Pontos de Encontro

OITO ELEGIAS CHINESAS

Camilo Pessanha*

©Ilustracção de Carlos Marreiros

Satisfazendo uma antiga dívida para com o ilustre director d'"o Progresso", entrego hoje ao mesmo semanário umas poucas dúzias de pequenas composições chinesas com cuja decifração tenho entretido os ócios dos últimos seis anos de residência em Macau — os primeiros da velhice —, tirando desse esforço (em boa verdade se diga) horas de um tão suave prazer espiritual que dele o não esperava tamanho. Começarei por uma minúscula antologia de dezassete [ Sic ] elegias da dinastia Ming — elegias pelo acento de dorida melancolia que a todas domina, porquanto a forma, incisiva e curta, é a de verdadeiros epigramas —, selecionadas, de entre os inúmeros e vastos cancioneiros da referida época, por um dos mais delicados estetas do Império do Meio nos princípios do século XIX, para presente de despedida a um amigo íntimo que para longe se ausentava.

O compilador e copista dessas deliciosas obras-primas foi o ministro long-Fong-Kong, ique ao tempo (no reinado de Chia-King) exercia em Pequim os mais elevados cargos do estado, inclusive o de mentor do príncipe herdeiro. O destinatário da oferta era um pupilo do mesmo alto personagem, que naquela ocasião se iniciava na vida pública, partindo a exercer o modesto lugar de subprefeito em qualquer burgo sertanejo da nossa vizinha província de Kuang-Tung. Chamava-se entre os amigos Mi-Kan — a raiz. gostosa:ii da dedicatória não constam o seu apelido nem o seu nome próprio, —que era do estilo omitirem-se em tais frivolidades. Provavelmente veio a morrer logo ao começo da carreira, no seu remoto exílio, sem tornar a ver a corte nem as neves da aldeia natal; e assim se explica que, noventa anos volvidos (o caderno tem a data San-Mi,iii correspondente a 1811), essas poucas folhas, trazidas de tão longe como relíquia preciosa —adaptadas a álbum (com capa de rica madeira das Filipinas, em que havia esculpidos o nome e um breve elogio do Mestre), eencerrado tudo em um sólido estojo de tamarindo de dupla tampa — me fossem vendidas, pelo preço vil de duas patacas, em uma casa de prego (um hao"iv como por cá se diz), ali ao Tarrafeiro.

Na mesma dedicatória se declara que os versos são do tempo dos Mings. Nenhuma informação acerca do autor ou autores, senão que viveram nesse período (1368 a 1628). Sob a direcção de um letrado chinês, foi-me, entretanto, possível identificar cada uma das composições, e averiguar-lhe o autor, — o que, aliás, não é tarefa difícil por aí além. São onze, ao todo, os poetas, — os quais nomearei em notas, ao passo que for dando a tradução das poesias que pertencem a cada um. Estas, decerto intencionalmente escolhidas, são tão parecidas na métrica— de um andamento calmo e dolente—, tão orientadas por uma comum filosofia —ao mesmo tempo niilista e estóica —, tão homogéneas no vibrar de uma idêntica emoção— amorosa e grave —, tão uniformes na predilecção de imagens análogas e no vigoroso e rápido processo de as evocar, — que a sua leitura, no próprio original chinês, se acredita serem produção de um mesmo espírito e fragmentos de uma obra única sistematizada.

Traduzi literalmente, — tanto quanto a radical diferença entre o génio das duas línguas o permite. Esforcei-me por não suprimir nenhuma das ideias contidas no original, por adjectiva e acessória que fosse, — embora tendo por vezes de sacrificar a essa imposição de fidelidade os longes de ritmo e a relativa simetria de forma que eu desejaria dar à tradução de cada quadra chinesa, na impossibilidade de as traduzir em quadras de versos portugueses. Menos ainda acrescentei fosse o que fosse, no intuito de relevar pormenores, ou com a preocupação de falsos exotismos. Isolei a tradução de cada um dos versos, e dentro dela conservei, nos limites do possível, às ideias e símbolos a ordem original. Isto é, da poesia chinesa busquei trasladar com exactidão o que era trasladável — o elemento substantivo ou imaginativo; — porquanto o elemento sensorial ou musical, resultando de uma técnica métrica especialíssima (em que há sabiamente aproveitados recursos prosódicos de que as línguas europeias não dispõem), é absolutamente inconversível.

Finalmente nada confiando dos recursos próprios — imperfeitas noções de simples estudioso amador, adquiridas ao acaso das horas vagas —, submeti o trabalho à censura do meu velho amigo e querido mestre Sr. José Vicente Jorge, que tão distintamente dirige em Macau os Serviços do Expediente Sínico. O ilustre sinólogo não só me fez o favor de emendar em alguns pontos a tradução aproximando-a mais da intenção original, mas forneceu-me ainda, espontaneamente, grande cópia de notas elucidativas, — as mais valiosas de entre as que acompanham cada composição, e sem as quais, como o leitor verificará, por exacta que fosse a versão, a inteligência dos textos (mesmo sob o ponto de vista puramente estético), ficaria deficiente.

Uma das mais flagrantes características da poesia chinesa, e, sem dúvida, o mais difícil obstáculo à sua cabal exegese pelos ocidentais, está nesse gosto exagerado pela alusão histórica ou literária, que faz com que numerosas passagens, e, até, poemas inteiros, tenham duplo sentido, — um superficial e directo e o outro referido ou simbólico, erudito e profundo. Claro que, em tais condições, o tradutor que não esteja aparelhado com uma vasta cultura sinológica, navega em permanente risco de sossobrar de encontro a invisíveis, traiçoeiros cachopos. Acresce, a complicar os azares que são efeito desta duplicidade, a própria imprecisão de linguagem, que no chinês literário é qualidade fundamental, chegando as palavras a não ter significado próprio — tão divergentes e, até, opostas são às acepções de cada uma, — e sendo, por seu lado, a frase (conhecida mesmo a ideia certa representada por cada vocábulo) susceptível, por falta de leis sintácticas que presidam à sua estrutura, das interpretações mais contraditórias; de maneira que, frequentemente, o valor de cada um desses componentes do discurso tem de procurar-se por tentativas, e só pode ser definitivamente aceite depois de encontrado o pensamento geral, se, cotejado com este, não resultar absurdo. E, para mais, esta imprecisão é na dicção poética agravada pela concisão epigráfica — ou, se o leitor assim quiser, telegráfica — da mesma dicção, em que a melhor elegância manda suprimir quase completamente as palavras designativas das relações lógicas, imprimindo assim mais vivamente, é certo, na imaginação de quem lê (e essa intensidade de sugestão é um dos intraduzíveis encantos da poesia chinesa) —mas desacompanhadas da menor indicação de mútua dependência, — as ideias concretas adoptadas pelo autor como símbolos poéticos.

Todas estas obscuridades e ambiguidades levam o eminente professor da Universidade de Cambridge H. Giles, antigo cônsul em Ningpo e autor de um conhecidíssimo dicionário monumental, a dizer (Chinese Literature, p. 144) que toda a composição poética chinesa é para o tradutor uma noz de casca dura: "A Chinese poem is at besta hard nut to crack". Fica, pois, o leitor fazendo ideia de quão precioso me tenha sido, — nesses inexplorados e difamados mares em que se a'èenturou a minha temerária e mal precavida curiosidade, da erudição e da sentimentalidade chinesas, — o oportuno socorro de experimentado e dedicado piloto que a fortuna me deparou.

Ainda o meu excelente amigo quis ter a benevolência de substituir, em todo esse meu" inábil lavor, a ortografia das palavras chinesas romanizadas (isto é, escritas foneticamente em caracteres latinos) — as quais no manuscrito original estavam conformes à pronúncia cantonense —, trasladando-as para pequinense — a língua mandarínica —, em que são geralmente conhecidas pelos europeus. Dessa diferença resulta que, mantendo-se-lhes a forma primitiva, por mim adoptada para exclusivo uso próprio (pois nunca pensara em dar à publicidade, pelo menos tão cedo, estes ensaios), palavras que o leitor porventura esteja acostumado a ver (e algumas de certo, especialmente entre os nomes corográficos, lhe não serão estranhas) ser-lhe-iam irreconhecíveis.

Suum cuique. Se esta modesta tentativa, fútil passatempo das horas tristes em longos anos de solidão, merecer no leitor algum momentâneo interesse, será este devido, mais do que ao nenhum saber e aos hipotéticos dotes literários do autor e signatário, à superior competência do profissional que no seu arranjo definitivo colaborou, — oficiosamente em parte, e com dobrado jus, portanto, ao agradecimento de todos.

    ELEGIAS CHINESAS
    A Carlos Amaro 

    ASCENÇÃO AO MIRADOIRO DO KIANG 1v

    Este altíssimo torreão abandonado foi outrora
                                                 [ célebre.]
    Aqui plantou seus estandartes, ornados de
             [ dragões, o fundador da dinastia Han.2vi ]
    Defendia-o, como inultrapassável fosso, a virtude
        [ do rei... Eram supérfluos os circundantes canais.]
    Faziam-lhe guarda as próprias tribos bárbaras.3vii
                       [ De que serviriam muralhas de pedra? ]

    Hoje, como então, a montanha esplende de régia
                                                 [ majestade.]
    Rolam do Kiang as águas; e céu e terra
                          [ confundem as suas vozes outonais.]
    Da comoção que sente, assomando no alto, 
                              [ quem poderia ordenar o poema?]
    Pavilhão novo, pavilhão novo! — de pungentes
                          [ máguas milenárias...4viii]

    登閱江樓

    絕頂樓荒舊有名  高皇曾此駐龍旌
    險存道德虛天塹  守在蠻夷豈石城
    山色古今餘王氣  江流天地變秋聲
    登臨授簡誰能賦  千支新亭一傖情

    À NOITE, NO PEGO-DRAGÃO 5ix

    De onde vem este perfume de flores, 
                 [ embalsamando a noite puríssima?]
    Entre bouças e fragas, uma cabana de ola, perto
                      [ da qual um arroio murmura...]
    Como de costume, o eremita parte ao surgir a lua. 
    Em um covão do monte, um pássaro, poisado, 
                        [ ininterruptamente gorgeia.]
    Não lhe importa que as ervas, impregnadas do
               [orvalho, lhe encharquem as alparcatas de junça.]
    As suas vestes de ligeiro cânhamo,6x soergue-as, 
                               [enviezando, a brisa primaveril...]
    À borda da torrente, intento fazer versos ao viço
                                         [das orquídeas.7xi]
    Embargam-mo as saudades, violentas
    [empolgando-me, do Kiang-Peie do Kiang-Nan. 8xii]

    龍潭夜坐

    何處花香入夜清  石林茅屋隔溪聲
    幽人月出每孤往  樓鳥山窍暁一鳴
    草露不辭芒屨濕  春風偏興葛衣輕
    臨流欲寫猗蘭意  江北江南無限情

    SOBRE O TERRAÇO 9xiii
    (A Venceslau de Morais)

    Os antigos mortos, invisivelmente
    Vêm ainda ao seu terraço antigo...10xiv
    Já sopra da nona lua o vento lamentoso. 
    De os três rios11xv devem estar a chegar os
                           [gansos de arribação.xvi]
    Cobrem nuvens a vastidão dos dois Kuangs. 12
    Declina, pálido, o sol, sobre P'ang-lai. 13xvii
    Desterrado da pátria e sem notícias dela, 
    Para essas bandas volvo de contínuo os olhos. 

    登臺

    古人不可見  還上古時臺
    夷月悲風發  三江倘雁來
    浮雲通百粵  寒日隱蓬萊
    逐客音書斷  憑高首重回

    EM U-CH'ANG14xviii

    Em Hsian-Hsiang15é já quase outono, 
    Embora não caia ainda a folha nos jardins do
                             [Tung-ting. 16]
    É noite, e da minha mansarda oiço chover, 
    — Sozinho, na cidade de U-Ch'ang. 17
    E lembram-me a amoreira e a catalpa da casa
                                      [paterna.18]
    Ao sentir perto às águas do Kiang e do Han... 19
    Vá entender alguém a grulhada dos gansos, 
    — O festivo alvoroço com que emigram!20

    在武昌作

    洞庭葉未下  瀟湘秋欲生
    高齊今夜雨  獨臥武昌城
    重以桑樟念  淒其江漢情
    不知天外雁  何事樂長征

    EVOCAÇÕES DO PASSADO
    A A. P. de Miranda Guedes 

    Eis-me o forasteiro de Ing... 21xix Mas baldada
                                                   [romagem!]
    Emudeceram de Ing os afamados cânticos. 
    É alto o pavilhão para onde as beldades22 se
                                                 [retiraram.]
    A música da Torrente23xx é a que ora modulam... 
    Os túmulos das princesas24 para que lado ficam? 
    Sobre Hsian-Hsiang25 pairam nuvens negras. 
    Deste abandono, —só eu penetro bem a essência, 
    Do Kiang à borda, desgarrado e triste. 

    古意

    空為郢中客  不見郢中吟
    美人高堂上  自奏山水音
    帝子葬何處  瀟湘雲正深
    寂寥誰共賞  江上獨傷心
    FANTASIA DA PRIMAVERA 

    Cai o sol, no imenso horizonte, em flor, do Kiang. 
    Pára o viandante a olhar. A chuva, que do arvoredo
     [ ainda goteja, vai-lhe repassando a túnica...26]
    Oh! se dos mil chorões, à volta das ruínas do
                     [ palácio real de Ch'u,27]
    As flores soltas me fizessem cortejo, à
                     [ despedida, no regresso à pátria!]

    春思

    渺渺春江空落暉
    行人相顧欲沾衣
    楚王宫外千條柳
    不遺飛花送客歸

    SOLEDADE28xxi
    (A Albino Forjaz de Sampaio)

    Deleita-me a solidão desta choupana... 
    Mas doi-me ao recordar vozes amigas. 
    Sim, geme o verdelhão,29xxii—mas em país de exílio.30
    Conturba-me a cor da relva o coração, que remoça. 

    Desce o sol, em um poente de cirros amarelos. 
    Passam nuvens sobre o mar, —que é mais ferrete. 
    Segunda lua...31 E, na algaravia dos grasnidos, 
    Oiço gansos32 darem o alarme p'ra o regresso. 
    幽寂

    幽寂耿蓬户  凄涼懷舊吟
    鶯啼非故國  草色亂春心
    落日黃雲暮  隂風碧海紳
    嗷嗷北來雁  二月有歸音

    QUEIXUMES DAS ESPOSAS 
    DO "HSIANG"33xxiii

    Ilhéus do Norte do Hsiang,34xxiv onde as
                              [orquídeas35 se ceifam!]
    Plainos do sul do Lai, 36xxv onde se talham as
                           [essências de preço!37]
    As águas, puras, têm cromatismos de ágata;38
    Subtil, a brisa vibrações de jade.39
    Sobe a névoa, entre as sombras do Tsang-u. 40xxvi
    Baixa o sol entre as brumas do Tung-ting... 41
    As penas dos bambus, quem é que as sabe? 
    Mas bem se lhes vêem os sinais das lágrimas.42

    湘妃怨

    采蘭湘北沚  寒木澧南潯
    洽水含玩彩  微風托玉音
    雲起蒼梧夕  日落洞庭隂
    不知篁竹苦  惟見淚痕深
Ex-líbris de Camilo Pessanha.
© Ilustrçõ de Carlos Marreiros

GLOSSÁRIO Chia-King, Jiaqing =嘉慶Kuang-Hsi, Guangxi =廣西 Kuang-Tung, Guangdong =廣東Ming =明Ningpo, Ningbo =寧波Yangtze, Iansequião =揚子东

NOTAS

. O autor desta poesia e da seguinte é Uang-Shau-Jen (王守仁) —1472 a 1528—, também conhecido por Uang-Po-an (王伯安) e por Uang-lang-Ming (文成), e cognominado Uan-Cheng (王陽明). Notável estadista, general, filósofo e poeta nos reinados de Hung-Chih (弘治 ), Cheng-Te (正德 ) e Chia-Ching (嘉靖). GILES, Biog. Dicc., p.839.

. 高, o imperador Kau. Muitos são os imperadores que tiveram o cognome póstumo Kau (alto). O poeta refere-se a Kau-Ti (高帝)ou Kau-Tsu (高祖), fundador da primeira dinastia Han (前漢) —206 a. C. a 25 d. C.

. Lit.: "Era entre os próprios bárbaros Man (蠻) e I (夷) — isto é, contendo-os em respeito pelo prestígio exercido sobre eles — que (o monarca) velava (pela integridade do solo nacional)". Desde remotíssimos tempos que essas tribos inquietavam a China com as suas revoltas e incursões.

. 新亭, Sin-T'ing (o Pavilhão Novo), em Kiang-Nan (江南), à margem do Yang-tse-kiang. No tempo da dinastia Chin (晉 ) — 265-420 —, alguns letrados eminentes e ardentes patriotas costumavam ali reunir-se para chorar em comum as desditas da pátria. P'ai-uên-iün-fu ( 佩文韻府), vol. 24, rima(青). Esse pavilhão, pois, contra o que o seu nome indicava, era já antiquíssimo quando o autor da poesia o visitou.

. Não nos foi possível identificar o local aqui designado pelo nome de Lung-t'an (龍潭). O dicionário de Giles dá notícia de uma cachoeira chamada Hei-lung-t'an (黑龍潭) —o Salto do dragão negro— nos arredores de Pequim. Temos também ouvido que há outro Lung-t'an em An-Hui (安徽), perto do Yang-tse-kiang. Mais provável nos parece, porém, que se trate de algum rápido do rio U-Kiang (鳥江), ou de qualquer pequeno afluente do mesmo, em Kuei-Chou (貴州), onde o poeta esteve desterrado. De resto, é de supor que no imenso e inextrincável labirinto de cursos de água que recobre a China, muitos sítios devam existir com esse nome, tão afeiçoado ao gosto chinês.

. 葛 é uma das numerosas plantas têxteis cultivadas na China—o pachynius angulatus segundo J. M. A. daSilva, e a pueraria phaseoloides ou a pueraria thumbergiana, segundo os mais modernos lexicografos. Os portugueses, no Extremo Oriente, dão o nome de nuno, indistintamente, a todos os tecidos fabricados com a fibra de qualquer planta indígena.

. 猗蘭 (a orquídea odorante) é o título de uma ode de Confúcio. Celebra a inalterável beleza da vida espiritual do homem superior, no meio dos infortúnios próprios e da imoralidade ambiente. O leitor pode encontrá-la traduzida na obra do Dr. Legge, Chinese Classics, vol. 1, p. 77. Uang-Shau-Jen — como, aliás, quase todas as figuras dominantes da história política chinesa de todos os tempos -, teve carreira acidentada, havendo sofrido, uma vez pelo menos, a degradação e o exílio (v. biog. em Giles). A presente poesia deve ter sido composta em uma dessas intercadências de desgraça.

. Kiang-Pei (江北 ) e Kiang-Nan (江南), —as actuais províncias de Kiang-Su (江蘇) e Chék-Kiang (浙江), na foz do rio Yang-tse-kiang. As orquídeas dessa região sãȯ famosas pela sua floração opulenta. O Poeta era nativo de lü-Iau (餘姚) na província de Chék-Kiang. Ao pressentir, pelo aroma, a presença da flor que para Confúcio simbolisava a serena altivez das almas puras, procura retemperar no exemplo do mestre a sua precaria energia moral. Sucumbe, porém, na luta, assaltado de improviso pela nostalgia da pátria distante, que o mesmo aroma vem exarcerbar.

. Autor, Uang-T'ing-Hsiang (王廷相), também conhecido por Uang-Tse-Heng ( 王子衡 ). Alcançou o grau de Chin-shih (進士) no reinado de Hung-Chih (弘治) —1487 a 1505. Foi presidente do ministério de guerra e mentor do herdeiro presumptivo do trono. U-ch'ao-pieh-ts'ai-shih-chi (五朝别裁詩集 ), din. 明, fasc. 5. ō.

. 臺— o terraço: — ab. de 越王臺 — terraço do rei do lüeh—, denominação erudita do Pagode dos cinco andares (五層樓), em Cantão, sobre a muralha de N. Durante a ocupação europeia, de 1857 a 1861, serviu de quartel às forças aliadas. Foi construído em 1368, no remado de Tai-Tsu 太祖, 1ō imperador da dinastia Ming. É tradição ter existido no mesmo local uma torre levantada por Uei-T'o (尉佗), rei do Iüeh meridional (南越) e fundador da cidade, no começo dos Hans (último século a. C.).

. 三江—os Três rios. Assim se designam o Yang-tse-kiang (rio Azul dos europeus) e dois afluentes deste, no antigo reino de Yang (掦). Para o poeta, que se encontrava em Kuang-Tung, simbolisavam o Norte, de onde ele procedia, — pois era natural de Chün-Ch'uan(浚川), em Shan-Hsi (山西), a província mais setentrional do império.

12. 粵—forma de 越. Emprega-se mais para significar oKuang-Tung e o Kuang-Hsi actuais, ao passo que 越 designa de ordinário os antigos principados. V. n. 10. 百粵—as cem divisões do Iüeh—, toda a extensão dos Kuangs.

. P'ang-lai-hsien-kwan 蓬萊仙觀 —o mosteiro tauista de P'ang-lai — em Huang-Sha (黃沙), a O. de Cantão, do outro lado do rio. P'ang-lai (蓬萊 )— as sarças revoltas — é uma das três ilhas mitológicas, onduladas de colinas e umbrosas de bosques, habitadas pelos Imortais (COUVREUR, Dicc.; PETILON, Alusions Litteraires, etc.). Uma tradição popular e regional localiza esse Eden tauista em Kuang-Tung, no sítio onde hoje existe o pagode de Huang-Sha, explicando que as colmas aluíram e que a região esteve durante, um largo períodosubmergida. É por isso que Gonçalves (Dic.) traduz 蓬莱— o Mar Morto P'ang-lai.

. É autor desta poesia, e das duas seguintes, Hsü-Chên-Ch 'ing (徐禎鄉), também conhecido por Ch'ang-Ku (昌榖), contemporâneo do antecedente. Foi professor da Academia Imperial (國子監博士 ). U-ch'ao-pieh-ts'ai-shih-chi 五朝别裁詩集, din. 明, fasc.6ō.

15. A região de Hu-Nan ( 湖南), Hsiao (瀟), ou Hsiao-kiang (瀟江), —um dos braços do rio Hsiang-kiang (湘江), que banha essa região. O Hsiang-kiang atravessa a província de Sul a Norte e desagua no lago Tung-ting (洞庭).

16. Tung-ting (洞庭), o maior e mais pitoresco dos lagos da China, ao Norte de Hu-Nan, comunicando com o Yang-tse-kiang. É também conhecido pela designação poética de Ün-mang (雲夢) —" imensidão das águas sob a céu nublado".

17. U-Ch'ang (武昌府), capital da província de Hu-Pei (湖北), e do vice-reino dos dois Hus (兩湖) na margem do Yang-tse-kiang não longe do lago Tung-ting. Separada de Hankan pelo rio, forma, todavia, uma única cidade com esse importantíssimo porto, aberto desde 1861 ao comércio europeu.

18. Estas duas árvores simbolizam para os chineses aterra natal, por ser costume haver plantado um exemplar de cada espécie junto de cada casa nística de habitação.

19. 江 (Kiang) — o rio (por antonomásia) — é o Yang-tse-kiang, ou rio Azul. O Han (漢江ou漢水) atravessa o Hu-Pei de Norte a Sul; e as suas águas, reunindo-se ao do Kiang junto de U-Ch'ang, vão banhar, cento e noventa léguas a L., ao lançar-se no mar, a terra do poeta, U-Hsien (呉縣), em Kiang-Su (江蘇).

20. Com razão aproximou o compilador esta poesia da que imediatamente a precede. São dois quadrinhos do Outono que fazem pendant um ao outro, rigorosamente iguais nas dimensões e na técnica, e com íntima correlação entre os episódios que lhes servem de assunto. O primeiro poderia intitular-se:"À espera dos gansos do rio Azul". E o segundo:"No rio Azul. A partida dos gansos".

. Ing (郢) — antigo nome de U-Ch'ang. V. n. 17. Capital do reino de Ch'u (楚) e florescente centro intelectual do povo chinês, nos séculos VIII a IV a. C. Alude-se aqui a uma velha alegoria—O forasteiro de Ing (郢客) —atribuída a Sung-Iü (宋玉), notável estadista e poeta do referido reino de Ch'u. Por ela se diz que o autor pretendera explicar perante o rei Hsiang (襄), cognome póstumo), seu senhor e amo, o seu desdém pelos aplausos e a sua indiferença pelas malsinações do vulgo. É, como se segue, extraída do livro Uan-hsuan (文選), vol. II, p. 25:" Atraído pela fama da brilhante cultura artística da cidade de Ing, viera ali um músico de fora, desejoso de se educar, e fortalecer o gosto no convívio dessa população requintadamente civilizada. Como em Ing "houvesse um lugar—anfiteatro ou coisa parecida—especialmente destinado a concertos, orfeões e certames musicais, obrigado rendez-vous de todos aqueles a quem a arte musical interessava, — o recém-vindo, apenas instalado, naturalmente para lá se dirigiu, ancioso de comungar nessa intensa vida espiritual. Precisamente, a ocasião não podia ser mais propícia para a sua iniciação: realizava-se naquele momento um concurso especial, para estimular os principiantes e despertar as vocações solapadas, aberto a quantos se propusessem submeter ao público veridictum as suas prendas e os seus talentos. Inscreveu-se, pois: mas, ou por sincera timidez ou pelo receio de que o acoimassem de pechoso, escolheu para sua primeira prova uma banal composição de baixa escola. Ora aconteceu que ao contrário do que seria de esperar, essa modestíssima estreia teve as honras de verdadeiro triunfo: nos coros, milhares de vozes se levantaram a reforçar a sua voz; e terminada que foi a última copla, reboou, de toda aquela selecta e numerosa assistência, uma aclamação formidável.

A tão generoso e animador acolhimento entendeu o festejado dever corresponder com um trecho de melhor estilo. Como era de prever, foi mais restricto o número dos que se julgaram habilitados a encorporar-se nos coros, —alguns centos apenas; a ovação final não foi, porém, menos geral nem menos calorosa.

Decidiu, portanto, aproveitar essa manifesta boa disposição do auditório para uma experiência decisiva, atacando, imediatamente a seguir, o hino Ao sol primaveril, deslumbrantes as neves (陽春白雪 ), sublime como inspiração e modelar como técnica, reputado nesses remotíssimos tempos a pedra de toque do real valor dos cantores consumados. Ao concluir, o entusiasmo colectivo tinha arrefecido bastante; todavia, algumas dezenas de vozes lhe responderam ainda.

Finalmente, arrastado por um irreprimível impulso de sua paixão pela arte, o peregrino bardo entoou, acompanhando-se do alaúde, uma canção inominada e formosíssima, em cujos acordes a sua alma, enlevada, ascendia aos mais altos e luminosos páramos de idealidade; obra de uma larga concepção harmónica de conjunto, repassada toda ela de divina emoção e realizando, por meio de complexos e inéditos processos, efeitos da mais transcendente e imprevista beleza. Oh, decepção! A meio do seu encantamento, verificou que o recinto quase se encontrava deserto: apenas uns três ou quatro fanáticos da mesma religião do belo (melómanos se lhes chamaria hoje) o rodeavam, enternecidos e extáticos."

Do conto, e fora da intenção que nele punha o pouco popular ministro Sung-lü, uma ilação se pode tirar, porventura utilizável em algum futuro trabalho sobre civilizações comparadas: que no país de Ch 'u, há dois mil e quatrocentos anos, ainda não havia snobs.

22. 美人— na linguagem corrente, beldade perfeita. Do mesmo modo, em pintura, 美人畫, — tipos de beleza feminina—, um dos ramos em que se subdivide o género 人物畫, — que se ocupa da figura humana. Em algumas passagens de autores clássicos encontra-se também significando homens de valor excepcional.

. 山水音— não em verdade uma única peça musical — A torrente do monte—, mas duas distintascomposições — Omonte e A torrente. Executadas pelo seu autor — Po-la (伯牙), espécie de Orfeu das lendas chinesas —, tinham o poder de evocar, a primeira a visão do monte Tai-shan (太山), e a segunda, a de una torrente precipitando-se.

24子— filho ou filha 帝子, — as princesas, epor antonomásia, as duas princesas O-Uang ( 娥皇 ) e Nü-lng (女英), filhas de lau (堯), e mulheres de Shun (舜), a cujo destino melancólico mais de espaço nos referiremos em outro lugar. Na ode A segunda esposa de Hsiang (湘夫人篇), uma das nove de Ch'ü-Tzü (屈子 ) recolhidas no vol. VIII da obra Uan-hsuan (文選), encontra-se o verso seguinte: 帝子降兮北渚 — vieram as pricesas (lit., baixaram do céu, os seus espíritos) a habitar os ilhéus do Norte. Uang-I (王逸), anotando-a escreve: 帝子 — as filhas do imperador lau, dadas em casamento ao imperador Shun. Morreram à beira do Hsiang, de cujas águas se tornaram as fadas.

25. V. n. 15.

26. A locução 霑衣 emprega-se geralmente conjugada com a palavra 淚, expressa ou subentendida, significando regar de pranto o vestido. Em uma poesia da dinastia Tang 唐há este verso: 霑衣欲濕杏花雨 — as gotas de chuva, desprendendo-se das flores de amendoeira, em breve lhe terão alagado as vestes.

27. V. n. 21. O principado, ou reino feudatário, de Ch'u ocupava o Hu-Kuang (湖廣) —ou os dois Hus(雨湖) —e parte do Ngan-Hui (安徽) e do Ho-Nan (河南) actuais. Os chorões abundam na China central, onde atingem enorme desenvolvimento, como se pode ver de um lindíssimo exemplar cuja fotografia vem reproduzida no livro A Naturalist in Western China, de E. Wilson. São por isso, às vezes em extensas alamedas, elemento quase obrigatório na pintura das paisagens do Yang-tse-kiang.

. Autor Pien-Kung (邊頁), também conhecido por Ting-Shih (廷實). Contemporâneo dos ascendentes. Foi presidente do ministério da fazenda. U-ch'ao-pieh-ts 'ai-shih-chi (五朝另裁詩集 ), din. 明, fas. 5°.

. 鶑 — o oriolus sinensis.

30. 故國 — antigo reino —, por故鄉 — o país natal. Locução arcaica, mantida em uso na linguagem literária, depois da unificação da China, como uma sobrevivência da época feudal.

31. O ano chinês é o ano lunar, de doze meses, ou luas completas, mas o seu começo é determinado pela situação do sol no zodíaco, de modo que as mesmas luas caiam sempre nas mesmas estações.

Para se obter esse resultado, faz-se a compensação (a diferença entre os anos lunares e solares, pelo adicionamento, em cada cinco anos, de dois meses 閏月, ou luas intercalares), em dois diferentes anos embolísmicos (閏年 ), ou cada um de treze luas.

O primeiro dia do ano é o da lua nova seguinte à entrada do sol em Aquarius (em 鼠, ou o rato, segundo a cosmografia chinesa), — nunca, portanto, anterior a 21 de Janeiro nem ulterior a 19 de Fevereiro.

A segunda lua, correspondendo, em média aproximada, ao mês de Março, é a segunda do ano e da Primavera. A nova, correspondendo a Outubro, é a última do Outono.

32. Os gansos bravos (anser segetum), que vêm hibernar aos rios do sul, na zona tropical. O seu vôo característico, em longas filas a um de fundo, coincidindo essas deslocações com o outono e a primavera — as estações mais dilectas, a primeira sobretudo, à imaginação dos artistas chineses e japoneses — tem sido inesgotável fonte de inspiração para a poesia e a pintura do Extremo Oriente.

. É autor desta elegia, e das trêsseguintes, Li-Mang-lang (李夢陽), também conhecido por Tien-Tzü ( 天賜). Contemporâneo dos antecedentes. Foi segundo secretário do ministério da fazenda. U-ch'ao-pieh-ts'ai-shih-chi (五朝别裁詩集), din. 明, fas. 5°.

. V. n. 15.

35. 蘭, ou 蘭花, é uma orquídea — o symbidiun ensifolium (WILSON, A Naturalist in Western China, vol. II, p. 34), — tida em alto apreço na China, e cultivada principalmente nas margens do rio Azul e dos lagos próximos (v. n. 8). A esbelteza frágil do porte e a leveza, hierática e discreta, das flores singelas, como talas de veludo de cor sombria, e um aroma ao mesmo tempo suave e fresco, esquisito e penetrante, fizeram dessa modesta planta o símbolo das virtudes mais enaltecidas na moral chinesa (v. n. 7 e 8).

. 澧— o rio Lai, em Hu-Nan, afluente do lago Tung-ting.

37. As riquezas florestais do baixo e médio Yang-tse-kiang- acham-se completamente esgotadas. Nas montanhas de O. ainda são relativamente abundantes algumas espécies preciosas, entre as quais diversas variedades de tuias (柏), de abetos (杉), a cânfora (豫章), a 楠木 —persea nan-mu (BRETSOP NEIDER, Botanicon Sinicum)—, etc. Essas madeiras têm na estética chinesa representação incomparavelmente mais honrosa do que quaisquer suas análogas na estética europeia. O luxo arquitectónico dos templos e dos palácios chineses reside quase exclusivamente nos majestosos pilares, de massiço e intrincado travejamento, que suportam o tecto, e nas divisórias e guarnições interiores, — oque, tudo, costuma ser de madeira fina.

38. 謠— jaspe verde (GILES). É de valor um poucoinferior ao do jade, de que tem a aparência.

39. 玉 jade, do espanhol piedra de hijada — a que, com igual impropriedade, uns chamam jaspe e outros ágata — é uma pedra dura — silicato de alumínio e de cal— muito estimada dos chineses, que dela fazem larguíssimo emprego, em jóias, insígnias, ornatos de luxo. É a rainha das pedras duras, como a orquídea o é das flores, simbolizando ambas as mesmas virtudes. Confúcio exalta-a e explica-lhe o simbolismo. A sua cor varia, em uma gradação de tons que vai do branco de pérola até ao verde azeitona escuro. Excepcionalmente, devido à presença acidental de outras substâncias corantes, como o óxido de cromo, apresenta manchas vermelhas, amarelas, cor de pinhão ou pretas. É untuosa e mais ou menos translúcida — às vezes quase transparente, outras quase opaca. Por mais polida que seja, o seu brilho é sempre atenuado, dando-lhe às superfícies uma aparência lardacea. O débil som que desfere quando percutida, é nítido, límpido e inalterável. Esta qualidade sonora era outrora aproveitada na confecção de certo instrumento padrão, espécie de marimba formada por uma série de lâminas de jade, — cada uma das quais ficava sendo, para sempre, seguro diapasão de nota que era destinada a produzir. As notas desse instrumento seriam a música ideal do filósofo.

. V. n. 44.

41. V. n.16.

42. lan (堯) Shun (舜) e Ü (禹), — os três grandes reis da época proto-histórica, cujos reinados — 2357 a 2198 a. C. — constituem a idade de oiro do regime patriarcal constantemente invocada pelos escritores chineses. Como o filho de lan fosse inábil para reinar, este deserdou-o, fazendo eleger seu sucessor a Shun a quem deu em casamento as suas duas filhas O- Uang e Nü-Ing (v. n. 24). Também os filhos destas se mostraram incapazes, e, por isso, Shun, tendo-se associado Ü no governo, lhe transmitiu depois o trono por morte. Shun veio morrer a Tsang-U (蒼悟 ), distrito de Ning-Üian (寧遠縣), prefeitura de lun-Chou (永明), província de Hu-Nan (湖南 ), em uma viagem de inspecção ao reino, na qual as duas pricesas consortes o acompanhavam. Estas não mais quiseram abandonar a região de Hu-Nan, na placidez de cujas extensas águas límpidas de rios e lagos encontravam o único possível lenitivo à surda e desolada tristeza dos seus destinos frustrados. Cresce nas margens do Hsiang uma variedade de bambus (斑竹 ou淚竹), cujas folhas são pintalgadas de pequenas manchas pálidas. A lenda diz que ficaram assim de as duas viúvas as terem regado de pranto (GONÇALVES, Arts, p. 377; WIGER, Textes Historiques, p. 46; Kang Chien, 網鑑, vol. l., etc.). O poeta afasta-se dessa tradição, fazendo-as compararem o suposto choro incompreendido dos bambus às suas próprias lágrimas silenciosas.

NOTAS ADICIONAIS

iJin Guo Ping

. long-Fong-Kong (Weng Fang Gan 翁方網), n. em1733 e m. em 1818. Natural do distrito de Daxing(大興) em Pequim. Também é conhecido por Zheng San (正三) e cognominado por Fu Xi (單溪).

ii. Mi-Kan corresponde aos seguintes ideogramas: 密根.

iii. San-Mi (Xingji 辛已) corresponde, no ciclo sexagesimal, ao ano de 1881.

iv. Hao (hao 號) na linguagem vulgar quer dizer "casa de penhores".

1v. Kiang (Jiang 江) aqui se refere ao rio Yangtze que é o maior curso fluvial da China.

2vi. Não se sabe ao certo a data de nascimento do Imperador Kau-Ti (Gao Di 高帝). Uns historiadores estão de acordo com o ano de 247 a. C. e outros inclinam-se para o ano de 256 a. C. O fundador da primeira dinastia Han (206 a. C. a 25 d. C.) faleceu em 195 a. C., cujo reinado durou de 206 a. C. a 194 a. C.

3vii. Os bárbaros Man (Man 蠻) e I (Yi 夷 ) eram tribos fronteiriças da China. O primeiro é a designação dada, na antiga China, aos povos indígenas do Sul e o segundo, aos habitantes do Leste do país. É, no verso, um nome genérico para todas as tribos indígenas da China.

4viii. O Pavilhão Novo fica a sul do distrito de Jiangning(江寧). Também é conhecido com o nome de Laolaoting (勞勞亭).

5ix. Lung-t'an (Longtang 龍潭) que quer dizer "Tanque Profundo do Dragão", é um nome muito comum na toponímia chinesa. O pego em questão encontra-se a norte do distrito de Jurong (句容) da província de Jiangsu (江蘇), mesmo à margem do rio Yangtze.

6x. A maioria das enciclopédias chinesas regista o termo com o nome latino pueraria thumbergiana. Serve-se das raízes desta planta para fabricar um amido comestível, que se chama Kót fân (Gegeng 葛紛) em Macau, e com as suas fibras tece-se um tecido chamado pano de nuno ( 葛布 ), especialmente destinado à confecção de roupas brancas de Verão por ser muito fresquinho.

7xi. O título da ode de autoria de Confúcio é Yilangchao (猗蘭操). Yilang é uma espécie de orquídeas e chao quer dizer poema melancólico. Na vida, Confúcio considerava-se um intelectual frustrado. Certo dia, num vale, encontrou umas orquídeas exalando um forte aroma, de modo que ele passou a se comparar com uma orquídea fragrante pouco conhecida e improvisou uns versos num tom melancólico que se tornaram num novo género literário, conhecido mais tarde com a designação de Yilangchao.

8xii. Kiang-Pei (Jiangbei 江北) e Kiang-Nan (Jiangnan 江南 ) significam literalmente o norte e o sul do rio Yangtze, zona que se estende em ambas as margens do referido curso fluvial que corre no sentido oeste-este.

9xiii. Uang-T'ing-Hsiang (Wang Ting Xiang 王廷相) n. em 1474 e m. em 1544. Natural de Yifeng (儀封 ), actual distrito de Lankao (蘭考) da província de Henan (河南). Foi também conhecido com o nome de Zi Neng (子衡) e cognominado Ling Chuan (凌川).

10xiv. O Terraço do Rei Yue encontrava-se sobre a colina Yuexiu (越秀山 ), vulgarmente chamada a Colina da Deusa da Misericórdia (觀音山), sita na parte setentrional da cidade de Cantão. O miradouro foi mandado construir por Zhao Tuo (趙佗), rei do Reino Yue Meridional, reconhecido pelo Imperador Gao Zhu da dinastia Han.

11xv. Após a consulta de vários dicionários que estão ao nosso alcance, ousamos afirmar que os três rios não são o rio Yangtze e os seus dois afluentes. É antes uma designação genérica para toda a rede fluvial do Centro e do Norte da China donde vêm os gansos bravos.

xvi. O ganso bravo (anser albifrons, Yang 雁) é uma ave de arribação que pertence Faos anserinae. Ele é, na literatura chinesa, a imagem do mensageiro.

13xvii. P'ang-lai (Penglai 蓬萊) é uma erva muito comum na China, cujo nome latino é evigeronacer. O mosteiro tauista encontrava-se a sudoeste da cidade de Cantão.

14xviii. Hsu-Chên-Ch'ing (Xu Zheng Qing 余幀卿) n. em 1479 e m. em 1511. Natural do distrito de Wu (呉). Também é conhecido por Chang Gu (昌榖) e Chang Guo (昌國).

21xix. lng (Ying 郢 ), antiga capital do Reino Chu (楚國), que foi anexado em 225 a. C. pela dinastia Qin (秦) que durou oficialmente desde 221 a. C. até ao 206. a. C., encontrava-se em Jiwangcheng (紀王城), a noroeste do actual distrito de Jiangling (江陵) da província de Hubei (湖北). Era conhecida como uma terra de canções.

23xx. A peça musical "A torrente do Monte" (Shanshuiyin 山水音) aqui no verso significa música clássica erudita.

28xxi. Pien-Kung (Biang Gong 邊貢) n. em 1476 e m. em 1532. Natural de Licheng (歷城) da actual província de Shangdong (山東).

29xxii. Ying (鶑, oriolo) encontra-se mencionado na Enciclopédia da Língua Chinesa sob a forma latina de cettia cantans.

33xxiii. Li-Mang-Iang (Li Meng Yang 李夢陽) n. em 1473 e m. em 1530. Natural de Qingiang (慶陽) da actual província de Gangsu (甘肅).

34xxiv. Zhi (沚, banco de areia) é mais um ilhéu do que um banco de areia pro- priamente dito.

36xxv. Este rio com os seus três afluentes que desaguam no lago Dongting ( 洞庭 ) também é conhecido por Lang-jiang (蘭江, Rio das Orquídeas) e por Peipu (佩浦, Rio de Berloques de Jade).

40xxvi. Trata-se de uma gralha. Deve ser "V. n.42".

* Poeta. Bacharel em Direito, foi conservador em Macau. Autor de Clepsidra, Esboço Crítico da Civilização Chinesa, Ensaio sobre a Literatura Chinesa evariada colaboração em diversas publicações de Portugal e de Macau, onde morreu.

desde a p. 219
até a p.