Crónica Macaense

A BIBLIOTECA CENTRAL DE MACAU CEM ANOS DE HISTÓRIA

Jorge de Abreu Arrimar*

A Biblioteca Macaense

Há 132 anos, a 27 de Dezembro de 1873, o Go-vernador de Macau, Visconde de S. Januário, aprovava, pela Portaria n° 92, e mandava publicar no "Boletim da Província de Macau e Timor", n° 52, os Estatutos, consti-tuídos por cinco capítulos e dezasseis artigos, de uma sociedade designada por Biblioteca Macaense, cujo objectivo principal era o de "proporcionar instrucção e recreio aos seus associados por meio da leitura de livros nacionaes e estrangeiros". A associação era formada por vinte sócios proprietários-fundadores, sendo o número de subscritores sem limite. Cada sócio pagaria mensal-mente $1 para os fundos da associação, sendo esta administrada por uma comissão directiva, constituída por algumas das mais importantes figuras da vida pública de Macau, como P. Nolasco da Silva Júnior (Presidente), Domingos C. Pacheco (Tesoureiro), Nicásio Simões (Secretário), A. Bastos Júnior (Vogal) e Câncio Jorge (Vogal).

A este acontecimento referia-se o jornal "Gazeta de Macau e Timor", n° 15, de 30.12.1873, que era de "elogiar o empenho dos bons e patrioticos macaenses, que respeitam a sua terra e desejam vel-a florecer e prosperar (...) applaudindo a creação de uma bibliotheca para o uso da população macaense". Infelizmente, a Biblioteca Macaense viria a durar uma década apenas. Os tempos não eram os mais fáceis para quem gostava de desfrutar dos prazeres da leitura. Quem tiver paciência suficiente para desfolhar os inúmeros jornais de Macau que se publicaram no século passado (cerca de vinte títulos), existentes na Biblioteca do Leal Senado, poderá observar o constante apelo das pessoas interessadas no desenvolvimento cultural de Macau no sentido da criação de uma Biblioteca Pública digna desse nome.

Em 1883, o jornal "O Correio de Macau" era referenciado pelo seu colega "Echo Macaense", n° 58, de 24.05.1883, pelo facto de ter publicado um "excellente artigo" a sugerir a criação de uma biblioteca pública por conta do governo, apesar do articulista não acreditar muito nisso, como se pode bem depreender das palavras que a seguir passamos a citar: "Com quanto não tenhamos a esperança de que o governo tome a iniciativa n'esta obra civilizadora, nem incorra nas despezas da fundação e conservação d'uma bibliotheca, é de crêr que talvez não negue um subsidio a qualquer instituição particular d'este genero".

Este pessimismo em relação ao Governo tinha alguma razão de ser, pois não havia memória de ter havido qualquer iniciativa por parte daquele com o objectivo de instalar uma biblioteca pública em Macau. A única de que havia memória tinha surgido, como foi dito, pela mão de alguns cidadãos, mas que tinha desaparecido por falta de um local apropriado onde se pudesse instalar e por carência de fundos, apesar de terem conseguido reunir um razoável número de livros, dos quais acabaram por ficar nas mãos dos seus subs-critores e acionistas e outros oferecidos à comissão directora do Clube União, com o objectivo de vir a tor-nar-se o núcleo de uma futura biblioteca. Desde 1844, o Clube União possuía já alguns armários, mandados fazer para guardar os livros que iriam formar o acervo da futura biblioteca pública de Macau.

O jornal "O Independente", vol. IX, n° 406, de 16.07.1887, num extenso artigo intitulado Bibliotheca Publica, começava por dizer: "Durante o governo do sr. Thomaz de Souza Roza chamamos a attenção de s. exa. para a necessidade de se fundar em Macau uma biblio-theca publica, principalmente destinada a auxiliar o exercicio das diversas profissões scientificas que aqui se exercem. Esta ideia foi bem acolhida, e chegou a re-solver-se, segundo nos constou, que se consultassem os chefes das repartições publicas acerca da escolha dos livros mais convenientes aos seus misteres; mas não se avançou um só passo mais, cremos que por causa das graves questões em que o governo provincial começou a vêr-se envolvido, e que absorviam a sua attenção". E, um pouco mais à frente, com alguma ironia, expressava-se da seguinte forma: "A melhor garantia que o Estado pode assegurar-se, a respeito d'um conveniente estudo da applicação por parte d'aquelles funccionarios que não podem bem desempenhar os seus deveres sem se entregarem a maduras locubrações, consiste pois na fundação d'uma bibliotheca selecta, que é cara para o bolsinho particular, mas que não demanda sacrificios aos cofres d'uma provincia".

A Biblioteca Nacional de Macau

De facto, meia dúzia de anos depois de ter sido publicada a notícia atrás citada, em Lisboa, a 27 de Julho de 1893, o Rei D. Carlos fazia saber que as Cortes Gerais haviam decretado a Carta de Lei que reorganizava a Instrução Secundária na cidade de Macau, da qual o Art°. 12 rezava assim: "Junto ao lyceu nacional de Ma-cau serão creados um gabinete de physica e chimica e historia natural, e uma bibliotheca, que terá o nome de 'bibliotheca nacional de Macau'. (...) O governador da província, depois de ouvir o conselho escolar, formulará o regulamento para o funccionamento da bibliotheca, por forma que possa ser frequentada, não só pelos alumnos, mas tambem pelo publico".

Vinte anos após a criação da Biblioteca Macaen-se e dez anos depois do seu desaparecimento, e respon-dendo aos apelos da população de Macau, estavam criadas as disposições legais básicas para que fosse possível a abertura de uma nova biblioteca que estivesse à altura dos seus anseios.

Em finais de 1894, os jornais de Macau conti-nuavam a veicular opiniões menos agradadas sobre o facto de continuar a tardar o aparecimento da biblioteca, na medida em que os fundos orçamentados para criação do Liceu e seus anexos haviam sido absorvidos quer por estes empreendimentos quer pelos salários dos professores, os quais nem ficaram "com uma remu-neração excessiva ou sequer regular", no dizer de um jornalista da época ("O Independente", vol. XV, n° 50, 14.07.1894).

Sendo tão reduzidas as verbas orçamentadas para suportar a instalação do Liceu e seus anexos, coube a parte mais reduzida das mesmas à biblioteca, ou seja, apenas 100$000 reis anuais, numerário que não chegava sequer para comprar, durante um exercício, qualquer daquelas obras consideradas essenciais em uma biblio-teca. Tal facto era comentado, no mesmo jornal, com algum sarcasmo: "Com aquella quantia tão limitada, não é facil calcular o numero de annos que seria necessario para começar a fazer-se sentir a existencia, embora modesta, de um estabelecimento cujas vantagens são tão apreciaveis. Ora nós desejavamos que a bibliotheca publica de Macau se constituisse por forma a poder ser aproveita-dajá por nós e nossos filhos, em vez de o ser pelos filhos e mais descendentes dos nossos netos." O próprio jornal, para colmatar esta brecha no projecto da criação da Biblioteca, fazia um apelo aos cidadãos para oferecerem livros à Biblioteca, e que o poderiam fazer através do jornal, caso não quisessem deslocar-se eles próprios ao Liceu.

Outro jornal de Macau, o "Echo Macaense", de 8 de Agosto desse mesmo ano, publicava um extenso artigo no qual juntava a sua voz ao do seu colega "O Independente", tecendo duras críticas à penúria existente no Território quanto à leitura pública, considerando Macau, apesar de ser a mais antiga possessão europeia na China, "mais retrograda do que as suas irmãs modernissimas, Hong Kong, Shanghae, e Tientsin, com respeito a uma das instituições mais civilisadoras, auxiliar indispensável do progresso intellectual de um povo, a qual é a bibliotheca publica, destinada para o uso popular". O autor destas palavras corroborava a opi-nião do seu colega do "Indepen-dente" sobre a irrisória verba destinada pelo Governo para a compra de livros, mas considerava insuficiente a sugestão da oferta indivi-dual de livros à Biblioteca, avançando para a necessidade de se "promover uma kermesse, cujo producto seja aplicado à compra de livros para a bibliotheca nacional de Macau". Enfim, os mais variados e curiosos meios eram imaginados com o objectivo de se arranjar verba para a compra dos livros que iriam fornecer as estantes, ainda vazias, da recém-criada Biblioteca.

O Liceu Nacional de Macau viria a ser inau-gurado no dia 28 de Setembro de 1894 e a Biblioteca Nacional de Macau, que lhe era anexa, viria a abrir as suas portas, algum tempo depois, logo que ficaram cumpridas as disposições legais referidas no diploma que os tinha criado. Assim, após a Sessão do Conselho Escolar de 29 de Setembro de 1895, o Governador Horta e Costa nomeou uma comissão de professores para redigir o Regulamento da Biblioteca Nacional de Macau. Contudo, não foi nada fácil o percurso da novel Biblio-teca, como também não foi fácil o do próprio Liceu ao qual ela se encontrava agregada. Começou por funcionar numa sala decrépita de um decrépito edifício onde havia funcionado o Convento de Santo Agostinho, tendo sido nomeado seu guarda o Sr. Damião Maximiano Rodrigues.

Cerca de dois anos volvidos, a Biblioteca ainda era motivo de comentários críticos nos jornais locais, como se pode constatar através da leitura, no jornal "Echo Macaense", de 14 de Fevereiro, de uma carta de um respeitado cidadão que reflectia bem o interesse que despertava a Biblioteca como uma instituição vocacio-nada para o desenvolvimento intelectual e cultural dos cidadãos de Macau. Dizia o autor da carta que, "infeliz-mente, em Macau, passaram-se longos annos sem o governo pensar em proporcionar meios adequados para a cultura e recreio intellectual da communidade. (...) A Bibliotheca Publica de Macau deve ser mantida a todo o custo [apesar de a] verba annual votada pelo governo [ser] insuficiente. A bibliotheca concorrerá poderosa-mente para a instrucção e emancipação intellectual dos habitantes..."

Infelizmente, esta situação tenderia a prolongar-se por muito tempo, apesar das denúncias frequentes que a opinião pública manifestava através das páginas dos seus jornais. De facto, a recém-criada Biblioteca Nacional de Macau, anexa ao velho e arruinado edifício do Liceu, mais não fazia do que alimentar o desagrado dos cidadãos mais conscientes da falta que uma institui-ção do género fazia sentir. Era como se, efectivamente, ainda não existisse uma biblioteca em Macau!

Quando, em 1898, se criou uma sub-comissão encarregada de formular o projecto dos festejos desti-nados a comemorar, em Macau, o IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia, presidida por António Joaquim Basto e também composta por Arthur Tamagnini Barbosa, Manuel José da Conceição Borges, A. Talone da Costa e Silva, Augusto César de Abreu Nunes, Lu-Cau e Pedro Nolasco da Silva, esta apenas acordou em propor ao Governo que se criasse uma biblioteca pública, sob a denominação de Biblioteca Vasco da Gama, que ficasse sob a protecção do Governo e do Município e servisse o público em geral. Também nesse projecto se referia da necessidade em "a corporação municipal [oferecer] um edifício ou parte d'um edifício para este fim, e [pagar] o pessoal (...) de forma que todos os subsidios e doações que se obtiverem, bem como o producto das subscrições serão exclusivamente empregados para aquisição de livros". A sub-comissão entendia, também, que as três pequenas bibliotecas existentes em Macau -Biblioteca Nacional anexa ao Liceu, a do Clube União e a do Grémio Militar - não serviam os verdadeiros interesses da população do Território, pelo que deveriam fundir-se numa só (Relatório, Macau, 27.01.1898 em: "O Porvir", Macau, n° 13, 12.02.1898).

Na mesma época em que, perseverantemente, em Macau se tentava, sem êxito, criar uma biblioteca, estabeleciam-se comparações amargas com a sua congénere de Hong-Kong, a Biblioteca Lusitana, fundada por Luciano de Carvalho e João Caetano da Cunha, a funcionar no Clube Lusitano, afirmando-se que "a respeito da bibliotheca vem a proposito mostrar quanto podem o exemplo e a cultura intellectual do meio em que se vive (...) pois a comunidade portugueza de Hongkong tem à sua disposição uma excellente biblio-theca de bons livros enthesourados no Club Lusitano, que é o ponto de reunião habitual das pessoas mais distinctas da mesma communidade" ("O Reporter", 04.04.1899). Mas, em Macau, a Biblioteca Nacional havia de continuar por mais três décadas a acompanhar o Liceu e a sofrer dos mesmos problemas deste, sobre-tudo os que se prendiam com a deficiência de instalações e a tradicional falta de verbas.

Após alguns anos no edifício do Convento de Santo Agostinho e porque este ameaçava ruir (o que veio a acontecer pouco tempo depois), a Biblioteca transferiu-se para outro edifício, entre a Praia Grande e o Leal Senado, no qual permaneceu, em dificílima situação, até 1917, data em que se transferiu para o edifício do Hotel Bela Vista. O semanário "O Progresso", no seu n°46, de 16 de Julho de 1916, referia-se ao facto de, no novo edifício para onde o Liceu se iria mudar, destinado a substituir "o velho pardieiro onde funciona o Liceu", estarem previstas instalações para a Biblioteca, embora, no dizer do articulista da citada notícia, se não concordar com a instalação da Biblioteca Nacional no edifício do Liceu, pois "os gabinetes de leitura querem-se em lugar mais ou menos solitario, silencioso, convidativo à concentração do espirito, e a coberto do barulho infernal, em que é uzeira e vezeira a rapaziada de todo o mundo, que não sómente a de Macau". Enquanto a Biblioteca Nacional de Macau funcionou anexa ao Liceu de Macau, o que aconteceu por longos trinta e quatro anos, foi sempre motivo de críticas por parte das pessoas mais interessadas no desenvolvimento cultural do Território, e que faziam sentir o quanto era importante para a sua população existir uma biblioteca pública digna desse nome.

De 1917 a 1923, a Biblioteca Nacional de Macau funcionou no edifício do Hotel Bela Vista. No jornal "O Progresso", de 12 de Setembro de 1915, podia ler-se, a propósito da Biblioteca, o seguinte: "Temos, pois, em Macau, também, uma biblioteca intitulada publica -Biblioteca Nacional anexa ao Liceu. Mas essa espécie de biblioteca (...) é o mesmo que não existisse. Ninguém a frequenta, nem pode frequentar, porque, além da sua pobresa bibliográfica - umas centenas de livros, sem valor, dentro de mal encaradas estantes - acha-se instalada num acanhado, desconfortável e pouco arejado compartimento do edifício liceal (...) e, finalmente, porque se de premissas se tiram conclusões, tal biblioteca ou espécie de biblioteca, ainda que continue a pavonear-se com a pomposa designação de Biblioteca Nacional, como quem diz. Biblioteca Publica, de facto nem é bem biblioteca, nem é nada publica!..." Acabo de citar um artigo de opinião cujo tema se vai repetir, com maior ou menor vivacidade, ao longo de muitos anos nos jornais do Território.

Entretanto, em 1916, o Governador de Macau dava indicações no sentido de serem catalogados em separado os 400 livros que os herdeiros do intérprete e sinólogo, Pedro Nolasco da Silva, haviam oferecido à Repartição do Expediente Sínico, a fim dos mesmos virem a constituir o primeiro núcleo de uma biblioteca designada por Biblioteca Pedro Nolasco. Estes livros acabariam, muito mais tarde, por ingressar no acervo da Biblioteca Nacional de Macau, guardado nas actuais instalações do edifício do Leal Senado. Em 1924, de novo a mudança, desta feita para as instalações que haviam servido de asilo às inválidas, no Tap Seac, onde hoje se encontra a Direcção dos Serviços de Saúde, tendo-se quedado por ali até Fevereiro de 1929. A Biblioteca Nacional de Macau ia, assim, acompanhando Liceu nas suas penosas deambulações.

Em 1922, num artigo publicado no jornal "O Lib-eral", datado de 24 de Setembro, Henrique Valdez aventava a hipótese de se fazer o aproveitamento do antigo quartel de artilharia, localizado no Jardim da Flora, para ali se instalar a tão ansiada biblioteca pública e o museu da cidade. Mais uma vez se chama a atenção para o facto de em Macau existirem pequenas bibliotecas dispersas pelos clubes, grémios e estabelecimentos de ensino, quando, reunidas poderiam vir a constituir a tão indispensável e desejada biblioteca pública. Deste modo, dizia o articulista: "Os investigadores, que procurassem rebuscar nos arquivos elementos para o estudo da história de Macau, encontrariam na biblioteca - se o ser-viço viesse a ser bem montado - tudo o que existe sobre o assunto, devidamente anotado e catalogado. E os turistas, vendo esse serviço dirigido com proficiencia, teriam mais um motivo para ir lá fóra fazer boa propa-ganda da Colonia e do grau de cultura dos seus habi-tantes. É esta propaganda de que Macau necessita, agora que, no estrangeiro, almas cheias de peçonha nos teem levantado a mais temerosa e a mais injusta campanha de descredito. (...) Nos Guias de Macau já não teremos apenas, como agora, a indicação feita ao turista de que deve ver as ruinas de S. Paulo, as casas de fantan ou a fabrica de opio; indicar-se-á tambem que visite o grande Parque, o Museu e a Biblioteca Publica". As palavras acertadas de Valdez foram, provavelmente, lidas por quem de direito, mas não foram tidas em conta e o seu projecto nunca se realizou. O Jardim da Flora acabaria por ser devastado, perto de dez anos mais tarde, quando da explosão do Paiol Novo, a 13 de Agosto de 1931, que a tudo arrasou num raio de meio quilómetro, tendo perecido vinte e uma pessoas e ficado feridas outras cinquenta.

As Instalações Definitivas no Edifício do Leal Senado

Finalmente, em 1927, com as consciências espicaçadas, os "Homens-Bons" do Leal Senado ofere-ceram duas salas do seu andar nobre para ali acolher condignamente e definitivamente a desvalida Biblioteca. E já não era sem tempo! O repto lançado havia já cerca de trinta anos pela sub-comissão encarregada dos festejos do IV Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, já aqui referido, era finalmente aceite pela "corporação municipal" que disponibilizou duas salas do andar nobre do edifício do Leal Senado para ali se instalar definitivamente a Biblioteca Nacional de Macau. As obras iniciaram-se, em 1928, sob a direcção técnica do director das Obras Públicas, Eng. Duarte Veiga.

Em Fevereiro do ano seguinte ficavam concluí-das as obras, segundo o projecto da firma de arquitectos e construtores Remédios & Mylo, tendo sido contratado o empreiteiro Ao Chio para efectuar os trabalhos de acabamento. Em Março de 1929, ainda em fase de orga-nização, a Biblioteca recebeu uma valiosa oferta em livros da parte do Dr. Edgar Prestage, formado em Letras pela Universidade de Oxford e regente, na Universidade de Londres, da cadeira de Língua e Cultura Portuguesas ("A Verdade", n° 218, de 23.03.1929).

A Biblioteca Pública de Macau

Dois anos depois, a Portaria n° 691, publicada no B. O. n° 29, de 1931, determinava que ficassem subordinadas ao Inspector de Instrução Pública os serviços inerentes à Biblioteca Pública de Macau e o Diploma Legislativo n° 203, publicado no B. O. n° 39, de 1931, criava o Quadro de Pessoal da Biblioteca Pública e do Museu Comercial e Etnográfico "Luís de Camões", também a funcionar no edifício do Leal Senado. É, pois, a partir daqui que a Biblioteca deixa de se chamar de Nacional para passar a chamar-se Pública. A 30 de Setembro de 1939, através da Portaria n° 2.703, é dotada do seu primeiro Regulamento. Em 1941, cria-se a Lei do Depósito Legal para o Território, através do Diploma Legislativo n° 697, publicado no B. O. n° 3, de 1941, que determinava que todos os proprietários, administradores ou gerentes de quaisquer empresas e editoras ou impressoras ficassem obrigados a enviar à Biblioteca Pública dois exemplares de todas as publi-cações ou livros impressos nas suas oficinas. Estas disposições legais vieram, naturalmente, a beneficiar uma instituição tradicionalmente carecida de verbas destinadas à compra de livros.

Entretanto, novo Regulamento é criado através da Portaria n° 3.766, publicada no B. O. n° 14, de 7 de Abril de 1945. Um ano depois, o Artigo n° 3, desta última portaria, recebe nova redacção, através da publicação, no B. O. n° 19, de 1946, da Portaria n° 3.966. Ainda neste mesmo ano, no B. O. n° 19, de 1946, é publicado o Diploma Legislativo n° 3.066, que determina a constituição da Comissão Directora da Biblioteca Pública de Macau e define as competências do Bibliotecário.

A partir daqui, a situação física e legal da prin-cipal biblioteca de Macau estava clarificada e as coisas começaram a correr de forma diferente, e isso reflete-se claramente na opinião pública de Macau expressa nos jornais da época. A 7 de Maio de 1949, o jornal "Notícias de Macau" transcrevia um artigo publicado no "South China Morning Post", no qual se fazia uma apreciação muito elogiosa à Biblioteca Pública de Macau. Dizia o articulista a breve trecho: "(...) na Casa do Senado existe uma bela biblioteca (...) que dizem ser a reconstituição, em escala mais pequena, da célebre biblioteca do Convento de Mafra, em Portugal. A coisa mais atraente que se observa na Biblioteca de Macau é a delicada obra de talha que adicciona um aspecto agradável e tranquilo ao mais baixo dos dois andares, nos quais as estantes dos livros estão dispostas em volta de um espaço central". Não havia dúvida que os tempos maus da Biblio-teca Pública de Macau tinham passado! Quão diferentes são estas palavras compara-tivamente às que rechearam os inúmeros textos vindos a público nos jornais que, neste Território, se publicaram ao longo de mais de meio século.

Biblioteca do Leal Senado - sala "joanina"

A década de 50 vai ser também importante para a Biblioteca, na medida em que se tomaram decisões legis- lativas de fundo que lhe mudaram completamente o rumo e a importância. Era, no início desta década, bibliotecário da Biblioteca Pública de Macau o Dr. Manuel Gomes de Andrade, e como auxiliares duas funcionárias, a Sra D. Fernanda da Rocha Xavier e a Sra D. Ana Clara Rodrigues.

Mais uma vez a Biblioteca foi motivo de uma reportagem no jornal "Notícias de Macau", de 2 de Dezembro de 1951, que a considerava uma das mais ricas do Oriente e orgulho de Macau. Bem instalada no edifício do Leal Senado, em pleno coração da cidade, acessível a toda a gente "a Biblioteca, com as suas belas e espaçosas salas, asseadas e cheias de luz, com as suas estantes cuidadas e bem providas de bons livros de toda a espécie, é, indubitavelmente, uma das organizações que mais horram a nossa Província".

No ano de 1950, o número de leitores foi de 4.078. Foi de 1.715 o número de livros fornecidos para leitura na Biblioteca, e de 5.455 o da leitura ao domicílio. Para além de um acervo de 9.700 livros, havia uma Secção de Reservados onde se guardavam as espécies bibliográficas de maior valor e os 14.000 volumes que haviam pertencido à biblioteca particular do falecido Comendador Dr. Lourenço Marques.

A Biblioteca Nacional de Macau e a Lei do Depósito Legal

Indo de encontro aos anseios da sua direcção, a 28 de Junho de 1952, o então Ministro do Ultramar, Manuel Maria Sarmento Rodrigues, mandou publicar o Diploma Legislativo Ministerial n° 8, no qual a Biblio-teca Pública de Macau passava a ter a designação de Biblioteca Nacional de Macau, ficando, a partir daí, a ter direito à recepção gratuita das publicações de Portu-gal e dos seus Territórios Ultramarinos, como estipulava a Lei do Depósito Legal. Em 1957, através da Portaria n° 6.020, publicada no B. O. n° 28, a Biblioteca Sir Robert Ho Tung passou legalmente a estar sob a respon-sabilidade do Bibliotecário da Biblioteca Nacional de Macau, devendo o mesmo habitar gratuitamente o 2° andar do referido edifício. A partir dessa altura, passou a ser norma a junção à Biblioteca Nacional das biblio-tecas públicas estatais que iam sendo criadas.

Com o envio de espécies bibliográficas de Portu-gal, resultado da aplicação da Lei do Depósito Legal, a Biblioteca Nacional de Macau toma outro fôlego e o seu acervo documental ganha outra dimensão. Assim, em 1962, contava a Biblioteca com um acervo documental na ordem dos 43.336 volumes e, dois anos depois, já o seu acervo possuía 60.000 volumes, recebendo uma média de 1.000 exemplares por mês através do depósito legal. Integrou-se, por essa altura, a biblioteca da antiga Repartição do Expediente Sínico, que muito veio a contribuir para a valorização do acervo da Biblioteca Nacional. No decurso desse ano, Luís Gonzaga Gomes, que na altura era o seu director, mandou encadernar algumas obras em fascículos, bem como a de numerosas colecções de jornais e revistas outrora publicados em Macau.

Em 1962, foi efectuada uma visita à Biblioteca pelo Governador de Macau, Tenente-Coronel António Lopes dos Santos e pelo Presi-dente da Junta de Inves-tigações do Ultramar, Engenheiro Carlos Kruss Abe-cassis, naquela altura em missão oficial em Macau, que foram rece-bidos por Luís Gonzaga Gomes. Este mostrou-lhes demoradamente a Biblioteca e explicou-lhes os problemas que já se começavam a sentir com a falta de espaço para guardar a documentação que constantemente che-gava. O Eng. Kruss Abecassis focou a necessidade de se instalar um equipamento de ar-condicionado na Biblioteca, não só para comodidade dos leitores como também para uma melhor preservação dos documentos. Mas a Biblioteca teria que esperar até 1985 para ter os benefícios do ar-condicionado.

Dois anos depois, a 16 de Julho de 1964, repetiu-se esta visita, e o Governador pôde aperceber-se então dos problemas, agora muito agravados, criados pela falta de espaço. No jornal "O Clarim", de 19 de Julho de 1964, onde se noticia esta visita, diz-se que o "Sr. Luís Gonzaga Gomes pôs S. Exa. o Governador ao corrente de tudo, incluindo da falta de pessoal com que luta para catalogar os milhares de volumes ainda por arrumar e para atender devidamente o público". De seguida o Governador deslocou-se aos Serviços Camarários para ali examinar, juntamente com o Presidente do Leal Senado, Dr. Al-berto Pacheco Jorge, e o Secretário, Sr. Carlos Humberto da Silva, da possibilidade de se poder vir a ampliar as instalações da Biblioteca, o que de facto veio a acontecer ainda no decurso desse mesmo ano, passando a Biblio-teca a contar com mais uma sala.

Luís Gonzaga Gomes desenvolveu a sua actividade de bibliotecário no período compreendido entre 1962 e 1967, iniciando a Biblioteca Nacional de Macau uma nova e importante etapa da sua história, crescendo e fa-zendo-se respeitada, quer no Território quer em Portugal.

A 2 de Abril de 1966, a Biblioteca Nacional de Macau foi representada no 2° Encontro de Bibliote-cários e Arquivistas Portu-gueses pelo seu Biblio-tecário. Neste Encontro, realizado no Palácio da Foz, em Lisboa, a Biblioteca Na-cional de Macau foi referida no discurso de encerramen-to do Encontro, proferido pelo Dr. Justino Mendes de Almeida, Director Geral de Ensino do Ultramar, como um "testemunho real, não apenas de preservação de uma parte documental do País, mas ainda da sua uti-lização em proveito dos estudos de investigação histórica e da valorização cultural das populações".

Biblioteca Sir Robert Ho Tung - fachada

Apesar da ampliação da Biblioteca com mais uma sala, como referimos atrás, tal não foi suficiente e, se no passado a Biblioteca vivia uma crónica falta de livros, a partir de 1952, com a Lei do Depósito Legal, a situação mudou radicalmente, passando agora a não ser suficiente o espaço físico que a Biblioteca dispunha para o seu normal crescimento. No Relatório da Biblioteca referente ao ano de 1965, Luís G. Gomes dizia, a pro-pósito dessa situação, o seguinte:"É premente a neces--sidade de um outro edifício para instalar a Biblioteca Nacional, porquanto não existe espaço para o seu alarga-mento, nem é possível acumularem-se mais estantes nas instalações disponíveis (...) constituira, igualmente, pro-blema a escolha de um lo-cal adequado para a cons-trução de um imóvel apro-priado para a instalação da Biblioteca, em consequên-cia do grande desenvol-vimento urbanístico que a cidade está experimentan-do, motivo porque ouso lembrar (...) a adaptação do edifício onde se encontra, presentemente instalada, a Secretaria da Repartição dos Serviços de Saúde, isto é, o antigo Liceu, na Rua Conselheiro Ferreira de Almeida, que se recomen-da pela sua situação cen-tral, fácil acessibilidade, com compartimentos sufi-cientes para poder servir de biblioteca para o fim em vis-ta". Mas muito tempo pas--saria, a situação da Biblio-teca iria deteriorar-se bas-tante e Luís Gonzaga Gomes já não estaria vivo para ver a ampliação da Biblioteca.

Em Dezembro de 1966, a Biblioteca viria a sofrer um grande revés na célebre revolta do 1, 2, 3 (como é conhecida localmente), protagonizado pelos seguidores da Revolução Cultural Maoísta, que em grupos irrom-peram pelo edifício do Leal Senado e destruíram imensa coisa: o arquivo do Leal Senado, os retratos dos governa- dores, os livros da Biblioteca, partiram vidros das jane-las, equipamento e mobiliário; tudo foi parar à rua, arre-messado das janelas. Posteriormente foi nomeada uma comissão, de que faziam parte Luís G. Gomes e os historiadores, padres Manuel Teixeira e Videira Pires, com o objectivo de levar a cabo a difícil tarefa de reco-lher e guardar a documentação que tinha sido vandali-zada. O acervo da Biblioteca Nacional ficou assim bastante maltratado e a Biblioteca tardou a recompor-se.

De novo se lêem, na imprensa escrita do Territó-rio, artigos a denunciar a situação. O jornal "Notícias de Macau", de 26 de Outubro de 1972, apresentava um texto, repassado de ironia, assinado por S. Ramalho, que a breve trecho rezava assim: "E eu não queria agora falar da biblioteca do Leal Senado em Macau, mas não sei porquê demónio me fugiu para lá o pensamento e não consigo de lá sair, e por isso fica o artigo que-brado e sem valor. Eu penso que será por lá ter estado há dias. Já lá estive muitas vezes, há um mês, um ano, etc., e sempre a encontrei igual, nem melhor nem pior. Não dá prazer nenhum lá estar. O espírito sente-se revoltado e o corpo insa-tisfeito. (...) Os mosquitos por lá vão matando as suas tardes enquanto o pó silenciosamente se vai escondendo onde não seja muito visto. A biblioteca tem bons livros. Não é a sua riqueza ou pobreza aqui chamada, mas sim a disposição e conforto. É realmente uma caixa de livros. Poderia cha-mar-se armazém". E assim ia o autor do artigo criticando a Biblioteca, fazendo lembrar outros textos mais antigos, que foram sendo publicados ao longo de muitos anos nos jornais de Macau, e dos quais já respigamos trechos que ilustram, de forma significativa, as diversas fases da história da Biblioteca.

Três anos depois, o jornal "Democracia em Marcha", de 11 de Fevereiro de 1975, apresentava uma fotografia na sua página 5, com uma elucidativa legenda que passamos a citar: "A desorganização que grassa pela chamada Biblioteca Nacional vai ao ponto de manter por abrir os caixotes com livros destinados à Biblioteca. O caixote fotografado é um dos vários que se encontram ao relento na arcada da Biblioteca Sir Robert Ho Tung, no Largo de St. Agostinho". Prometendo não deixar esquecido este caso, o jornal em questão informava os seus leitores de que no seu próximo número apresentaria um artigo intitulado O Armazém de Livros. De facto, a 17 de Junho desse mesmo ano, na rubrica Notícias e Comentários do citado jornal, podia ler-se uma notícia intitulada Do Armazém de livros à Biblioteca, na qual se fazia referência à criação de uma Comissão, proposta pelo Cap. O. Santos, Secre-tário-Adjunto para os As-suntos Sociais e Cultura, com o objectivo de dina-mizar a Biblioteca Nacio-nal de Macau, de forma a que esta viesse a prestar à população do Território um serviço "da mais lata pro-jecção". Da referida Comi-ssão faziam parte o Dr. Henrique de Senna Fernan-des, na altura Director da Biblioteca Nacional de Macau, e a Irmã Miriam Pezzi, da Biblioteca D. Policarpo.

Biblioteca Sir Robert Ho Tung -jardins

Entretanto, iam-se criando dispositivos legais no sentido de dinamizar a Biblioteca e enquadrá-la melhor no conjunto dos organismos e serviços oficiais do Ter--ritório. A 28 de Setembro de 1979, com a publicação do Diploma Orgânico dos Serviços de Educação e Cultura, no B. O. n° 38, as competências daqueles serviços são definidas, cabendo-lhes doravante, no cam-po cultural, "superintender nos teatros, museus, bibliotecas e arquivos pertencentes ao Estado". Assim, do ponto de vista legal, a situação das bibliotecas em Macau começava a ficar clarificada, devendo a Repartição do Ensino e Cultura - um dos órgãos que compunham a Direcção de Serviços de Educação e Cultura - fomentar, orientar e apoiar o estudo e clas--sificação dos bens móveis e imóveis que, pelo seu valor histórico, artístico, bibliográfico e documental, entre outros, constituíssem elementos do património cultural do Território de Macau. Dependentes directamente do chefe da Repartição do Ensino e Cultura ficava a Biblio-teca Nacional e o Arquivo Histórico. Nesse mesmo Di-ploma, no Art° 18, estavam contempladas as compe-tências do Bibliotecário e, no Art° 71, determinava-se quais as regras de ingresso e nomeação do bibliotecário e dos catalogadores.

De Setembro a Dezembro de 1980, a convite do Director dos Serviços de Educação e Cultura de Macau, Dr. Peres Claro, veio de Portugal o Profes-sor Silva Rego, com o objectivo de tratar a nume-rosa documentação que, num estado de semi-aban-dono, se encontrava na Biblioteca Sir Robert Ho Tung, como, aliás, foi des-crito anteriormente. O tra-balho iniciou-se com algu-ma dificuldade dado o considerável número de documentos a merecer atenção, enquanto aguardavam catorze caixotes fechados (agora um número muito maior do que o que havia sido denunciado pelo jornal "Democracia em Marcha", de 1975, já aqui citado) que de seguida foram abertos e a sua documentação arrumada provisoriamente em algumas estantes prepara-das para o efeito.

Segundo o próprio Professor Silva Rego, não se pôde fazer na altura o tratamento técnico daquela docu-mentação por falta de tempo disponível (ver: revista "Macau", Macau, 1 Jan.-Mar. 1981, p. 15-28). A 13 de Agosto desse mesmo ano, em anúncio publicado no B. O. n° 33, a Direcção dos Serviços de Educação e Cultura fazia saber que se iria realizar um Curso de Formação de Pessoal Técnico de Biblioteca destinado priorita-riamente à Biblioteca Nacional de Macau. Dava-se início, deste modo, à constituição do primeiro grupo de técnicos especializados em Biblioteconomia, facto que iria permitir a modernização da principal biblioteca do Território.

A Nova Sede da Biblioteca Nacional

A situação de ruptura em que a Biblioteca vivia manteve-se até 28 de Outubro de 1983, altura em que foi inaugurado, pelo Governador de Macau, Contra-Almirante Almeida e Costa, as suas novas instalações, desta vez não apenas com uma ou duas salas mas, finalmente, com um edi-fício inteiro, para onde transferiu a sua sede. Não foi o edifício da Direcção dos Serviços de Saúde que recebeu a Biblioteca em 1983, mas sim um outro, existente ao seu lado e que pertence ao grupo classi-ficado de edifícios colo-niais, dos princípios deste século, na Av. Cons. Ferrei-ra de Almeida, na zona popularmente conhecida por Tap Seac, e onde, ainda hoje, se mantém a sede da Biblioteca.

Biblioteca Sir Robert Ho Tung - secção do livro antigo

Para dirigir a montagem do novo espaço da Biblioteca, veio da República a Bibliotecária e Profes--sora de Filosofia, Dra Maria da Graça Jácome, recen-temente falecida, que no Território permaneceu até 1987. Sobre a cerimónia de inauguração da Biblioteca, respi-gamos do jornal "Tribuna de Macau", de 29.11.83, o seguinte passo: "As novas instalações da Biblioteca Nacional de Macau foram ontem solenemente inau-guradas. (...) São instalações muito funcionais, e com uma decoração muito moderna (quase diríamos aliciante) para os que quiserem 'queimar as pestanas' na consulta dos muitos milhares de publicações ali existentes".

Com o apoio de alguns funcionários e de uma dúzia de jovens estudantes que a Dra Graça Jácome conseguiu mobilizar durante as férias grandes, procedeu-se a um sem número de tarefas importantes para a insta-lação, sem delongas, da nova biblioteca. A ajuda dos jovens estudantes foi bem preciosa, pois, como nos diz o autor do texto atrás citado, "carregaram aos ombros, limparam e ajudaram a classificar uns milhares largos de livros, revistas e outras publicações (...) num ambien-te de sã camaradagem, mas num ritmo extremamente vivo". A partir daí, a documentação cuja edição era an-terior a 1950 ficaria depositada nas antigas instalações no edifício do Leal Senado, e a de edição posterior a essa data passaria a ser depositada e guardada nas no-vas instalações do Tap Seac.

Em 1983, adaptou-se um edifício antigo, no qual funcionava no princípio do século uma escola primária, para ali funcionar a Biblioteca Pública da Ilha de Co-loane, na dependência da Biblioteca Nacional de Macau.

A 1 de Fevereiro de 1986, pelo Decreto-Lei n° 10/86/M, a Biblioteca Nacional de Macau transita para a tutela do Instituto Cultural de Macau, onde ainda hoje permanece como organismo depedente mas dotado de ampla autonomia técnica e científica. Pouco tempo depois, a 25 de Março desse mesmo ano, são reabertas as instalações da Biblioteca no edifício do Leal Senado, que haviam estado encerradas durante três anos para obras de restauro do mobiliário e dotação de equipa-mentos de ar-condicionado, circuito interno de televisão para vigilância e sistema de segurança contra roubos.

Finalmente a velha Biblioteca, agora reju-venescida, poderia receber melhor os seus utilizadores e preservar com mais eficácia a sua preciosa documen-tação. Que diferença em relação à situação que, já havia quase quinze anos, tinha originado as amargas e irónicas apreciações de S. Ramalho sobre a Biblioteca e que aqui fizemos referência. Ainda em Setembro desse mesmo ano, uma delegação de alguns bibliotecários portugueses que vinham de participar da 52a Conferência Geral da IFLA, que se havia realizado em Tóquio, de 24 a 29 de Agosto, deslocou-se a Goa e Macau, a convite do Ins-tituto Cultural de Macau. Da sua passagem pela Biblio-teca Nacional de Macau, registamos as seguintes palavras, publicadas em "Notícia BAD", Lisboa, (10) Abr.-Dez. 1986: "Tornou-se ainda possível uma deslocação a (...) Macau, (...) onde se apreciou o excelente trabalho desenvolvido na sua Biblioteca Nacional e na do Leal Senado".

Em 1986, a Biblioteca Nacional passou a contar com a sua primeira unidade móvel da Biblioteca Iti-nerante, autocarro oferecido para o efeito pela Fundação Macau.

A 5 de Dezembro de 1988, foi inaugurada mais uma biblioteca de livro chinês, a Biblioteca de Mong Ha, situada no bairro do mesmo nome.

As actividades de extensão cultural e a pu-blicação de catálogos e de boletins bibliográficos sofre um grande incremento a partir de 1988. O primeiro número da série Monografias do "Boletim Bibliográfico de Macau", obra de referência sobre a bibliografia lo-cal, surge no final desse ano, integrado nas come-morações do IV Centenário da Implantação da Imprensa de Tipos Móveis em Macau. No ano seguinte foi publi-cado o primeiro número da Série Periódicos do mes-mo boletim e, em 1991, dá-se à estampa o primeiro vol-ume do "Boletim Bibliográfico: Literatura Portuguesa", que faz referência aos escritores portugueses represen-tados na Biblioteca do Leal Senado.

Em 1989, por iniciativa do ICM, realizou-se o I Curso de Preparação de Técnicos Auxiliares de Biblio-teca, curso reconhecido pela Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD) e que contou com ampla participação de alunos, na sua maior parte provenientes da Biblioteca Nacional.

A Biblioteca Central

Em Janeiro de 1988, a Biblioteca Central passou a fazer parte da comunidade internacional de bibliotecas, com a formalização e posterior aceitação da sua candidatura a membro da Federação Internacional de Bibliotecas (IFLA).

Neste mesmo ano, por Despacho n° 48/GM/89, de 28 de Março, foi criado um grupo de trabalho encarregado da reestruturação do Instituto Cultural de Macau, coordenado pela a Maria do Carmo Romão, Assessora do Sr. Secretário-Adjunto para a Cultura, Dr. Murteira Nabo. O referido despacho determinou ao Grupo que se estudasse e se propusessem as medidas necessárias ao aperfeiçoamento do enquadramento institucional e nor-mativo dos assuntos culturais e à reestruturação do Instituto Cultural de Macau. A metodologia de trabalho que, entre-tanto, se adoptou conduziu à criação de subgrupos de tra-balho, correspondentes aos grandes temas em debate na reestruturação, sendo o Subgrupo II dedicado ao Patrimó-nio Bibliográfico e Documental. Deste faziam parte os directores da Biblioteca Na-cional e do Arquivo Histórico.

Várias reuniões de trabalho conduziram à pre-paração de vários projectos de diploma visando a regula-rização jurídica daqueles dois organismos autónomos do Instituto Cultural de Ma-cau. Assim, foram redigidas as disposições regulamen-tares do Decreto-Lei n° 63/ 89/M, de 25 de Setembro, que reestrutura o Instituto Cultural de Macau e a Bi-blioteca como seu organismo autónomo. No que concerne especificamente à Biblioteca Nacional de Macau que, a partir da publicação do referido Decreto-Lei, passou a designar-se por Biblioteca Central, foram publicadas novas normas legais relativas ao seu funcionamento: o Regulamento e a Lei do Depósito Legal.

A Lei Orgânica do Instituto Cultural de Macau, no seu capítulo II, define em termos legais a sua estrutura, isto é, os órgãos que superintende na gestão e os diversos serviços, através dos quais o Instituto Cultural de Macau realiza as suas atribuições, e fixa o perfil e competências de cada órgão e das várias subunidades orgânicas, no-meadamente dos organismos dependentes deste Instituto, dos quais faz parte a Biblioteca Central, esta caracterizada por uma ampla autonomia técnica e científica. A partir desta data, a Biblioteca Central passou a estar dividida em dois grandes sectores: o Sector dos Fundos Gerais e de Macau, que agrupa duas bibliotecas de matriz europeia, Biblioteca Central (sede) e Biblioteca do Leal Senado, no qual se trabalha essencialmente com documentação em línguas europeias; e o Sector das Bibliotecas Chinesas, que agrupa quatro bibliotecas de matriz chinesa, Bibliotecas Sir Robert Ho Tung, Mong Ha, Itinerante e de Coloane, no qual se trabalha com documentação em língua chinesa.

Em 1990, iniciou-se a microfilmagem dos jornais mais antigos da Biblioteca e, em 1992, criou-se no edifício sede da Biblioteca Central uma Sala de Microfilmagem, dotada de equipamento moderno que foi adquirido às firmas Kodak e Fuji de Hong-Kong, de acordo com indicações colhidas junto do Comité Internacional de Re-prografia. Ali tem-se proces-sado a microfilmagem (em sais de prata / 35 mm) dos jornais de Macau de língua portuguesa, de 1822 a 1960, e de língua chinesa, de 1960 a 1980. Encontra-se igual-mente microfilmada a colec-ção de Boletins Oficiais do Território, assim como algu-mas das revistas e monografias mais antigas que fazem parte dos acervos da Biblioteca do Leal Senado e do fundo Macau da Biblioteca Central.

Biblioteca de Mong-Há

Ainda no decurso do ano de 1991, foi criada uma Oficina de Encadernação e Restauro no edifício-sede da Biblioteca Central, dotada de equipamento moderno para ali se efectuarem encadernações e operações de recupera-ção de documentos. Todos os jornais de Macau, indepen-dentemente da língua em que são redigidos, são devida-mente encadernados naquela oficina e enviados para a Biblioteca do Leal Senado, os de línguas europeias, e para a Biblioteca Sil Robert Ho Tung, os de língua chinesa.

Nesse mesmo ano, foi adquirido mais um auto-carro do mesmo modelo do anterior, e, a 8 de Fevereiro de 1991, foi finalmente inaugurado o Posto Fixo da Biblioteca Itinerante, sito no Canal dos Patos, na Ilha Verde, com capacidade para guardar um acervo documental na ordem das trinta mil espécies bibliográficas e com garagem onde estacionar as duas unidades móveis da Biblioteca.

Só em 1992 é que se criou a Biblioteca da Taipa, e, em 1995, a Biblioteca da Ilha Verde. A Rede de Leitura Pública de Macau gerida pela Biblioteca Central passou a partir deste ano a contar com oito bibliotecas, duas de matriz portuguesa (Biblioteca Central e Biblioteca do Leal Sena-do) e seis de matriz chinesa, divididas em dois grupos fun-cionais (1 - Bibliotecas da Zona Sul: Biblioteca Sir Robert Ho Tung, Biblioteca da Taipa e Biblioteca de Coloane; 2 -Bibliotecas da Zona Norte: Biblioteca Itinerante, Biblio-teca da Ilha Verde e Biblio-teca de Mong Ha).

A Biblioteca Central de Macau

Em 1994, o Instituto Cultural de Macau foi de novo reestruturado, através do Decreto-Lei n° 63/94/M, de 19 de Dezembro, publicado no B. O. n° 51, série l, de 19 de Dezembro. Quanto à Biblioteca Central, nada foi alterado a não ser a sua designação, que passou de Biblio-teca Central para Biblioteca Central de Macau.

A Rede Informática de Leitura Pública de Macau (RILPMAC)

Esta Rede de Leitura Pública é actualmente cons-tituída pelas oito bibliotecas que funcionam na órbita da Biblioteca Central de Macau. A partir do edifício- sede, localizado no Tap Seac, e onde se encontra o Sistema Informático Central LIBMAN, estabelece-se a interligação das diversas unidades da RILPMAC e controla-se todo o processo de tratamento técnico da documentação com o recurso às modernas tecnologias de informação. Tal realidade permite uma maior racionalização na preparação e aplicação dos nossos projectos de leitura pública e uma maior e mais cuidada normalização nos procedimentos técnicos. O formato UNIMARC, aceite como o formato para a troca inter-nacional de informação bibliográfica, foi adoptado em Portugal como formato nacional para a catalogação legí-vel por computador e, desde 1989, adoptado igualmente em Macau como formato da RILPMAC, assim como a Tabela de Classificação Decimal Universal (CDU) como linguagem comum de acesso ao Sistema.

Tratou-se de um grande esforço de norma-lização pois as bibliotecas chinesas, de uma forma geral, utilizavam - con-soante os seus técnicos se haviam formado ou espe-cializado em Taiwan ou na China - as Chinese Cata-logue Rules de Taiwan, uma adaptação da Anglo- American Cataloguing Rules (AACR), e para a classificação a Chinese Classification Scheme, similar à classificação de Dewey, também de Taiwan. O formato nacional chinês para a catalogação legível por com-putador é o Chinese MARC para Taiwan, muito próximo do LC MARC, e o China MARC para a República Popu-lar da China.

Biblioteca Central de Macau

A adopção do UNIMARC na Rede de Bibliotecas Públicas de Macau permitiu ultrapassar-se esta situação confusa, resultante da existência de várias regras no trata-mento documental, ao mesmo tempo que possibilitou a sua informatização com a utilização do Sistema Integrado, multiposto e multilingue, denominado LIBMAN.

Hoje, quase todas as bibliotecas da rede se encon-tram ligadas ao sistema informático central, esperando-se que, até ao final de 1995, a ligação se estenda à mais distan-te, a Biblioteca de Coloane, pois a mesma irá estar encerrada para obras de restauro durante algum tempo.

A partir de 1993 (data em que começou a imple-mentar o novo sistema), por necessidade de se mudar a estratégia organizativa das bibliotecas e racionalizar a gestão dos seus recursos técnicos e humanos, entendeu-se fazer da Biblioteca Sir Robert Ho Tung (BSRHT) o núcleo do grupo de seis bibliotecas de matriz chinesa do Território, concentrando ali os técnicos mais especia-lizados em biblioteconomia e privilegiando esta biblio-teca em termos de ligação ao Sistema Central, este loca-lizado fisicamente no edifício-sede da Biblioteca Cen-tral, com o objectivo de garantir um maior cuidado e fiabilidade no tratamento técnico da documentação. Assim, as demais bibliotecas, com instalações mais pequenas e com acervos documentais menores, pas-saram a constituir bibliotecas satélites da BSRHT, desta recebendo a documentação já tratada e a respectiva informação dos terminais de computador.

Contudo, por motivos que se prendem com o facto de alimentarmos também a PORBASE, que é a Base Nacional de Bibliografia Portuguesa, localizada na Biblioteca Nacional, em Lisboa, decidimos manter a parametrização do programa MINI MICRO CDS - ISIS, já em uso na nossa biblioteca desde 1989 para a biblio-grafia em português, nos fundos de Macau (Sala de Ma-cau) e do Livro Antigo (Biblioteca do Leal Senado), o primeiro porque formado pela bibliografia local, impon-do-nos a obrigação de enviar essa informação para a Base de Dados Nacional, POR-BASE; o segundo porque se trata de documentação anterior à Lei do Depósito Legal e, portanto, à chegada de bibliografia de Portugal ou ao envio de documentação local para a Biblioteca Nacional, em Lisboa. De qualquer forma, toda esta infor-mação acaba por ir parar à Rede de Leitura Pública do Território, pois a mesma sofre uma conversão para o programa LIBMAN que serve a Rede.

Na Biblioteca Sir Robert Ho Tung foi, também, criada a versão em chinês da Sala de Macau, onde se guarda e trata a documentação editada localmente e re-digida em chinês. A informação bibliográfica que é pre-parada neste local faz parte, igualmente, do "Boletim Bibliográfico de Macau", para além de ser incorporada na RILPMAC e pesquisável através dos terminais de computador localizados em qualquer das bibliotecas que integram esta rede.

Nas instalações da Biblioteca do Leal Senado existe uma Hemeroteca, formada pela colecção de oiten-ta e oito títulos de jornais de Macau e das comunidades macaenses de Hong-Kong, Cantão e Xangai, dos quais setenta e nove são redigidos em português, oito em in-glês e um em francês. O mais antigo desses jornais é o "Abelha da China", cuja publicação se inicia em 1822.

Em 1992, iniciou-se o tratamento técnico dos milhares de artigos que se encontram nos jornais refe-ridos, contribuindo, assim, para uma maior dinamização dos projectos de investigação sobre a História de Macau. Sobre este trabalho, com a devida vénea, passaremos a citar breves passagens do artigo de José Rocha Dinis, intitulado Uma Boa Base, publicado no "Jornal Novo", de 23 de Novembro de 1993: "Talvez sem a presença de importantes autoridades, e mesmo passando um pou-co despercebido no grande caudal noticioso local, vai realizar-se hoje um acontecimento de grande impor-tância para a preservação do património de Macau. Ao meio dia, na Biblioteca do Leal Senado [far-se-á a apre-sentação pública da] base de dados sobre a Imprensa de Macau, que numa primeira fase (...) vai permitir aos investigadores recolher dados na totalidade dos jornais do século 19, ali existentes. (...) Por isso damos os para-béns à Biblioteca Central e a todos quanto colaboraram na iniciativa, das entidades patrocinadoras - IPOR e ICM - ao conjunto de jovens que fez a pesquisa, e a quem poste-riormente os tratou".

Algum tempo depois, no dia 28 de Janeiro de 1995, após a Sessão de Abertura do Programa das Come-morações do I Centenário da Biblioteca Central de Ma-cau, foi realizada uma exposição bibliográfica intitulada Jornais Oitocentistas de Macau e efectuava-se o lança-mento do primeiro número da série Analíticos de Jornais integrada no "Boletim Bibliográfico de Macau" (consti-tuído, como já se disse aqui, por três séries: 1. Mono-grafias; 2. Periódicos; 3. Analíticos de Jornais) e que mais não era do que a informação da Base de Dados Sobre a Imprensa Escrita de Macau de Língua Portuguesa em suporte papel. Chegado o projecto ao limiar dos anos trinta deste século, o mesmo ficou suspenso tempo-rariamente por decisão do IPOR, organismo que supor-tava financeiramente este projecto.

A Biblioteca Central de Macau é hoje uma reali-dade firmada no Território, constituindo a Rede de Leitura Pública do Território, com um corpo de 72 fun-cionários e técnicos especializados em documentação e com um acervo na ordem das 250 mil espécies biblio-gráficas disseminadas por oito bibliotecas, duas de ma-triz portuguesa e seis de matriz chinesa. O seu dinamis-mo é fácil de perceber pelas suas inúmeras realizações, tanto na área técnica como no âmbito da extensão cul-tural. Apesar de funcionar como uma rede de biblio-tecas públicas, não deixa, contudo, de manter as prerrogativas e objectivos próprios de uma biblioteca nacional, nomeadamente, sendo a agência biblio-gráfica local ou a biblioteca normativa, em termos bi-blioteconómicos, para o Território, o agente distri-buidor do ISBN e ISSN, o organismo controlador e beneficiário do Depósito Legal, a entidade voca-cionada para a preservação das publicações de edição local, do seu tratamento técnico e da difusão da respectiva informação bibliográfica, através de uma publicação especializada como é o "Boletim Biblio-gráfico de Macau".

Longe está o tempo da Biblioteca de Macau poder ser considerada um armazém de livros, já que as condições que fazem dela uma biblioteca, na verdadeira acepção do termo, foram sendo conquistadas pro-gressivamente e porque a própria concepção universal de biblioteca se alargou. Nos nossos dias pretende-se que ela seja actuante junto das comunidades em que está inserida. Deve ser um organismo vivo e dinâmico, sempre atento às necessidades que as populações têm em termos culturais e informativos. Como a própria concepção de cultura e de saber se modernizou e se abriu a novos horizontes, a biblioteca tem de ser um espaço e um instrumento que albergue e facilite as novas tecno-logias de informação. É por isso que é fundamental, hoje em dia, o recurso à automatização das bibliotecas para cumprir, eficazmente, funções tão diversas como as aquisições, o tratamento técnico e o empréstimo dos documentos.

As exigências criadas pela necessidade de planear e equipar as bibliotecas, as novidades constan-temente anunciadas pela tecnologia (telemática, robó-tica, informática e os novos suportes de informação), aliadas a uma dinâmica de gestão que se encontra constantemente sujeita a uma avaliação dos serviços, ditam a necessidade de construir um perfil de bi-bliotecário vocacionado para um desempenho pro-fissional, alicerçado num saber mais orientado para o campo mediático, já que também o é a própria cultu-ra, não podendo continuar a ter a velha postura de um saber apenas alicerçado na leitura. A nova realidade exige uma formação técnica, um saber-fazer, cada vez maior aos bibliotecários, de forma a poderem orientar os utilizadores da biblioteca no usufruto de toda a diversidade de equipamentos que ela hoje em dia deve possuir.

É, pois, esta a senda que a direcção da Biblioteca Central de Macau tem tentado seguir. Consciente dos desafios que o futuro reserva, abrimos as portas à ino-vação e, apesar dos obstáculos que invariavelmente vão surgindo quando se pretende a mudança, tentamos prosseguir alimentados pela sensação de que, em Macau, o tempo é algo urgente, mas que na civilização actual o futuro é já hoje.

Biblioteca de Coloane

*Licenciado em História; especialista em Ciências Documentais; director da Biblioteca Central de Macau

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até a p.