Linguística

JORGE DE SENA
nos dez anos da sua morte

Em Macau assinalaram-se os dez anos da morte de Jorge de Sena. Na sequência de uma política cultural que visa divulgar os vultos da cultura portuguesa aos meios chineses, a Biblioteca Nacional organizou e patenteou uma Exposição Bibliográfica, servida por um catálogo bilingue (português e chinês) constituído por um prefácio biográfico, e 229 verbetes bibliográficos distribuídos pelos sectores da poesia, teatro, ficção, crítica cultural e literária, correspondência, prefácios, traduções e bibliografia sobre o autor e subsidiária.

De autoria do Director da Biblioteca, Jorge de Abreu Arrimar, foi o seguinte o texto da nota introdutória, traduzido para chinês:

"Comemora-se este ano o décimo aniversário do falecimento de Jorge de Sena, notável ensaísta, dramaturgo, contista, crítico literário e poeta. A sua obra é vastíssima e abarca, como ensaísta e estudioso, várias épocas da literatura portuguesa, brasileira, inglesa e americana. Uma carreira que abrangeu o ensino da Literatura Portuguesa, área em que se viria a doutorar, em 1964.

Jorge Cândido de Sena nasceu a 2 de Novembro de 1919, em Lisboa. Completou o Curso de engenharia civil no Porto, em 1944. Em 1959 exilou-se voluntariamente para o Brasil, país onde veio a ocupar o lugar de catedrático contratado de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, no Estado de S. Paulo. Dois anos depois, em 1961, muda-se para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, como catedrático contratado de Literatura Portuguesa, cargo de que se virá a licenciar em Outubro de 1965, altura em que decide partir para os Estados Unidos. Entretanto, defendera, no Brasil, a tese de doutoramento em Letras e de Livre-docência em Literatura Portuguesa, com o tema: «Os sonetos de Camões e o soneto quinhentista peninsular». Dado que já havia adquirido a cidadania brasileira, Jorge de Sena parte para um segundo exílio voluntário nos Estados Unidos, fixando-se na Universidade de Wisconsin. Aí regeu cursos avançados de literatura portuguesa e brasileira, vindo a ser nomeado, em 1967, catedrático do Departamento de Espanhol e Português dessa Universidade. Em 1970 muda-se para Santa Bárbara (Califórnia), como catedrático do Departamento Espanhol e Português e chefe do Departamento de Literatura Comparada da universidade daquela localidade, cargos que ocupou até 4 de Junho de 1978, data do seu falecimento.

Escrita entre 1936 e 1978, a poesia de Jorge de Sena encontra-se hoje toda reunida em seis volumes. O primeiro livro de Jorge de Sena é um volume de poesia, intitulado Perseguição, 1942. Títulos como Coroa da Terra (1946), Pedra Filosofal (1950), Fidelidade (1958), Metamorfoses (1963), Arte de Música (1968), Peregrinatio ad Loca Infecta (1969), Exorcismos (1972), Conheço o Sal... (1974) e Sobre Esta Praia (1977), sem referir aqui os volumes póstumos, são bem o exemplo de uma obra poética coesa e variada, de poesia caracterizada pela forte densidade conceptual, intelectualizada e de nível estruturalmente discursivo, derramando-se em períodos de fôlego amplo. A obra poética - na dimensão mais lata do termo - de Jorge de Sena, nunca esteve arredada, mesmo na sua juventude, do diálogo complexo e variado que só uma consciência cultural brilhante possibilita. A poesia seniana enraíza-se em motivações culturais e sociais diversas, que vão das artes plásticas à música, passando pela revolta contra a miséria humana e pelas preocupações sócio-políticas do Neo-Realismo.

A par da sua obra de dramaturgo, da qual sobressai uma importantíssima tragédia, O Indesejado (1949-1950), uma pérola no vazio que a esse respeito existe no teatro português, Jorge de Sena deixou-nos uma obra de ficção narrativa que abrange os contos de Andanças do Demónio (1960), Novas Andanças do Demónio (1966), Os Grão-Capitães (1975), uma das mais interessantes novelas da nossa literatura contemporânea, intitulada O Físico Prodigioso (1977) e um romance, Sinais de Fogo (1979).

É igualmente importante o seu percurso fecundo no âmbito da crítica, não só literária mas também teatral, musical e de artes plásticas.

Pelo facto de Jorge de Sena ser um dos casos mais singulares e exemplares da literatura de expressão portuguesa, cabe esta iniciativa inteiramente nos objectivos do Instituto Cultural de Macau, um dos quais é o de dar a conhecer os maiores vultos da cultura portuguesa aos interessados pelo seu estudo que vivem nesta área do globo. Assim, a Biblioteca Nacional tem a honra de apresentar ao público de Macau uma Exposição Bibliográfica, na qual poderá observar alguns exemplares da preciosa obra de Jorge de Sena que fazem parte do seu acervo documental, embora no catálogo se referenciem apenas as edições mais antigas.

No final do Catálogo, sob a rubrica Bibliografia Geral, apresentamos todas as referências bibliográficas que pudemos recolher, com o objectivo fundamental de dar a conhecer ao leitor o maior número possível de obras de e sobre Jorge de Sena, apesar de algumas delas não fazerem parte do acervo documental da Biblioteca Nacional de Macau ".

Para solenizar e enriquecer a efeméride, esteve em Macau a viúva de Jorge de Sena, D. Maria Mécia de Freitas Lopes, que no final da inauguração da exposição, na Biblioteca do Leal Senado, fez uma curta palestra em que referiu a história e alguns aspectos da obra de Sena; nela sobressaiu o seu papel na defesa e divulgação de uma obra, ainda não suficientemente publicada, reconhecida e consagrada em Portugal. O verbo fácil, a capacidade oral e expositiva, o espírito vivo de Mécia de Sena - conquistaram um auditório seleccionado e interessado, e provocaram as perguntas e a curiosidade sobre facetas menos conhecidas do Autor.

Assinalando também o acontecimento, RC publica de seguida, em fac-simile, duas das peças expostas: dois poemas originais manuscritos de Jorge de Sena, "Ode a Ricardo Reis" e "Poema apócrifo de Alberto Caeiro". ·

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até a p.