Portugal e o Oriente

O ensino das Línguas estrangeiras na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai

Zhang Xu Hua*

RC passará a publicar, a partir de agora, alguns documentos (exposições, relatórios ou depoimentos)sobre as instituições que, na área alargada do Índico-Pacífico, têm a seu cargo o ensino da Língua portuguesa. Do conjunto, resultará por certo uma panorâmica da situação actual e um estímulo ao maior investimento de alguns países numa Língua que, por razões da História, é a quinta mais falada no Mundo e, assim, de importância estratégica no futuro. Iniciamos este capítulo com o Departamento de Português da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, por ter sido uma das primeiras e por desempenhar um papel-chave dentro da República Popular da China.

Quem hoje visitar Xangai encontrará, a norte da zona urbana, um centro de Ensino Superior especialmente dedicado à formação de tradutores, intérpretes e professores universitários de Línguas estrangeiras - é a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Na China, existem muitos centros de Ensino Superior de Línguas, mas poucos assumem a envergadura e a importância de centros-chave. A Universidade de Estudos Internacionais de Xangai é um desses centros fundamentais para o ensino de Línguas e Culturas estrangeiras e de estudos humanos aplicados, e está directamente subordinada à Comissão de Educação da China.

Entre as dez Faculdades da Universidade, encontra-se a Faculdade de Espanhol. Hoje ainda, nela estão integrados os cursos de Português, Italiano e Grego. Isto porque o Departamento de Espanhol tem uma história mais longa, tendo sido o primeiro, e único, a ser criado nos anos 60. Denominada, primeiro, Faculdade de Espanhol, mesmo durante o período em que nela foram incluídos cursos de outras Línguas estrangeiras, o facto do acréscimo de outros Departamentos levaram a que ela seja actualmente designada Faculdade de Xiyu (Xiyu é abreviatura tanto da palavra "espanhol", como da expressão "Línguas ocidentais"). Entendo, porém, que a designação de Faculdade de Línguas Ocidentais é também inadequada, uma vez que a expressão implica um conteúdo mais amplo.

Os quatro cursos da Faculdade de Xiyu têm, porém, os seguintes condicionalismos comuns:

1 - O leccionamento das quatro Línguas, que têm no Mundo uma aplicação e uma expansão relativamente amplas, teve um início tardio em comparação com outras;

2 - Houve grandes limitações docentes de princípio, apenas com um ou dois professores no início dos cursos;

3 - Os professores eram, na maioria, jovens com pouca experiência, apesar do dinamismo e do entusiasmo com que se dedicaram.

Com o correr do tempo, e com o esforço dos diversos sectores competentes e afins, o número do professores e de alunos foi-se tornando cada vez maior.

No momento actual, a Faculdade conta com 43 professores e funcionários. No geral, os professores iniciaram a docência na Universidade depois de terminarem o Curso na China e de um estágio de aperfeiçoamento no estrangeiro. Dada a situação, distribuem o seu trabalho por áreas diversas, mas complementares: ensino da Língua, investigação e compilação de dicionários. Alguns concentram-se exclusivamente na i-vestigação e na compilação de dicionários, mas outros têm que conjugar essas tarefas com as obrigações do ensino.

No decurso do desenvolvimento dos cursos de Espanhol, Português, Italiano e Grego, temos recebido ajudas de muitos especialistas e professores estrangeiros.

Desde 1963, foram convidados mais de três dezenas - do Chile, Colômbia, Perú, Espanha, México, Portugal, Brasil, Itália e Grécia - que. têm vindo a dar contributo muito activo nas tarefas do ensino e da investigação científica, e decisivo no aperfeiçoamento linguístico dos professores e dos cursos superiores.

De uma maneira geral, além das funções da docência, os professores dedicam-se também ao aperfeiçoamento dos métodos de pedagogia e ao estudo e tradução de obras literárias das respectivas Línguas. Por exemplo, os professores de português colaboraram na compilação do Dicionário de Português-Chinês, tendo já sido o original entregue à Editora, para publicação.

A Universidade de Estudos Internacionais de Xangai é a sede da Associação de Investigação do Ensino das Línguas Espanhola e Portuguesa na China. A Associação foi fundada em 1982 nesta Universidade, e o seu presidente, Dr. Pu Yunnan, é um professor catedrático que conhece profundamente inglês, espanhol, português, francês e italiano.

Para apoio à preparação das aulas e ao aprofundamento científico, a Faculdade montou uma biblioteca-sala de leitura com mais de 8000 livros e algumas dezenas de jornais e revistas estrangeiras, em diversas línguas. Nos livros, destacam-se os dicionários e os clássicos da Literatura. Neste aspecto, merece referência especial o facto de, nos últimos anos, o Departamento de Português ter vindo a receber do Instituto da Cultura e Língua Portuguesa, da Fundação Calouste Gulbenkian, do Instituto Português do Livro e do Instituto Cultural de Macau a oferta de várias centenas de livros, que têm constituido estímulo enérgico aos trabalhos do ensino e da investigação.

Actualmente, a Faculdade tem 120 alunos, distribuídos pelos cursos de preparação, do 1° ao 5° ano, e de bacharelato.

À medida que se aprofunda e desenvolve no nosso país a política de abertura ao exterior, assim aumentam as necessidades de comunicação e intercâmbio, o que requisita redobradas exigências: a melhor preparação e a maior quantidade dos alunos dos cursos de Línguas, como resposta às necessidades do País. É devido a esse critério de pragmatismo que começámos a introduzir o ensino bilingue (ensino cumulativo de duas Línguas) cuja reforma, a partir de 1984, abrangeu os cursos de Português, Italiano e Grego.

No que respeita às técnicas, entre as vias visual e auditiva damos preferência à primeira, porque mais aconselhável e adequada à tipologia psico-caracterológica do chinês.

Os chineses têm mais facilidade de percepção e da aprendizagem pela imagem do que pela audição, motivo pelo qual, na primeira fase do ensino, sujeitamos os alunos a intenso treino auditivo.

Por outro lado, uma vez que a aprendizagem de uma Língua estrangeira insere fortes perturbações na assimilação da Língua materna, com directas consequências na sua expressão oral, a este campo dedicamos especial atenção.

As aulas audiovisuais têm lugar no Laboratório Linguístico da Universidade. Fora do horário, os alunos podem visionar "video-tapes" e ouvir gravações na sala de audiovisuais da Faculdade, onde se arquivam mais de 800 "cassettes" abrangendo a mais completa temática.

A Faculdade de Xiyu não é grande e, de uma maneira geral, os professores são relativamente jovens. Com a investigação e a prática dos últimos 28 anos, temos obtido experiência e alguns êxitos. Foram formados pela Faculdade mais de 800 bacharéis e mais de 400 alunos terminaram os cursos preparatórios. Actualmente, encontram-se a trabalhar por todo o País ou em países estrangeiros (em embaixadas, consulados, agências noticiosas, instituições comerciais, etc.).

Com vistas ao futuro, temos agora que nos esforçar para preparar mais e melhor o corpo discente desta Faculdade, em razão da política das "Quatro Modernizações" da China e do desenvolvimento das relações amistosas entre a China e os países de expressão portuguesa, espanhola, italiana e grega.

*O autor do texto, Zhang Xu Hua. é Vice-Director da Faculdade de Xiyu da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, e Professor de Língua e Literatura Espanhola.

desde a p. 111
até a p.