Artes

DA CERÂMICA À PORCELANA
Shek Wan e as Caldas da Rainha

António Pedro Pires*

O Santo Lo Han Barro cozido 28 cm de altura (Shek Wan)

O Leal Senado de Macau, através do seu Museu Luís de Camões, levou a cabo entre 20 de Março e 6 de Maio duas exposições sobre Cerâmica Portuguesa do Séc. XIX e Cerâmica Portuguesa Contemporânea, com o objectivo de "dar continuidade à dinâmica da relação intercultural há anos encetada e que visa não só a divulgação das culturas em presença no Território, como também a apresentação das mesmas, num processo tendente a favorecer o conhecimento mútuo, em Portugal e na República Popular da China". (cf. António Conceição Jr. in "Catálogo da Exposição", Introdução).

Sabendo-se que existe uma "semelhança verdadeiramente assombrosa entre as linguagens naturalistas da cerâmica das Caldas da Rainha e da cerâmica de Shek Wan, semelhança até no próprio processo de fabrico, pergunta-se: ter-se-ão influenciado mutuamente as duas "escolas"? Como?"

Garrafa Forma de cabaça. Decoração em alto-relevo: lagartixa enrolada no bojo. Vidrado branco anilado, lagartixa verde e castanha. Alt. 340 mm Inv. MC 116 Ass. M.G. Bordalo Pinheiro, 1906. Marca: Fábr. Bordalo Pinheiro, 1907.

Com este pequeno artigo não pretendo responder à questão atrás formulada pela exiguidade de elementos que existem sobre o assunto, Pretendo apenas dar a conhecer ao público leitor de expressão portuguesa as principais etapas da evolução da cerâmica, sobretudo chinesa, passando pela invenção da porcelana, desenvolvimento do seu fabrico, aperfeiçoamento das técnicas e sua divulgação em toda a Europa levada a cabo inicialmente pelos portugueses que a transportaram em naus para Lisboa.

A INVENÇÃO DA CERÂMICA

Todas as opiniões que se têm emitido sobre a origem da cerâmica não passam de puras conjecturas. Talvez o homem, ao observar os efeitos do fogo em contacto com a terra molhada, tenha experimentado "cozer" algumas espécies de terra húmida. Talvez tenha secado o barro ao sol, tal como o adobe e, posteriormente, tornado impermeáveis alguns objectos servindo-se de máterias gordurosas.

Outros autores explicam a origem da cerâmica através da "impermeabilização" de objectos de cestaria revestidos de argila molhada, seca ao sol.

E, de experimentação em experimentação, fabricou os primeiros objectos de cozinha como substitutos dos recipientes de pedra, pesados, duros, pouco práticos. Os primeiros fornos, tal como se faz hoje para cozer a louça preta, devem ter sido talhados na terra.

O acaso, o desejo e a necessidade jogaram em conjunto para o homem conseguir fabricar a pasta em que foram moldados os primeiros vasos: - pasta amassada, talvez para construir as primeiras habitações.

Mas, qualquer que seja a sua origem, a invenção da cerâmica é, sem dúvida, um dos maiores triunfos culturais do homem e a fabricação de vasos, jarras, chávenas, taças, e potes de argila deve marcar o ínicio da ciência, pois para fabricar esses objectos o oleiro tem de calcular com precisão a quantidade das diversas substâncias que vai misturar com a argila, bem como a temperatura a que os objectos moldados devem ser cozidos, para não estalarem e para se tornarem resistentes e impermeáveis.

Na China, a invenção da cerâmica como "indústria" iniciou-se no terceiro milénio a. C. com a fabricação de recipientes de cozinha, taças para o vinho e, posteriormente, vasos sacrificiais. Logo de início, os imperadores aparecem associados ao desenvolvimento desta "indústria": Huang-Ti, o semi-lendário imperador amarelo, designou o ceramista Kun-Wu "superintendente da cerâmica". Yü Ti Shuen (2317-2208 a. C.), tido pelos chineses como "grande e bom imperador", apreciava extraordinariamente a cerâmica e o imperador Shun, antes de ascender ao trono, fabricava ele próprio objectos de cerâmica, em Hopin.

É graças aos sucessivos apoios imperiais que a cerâmica chinesa se desenvolve extraordinariamente atingindo uma grande perfeição na dinastia Chou (1122-256 a. C.). Os modelos mais antigos que se conhecem foram encontrados em túmulos. Através da Arqueologia sabe-se hoje que durante a dinastia Chou os chineses colocavam nos túmulos dos seus mortos três recipientes de barro contendo carne em salmoura, carne de conserva, carne às fatias, dois vasos com vinho e outras bebidas alcoólicas, para além de roupas, armas, espelhos e objectos de jade. É graças à "louça dos mortos" que nós hoje podemos reconstituir a evolução da cerâmica.

Não se encontra povo algum que abandone os seus mortos. Mesmo quando existe a prática de os lançar ao mar, impera a crença na sua sobrevivência: é o regresso às águas uterinas, originais, à experiência primeira do ventre materno, às águas do renascimento que contêm todos os segredos da vida. E, também nesse caso, eram lançados ao mar juntamente com o cadáver, objectos que o defunto necessitava na outra vida. Todas as práticas relacionadas com a sepultura dos mortos (ou em terra, ou no mar), testemunham a crença na sua sobrevivência, numa vida idêntica à da terra.

Para os chineses, também a vida no Além era uma continuação da vida na terra. No Paraíso, o defunto mantinha os mesmos desejos e necessidades da existência terrena no comer, vestir, beber, conviver. E, como a sorte dos vivos dependia da alegria e bem-estar dos seus defuntos, colocavam-se no túmulo objectos de madeira, de bronze ou barro - (cavalos, criados, bailarinas, taças, panelas) - necessários à satisfação das suas necessidades. A vida quotidiana era projectada na morte, inclusive as relações de classe: haverá chefes e súbditos, senhores e escravos, ricos e pobres. A casa do defunto será o reflexo da sua casa enquanto vivo. (Por isso se encontraram nos túmulos estatuetas de criados, camelos carregados de mercadorias, cavalos, casas ricamente mobiladas).

O culto dos antepassados contribuiu extraordinariamente para a produção e aperfeiçoamento da cerâmica, de tal modo que no reinado do imperador T'ai Kung (627-649 A. D.) se entra numa autêntica competição na manufactura de "mobília" e objectos para os túmulos, vendo-se o imperador obrigado a promulgar um decreto imperial limitando a quantidade e tamanho das peças que podiam acompanhar cada defunto à sepultura.

Associada ao desenvolvimento da cerâmica, sobretudo à sua "industrialização", está a roda do oleiro. Os chineses reivindicam para si a sua invenção....

Nada há que permita fundamentar esta tese. Talvez tenha sido descoberta quase em simultâneo, em várias regiões do globo e, nalguns casos, muito antes da China. É praticamente certo que a cerâmica egípcia da Quarta Dinastia (3200 a. C.) usou a roda na sua confecção e é evidente o seu uso na cerâmica de Minoam em Creta, datada do ano 3000 a. C.. Documentos chineses da dinastia Chou apenas permitem concluir que durante esse período se distinguiam profissionalmente os artesãos que moldavam o barro dos que trabalhavam com a roda.

Esta tradição ceramista foi-se desenvolvendo gradualmente ao longo dos séculos e é ainda na dinastia Chou que os oleiros começam a aplicar um vidrado não poroso nos recipientes de argila. Têm sido encontrados em túmulos objectos datados do século III a. C. parcialmente cobertos dum vidrado verde-cinzento. (Modelos de casas, animais e figuras).

Estava aberto o caminho para a invenção da porcelana....

E é aqui que reside a grande diferença entre a civilização chinesa e outras que a precederam, como as do Egipto, Mesopotâmia, Minoam, Jomon (Japão). Enquanto estas desapareceram, a chinesa estende-se para além do Quarto Milénio a. C., desenvolvendo uma tradição artística sempre em crescendo, numa continuidade inquebrável ao longo dos séculos até aos dias de hoje.

E a descoberta em Zhoukoudian, perto de Pequim, em 1920, do "homo pequinensis", - (a quem se atribui uma idade entre 300000 e 500 000 anos) - numa gruta atulhada onde abundavam os instrumentos de pedra, de mistura com ossos queimados; do homem de Lan-T'ien - (com cerca de 600 000 anos) - encontrado perto de Shian em 1963 e 1964, a par de descobertas recentes de vários espécimes do homem de Neanderthal em diversas zonas da República Popular da China, mais confirmam a crença de que a civilização chinesa contemporânea é o produto final dum processo histórico contínuo.

A PORCELANA

Tal como com a cerâmica, não há unanimidade em atribuir uma data à invenção da porcelana, Alguns especialistas europeus põem em dúvida a existência da porcelana antes da dinastia T'ang (618-906 A. D.). Mas ninguém contesta que foram os chineses os primeiros a fabricá-la.

A palavra "porcelana" em chinês é expressa pelo carácter Tz'ü (瓷), datado do século III A. D. Mas as primeiras peças devem ter sido fabricadas algumas centenas de anos antes, durante a dinastia Han (206 a. C. - 219 A. D.), pois as proto-porcelanas são classificadas como objectos Yüeh (antigo Yüeh-Chou em Shaoshin) por aí ter sido encontrado um forno destas proto-porcelanas. Escritos dessa época descrevem os objectos fabricados em Yüeh-Chou como "tão translúcidos como o jade" e "ressonantes como um aparelho musical".

Os dicionários mais antigos definem a porcelana (Tz'ü - 瓷) como "loiça fina e compacta" noção que não está totalmente de acordo com a concepção europeia, para quem a porcelana tem de ser feita de caulino e feldspato e apresentar um aspecto translúcido.

"Mofina Mendes" Em pé sobre base rectangular de ângulos côncavos. Os braços levantados seguram o capote sacudido pelo vento. Na base, pote fracturado e musgo. Inscrição: "Que todo o humano deleite/como o meu pote de azeite/Há-de dar contigo em terra/Gil Vicente/1534", Vidrado polícromo sobre base castanha. Braços e rosto não vidrados. Alt. 295 mm Inv. MC278 Ass. M.G. Bordalo Pinheiro 1916 Marca: Fábr. Bordalo Pinheiro

Segundo S. Bushell, os chineses chamam a "qualquer peça fina e compacta Tz'ü, se ela produzir uma nota clara e ressonante na percussão, sendo este praticamente o teste da porcelana". Ora "assim é muito difícil distinguir recipientes vidrados da cerâmica chinesa, da verdadeira porcelana" (1).

Lo Han com vista de lince Barro vidrado 1949 14cm de altura (Shek Wan)

Na Europa, a origem da palavra é portuguesa e deve-se a um tal Odoardo Barbosa que, no regresso de uma viagem à China em 1516, ao explicar as técnicas do seu fabrico e os materiais que entravam na sua confecção, referiu a "porcelana" - molusco gastrópode, de concha univalve, muito brilhante.

Foram necessárias muitas experimentações para se chegar ao fabrico da porcelana. As substâncias principais que entram na sua confecção são o caulino e o pentutsé. A palavra "caulino" deriva das montanhas onde foi descoberto perto de Ching-Tê-Chên. "Pentutsé", é uma versão europeia das palavras chineses pai-tun-tz'ü, substância semelhante ao caulino, mas com o feldspato menos decomposto, transformando-se numa espécie de vidro quando vai ao fogo.

Vaso de loiça com réptil à volta Época Jia Qing (Dinastia Ming) Jing De Zhen. Província Jiang Xi.

Altura: 14,1 cm Diâmetro do topo: 1,8 cm Diâmetro de base: 4,6 cm (Ofertas da China ao Museu Luís de Camões)

Era necessário calcular cuidadosamente a quantidade de caulino e pentutsé, dissolvê-los em água com pequenas quantidades de outras substâncias e deixar essa massa a repousar durante muito tempo, como que a "fermentar". Só depois o "barro" era amassado, como se faz com o pão para conseguir uma massa compacta e uniforme, liberta de bolhas e impurezas, pois de outro modo o fogo prejudicaria a peça tão carinhosamente tocada, preparada, criada!

Figura de movimento - "Zé Povinho" Em pé sobre base semi-esférica.

Inscrição na barriga: "Impostos", Vidrado polícromo. Mãos e rosto não vidrados.

Alt. 245 mm Inv. MC 232 Marca: F.F.C.R. 1895 (Caldas da Rainha)

Antes de ir ao forno, os objectos moldados ou "rodados" ficavam a secar durante muito tempo e quando estivessem bem secos, era-lhes aplicado um vidrado antes de serem metidos no forno para serem cozidos a uma temperatura elevadíssima, que variava com o tamanho das peças, sua complexidade e decoração. O cozimento demorava entre 36 horas e um máximo de 20 dias, arrefecendo depois o forno muito lentamente.

Imaginemos os conhecimentos científicos que já eram exigidos para fabricar os primeiros objectos de porcelana! (ao nível da resistência dos materiais, pesos, medidas, temperatura...)

É durante a dinastia T'ang (618-906 A. D.) que a fina arte da porcelana conhece um grande incremento através do apoio prestado pelos sucessivos imperadores. O fundador da Dinastia ordena que ela seja fabricada em Ch'ang-nan-chên (a moderna Ching-tê-chên) situada na margem sul do rio Ch'ang e que daí seja enviada para a capital para uso do Palácio. Um escritor árabe que visitou a China no século IX, descreve deste modo a porcelana: "Há na China um barro muito fino com o qual eles fazem recipientes que são transparentes como vidro. Vê-se a água através deles"(2).

Na própria China os relatos oficiais dessa época descrevem os objectos de porcelana como sendo feitos de barro branco, de fabrico muito fino e os melhores de cor tão brilhante e pura como o jade, de tal modo que eram conhecidos como "falsos vasos de jade".

Com o decorrer dos anos, Ching-tê-chên torna-se o maior centro de cerâmica da China, merecendo a protecção imperial desde cerca de 1400 até à República (1912). Ao lado dos fornos imperiais constroi-se uma grande quantidade de fornos privados.

De Ching-tê-chên a porcelana era transportada de barco para o Lago Po-Yang, donde seguia para Kinkiang no Rio Yang-tz'ü. Era deste porto que os carregamentos partiam para todas as regiões do imenso Império do Meio. No entanto alguma porcelana era produzida para uso exclusivo do imperador sob o nome de Kuan Yao, seguindo carregamentos duas vezes por ano para a capital através do Grande Canal.

Mas produz-se também porcelana para exportação. Através das duas rotas da seda (Cantão-Ceilão-Golfo Pérsico; Tártara: Mongólia - fim do mar Cáspio - Polónia) alguma porcelana chegou aos Países do Médio Oriente. Encontram-se peças do século XIV e XV no Santuário Persa de Ardebil e em Topkapu Serai (Istambul).

Enquanto os chineses desenvolviam a produção da porcelana, outros povos (árabes, bizantinos, persas) aperfeiçoavam o fabrico da faiança.

Após a conquista da Península Ibérica, os árabes aperfeiçoaram as técnicas de fabrico duma faiança colorida, translúcida, esmaltada. E, simultaneamente, o azulejo como elemento decorativo, sobretudo em palácios e templos.

PORCELANA PARA A EUROPA

Os primeiros a introduzir a porcelana (chinesa) na Europa, foram os comerciantes portugueses. Para eles fabricaram os chineses as primeiras peças de porcelana azul e branca, sendo a mais conhecida uma jarra com a esfera armilar, brasão de D. Manuel I. A melhor e mais fina, inicialmente era adquirida em Neng-Pó (Liam-Pó) por um preço extremamente barato. Parte dela seguia para o Japão juntamente com carregamentos de seda e era vendida em troca de prata.

A restante era transportada para Lisboa que nessa altura era o "depósito de todas as maravilhas chegadas do Oriente". A parte da R. Nova e R. dos Ferros não ocupada pelos ourives do ouro e lapidários era "ladeada de ricos estabelecimentos onde se vendiam livros, porcelanas, veludos, sedas e muitos outros artigos, principalmente procedentes da China e Japão" (3).

Após o massacre de toda a população cristã de Neng-Pó em 1545, os portugueses que conseguiram escapar procuraram outro local mais a sul, desembarcando nas Ilhas Sanchuão e Lampacau, donde negociavam com os comerciantes da costa, até se estabelecerem definitivamente em 1553 num lugar chamado Amagau (actual Macau).

Foi a partir de Macau que a porcelana continuou a chegar a Lisboa, transportada em carracas. De Lisboa seguia para os restantes países da Europa onde era conhecida por louça "carraca", em virtude de ser transportada pelos portugueses nesse tipo de embarcação.

Entretanto, os holandeses decidem comerciar directamente com a China e começam a atacar possessões e barcos portugueses. A carraca "Santa Catarina" é aprisionada, quase totalmente carregada de porcelana que é vendida em Amesterdão. E, a pouco e pouco, a porcelana inunda a Europa transportada não só nos barcos portugueses, mas também nos holandeses e ingleses, que fundam em 1599 a Companhia das Índias Orientais, embora só cheguem à China em 1631.

No século XVIII os ceramistas chineses iniciam a produção de peças com motivos europeus (palácios, cenas da corte, brasões de família, paisagens, bailarinas). A sua técnica estava de tal maneira desenvolvida que conseguiam imitar e reproduzir fielmente tudo o que lhes fosse apresentado, embora não tivessem ideia do que aquilo significava. Por exemplo, reproduziram motivos religiosos apresentados pelos missionários jesuítas, nomeadamente cenas da crucificação, ascensão de Jesus aos Céus, a Virgem Maria, os Apóstolos,... (É a conhecida "porcelana jesuíta").

Entretanto, ainda no início do século XVIII a França e a Alemanha conseguem fabricar os primeiros objectos de porcelana. Na segunda metade do século, as fábricas desses países (e também da Inglaterra) produzem já porcelana em larga escala. A partir de 1780, a exportação de cerâmica chinesa para a Europa entra em declínio, em virtude de o mercado ficar saturado pela oferta das fábricas europeias, sobretudo inglesas.

Mas, se foram os portugueses os primeiros a conhecer, tocar e comercializar a porcelana; se possuíam o segredo da matéria-prima, das técnicas do esmalte e cozedura; se em 1569 Frei Gaspar da Cruz descreveu todo o processo para o seu fabrico, por que não foram eles os primeiros a produzi-la na Europa, eles que bem cedo fabricaram em Lisboa charões e mobílias chinesas, a ponto de essas peças serem tão perfeitas como as originais vindas do Oriente?

Talvez lhes ficasse mais barato importá-la que produzi-la. E como era fácil a sua aquisição foram desenvolvendo o fabrico de faianças de qualidade. No fim do século XVI as faianças portuguesas primam já pela perfeição e são duma qualidade notável, com motivos inspirados nas louças orientais transportadas para Lisboa nas naus portuguesas.

Enquanto a China desenvolvia e aperfeiçoava a técnica do fabrico da porcelana e diversificava os modelos e motivos, em Portugal os artistas ceramistas preferiram desenvolver a faiança e o azulejo ao ponto de, no século XIX, Portugal ser - na expressão de alguns autores -, um "País revestido de azulejo".

O encontro entre a cultura chinesa e a portuguesa alterou nalguns aspectos a fisionomia dos continentes europeu e asiático, pela troca de produtos, pela descoberta doutros valores, doutra maneira de se relacionarem com o mundo e com a vida.

Tal como no Período dos Descobrimentos, o intercâmbio de objectos de cerâmica hoje promovido através do comércio, feiras, exposições, visitas de artistas, o conhecimento das novas tendências ao nível dos materiais, técnicas e motivos, alargará ainda mais o conhecimento mútuo e a amizade entre os dois povos.

Com o Ciclo de Exposições sobre "Cerâmica Portuguesa do século XIX" e "Cerâmica Portuguesa Contemporânea", - (na sequência de outras levadas a cabo em Macau e em Portugal, nas Caldas da Rainha, sobre Cerâmica de Shek Wan, do Mestre Lao Chin e seu filho Lao Kwai Peng) - pretende o Leal Senado de Macau, através do Museu Luís de Camões aprofundar o diálogo entre as culturas portuguesa e chinesa. E, tal como nos séculos passados, é mais uma vez Macau que estabelece a ponte entre a China e Portugal.

BIBLIOGRAFIA

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Brown, Roxana M. - "The Ceramics of South-East Asia", Selangor, Malásia, Oxford Univ. Press, 1977.

Bushell, Stephen W. - "Chinese Pottery and Porcelain", Selangor, Malásia, Oxford Univ. Press, 1977.

Capon, Edmund - "Art and Archaeology in China", Austrália, Macmillan Company, 1977.

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França, José Augusto - "A Arte Portuguesa de Oitocentos", Lisboa, Ed. ICALP, s. d..

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Mauss, Marcel- "Manuel d'Etnographie", Paris Ed. Payot, s. d..

Morin, Edgar - "O Homem e a Morte", Lisboa, Publicações Europa-América, s. d..

Munsterberg, Hugo - "The Arts of China", Tokyo Ed. Charles E. Tuttle Company,1972.

Titiev, Misha -."Introdução à Antropologia Cultural", Lisboa, Ed. Fundação C. Gulbenkian.

Treitsman, Judith - "The Pre-History of China", Great Britain, Ed. David and Charles, 1972.

Yap, Yong and Cotterell, Arthur - "Chinese Civilization", London, Ed; Weidenfeld and Nicolson, 1977.

NOTAS

(1) - Stephen Bushell, "Chinese Pottery and Porcelain", Selangor, Malásia, Oxford Univ. Press, pg. XII, 1977.

(2) - Idem, pg. XIV.

(3) - Freire de Oliveira,"Elementos para a História do Município de Lisboa", I parte, tomo IX, pg. 294 in José Queirós, "Cerâmica Portuguesa", Vol. I, 2ª. Edição, Aveiro, Ed. José Ribeiro.

* Antropólogo; investigador do Museu Luís de Camões.

desde a p. 53
até a p.