Artes

"INTERIORES" MACAU NA ARTE FOTOGRÁFICA DE HO SANG WONG

É Macau terra e tema de tantos fotó-grafos, mas raramente terá sido tão profunda-mente "relevada" na sua alma como nas impressões e fotogra-fias de Ho Sang Wong.

Falamos da sua exposição "Interiores" - uma série de cerca de duas dezenas de fotos representativas de figuras e tipos profissionais de Macau.

É que, se é "por dentro das coisas que as coi-sas são" não há melhor caminho para retratar Macau - sua complexidade de lugar de encontro de tantas e tão desvairadas gentes e coisas - do que a descober-ta e registo dos seus mais intímos recessos, penum-bras e claridades.

Ninguém melhor do que Ho Sang Wong esta-ria situado e habilitado a realizar esta radiografia de sombras e luzes. Nasceu e viveu em Macau, tem pupila curiosa e aguda, e arrecada longa experiência na arte da fotografia, aprendiz em Macau de fotogra-fia, "design", pintura e desenho, e, depois, licencia-do em Belas Artes (Fotografia) no Art Center College da Califórnia, onde é professor.

Nos "Interiores" de Ho Sang concentram-se os lugares comuns do imaginário quotidiano, patrimonial e antropológico de Macau, numa densi-dade documental servida pela harmonia e sugestividade da com-posição.

A enquadrar e cenarizar as figuras protagonistas, den-sificam-se os fundos com recortes de jor-nais, de almaques, da imprensa portuguesa de séculos, fragmen-tos de móveis chineses antigos, uma cadeira Ming ou um velho relógio, retalhos de arquitectura típica de Macau, janelas e objectos de uso comum, gravu-ras chinesas e velhas pinturas, personagens da histó-ria e vislumbres de interiores com a sua parafernália de adereços mais típicos.

Utilizando uma sucessão de técnicas de im-pressão em gelatina de prata, com recurso ao efeito de Sabatier e à reversão nas revelações, Ho Sang obtém com mestria uma envolvência quente de ne-gros, sienas, sépias e cinzas pálidos, perfeitamente' controlados e harmonizados. Assim nos oferece uma série de interiores, onde as semi-obscuridades são penetradas de súbitos e doseados jorros de luz, num claro-escuro de intimismo mágico, sugestivo da omnipresença de almas e espíritos dos lugares e das coisas.

Nesta bela síntese de diferenças e convívio de mundos, gentes, imaginários, estuante de vida e de amorosa complacência, palpita a velha-nova alma de Macau.

Série "Interior" —Intérprete

Série "Interior" — Profissional de Hotelaria

Série "Interior" —Artista de Ópera Chinesa

Série "Interior" — Amolador

Série "Interior" — Padre Manuel Teixeira

Série "Interior" — Comerciante Indiano

desde a p. 175
até a p.