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FREI LOURENÇO DE PORTUGAL (O.F.M.)
e a sua participação nas relações entre o Papado e o Oriente em meados do Séc. XIII (resumo bio-bibliográfico).

João de Deus Ramos*

Não apresenta este trabalho qualquer progresso em relação ao que está adquirido pela historiografia contemporânea. Entendo, porém, que Fr. Lourenço de Portugal foi uma figura notável envolvida em acontecimentos de monta do séc. XIII e que merece portanto, por ser pouco conhecida entre nós, este resumo sobre a sua vida e um relance, de modo algum exaustivo, do que de publicado a ele se refere.

O elo que naqueles tempos recuados a Ordem dos Frades Menores estabeleceu entre Ocidente e Oriente, tocou a imaginação e a inteligência dos homens do fim da Idade Média, servindo de estímulo ao mundo novo que se abria. Lembro as palavras de Armando Cortesão: "A empresa portuguesa dos descobrimentos foi preparada e desenvolveu-se dentro da nova orientação do pensamento europeu que floresceu sob a influência do Franciscanismo, que subtilmente impregnava o espírito e a acção dos dirigentes" (1).

A Europa, o Papado e o Oriente em meados do Séc. XIII

A História ocupa-se largamente de Giovani da Pian di Carpine, O.F.M., da sua missão à Ásia Central em 1245 e do relato que deixou, a Ystoria Mongalorum (2). Eram sentidos intensamente na Europa desse tempo os perigos que resultavam de um mundo islâmico ainda ameaçador e sobretudo de uma Ásia mal conhecida de onde saíam, com ímpeto devastador, os cavaleiros da estepe, as hordas mongóis. Estes receios eram em parte contrabalançados pela sólida do homem europeu medieval e pela lenda do Preste João (3), príncipe cristão que, algures no Oriente distante, poderia viabilizar uma aliança que inflectisse a favor da Cristandade o equilíbrio de forças no mundo conhecido de então.

O Cristianismo expandira-se na Ásia e no Extremo Oriente, sobretudo na forma Nestoriana*, a partir do séc. VI, no tempo de um dos períodos mais fecundos e brilhantes da história da China, as dinastias Sui e Tang. Mas os Nestorianos viriam a ser vítimas de perseguições, e pelo virar do milénio estava essa forma de Cristianismo temporariamente extinta na China. Subsistiu porém na Ásia Central, e teve novo alento com a tolerância religiosa dos Mongóis, alargada ao mundo sínico quando dele foram senhores durante a dinastia Yuan (1276-1368). Com a queda desta e o fim do poderio mongol, o Nestorianismo estiolou. O seu rasto e vestígios estavam quase completamente desaparecidos quando, na sequência da abertura das vias marítimas oceânicas pelos portugueses, os Jesuítas chegaram à China em fins do séc. XVI. Foi precisamente a partir daqueles Nestorianos que perseveraram na Ásia Central após a sua extinção na China, no virar do milénio, designadamente nos povos Öngüt e Kerait (4), que teve origem a génese, difusa, da lenda do Preste João.

As hordas mongóis, que tanto sobressalto tinham causado na Europa nas primeiras décadas do séc. XIII (em 1221 estavam no Cáucaso e em 1241 na Silésia e Hungria), avançavam e refluíam em função dos acontecimentos no coração da Ásia. A morte de Gengiskhan em 1227 e de Ögödai em 1241, determinaram o recuo das forças que ameaçavam o Ocidente, salvando-o talvez do completo aniquilamento. Foi então nascendo na Cristandade o plano, alicerçado na lenda do Preste e no Islão como inimigo comum, de conseguir uma aliança entre Cristãos e Mongóis. Assistiu-se a uma curiosa evolução: em cerca de vinte anos apenas, entre o primeiro quartel e os meados do século, passou-se de uma situação de ameaça de brutal violência a outra em que Cristãos e Mongóis eram quase aliados naturais em luta contra o Islamismo. Nessas escassas duas décadas passou-se da incrível crueldade de Kalka e Kiev (5) às audiências de Carpine e Rubruck (6) na Corte de Karakorum e à Embaixada ao Ocidente de Raban Sauma e Mar Yaballahah (7); e um pouco mais tarde, no início do séc. XIV, esta "en tente" permitiria a criação da primeira Sé Episcopal em Khanbalik (Pequim) com o prelado franciscano João de Montecorvino. Os três netos do terrível Gengiskhan - Kubilai, fundador da dinastia Yuan na China e amigo dos Polos, Hulagu, chefe dos Ilkhan da Pérsia, e Batu, khan da "Horda de Ouro" da Rússia e Kazaquistão - eram aliados do mundo ocidental contra o islâmico. Com esses Khans e com a "Pax Mongolica" prevaleceu a tolerância religiosa; e com esta floresceram na Ásia e na China as comunidades católicas, nestorianas, maniqueístas, islâmicas, budistas, xamanistas e tauistas.

Logo após o primeiro Concílio de Lião em 1245, Inocêncio IV decidiu enviar uma missão franciscana ao Khan mongol da Ásia Central e uma outra dominicana aos mongóis da Pérsia (os IIkhans) (8). Para a primeira, a escolha recaiu sobre Frei Lourenço de Portugal. Por razões que se desconhecem Frei Lourenço não chegou a partir, e em seu lugar foi Carpine. Mas a circunstância de sobre ele ter recaído a primeira designação papal para tão importante missão é bem significativa da consideração e confiança, mantida ao longo do seu pontificado, em que o tinha Inocêncio IV.

Deparara este Papa ao subir ao trono em 1243, para além da ameaça mongol, com outros problemas na Europa e no Oriente próximo. Se eram de menos imediata gravidade que o primeiro, não eram menos delicados; e o enfrentar daquele passava pela composição dos restantes. Com efeito, a luta entre a Igreja e o Império, que opusera a Santa Sé a Frederico II Hohenstaufen durante a primeira metade do séc. XIII, impossibilitava a convergência de forças a Ocidente que contivesse a devastação bárbara. Pretendia também o Papado reafirmar a sua primazia sobre as nascentes nações europeias. Por outro lado, no plano político-religioso, urgia sanar a crescente divergência entre Roma e Bizâncio, entre Gregos e Latinos, entre a Cristandade ocidental e as orientais. Com esta maior coesão, que Inocêncio IV ambicionava, sairia fortalecido o Ocidente. Nesta complexa iniciativa político-religiosa junto das Cristandades orientais, Inocêncio IV recorreu a Frei Lourenço de Portugal, fazendo-o Legado Apostólico com vasta área de jurisdição e poderes. Apesar das inevitáveis dificuldades surgidas no desempenho das suas funções, nunca Frei Lourenço desmereceu da confiança que o Papa nele depositara, nem este jamais lha retirou.

Resumo biográfico

Frei Lourenço entra na História, por assim dizer, a partir de 1245. Sobre os primeiros anos da sua vida há a indicação no Árbol Chronológico de J. de Castro, tão só de que fôra Ministro Provincial da Província Franciscana de Santiago de Compostela. A sua figura surge nítida a partir da Bula "Dei Partis imensa" de 1245 pela qual é designado Embaixador aos Tártaros (v. abaixo), e a partir deste ano ou do seguinte, é Penitenciário Apostólico em S. João de Latrão. Em seguida, entre 1246 e 1248, esteve envolvido como Legado no Oriente na contenda político-religiosa entre Roma e Bizâncio, função que desempenhou com o agrado e confiança de Inocêncio IV. Terá regressado à Santa Sé em 1248 ou 1249 para fazer o relato pessoal da sua missão no Oriente. O Papa incumbiu-o depois de uma missão junto do Senado e do povo romano. Em 1256 pregava a cruzada em Espanha e finalmente em 1266 foi nomeado Bispo residente em Ceuta.

As Bulas

As cartas pontifícias que dizem respeito a Frei Lourenço, ou por a ele serem dirigidas, ou por se referirem a assuntos em que estava envolvido, são todas do pontificado de Inocêncio IV, e são as seguintes (9):

- "Dei Patris immensa", de 5 de Março de 1245, pela qual o Papa designa Frei Lourenço de Portugal como seu Embaixador ao Khan dos Mongóis: "... Propter quod ad vos dilectum filium fratrem Laurentium de Portugallia et socios ejus latores praesentium ordinis fratrum Minorum viros religione conspicuos, honestate decoros et sacre scripture scientia preditos... duximus destinandos". Frei Lourenço não partiu, por razões que são obscuras; Pisanu avança a hipótese de não se ter conseguido obter do Sultão de Emesa, Melek-el-Mansur, a livre passagem para a Ásia Central.

- "Quia corporali presentia", de 7 de Julho de 1246, em que pela primeira vez surge referido como Penitenciário, e em que é enviado "ad partes transmarinas, tanquam pacis angelus, commisso tibi plenae legationis officio". As regiões que foi incumbido de visitar, como Legado Apostólico, eram as das diversas comunidades cristãs orientais: Arménia, Iconium, Grécia, Turquia, Síria e Egipto. Recebeu também plenos poderes sobre os gregos do Patriarcado latino de Antióquia, de Jerusalém e da ilha de Chipre, bem como sobre os Jacobitas, Maronitas e Nestorianos. Tentou, como objectivo desta missão, reconciliar Gregos e Latinos e facilitar o entendimento das Igrejas orientais com Roma.

- "De supremis coelorum", de 9 de Agosto de 1246, em que Inocêncio IV anuncia ao Patriarca grego de Antióquia (10), ao Katholikos da Arménia e aos patriarcas Maronitas a chegada de Frei Lourenço, que entretanto aguardava em Lião. Exortava-os a acolhê-lo com benevolência, como representante da Sede Apostólica romana e a submeterem-se às suas decisões.

- "Inter alia pietatis", de 24 de Abril de 1247, pela qual o Papa o encarrega de tratar de algumas questões com o Patriarca latino de Jerusalém, Robert de Nantes.

- "Satis existeret", de 4 de Junho de 1247. Os vastíssimos poderes atribuídos por Inocêncio IV a Frei Lourenço, se por um lado são a prova da confiança que nele depositava, por outro tornaram praticamente inevitáveis dificuldades e atritos face às comunidades que visitou. As velhas rivalidades étnico-culturais e político-religiosas dificilmente eram esquecidas apesar da largueza de vistas e da generosa sinceridade com que o Papa procurou a harmonia entre cristãos ocidentais e orientais. Destas dificuldades faz eco a Bula em questão; a intenção de proteger os gregos levara-os a insurgirem-se contra a hierarquia latina. Esta Bula reflecte as queixas do Patriarca de Jerusalém, Robert de Nantes, e induz o Papa a limitar os poderes de um e outro.

- "Cum in negotiis", de 5 de Junho de 1247, de intenção semelhante à anterior, no mesmo contexto das dificuldades referidas.

-"Censuram ecclesiasticam", de 3 de Agosto de 1247. Crescendo a hostilidade das partes às directivas de Frei Lourenço, o Sumo Pontífice viu-se na necessidade de recordar a autoridade de que estava revestido como Legado Apostólico, devendo assim essas directivas ser acatadas por latinos e orientais.

- "Iuxta desiderium nostrum ", de 7 de Agosto de 1247. Parece que as tensões criadas pela missão de Frei Lourenço causaram alguma impressão em Inocêncio IV. O próprio Frei Lourenço terá também tido oportunidade de ponderar alguns possíveis excessos, ou atitudes iníquas, que praticara ou tivera. Apesar disso não diminuiu a confiança do Papa no seu Legado, que por esta Bula o felicita pelos sucessos conseguidos junto do Patriarca de Antióquia e na aproximação das Igrejas grega e latina.

- "De protegendis per te", com a mesma data da anterior. O Papa delimita os poderes de Frei Lourenço, distinguindo os contenciosos a serem resolvidos por ele "in loco", e aqueles de maior importância que deviam ser reportados de viva voz ao Sumo Pontífice para deliberação. Pretendia a Santa Sé travar as contínuas reclamações dos orientais. Inocêncio IV escreve a Frei Lourenço que o objectivo da sua missão era conseguir a tranquilidade das cristandades orientais face a algumas prepotências dos latinos, e de modo algum pôr em causa os direitos de uns e outros.

- "Paterne pietatis", de 21 de Julho de 1250. Esta Bula é dirigida a Eudes de Châteauroux, Bispo-Cardeal de Frascati e Legado Apostólico no Oriente. Nela se refere ter Frei Lourenço substituído o Arcebispo grego de Chipre por prelados latinos: "Sane venerabilis fratris nostris Archiepiscopi Graegorum in Cypro transmissa nobis insinuatio continebat, quod ipse olim per dilectum filium Fratrem Laurentium Poenitentiarum nostrum tunc in partibus illis Apostolicae Sedis Legatum ab exilio, in quod eum illata sibi, ut asserit, a Latinis Praelatis iniuriarum molestia egerat, revocamus...". É por esta alusão indirecta que se pode deduzir ter Frei Lourenço estado em Chipre, de acordo com os poderes que quatro anos antes lhe tinham sido atribuídos.

- "Cum dilectum filium". A data desta Bula será anterior a 28 de Junho de 1252; no nono ano do seu pontificado Inocêncio IV permaneceu em Perugia de 5 d de Novembrode1251 a 27 de Junho de 1252. Nesta carta o Papa incumbe Frei Lourenço de uma missão junto do Senado e do povo de Roma, para justificação e defesa do Papado contra certas calúnias divulgadas.

Conclusão

Frei Lourenço de Portugal é figura quase ignorada entre nós. Pelas suas qualidades e pelas acções político-religiosas em que esteve envolvido merecia ser melhor conhecido. São os autores estrangeiros que lhe reconhecem a importância: apesar de não ter partido, foi o primeiro Embaixador que Inocêncio IV designou para ir junto do Grande Khan da Mongólia; foram vastíssimos os poderes nele investidos na missão no Oriente cristão; e durante todo o seu pontificado o Papa jamais perdeu a confiança que nele depositara. Tudo isto vem tratado em obras geralmente especializadas sobre um período complexo, o século XIII, do qual na memória colectiva europeia pouco mais terá ficado que a recordação, atenuada na Península Ibérica, da violência apocalíptica das hordas mongóis. Poderá assim explicar-se, em parte, a circunstância de Frei Lourenço ter caído em quase total esquecimento. A seu respeito escreve Leonardo Pisanu: "... l' importanza e il numero delle missioni affidategli [a Fr. Lourenço] sono sufficienti a considerarlo tra gli elementi più in vista fra i confratelli dei suo tempo ". E mais adiante diz, com palavras bem adequadas a concluir este resumo: "Nessuno forse tra i Francescani ebbe maggiori poteri di lui, sicché e facile capire la stima che poteva godere fra i membri della Curia Papale" (11). Num século em que foi tão relevante a acção dos Frades Menores é assim particularmente significativa esta apreciação sobre Frei Lourenço de Portugal.

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Encontrei apenas um trabalho dedicado a Frei Lourenço de Portugal: Martiniano Roncaglia, O.F.M., Frère Laurent de Portugal, O.F.M., et sa Légation en Orient, 1245-1248, no "Bolletino della Badia Greca di Grottaferrata", n° 7, 1953, p. 33-44.

A seguir indico, como resultado de uma primeira busca, as obras que contêm referências a Frei Lourenço:

- ALTANER, B., Die Dominicanermissionen des 13. Jahrhunderts, Halberschwerdt, 1924;

- BEAZLEY, Charles R., The Dawn of Modern Geography, London 1897-1906;

- BIGALI, D., I Tartari e l'Apocalisse, Firenze, 1971;

- CALVI, Nicoló da, O.F.M., Vita Innocentii Papae IV, Milano, 1723;

- CASTRO, Jacomo de, O.F.M., Arbol Chronológico de la Provincia de Santiago, Salamanca, 1722;

- CORTESÃO, Armando, História da Cartografia Portuguesa, Coimbra, 1969;

- DAWSON, S., The Mongol Mission, London & New York, 1955;

- ESPERANÇA, Frei Manuel da, O.F M., História Seráfica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco da Província de Portugal, Lisboa, 1656;

- Epistolae Saeculi XIII e Regestis Pontificum Romanorum selectae, in "Monumenta Germaniae Historica", Hannover-Leipzig, 1876-1913;

- EUBEL, C., O F.M., Bullarii Franciscani Epitome, Quaracchi, 1908;

- FEJÉR, Georg, Codex diplomaticus Hungariae ecclesiasticus et civilis, Buda, 1829;

- FRANCHI, A., O.F.M., La Svolta Politico-Ecclesiastica tra Roma e Bizanzio, 1249-1254, Roma, 1981;

- GOLUBOVICH, G., O.F.M., Bibliotheca Bio-Bibliografica della Terra Santa e dell' Oriente Francescano, Quaracchi, 1913;

- GROUSSET, René, Histoire des Croisades, Paris, 1941;

- GUBERNATIS, D. de, O.F.M., Orbis Seraphicus, Roma, 1689;

- GUZMAN, Gregory, Simon of Saint-Quentin and the Dominican mission to the Mongols, 1245-1248, Cincinnati, 1968;

- HALUSCYNSKYJ, T. Wojnar, e MELETIUS, M., Acta Innocentii PP. IV (1243-1254), Vaticano, 1962;

- HILL, George, A History of Cyprus, Cambridge, 1948;

- LOPEZ, A., Memória Histórica de los Obispos de Marruecos desde el Siglo XIII, Madrid, 1920;

- LUPPRIAN, K., Die Beziehungen der Päpste zu Islamischen und Mongolischen Herrschern im 13. Jahrhundert anhand ihres Briefwechsels, Vaticano, 1981;

- MESSINA, G., S.I., Cristianesimo, Buddismo, Manicheismo nell'Asia Antica, Roma, 1947;

- MOSHEMIUS, Laurentius, Historia Tartarorum Ecclesiastica, Helmstedt, 1741;

- NORDEN, W., Das Papstum und Byzanz, Berlin, 1903;

- OLIGIER, Livario, O.F.M., I Penitenzieri francescani a S. Giovanniin Laterano, in Studii Francescani 11, Firenze, 1925;

- PELLIOT, Paul, Les Mongols et la Papauté, Paris, 1923;

- PELLIOT, Paul, Chrétiens d'Asie Centrale et d'Extrème Orient, Toung Pao, SeriesII, n° 15, 1914;

- PELLIOT, Paul, Recherches sur les Chrétiens d'Asie Centrale etd'Extrème Orient, Paris, 1973;

- PISANU, L., O.F.M., L'Attivitá Política d'Innocenzo IV e i Francescani, 1243-1245, Nápoles, 1957;

- POTHAST, A., (ed.), Regesta Pontificum Romanorum, 1198-1308, Berlin, 1874-1875;

- RAYNALDUS, Odoricus, Annales Ecclesiastici, Bar-le-Duc, 1870-1871;

- RISCH, Friederich, Geschichte der Mongolen und Reisebericht, Leipzig, 1930;

- RÖHRICHT, Reinhold, Regesta regniHierosolymitani (1097- 1291), Innsbruck, 1893-1904;

- RONCAGLIA, Martiniano, O.F.M., Les Frères Mineurs et l'Eglise Grecque Orthodoxe au XIIIe siècle, Cairo, 1954;

- SBARALEA, H., O.F.M., Bullarium Franciscanum, Roma, 1759;

- SCHILMANN, Fritz, Die Formularsammlung des Marinus von Eboli, Roma, 1929;

- SO RANZO, G., II Papato, l'Europa Cristiana e i Tartari, Milano,1930;

- THEINER, Augustin, (ed.), Vetera monumenta historica Hungariam sacram illustrantia, Vaticano, 1859;

- THOMSON, Williel, Checklist of Papal Letters relating to the Orders of St. Francis. Innocent III-Alexander IV, Grottaferrata (Roma), 1971;

- VAT, O. van der, O.F.M., Die Anfänge der Franziscanermissionen und ihre Weiterentwicklung in nahen Orient und in den Mohamedanischen Ländern Während des 13. Jahrhunderts, Werl, 1934;

- WADDING, Lucas, Annales Minorum, Quaracchi (Roma), 1931 (3a ed.);

- WYNGAERT, A. van den, O.F.M., Sinica Franciscana, Quaracchi (Roma), 1929.

Não tive a oportunidade de consultar nem de saber se as seguintes obras de autores portugueses poderão acrescentar algo sobre Frei Lourenço (12):

- Marcos de Lisboa, Primeira... e Segunda parte das Chronicas da Ordem dos Frades Menores, Lisboa, 1557 e 1662;

- Francisco Gonzaga, De Origine Seraphicae Religionis, Roma, 1587;

- A publicação da tradução para português da "Chronica XXVI Generalium Ordinis Minorum", por J. J. Nunes, Crónica da Ordem dos Frades Menores (1209-1285), manuscrito do séc. XV, agora publicado inteiramente pela primeira vez, Coimbra, 1918.

NOTAS

(1) Armando Cortesão, História da Cartografia Portuguesa, vol. I, p. 194.

(2) V., interalia, e apesar de já desactualizada, H. Cordier, Bibliotheca Sinica, vol. III, col. 1955, e segs..

(3) A lenda do Preste João durou uns seis séculos, situando esse príncipe cristão inicialmente na Ásia e mais tarde em África. A historiografia portuguesa ocupou-se mais da segunda fase desta lenda, por nela termos estado directamente envolvidos. Quanto à fase asiática da lenda, é mais vasta a bibliografia estrangeira apesar de autores portugueses também dela se terem ocupado.

(4) Os Öngüt, também conhecidos por "Tártaros brancos", eram uma tribo importante sediada a norte do Rio Amarelo, na região que Marco Polo chamou Tenduc. Os Kerait situavam-se na Mongólia setentrional. Sobre o cristianismo destas tribos e a relação com a lenda do Preste João v. Pelliot, Chrétiens d'Asie Centrale et d'Extrème Orient, T'oung Pao, vol. 15,1914, e as Recherches... sobre os mesmos publicadas postumamente em Paris, 1973; A. C. Moule, Christiansin China before the year 1550, London, 1930. Sobre a Tenduc de Marco Polo v. H. Yule, The Book of Sir Marco Polo the Venetian, London, 1871, e sobretudo Pelliot, Notes on Marco Polo, Paris, 1959. Por curiosidade, que ajuda a explicar a tolerância religiosa na Ásia Central e China desta época, note-se que era uma princesa Kerait a mãe de Kubilai Khan, neto de Gengiskhan e primeiro imperador da dinastia Yuan da China.

(5) A 31 de Maio de 1222 travou-se a grande batalha do rio Kalka, sendo desbaratadas as forças russas. Conta-se que após esta vitória os mongóis colocaram uma grande prancha de madeira sobre os principais chefes vencidos e nela comeram e festejaram, enquanto por baixo os derrotados morriam sufocados. A 6 de Dezembro de 1240 caía Kiev, a principal das cidades russas da época.

(6) Carpine presenciou a cerimónia de entronização de Güyük como Grande Khan dos Mongóis em Julho de 1246, em Karakorum. O franciscano Guilherme de Rubruck foi enviado em missão de carácter religioso à Ásia Central por S. Luís em 1253. Há a narrativa da última audiência de Rubruck com o Khan Mangu, a 31 de Maio de 1254, dia de Pentecostes, que Dawson (The Mongol Mission, p. XXIII) considera "surely one of the most remarkable interviews in history". Sobre a missão de Rubruck há vasta bibliografia; veja-se um trabalho recente, Voyage dans l'Empire Mongol, traduction et commentairede Claude et René Kappler, Payot, Paris, 1985.

(7) A mais importante embaixada enviada pelos mongóis, em 1286, ao Ocidente cristão. Chegaram a Roma em 1287 e permaneceram um ano na Europa, tendo visitado Filipe IV, Eduardo I e o Papa Nicolau IV. Raban Sauma celebrou missa em Roma segundo a liturgia síria oriental na presença do Sumo Pontífice e dos Cardeais, e recebeu a Comunhão das mãos do Papa. Bem patentes nesta embaixada os laços (potenciais pelo menos) entre mongóis e cristãos e também o ecumenismo prevalecente em Roma. (V. Pelliot, Les Mongols et la Papauté, e sobretudo o trabalho dedicado a esta missão, de Sir Wallis Budge, The Monks of Kublai Khan Emperor o f China, London, 1928).

(8) É a missão de Frei Lourenço, que não se concretizou, seguindo em seu lugar Carpine. Quanto aos Dominicanos, foram designados Ascelino e André de Longjumeau.

(9) Sigo aqui sobretudo Roncaglia, Pisanu, Thomson e, quanto às missões aos Mongóis, Lupprian, indispensável quanto aos textos das Bulas.

(10) Pisanu (p. 54) diz tratar-se do Patriarca grego de Niceia. Franchi aborda esta questão com maior profundidade e não parece restar em dúvidas de que se tratava efectivamente do Patriarca grego, embora filo-latino, de Antióquia, cujo nome seria David I. A dúvida quanto ao nome, segundo Franchi, resulta de não haver documento explícito que o confirme; é porém sugerido por uma cronologia incompleta e sem data, constante de um manuscrito vaticano árabe. (Cf. Nasrallah, Chronologie des patriarches Melchites d'Antioche, Jerusalém, 1968). Note-se que Roncaglia, quase vinte anos antes, seguira a mesma posição de Franchi.

(11) Op. cit., pp. 51 e 55.

(12) Recolho estes elementos bibliográficos de Francisco Leite de Faria, O.F.M., Os Primeiros Franciscanos em Portugal, separata do "Colóquio Antoniano", Lisboa, 1983.

* Lic. Direito (Un. Lisboa); ingresso na carreira diplomática (1967), com serviços em Tóquio e Genebra; Encarregado de Negócios na Embaixada em Pequim(1979); Chefe de Repartição da África, Ásia e Oceania da Direcção Geral dos Negócios Políticos (MNE), 1982; Embaixador no Maputo (1983); membro da Delegação portuguesa às conversações luso-chinesas sobre Macau e vogal da Comissão Internacional sobre Macau; Ministro Plenipotenciário de 2a. classe (1987); Chefe Adjunto do Grupo de Ligação Conjunto luso-chinês e Chefe do Grupo de Terras luso-chinês(1988).

Comendador da Ordem de Isabel a Católica, de Espanha; Oficial da Ordem de Mayo AI Merito, da Argentina; Oficial da Ordem do Tesouro Sagrado, do Japão; Cavaleiro da Ordem de Orange-Nassau, dos Países Baixos; Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, do Brasil.

desde a p. 59
até a p.