Linguística

16 postais ilustrados de Venceslau de Morais

Por S. S. "Asia" - Portugal 1

Exmo Snr.

Joaquim de M. Costa

r. Victor Cordon n.° 27 - 1°

Lisbon

Kobe, 29/7/07

Obrig° pelos 2 jornaes, com artigos sobre o Japão, de Luiz Guimarães. O homem é brazileiro. Encarregado de Negos em Tokyo; não o conheço pessoalmente, mas já trocámos correspondencia. Quer-me parecer q quem gostar dos escriptos do Guimarães não ha de gostar dos meus, e vice-versa. Mas ha de haver mta mais gente que goste dos escriptos do Guimarães. Desejo boa saude, moderação no trabalho e muita fortuna.

Teu Tio e Amigo

W. M.

Via Siberia 2

Portugal

Ex. Snr. Joaquim M. Costa

r. Gomes Freire, 130, 1° dto

Lisbon

Kobe, 13/9/07

Recebi mais dois jornaes, com contos do Luís Guimarães. Não gosto, mas agradeço. Desejo a todos mta saude. Saudades à Maria 3 e Virginia 4.

Por cá, nada.

Teu mto Amigo

W. de Moraes

Via Siberia 5.

Portugal

Ex. Snr.

J. de Moraes Costa

"Companhia do Nyassa"

r. Victor Cordon, n.° 27 - 1°

Lisbon

Kobe, 4/10/07.

Recebi a tua carta de 22 de agosto. Obrigado. Lamento o dissabor, mas que é prova da tua boa saude. Para Cavallaria, safa!... Espero em breve mais noticias tuas, sobre o caso. Perguntas-me se tenho gostado das "Cartas japonezas"; não, não tenho gostado, mas manda sempre, e mto obrigado. Desejo q a Maria tenha aproveitado do seu passeio a Montachique 6; cumprimentos também à Virgínia. Escreve pois e conta com a estima de

W. de Moraes

Via Siberia 7

Portugal

Exmo Snr.

Joaquim de M. Costa

"Companhia do Nyassa" 8

r. Victor Cordon, n.° 27 - 1°

Lisbon

Kobe, 14/10/07.

Obrigado pelo postal de 3/9. É claro que me interessaram os artigos das "Novidades", posto que não gostasse d'elles. Se mais houver, manda, se quizeres. Como disse, o tal Guimarães é brazileiro. Encarregado de Negocios em Tokyo. Nunca o vi, mas já trocámos cartas, desfazendo-se o homem em cumprimentos e protestos de sympathia. Palavrorio.

Desejo-te e a Todos da casa mta saude. Cumprimentos affectuosos de

W. de Moraes

Portugal 9

Illmo Exmo Snr

Joaquim de M. Costa

"Companhia do Nyassa"

Rua Victor Cordon, 10 n.° 27 - 1°

Lisbon

Kobe, 10/11/08

Recebi hontem o teu postal de Cintra, onde, concluo, te encontras gozando a lua de mel.

Votos sinceros por mil felicidades.

Teu

W. de Moraes

Portugal

Via Siberia 11

Illmo Exmo Snr

J. de Moraes Costa

e sua Exma Esposa

"Companhia do Nyassa"

r. Victor Cordon, n° 27 - 1°

Lisbon

Desejo festas felizes e um ano novo muito prospero.

W. de Moraes

Via Siberia 12

Portugal

Illmo Exmo Snr.

Joaquim de M. Costa

(pa a Exma Sra D. Maria L. F. Costa)

"Companhia do Nyassa"

r. Victor Cordon, n.° 27 - 1°

Lisbon

Kobe, 4-6-09

Os meus 55 invernos agradecem as suas muito amaveis felicitações pelo dia 30 de Maio, desejando-lhe em troca todas as prosperidades.

W. de Moraes

Via Siberia 13

Portugal

Exmo Snr.

Joaquim M. Costa

"Companhia do Nyassa"

r. Victor Cordon, n.° 27 - 1°

Lisbon

Kobe, 31-5-10

Recebi hoje o teu postal de 10. Mto agradeço as tuas felicitações.

Bem fizeste em desfazer-te das amygdalas, pa não mais soffreres de amygdalites. Que pena não servir o remedio paas dores de cabeça, ou as dores dos rins! Escrevo hoje às 2 Marias, pa a rua da Infancia, 8 - 2°. Desejo-te mil venturas.

W. de Moraes

Venceslau de Morais no período em que era Consul em Kobe, a que se refere este texto

NOTA

1 Ilustração: duas japonesas de quimono, junto a. um jardim de crisântemos.

2 Ilustração: Duas jovens japonesas sentadas junto a uma mesa baixa. "Ka Tei Eika". Uma segura um livro, enquanto a outra escreve um poema.

3 Deve tratar-se da irmã de Joaquim Costa, Maria dos Prazeres, a quem Morais endereçara uma carta em 4 de Junho de 1901. Curtas Íntimas, p. 105.

4 "Foi criada dedicadíssima da família, durante muitas dezenas de anos. Hoje os seus restos repousam junto dos das duas "meninas", como ela sempre tratou as irmãs do escritor". Anotação de Ângelo Pereira e Oldemiro César. Cartas Intimas, p. 78.

5 Ilustração: "East Honganji". Higashi Honganji, fundado por Ieyasu Tokugawa em 1600 como rival de Nishi Honganji, é conhecido formalmente como Shinshūhonbyō. No seu recinto estão alguns dos mais belos exemplares da arquitectura do budismo japonês. O Goei-dō (Pavilhão do Fundador), reconstruído em 1895, é o maior edifício de madeira de Kyoto — talvez do mundo. O jardim Shōsei-en, também denominado Kikoku-tei, foi desenhado em 1653 por Jōzan Ishikawa (1583-1672), notável pelo seu talento para a cor e as formas. (Ishikawa também concebeu o maravilhoso jardim de Shisen-dō). O jardim contém vários edifícios em torno do Lago Ingetsu, com as "13 Belas Paisagens" mencionadas na poesia.

Higashi Honganji está situado no cruzamento da Karasuma com a Shichijo em Shimogyo-Ku, Kyoto. É um dos centros da seita de Jōdo Shinshu. (Seita da Terra Pura).

6 Montachique: povoação perto de Loures.

7 Ilustração: Duas japonesas, de quimono.

8 "Os territórios do Niassa foram administrados por uma companhia majestática, a Companhia do Niassa, constituída definitivamente em 1893 e que entrou na posse dos territórios em 1897. A esta Companhia se deve a fundação da cidade de Porto Amélia, na Baía de Pemba, e a ocupação de vários pontos importantes da fronteira ocidental. A administração passou para o Estado em 1930. A Companhia emitiu selos próprios. A primeira emissão saíu em 1908". "Niassa", Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, XVIII, pp. 706-707.

Porto Amélia chama-se hoje Pemba. Foi fundada em 1897.

9 Ilustração: "Cherry Blossom at Shiba Park". "Tokyo Shibayama Uchigawa".

10 Sintra, vila ao norte de Lisboa. "Em toda a terra portuguesa, em toda a terra da Europa, Sintra surge como um dos mais belos lugares que a invenção prodigiosa da natureza logrou criar". Afonso Lopes Vieira, Guia de Portugal, (Fundação Gulbenkian, 1983), p. 493. Entre os monumentos famosos estão o Palácio Real, o Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros.

11 Ilustração: "Japanese Cruiser Akashi".

Sobre um selo um carimbo que reproduz a proa de um navio: Kobe - 41-11-16. Imperial Naval Review - 1908. Sobre o outro selo: "Kobe - 5.12.08 - Japan". Morais referiu-se ao cruzador "Akashi", no seu relato da batalha de Tsushima, datado de 8 de Junho de 1905. A Vida Japonesa (Porto, Lello & Irmão 1905), p. 68.

O "Akashi" foi construído em Yokosuka em 1894. Foi lançado ao mar em 1897. Era navio-irmão do "Suma ". No início da guerra russo-japonesa o "Akashi" entrou em acção em Chelumpo. Com o "Suma" tomou parte na batalha do Mar Amarelo. A 10 de Dezembro de 1904 o "Akashi" foi danificado por uma mina a 11 milhas a sueste da Rocha do Encontro. Foi temporariamente reparado em Dalny, antes de seguir para Sasebo. Em Tsushima o "Suma" esteve com o "Chiyoda" na Sexta Divisão de Cruzadores enquanto o "Akashi" foi integrado na Quarta Divisão de Cruzadores.

O "Akashi" dispunha de armamento de marca Elswick, Hotchkiss, Nordenfeld e Maxim. O "Akashi" e o "Suma" foram desarmados em 1922 e abatidos ao efectivo em 1927. Anthony J. Watts e Brian G. Gordon, The Imperial Japanese Navy (Londres, Macdonald, 1971), p. 100. Outra referência: Hans Georg Jentshura, Dieter Jung e Peter Mickel, Die Japanischen Kríegs-chiffe 1869-1945. (Munique, J. F. Lehmanns Verlag, 1970), p. 172.

O "Akashi" tomou parte na conquista de Tsingtau, em 1914. Um historiador relata: "All the choice assignments went to the Second Squadron, which would blockade the German protectorate, clear any mines obstructing a landing, and support the land assault on Tshingtau. Under Vice-Admiral Sadakichi Kato this Squadron would carry the basic naval responsibility". Numa nota acrescenta-se: "The Second Squadron consisted of several old battleships captured in the Russo-Japanese War and some native-built cruisers: the battleships Suwo (ex Pobjeda), 12,900 tons with four 30,5 - cm guns; Iwami (ex Drel), 13,700 tons with four 30,5 - cm guns; Tango (ex Poltawa) with four 30,5 - cm guns; the old coastal armored ships Okinoschima (ex Apraxin), 4,200 tons with three 25 - cm guns; Mishima (ex Senyawin), 4,200 tons with four 25 - cm guns. With these units were three armored cruisers (Iwate, Tokiwa, Yakumo) all close to 10.000 tons with four 20 - cm guns, and eight light cruisers (Chitose, Tone, Mogami, Yodo, Akashi, Akitsushima, Chiyoda, Takachiho) of widely ranging size and power. In addition were two destroyers and twenty-seven boats, as well as several repair and supply vessels". Charles B. Burdick, The Japanese Siege of Tsingtau (Handem, Connecticut, The Shoe String Press, 1976), pp. 80, 222. A vitória de Tsingtau teve grande repercussão: "As the Japanese army marched through Tsingtau, they heralded the new power relations for a new era. The old European centered world with its imperialistic pretensions, historical pride, and traditional structure was leaving history's stage". Ibid., p. 197. Iria intensificar-se a rivalidade entre as duas potências mais poderosas do Pacífico: o Japão e os Estados Unidos. Uma rivalidade prevista por Venceslau de Morais, embora não tenha encontrado na sua obra qualquer alusão ao cerco de Tsingtau.

12 Ilustração: "Sumadera, Suma". "Sumadera zenkei".

Suma está situada perto de Kobe, na prefeitura de Hyogo, no ocidente de Honshū. A costa de Suma tem sido famosa desde eras remotas pelos seus pinhais e pelas suas praias de areias brancas. Suma foi mencionada na antologia de poesia do século VIII Man'yoshu e foi o cenário de episódios do Genji Monogatari (História de Genji). Foi um campo de batalha durante a guerra entre os clans de Taira e Minamoto (1180-1185). Depois da derrota dos Taira em Ichi no Tani, Atsumori foi decapitado. O seu túmulo encontra-se em Suma. O destino do jovem guerreiro é ainda o tema de uma peça de Nō, Atsumori, de Seami Motokiyo, escrita durante a Era de Muromachi (1333-1600), obra saturada de um lirismo trágico. A estátua de Atsumori encontra-se num recanto do Parque de Suma no Ura. Morais visitou o túmulo de Assumori em 1912, na companhia de Oyoné. A descrição'da visita constitui uma das suas páginas mais memoráveis. Este relato encontra-se em Oyoné e Ko-Haru. Título: "O túmulo de Atsumori". O cineasta Paulo Rocha referiu-se ao local: "Trata-se da praia de Suma, que é um lugar geométrico da tradição japonesa. Poucos lugares haverá no Japão onde se tenha passado tanta coisa memorável. O romance japonês tem a sua origem no século décimo, em cenas passadas aqui: os contos de Ise e Genji. Suma é também o palco de episódios famosos do Teatro Nō, e do Kabuki. O poeta Banhô escreveu ali 'haikus' bem conhecidos, e um sem fim de pintores, músicos e cantores falaram dela nas suas obras. Ora quis o destino que uma das maiores páginas de Moraes fosse a história de uma visita ao túmulo de Atsumori, um guerreiro mono na flor da idade na praia de Suma: Atsumori é um dos grandes vultos de um ciclo épico, a saga dos Heike, e um dos mais vivos na memória popular japonesa. Ezra Pound fala dele, e do Genji, prefácio à tradução que fez da peça de teatro Nō: 'Suma Genji! (...) Sobre Atsumori, Moraes escreve uma página sublime, que ainda hoje não posso reler, (ou ouvir) sem uma emoção inexplicável". "O bloco-notas do realizador", "A Ilha dos Amores" de Paulo Rocha vai transformar-se em álbum", - Pré-Publicação - Mais Semanário, Suplemento do no. 227 de Semanário, de 31 de Março de 1988, p. 20. Existe uma versão de uma peça de Nō, de Pound, baseada nas notas de Fenollosa. Suma Genfi. Pound aludiu a "Genji at Suma" no Canto LXXIV, de Cantos, Earl Miner, The Japanese Tradition in British and American Literature (Princeton University Press, 1958), pp. 137 e 141. Sobre o tema: Ernest Fenollosa e Ezra Pound, "Noh " or Accomplishment (Londres, Macmillan, 1916 e Hugh Kenner, The Translations of Ezra Pound (Norfolk, Conn., New Directions, 1950).

O Parque de Sumaura abrange uma estreita faixa de terra entre a Praia de Sumaura e o Monte Hachibuse. Na primavera as cerejeiras floridas cobrem o parque com um manto alvejante. No parque estão dois monumentos: um construído em 1286 por Sadatoki Hōjō (do poderoso clan de Hójó) para expressar a sua admiração por Atsumori Taira e o outro (Midori-notō) para comemorar a visita do Imperador e da Imperatriz em 1954.

Sumadera, um templo dedicado às doutrinas do Budismo Singon. E notável por ser dedicado à memória de Atsumori, morto em combate aos 16 anos, por Naozane Kumagai. A flauta de Atsumori ("Aoba-no-fue") está guardada na Casa do Tesouro do templo. Sob o aspecto musical, Sumadera é famoso devido a Yukihira Ariwara, um cortesão do século IX, que se supõe ser o modelo de Genji de Genji Monogatari. Banido para Suma, este criou uma harpa de uma corda ("ichigenkin"), a harpa de Suma.

13 Ilustração: três japonesas de quimono, num jardim, uma sob um guarda-sol.

14 Ilustração: Duas jovens japonesas, de quimono e chapéu de sol, de expressão severa, junto a um Jinriquixá e respectivo condutor.

15 A Rua da Infância, perto do Largo de S. Vicente, com um palácio seiscentista que foi residência do Secretário de Estado Pedro Vieira da Silva, é hoje a Rua da Voz do Operário, que desemboca no Largo da Graça. Guia de Portugal, l (Lisboa, Fundação Gulbenkian, 2a edição, 1983), p. 294.

16 Ilustração: "The Nakanoshima Park of Osaka". Cinco crianças em frente de um canhão. Ao fundo uma estátua e um edifício clássico, com frontão. Este edifício é a Biblioteca Municipal de Osaka. (Nakanoshima-Shi - Rinkaishoten (1974). A estátua é de Toyotomi Hideyoshi (Taiko). O canhão era um monumento comemorativo da guerra russo-japonesa. O canhão e a estátua foram fundidos durante a II Guerra Mundial. (Kitaku-Shi, 1955).

Sobre as consequências das vitórias esmagadoras da primeira guerra russo-japonesa: Alvin D. Cox, Nomonhan: Japan against Russia (Stanford: Stanford University Press, 1985). Comenta acerca do excesso de confiança, acerca do desconhecimento do inimigo e acerca da estratégia deficiente que conduzira à derrota de Nomonhan em 1939.

17 Ilustração: Duas fotografias. A do canto superior esquerdo representa um templo xintoísta. A do canto inferior direito representa um caminho de ferro. "Nishinomiya Jinja Omotemon shita densha teiriujo".

18 Dr. Sebastião Peres Rodrigues, médico da Marinha de Guerra. "Fez algumas estações navais com W. de Moraes, do qual foi também médico assistente e até confidente. Depois da morte da irmã mais velha, W. de M. confiou ao Dr. Peres Rodrigues a tutoria dos dois sobrinhos". "Ângelo Pereira e Oldemiro César (orgs.) Cartas Intimas, p. 50.

19 Vicente Almeida d'Eça (1852-1929). Oficial de Marinha, historiador de Arqueologia Naval. Em 1885 ocupou a cadeira de Direito Internacional e História Marítima na Escola Naval. Exerceu, entre outros cargos, o lugar de Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa. Uma segunda edição não autorizada de Dai Nippon conduziu ao corte de relações dos dois oficiais.

20 Ilustração: "Koroen Dobutsuen Shiyou Senbikizaru". A fotografia representa macacos num jardim zoológico.

21 Ilustração: "Amidadomon Kiyoto Honganji". Honganji (Templo do Voto Original). Fundado em 1321. O templo conserva a imagem de Shinran (1173-1263), o patriarca da seita da Verdadeira Terra Pura do Budismo. Depois de uma história turbulenta, tanto Nishi Honganji como Higashi Honganji se tornaram pilares da respeitabilidade durante a Era de Edo (1600-1863), pregando a submissão às autoridades. Jōdo Shinshū (Seita da Terra Pura) é uma das treze escolas tradicionais do Budismo. A seita foi fundada em 1224 por Shinran que compilou então a sua obra fundamental Kyōgyō Shinshō. O Budismo Shin coincide com o do Budismo Mahayana. Durante o Período de Sengoku (1467-1568) o Honganji ultrapassou os seus rivais, desenvolveu uma organização eclesiástica, estabeleceu laços religiosos e seculares, constituíu coligações armadas e dominou províncias inteiras. A seita foi quase destruída por Oda Nobunaga. No início do século XVII um cisma fragmentou o Honganji em ramos rivais, baseados em Nishi Honganji e Higashi Honganji em Kyoto que permaneceram até hoje vastos estabelecimentos religiosos com milhões de adeptos. O presente templo de Nishi Honganji data de 1591. Foi estabelecido em terreno cedido por Hideyoshi Toyotomi. Além de obras de arte budista, inclui cinco edifícios designados como Tesouros Nacionais — obras de arte arquitectónica da Era de Momoyama. Kokeino-Niwa é um jardim original.

22 Ilustração: "Kiyoshinkai Seimon, Kobe" (1). "Kobe Shussai Kyoshinkai Kaijo Seimon no Kobe".

23 Ilustração: Karasaki. "Omihakei Karasaki no iau".

24 Ilustração: "General Nogi". "Riojun Hakugyoku San Hiochu Kinen to to Gunshin Nogi Shogun".

Maresuke Nogi (1849-1912). General do Exército. Nasceu em Edo (Tóquio), descendente de uma família de Chōshu (hoje Yamaguchi). Durante a Rebelião de Satsuma de 1877 o seu regimento perdeu a bandeira. Este episódio obcecou Nogi durante o resto da sua vida. Estudou na Alemanha em 1887-1888. Ficou impregnado pelo ideal militar, pelo sentido dos valores tradicionais do samurai de disciplina e sacrifício. Durante a guerra sino-japonesa de 1884-1885, Nogi, comandando a 1a brigada de infantaria, tornou-se famoso na conquista da Península de Liaodong (Liaotung) e da sua principal base militar, Porto Artur. (Lüshun, agora parte de Lüda). A sua campanha vitoriosa trouxe-lhe o comando de uma divisão, a promoção a tenente-general e o título de barão. Depois Nogi tomou parte na pacificação final de Taiwan, adquirida pelo Japão depois da guerra e prestou serviço como governador-geral da colónia de 1896 a 1898. Este foi um período de frustração para Nogi, devido à sua incapacidade para a administração colonial e devido à corrupção e incompetência dos seus subordinados.

No início da guerra russo-japonesa em 1904, Nogi foi promovido a general e recebeu o comando do Terceiro Exército para o assalto às formidáveis posições russas em Porto Artur. O Japão fora forçada pela intervenção tripartida de 1895 a devolver a Península de Liaodong à China, que depois a arrendara à Rússia. Nogi ordenou uma série de assaltos sangrentos fúteis e tenazes, no outono de 1904, que custaram 56.000 baixas aos japoneses. Considerou-se pessoalmente responsável por estes sacrifícios. Só depois da intervenção do general Kodama Gentarõ, enviado pelo Alto Comando para aconselhar Nogi, se seguiu uma estratégia mais adequada, que incluíu o uso de canhões pesados de cerco. Porto Artur acabou por cair em poder do exército japonês. Apesar da sua ineficaz direcção do Terceiro Exército na campanha final da guerra em torno de Mukden (hoje Shenyang), a estóica aceitação da morte em combate dos seus dois filhos — ambos oficiais de infantaria — trouxe a Nogi a adulação do público Japonês, que o recebeu no regresso como o herói da guerra. Nomeado conde em 1907, Nogi foi naquele ano nomeado reitor da aristocrática e prestigiosa Escola dos Pares (hoje Universidade de Gakushūin), onde impôs um regime austero de patriotismo, austeridade e virtude viril. O suicídio ritual de Nogi e de sua mulher na noite do funeral do imperador Meiji (13 de Setembro de 1912), provocou grande sensação porque aparentemente reflectia protesto de Nogi contra o luxo e a corrupção do Japão contemporâneo, embora possa ter sido um acto de expiação pelos erros da sua carreira militar. A auto-destruição de Nogi assumiu um impacto particularmente profundo entre o meio intelectual japonês. Natsume Sōseki incluíu o incidente no seu grande romance Kokoro (1914), a fim de sublinhar o problema da sua própria identidade, perdida perante a mudança de valores do Japão modero. Para Mori gai, o suicídio de Nogi teve o efeito de reacender o entusiasmo pela tradição japonesa, manifestado na sua devoção subsquente à história do seu país, foco da sua criatividade. Junshi (acompanhar o senhor na morte) tornou-se o tema de um dos seus romances, Abe Ichizoku (1913), (A família Abe). Para o grande público, Nogi tornou-se um objecto de veneração e um símbolo de lealdade e de sacrifício. Entre os militares japoneses a sua reputação profissional foi sempre marginal. Bibliografia sobre Nogi: Matsushita Yoshio, Nogi Maresuke (1960) e Meiji no Gunraї (1963). Mark Peattie, "The Last Samurai: the military career of Nogi Maresuke, "Princeton Papers on East Asian Studies" I, (Japan), (). Durante a época de Taishō, uma perspectiva crítica encontra-se no livro de Akutagawa Ryūnosuke, Shōgun (1922) (O General) e no de Kuroshima Denji, Sōri (1922).

Venceslau de Morais manifestou grande admiração por Nogi, que considerava "o primeiro vulto em evidência sem dúvida alguma, do Exército do moderno Japão". Recordou que o suicídio de Nogi fora comentado pela imprensa e pela opinião pública japonesas como um acto de grande exemplo de lealdade ao soberano falecido e de amor patriótico. Aprovou o suicídio: "Nogi, por tudo o que viu, por tudo que sentiu, pela perda dos seus únicos filhos afastou-se da humanidade comum, passou a ser um ente à parte, vivendo certamente, noite e dia, sob o peso das estupendas recordações das batalhas. Em tais circunstâncias, para que lhe servia a vida? Para nada". Concluiu: "Em todo o caso e encarado por qualquer forma o suicídio do grande general o acto representa certamente um portentoso exemplo de civismo à moda japonesa, que servirá, nas gerações futuras, a manter palpitante isso a que nós poderemos chamar - o fanatismo patriótico -, mas ao qual o Japão deve todos os seus progressos e glórias, únicos na História". Cartas, VI, pp. 115-118. Armando Martins Janeira, Wenceslau de Moraes - Antologias Universais - (Lisboa, Portugália Editora, 1971), pp. 184-187. A fotografia do postal tem o retrato do general num canto, à esquerda uma torre coroada por uma cúpula em forma de granada celebra a glória militar do general.

25 Belas - povoação nos arredores de Lisboa. Em 1924 era uma "vilazinha aprazível e de águas correntes nas abas da serra da Carregueira, pequena estação de vilegiatura cujas quintas históricas, alfombradas de pinheirais, lhe dão o perfume da tradição e as sombras espessas. Por toda a parte se surpreende o fio das fontes nas veredas silenciosas que, entre árvores centenárias, levam a alturas dominantes, com panoramas duma sóbria e plácida grandeza". Raul Proença, Guia de Portugal, l (Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1983), p.487.

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