidade, no seu sentido positivo, como tentou, entre outros, Jordão de Freitas, nem proceder à identificação dos lugares, ou demonstrar essa impossibilidade de saber se sim ou não Fernão lá esteve, ou ainda se, na obra publicada trinta e um anos depois da sua morte, são detectáveis as marcas duma manipulação. Partimos, antes, de um princípio, do qual não nos afastaremos, ao encarar esta obra, caudalosa e talvez inclassificável em termos de género, como uma obra literária, com tudo o que implica de criatividade, ficção e liberdade no domínio do imaginário. Como obra literária, cuja temática é a Viagem, ela surge, em primeira instância e de imediato, como representação de uma transformação qualitativa, accionada pelo Homem, agente, motor e objecto de transformação. E, dentro desse esquema, tomado como uma exemplaridade narrativa, creio que podemos concluir que ela constitui a transformação do homem rural no homem urbano e que, em última análise, a viagem se faz em busca da Cidade; o seu fim é o encontro e a definição de Cidade, não da Cidade utópica mas da Cidade real, ainda que correspondendo, como creio poder mostrar, ao "Mito de Megalópolis", de que fala Lewis Mumford (A Cidade na História, Un. Brasília).

O mito de megalópolis projectado nas visões urbano-arquitectónicas de Piranesi-pormenor de "II Campo Marzio", de Piranesi (In "The Imaginary views", Miranda Harvey, Academy editions, London).

Com efeito, a impressão que se colhe da leitura do complexo, intrincado e infindável itinerário de Fernão Mendes Pinto é que da tipologia urbanística que decorre do relato das suas andanças, só a Cidade merece, da parte do sujeito, a honra de descrição, da parte do observador a do olhar, da parte do viajante a da vilegiatura. Matos, sertões, castelos, fortalezas, lugares e aldeias são para ele marcos miliários e de passagem, para atingir o lugar privilegiado que será a Cidade, mais ainda, Megalópolis, configurada ou, se quisermos, materializada na Cidade de Pequim (cap. 89°): "Continuando nosso caminho por este rio acima, não vimos nos primeiros dois dias nenhũa vila nem cidade notavel nem edifício de que se possa fazer menção, senão somente grande quantidade de aldeias e lugares pequenos de duzentos e trezentos vizinhos que estavam ao longo da água, os quais, segundo suas mostras e o pouco aparato de seus edifícios pareciam ser de pescadores e de gente pobre que vivia por seu trabalho. E tudo o mais pela terra dentro, quanto alcançava a vista, eram bosques de grandes pinhais e arvoredos e soutos e laranjais e campinas de trigos, arrozes, milhos, painços, cevadas, centeios, legumes, Linhos e algodões (...)". Fernão, porém, passa à frente. A meta dos seus passos é sempre a Cidade. Como em vertiginosa passagem, desfilam pelos seus e nossos olhos os extensos espaços, habitados ou não, que constituem o espaço extra-urbano. Aí, Fernão não se detém, a menos que forçado e só quando forçado.

Antecipando, de certo modo, a conclusão, quase poderíamos dizer que a Cidade Oriental, a cidade exótica é, na Peregrinação, ao mesmo tempo metoní-mia e ícone, e corresponde a uma imagem, ou melhor, a um imaginário que através da experiência verificadora transforma a expectativa numa referência.

Com efeito, confrontado com "o estrangeiro do cabo do mundo", "de terra e de nação tão remota que até então não havia ali de nós nenhũa notícia nem livro ou escritura algũa que fizesse menção do nosso nome, nem se achava quem entendesse nossa linguagem", o Oriental operava in absentia, na construção da imagem que só através do discurso podia captar. O Oriental só poderá saber aquilo que os Europeus quiserem ou deixarem que ele saiba e não tem meio de verificação. O seu saber é, pois, limitado pelo próprio informador, pelo seu interesse ou pela sua estratégia, como instrumento de auto-defesa ou prossecução de objectivos. Eis apenas um de entre os múltiplos exemplos (cap. 4åmp; o): "(Na povoação de Fumbau) nos fomos com Anrique Barbosa e c'os quarenta Portugueses ao aposento onde a princesa vivia (...). E mandando-nos assentar em ũas esteiras (...) nos esteve perguntando (...) por algũas cousas novas e curiosas (...) e o poder que el-rei de Portugal tinha na India se era grande, e quantas fortalezas havia (...) e em que terras estavam e outras muitas cousas desta maneira ". E acrescenta o texto: "das respostas que os nossos lhe davam mostrava ficar satisfeita".

"Reconstruções do Panteão e dos teatros de Baltus MarcelLus e Sus e Statilius Taurus "; II Campo Marzio, Piransi (rep. ob. cit.).

O Europeu, por seu lado, vai operar in praesentia, e aí encontramos privilegiados os mecanismos de um pensamento analógico que instrumentaliza ora a similitude ora a dissemelhança. Na Peregrinação o sujeito pensa analogicamente e a analogia é instaurada como método de aproximação explícita do Real, aproximação que pode, é certo, surgir metamorfoseada, quer por efeito da hipérbole, quer por efeito de deformações eufóriças ou disfóricas.

Contudo, baseado decerto nos mecanismos da analogia, o Europeu, pela voz e pelo olhar de Fernão Mendes Pinto, concebe, vê e descreve a Cidade segundo um modelo que é um paradigma hipertrofiado, imagem do desejo, cuja morfologia ele próprio estabelece, ao referir--se a Pequim: "esta cidade de Pequim, metropoli com razão e com verdade de todas as do mundo, na grandeza, na polícia, na abastança, na riqueza e em tudo o mais quanto se pode dizer e cuidar".

Método para obter, com a bússola, o plano de uma cidade (gravura ilustrativa de um estudo do maior arquitecto humanista, Leo Battista Alberti, meados do Século XV).

Ao analisar este passo do cap. 95° verificamos, com efeito, que desses elementos que morfologica-mente definem, para Fernão Mendes Pinto, a Cidade, aquele que se mostra de certo modo mais fluido e mais oscilante é a grandeza. Assim, ele pode falar de cidades grandes, como Pequim e Nanquim, e de cidades pequenas, como Pacão e Nacau. Não é pois a grandeza que, em primeira instância, lhe permite identificar a Cidade como tal e, mais ainda, distingui--la tipologicamente dos outros agrupamentos populacionais, cuja hierarquia estabelece: cidades, vilas, aldeias, lugares, fortalezas e castelos (cap. 91°). Para além da grandeza, a Cidade define-se, para ele, como sede das instâncias do poder. Longe ainda de Mega-lópolis (Pequim), de passagem na ilha de Ainão, ele ouve da boca de um oriental o seguinte aviso, criador de uma expectativa que se irá tornando cada vez mais densa (cap. 45°): "Se vós outros desta pouquidade fazeis tamanho caso, que fizeréis se víreis a cidade de Pequim onde sempre reside o filho do Sol com sua corte?" Sede do Poder é, naturalmente, a condição para a presença de muita gente nobre e é, de facto, a nobreza da gente associada à monumentalidade dos edifícios que constitui mais um elemento integrador da morfologia urbana. Assim, no cap. 92°, chegando a Pacão e Nacau, ele acentua essa nobreza: "(Pacão e Nacau), ambas de pequenas em fora, muito nobres". E, no cap. 97°, chegando a Inquinilau, diz dela ser "ũa cidade grande, muito rica e abastada de todas as cousas e de muita e muito nobre gente de cavalo e de pé". Nobreza e monumentalidade: "Todas estas ruas nobres têm arcos nas entradas com suas portas que se fecham de noite e as mais delas tem chafarises de água muito boa" (cap. 88°). Sede do Poder, residência nobre, e monumental, a cidade é também um corpo complexo em que se encontra a aliança dos órgãos políticos, administrativos, económicos e religiosos, criando um padrão complexo e instável, em que se efectua a mobilização total do potencial humano e é, ao mesmo tempo, lugar de recepção e acumulação ex-cedentária. Lá estão, pois, "as casas dos Cãs, Ancha-cis, Aitaus, Tutões e Chumbis, que são senhores que governam províncias e reinos" (cap. 88°). Aí, na Cidade, não se vive, como na aldeia a que anteriormente nos referimos, apenas para o trabalho. Pelo contrário,a cidade é o receptáculo da riqueza excedentária, figurada na opulência dos monumentos e edifícios, no aparato das casas. É também o lugar de convergência de populações exógenas e, portanto, cenário cosmopolita, como observa na ocorrência de "feiras gerais, onde concorre infinidade de gente de diversas partes e há nelas grandíssima abundância de mantimentos". O trabalho, por seu lado, não é apenas uma actividade de sobrevivência, familiar ou pessoal: pelo contrário, atinge a dimensão do trabalho industrializado, conducente a um comércio organizado em grande escala: "a cidade (de Nanquim) tinha dez mil teares de seda ". E ainda, no cap. 90°: "Nesta cidade (Xinligau) e noutra mais acima cinco léguas se tece a maior parte da seda deste reino (da China). Os teares destas sedas, que em soma diziam que eram treze mil, rendiam (...) cada ano trezentos mil taéis". Tal acumulação de riqueza excedentária é, pois, razão de monumentali-dade e aparato e é por isso que a Cidade se apresenta dotada de "torres muito altas de seis e sete sobrados com coruchéus cozidos em ouro, onde têm seus armazéns d'armas, suas recâmaras, seus tesouros e seu móvel de seda e de peças muito ricas, com infinidade de porcelanas muito finas que entre eles é pedraria" (cap. 88°).

Souchao, com as suas muralhas templos, pagodes e edifícios (gravura extraída do livro de J. B. Du Halde, ob. cit.).

Mas, para além dos elementos que definem a morfologia interna da Cidade e que Fernão enunciara ao referir-se ainda como que preliminarmente, a Pequim, que são a grandeza, polícia, abastança e riqueza, um factor perfeitamente definitivo se instaura, marcando de forma radical a existência da Cidade como entidade sócio-cultural: a presença da muralha que garante a inexpugnabilidade do espaço interior e o separa, demarcando-o, do espaço exterior. Ao descrever Nanquim que nos parece ser como que a antevisão preparatória da Metrópoli, como ele próprio lhe chama, de Pequim, Fernão Mendes Pinto, após marcar a situação da cidade, avaliar a sua extensão em "8 léguas de cerca por todas as partes", distinguir a "casaria comũa de um só ou dois sobrados" das habitações nobres que "com muitas diversidades de invenções nos coruchéus dos telhados (...) representa aos olhos ūa grande majestade", sublinha a existência da cerca: "a cidade em si é cercada de muro muito forte e de boa cantaria, onde tem 130 portas para a serventia da gente, as quais todas têm pontes por cima das cavas". Assim, a Cidade é um recinto fechado e, mais ainda, um recinto protegido e fortificado, já que, "a cada porta (continua ele) estava um porteiro com dois alabardeiros para darem razão de tudo o que entra e sai". E acrescenta ainda: "Tem 12 fortalezas roqueiras quase ao nosso modo, com baluartes e torres muito altas ".

A descrição desta cerca e suas fortificações é paradigmática e define a Cidade por si só. As cidades podem variar sim, em extensão e em riqueza: há-as pequenas e grandes, há-as "boas" (isto é, ricas) e menos "boas". Mas todas serão cercadas e essa cerca estabelece uma oposição essencial entre o espaço interior e o espaço exterior e que, em alguns casos explicitamente, o divide da selva caótica e inabitável. Eis o que diz da pequena cidade de Mindoo: "na qual para a parte do sertão, espaçode meia légua estava um lago de água salgada" (cap. 96°); água salgada, não potável e portanto factor de mabitabilidade. É a cerca o primeiro elemento que, definindo a Cidade, o distingue da aldeia, que não apresenta qualquer demarcação. Distingue-o também da vila, na hierarquia estabelecida por Fernão Mendes Pinto, em que, havendo cerca, não há fortificação nem protecção. Ouçamos o que diz no cap. 90°: "Passadas estas campinas, que podiam ser de dez ou doze léguas, chegámos a uma vila que se chamava Iunquileu, cercada de tijolo com espigões por cima do muro, sem ameia nenhũa, nem baluarte nem torre ".

In J. B. Du Halde, "Description... de l'Empire de la Chine et de la Tartarie Chinoise" (Haye, MDCCXXXIV).

O fechamento do recinto evoca, naturalmente, a demarcação do espaço organizado ou cósmico, segundo a terminologia de Mircea Eliade, do espaço caótico e exterior. A fortificação protectora evoca também a constante dinâmica entre as forças que do exterior pretendem invadir ou assaltar a Cidade e as que, do interior, garantem a sua manutenção e estabilidade. Dinâmica e também dialéctica potenciadora, evidentemente, de uma hermenêutica que Eliade salienta ao identificar o espaço sagrado, o templo e o palácio como centro do mundo. Permito-me citá-lo: "La cloture, le mur ou le cercle de pierres qui enser-rent l'espace sacré comptent parmi les plus anciennes structures architectoniques connues des sanctuai-res". E acrescenta: "Il en va de même des murailles de la cité: avant d'être des ouvrages militaires, elles sont une défense magique, puisqu'elles reservem, au mi-lieu d'un espace chaotique, peuplé de démons et de larves (...) un espace organisé, cosmisé, c'est à dire, pourvu d'un centre" (Traité des Religions, p. 318).

In J. B. Du Halde, "Description... de l'Empire de la Chine et de la Tartarie Chinoise" (Haye, MDCCXXXIV).

É assim que no longo itinerário fernandiano em busca da ou das Cidades, todas correspondem ao paradigma do espaço fechado. Vejamos apenas mais alguns exemplos: "Ao quarto dia da nossa viagem chegámos a uma boa cidade que se chamava Pocasser, maior que Cantão duas vezes e muito bem cercada de muro de cantaria muito forte com torres e baluartes quase ao nosso modo" (cap. 89°). E pouco mais adiante: "Partidos nós ao outro dia desta cidade (...)Chegámos a outra que se dizia Xinligau, também muito grande e muito nobre e de muito boa casaria, cercada de muros de tijolo com sua cava ao redor e nos cabos dois castelos muito fortes e bem acabados com torres e baluartes quase a nosso modo e nas entradas pontes levadiças" (cap. 90°). Mas, como tivemos ocasião de verificar, e isso parece-me importante, o espaço não é hermético. Pelo contrário, e já o vimos, a riqueza, o comércio, o cosmopolitismo, a indústria exigem que a cidade, ainda que fechada, circundada e fortificada seja porosa e penetrável pelos elementos que, de proveniência exógena embora, não constituam ameaça, mas contribuam para a comple-xificação da entidade urbana. E se Nanquim, por exemplo, apresenta 130 portas com suas pontes por cima dos fossos, todas as outras têm igualmente portas através das quais, no entanto, a passagem é estritamente vigiada. E sendo Pequim, como já tive ocasião de mencionar, o paradigma da Cidade como cristalização de um imaginário, que ao longo da Peregrinação se vai construindo e aí atinge verdadeiramente um clímax, ela apresenta não uma só muralha como as demais mas é "toda fechada com duas cercas de muros muito fortes e de muito boa cantaria, onde tem trezentas e sessenta portas, em cada hũa das quais está um castelo roqueiro de duas torres muito altas e todas com suas casas e pontes levadiças nelas". Paradigma e hipérbole, metonímia e ícone, Pequim suscita, com sua grandeza e polícia, sua abastança e riqueza, a admiração e o entusiasmo do ingénuo observador, receptivo aos modelos da diferença e da desproporção. Vale a pena escutar as palavras que servem de prólogo à descrição de Pequim: "Esta cidade do Pequim de que prometi dar mais algũa informação da que tenho dada, é de tal maneira e tais são todas as cousas dela, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sei por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não há-de imaginar que é ela ũa Roma, ũa Constantinopla, ũa Veneza, um Paris, um Londres, ũa Sevilha, ũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes há na Europa por mais famosas e populosas que sejam, nem fora da Europa se há-de imaginar que é como o Cairo no Egipto, Tauris na Pérsia, Amadabad em Cambaia, Bisnaga em Nar-singa, o Gouro em Bengala, o Avá no Chaleu, Tim-plão no Calaminhão, Martabão e Bangu em Pegú ou Gimpel e Tinlau no Siamon, Odiá no Sornau, Passar-vão e Demá na ilha de Iaoa, Pangor no Léquio, Uzan-gué no grão Cauchim, Lançame na Tartária e Miocoo em Japão, as quais cidades todas são metropolis de grandes reinos, porque ousarei afirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cou- sa deste grande Pequim, quanto mais com toda a grandeza e sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como são soberbos edifícios, infinita riqueza, sobejíssima fartura e abastança, (...) gente, trato e embarcações, justiça, governo, e Corte pacífica" (cap.107°).

Trata-se, parece-nos, da verdadeira imagem ou se quisermos (com Lewis Mumford) do "mito de Me-galópolis", talvez a fase final do desenvolvimento urbano, representando a hiperactividade da concentração humana, em todos os domínios do seu potencial, criando os padrões do modelo metropolitano.

Essa nos parece ter sido a busca e a demanda de Fernão Mendes Pinto. E parece-nos também talvez significativo que nesse monumental documento de vivências e visões divididas entre desejo e saber, a cidade de Pequim ocupe sensivelmente o meio da sua aventura narrada. Até Pequim, uma curva ascendente de expectativas. Desde Pequim a curva mais lenta de um descensus que terminará não na cidade mas na vila de Almada, o fim definitivo de uma inacabada demanda.

In J. B. Du Halde, "Description... de I'Empire de la Chine et de la Tartarie Chinoise" (princípios do Séc. XVIII).

*Professora Associada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

desde a p. 81
até a p.