Atrium

Propósito

Carlos Alberto dos Santos Marreiros

É já lugar comum da politologia, ao menos na visão de alguns pensadores das ciências da polis, o papel nuclear que se reconhece às instituições na coesão das vivências colectivas. Sobretudo no que elas são de status, acima e para além de circunstâncias e de contingências. Desde o início presente e participante, com responsabilidades directivas, na Revista de Cultura do Instituto Cultural de Macau, bem sei que ela foi concebida com espírito futurante, de perenidade - assim com vocação de instituição. É esse o valor que quero relevar no momento em que, já agora Presidente do ICM, deixo este propósito breve na abertura deste número, que assinala uma nova fase da RC. Destaco, pois, em primeiro lugar, a palavra continuidade. Em segundo, confiança -que manifesto na homologação de Luís Sá Cunha como Director da RC, e no reconhecimento da alta competência de todas as chefias e colaboradores do Gabinete de Edições, extensivo também a todos aqueles que constituiram o ex-Gabinete de Projectos Especiais.

Universo das essências, a Cultura tem a "institucionalidade " que subjaz aos fenómenos da História e se sobrepõe aos tropos efémeros do social. Assim o livro nos surge como essencial emblema da Cultura e do seu movimento, barco largado a tantas navegações futuras, à surpresa de tantas costas, à recolha de tantas mãos, à troca de tantos espíritos para fruição e aprendizagem.

Entendendo assim a Cultura, quero assinalar aqui outra palavra, finalidade também da nossa melhor política cultural: o livro -instrumento insubstituíve da continuidade da Memória de Macau e de Portugal no Oriente e no Mundo e do aprofundamento do conhecimento mútuo e do encontro histórico de Portugal com a China.

Livro com características especiais, publicado em três línguas, a RC tem, como instrumento cultural, potencialidades vastíssimas, e um papel importante de representação da imagem e de reflexo do prestígio de Macau nos meios internacionais. Não tem sido fácil executá-la. Condicionantes complexas fazem da sua produção um processo tanto mais laborioso quanto exigente, em qualquer das três edições. O que não tem impedido, porém, que ela se tenha imposto, pela muita valia do conteúdo e da concepção gráfico-artística, nos meios interessados e cultos onde tem chegado,

distribuída que é em mais de 40 países de todos os continentes. Porém, para o nosso realismo e a nossa insatisfação, ela é apenas um projecto incipiente. Assim nos propomos ao decisivo desenvolvimento das suas possibilidades, na regência do mesmo espírito e no alcance dos objectivos que ela encerra. Em primeiro lugar, reforçando-a com a estrutura humana capaz de lhe assegurar a rotina e regularidade de publicação, a melhoria de qualidade nas versÕes em Chinês e Inglês, e a exploração e o alargamento da sua divulgação, promoção e publicidade. Em segundo lugar, - e em justo reconhecimento do estatuto de autor e da primordial importância da grande investigação na política cultural e editorial - tudo faremos para garantir as melhores condições e o melhor clima na relação com os nossos colaboradores. Em terceiro lugar, avançando decisivamente na internacionalização da RC, com empenhada chamada à colaboração de investigadores e sinólogos das mais qualificadas instituições de estudos e investigações de todo o Mundo, com prioridade aos da China; estando confiantes na continuidade das colaborações que até agora nos foram prestadas, e a cuja qualidade muito deve o prestígio até agora conseguido. Eis, brevemente, o que nos propomos de fundamental para o ano de 1990, sob a regência astral do Cavalo - símbolo do dinamismo, da imaginação e do esforço útil.

    Presidente do Instituto Cultural de Macau
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