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OS CAVALOS CHINESES

Luís Gonzaga Gomes*

Pintura ingénua de cavalos, num túmulo Wei (c. 230-316 D. C.). A expressão, a túnica e as calças do estribeiro, bem como a largada da réqua em galope, sugerem a região das estepes do norte. A linguagem brevilínea, quase caligráfi-ca, capta o essencial das formas e do movimento.

ALGUNS milénios antes do nascimento de Cristo, já os medos e os persas possuíam os seus regimentos de cavalaria, sendo provável que as montadas desses irrequietos povos fossem descendentes dos cavalos bravos que, em épocas pro-tohistóricas, cavalgaram à solta pelos plainos selvagens da Ásia Central.

Em consequência das suas lutas de expansão, as hordas conquistadoras dos reis iranianos, depois de terem conseguido atravessar o Bósforo, espalharam--se pela Europa Oriental, onde as suas cavalgaduras se foram aclimatando. Tendo-se infiltrado depois, a pouco e pouco, nas restantes regiões da Europa, os cavalos persas foram-se reproduzindo, sempre em número crescente e, mercê de múltiplas influências, formaram as diversas raças de russos, frisões, baios, alazões, etc..

São também descendentes dos cavalos bravos das planuras de Pamir, os ágeis e resistentes corcéis da Arábia e os vigorosos garranos da Mongólia que, no séc. XIII, levaram as ferozes hostes dos nómadas de Genghis Khan até às praias setentrionais do Mar Negro, onde derrotaram o exército russo, conseguindo capturar o próprio Grão-Duque de Kieff; em 1241,esses mesmos guerreiros, sob o comando do hábil estratego Subutai, iriam aniquilar o exército germano--polaco, em Liegnitz, para estenderem o seu domínio sobre toda a Polónia e Húngria.

Na imensidade do enorme mar de areia que fica situado para fora da Grande Muralha - nos plainos dos Ordos-existe um acampamento, o "Euchen Hu-ra", onde ainda hoje se conserva o pesado esquife de prata que encerra os restos mortais do grande conquistador que foi o terror da Europa Medieval.

Todos os anos, no terceiro mês do calendário mongol, dezenas de milhares de peregrinos chineses, arrostando com os piores incómodos de uma viagem de 300 milhas, vão aí prestar o seu culto ao espírito do grande guerreiro, sendo esta cerimónia revestida de grande imponência e acompanhada dos mais estranhos e extravagantes ritos.

É nessa ocasião que se faz uma pequena abertura do tamanho de dois centímetros no esquife, a fim de se oferecer ao pó, a que ficou reduzido o cadáver, uma oportunidade para se reincarnar. Centenas e centenas de anos já se passaram sobre a instituição desta cerimónia e, no entanto, Genghis Khan continua tranquilo no seu eterno repouso sem atender às instantes preces do seu povo. Mas, como o seu cavalo já se reincarnou várias vezes, tanto os crentes chineses como os mongóis não perderam ainda a esperança de ver realizado o milagre e continuam todos os anos a repetir, fanática e convictamente, as mesmas cerimónias de invocação ao seu renitente espírito.

Segundo as mais recentes investigações, apurou-se que a cor original dos cavalos bravos era um brilhante amarelo doirado e, nas grandes coudelarias da América do Norte, já se têm conseguido obter cavalos com esta primitiva cor, que tinha sido adulterada através de quatrocentas gerações. São estes os mais belos exemplares de cavalos de todo o mundo.

Em Portugal, também já se cuida da reprodução científica do gado e grande desvelo é dedicado à melhoria de raças na Estação Zootécnica da Fonte Boa, no Ribatejo. Os lindíssimos cavalos ali criados e tratados são considerados pelos próprios estrangeiros como dos mais perfeitos exemplares de toda a Europa.

Os cavalos, ou melhor, os potros chineses, não se equiparam, porém, em nobreza e elegância de porte, aos cavalos da Europa ou da América, sendo bastante difícil encontrar na China um argel ou um fron-tino, pois são na sua grande maioria da cor amarelo--feijão.

AS primeiras referências chinesas aos cavalos datam do tempo do mítico imperador Uong-Tái (2698-2598 A. C.) do qual consta ter possuído uma estrebaria povoada de esplêndidos exemplares de poldros mongóis e, nas crónicas chinesas, fala-se de um hábil veterinário chamado Má-Si-Uóng que uma vez, por ter realizado com sucesso uma delicada operação de acupuntura num dragão, que se encontrava atormentado com uma estranha doença de garganta, foi por este levado para o céu, em recompensa da sua grande habilidade.

Na indústria de olaria chinesa, um dos motivos mais vulgares é um grupo de oito cavalos, cada um em diferente atitude: deitado de costas com as patas no ar, a trotear, curvado como se estivesse a procurar no solo qualquer gulodice, com a cabeça erguida e ligeiramente voltada como se fosse atraído por qualquer ruído, etc..

Este estranho grupo, que nenhum turista estrangeiro resiste à tentação de adquirir, é vulgarmente conhecido entre donos dos bricabraques pelo nome de "pát-má-t'ôu" (grupo de oito cavalos) e pretende representar os oito cavalos favoritos de Tông-Uóng--Kông (o Imperador do Oriente) mais conhecido entre o povo chinês por Môu-Kong.

Foram estes cavalos que, atrelados ao carro imperial, o conduziram na visita que fez a Sâi-Uóng--Môu (a Imperatriz do Ocidente) cujos ricos domínios ficavam situados nos píncaros da cordilheira Kuân-Lân (Kuen-Lun).

Na mitologia chinesa, Tông-Uóng-Kông e Sâi--Uóng-Môu são considerados como tendo sido os primeiros seres que povoaram a terra. Foram gerados da conjugação da quinta-essência dos ares ocidentais com a dos orientais, sendo por isso os progenitores da Força Masculina (Iéong) e da Força Feminina (Iâm).

Esta visita do Imperador Oriental à Imperatriz Ocidental simboliza também a existência dum remoto intercâmbio entre a China e as outras nações ocidentais.

Quanto aos oito cavalos do Imperador Oriental são eles conhecidos por fantásticos nomes como: Asas que Batem, Direito às Nuvens, Acima do Mundo, Sombra que Sobe, Galgando a Bruma, Labareda Rútila, Saltando para cima do Sol e Asas Recolhidas.

Conta a lenda que estes oito nobres animais foram criados em Tâu-Lâm, uma pujante floresta nascida do mágico cajado de Kuá-Fu, aquele que tão tragicamente ousara lutar contra o Sol, pois tal era a sua força que, não podendo conter o excesso de energia acumulada no seu físico, se vira obrigado a deixá-la expandir-se, lançando-se, loucamente, em perseguição do astro incandescente.

Ao fim de uma extenuante correria, conseguiu alcançá-lo no profundo Vale Ocidental e ali, abrasado por uma sede intensa que lhe devorava as entranhas, Kuá-Fu, sofregamente engolira toda a água do Rio Amarelo e do Rio Uâi. Porém, todo o volume de água desses dois rios não bastou para mitigar a ardente secura que lhe crestava a garganta e Kuá-Fu morreu, então, no meio de horríveis contorsões.

Dos cavalos célebres da história da literatura chinesa o que inspirou o maior número de composições em prosa e em verso foi o célebre ginete de Lâu--Pui, um dos heróis da "História dos Três Estados", o mais apreciado romance do povo chinês.

Lâu-Pui fora um dia convidado pelo seu rival Tch'ói-Mou, para um banquete. Tendo aceitado de boa fé o convite, dirigiu-se descuidado à propriedade do seu inimigo, montado no seu ginete, mas, mal chegou, foi fechado num compartimento e o traidor tratou de dispor os seus homens de forma a cercar o local.

Aguardavam todos o sinal para se lançarem sobre o incauto Lâu-Pui quando I-Kei, um dos homens de Tch'ói-Môu, compadecendo-se da ignominiosa morte que aguardava o traído herói, se aproximou deste com o pretexto de lhe oferecer uma taça de vinho. Fez-lhe, então, um imperceptível sinal e, em voz quase inaudível, conseguiu ciciar-lhe aos ouvidos que inventasse um motivo qualquer para sair.

Lâu-Pui não se perturbou com os modos estranhos de I-Kei. Como quem já estivesse farto de estar sentado, levantou-se e, aparentando a maior naturalidade possível, encaminhou-se para o ar livre.

I-Kei pôde, então, revelar-lhe o tredo ardil em que ele caíra. Sem perda de tempo o herói saltou para cima do seu ginete e de um salto galgou o Portão Ocidental. Mas, imediatamente, por obra de magia, um caudaloso rio brotou, inesperadamente, de não se sabe donde, barrando-lhe a fuga pela frente. Lâu-Pui, não descorçoou; fazendo retroceder o seu cavalo, procurou fugir por outro lado, mas, nisto, levantou--se uma densa nuvem de poeira que ele sabia servir para encobrir os seus inexoráveis perseguidores que vinham no seu encalço.

Sem mais hesitações, o herói lançou-se resolutamente no rio com o seu ginete que, num prodigioso salto, conseguiu cair são e salvo com o seu cavaleiro na margem oposta.

Dos imperadores que ficaram célebres na história, devido à sua grande estima pelos cavalos, citase Meng-Uóng, da dinastia T'óng (A. D. 713-756), que tinha a sua estrebaria povoada por número infinito destes solípedes, divididos em dois grupos: o de "dragões" e o de "orgulhosos". Mais de quatrocentos cavalos eram adestrados de forma a poderem executar toda a espécie de habilidades ao som de música. Meng-Uóng obrigava os palafreneiros a tratá-los com o máximo cuidado e a tê-los cobertos com xairéis de seda, ajeitados de maneira a apresentarem-se com o feitio de várias flores. As gamarras que ligavam as cilhas aos cabeções eram ornamentadas com res-soantes guisos de oiro e com enormes pérolas, de mistura com bocados de jade branco, onde vinham incisos os nomes de cada cavalgadura.

Na liturgia chinesa, o dia 23 da 6. Lua é consagrado à adoração do Má-Uóng, o espírito protector dos cavalos e patrono dos carroceiros. Esta divindade compartilha frequentes vezes um lugar no escrínio de Ngau-Uóng, o espírito-guardião do gado.

Parece que, em tempos remotos, o Deus Cavalo teve uma tríplice incarnação. Nesses tempos, quando o denominavam Má-Tchôu, o Ancião dos Cavalos, recebia os sacrifícios na Primavera; quando considerado como o Primeiro Procreador Cavalar, era venerado no Verão; e como Destruidor Celestial dos Cavalos, espírito malfazejo e causador das doenças destes animais, era a sua festividade celebrada no Inverno.

Esta trindade é consubstancida no Má-Uóng, quando a sua imagem é tricéfala. Nos "tchi-má", pacotes de cem folhas de papel representando, rudemente, quase todas as divindades do panteão chinês e que se queimam durante os sacrifícios, aparece às vezes o Má-Uóng, assentado num trono, acompanhado por três servos.

Estes "tchi-má" (cavalos de papel) são presentemente uma sobrevivência das estatuetas de santos patronos que foram heróis deificados pelo eveme-rismo dos primeiros povos chineses, que costumavam figurá-los equestremente ou com cavalos ao seu lado. Presentemente, na maioria dessas imagens, já não existe vestígio nenhum deste animal. Nos primeiros tempos da elaboração das suas crenças, os chineses sacrificavam animais vivos às suas divindades, sendo escolhidos de preferência os cavalos. Com o tempo, os animais vivos foram substituídos por imagens de madeira, depois por figuras de pano recheadas de diversos enchimentos e, no tempo de Meng-Uóng da dinastia T'óng (A. D. 713-756), adoptaram-se as imagens de papel que perduraram até à actualidade.

O ritual chinês exigia que os sacrifícios oferecidos à divindade cavalar, no dia da sua festividade, se iniciassem nas estrebarias imperiais, onde o tabuleiro com comidas diversas era ofertado à divindade, entre as 8.00 e as 10.00 horas da manhã. Logo depois dessa hora, em todas as cabanas dos aldeões que possuissem um cavalo que fosse, se queimava uma imagem da divindade cavalar, em honra do Má-Uóng.

Os cavalos têm inspirado legiões de artistas chineses, em todas as dinastias; os poetas dedicaram o melhor do seu estro para tecerem a excelência das virtudes de tão nobre solípede, em magníficos versos polirítmicos, mas, em aguarela, os que souberam retratar melhor o seu carácter, a expressão do seu rosto e o donaire do seu porte, foram Lei-Tch'in, o seu filho Tchông-Hó, e Hón-Kón, o discípulo dilecto do célebre paisagista Uóng-Uâi, que se notabilizaram durante a esplendorosa dinastia dos T'óng.

Nessa época, o uso dos cavalos era regulamentado no "Livro dos Ritos", que prescrevia, para os carros dos simples cidadãos, um só animal, visto que três eram empregados pelos nobres e ao carro imperial se atrelavam seis.

Na medicina, dizem os estudiosos que os olhos do cavalo reflectem a imagem integral do homem, sendo os da raça branca considerados como os melhores animais. O coração do cavalo, uma vez seco, reduzido a pó e misturado com vinho, ajuda a curar a amnésia. O facto do cavalo poder marchar na escuridão é explicado pela razão deste animal possuir, na altura dos joelhos, uns olhos niotalópicos, que são infalíveis na cura de dentes cariados. O fígado é considerado um virulento veneno e as ferraduras, quando penduradas à cabeceira da cama, curam as insónias mais rebeldes.

Se o cavalo fôr, porém, alimentado com arroz, as suas pernas tornar-se-ão pesadas e se pendurarem a pele de um rato ou de um lobo na sua mangedoira, ou lhe esfregarem a boca com ameixas negras ou larvas mortas de bichos-da-seda, o animal nunca mais tornará a alimentar-se e morrerá.

OS chineses consideram o cavalo como um animal dotado de excepcionais qualidades de pureza, nobreza e inteligência. A respeito desta última, conta-se o seguinte:

A uns dez lei da pitoresca cidade de Hói-P'eng, existia um pequeno vilório cuja população era constituída, na sua maioria, por indivíduos perseguidos pela lei.

Antes de se entrar na vila, via-se um estranho monumento com um vistoso cipo cinerário, que era conhecido entre os aldeões dos arredores pelo nome de "sepulcro do cavalo inteligente".

Ora a origem desta sepultura data dos primeiros tempos da fundação da mencionada aldeia, pertencendo a um latifundiário chamado Pák-Mân que, por ser um kói-iân (licenciado em letras), exercia o mandarinato num distrito da província de Kóng-Sâi. A região onde jurisdicionava era excepcionalmente montanhosa, rodeada de cimos alterosos, onde se viam pousadas as nuvens e, para a percorrer através dos seus inumeráveis e estrangulados desfiladeiros, só a cavalo, único meio de transporte que existia para os que lá viviam. Por isso, raro era o aldeão que não possuía um ou dois cavalos e quase todos os naturais daquele distrito empregavam os seus capitais na cria de garanhões para padreação, sendo o gado cavalar a sua principal riqueza.

Yang Guifei, a famosa concubina favorita do Imperador Xuang-zong (ou Meng Huóng) montando a cavalo. Pintura a tinta da china e cores em rolo de papel, de Xian Hsuan.

Quando Pák-Mân tomou posse do seu cargo teve também de comprar dois cavalos para o seu uso, sendo um baio e outro completamente branco.

Pák-Mân estava muito satisfeito com os seus animais, que eram muito dóceis, mas preferia o branco porque quando andava montado nele não tinha que se preocupar em segurar as rédeas, visto que o inteligente quartau conseguia adivinhar-lhe todos os intentos. Quanto ao baio, embora fosse também um lindo animal na aparência, era contudo quarta-ludo e, por isso, não gozava da mesma estima do seu patrão.

Finda a sua comissão, Pák-Mân, regressou ao seu couto e porque no exercício da sua sinecura já conseguira amealhar o suficiente para acabar os seus dias na abastança, recusou aceitar outros cargos para que fora nomeado, preferindo entregar-se à administração e ao arroteamento das suas courelas.

Nesse tempo existia uma temerosa quadrilha de salteadores acaudilhada pelo feroz Tán-Ngán Tch'át, (o zanaga Tch'át), que andava talando as terras dos arredores, semeando a morte e a ruína por onde passava, ou cativando os filhos das famílias mais abastadas para extorsões de valiosos resgates.

As autoridades do distrito, por mais que se esforçassem para alcançar a captura do famigerado bandido, nada conseguiram, e as alvíssaras que ofereciam serviam tão somente para acirrar a ferocidade dos sôfregos bandidos que continuavam aterrorizando impunes a população do distrito, pondo-a em contínuos sobressaltos.

Ora Tán-Ngan Tch'át, na expectativa de que na vivenda de Pák-Mán deviam estar recatadas grandes riquezas, planeou assaltá-la um dia, a horas escusas. Embora atacados de surpresa, Pák-Mán e os seus defenderam-se valorosamente. Na refrega, Pák-Mán ficara fendo e o seu filho mais novo, por se ter lançado, ousadamente, no encalço dos bandidos, quando estes batiam em retirada, foi morto, com o coração atravessado por um certeiro virotão.

Ora, na ocasião do ataque, o cavalo de estimação de Pák-Mân, que se encontrava recolhido na estrebaria, pôs-se a relinchar aflitivamente. Tán-Ngán Tch'át, quando o viu, desprendeu-o do sítio, onde o animal se encontrava preso e montou-o, para fugir. O ginete porém, mal sentiu em cima de si o peso do salteador, abalou, imediatamente, numa correria desordenada e, por mais que o cavaleiro se esforçasse por o reter, nada conseguia.

As suas mãos convulsas já mal podiam segurar as rédeas, pois quanto mais puxava por elas mais depressa corria o ginete. Dir-se-ia que o animal se encontrava desbocado ou violentamente acicatado por demónios.

Tán-Ngán Tch'át pensava em lançar-se do cavalo abaixo mas não se atrevia. Naquela sua louca carreira, o ginete, galgando córregos e taludes, acabara por entrar no pavilhão principal do tribunal do distrito, onde estacou, rodopiou e, erguendo-se por fim a pino, abalou o corpo num violento repelão fazendo com que o cavaleiro caísse, desamparadamente, no chão.

Refeitos do susto por aquela inopinada intrusão, os aguazis reconheceram então o famigerado salteador e precipitaram-se imediatamente sobre ele, para o ligarem com sólidos grilhões de ferro.

As autoridades do distrito, quando foram informadas desta espantosa história, fizeram imediatamente funcionar o tribunal para julgar o caso e, no decorrer do julgamento, puderam apurar o facto de a propriedade de Pák-Mân ter sido assaltada naquela noite.

Não foi necessário empregar a tortura para fazer confessar o Tán-Ngán Tch'át como causador daquela proeza. Presos todos os membros da sua quadrilha e os produtos dos seus roubos entregues ao tribunal, as suas decepadas cabeças, penduradas do alto das árvores que orlavam a estrada real, asseguravam, no dia seguinte, aos aldeões, o regresso do sossego àquela região.

Quanto ao cavalo de Pák-Mân, não tendo conseguido resistir ao tremendo esforço que fizera para a entrega do salteador, morria dias depois, sendo a sua morte bastante lamentada pelo seu dono que, por gratidão, lhe mandara construir aquele vistoso sepulcro que fica à entrada da aldeia de Hói-Pêng.

Nota da Redacção

Este texto de Luís Gonzaga Gomes foi transcrito de "Chinesices", selecta de alguns dos artigos que o autor publicara no jornal "Notícias de Macau". Foi respeitada a sintaxe e grafia do original, o que é passível de alguma desorientação do leitor no referente a algumas designações e pa-trónimos, uma vez que são transliterações da prosódia can-tonense do Chinês, habituais na época em que o autor escrevia.

Assim, por exemplo, aparece T'óng por Tang e Meng-Huóng refere-se ao Imperador Xuanzong, também designado Minghuang.

* Investigador e historíador de temas da Históría de Macau; escritor e sinólogo.

desde a p. 29
até a p.