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MACAU NA CERÂMICA DE RAFAEL BORDALO PINHEIRO

As comemorações do passado 5 de Outubro em Macau, culturalmente centradas em volta da figura de Rafael Bordalo Pinheiro, provocaram a revelação de uma curiosa pista: a da relação íntima entre Macau e a cerâmica de Bordalo. Directamente conotadas à emergência da ideia republicana e à instauração da República em Portugal, as iniciativas culturais do programa focalizaram, sobretudo, o Bordato caricaturista e panfletário - o autor e criador de desenhos e "cartoons", o fustigador da Coroa e dos "salvadores da Pátria", o ridicularizador de eminências e dos modos da vida política e social. Foi este sobretudo o contéudo temático da Exposição organizada pelo ICM e acolhida nas salas do Leal Senado. Mas foi durante a conferência da Dra. Irisalva Moita no Salão Nobre do Leal Senado (Bordalo Pinheiro - o homem e a obra, o artista plástico de tipos e costumes) que o Senhor P.e Manuel Teixeira revelou a estadia em Macau, em comissåo de serviço, de Feliciano Bordalo Pinheiro, irmão de Rafael. Já em número anterior da "Revista de Cultura " (RC n° 4 pág. 53 sgs.), num texto assinado pelo Dr. Pedro Pires, se chamava a atenção para a relação entre as cerâmicas de Shek Wan e das Caldas da Rainha, cit.: "Sabendo-se que existe uma semelhança verdadeiramente assombrosa entre as linguagens naturalistas da cerâmica das Caldas da Raínha e da cerâmica de Shek Wan, semelhança até no próprio processo de fabrico, pergunta-se: ter-se-ão influenciado mutuamente as duas escolas? Como?" Agora, reforçadamente, poderá perguntar-se: não terão sido as peças levadas de Macau por Feliciano Bordalo, as inspiradoras de algumas formas saídas da moldagem exuberante de Rafaet Bordalo? Mais ainda: a própria ideia, da fundação da Fábrica das Caldas näo terá nascido em Feliciano durante a sua estadia em Macau? Eis mais uma pista a merecer aprofundamento e investigação, provocatória, sobretudo, daquelas sensibilidades que mais se empenham neste momento a desvendar a intimidade da relação cultural luso-chinesa, através de Macau.

"Zé Povinho" (Fábr. Caldas da Rainha).

desde a p. 134
até a p.