Antropologia

O CULTO DAS DIVINDADES PROTECTORAS DA NAVEGAÇÃO MARÍTIMA EM MACAU E O SINO-OCIDENTAL

Zhang Wenqin*

I. OCULTO DAS DIVINDADES PROTECTORAS DA NAVEGAÇÃO MARÍTIMA EM MACAU

Oglobo terrestre tem asua superfície coberta em dois terços pelos mares e oceanos. Daí o estreitíssimo relacionamento da humanidade com os mares desde tempos imemoriais. Quer no Oriente, quer no Ocidente, todos os povos intimamente ligados com o mar na sua produção social e na sua vida quotidiana renderam, nas suas respectivas religiões, culto às divindades protectoras da navegação marítima, culto que em numerosos casos persiste até hoje e tem visto o seu conteúdo e significado em constante renovação com o decorrer do tempo.

Yam Komjia. A-Má a Colher Plantas Medicinais.

Macau, sita na costa do Sul da China, foi na época dos veleiros de madeira um excelente porto marítimo para o comércio Oriente-Ocidente. Os navegantes chineses e ocidentais veneraram aqui as divindades protectoras da navegação marítima características das suas respectivas culturas nacionais.

A cultura tradicional chinesa conhecia um culto de deidades de protecção marítima que lhe eram próprias. A deusa A-Má, originária, durante a dinastia Song (960-1279), de Meizhouyu, distrito de Putian, província de Fuquiém, tornou-se a principal dessas deidades na cultura tradicional chinesa graças à divulgação do seu culto por parte dos navegantes de Fuquiém, bem como aos títulos santificados que lhe vieram conferindo soberanos de diversas dinastias e épocas. A ela é que lhe rendiam fervoroso culto os pescadores marítimos e até os simples moradores costeiros chineses. O Sul da China, onde está situada Macau, é uma das zonas do litoral chinês em que com maior fervor se venerava a deusa A-Má.

De regresso ao país após a sua primeira navegação em que chegara até ao oceano índico, Zheng He, o grande navegador chinês, apresentou ao imperador Yongle um memorial em que exaltava o papel protector de A-Má e propunha que se lhe conferisse um título imperial de honra divina. Acedendo ao pedido, o imperador ordenou no ano 7 do seu reinado (ou seja, em 1409) que à deusa A-Má se lhe conferisse o título santificado de "Dama Celeste Protectora do Listado e do Povo, Omnipotente e Omnibenévola", e que se construísse em Nanquim um "Templo da Dama Omnipotente e Omnibenévola". Alguns anos mais tarde, os moradores e comerciantes de Hou-Keng-Ou (Macau), porto de comércio exterior na costa de Cantão, construíram no extremo sudoeste da península, perto da entrada do Porto Interior, o "Pavilhão Hong Yân (Omnibenevolência)", o primeiro templo de A-Má. Quando os portugueses chegaram e se apossaram de Macau no período de 1553-1557, o referido Templo de A-Má já era o símbolo do porto.

À medida que se desenvolvia a zona, espalhava-se também a crença em A-Má entre os moradores chineses. Na colina da Barra, onde se erguia o "Pavilhão Hong Yân", foi construído, durante o reinado do imperador Wanli (1573-1620) da dinastia Ming, o templo de pedra da "Primeira Colina Divina". E, durante o reinado do imperador Kangxi (1661-1720) da dinastia Qing, construiu-se o salto principal "Zheng Jue Chan Lin" (Bosque do Zen da Justa Consciência) e, mais tarde, o Miradouro e o Pavilhão da deusa budista Kun-Iam (Avalokitesvara), que vieram a configurar o complexo arquitectónico do actual Templo de A-Má, que, graças à tradição de gestão por parte de bonzos budistas e a acumulação, ao longo dos anos, de numerosos dísticos e lápides da autoria de devotos e eruditos, se tornou um local bem ordenado e institucionalizado de culto religioso, uma jóia monumental com pronunciadas características da cultura chinesa.

Paralelamente, durante o reinado do imperador Wanli, da dinastia Ming, moradores chineses construíram, no sopé da colina Lin Fong (colina do Lódão), ponto fulcral de tráfego terrestre e marítimo nessa altura, sito entre Macau e a Ilha Verde (Cheng San?), um novo templo da deusa A-Má (o Templo de Lin Fong), de modo que, com os outros templos e pavilhões construídos durante a dinastia Qing e mais tarde na península de Macau e nas ilhas da Taipa e Coloane, havia cerca de dez em todo o Território. O Templo da Deusa A-Má, da colina da Barra, símbolo indiscutível do desenvolvimento local de Macau, não é apenas o "Templo-Mestre" de todos os seus congéneres no Território, mas também um dos templos da deusa mais conhecidos em toda a China.

É certo que A-Má era venerada pelos moradores chineses de Macau como a principal das deidades de protecção marítima, mas não menos certo é que o eram também outras deidades consideradas até certo ponto como protectoras da navegação marítima, entre as quais Kuan Tai (Guan Yunchang, símbolo da lealdade e da bravura bélica), esteio principal da crença religiosa entre a população chinesa; a deusa Kun-Iam (Guan Yin, Avalokitesvara), a mais influente das deidades budistas na China; e Lôi Tchou (Lu Zu) e Pak Tai (Bei Di), as mais influentes das deidades tauistas na China. Entretanto, a deusa Sam Pó, que era outra imagem de A-Má, o deus Hong Seng Wong (Deus do Mar do Sul), a deusa Mãe dos Dragões de Yut Seng e o deus Tam Kông, todos típicos das crenças religiosas do povo de Cantão, bem como o deus Tchü Tai Sin, protector da navegação marítima, próprio dos barqueiros de Macau, são, uns mais, outros menos, objecto de veneração dos moradores chineses macaenses.

De acordo com as concepções religiosas tradicionais do povo chinês, todas as deidades de influ^encia geral são "omnissapientes e omnipotentes", enquanto aquelas especializadas em determinadas funções divinas ou veneradas em determinadas localidades têm os seus poderes divinos limitados às suas respectivas áreas. Este é também o caso das concepções religiosas dos moradores chineses de Macau. À deusa A-Má, por exemplo, é atribuída não apenas a função de proteger os navegantes, como também a de amparar e garantir a vida pacífica e próspera dos devotos de toda a região costeira, bem como muitas outras funções. Kuan Tai, conhecido como "deus omnipotente", e Kun-Iam, deusa budista da misericórdia e salvadora dos desgraçados, não apenas são venerados nas áreas costeiras, mas acumulam, entre as suas múltiplas funções divinas, a de oferecer protecção aos que navegam desafiando as fúrias dos mares. medida que se desenvolviam as forças produtivas, se melhoravam as condições do transporte e progredia a sociedade humana em geral, ia-se enfraquecendo a função destas deidades no respeitante à protecção da navegação marítima, ao passo que iam ganhando em importância as suas outras funções, que vieram imprimir novos elementos ao conteúdo destas crenças de culto.

No Ocidente, foi a partir da época greco-romana que surgiram numerosas deidades protectoras da navegação marítima. Na mitologia greco-romana distinguem-se dezenas de deusas protectoras dos navegantes, cujo culto no Ocidente persistiu até aos Descobrimentos.

Um papel de destaque nesses Descobrimentos coube em sorte a Portugal, nação que granjeou louros pelas proezas dos seus navegantes. Em 1498, Vasco da Gama chegou com a sua frota à costa de Malabar, 韓dia, após ter ultrapassado o Cabo da Boa Esperança, descobrindo assim uma nova rota marítima directa entre a Europa Ocidental e o Oriente, facto que veio marcar o início do intercâmbio directo entre as duas civilizações.

N'Os Lusíadas de Luís de Camões, a deidade que protegeu Vasco da Gama na sua travessia do oceano 韓dico foi Vénus, deusa da mitologia romana que a princípio fora considerada como deusa protectora das hortas e jardins e mais tarde viu estender-se o seu culto e chegou a identificar-se com a deusa mitológica grega Afrodite, para tornar-se a deusa do amor, da beleza e da protecção marítima. Na obra de Camões, Vénus é para Vasco da Gama o que A-Má é para o navegante chinês Zheng He. Ora, Vénus, personagem mitológica romana, é uma deidade pagã, alheia à religião católica, predominante em Portugal. Teria sido improvável que, apesar da rigorosa censura da Igreja, saísse à luz uma epopeia com referências pagãs a não ser pela persistência em Portugal e noutros países ocidentais da tradição de culto das deidades protectoras da navegação marítima, para já não falar do eco fervoroso e duradouro que essas referências a Vénus encontraram em toda a nação portuguesa, bem como noutras nações ocidentais.

Outro facto testemunha esta tradição. No ano de 1502, os Portugueses chegaram, no Sul do Atlântico, a uma ilha vulcânica perto da costa ocidental da África, e deram-lhe o nome de Santa Helena, nome que provinha da deusa grega Helena, filha de Zeus e Leda, venerada, juntamente com os seus irmãos Dioscuros, como deidade protectora dos navegantes. A ilha de Santa Helena foi ocupada sucessivamente, a partir de 1513, por Portugal e Holanda e, em 1659, passou às mãos dos Ingleses, mantendo o seu nome até hoje.

Após terem entrado na posse de Macau em 1553-1557, os Portugueses, de igual maneira que os moradores chineses, começaram aqui a venerar com devoção religiosa as suas próprias divindades ocidentais protectoras dos navegantes. Para além de Jesus Cristo, venerado em todas as igrejas e que acumulava a função de protecção da navegação marítima, a Virgem Santa, venerada nas igrejas de Nossa Senhora, sitas nos cimos ou encostas das colinas, parecia ser considerada como protectora especial dos navegantes.

A Igreja de São Paulo, que começou a construir-se em 1572 e voltou a ser reconstruída nos anos 1602-1640, tinha como nome formal Igreja da Assunção. A pedra angular, colocada em 1602 aquando da sua reconstrução, levava a inscrição em latim "Virgini Matri, Civitas Macaenses Lubens". Até hoje, esta pedra angular continua inserida no muro ocidental das ruínas da igreja. À direita da imagem da Assunção, na fachada da igreja, vê-se um motivo gravado em pedra, "Mãe da Estrela do Mar", e acima, à direita, está a imagem da Virgem nos Céus, e debaixo dela encontra-se um navio europeu a navegar, com a conotação religiosa de "a Mãe da Estrela do Mar a guiar o grande navio representante da Santa Fé através do pântano do pecado" ou a de "um navio guiado por Nossa Senhora a atravessar o mar do pecado"1. A primeira conotação fica um pouco mais longe da vida mundana do que a segunda. De acordo com as concepções ortodoxas do catolicismo, o mundo está repleto de pecados, de modo que "o mar do pecado" não seria senão simplesmente "o mar da navegação". O facto de a Igreja de São Paulo, encostada a uma colina e na altura com a sua fachada voltada para a Praia Grande, ter na sua fachada o motivo de "Mãe da Estrela do Mar" poderia interpretar-se como símbolo da protecção que da Virgem esperavam os navegantes ocidentais no Oriente, uma vez que do sucesso ou insucesso das actividades desses navegantes dependia a subsistência e desenvolvimento da comunidade portuguesa em Macau, bem como a possibilidade de angariar fundos suficientes para construir igrejas e sustentar os clérigos.

A colina da Guia tem posição sobranceira a toda a cidade de Macau, bem como à Porta da Cruz a sul. A Capela de Nossa Senhora da Guia começou a construir-se antes de 1622, dedicada à "padroeira da navegação marítima dos Portugueses, divindade um pouco parecida com a deusa Tian Hau (Rainha do Céu) venerada pelos pescadores chineses de Fuquiém e Cantão"2. A respeito dessa capela, a lenda conta que "durante o reinado do imperador Wanli, da dinastia Ming, vieram navios portugueses para o Oriente. Ficaram desnorteados nas águas de Kâi Keng Yeong (雞頸洋), fora do porto de Macau. Foi nesses momentos que subitamente brilhou uma auréola no cimo da colina da Guia, e os guiou para chegarem ao porto. Acreditava-se que se tratava de um milagroso aparecimento de Nossa Senhora. Mais tarde, após terem ocupado a colina, os Portugueses construíram no cimo uma capela em memória do milagre da Virgem Santa, milagre que se diz ter-se verificado a 5 de Agosto, e é por isso que a capela é aberta nesse dia, todos os anos, para os moradoreS celebrarem uma cerimónia de culto, prática essa que continua até hoje.3

O ponto mais elevado da península de Macau que, a par da colina da Guia, tem posição sobranceira à Porta da Cruz a sul, é a colina da Barra, com vista, aliás, para a entrada do Porto Interior. Lá existe a Ermida de Nossa Senhora da Penha de França. Foi construída em 1622 pelos agostinianos e alargada em 1624 pelos crentes. Ao referir-se a esta ermida, o autor sueco Anders Ljungstedt escreve: "Ao entrarem no porto, os navios portugueses costumam saudar a ermida com salvas de artilharia. As receitas da ermida provêm das generosas esmolas dos crentes bem como das ofertas prometidas em momentos de perigo pelos que vivem da navegação e que imploram a protecção da Virgem para as suas vidas e os seus bens."4 Mais pormenorizada ainda é a descrição feita mais tarde pelo historiador português Montalto de Jesus: "Os cónegos agostinianos dedicaram a sua ermida a Nossa Senhora da Penha de França, padroeira dos navegantes. Ao chegarem a Macau, os navios portugueses saúdam a Virgem com salvas de artilharia, às quais responde a ermida com o agradável tilintar do sino. Uma vez desembarcados, os marinheiros, juntamente com as mulheres e filhos, acorrem descalços à ermida e, para agradecer a Nossa Senhora a protecção, oferecem algum dinheiro. As ofertas são às vezes muito generosas, em cumprimento de votos feitos em momentos catastróficos no mar. Tudo isso lembra as oferendas dos navegantes chineses no altar da deusa Tian Hau, protectora das suas navegações."5

A Igreja de São Lourenço, sita no Sudoeste da península de Macau, é uma das três ainda existentes no Território. A princípio, erguia-se à beira da Praia Grande, face à Porta da Cruz. A sua construção começou em 1569. Foi renovada pela primeira vez em 1618. Tinha na altura um mastro em que eram içados os sinais de aproximação de tufão. No altar-mor há uma imagem de um jovem santo com ricas vestes, segurando com uma mão um livro e com a outra um instrumento litúrgico, de feições roliças e semblante grave, olhando para longe. Eis o novo São Lourenço, padroeiro da navegação na religião católica, divindade "da segurança e do bom vento para os navegantes portugueses"6.

Após termos visto já como é que os chineses e os ocidentais de Macau rendiam culto às suas respectivas divindades protectoras da navegação marítima, passemos agora a ver como é que uns olhavam as divindades veneradas pelos outros.

II. COMO OS OCIDENTAIS VIAM AS DIVINDADES CHINESAS PROTECTORAS DA NAVEGAÇÃO MARIMA

Os moradores chineses de Macau construíram o pavilhão Hong Yân do Templo de A-Má e viveram de geração em geração neste pedaço do território chinês antes de que os navegantes e jesuítas portugueses chegassem a Macau e reparassem na presença da estátua de A-Má no altar do Pavilhão. Foi talvez a primeira vez que os Ocidentais tomaram nota duma deidade chinesa protectora da navegação marítima.

Nessa altura, o Pavilhão Hong Yân, o primeiro templo de A-Má em Macau, era já o símbolo da zona. Este símbolo, aceitaram-no também como tal os navegantes e jesuítas portugueses. Prova convincente disso é o facto de o nome de Macau nas línguas ocidentais provir justamente deste templo.

Femão Mendes Pinto, navegante português que desenvolvia actividades nas 蚽dias Orientais nos meados do século XVl, referiu-se, em carta de 20 de Novembro de 1555 ao geral dos jesuítas de Goa, ao nome da cidade como Ama Cuao. Três dias mais tarde, o jesuíta Melchior Carneiro escrevia no começo duma carta a um colega seu na índia: "Do porto chinês de Machoan, a 23 de Novembro de 1555."7 Eis os primeiros registos relacionados com o nome de Macau em textos ocidentais.

De acordo com J. M. Braga, o nome da cidade escrevia-se nessa época, ainda assim: Amaqua, Amachao, Amacao, Amaquão, Amaquam, Maquao, etc...8 A partir do século XVII, apareceram outras formas, entre as quais Amaugau, Machuon, Machuan, Amakau, Amakao, Amangao, Amacon, etc... Nalgumas ocasiões, o nome aparecia em português como porto de Amacao e, em inglês, como Port of A-Ma ou Harbour of A-Ma.9

As referidas formas variadas de denominação da cidade em línguas ocidentais tomam necessário procurar e encontrar a sua origem em chinês. Ao longo deste século numerosas pesquisas interessantes a este respeito têm sido feitas por estudiosos do Oriente e do Ocidente. Em geral, não se conhece qualquer objecção à opinião de que Machoan, Machaon e Machuan têm como origem o nome de Má-Tchou (Ma Zu, isto é, A-Má), e a maioria concorda também na correspondência de Amaquam, Amacon, porto de Amacao e Port (Harbour) of A-Ma com o nome chinês de A-Má-Kong (阿媽港). Quanto a Amaqua, Amachao, Amacao, Amacuao, Amaquao, Amaugau, Amakau, Amakao e Amangao, estes nomes foram transliterados para chinês comoA-Má-Ou (阿媽澳), A-Má-Kau (亞媽滘), A-Má-Kok (阿媽閣), A-Má-Kong, etc.10

A-Má-Kong (阿媽港) ou A-Má-Kong (亞媽港) têm o mesmo significado que Má-Tchou-Kong (媽祖港), só que há uma pequena diferença no nome de tratamento. O nome de A-Má-Kong (阿媽港)parece mais próximo da sua pronúncia no dialecto do Sul de Fuquiém, o que fica provado por um poema de Mo Qibao, natural de Jinshan, província de Fuquiém, que viveu durante o reinado do imperador Jiaqing (1796-1820) da dinastia Qing, intitulado "Um Passeio no Miradouro de Kun-Iam do Templo de A-Má".11 Quanto ao nome A-Má-Kong (亞媽港), é mais próximo da sua pronúncia em cantonense. Do "Mapa da Costa de Cantão", desenhado durante o reinado do imperador Wanli da dinastia Ming, por Kwok Fei (Guo Fei ), natural do distrito de Nanhai, província de Cantão, faz parte um mapa-esboço de Hou-Keng-Ou (hoje Macau) onde está escrito A-Má-Kong em caracteres chineses (亞馬港), para marcar o "atracadouro dos navios estrangeiros".12 Trata-se de uma variante gráfica mas homófona de A-Má-Kong (亞媽港). De tudo isso se segue que A-Má-Kong (阿媽港ou亞媽港), bem como Hou-Keng-Ou, são os nomes chineses primitivos do que é hoje a cidade de Macau e o seu porto. As transliterações fonéticas nos antigos textos ocidentais provinham do nome A-Má-Kong (阿媽港) no dialecto do Sul da província de Fuquiém, falado também na zona de Chaozhou, da província de Cantão, ou do nome A-Má-Kong (亞媽港) no dialecto cantonense. Tanto Amaquão como Amaquam foram também transliterações de A-Má-Kong, que se tomariam desnasalizadas mais tarde.

Quanto a Maquao, bem como ao nome Macau em português moderno e ao nome Macao em inglês, são talvez uma simplificação de Amaquao, Amacau e Amacao, respectivamente, tendo perdido o a inicial na pronúncia, de modo que devem corresponder aos nomes chineses de Má-Kong (媽港) ou Má-Kong (馬港), em lugar de Má-Kok (媽閣) ou Má-Kau (馬交).

Os nomes complexos da cidade de Macau em português também têm talvez algo a ver com o Templo de A-Má. Em 1583, Macau recebeu o título de Porto do Nome de Deus e, mais tarde, o de Cidade do Nome de Deus do Porto de Macao. Após reiteradas petições dos moradores portugueses, à zona de moradia foi conferido em Portugal o estatuto de cidade, dando-lhe o governador português de Goa o nome oficial de Cidade do Nome de Deus na China. Em 1654, D. João IV, rei de Portugal, para premiar a lealdade dos portugueses de Macau durante a anexação espanhola, ordenou ao governador de Macau que gravasse no Leal Senado a inscrição de "Cidade do Nome de Deus, Não Há Outra Mais Leal"13. Verificara-se, pois, uma subtil alteração na conotação do nome português de Macau, passando a palavra "Deus" para o original significado cristão, com a ténue conotação relacionada com a deusa A-Má relegada ao esquecimento.

Estes factos evidenciam mudanças progressivas da atitude dos Portugueses relativamente ao Templo de A-Má como símbolo de Macau, começando por aceitá-lo como tal, para logo olhá-lo com reserva e acabar por ignorá-lo, mudanças que se devem tanto a razões religiosas como políticas.

Católicos por tradição, os Portugueses teriam repudiado o ídolo pagão de A-Má para se manterem fiéis à ortodoxia católica da Idade Média. Admira, no entanto, que os primeiros navegantes portugueses a chegar a Macau se revelassem até certo ponto identificados com o culto de A-Má dos pescadores chineses. Como diz o historiador católico contemporâneo de Macau, Fr. Benjamim Videira Pires, "não foi por acaso o encontro e convívio de Portugueses e Chineses nesta península... próxima do Templo de A-Má... A festa de Tian Hau, que se celebra em princípios de Maio, coincide com os festejos de Nossa Senhora de Fátima. Será que é simples coincidência?... (Os nativos de Fuquiém) trouxeram consigo para Macau saudades da sua terra natal e concepções animísticas com nuanças regionais. E igual se passava com os primeiros imigrantes portugueses em Macau que, sem saberem o que faziam, trouxeram consigo para Macau o hábito de dar expressão aos seus sentimentos devotos acorrendo ao cimo de uma colina para venerar a Virgem. Ambos os casos decorriam dos seus respectivos modos nómadas de vida de cunho oceânico, sobretudo espiritual."14 [Traduzido do chinês]. Foi porque os navegantes portugueses interpretaram a partir do seu culto da Virgem o culto que à deusa A-Má rendiam os pescadores chineses, que chegaram a identificar-se até certo ponto com o culto chinês e a reconhecer o templo desta deusa como símbolo da zona.

No entanto, esta identificação não foi suficiente para alterar a concepção ortodoxa católica que considerava A-Má como ídolo pagão. Daí a mudança da conotação da palavra "Deus", restituída no seu primitivo significado cristão, já sem nada a ver com a deidade chinesa de A-Má. A substituição da expressão de "Cidade do Nome de Deus na China" pela de "Cidade do Nome de Deus" implicou que, para a Coroa de Lisboa, Macau já deixara de ser território chinês para se tornar uma possessão portuguesa. A expressão "Não Há Outra Mais Leal" não se referia à lealdade ao Imperador chinês, mas sim ao rei de Portugal.

O Templo de A-Má chamou a atenção também aos jesuítas que vieram a Macau juntamente com os navegantes portugueses. Durante a sua estada em Macau, de 7 de Agosto de 1582 a 10 de Setembro de 1583, Mateus Ricci teve ocasião de visitar o Pavilhão Hong Yân. Mesmo em 1609, um ano antes da sua morte, mantinha ainda fresca na sua memória a recordação do edifício: "Nesta pequena ilha há uma estátua de A-Má, ainda visível. A localidade, sita na baía de A-Má e que se chama Macao, é mais um rochedo turgente do que uma península."15 [Traduzido do chinês]. No mesmo ano, ao referir-se à radicação de Portugueses em Macau, escreve: "Lá é venerada uma deusa de nome A-Má, e daí que a localidade se chame A-Má-Kong, que em italiano significa Porto di A-Ma."16 [Traduzido do chinês].

Pode-se dizer que foi por esta "deusa A-Má" que Ricci começou a familiarizar-se com a cultura religiosa chinesa. Isso tê-lo-á influenciado no sentido de o motivar para um maior aprofundamento no estudo desta cultura religiosa e o levar a adoptar, no seu esforço missionário, uma atitude de maior tolerância relativamente aos ritos tradicionais chineses de veneração aos Céus, a Confúcio e aos antepassados, atitude essa que contribuiu para aliviar a resistência da cultura tradicional chinesa à divulgação do credo católico e possibilitar um mais rápido desenvolvimento do trabalho missionário na China. No entanto, mais tarde, aquando da Questão dos Ritos, as autoridades pontifícias romanas repudiaram o método missionário de Ricci de conciliar a fé cristã com Os ritos tradicionais chineses, e proibiram os devotos chineses de cumprir as formalidades rituais nacionais, facto que levou à proscrição da religião cristã na China, decretada pelo imperador Kangxi, da dinastia Qing, sofrendo assim o esforço missionário católico um sério revés na China.

Como continuação desta proibição pontifícia, no espaço de um século, em consequência disso, as autoridades eclesiásticas de Macau vieram obstaculizando as festividades que os moradores chineses se propunham celebrar para homenagear A-Má. Aqui vamos citar, levando em conta os antecedentes históricos relevantes, o que conta Ljungstedt no seu livro sobre a Igreja Romana em Macau e as suas missões na China, secção "Oposição às Diversões dos Chineses de Macau":

Nos últimos anos do reinado do imperador Kangxi, aconteceu que as autoridades pontifícias romanas repudiaram a prática dos jesuítas chefiados por Mateus Ricci de conciliar o esforço missionário com os ritos chineses e tolerar as cerimónias chinesas de veneração aos Céus, a Confúcio e aos antepassados, e condenaram estes ritos chineses como superstição e idolatria. Motivadas por esta concepção ortodoxa da Igreja Católica, as autoridades eclesiásticas de Macau olharam com repugnância e hostilidade as procissões e espectáculos teatrais que levavam a cabo os moradores chineses por ocasião da festa de A-Má. Por volta do ano 1735, Francisco da Rocha, vigário capitular de Macau, mandou desmantelar o palco montado pelos moradores chineses para um espectáculo teatral. Ora, uma vez que a festa de A-Má já estava institucionalizada nos códigos regulamentares da dinastia e contava com a fervorosa participação das autoridades chinesas e dos moradores, a absurda interferência, por parte das autoridades eclesiásticas portuguesas, na vida interna e nos costumes dos moradores chineses no seu próprio território, tendia a agravar o relacionamento com o Governo da dinastia Qing e os moradores chineses e a pôr em perigo os interesses dos próprios Portugueses e do clero católico em Macau. Foi talvez por isso que o Governador de Goa, em carta dirigida em 1736 ao Senado de Macau, desaprovou semelhante acto de provocação relativamente aos moradores chineses e ordenou que o Cabido da Diocese de Macau censurasse o vigário capitular e o dissuadisse de interferir nessas actividades.

No entanto, o aviso, embora valioso, não foi aceite. Pelo contrário, a Inquisição de Roma, em carta dirigida em 1758 à Diocese e às autoridades oficiais portuguesas de Macau, ordenou que não se tolerassem procissões ou espectáculos pagãos de qualquer espécie. Felizmente, alguns dos funcionários civis principais das autoridades portuguesas de Macau, considerando que os portugueses não tinham poder judicial sobre os chineses, agiram com grande prudência, permitindo tacitamente as breves diversões dos chineses. Em 1780, porém, o Senado, instigado por um delegado da Inquisição destacado em Macau, ordenou ao secretário executivo (理事官?) que desmantelasse o palco, sem que este conseguisse cumprir a ordem, porque os mandarins locais já tinham autorizado um aumento da altura do palco montado ad hoc e aconselharam aos portugueses que se abstivessem de incorrer na indignação geral com monstruosos actos provocativos.

Em 1816, D. R. Francisco de N. S. da Luz Chacim, bispo da Diocese de Macau, levando em conta a impossibilidade de impedir as festividades pagãs já preparadas, passou a adoptar outra táctica, exercendo influência na mentalidade devota dos cristãos da sua circunscrição. A 15 de Abril desse ano, isto é, cinco dias antes da festa de A-Má, emitiu uma circular, dada a conhecer aos crentes pelos respectivos padres das diversas freguesias. Nela "se aconselhava em tom paternal a todos os cristãos que, em nome da redenção das suas almas, se abstivessem de espreitar, quer na rua, quer por detrás de tabuinhas, as procissões chinesas, sob pena de excomunhão. Mas tal pena revelou-se quase inaplicável já que, no total dos cristãos, talvez só menos de cinquenta fossem adultos, capazes de resistir à tentação de espreitar cenas tão interessantes, enquanto que para o resto era um grande prazer presenciar essas festividades dos chineses, que com grande pompa duraram três dias inteiros. De noite, na praça, toda iluminada, apresentavam-se espectáculos burlescos e engraçados."18 [Traduzido do chinês].

Eis uma descrição, feita por Anders Ljungstedt, gerente da Companhia das índias Orientais e cônsul sueco destacado em Macau, das calorosas e solenes festividades que na altura celebravam os moradores chineses por ocasião da festa de A-Má. Cenas como essas não apenas deixaram fascinado o protestante sueco, mas também impossibilitaram a "redenção das almas" de numerosos católicos europeus.

Durante os primórdios da dinastia Qing, as autoridades portuguesas de Macau tinham geralmente consciência de que não lhes competia intervir na vida interna e nos hábitos e costumes dos moradores chineses. Mesmo em tempos mais recentes, sabiam abster-se de intervir nos ritos e costumes locais. Nos primeiros anos da República da China, escrevia Wang Zhaorong: "Os Chineses... na sua maioria seguem os velhos costumes, sem que os funcionários portugueses os proíbam ou restrinjam."19 Em 1927, aquando da reconstrução do antigo Templo de A-Má na ilha de Coloane, o Governador Rodrigo José Rodrigues até doou 300 moedas.20 Esta sensata atitude de "não proibir ou restringir" e de aquiescência relativamente aos ritos e costumes chineses foi uma condição muito importante que contribuiu para a persistência e o desenvolvimento em Macau do culto das deidades protectoras da navegação, culto característico da cultura tradicional chinesa.

A partir do limiar da época moderna, a grande influência internacional do culto de A-Má determinou uma atitude de tolerância.21 Trata-se de um resultado dos longos anos de intercâmbio e interacção entre a cultura chinesa e a ocidental após a projecção do culto de A-Má no mundo. O facto, de conotação cultural muito distinta em comparação com a incorporação da deusa nos credos budista e tauista, é muito relevante para os estudiosos portugueses de A-Má em Macau. À medida que se desenvolve o intercâmbio cultural Leste-Oeste, os Ocidentais vão compreendendo cada vez mais profundamente o que significa o papel divino de A-Má.

Nas pegadas dos navegantes e missionários portugueses vieram a Macau, no século XIX, artistas ocidentais, que fitaram os seus olhos, do ponto de vista artístico, no Templo de A-Má.

O célebre pintor inglês George Chinnery deslocou-se, em 1825, da índia para Macau, e ficou alojado na Rua Inácio Baptista, próxima da Igreja de S. Lourenço, até à sua morte em 1852. Durante os vinte e sete anos da sua estadia em Macau, pintou milhares de quadros paisagísticos ilustrativos de Macau. Parece ter-se apaixonado particularmente pela vida quotidiana dos chineses, aparecendo nos seus quadros tudo o que tinha a ver com o dia a dia das camadas sociais inferiores: juncos, palafitas, tancareiras, meninos pastores, vendedores ambulantes, artesãos, etc. Gostou sobremaneira das paisagens do Templo de A-Má.

O autor destas linhas viu um total de seis quadros paisagísticos do Templo de A-Má incluídos num álbum de quadros de Chinnery, publicado em 1985 pelo Leal Senado de Macau. Desses quadros, dois apresentam o templo de perto, pintando-o desde terra firme, e um deles, desenhado a lápis em 1839, apresenta a fachada do templo, de telhado esmaltado, beirais virados para cima, portão em forma de lua cheia como entrada para um espaço subitamente aberto e desconhecido, o que dá plena expressão à magnificência do edifício religioso chinês. Noutro quadro, de 1843, que apresenta o portão do templo visto de outro ângulo, pinta as estátuas de leões de pedra como guarda-portões, com tambores também de pedra ao lado, uma escadaria em baixo e lanternas de papel penduradas acima do portão, sendo tudo isso típico do estilo arquitectónico dos templos chineses.

Ao que parece, Chinnery preferia pintar o Templo de A-Má a partir de uma embarcação nas águas da Baía Norte, de diversos ângulos, de modo que aparecem nos seus quadros juncos, barqueiros e pessoas de todas as classes. Este é o caso dos quatro quadros restantes. Dos diferentes ângulos visuais podem distinguir-se um quadro de fachada, outro a nascente e dois a poente, sendo a maioria desenhada a bico de pena. Nesses quadros aparecem ou juncos atracados à margem, com os barqueiros em pausa de descanso; ou brisas marinhas a desfraldarem os estandartes das divindades; ou juncos a levarem passageiros na travessia; ou barcos de pesca a recolherem as redes; tudo, porém, em volta do templo, dando expressão como que a um tema sobre a interdependência e a harmonia entre o Homem e a Divina Providência.

Por volta de 1838, William Princep, discípulo de Chinnery, pintou o templo a partir dos mesmos ângulos, deixando uma litogravura colorida e pormenorizada, cuja composição e tema autenticam a herança artística que o pintor recebeu do mestre.22

Outro pintor ocidental apaixonado sobremaneira pela vida e os costumes dos chineses de Macau foi o jovem francês Auguste Borget, que morou em Macau e Cantão de Agosto de 1836 a Julho de 1839. A sua obra mestra A China e os Chineses é uma colectânea de quadros que pintou e de cartas que escreveu durante a sua estadia na China.

As paisagens do Templo de A-Má fascinaram Borget ainda mais do que Chinnery. Mal chegou a Macau, esse artista ocidental, natural também de um país cristão, sentiu-se infinitamente impressionado e exaltado pelo Templo de A-Má. Em carta de 2 de Maio de 1839 a um amigo, escreve:

"Meu caro amigo, é tão difícil exprimir numa língua europeia o que a gente encontra na China que ainda não ouso falar duma maravilha das mais surpreendentes que tenho visto neste país: o Grande Templo de Macau (the Great Temple of Macau)... Frequento-o quase todos os dias. O seu nome chinês é Neang Má-Ko, o que significa Velho Templo da Dama (Old Temple of the Lady). Está cheio de gente de manhã até à tardinha. As árvores, as pedras e o cume encontram-se banhados pelo sol, e, ao meio-dia, à hora de mais gente, vejo-me forçado a continuar o meu trabalho à sombra das árvores... O templo chama a atenção pela sua bem proporcionada estrutura arquitectónica e, mais ainda, pelo seu estilo tipicamente chinês...

"Cada vez que venho cá posso descobrir cenários interessantes, pormenores emocionantes mas ignorados da vez passada, que me enchem de prazer como explorador. Qualquer que seja a minha escolha, é-me possível pintar um novo quadro de belezas paisagísticas. Na realidade, este templo e o ambiente à sua volta são suficientes para um fascinante álbum... Posso afirmar com certeza que não será possível encontrar um templo mais magnífico nas numerosas cidades da China. Ouso acreditar que este é de longe melhor do que qualquer dos sítios que tenho frequentado."23 [Traduzido do chinês].

Eis que o nosso pintor ocidental, de singular gosto artístico, soube apreciar o Templo de A-Má na sua totalidade como uma obra de arte perfeita e daí a sua afirmação enlevada de "beleza de nunca se cansar de contemplar". O autor destas linhas viu quatro quadros de Borget a respeito do Templo de A-Má, todos litogravuras coloridas e pormenorizadas. Dois deles apresentam o Pavilhão Hong Yân, aparecendo num deles uma anciã a orar diante do templo e dois homens a acenderem pivetes de incenso num vaso cerimonial colocado ao lado do prédio, e um dignitário, acompanhado por vários pajens, a olhar as paisagens da Baía Norte do Porto Interior. No outro vemos uma mulher de pés ligados a caminho do templo para rezar e, atrás dela, uma tancareira com uma criança às costas, também prestes a rezar ao que parece, e ao lado do turíbulo, um adulto, acompanhado de um adolescente, a queimar também pivetes de incenso, um tancareiro, de chapéu de bambu, a gozar um momento de descanso encostado à balaustrada, fumando um cachimbo provido de um depósito de água. O quadro deve ser um cenário quotidiano do Pavilhão Hong Sân. Os dois quadros, quase exactamente iguais na composição e na paisagem natural, são provavelmente obras feitas partindo do mesmo ponto, em diferentes momentos.

Os outros dois quadros apresentam a fachada do salão principal e o portão do templo, bem como a buliçosa multidão na esplanada dianteira do templo. Devem ter sido feitos igualmente partindo do mesmo ponto em diferentes momentos. Diante do templo vêem-se adivinhos, vendedores de petiscos e mesas de jogo fantan. Entre as personagens que lá aparecem contam-se ferreiros, carpinteiros, simples moradores e pedintes. Tenuemente vislumbram-se os quatro caracteres Hu Guo You Min (Defender a Nação e Proteger o Povo) nos estandartes divinos, de cor amarela, içados a meia haste, em ambos os mastros dispostos diante do templo.

Outro pintor ocidental, Edward Hildebrandt, que veio a Macau em 1838 juntamente com Borget, pintou de maneira pormenorizada e requintada a pompa e euforia com que os moradores chineses assistiam aos espectáculos teatrais por ocasião da festa de A-Má. O quadro faz parte dum álbum, da colecção do Museu de Artes de Hong-Kong (香港藝術館), de obras de pintores ocidentais do século XIX a respeito de Hong-Kong, Macau e Cantão, e foi pintado provavelmente na década de 60. No quadro vê-se um grande galpão de bambu e madeira montado ad hoc na esplanada diante do Templo de A-Má, tão grande que começa pelo portão da lua cheia do salão principal para chegar até à margem das águas. Ligada a ele está, de lado, uma fileira de barracas de escassa altura, provavelmente para tendas de diversos vendedores. Ao fundo do grande galpão vê-se uma fileira de construções que, parecidas com as palafitas dos tancareiros, avançam pela água dentro e, ao que parece, servem de latrinas. O espectáculo já começou. O galpão está cheio de gente, e as pessoas de fora continuam a abrir caminho para entrar. Vários aficionados do teatro subiram mesmo ao cume das latrinas para verem melhor o espectáculo. Ao longo da margem estão atracados dezenas de barcos de pesca e juncos, cena que sugere uns poucos dias de lazer num ano de incessante labor para os tancareiros poderem acorrer ao Templo de A-Má, queimar uns pivetes de incenso e desfrutar de diversões numa ocasião singular como esta. Atracados nas águas, à distância, estão ainda dois grandes navios, facto que sugere a participação também dos mercadores e dos marinheiros nas festividades que decorrem em terra firme. Num canto, à esquerda, está escrito: Macao Sing Song.25 Que cena de Macau a cantar!

Além do mais, há outro quadro de Hildebrandt, uma aguarela, que apresenta o Templo de A-Má em tempos não festivos. Foi pintado à distância, de um barco, na entrada da Baia Norte. Entre o céu azulado e o mar, o salão principal e o portão do Templo de A-Má parecem ficar justamente no centro da terra.26

Após a invenção da fotografia, os fotógrafos ocidentais que chegaram à China não tardaram em apontar a lente para o Templo de A-Má. Foi em 1827 que apareceu em França a primeira fotografia. Dezassete anos mais tarde, em 1844, uma missão francesa chefiada por Théodore de Lagrène, a caminho da China para negociar com o Governo chinês um tratado desigual, chegou a Macau. Da missão fazia parte Jules Itier, representante do Ministério das Finanças e do Comércio e inspector-chefe da Alfândega da França, que levava na bagagem um caixotão com pesados instrumentos fotográficos.

Assinado entre a China e a França o Tratado de Huangpu a 24 de Outubro de 1844, Itier teve tempo livre para fotografar as paisagens mais típicas de Macau, entre as quais a baía da Praia Grande, a Baía Norte, a Porta da Cruz e o Templo de A-Má. Deste templo nos deixou duas fotografias, uma apresentando a sua fachada e a outra o seu portão, acima do qual se vê uma tabuleta horizontal disposta entre duas lanternas de papel, com a inscrição em quatro caracteres: Tian Shang Sheng Mu (Mãe Sagrada dos Céus), ainda distinguíveis. A pobre técnica de revelação fotográfica daquele tempo fez com que todo o fundo ficasse escuro, sendo visível apenas o edifício no centro, de modo que é difícil saber se o palacete da "Mãe Sagrada dos Céus" esta sito nos Céus ou na terra dos homens. Trata-se da "primeira fotografia tirada na China".28

III. COMO OS CHINESES VIAM OS PADROEIROS OCIDENTAIS DA NAVEGAÇÃO MARTIMA

Pode-se dizer que foi Tang Xianzu (1550-1616), grande dramaturgo e poeta da época da dinastia Ming, o primeiro chinês a ter conhecimento dos padroeiros da navegação marítima que os Ocidentais em geral, e os Portugueses em particular, veneravam. Exercendo o cargo de funcionário do Ministério dos Ritos destacado em Nanquim, avançou com um memorial dirigido ao Imperador criticando um alto dignitário e por isso foi punido em 1591 com o degredo para o cargo de magistrado do distrito de Xuwen, província de Cantão. A caminho do novo destino, passou por Xiangshan e Macau, e deixou na colectânea das suas poesias quatro poemas matizados de temas estrangeiros. O primeiro, intitulado "O que me Contou um Intérprete de Xiangshan", é como segue:

"Em dez dias se chega de Zhangcheng a [Jiaolanshan. O barco de doze velas parece estar a voar. Tendo pago com arroz, o barco dirige-se para [o País dos Três Budas, E, para adquirir perfumes, passa logo para o [sopé dos Montes Jiuzhou."29

Jiaolanshan era uma localidade muito conhecida dos Chineses que na altura navegavam no Mar do Sul. Fei Xin, que fizera parte da comitiva de Zheng He nas suas expedições marítimas, escreveu no primeiro volume da sua obra Boas Vistas da Longa Navegação, sob a rubrica "Jiaolanshan":"Partindo de Lingshan, Zhangcheng [nome chinês de um reino antigo situado no que é hoje o Centro-Sul do Vietname], chega-se a Jiaolanshan, se houver vento de popa, em dez dias." Porém, o barco que "parece estar a voar", seguindo a rota trilhada outrora por Zheng He, não é um navio chinês, mas sim ocidental, já que os navios chineses tinham na altura uma só vela para cada mastro, enquanto que os veleiros ocidentais tinham várias para cada mastro. "Doze velas" deve-se referir a um navio de múltiplos mastros e numerosas velas. O célebre escritor cantonense Qu Dajun (1630-169.6) falou de "navios estrangeiros", dos quais disse que "têm de orientar-se utilizando bússolas, que determinam a sorte do navio, sendo de vital importância a mais insignificante diferença na medição. Cada navio está provido de três bússolas, uma na torre santa, outra na popa e mais outra a meio mastro, e só se ousa iniciar a navegação quanto coincidirem as agulhas de todas as três bússolas".30

A "torre santa" nos navios ocidentais, dedicada, como pode supor-se, a Jesus Cristo, à Virgem e às outras divindades protectoras da navegação marítima, devia ser o esteio espiritual de toda a tripulação, tal como o santuário dedicado à deusa A-Má e a outras deidades protectoras que se encontrava a bordo dos barcos chineses. O Prof. Zhu Jiele, especializado na história das navegações marítimas, tem razão quando diz: "Mesmo muitos dos navegantes ocidentais de há cem anos tinham costumes supersticiosos, e o fenómeno não era exclusivo dos Chineses."31 Quanto à expressão "pagar com arroz", provém do Shi Jing (Livro dos Cânticos), cap. Xiao Ya, secção Xiao Wan, onde consta a expressão "pagar com arroz o adivinho". Daí se segue que o que se conta no poema terá sido mais ou menos o seguinte: O referido navio estrangeiro, através de preces e de adivinhação perante o altar, decide o seu itinerário e, de acordo com os resultados da adivinhação, começa por navegar para o Pais dos Três Budas, reino antigo no Mar do Sul [situado no que é hoje a ilha de Samatra, Indonésia], para dirigir-se logo aos montes Jiuzhou, onde se podia adquirir âmbar-cinzento e outras especiarias.32 Tudo isso demonstra que os navegantes ocidentais que se moviam nessa época (que corresponde à da dinastia Ming da China) se faziam guiar, nos seus itinerários, por imaginárias divindades protectoras da navegação.

A bordo dos barcos que navegavam nos mares do Oriente soía haver intérpretes chineses para tarefas de tradução e intermediação. Igual fenómeno se observava na terra de Macau, na altura florescente porto cosmopolita do comércio Leste-Oeste. Foi lá que o nosso poeta Tang Xianzu teve ocasião de ouvir falar um intérprete chinês (o de Xiangshan, como no poema) da maneira como os navios estrangeiros decidiam o itinerário também através da adivinhação.

Nos primórdios da dinastia Qing, os navios portugueses que se dedicavam ao transporte e comércio entre Macau e a Costa Ocidental da índia (Goa e Diu), como diziam Yin Guangren e Zhang Rulin, sucessivos magistrados de Xiangshan, "eram de menor tamanho do que os navios transoceânicos... Levavam sempre a bordo bússolas, a cargo do timoneiro. Cada navio tem três bússolas, uma na torre santa, outra na popa e mais outra num mastro. O navio só se faz à vela ao coincidirem as agulhas de todas as três bússolas. Estão numerados nos registos oficiais chineses sob o carácter Xiang (香 ), obtendo da Alfândega licenças e sujeitando-se à sua supervisão. Já estão numerados vinte e cinco navios."33 Estes vinte e cinco navios portugueses de Macau, de cujos registos informava à Corte Imperial Kong Yuxun, vice-rei de Cantão, tinham cada um a sua torre Santa.

Após terem-se apossado de Macau, os Portugueses construíram, em diferentes cimos e encostas, igrejas e capelas dedicadas à Virgem protectora da navegação marítima. Até hoje, ergue-se ainda no cimo da colina da Barra a Ermida de Nossa Senhora de França. No telhado da fachada encontra-se uma estátua marmórea da Virgem, de coroa de cruz e com o Menino ao colo, olhando a Porta da Cruz do sul. Eis a mesma Virgem a quem se atribuía o papel protector dos navios ocidentais que passavam pela Porta da Cruz. Esta imagem lembra a deusa chinesa "Mãe Sagrada dos Céus" e a deusa budista Kun-Iam das Vestes Brancas.

No elevado terraço plano diante da ermida, ergue-se ainda outra estátua da Virgem, de mármore branco. Com as palmas das mãos juntas e de semblante bondoso, fita o mar a leste. Desde o Renascimento que os artistas ocidentais, ao criarem imagens da Virgem, davam destaque à sua maternidade. A estátua que vemos lembra uma mãe carinhosa que, de pé, no cimo de uma elevada colina, contempla longas horas as longínquas águas do mar, à espera do regresso, são e salvo, do filho querido. Houve quem lhe chamasse "Kun-Iam a Olhar o Mar"34. Trata-se, evidentemente, de um nome que lhe deram os moradores chineses de Macau, identificando-a com a deusa budista das vestes brancas.

Semelhante prática de identificar a Virgem com a deusa budista Kun-Iam já era bastante comum nos últimos anos da dinastia Qing. Em 1900, Liang Qiaohan escreveu dois poemas descrevendo as procissões da estátua da Virgem. Um deles é como segue:

"Duas vezes por ano trazem para fora a estátua [de Kun-Iam, Que multidões no Templo colhem com grande [pompa. Com grande devoção e cautela comportam-se [as comitivas. Ao longo do caminho os crentes oram e rezam [sem cessar."

E o outro:

"O mastro dos sinais de tufões celebriza o [Templo. As cerimónias anuais de culto fazem soar os [clarins. Nem sequer os estrangeiros podem esquecer os [antepassados. Mas o nome que invocam é Maria."35

Na minha monografia Referências ao Catolicismo nas Poesias de Macau Durante a Dinastia Qing fiz notar: "A maneira como os Chineses da época da dinastia Qing entendiam a religião católica esteve sempre consubstanciada com os fundamentos da cultura tradicional chinesa, ou seja, encaravam o catolicismo, representativo da cultura ocidental, sob o prisma da cultura tradicional chinesa."36 Não podia ser outra a maneira como os Chineses da época da dinastia Qing encaravam as divindades ocidentais protectoras da navegação marítima. Ao presenciar a devoção com que os Ocidentais veneravam a Santa Virgem, Liang Qiaohan, como erudito chinês que era, não tardou em pensar na deusa budista Kun-Iam, que gozava de igual veneração devota por parte dos Chineses, bem como nos costumes religiosos chineses de guardar sagrada memória dos antepassados e prestar-lhes culto com regularidade.

À Igreja de São Lourenço, sita no Sudoeste da península de Macau, sempre lhe chamaram os Chineses Fong-Son-Miu (風順廟), Fong-Son-Tong (風順堂) ou Fong-Son-Miu (風信廟), com significado de "Templo do Vento de Feição". Nos primeiros anos do reinado do imperador Qianlong (1736-1795), Yin Guangren e Zhou Rulin escreviam: "No Sudoeste (de Macau) há o 'Templo do Vento de Feição', onde os familiares dos navegantes ausentes no mar oram suplicando ventos favoráveis para os navios."37 É de supor que os Chineses daquela época chamavam à referida igreja "Templo do Vento de Feição" por acreditarem que o santo lá venerado era uma deidade da protecção marítima que tinha a seu cargo abençoar os navegantes ocidentais com ventos favoráveis.

`A prática religiosa dos Ocidentais de rezarem nas igrejas desejando boa viagem aos navegantes foi atribuída identidade com a prática dos navegantes chineses e dos seus familiares de implorarem bons ventos e segurança marítima a A-Má e às outras deidades protectoras da navegação. Em 1691, Gong Xianglin, inspector da Alfândega de Cantão escreve, nas suas Crónicas de uma Missão para o Rio das Pérolas: "Os navios fazem-se à vela no Inverno, quando sói fazer ventos do Norte. Voltam geralmente no quarto ou quinto mês (do ano lunar), quando sopram com frequência ventos austrais. Ao saírem os navios, o porto fica vazio de homens estrangeiros, brancos e negros, e na época do retorno previsível, as mulheres e os filhos dos navegantes dão voltas aos edifícios implorando ventos austrais, e as suas súplicas revelam-se muitas vezes eficazes." Por volta de 1813, Pan Youdu, comerciante da companhia Tong Man, do Grupo de Comércio Exterior dos "13" de Cantão, escreve no poema N. ō 16 da série Miscelânia de Versos Sobre a Vida dos Estrangeiros:

"Sinos soam todos os dias suplicando ventos [de feição, De modo que num volver de olhos já voltam os [navios de mil milhas além."

Numa nota explicativa escreve: "É costume dos estrangeiros tocar o sino todos os dias suplicando bons ventos para favorecer anavegacão."38

Um pouco a leste da Igreja de São Lourenço, a Sé Catedral, construída pela primeira vez nos fins do século XVI e dedicada à Imaculada Conceição, foi também uma das primeiras igrejas de Macau. Os Chineses chamavam-lhe Tai Biu (o Grande Templo), Mong-Yan-Miu ou Mong-Yan-Tchi (Templo da Esperados Retomantes). Este último nome chinês deve-se, de acordo com o Sr. Li Pengzhou, "a que nessa altura a Catedral estava encostada a uma colina, sem que nas adjacências houvesse edifícios elevados que impedissem a vista. Ao sopé da colina estavam já as águas da Praia Grande, de modo a que, mirando desde o cimo da colina se abrangia todo o movimento dos navios. Numerosas mulheres portuguesas costumavam subir à colina e olhar para longe, à espera dos navios que deviam trazer de volta os seus maridos. Dai o nome de Templo da Espera dos Retornantes que se deu à Catedral."39

Durante o reinado do imperador Jiaqing da dinastia Qing, Liao Chilin, poeta do distrito de Shunde, província de Cantão, descreve no poema n. ō 8 da série Versos de Canas de Bambu de Macau a cena de mulheres portuguesas a acorrerem ao "Templo da Espera dos Retomantes" para suplicarem bons ventos:

"O marido esta ausente, longe, longe, lá na [Costa. Já deve ser tempo de ele voltar. É adivinhar os ventos no Templo da Espera, Pois a nostalgia magoada vai para além da [montanha."40

Quando referem a relevância que tinham as súplicas das mulheres portuguesas por bons ventos para a sua vida e subsistência, Yin Guangren e Zhang Rulin escrevem: "Têm por costume praticar a profissão do comércio... As mercadorias de um navio valem milhares de moedas. Os que fazem fortuna costumam adquirir navios próprios... Os que dispõem de recursos modestos é que se tornam parceiros dos abastados. Às vezes um navio transporta mercadorias de dezenas de donos diferentes. Cada ano, a saída do porto de um navio significa que está em causa a sorte de dezenas de famílias... Quando se aproxima a data prevista para o retorno, as mulheres e as crianças dão voltas aos edifícios implorando ventos austrais. Se acontece que os navios não voltam, elas têm de viver da mendicidade, e o número de pedintes atinge frequentes vezes o milhar."41 A mulher portuguesa que aparece no poema acorre ao "Templo da Espera dos Retornantes" para observar o movimento dos ventos no começo do Verão, temporada dos ventos do Sudoeste, favoráveis à navegação de volta da Costa Ocidental da índia. Ao perceber ventos desfavoráveis à navegação, fica magoada, olha da montanha o horizonte e com nostalgia e receio pensa na sorte do marido e de toda a família. Não são vãs as palavras "nostalgia magoada" no poema.

Nos primeiros anos da República da China, Wang Zhaoyong descreve num poema o costume das mulheres portuguesas de suplicarem bons ventos nas preces:

"Bons ventos suplicam mulheres estrangeiras, Como se o estivessem a fazer num templo [budista. Os sinos tilintam acompanhados dos tambores, E o eco ressoa através da vastidão oceânica. Na fé religiosa são educados os povos. Pode haver nisso diferença entre Chineses e [estrangeiros?"42

O poeta identificava este costume dos Portugueses com o culto que os Chineses prestavam a Buda e a Kun-Iam e assinalava que tal costume devia a sua difusão aos esforços das autoridades portuguesas, que se comportavam de igual maneira que os governantes da China, que ao longo dos séculos vinham educando o povo na fé religiosa. Semelhante opinião significava também olhar o culto ocidental dos padroeiros da navegação marítima do ponto de vista da cultura tradicional chinesa.

IV. CONCLUSÃO

Elo de ligação no intercâmbio cultural entre a China e o Ocidente durante as dinastias Ming e Qing, Macau foi palco de diferentes cultos de diferentes divindades protectoras da navegação marítima representativas de diferentes culturas nacionais. Ao mesmo tempo que veneravam as divindades protectoras da navegação partindo das suas respectivas tradições culturais e costumes religiosos, os navegantes chineses e ocidentais olhavam as divindades uns dos outros também partindo do ponto de vista das suas respectivas culturas tradicionais. Trata-se, pois, de um fenómeno bastante interessante no intercâmbio cultural entre a China e o Ocidente dessas épocas.

Os navegantes portugueses residentes em Macau identificavam A-Má com a Virgem que fervorosamente veneravam. Os moradores chineses, por sua parte, identificavam a Virgem venerada pelos portugueses com a deusa Kun-Iam ou a deusa A-Má. Virgem da Barra, deusa Kun-Iam da Praia e Dama Sagrada dos Céus tornaram-se aqui sinónimas. Eis um facto do intercâmbio cultural entre a China e o Ocidente no que diz respeito ao culto de divindades protectoras da navegação marítima, facto que demonstra, entre outros, o papel que a Macau coube em sorte no referido intercâmbio.

Tradução do original chinês

por Chen Yongyi; revisão de Luís Rebelo.

NOTA FINAL DO AUTOR

O presente artigo faz parte dum livro ainda em elaboração e revisão, intitulado Macau e as Deidades da Protecção Marítima na Cultura Tradicional Chinesa. É por sugestão do Sr. Wong Io Fong, da Associação de Estudos Culturais de Macau, que fiz a adaptação de uma parte do livro em separata, para a submeter ao Seminário de Cultura Histórica do Credo de A-Má de Macau, como contributo para uma eventual colectânea.

NOTAS

1. VALENTE, Maria Regina, Igrejas de Macau, Macau, Instituto Cultural, 1993, p. 66; Igreja de São Paulo (fotografia em folha removível, em chinês), Macau, Instituto Cultural, 1992.

2. LI Pengzhu, Macau: Passado e Presente (em chinês), Hong-Kong, Macau, Livraria San Lian, Seng Kwong, 1986, pp. 123-4; VALENTE, Maria Regina, op. cit., p. 92.

3. BU Yi, Anedotas de Macau (em chinês), Hong-Kong, Guangjiaojing (Grande Angular), 1979, p. 92.

4. LJUNGSTEDT, Andres, An Historícal Sketch of the Portuguese Settlements in China; and of the Roman Catholic Church and Mission in China, Boston, 1836, p.21.

5. JESUS, Montalto de, Historic Macao, Hong-Kong, 1934, pp. 68-9.

6. LI Pengzhu, op. cit., p. 153.

7. BRAGA, José Maria, The Western Pioneers and Their Discovery ofMacao, Macau, 1949, p. 102; FEI Laizhi, Biografias de Jesuítas na China (traduzido para o chinês por Feng Chengjun), Commercial Press, 1938, p. 18; BATALHA, Graciete Nogueira, Este Nome de Macau, "Revista de Cultura" (edição chinesa), Macau, (1) Abr.-Jun. 1987, pp. 11-2.

8. BRAGA, José Maria, op. cit., p. 102.

9. WILLIAMS, S. W., The Middle Kingdom, New York, 1907, vol. 2, p. 428; BOXER, Charles Ralph, Seventeenth Century Macau, Hong-Kong, 1984, p. 14; BOXER, Charles Ralph, The Great Ship From Amacon, Lisboa, 1963, pp. 87-8, 90-5, 100, 309.

10. BRAGA, José Maria, op. cit., p. 102; DAI Yixuan, Correcções para a "Historia Ming, Crónicas de Fu-Lang-Ji" (em chinês), Ciências Sociais da China, 1984, pp. 55-8; BATALHA, Graciete Nogueira, op. cit., pp. 10-3.

11. HUANG Shaochang, LIU Sufen, Antologia dePoesias de Xiangshan, 1937, vol. 8, p. 230.

12. KWOK Fei (GUO Fei), Crónicas de Cantão, publicadas no reinado do imperador Wanli, da dinastia Ming, vol. 32, mapas da costa de Cantão, p. 36.

13. LJUNGSTEDT, Andres, op. cit., pp. 11, 19, 21; BRAGA, José Maria, op. cit., p. 104.

14. PIRES, Benjamim Videira, Os Extremos Conciliam-se (traduzido para chinês por Su Le), Macau, Instituto Cultural, 1992, pp. 74-5

15. História da Missão de Mateus Ricci na China (de autor anónimo e traduzido para chinês por Liu Chunyu e Wang Yuchuan), Taipé, Kuang Chi, Universidade Católica, 19??, vol. 1, p. 111.

16. RICCI, Mateus, Textos, Roma, 1942, cf. BATALHA, Graciete Nogueira, op. cit., p. 10.

. Cf. ZHENG Hesheng, Correspondência de Datas Chinesas e Ocidentais da Época Contemporânea, ZhongHua, 1981, p. 601.

18. LJUNGSTEDT, Andres, op. cit., pp. 156-8.

19. WANG Yongsou, Miscelânea de Poesias de Macau, 1918, p.10.

20. ZHENG Weiming, Colectânea de Inscrições em Lápides e Letreiros das Ilhas da Taipa e Coloane, Ocupadas por Portugal, Hong-Kong, Jialue Shanfang, 1993, p. 130.

21. CHEN Guoqiang, ed., O Culto de A-Má e o Templo, Editora Educacional de Fuquiém, 1990, p. 32.

22. BATALHA, Graciete Nogueira, op. cit., p. 12.

23. Macau in 1839: Diaries and Drawings by Auguste Borget, "Revista de Cultura" (edição inglesa), Macau, (10) Jun.-Aug. 1990, p. 110.

. 19th Century Macau Prints, Macau, Instituto Cultural, 1990; Historical Pictures, colectânea selecta do Museu de Artes (?) de Hong-Kong, 1991, p. 64; "Revista de Cultura" (edição inglesa), Macau, (10) Jun.-Aug. 1990, p. 117.

25. Historical Pictures, p. 69.

26."Revista de Cultura" (edição chinesa), Macau, (7-8)1989, p.51.

. WEI Qingxin (?), Política Missionária da França na China (versão chinesa de Huang Qinghua), Ciências Sociais da China, 1991, p. 303; "Revista de Cultura" (edição chinesa), Macau, (11-12)1993, p.64.

28. Palavras do Sr. Xu Xin, citadas de CHEN Shurong, HUANG Hanqiang, eds., Lin Zexu e Macau, p. 183; asduas fotos aparecem na "Revista de Cultura" (edição chinesa), Macau, (11-12) 1993, pp. 75-6.

29. TANG Xianzu, Poesias e Textos, compilados e cotejados por Su Suofang, Xangai, Livros Antigos, 1982, vol. 1, "Poesias do Salão Yuming", tomo 6, p. 428.

30. QU Dajun, Novidades de Cantão, vol. 18, "Das Embarcações", rubrica Navios Estrangeiros, Zhong Hua, 1965, parte 2, p. 481.

31. ZHU Jieqin, Colectânea de Monografias sobre as Relações da China com o Estrangeiro, Henan, Editora do Povo, 1984, p. 53.

32. Tradução, pelo significado, do nome malaio Sembilan, que se refere ao arquipélago Sembilan, na foz do rio Perak, na península da Malásia.

33. YIN Guangren, ZHANG Rulin, Crónicas de Macau, 1800, vol. 2, cap. "Os Estrangeiros de Macau", p. 31.

34. LI Pengzhu, op. cit., p. 173.

35. LIANG Qiaohan, Viagem por Hong-Kong e Macau, 1900, p.10.

36. ZHANG Wenqin, Macau e a Cultura Histórica da China, Macau, Fundação Macau, 1995, p. 190.

37. YIN Guangren, ZHANG Rulin, op. cit., p. 24.

38. WANG Shizhen, "Cavaqueiras Ocasionais a Norte duma Piscina", in Antologia de Crónicas Escritas Durante a Dinastia Qing, vol. 21, p. 12; PAN Yizeng, PAN Feisheng, Poesias dos Pan do Distrito de Panyu, 1884, vol. 2, "Textos Póstumos do Salão Yisong", p. 4.

39. LI Pengzhu, op. cit., pp. 139-40.

40. LIAO Yilin, Textos Inéditos do Salão Zhanhua, 1870, vol. 1, p. 15.

41. YIN Guangren, ZHANG Rulin, op. cit., p. 29.

42. WANG Yongsou, op. cit., p. 8.

* Professor associado no Departamento de História da Universidade de Zhongshan.

desde a p. 243
até a p.