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Aviso

Luís Sá Cunha

Parece ser sina das revistas de Cultura o conflituarem com o calendário. Há entre os dois uma guerra de inimigos, que desgraçadamente muitas vezes se salda no triunfo do Tempo. Por isso têm, muitas delas, vida efémera.

Tendentes à miscelânea, sujeitas aos contributos dos espirítos diversos que as colaboram, sem intimações do mercado, vivendo a diacronia da sua produção-só em assomos síncrones se encaminham aos leitores. Os números duplos ou triplos, as mudanças de série, etc., são assim clássicos expedientes da desesperada perseguição cronológica.

Para o confirmar bastaria, como amostragem, recordar a pequena história das publicações congéneres, em Macau.

Grandes, porém, foram os serviços prestados pelas revistas ao movimento cultural deste Século XX, - expressões de grupos e tertúlias, de propostas literárias ou estéticas marginais às Repúblicas Oficiais das Letras ou da Cultura, por isso mesmo mais vulneráveis à voracidade de Chronos.

Desafiando o seu tempo, ele as destrói. Essa a sua grandeza: em aparente contrasenso, em tempos de aceleração do Tempo, ei-las que se apressam a fecundá-lo em efémeras aparições. Assim dele se vingam e triunfam, quando as gerações pósteras as recuperam ao seu presente, na circular da vida.

É outro, o tempo da Cultura, que se apressa lentamente. Pouco conta a actualidade dos meses, no que tem vocação e destino de Futuro e de perdurável Memória.

Também, destinada menos talvez ao trânsito do presente do que à colheita de estações vindouras, esta Revista de Cultura, com serenidade, algumas vezes teve que resistir às intimações do imediatismo impaciente e de calendarizações que não eram justamente as suas.

Com os meios que teve, foi-se cumprindo com os máximos escrúpulo e honestidade, e foi sendo publicada com a mais séria consciência do que é a responsabilidade do comércio da Cultura entre espíritos e povos, que não pode ser mareado ou falseado no erro.

Também, num momento em que a Língua Portuguesa emerge como substracto mais largo de convívio e adunação do universo lusíada, e estando Macau investido em curador histórico do Português no Extremo Oriente, pugnazmente nos esforçámos por que as páginas da RC ficassem, modestamente, como correctas referências do Português escrito.

Na parcidade de recursos, e distantes ainda das respostas cabais a tantas exigências, poderemos todavia dizer, sem deslumbres, que alcançámos o estatuto merecedor da consideração, sempre manifestada pela apreciação simpática.

Mas há, também, a circunstância.

Por um lado, é insustentável o solipsismo num trabalho cultural/editorial crescentemente pressionado pela proximidade do horizonte de 1999. Implica isto de formas várias nas três versões da RC. sendo esporeador de uma mais rápida sequência de publicação.

Por outro lado, a exploração das suas potencialidades - nos campos da relação cultural internacional, da promoção e comercialização, da publicidade e assinaturas -passam a exigir uma planificação, centrada no axial cumprimento das periodicidades de calendário.

Estruturalmente reforçados, é isto que teremos como principal objectivo a atingir a partir de hoje e até ao final de 1990.

Assim, e também para possibilitara mais rápida seriação das edições nas três línguas, decidimos uma reconversão de capa a partir deste número, sem qualquer prejuízo de leitores, coleccionadores e assinantes.

Para isto fica o leitor prevenido quando verificar que o nō 9 da RC corresponde ao primeiro trimestre deste ano de 1990, e é o primeiro do III Volume, do Ano IV. Non nova, Sed nove - valha-nos porém que assim vigorizamos a continuidade deste projecto.

O Director

Luís Sá Cunha

desde a p. 5
até a p.