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Primórdios da Imprensa na China Impressos com chapa gravada no início da Dinastia Tang (618-907)

Ji Dunyee*

A invenção da arte tipográfica é um dos grandes contributos chineses para a história tecnológica e cultural do Mundo, tendo contribuído para a rápida evolução da Humanidade durante séculos de Civilização.

Dentro e fora da China, foram escritos vários livros sobre este produto da sabedoria do povo chinês, v. g. A invenção da arte tipográfica chinesa e a sua introdução no Ocidente (de autoria de T. F. Carter), A invenção e a influência da arte tipográfica chinesa (por Zhang Xiumin) e Sobre a origem da chapa entalhada (de Sun Xuxiu).

São já obras de renome mundial.

Restam, todavia, dúvidas sobre a data do nascimento da impressão chinesa com chapa gravada. De certa forma, resolver esta dúvida é responder à questão prévia: qual é (e de que época) o mais antigo incunábulo conhecido e conservado no Mundo?

Sobre isto divergem as opiniões.

Há quem sustente que apareceram impressos na Dinastia Sui (581-681).

Escuso-me agora a comentários a esta tese, que já expendi no meu livro Acerca das datas da invenção da imprensa com chapa entalhada na China. Defendem outros que se encontram referências à arte tipográfica com chapa gravada no princípio da Dinastia Tang, isto é, no século VII.

Que eu saiba, ninguém ainda fez uma exposição metódico-crítica desta matéria. É o que passo a tentar, organizando alguns apontamentos e notas que fui tomando na leitura de muitos livros antigos, e que desejo ver comentadas sere reservas.

Uma ilustração chinesa mostrando a impressão por processos xiIográficos e a encadernação dos livros. (Dum antigo livro chinês da colecção do autor, in José Maria Braga, Primórdios da Imprensa em Macau ).

EM A invenção e a influência da arte tipográfica chinesa, Zhang Xiumin apoia-se numa passagem do volume 46 de Hongjianlu, de autoria de Shao Jingbang, para extrair uma conclusão: "A arte tipográfica chinesa de chapa entalhada foi inventada provavelmente no começo do século VII". Apesar deste seu prudente "provavelmente", foram surgindo vários livros com a comum tese de que Nuze (Exemplos das Mulheres) é o primeiro livro impresso por meio de chapa gravada na China. Para permitir um juízo verdadeiro convém transcrever na íntegra o passo interessante contido em Hongjianlu:

"Chang Su, mulher do Imperador Tangtaizong, morreu aos 36 anos. Ele ficou muito inquieto quando lhe foi entregue Nuze, original de 10 capítulos da autoria dela, e que consistia numa recolha de comentários acerca das virtudes das mulheres antigas, criticando ainda os modos de intervenção, nos assuntos políticos do Estado, dos familiares da mulher e da mãe do Imperador, na Dinastia Han. Para ela, o comportamento da Imperatriz Ma dessa Dinastia não era recomendável, porque se resumiu à renúncia ao uso das suas carruagens de luxo, esquivando-se aos problemas fundamentais, devido à sua incapacidade de modificar tal situação. Ficou o soberano tão impressionado com o conteúdo da obra que disse em tom de louvor que o manuscrito devia ser legado à posteridade e ordenou que fosse impresso por meio de chapa gravada ".

No volume 12, subintitulado Zakao (Estudos Informais), de Zhu Zhai Du Shu Sui Bi Hui Bian (Colecção das Notas de Leitura da Sala de Zhu Zhai), o autor, Zheng Jishi, da Dinastia Qing, transcreve também esse extracto do Hongjianlu, con-cluindo: "É evidente que a impressão chinesa com chapa gravada teve início naquela altura".

Pensa-se que Shao Jingbang foi jinshi (aprovado nos exames imperiais) em 1521, décimo sexto ano do Reinado de Zhengde. O seu Hongjianlu era simplesmente uma colectânea de extractos que fizera das Histórias de Tang, Wudai, Song, Liao e Jin. É de começar por questionar onde encontrou tal referência à Imperatriz Chang Sun, mulher do Imperador Tangtaizong, e que diverge de tantas outras que estão ao nosso alcance. Basta aprofundar a análise para detectar o cerne da questão.

Vejamos em primeiro lugar o volume 51 do Livro Antigo Sobre Tang, respeitante à biografia da Imperatriz Chang Sun, onde se diz: "Morreu aos 36 anos, em Junho de ano 636. Nuze, com 10 capítulos, escrito por ela, trata das virtudes das mulheres. Escreveu também a introdução do livro, onde comentou o comportamento da Imperatriz Ma, da Dinastia Han, ante a intervenção dos membros da família da mulher e da mãe do Imperador nos assuntos políticos do Estado. Vendo-se incapaz de pôr termo a essa situação, decidiu renunciar ao uso dos seus meios de transporte particulates, visando dar um exemplo que a nobreza seguisse. Depois da morte da Imperatriz Chang Sun, o lmperador, mais condoído depois da leitura do livro, disse aos ministros que o cercavam: "O trabalho da Imperatriz deve ser transmitido à posteridade, lsto não representa um gesto incontrolado pela emoção. Sei que estava destinada a morrer com esta idade".

Leiamos agora o volume 76 do Livro Novo Sobre Tang, onde se refere: "Faleceu aos 36 anos a Imperatriz Chang Sun. Escreveu Nuze, com 10 capítulos, a respeito das mulheres antigas. Criticou ainda a atitude da Imperatriz Ma da Dinastia Han em relação à intervenção dos membros da família da mãe e da mulher do Imperador, por se ter limitado a renunciar ao uso dos seus meios de transporte para se esquivar aos problemas-chave que enfrentava. (...) Depois da morte de Chang Sun, o Imperador foi informado de que ela deixara um livro, cuja leitura lhe deu mais mágoa ainda, dizendo aos ministros que se" encontravam à sua volta: 0 livro da Imperatriz deve ser transmitido à posteridade. O que assim determino não quer dizer que não sei controlar-me. Sei que estava destinada à morte com esta idade".

No volume 194 de Zi Zhi Tong Jian (Lições Gerais Sobre Dominação) encontram-se referências semelhantes a Nuze: "A Imperatriz Chang Sun tentou coligir bons e maus exemplos das mulheres antigas, para fazer o livro Nuze. Tentou ainda criticar a atitude da Imperatriz Ma, da Dinastia Han, em relação à intromissão nos assuntos políticos dos membros da família da mulher e da mãe do Imperador. (...) Após a morte de Chang Sun, o Imperador foi informado da existência de tal livro, cuja leitura o deixou ainda mais dolorido. Disse então, para o lado, aos ministros, que o livro devia ser transmitido posteridade. Não por não saber que este seria o seu destino, mas por ter perdido um conselheiro que me podia dar bons conselhos. Por nenhuma razão posso esquecê-lo".

Das três transcrições, cotejadas coma citação de Shao Jingbang, pode concluir-se:

1. A referência à Imperatriz Chang Sun em Hongjianlu tem origem naqueles três documentos históricos, sendo evidente a semelhança dos relatos, onde algumas frases são até iguais.

2. Segundo os registos históricos oficiais, os cronistas Liu Xu, Ouyang Xiu, Song Qi e Sima Guang, que precederam Shao Jingbang de centenas de anos, nenhum sabia que Nuze era livro impresso por ordem do Imperador Tangtaizong.

3. Como é então possível que Shao Jingbang, simples copista de documentos, o soubesse? Obviamente que isso foi fruto da sua imaginação, isto é, que é falso.

Zheng Jishi, sem nenhuma confirmação só1ida, fez fé na afirmação de Shao Jingbang e sustentou em seu favor que Nuze fora impresso com chapa gravada. Que absurdo! Se o Imperador Taizong tivesse ordenado que um livro de 30 volumes como Nuze (Liu Xu dizia que eram dez volumes, e Ouyang Xu referia-se a dez capítulos) fosse impresso tipograficamente através de chapa entalhada, isso seria sem dúvida alguma um acontecimento tão importante na Corte, que teria de ter sido registado e louvado, escrita e oralmente. O que é facto, é que se não encontra nenhuma referência a isso em nenhum dos documentos históricos existentes. E o que é surpreendente é que se encontra referência à impressão de Nuze em Hongjianlu, cujo autor, Shao Jingbang, viveu na Dinastia Ming (1368-1644).

Wu Gou Guang Da Tuo Luo Ni Jing, conservado no Templo Fuguo, em Qingzhou, Coreia. Impresso em 751, é o mais antigo livro xilogravado até hoje conhecido.

No volume 35, Tanghuiyao, de Wangfu, vem registado o facto de se terem copiado manualmente todas as espécies bibliográficas existentes na Corte Tang durante os seus primeiros anos, o que uma vez mais comprova a inexistência de processos de impressão tabular na época. Em Maio de 719, por édito imperial, inciaram-se os trabalhos de "copiar os velhos livros anteriores aos Imperadores Taizong e Gaozong", e de "preencher as faltas", pelo mesmo processo. No Inverno de 731 realizou-se o trabalho de classificação de todos os escritos, durante o qual os livros Liang, Chan, Qi, Zhou (pertencentes à Dinastia do Sul e do Norte), os da Dinastia Sui e os dos tempos dos Imperadores Zhenguan (627-649) e Yonghui (650-655), foram "copiados por ordem imperial". Não se encontra nestas fontes nenhuma referência à xilografia na Corte imperial.

Como prova abonatória da existência da impressão manual no tempo de Tangtaizong, há quem cite vulgarmente as seguintes afirmações:, Em "Yun Xian San Ji, de autoria de Feng Zhi, de Dinastia Tang, afirma-se: Xuan Zang (monge) imprimia retratos de Samantabhadra em papel chamado Huifengzhi para distribuir onde passasse. Eram precisas cinco bestas para os transportar anualmente".

Na verdade, e segundo Tan Song Cong Shu (Colecções de Tang e Song), Yun Xian San Ji era um livro de autenticidade duvidosa. O Si Ku Quan Shu Zong Mu Ti Yao (Epítome do Catálogo Geral das Obras Completas das Quatro Espécies) esclarece melhor este assunto: a obra tinha um título anterior, Jin Cheng Feng Zhi Zhuan, mas desconhecia-se a proveniência do autor. Era um registo de anedotas antigas, mas não só os títulos das obras que cita não se encontram nos documentos históricos, como lhes são atribuídas datas insustentáveis.

No seu Shu Lu Jie Ti, Chen Zhensun negava que tivesse existido o denominado Feng Zhi. Hong Mai, da Dinastia Song, no seu Rong Zhai Sui Bi e Zhao Yushi, em Tui Biu Lu, manifestaram o mesmo ponto de vista. No seu Mo Zhuang Man Lu, Zhang Bangji, da Dinastia Song, afirmava: "Recentemente, apareceu um livro intitulado Long Chen Lu, obra falsa de Wang Xing, que é autor de Yun Xian San Lu, um livro completamente absurdo. Além do mais, um tal Li Xie assina notas explicativas dos poemas de Du Fu e Dong Po. De facto, trata-se do mesmo Wang Xing. Que coisa ridícula!.''

No início da Dinastia Tang, o bonzo Yi Jing escreveu Nan Hal Ji Gui Nei Fa Zhuan, em cujo volume 4 se diz: "Fazem placas de barro gravadas corn imagens de budas, com as quais estampam pedaços de seda, para serem adoradas em qualquer lugar, em pagodes ou no campo. Dessa maneira os budistas hindus divulgam o budismo". Estribado nestas palavras de Yi Jing, Fujitatoyoya sustentava, no seu Origem da Imprensa Chinesa, que a arte tipográfica com chapa entalhada tinha nascido na Índia, e não na China.

Mas isto é pouco provável. Carimbos de madeira da Dinastia Tang, descobertos em Ku She e moldes com imagens de budas da mesma Dinastia, encontradas nas grutas de Dunhuang e Tulufan, são, na realidade, apenas carimbos.

É que há que estabelecer a diferença entre a arte da impressão tabular e a arte dos carimbos ou selos, não só porque são diferentes os modos da gravação, como as condições exigidas e os efeitos pretendidos e produzidos. Além do mais, podemos fazer remontar os primeiros carimbos ou selos à Dinastia Zhou (aproximadamente século XI AC - 256 AC), durante a qual surgiu o "fujie"**, um tipo de carimbo de madeira, bambu, jade ou bronze, dividido em duas partes, uma que ficava retida na Corte, e outra que alguns funcionários levavam consigo quando em missão no país ou os generais quando em missão de guerra. Na Dinastia Han (206 AC - 220) existiram os "qingnifengyin" (um tipo de carimbo) e na Dinastia Tang (618-907) os xinyin, selos do Imperador, etc..

"A impressão tem origem nos carimbos imperiais", alegava Luo Zhenyue num dos seus livros, fazendo também a confusão do carimbo com a arte tipográfica.

Nos livros clássicos podem ler-se várias referências à gravação de carimbos para autenticar documentos ou para outros fins. Por exemplo, no volume 17 de Dao Po Zi Nei Bian descreve-se um carimbo quadrado "com 12 cms e 120 caracteres gravados"; segundo o livro Sui, Registo dos Rituais, o selo Du She Wan Ji era de madeira, com cerca de 40 cms de comprimento por 8,25 de largura. Ora, todos eles surgiram centenas de anos antes das imagens carimbadas dos budas, introduzidas na China através da Índia oriental. O equívoco de tudo isto radica numa incorrecta interpretação do caracter Yin, que significa carimbar ou imprimir.

O documento mais fidedigno na referência à existência da xilografia na China é o Memorial da Proibição da Impressão Manual de Calendários, que Feng Su apresentou ao Imperador durante a Dinastia Tang, e que consta na História de Toda a Dinastia Tang, volume 64: "Mui respeitosamente peso a Sua Majestade o Imperador que se digne deferir este requerimento de proibição da impressão de calendários. Nas prefeituras de Yuchuan, Jiannan e Huinan é vulgar a impressão manual de calendários destinados à venda pública. Antes de os Serviços Meteorológicos e Astronómicos solicitarem a Sua Majestade autorização para a publicação dos novos calendários, já estes se encontram à venda pot toda a parte, o que desrespeita o poder divino".

O governo central Tang proclamou a interdição da impressão ilegal de calendários, a fim de assegurar ao poder imperial o exclusivo de autorização da sua publicação.

No Livro Velho Tang, volume 17, em Registos do Imperador Wenzong, diz-se: "Era Dezembro de 839 foi enviada aos governos locais uma ordem imperial de proibição da impressão manual de calendários ".

Isto constitui a mais antiga prova da existência da impressão manual (de calendários) encontrada nos documentos históricos chineses.

A partir daqui, começaram a surgir diversos impressos, mas de má qualidade, por causa do papel, das tintas e do modo de gravação rudimentares. Jia Xun Xu, de autoria de Liu Pin, relata-nos: "Era o Verão de 883. Junto de Xun Xiu, que acompanhava o Imperador durante a sua estadia de três anos em Sichuan, tive oportunidade de ler alguns livros, a sudeste de Chongheng. Eram livros sobre Yin e Yiang, geomancia e adivinhação, mas que, na maioria, eram produtos ilegíveis da impressão manual".

Jing Gang Jing, primeira folha - gravado e impresso no 9° ano do reinado de Xian Tong (D. C. 868) da Dinastia Tang.

Jin Gang Jing, última folha.

Semelhantes referências podem ainda ser encontradas na História Antiga das Cinco Dinastias. No seu Jia Liao Za Ji, Zhu Y afirmava: "Não existia impressão manual antes da Dinastia Tang". Para mim, este facto é credível. Mas qual será então a data certa do aparecimento da xilografia?

A isto só poderão responder novos documentos históricos ou impressos que venham a ser descobertos.

Entretanto, não são aconselháveis comentários ou teses sobre este assunto com recurso apenas a registos ou livros falsos e errados, ou conclusões infundadas do género de que teve origem nos carimbos.

São apenas três os incunábulos fundamentais conhecidos, até hoje, em todo o Mundo, e que po-dem indicar o começo aproximado da impressão xilográfica:

1. Jin Gang Jing, exemplar em rolo, impresso em 868, 9° ano do Imperador Xiantong, o único livro ilustrado impresso com chapa gravada, e conser-vado em razoável estado. Tem 462 cms de comprimento quando desdobrado, com 6 páginas de texto que narra as histórias místicas que Sakyamuni contou aos seus discípulos. No final consta: "Wang Jie o dedicou a Erqin, aos 15 de Abril de 868". 0 livro foi descoberto em 1900 na "Gruta dos Sutras", em Mo Gao Kong, Dunhuang. Em 1907, o húngaro de nacionalidade inglesa Mark Aurel Stein, roubou de Dunhuang três mil rolos de livros, gravados em placas finas de madeira ou bambú; foi com base nestes materiais que escreveu Arqueologia na Região Oeste, em cujo capítulo XIII, subintitulado Descobertas no Aposento Secreto, nos é dado a conhecer pela primeira vez o incunábulo. Este original, hoje exposto no Museu Britânico, é uma jóia que merece figurar na História da Civilização de todo o Mundo.

2. Wu Goa Jing Guang Da Tuo Luo Ni Jing, datado de 770. São práticas budistas, gravadas e destinadas à velhice da Imperatriz Seitoko. Cada folha tem 18 polegadas de comprimento por 2 polegadas de largura, com 35 linhas de 5 caracteres cada.

Corte e maceraçāo do bambu num tanque - ilustraçāo do Tian Gong Kai Wu, de Song Yingxing,1637.

Molhando a polpa do bambu para obter uma folha de papel - ilustraçāo do Tian Gong Kai Wu.

Hoje, os seus exemplares encontram-se dispersos pelo templo Hohryu em Ohkurasho, o Museu Britânico e o Museu de Leipzig. O texto foi traduzido do hindu para o chinês por Fazang e Mi Tuoshan. Este saíu de Changan (então capital da Dinastia Tang), em 704. Assim, o livro deve ter sido introduzido no Japão mais tarde, na época do florescimento do budismo no país. O bonzo Kenai estudou na China durante dezanove anos. Em 736, regressou ao seu país com cinco mil rolos de sutras e numerosas imagens de budas. Em Nestorianismo na China - Estudo das lnscrições Lapidares, eruditos japoneses confessam: "Entre os séculos VII e XIII, as coisas de Changan eram quase todas imitadas em Kyoto (...). Deduz-se, pois, que o budismo, muito provavelmente, veio da China ".

Em 863, o príncipe japonês Shinnyo veio à China, onde permaneceu três anos. Acompanhado do monge Takaaki (um dos oito que visitaram a China na Dinastia Tang), regressou ao seu país com os 143 volumes de Jing Lun Cao Shu. Em Song Ri Xin Shu Xie Qing Lai Fa Men Deng Mo Lu estão referidos três livros chineses impressos, que são: Jia Chi Zun Sheng Bing Da Bei Zhen Yah Ji Da Fu Ding Zhen Yan, de 3 tomos, Tang Yun, de 5 volumes e Yu Bian, com 30 tomos.

Não restam dúvidas de que a arte tipográifica chinesa se introduziu no Japão, onde em 770 foi impresso o referido livro de práticas budistas. Deduz-se, assim, que a impressão manual chinesa foi inventada antes dessa data. Mais, antes da gravação de Jin Gang Jing, em 868, era já muito vulgar xilogravar textos, não só sutras como também obras literárias.

3. Wu Gou Jing Guang Da Tuo Luo Ni Jing, existente no Templo Fuguo, em Qingzhou, Coreia, impresso em 751, é a mesma sutra, impressa no Japão em 770.

A diferença de vinte anos explica-se pelo facto de o pagode de pedra em homenagem a Sakyamuni, em Qingzhou, ter sido concluído em 751. Pode afirmar-se que não parece admissível a sua impressão depois dessa data. Esta sutra é o mais antigo produto da impressão manual até hoje descoberto e conservado no Globo.

A sutra, em forma de rolo, de papel grosso feito de cascas de amoreira, tem o eixo de bambu com as extremidades pintadas. O corpo do texto tem 630 cms de comprimento por 6 cms de largura, e está gravado em 12 tiras de madeira, cada uma com cerca de 20 a 21 polegadas. Segundo alguns especialistas coreanos, trata-se na realidade do verdadeiro incunábulo. Qingzhou, situada no Sueste da Coreia, foi a capital de 668 a 935 AD.

A sutra pode ter sido impressa na Coreia, onde tinha sido introduzida a arte da impressão manual da China. Mais tarde, através de um destes dois países, chegou a Nara, onde foi reeditada.

Em Printing Preliminary Report on a New Discover, L. C. Coodrich, professor de Universidade de Colômbia e famoso especialista de História da Imprensa, afirma: "O rolo da sutra descoberto assume importante significado na História da Imprensa. Se a compararmos a um edifício, a nova descoberta é uma telha notável que se lhe acrescenta, sem lhe modificar o aspecto essencial. No meu entender, tudo isso evidencia que a China foi o primeiro país a ter a arte tipográfica, que depois se espalhou por todos os cantos da Terra, tendo sido o budismo o veículo fundamental da sua disseminação porque, nesse período, os bonzos viajavam por toda a parte. Parece-me absolutamente admissível que um ou mais monges, chineses ou coreanos, tivessem utilizado essa nova técnica no tempo do Reino de Xinluo (668-935) e que, anos depois, outros (chineses, coreanos ou japoneses) a tenham introduzido em Nara, no Japão. 0 que nos chama a atenção e nos espanta é que, embora muito cedo importada pela Coreia e pelo Japão, a arte tipográfica só se tivesse generalizado nesses povos três séculos mais tarde ".

É interessante referir que Qian Cunxun, professor e Director da Biblioteca do Extremo Oriente da Universidade de Chicago, foi quem primeiro deu a conhecer a descoberta do livro na Coreia a Hu Daojing, célebre erudito chinês que de imediato publicou na revista Floresta das Letras um artigo intitulado Descoberta do Impresso Mais Antigo do Mundo (1979). Depois dele, He Yuling verteu o relatório de L. C. Coodrich para chinês. Há ainda as notas explicativas que Hu Daojing fez à tradução, de acordo com elementos publicados no New York Times e no Boletim da Biblioteca da Colômbia, e com teses divulgadas na Coreia do Sul, de forma a tornar mais conhecida esss glória ds cultura chinesa.

Com base em todos os elementos anteriores, concluímos que a arte tipográfica chinesa nasceu, pelo menos, antes da década de 40 do Século VIII.

(Traduzido do chinês)

N. R.

Por razões de estilo, entalhe e gravação utilizam-se no texto como sinónimos do acto de insculpir os caracteres nos blocos de madeira. Nos primórdios da xilografia na China as placas eram de madeira de pereira ou, mais usualmente, de tamareira, porque mais prestáveis às incisões dos caracteres. O texto era primeiro escrito numa folha de papel translúcido (muito fino), que era de seguida colada na placa pelo anverso. Os caracteres eram então insculpidos em relevo, com uma faca. Para imprimir, dava-se uma passagem de tinta na placa, sendo depois aplicada sobre ela a folha branca do papel que era pincelada uniforme e cuidadosamente com um pincel muito volumoso.

**Ver Hufu, em "Entalhe de Carimbos - arte milenar chinesa", Yue Zhi Cheng, RC n." 5, pags. 81 e 82.

*Professor de História na Universidade das Nacionalidades de Yunnan. É especialista em estudos de História da Imprensa Chinesa, tendo já publicado vários livros sobre o tema.

desde a p. 19
até a p.