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OS PORTUGUESES NA GUERRA DO IM-JIN?

Jaime Ramalhete Neves*

Parecem ser de informação diversa os docu-mentos coreanos em que se fala acerca de soldados estrangeiros, presentes do lado coreano, durante a Guerra do Im-Jin. Lutas que se travaram no final do século XVI, entre 1592 e 1598, no território hoje de-signado como Península Coreana, na altura designada por Reino de Choson, nome de origem chinesa durante o tempo da Dinastia Yi (ou Li).

Até esta data poucos documentos portugueses existem que nos mostrem sem ressalvas, ou com res-salvas, um conhecimento directo ou indirecto da Coreia.

Temos em primeiro lugar uma carta de 9 de Fevereiro de 1510, de Rui de Araújo, prisioneiro em Malaca, em que aparece pela. primeira vez a palavra Gores. Designando determinados indivíduos que, jun-tamente com naturais de Samatra, do Pegu, de Java e da China, iam à Península da Malásia fazer o seu co-mércio, a mesma palavra Gores aparece uma segunda vez numa carta de 1513, do rei D. Manuel I ao papa Leão XIII. Esta forma foi identificada como proveni-ente de Al-Ghur, designação árabe para as ilhas de Ryukyu ou Lyukyu. No entanto, os defensores de tal etimologia nunca explicaram a evolução fonética de uma palavra para a outra, nem se lembraram que a língua portuguesa possui a palavra leque para signifi-car um abano cuja designação, e só na língua portu-guesa, provém da forma Lyukyu. É muito mais prová vel que a forma Gores venha de Kaoli, topónimo chi-nês, anterior ao Reino de Choson, para designar a Pe-nínsula da Coreia. A favor desta proveniência há o facto de a língua chinesa ter sido veiculada também por um tráfico marítimo desde o século XII, no tempo de Xu Jing da Dinastia Song do Norte (China), tempo da armada de Zeng He, no início do século XV e cuja rota passava pelo Estreito de Malaca. Sem contar com o facto de que a escrita chinesa foi e é a koinê do Extremo-Oriente. A acrescentar a monovalência de r/l em muitas línguas orientais e a solução vocálica de Kaoli para Gores ser plausível dentro dos hábitos articulatórios do português.

No século XIII é o monge budista coreano Ilyon que, na sua obra Samkuk Yusa, faz referência a viagens por mar entre a China e a Coreia por volta do século VI d. C..

Temos em segundo lugar o Roteiro de Fran-cisco Rodrigues em que é possível detectar, através de um traçado muito imperfeito, o território da Coreia.

Em terceiro lugar, o texto da Peregrinação de Femão Mendes Pinto onde, a par de topónimos coreanos disfarçados por enfoques de origem chine-sa ou por pronúncia japonesa, encontramos uma for-ma verbal coreana e uma lenda igualmente coreana recolhida, directa ou indirectamente, por Femão Mendes Pinto.

Em quarto lugar, o atlas de Diogo Homem, publicado em Londres em 1558, data do regresso de Fernão Mendes Pinto a Lisboa. Tratar-se-á porventura de uma mera e pontual coincidência de datas: a Coreia representada como península.

Por último, o que a investigação do Pe. Manuel Teixeira trouxe a lume, o naufrágio de Domingos Monteiro nas costas da Coreia nos inícios do último quartel do século XVI.

No Japão, os portugueses tinham estabelecido relações havia mais de quarenta e cinco anos, a contar do fim da guerra do Im-Jin.

Na China, depois da morte de Tomé Pires (ao que se julga cerca de 1524), e de sucessivas ilhas de veniaga ao longo da costa, para norte, ilhas essas que diferentes cartógrafos se apressavam a corrigir para ilhas dos ladrões quando os negócios eram perturba-dos (o que terá acontecido na ilha de Cheju a sul da Coreia), tinha havido a concessão de Macau, não sem que antes Liampó (Ning-po, ou outra localidade) tives-se sido destruída, e não sem que depois, cerca de 1581, o cartógrafo português Inácio Monteiro, ao representar a Coreia como uma ilha, tenha escrito: "Nhum home esta nesta somente molheres todas E quem vem nesta, não torna ja mais porque os matâo".

Dois anos mais tarde, em 1583, Matteo Ricci chega a Chau-Ch'in; o P.e. Duarte de Sande a Macau em 1585, data em que também chega o P.e António de Almeida e de cujas informações se serviu o espanhol Bruxeda de Leyos. Em 1595 o Pe. João Soeiro está em Nan-Chang-fú (Kiang-si). Até 1596 o Pe. Duarte de Sande penetrou várias vezes até Kwantong. De Duarte de Sande uma das primeiras obras impressas em Ma-cau e por europeus na China, De missione legatorum Iaponensium ad Romanam curiam; do Pe. João da Ro-cha traduções para chinês de obras de índole religiosa, Tien-tchu cheng-kiao ki-mong e Tien-tchu cheng-siang lio-chuo; do Pe. João Soeiro a tradução do Resumo da Doutrina Cristã, Tien-chu Chen-Kiao Jo-yen (por vol-ta de 1601), todas elas porém utilizando a palavra Tien, primeiro indício porventura da identificação do conceito chinês de "Senhor do Céu" com o conceito cristão de "Deus", que conduzirâ posteriormente à chamada Querela dos Ritos e à expulsão dos Jesuítas da China.

É aproximadamente durante a permanência destes missionários na China que se dá a invasão japo-nesa da Coreia, por esta ter recusado dar passagem ao exército de Toyotomi Hideyoshi: a aliança vinha do século VII d. C. quando, no período dos Três Reinos, Shilla tinha pedido auxílio ao Império do Meio para fazer a unificação política da península. Intérprete de Hideyoshi foi o P.e. João Rodrigues Tçuzzu.

Sobre esta invasão escreve o P.e Luís de Fróis a partir, em parte, de correspondência enviada pelo Pe. Gregório de Cespédes, espanhol que acompanhara, em funções específicas do seu mister, as tropas invasoras. No entanto, já em carta datada de Malaca em 15 de Dezembro de 1555, e dirigida aos seus confrades de Portugal, Luís de Fróis afirmava:

"Disseram-nos que alguns reis da costa do Ja-pão faziam grandes armadas contra os governadores das cidades marítimas da China e que havia grande destruição de huma parte e outra..."

Um registo português acerca da actividade dos Waco, piratas japoneses. Registos naturalmente mais pormenorizados existem na China e na Coreia e foram estudados por Charles Haguenauer.

Retomando a afirmação inicial. São duas as fontes coreanas para apoiar, em princípio, a presença portuguesa no exército chinês da dinastia Ming, entra-do na Coreia para combater e repelir, ao lado das tro-pas coreanas, o exército invasor japonês: os Anais da dinastia Yi (ou Li) do Reino de Choson e os documen-tos da família Kim, de Pung San (localidade cujo nome pode ser traduzido por Montanha do Vento). Desta família houve um antepassado, Kim Dae Hyon, contemporâneo da invasão do Im-Jin, que era um alto funcionário, culto e amante das artes, e que durante a defesa da Coreia desempenhou um cargo e um papel importantes. Estes documentos da família Kim cons-tam de relatos de acontecimentos históricos, poesia, prosa, acontecimentos e linhagem da família, textos escritos e transmitidos ao longo de gerações e ainda colecções de pinturas de autores considerados, ofereci-das ao próprio Kim Dae Hyon. Curioso notar que Kim Dae Hyon toma o nome de Tang quando já velho: além de ser um indício da mentalidade coreana em que os períodos de vida de um indivíduo são bastante de-marcados, remete-nos para o texto da Peregrinação quando se fala de na China existirem instituições de protecção à velhice, o que tem sido considerado como parte integrante do mito de uma cidade ideal projecta-da em Pequim por Femão Mendes Pinto: esta palavra está relacionada com os conceitos de repouso, descan-so e, digamos, bom tratamento.

A escrita utilizada em todos os documentos é a chinesa, que foi e é uma espécie de koinê grafemática utilizada pela maior parte dos países asiáticos (com leitura diferenciada a nível fónico) a que na Coreia se dá o nome de handja. Embora com valor simbólico, os caracteres chineses podem por vezes, e sobretudo quando se trata de palavras de origem estrangeira, to-mar um valor fonético, o que é o caso das palavras que designam os "portugueses" nestes documentos.

Os documentos foram traduzidos com o contributo dos professores coreanos do Departamento de Língua Chinesa, do professor Doutor Choi Yeong Su, do Departamento de Língua Portuguesa, e do autor deste artigo, então leitor do ICALP, todos da Universi-dade de Hankuk de Estudos Estrangeiros, em 1990.

Uma diferença é notória entre o texto dos Anais e o texto dos documentos da família Kim: enquanto os Anais apresentam a forma Parang-kuk (o segundo ele-mento significa país) para designar a naturalidade dos combatentes estrangeiros, os documentos da família Kim utilizam a forma Pulang-kuk. Formas semelhan-tes, aproximadas, são atestadas por Sebastião Rodolfo Dalgado.

Do confronto das duas, isto é, das presentes nos documentos coreanos e em Dalgado, com as quais também posso confrontar o meu conhecimento bastan-te reduzido da língua coreana, concluiria pela perma-nência de hábitos articulatórios na língua coreana des-de o século XVI: tal como hoje e quando da introdu-ção de vocábulos estrangeiros o fonema/f/é sempre substituído pelo fonema/p/. As formas, entre outras, atestadas por Dalgado, fulan e faran (seguidas de ji/ki) pressupõem:

a) em primeiro lugar, a presença muçulmana no Oriente e uma identificação do "outro" em diver-sos tempos, sendo a primeira identificação remontável à primeira cruzada, de Godofredo de Bulhão, sendo fulan o ocidental, cristão, francês e a forma fulan a forma adaptada por hábitos articulatórios de origem árabe da palavra, melhor, do sema "franc" do ponto de vista muçulmano; e sendo a segunda identificação localizável nos contactos de-correntes da viagem do Gama e na Índia através de formas flutuantes firangi/firingi/farangi, significan-do estrangeiro, que serão levadas, por via muçulma-na, até à Tailândia (pharang/phrang), Malásia, sues-te asiático. Lembremo-nos do termo franges utiliza-do, embora primeiramente recolhido, pelos primei-ros portugueses prisioneiros em Cantão e que de lá escreveram.

b) em segundo lugar, conhecimentos enciclopé-dicos diferenciados quanto a teor e tempo: a forma fulan que entra na formação de uma outra palavra fulankilpulanki (consoante se trate do chinês ou do coreano) parece ser de introdução anterior. O signifi-cado é "canhão de tecnologia ocidental" na sequência linguística coreana pulanki-tchapô, provavelmente já utilizada antes da chegada dos portugueses. O que não quer dizer que se os portugueses levassem canhões eles se tivessem preocupado em alterar a designação. Repito: duas formas para designar o país estrangeiro Parang-kuk e Pulang-kuk e uma forma para designar "canhão de tecnologia ocidental", pulanki-tchapô. Digo isto porque em Yuk-Sa, o Museu Militar de Seul, detectei três servidores de culatra de "berço" descober-tos no início da década de 80, debaixo de uma antiga casa, quando se abria uma nova linha de metropolita-no. Por comparação com "berços" e servidores de cu-latra existentes em Portugal, e aferidas proporções, o "berço" correspondente teria cerca de um metro e no-venta e cinco. Os servidores de culatra estão classifica-dos como pulanki e são de ferro, como era regra. Nada nos diz que tenham sido utilizados na guerra do Im-Jin.

A forma pulanki terá sido introduzida via Pérsia até chegar à China e a forma parang pelo cami-nho referenciado atrás e em diversas línguas, via sul, poderá ter tido a sua chegada a Pequim depois da con-quista de Malaca por Afonso de Albuquerque. Malaca era tributária de Pequim, onde um familiar do rei ven-cido foi apresentar queixa ao imperador.

Como explicar a caracterização dos combaten-tes ocidentais apresentada nos Anaisl A sua descrição implica uma apreciação a vários níveis. A que primei-ro salta à vista são os caracteres chineses que correspondem à noção de estrangeiro: trata-se de dois caracteres cujo significado primeiro é povo cão. No Império do Meio até as etnias que ficavam a leste, e hoje fazendo parte integrante da China, eram represen-tadas por um símbolo em que entrava o conceito de cão. A pilosidade como marca diferenciadora é anota-da e o comportamento do cabelo merece a comparação com o pêlo do carneiro negro, devido a ser encaracola-do. É-nos dito ainda que os artilheiros estrangeiros vinham vestidos de seda. Não deve haver qualquer motivação estética por parte do cronista ao fazer este reparo que deve ter sido ditado por outras duas razões. A primeira porque na Coreia, isto é, no Reino de Choson, o tecido utilizado para o vestuário do povo era à base de cânhamo, linho, sendo a seda reservada para a aristocracia e funcionários do mais alto nível; segunda razão, em sociedades de comportamento e fi-losofia confucionista a função de artilheiro era muito pouco considerada do ponto de vista social, mesmo que prestassem bons serviços. Tanto em Choson como na China, ao contrário do que acontecia em Portugal.

Quanto às habilidades como guerreiros. Embo-ra Luís de Fróis refira que os coreanos usavam "espin-gardas sem coronha", a primeira afirmação desta na-tureza apresenta os artilheiros com uma capacidade de utilização extraordinária no manejo de armas de fogo e outras. Uma segunda afirmação está contida na metá-fora "demónios do mar", embora com sentido positi-vo. A comparação que surge "eles são como os pei-xes" pode ter duas vertentes de apreciação: a primeira, a estranheza perante o tipo de vida que levavam como marinheiros e a segunda, porventura, o aproveitamento de uma caracterização que já vinha do tempo em que Cristóvão Vieira tinha estado cativo em Cantão:"(...) têm os chins os portugueses em pouco, por dizer que não sabem pelejar em terra, que são como peixes que como os tiram da água ou do mar logo morrem". Não era o caso aqui na guerra do Im-jin, mas em que medi-da uma caracterização anterior poderá ter sido modifi-cada pelas circunstâncias?

Os textos da família Kim apresentam perspecti-vas algo diferentes. De heróis, os soldados estrangei-ros passam a piratas: uma visão diferente da dos Anais.

E aqui podemos ficar divididos quanto ao que motivou esta caracterização: se o considerar a presen-ça portuguesa (admitamos) como uma intromissão apesar dos serviços prestados (recorde-se que nesta altura, em Choson, os estrangeiros não eram tolera-dos), se o conhecimento do comportamento dos portu-gueses nas suas relações comerciais com a China, principalmente na foz dos grandes rios e durante parte da primeira metade do século, quando se recusavam a pagar o tributo devido por esse comércio.

É reforçada a sua qualidade de atiradores, di-zendo-se que são certeiros.

Quanto à cor da pele, preta ou acastanhada por oposição àquilo que era considerado pelos naturais do reino de Choson ser uma pele branca e que a nível de comportamento social requintado não admitia o bron-zeado do sol, sinal de rusticidade. Também, por oposi-ção aparece a surpreendente caracterização da cor dos cabelos: toda a tonalidade, mais clara que o generali-zado cabelo preto oriental, passa imediatamente a amarelo, vermelho, tal como o cabelo liso, servindo de referência própria, faz com que o cabelo dos portugue-ses seja qualificado de revolto. Nestes textos a desig-nação do país estrangeiro é Pulan-kuk.

A leitura coreana dos documentos afirma que as diferenças entre as formas Pulan-kuk e Parang-kuk são porventura devidas a uma má interpretação escrita dos sons.

Numa leitura a que se poderá chamar portugue-sa passo a pôr à consideração os seguintes pontos:

1 -- A forma primitiva para as duas formas coreanas é "franc" (apud Dalgado).

2 -- As duas formas Parang e Pulan sofreram a influência de hábitos articulatórios que desconhecem o som /f/.

3 -- Os caminhos que essas duas formas ti-nham percorrido, para que coexistam em Choson no final do século XVI, foram diferentes.

4 -- A leitura coreana está condicionada pelo seu próprio contexto cultural:

a) Embora o "hangul", alfabeto fonético coreano, tenha sido criado no reinado do rei Sejong, só na viragem do século XIX para o XX ele conseguiu implantar-se junto de todas as camadas sociais.

b) Até essa data os intelectuais e estudiosos uti-lizavam exclusivamente os caracteres chineses (embo-ra com leitura coreana) sendo o "hangul", por motivos de elitismo cultural, relegado para o papel de escrita feminina ou de estratos sociais inferiores.

c) Da conjugação das duas alíneas anteriores advém que, durante cerca de cinco séculos e embora os caracteres chineses possam por vezes ter valor foné-tico, só muito raramente as perspectivas diacrónicas e dialectais, incluindo a divergência de formas, têm sido consideradas pelos estudiosos utentes da língua coreana.

Mas, terão sido quatro e portugueses os ociden-tais que vieram com as tropas da dinastia Ming socor-rer o reino de Choson? Ainda hoje na Coreia o número quatro pode significar morte. São porém das poucas figuras do exército, pintado no rolo de tela da família Kim de Pung San, que têm os olhos desenhados.

NOTA

Na transcrição das palavras coreanas usou-se o alfabeto oci-dental com o uso mais frequente que ele costuma ter em português; a transcrição de palavras coreanas por utentes da língua inglesa costuma proceder de maneira correspondente e quando esse utente é coreano há ainda a considerar a interfe-rência da ortografia coreana na transcrição.

Não se apresentam na bibliografia os documentos da família Kim por não estarem publicados; foi-me possibilitado consultá--los devido à amabilidade do bibliófilo coreano Lee Jong Hak (nome com transcrição inglesa).

BIBLIOGRAFIA

Anais do Reino de Choson, texto fotocopiado existente na Biblioteca da Universidade Nacional de Seul. Livro XXIII.

Actas do Seminário CIÊNCIA NÁUTICA E TÉCNICAS DE NAVEGAÇÃO NOS SÉCULOS XV E XVI. Macau, 1988. Instituto Cultural de Macau. Centro de Estudos Marítimos de Macau.

António da Silva Rego, Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente. Lisboa.

Carlo M. Cipolla, Canhões e Velas na Primeira fase da Expansão Europeia. Lisboa, 1989. Gradiva.

Charles Haguenauer, Études Coréennes de Charles Haguenauer. Paris, 1980. Centre d'Études Coréennes du Collège de France.

Ilyon, Samkuk Yusa (Legends and History of the Three Kingdoms of AncientKorea). Seoul, 1972. Yonsei University Press.

J. L. Boots, "Korean weapons and armour" in Transations of the Korean Branch of the Royal Asiatic Society, Seoul, 1934.

Jaime Ramalhete Neves, "Taximida, Femão Mendes Pinto na Coreia" in revista História. Lisboa, 1991. Ano XIII, n.ō138, Março. Publicações Projomal, L. da.

"O conhecimento português da Coreia no século XVI" in RC-Revista de Cultura, n.ō 15, Julho/Setembro de 1991.

Instituto Cultural de Macau.

Luís de Fróis, História de Japam. Lisboa. Imprensa Nacional — Casa da Moeda.

M. Valdez dos Santos, Apontamentos para a História da Artilharia Portuguesa. (Texto policopiado). Lisboa, 1987. Direcção do Serviço Histórico Militar.

Park Chul, "Gregorio de Cespédes, primer visitante europeo a Corea" in Corea e Iberoamerica, vol. 2, Setiembre de 1986. Seoul. Universidad Hankuk de Estudios Estranjeros.

Portugaliae Monumenta Cartographica. Lisboa.

Raffaela d'Intino, Enformação das Cousas da China. Lis-boa, 1989. Imprensa Nacional — Casa da Moeda.

Sebastião Rodolfo Dalgado, Glossário Luso-Asiático, 2 vols. Coimbra 1919/1921. Imprensa da Universidade de Coimbra.

NOTAS DA REDACÇÃO ANAIS DA DINASTIA CHOSUN1

Anais da dinastia Chosun

— O General Paeng Sin Go disse ao Rei Sunjo: "Trouxe estes soldados, com rostos bem diferentes dos nossos, que lhe vou apresentar."

— O Rei disse: "Donde vêm e que funções tem?"

— O General Paeng disse: "Vieram do Sul da China, Hokwang.

São do país Parangkuk 2 e chegaram a Hokwang atravessando três oceanos. Este país está distante da Coreia cerca de 150.000 Ri3. Eles são há-beis no uso de espingardas e conhecem várias artes militares.

São mergulhadores, têm olhos amarelados, pés, mãos e face escura, barbas e cabelo encaracolado, como se fosse lã preta. Permanecem uns dias no fundo do mar, alimentando-se de peixe. É raro encontrar na China homens como estes."

O General Paeng Sin Go fez uma visita de cor-tesia ao Rei, que o recebeu, convidando-o a entrar(a subir). Os três Haegui4 cumprimentaram o Rei quedando-se no Jardim.

O Rei pediu aos Haegui para fa-zerem uma demonstração da arte de es-grima, oferecendo-lhes, depois, pratas como prémio. Por fim, serviu um chá co-memorativo.

ANTOLOGIA DE YU-YEON-DANG5

O General Paeng Sin Go chegou com 4 homens de Pulangkuk, que têm pele escura e cabelo amarelado e que se chamam Haegui (Demónio do Mar). O Rei foi-se encontrar com o General e este apresentou os Haegui ao Rei, dizendo: "Estas pessoas de Pulangkuk chegaram a Hokwang, na China, atravessando três oceanos. É um país que fica a 150.000 Ri daqui. Eles mergulham e fazem rombos nos navios do inimigo. São também muito hábeis no uso de armas de fogo."

O Rei ofereceu-lhes tecidos de algodão e pratas.

Antologia de Yu-Yeon-Dang

Chunjo Jangsa Jeonbeoldo

SAE-JEON-SEO-WHA--CHEOB6

Os quatro Haegui (Demónios do Mar) de Pulangkuk têm pele escura e cabelo amarelado armado como se fosse uma almofada e mergulham e fazem rombos nos navios do inimigo.

NOTAS

1 Anais da Dinastia Chosun (Maio de 1598): A parte referente aos portugueses encontra-se no livro 23, página 442.

2 Parangkuk: No dicionário Chinês/Coreano, Parangkuk significa Portugal/Espanha.

3 Ri é equivalente a 4 Km.

4 Haegui: Haegui significa "Demónio do Mar".

Neste contexto poderá ser interpretado como mergulhadores/homens-rã.

5 Antologia de Yu-Yeon-Dang: A parte referente aos portugue-ses encontra-se no 2.º livro, página 27. Yu--Yeong-Dang é o pseudónimo de Kim Dae Hyun, oficial de ligação do exército coreano.

NOTAS

6 Sae-Jeon-Seo-Wha-Cheob (15 de Abril de 1599): é o livro onde está contida a pintura (Chunjo Jangsa Jeon--beoldo) que representa a partida do exército Ming e onde se vêem claramente os Haegui (Demónios do Mar).

* Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Le-tras da Universidade Clássica de Lisboa. Investigador das relações entre Portugal e a Coreia.

desde a p. 27
até a p.