Linguística

O CONDE DE BEAUVOIR E MACAU (FEVEREIRO DE 1867)

Denis Lombard*

Ludovico de Beauvoir nasceu em Bruxelas em 1846. O seu pai, o Marquês de Beauvoir, estava afecto à família de Orleães, e mais precisamente à do Rei Luís Filipe que foi deposto pela Revolução de 1848. Mal terminou os estudos — tinha ele apenas vinte anos — foi decidido que acompanharia, numa viagem à volta do mundo, o Duque de Penthiève, filho do Príncipe de Joinville (e neto de Luís Filipe). Precisemos que Francisco Fernando de Orleães, Príncipe de Joinville, havia desposado em 1843 a Princesa Francisca, filha do Imperador do Brasil; o Duque de Penthiève, Pedro Filipe João Maria, nascido em Saint-Cloud em 1845 (e apenas alguns meses mais velho que Ludovico), era portanto português pelo lado da sua mãe e, como será dito mais adiante, "primo do Rei de Portugal".

Tendo partindo no mês de Abril de 1866, os dois jovens visitaram sucessivamente a Austrália, a ilha de Java, o Sião, Hong-Kong, Macau e Cantão, depois a China do Norte, o Japão e a Califórnia e voltaram para França no mês de Setembro de 1867. Logo em 1869, Ludovico de Beauvoir publicou dois volumes intitulados Australie et Java, Siam, Canton, que tiveram um grande sucesso e numerosas reedições. Em 1870, participou na Guerra contra a Alemanha, entrando depois na diplomacia no início da Terceira República. Em 1876, era chefe de gabinete do Duque Decazes, Ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1872, tinha feito publicar a terceira parte da sua viagem à volta do mundo, sob o título de Pékin, Yeddo, San Francisco, que teve igualmente um dos mais vivos sucessos. A "trilogia" obteve um prémio da Academia Francesa.

Bem recebidos, em Fevereiro de 1867, pelas autoridades de Macau, e pelo próprio Governador, Dom José da Ponte e Horta, que põe uma canhoneira à sua disposição, os jovens viajantes visitam todos os "grandes lugares": a Praia Grande, a aldeia de Mong-Há, o Senado, os fortes, as igrejas, os antros de jogo e, naturalmente, a Gruta de Camões, onde notam já a inscrição acrescentada pelo francês Luís Rienzi... Mas o verdadeiro interesse da narrativa consiste no facto de eles visitarem igualmente os "Barracões" que servem de depósito para os cúlis chineses que serão brevemente vendidos e enviados para o além-mar... Um "comércio" pouco glorioso que fazia na época a fortuna de Macau a cuja própria lembrança parece hoje quase abolida.

* Ministério da Educação Nacional, Escola Superior de Ciências Sociais, Divisão Cultural (França).

desde a p. 96
até a p.