Imagem

A SINOLOGIA PORTUGUESA: UM ESBOÇO BREVE

António Aresta *

Leôncio Alfredo Ferreira (1849-1920).

A Sinologia, isto é, o conhecimento pluridimensional da civilização chinesa, é uma das parcela mais esquecidas no âmbito da cultura portuguesa não obstante Portugal ter sido o primeiro país europeu a estabelecer relações comerciais e diplomáticas com a China imperial.

A sinologia portuguesa tem as suas raízes em Macau, esse pequeno e estratégico enclave onde os portugueses se fixaram em meados de 1556-1557. A própria história de Macau, um verdadeiro tratado de sobrevivência política, reflectiu sempre a periclitante legitimidade jurídico-política que pairava sob o exercício da soberania, pelo que as manifestações culturais para além de escassas eram inconstantes.

A grande excepção à regra terá sido a criação, pelos jesuítas, do Colégio Universitário de S. Paulo, justamente considerado como a primeira universidade de raiz ocidental no Extremo Oriente.

Como refere Domingos Maurício, "pelo movimento da sua população interna, entre professores, estudantes e missionários em regime de descanso, de aprendizagem de idiomas ou em trânsito, o Colégio de S. Paulo, ao menos por toda a primeira metade do século XVII, segundo informava Caldeira Rego, em 1623, era'em edifício, número e qualidade de sujeitos, uma das maiores e mais graves casas de Religiosos' que havia no Oriente"1.

E a vocação doColégio deveria ser a de preparar os homens que inam missionar e evangelizar no Japão e na China. Para cumprir esses objectivos magnos era imperioso o conhecimento da língua e da cultura desses países. Esta estratégia elementar não foi muito bem aceite pelos jesuítas instalados em Macau, ciosos da jurisdição moral e intelectual da cultura de que eram portadores, que desobedeceram às ordens do Visitador Alexandre Valignano que, em 1585, escrevia de Goa ao Bispo de Évora, D. Teotónio de Bragança,no sentido de se impor a obrigatoriedade no estudo da língua e cultura chinesas.

Este trabalho de persuasão de Alexandre Valignano tem sido muito pouco explorado2, por motivos que talvez se adivinhem. O certo é que depois de Miguel Ruggieri ter dado o exemplo, a dimensão asiática institucionalizou-se em termos académicos e tornou-se indissociável dos objectivos da evangelização e da missionação. E por ali passaram Mateus Ricci, Adam Schall von Bell, João Rodrigues, Tomás Pereira, Álvaro Semedo, Duarte de Sande, Gabriel de Magalhães, entre tantos outros, um verdadeiro escol de primeira grandeza.

Mandado encerrar na sequência da política pombalina antijesuítica em 1762, viria a ser consumido por um grande incêndio em 26 de Janeiro de 1835. Se o Colégio de S. Paulo teve uma importância excepcional em termos de animação cultural, pedagógica e religiosa, foi, no entanto, incapaz de preparar uma geração de orientalistas e de sinólogos para a sociedade civil.

Uma conjuntura política de instabilidade permanente e a obcessão pelos trabalhos evangélicos serão, porventura, as razões desse fracasso.

A extinção do Colégio de S. Paulo foi o princípio do fim da sinologia portuguesa de feição religiosa, sobretudo da sua internacionalização. Desde então, a sinologia portuguesa tem sido uma aventura individualista, brilhante e pioneira em muitas áreas, mas sempre incapaz de fazer escola e de formar discípulos.

Macau, ao tempo, já era uma encruzilhada civilizacional e a primeira janela europeia aberta na China. Como ponto de apoio para a demanda exploratória do continente chinês, muitos foram os estrangeiros que receberam a hospitalidade dos portugueses de Macau e cujos registos não devem ser ignorados 3, pelo contrário, devem ser considerados como fontes auxiliares da história de Macau.

Algumas obras essenciais para o conhecimento da China irão, entretanto, surgindo e cujas traduções em línguas estrangeiras dão a exacta medida do seu valor: a título de exemplo, podem citar-se o Tratado em que se Contam Muito por Extenso as Coisas da China (1569) de Gaspar da Cruz, o excelente Tratado do Reino da China (1590) de Duarte de Sande, a Relação da Grande Monarquia da China (1637) de Álvaro Semedo, a Ásia Extrema (1664) de António de Gouveia ou a Nova Relação da Grande Monarquia da China (1688) de Gabriel de Magalhães. Existem muitas outras obras 4 a carecer de edições modernas para que fiquem acessíveis aos interessados. E uma das obras mais curiosas do ponto de vista sociológico é a Relação da Conversão a Nossa Santa Fé da Rainha e Príncipe da China e de Outras Pessoas da Casa Real que se Baptizaram no Ano de 16485, presumivelmente da autoria de Matias de Maia, padre jesuíta.

Será preciso esperar pelo tardio liberalismo macaense para que os estudos sínicos ganhem um renovador alento. O Leal Senado de Macau, dadas as suas responsabilidades administrativas e políticas, celebra um contrato, em 3 de Julho de 1795, com o Padre Rodrigo da Madre de Deus, obrigando-se este "a fazer todas as Chapas que forem necessárias por serviço desta Cidade em língua chinesa, traduzir as que se receber em Português, encarregar-se do Cartório Sínico e de ensinar uma ou mais pessoas (sendo Português ou seus filhos) que possam servir a Cidade no seu impedimento ou caso de se retirar para a Europa, assistir pessoalmente às conferências que se julgarem precisas ao serviço da Cidade, vencendo o ordenado de trinta patacas por mês (...)"6. Anos volvidos, o Padre Rodrigo da Madre de Deus apresenta ao Procurador do Senado, José Joaquim Barros, a sua demissão alegando profundas divergências quanto à forma da governação da cidade, em especial no respeitante ao prestígio dos portugueses: "Por esta vou despedir-me de Vossa Mercê visto não me ser possível ir cumprir pessoalmente com este dever, pelos motivos que a Vossa Mercê são manifestos. As coisas pertencentes ao Cartório Sínico cá ficam no quarto do Escrivão; e este fica pago adiantado até ao fim do mês e também cá lhe mandei dar dinheiro para as suas comedorias até ao fim do mesmo. Também no meu quarto ficam as penas e papel de várias qualidades pertencentes a quem for meu sucessor, que estimarei sirva Vossa Mercê e a Cidade melhor do que eu os tenho servido. Eu penso que vão ter guarnição Chinesa nas Fortalezas e a sofrer outras muitas vexações e humilhações da parte dos Mandarins, para então infrutuosamente se arrependerem de não ter sinceramente concorrido para que as Tropas Inglesas ficassem em Macau. Agora conhecerão a diferença que vai de ter alguma sujeição à mais nobre e mais honrada de todas as Nações, ou ficar como Cativo de uma vil Nação de Rabo que em recompensa dos bons Ofícios que Vossa Mercê lhe tem prestado, os há-de vilipendiar e fazer mil desprezos, vindo desta sorte os Orientais que sempre foram súbditos dos Europeus, a ser seus Senhores. Pague Deus a quem é causa desta indigna humilhação e abatimento da Nação Portuguesa em Macau, que eu por não presenciar as indignidades que estou prevendo, me ausento para sempre desta infeliz terra"7. Ao Governador irá explicitar com mais pormenor as motivações que presidiram à sua saída intempestiva de Macau: "O intratável ódio que os chineses me têm, na errada persuasão em que os puseram de que eu fora o motor da vinda das Tropas Britânicas à China, o pejo e o rubor que tenho de ser visto ainda a rosto descoberto por aqueles mesmos, que há poucos dias me viram entre as mãos da vil população Chinesa, arrastar, com cadeias de ferro pelas ruas públicas desta Cidade, o receio, que continuamente me acompanha de sofrer algum outro novo insulto, visto não se haver pedido uma satisfação aos Mandarins, nem eles haverem retornado ainda o recibo da entrega da minha pessoa ao Procurador da Cidade. A desconfiança em que vivo de que a Governança da Cidade me não possa defender contra o poder dos Chineses, não obstante o reconhecido valor de V. S.ḁ e finalmente o grande número de partidistas Franceses que há nesta Cidade, donde me veio todo o mal. Todas estas razões, III. ō Snr., são bastantemente fortes para me excitarem a fugir desta terra, cuja povoação certamente teria muito que padecer por meu respeito ou nesta conjuntura, ou em outra qualquer implicância entre a Cidade e os Mandarins, visto não quererem estes que se lhes diga a verdade. Portanto espero que V. S. a releve o mal que (se assim o julga) faço em ausentar clandestinamente de Macau. Eu faço ciente o nosso Monarca dos motivos desta minha deliberação, assim como julgo V. S. a e o Ill. ° Senado o farão e' penso que Sua Alteza a não há-de desaprovar, na consideração de não haver nesta Cidade forças suficientes para defender os seus Vassalos contra os insultos desta bárbara Nação. Com esta deixo a V. S." uma Chapa chinesa para com ela responder às impertinentes questões que talvez lhe movam os Mandarins em consequência da minha retirada. De resto, aqui e em toda a parte serei sempre leal à minha Nação e aos seus íntimos aliados"8.

Estas duas cartas do Padre Rodrigo da Madre de Deus, independentemente do universo axiológico que delas transparece, mostram à evidência que os estudos sínicos, na alçada do Cartório Sínico, eram um instrumento político e não uma instituição cultural ao serviço de interesses mais diversificados. Os solavancos na condução dos negócios políticos repercutiam-se no Cartório Sínico, impedindo qualquer planificação cultural a médio prazo.

As diligências do desafortunado Padre Rodrigo da Madre de Deus parece que surtiram algum efeito na Corte, em Lisboa. A longa duração do tempo imperial trouxe uma surpresa, passados quase trinta anos e nestes precisos termos: "Manda Sua Magestade, a Rainha, pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, participar ao Padre Joaquim José Leite, Reitor do Colégio e Procurador das Missões da China em Macau, que no navio 'Novo Viajante', vão apresentar-se-lhe, paga a passagem pelo Estado, os dois Minoristas, Joaquim José Chaves e José Maria Romão, para se aplicarem aos estudos e serviço das Missões; cumprindo que se empreguem os maiores esforços para que eles pelo conhecimento das línguas, principalmente a chinesa, e pelo das ciências, para o ensino das quais existem Professores, se habilitem a entrar e missionar no Império Chinês; o que a Mesma Augusta Senhora muito Deseja e Recomenda para se tirar da Missão de Macau o proveito que se teve em vista na sua instituição, e que é ainda hoje motivo para se conservar e favorecer. Por esta ocasião e sendo óbvias as vantagens que se podem tirar das traduções dos Livros Chineses que contenham conhecimentos úteis, Ordena Sua Magestade que os Professores daquela língua e principalmente o Padre Joaquim Afonso Gonçalves se empregue nas ditas traduções, dando anualmente conta do progresso de seus trabalhos pela referida Secretaria de Estado e remetendo as traduções concluídas para se imprimirem à custa do Governo. Também Sua Magestade Deseja e Quer que no Colégio de S. José se forme um Museu dos produtos mais raros que se puderem haver do Império da China e de quaisquer outros que por suas qualidade e raridade se façam merecedores de entrar em colecção (...)"9.

Ao que tudo indica, seria esta uma verdadeira revolução copernicana quanto ao âmbito, valor e importância da sinologia e dos estudos sínicos em geral. Pela primeira vez eram expedidas indicações concretas e objectivas no sentido de transferir os estudos sínicos da esfera política para a esfera cultural. A Corte tinha-se apercebido que pelos caminhos da cultura e das relações culturais se poderiam obter ensinamentos preciosos e vantagens pragmáticas a utilizar na condução dos negócios políticos.

Assim, dois dias depois, a Rainha faz expedir novas recomendações que ampliam as anteriores: "Manda Sua Magestade a Rainha, pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, recomendar ao Governador de Macau a formação de uma Livraria composta principalmente de Livros e Mapas chineses, japoneses, ou escritos em outras línguas orientais, a benefício da qual vão trabalhar os Padres Missionários da China, como constará ao dito Governador, da Portaria inclusa por cópia, que em data de 14 do corrente se dirigiu ao Superior das Missões, na qual contudo Ordena a Mesma Augusta Senhora, se altere a cláusula de serem remetidas as traduções à dita Secretaria de Estado para serem impressas neste Reino, pois que é mais conveniente o sejam nessa Cidade, debaixo das vistas e correcção do Tradutor, o que o sobredito Governador lhe fará constar oficialmente. Também Sua Magestade Manda recomendar a formação de um Museu, que haja de compreender os mais raros produtos orientais convidando-se os moradores a concorrerem para ele; e ultimamente a de um pequeno Jardim Botânico, destinado principalmente para a cultura das plantas medicinais de que usam os chineses (...)"10.

Neste inovador contexto cultural, caberá ao erudito Padre Joaquim Afonso Gonçalves (1781-1841), transmontano de Tojal, um papel de grande protagonismo nos estudos linguísticos e lexicográficos. Aportou a Macau em 1813 com ordens de ir para Pequim dados os seus grandes conhecimentos de música e de matemática. No entanto a autorização para prosseguir viagem até à capital do Império do Meio não lhe foi concedida, pelo que ficou em Macau. Foi membro da Real Sociedade Asiática de Calcutá, da Academia Real das Ciências de Lisboa, tendo sido condecorado com o título de Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. A sua obra é extensa e notável: Grammatica Latina, ad Usum Sinensium Juvenum (1828); Arte Chinesa, Constante de Alfabeto e Gramática, Compreendendo Modelos das Diferentes Composições (1829); Dicionário Português-Chinês, no Estilo Vulgar Mandarim e Clássico Geral (1831); Dicionário Chinês-Português, no Estilo Vulgar Mandarim e Clássico Geral (1833); Vocabularium Latino-Sinicun, Pronuntiatione Mandarina Litteris Latinis Expressa (1837); Lexicon Manuale Latino-Sinicum, Continens Omnia Vocabula Utilia et Primitiva Etiam Scriptae Sacrae (1839); Lexicon Magnum Latino-Sinicum, Ostendens Etymologiam, Prosodiam et Constructionem Vocabulorum (1841). Ficaram, ainda, inéditas após a sua morte duas obras cujo rasto se perdeu: Versão do Novo Testamento em Língua Chinesa e um Dicionário Sínico-Latino.

O reputado sinólogo francês Abel Remusat fezçsta apreciação, no "Journal des Savants", no número de Setembro de 1831: "O P. Gonçalves, da Congregação da Missão, de Macau, é autor de uma obra sobre o estudo da língua chinesa, intitulada Arte Chinesa. Para ministrar aos estudantes todos os meios necessários para iniciar o estudo prático da língua chinesa, tanto falada como escrita, compôs três volumes: uma gramática, um dicionário chinês-português, outro português-chinês, nos quais apresenta ao público quatro ideias fundamentais, relativas à interpretação dos caracteres e à sua classificação. Por uma forma nova análoga àquela que tinha proposto Montucci, ele reduziu a 121 os 214 radicais usados ordinariamente nos dicionários. Redigiu um catálogo de 1300 grupos fonéticos que ele chama diferenças.

A este catálogo que ocupa 74 páginas e que contém 1411 sinais, chama ele alfabeto chinês. Mas a Arte Chinesa não se reduz apenas a um simples manual de etimologia. Aí se encontram exemplos de estilo literário e vulgar, uma gramática, uma tábua de partículas, 44 diálogos, trechos de história e de mitologia, modelos de peças oficiais, de estilo epistolar e de escrita cursiva, frases selectas em estilo mandarim e cantonense. (...) Seria injustiça não reconhecer a obra de um literato tão versado na sua arte. Basta o seu primeiro volume para lhe assegurar um lugar distinto entre Varo e Prémare e os doutores Marhsman e Morrinson"11.

Algumas obras do Padre Joaquim Afonso Gonçalves foram traduzidas para a língua francesa, pelo conde de Kleczkowoski em 1876 e por A. Hamelin em 1878. A sua obra não mereceu estudo algum até aos dias de hoje, sequer uma edição fac-similada. É caso para se dizer que santos da casa não fazem milagres...

João Rodrigues Gonçalves (1806-1870).

Este monumental labor científico do Padre Joaquim Afonso Gonçalves não teve continuidade porque não conseguiu criar discípulos com perseverança para arcarem com essa árdua e absorvente tarefa. O reconhecimento, também o aproveitamento, do seu trabalho veio do estrangeiro, da Europa culta.

A sinologia e os estudos sínicos, como se verifica, vão sobre-vivendo mercê de alguns vultos fulgurantes que fazem obra mas não criam discipulato. Talvez na organização do ensino e da educação se possam encontrar ãlgumas pistas fecundas.

O Rei D. Pedro, em 1856, faz publicar uma lei reorganizadora da educação e instrução do clero ultramarino: "A educação e instrução do Clero e a preparação de Missionários para as Dioceses e Missões do Real Padroado na Ásia, África e Oceania será feita em um Colégio Central de Missões, estabelecido no Reino e nos Seminários já existentes ou que de futuro se estabelecerem nas referidas Dioceses (...) procurando-se suprir a falta de Liceus e de outras aulas públicas de disciplinas, cujo ensino seja necessário estabelecer, segundo as circunstâncias especiais de cada localidade"12.

A intenção parecia boa porque com a organização doensinoera possível assegurarumalinha de continuidade natransmissão dos conhecimentos, naclarificação dos valores em ordem a uma separação de poderes, poderes esses reprodutores dos modelos sociais vigentes. Esta mecânica desejante, para utilizar um conceito caro a Gilles Deleuze, funcionava admiravelmente, a menos que se verificassem ãnormalidades de todo imprevisíveis. Implosões, por exemplo. Foi o que sucecleu em Macau, com as dissenções político-ideológicas entre o Bispo de Macau, D. Frei Francisco da Luz Chacim, e os Lazaristas que apoiaram o constitucionalismo. O Padre Joaquim Afonso Gonçalves, lazarista, teve de fugir para Manila.

O jornal O Eco do Povo noticiava o seguinte:"Nesse mesmo tempo foram presos três Professores do Colégio de S. José. Um deles foi nomeado depois vigário em Singapura, onde morreu, e os dois outros voltaram ao Colégio, o qual com a volta deles e com a chegada de mais alguns padres novos de Portugal, continuou a funcionar mas já não com tanta regularudade como dantes. Passado algum tempo dois dos padres novos foram para as missões a que eram destinados; dois dos Professores velhos faleceram e dos que restavam foi um eleito Bispo de Macau, um outro para seu coadjutor e outro para Bispo de Nanquim. Deste modo só restou no Colégio o muito virtuoso e respeitável ancião Rev. ō Padre Leite que continuou a ensinar latim até 1854, quando faleceu. Deste modo acabou todo o ensino no Real Colégio de S. José"13. O articulista não poderia prever que essas sucessivas querelas intestinas iriam minar, como realmente minaram, toda a credibilidade e a aura de prestígio que o ensino religioso justamente alcançara. Como referia o Padre Manuel de Gouveia, o "estudo eclesiástico não promete em Macau senão um futuro miserável, comparado com as vantagens que oferece aos jovens o serviço dos escritórios comerciais por toda a costa da China, onde os caixeiros ou escrivãos costumam ganhar de 100 a 200 mil réis mensais, acrescendo a tudo isto o não haver em Macau o cabido organizado, que ainda poderia atrair algum; sem considerar a diferença de tempo e estudos necessários para o nosso estado, o que não requere o emprego dum escrivão, que se julga habilitado com uma lambuja de Inglês"14.

Uma vez mais os estudos sínicos foram vítimas das circunstâncias, circunstâncias de todo exógenas ao processo.

O que restava então? Essa velha instituição coeva do Senado, a Procuratura dos Negócios Sínicos, cujo início se aponta para 1583 e tendo o Procurador um lugar cativo na vereação municipal. Em 1847 a Procuratura ficou na dependência do Governo e em 1852 clarificaram-se as suas atribuições quanto aos negócios sínicos, o que foi reforçado em 1877 com urna nova lei que lhe adiciona um tribunal especial. Apesar desta evolução, a Procuratura foi extinta em 1894 15. Parece-me interessante referenciar alguns dos Procuradores, os primeiros sinólogos de feição civilista:

1583 até 1593             desconhecem-se os titulares
1594                      Matias Penela
1595                      Cosme de Paiva
1596                      Bastião Gonçalves
1597                      Miguel Monteiro
1598                      Nicolau Martins Barroso
1599                      António Carvalho Moura
1600                      Pedro Martins Grivo
1601                      Gaspar Fernandes
1602                      António Fernandes Mata
1603                      António Fernandes Mata
1604                      António Fernandes Mata
1605                      Sebastião Rebelo
1606                      Sebastião Rebelo
1607                      Francisco Monteiro
1608                      Francisco Monteiro
...    ... 
1740                      José Alexandre de Aragão
1741                      Elias Manuel Grosses
1742                      Luís Ruiz Rebelo
1743                      António Aires Tercino
1744                      Manuel da Silva Martins
...    ... 
1820                      Domingos Pio Marques
1821                      José Joaquim Barros
1822                      Félix Vicente Coimbra
1823                      João de Deus de Castro
1824                      José Baptista de Miranda e Lima
...    ... 
1867                      António Feliciano Marques Pereira
...    ... 
1870                      Lourenço Marques
...    ... 
1877                      Pedro Nolasco da Silva e
                          Leôncio Ferreira
1884                      A. Marques de Oliveira

Sobre estes sinólogos muito haveria a dizer, sobretudo daqueles que nos legaram obra escrita. E não foram poucos.

Extinta a Procuratura dos Negócios Sínicos, em 1884, entrou em cena a Repartição Técnica do Expediente Sínico ao lado da qual funcionava uma "Escola de habilitação para intérpretes sinólogos e para o estudo da língua sínica escrita e dialecto cantonense (...)", como se podia ler no Artigo 12.o do seu regulamento.

A Repartição Técnica do Expediente Sínico foi chefiada pelos seguintes sinólogos:

1885-1892                 Pedro Nolasco da Silva
1892-1898                 Eduardo Marques
1898-1911                 Carlos Augusto Rocha de Assumpção
1911-1920                 José Vicente Jorge
1920-1928                 Joaquim Fausto das Chagas
1928-1931                 Pedro Nolasco da Silva Júnior
1931-1945                 António Maria da Silva

A este organismo governamental especialmente vocacionado para a mediação linguística entre o poder político-administrativo e a sociedade global, se ficará a dever uma ténue linha condutora da sinologia portuguesa, pelo menos até à década de setenta deste século. Os intérpretes-tradutores, sinólogos, verdadeiros mensageiros de uma nova racionalidade intercultural, intercivilizacional e estratégica, fizeram erguer na diferença dos interesses todos os mecanismos internos da arbitragem histórica que sustenta a govemabilidade de Macau.

Nessa plêiade destaca-se Pedro Nolasco da Silva (1842-1912)16, cuja bibliografia pedagógica é importantíssima: Círculo de Conhecimentos em Português e Chinês (1884); Fábulas (1884); Frases Usuais dos Dialectos de Cantão e Pequim (1884); Gramática Prática da Língua Chinesa (1886); Vocabulário e Frases dos Dialectos de Cantão e Pequim para Uso dos Alunos da Escola Central de Macau (1889); Compilação de Frases Usuais e de Diálogos nos Dialectos de Pequim e de Cantão para Uso dos Alunos da Escola Central de Macau (1894); Os Rudimentos da Língua Chinesa para Uso dos Alunos da Escola Central do Sexo Masculino (1895); Manual de Língua Sínica Escrita e Falada: 2.aParte. Língua Sínica Falada. Vocabulário (1901); Manual de Língua Sínica Escrita e Falada: 1.aParte. Língua Sínica Escrita. Noções Preliminares e Lições Progressivas (1902); Língua Sínica Escrita. Tradução da "Amplificação do Santo Decreto"(1903); Manual de Língua Sínica Escrita e Falada: 2.aP arte. Língua Sínica Falada. Frases Usuais. Diálogos e Formas de Conversação (1903); Bússula do Dialecto Cantonense (1911); Bússula do Dialecto Cantonense Adaptado para as Escolas Portuguesas de Macau (1912); Livro para o Ensino da Literatura Nacional = Kuok Man Kau Fo Shu (1912).

Quase todas estas obras foram concebidas de um modo didáctico e pedagógico invulgarmente sugestivo para a época. A preparação de cada lição é feita metodicamente servindo-se de um grafísmo que era susceptível de ajudar a facilitar a aprendizagem.

Pedro Nolasco da Silva será um digno sucessor de Joaquim Afonso Gonçalves no respeitante às preocupações pedagógicas e culturais na didáctica da língua chinesa.

O último grande sinólogo formado na Escola da Repartição Técnica do Expediente Sínico 17 foi o macaense Luís Gonzaga Gomes (1907-1976), cujo labor incansável se repartiu pela história, pela linguística, pela música e pelas traduções. Entre a sua extensíssima bibliografia destaca-se na Linguística e Lexicografia: Vocabulário Cantonense-Português (1941), Vocabulário Português-Cantonense (1942), O Estudo de Mil Caracteres (1944), Noções Elementares de Língua Chinesa (1958); nas Traduções: OClássico Trimétrico (1944), OClássico da Piedade Filial (1944), As Quatro Obras (1945), Ou Mun Kei Leok (1950); na Cultura Chinesa: Lendas Chinesas de Macau (1941), O Sistema de Adopção na China (1945), Contos Chineses (1950), Chinesices (1952), Festividades Chinesas (1953) e Arte Chinesa (1954). Com Luís Gonzaga Gomes, a sinologia portuguesa abre-se à mundividência plural das fontes chinesas até então inacessíveis, proporcionando-se desse modo o acesso à "inteligência"18 da China.

A Repartição Técnica do Expediente Sínico foi transformada na Direcção de Serviços de Assuntos Chineses, hoje extinta Esta sinologia de feição administrativa e burocrática foi muitíssimo importante para assegurar o canal de comunicação entre administradores e administrandos, entre governantes e govemandos, não esquecendo todas as intervenções políticas e diplomáticas que protagonizaram em Macau e na China. Os insondáveis desígnios da política inviabilizaram a aprendizagem sistemática da língua e cultura chinesas nos curricula dos estabelecimentos de ensino oficiais. O ensino luso-chinês privilegiava mais a componente chinesa, adicionando-se à ilustração em língua portuguesa a gratuitidade...

Esta aversão parece vir de longe. A Escola Colonial, criada nos alvores do regime republicano, tinha como missão prioritária preparar e formar os quadros administrativos que iriam servir no império colonial. E quando é reorganizada, em 1946, sob a designação de Escola Superior Colonial19, mais tarde Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, a língua e a cultura chinesas eram ignoradas em absoluto:

"(...)

Art. 72.o O Instituto de Línguas Africanas e Orientais, é um centro de investigação e de ensino destinado a:

1.o Cultivar os estudos filológicos com especial aplicação à linguagem dos povos orientais e africanos;

2.o Estudar a língua árabe, quer como instrumento de investigação da história portuguesa no Norte de África, quer como elemento de conhecimento do mundo islâmico e da sua influência actual na Guiné, em Moçambique e na Índia;

3.o Estudar o sânscrito, como instrumento de investigação e cultura;

4.o Estudar e sistematizar o concanim bem como a sua literatura própria;

5.o Estudar o quimbundo (Angola), o ronga (Moçambique), o sauíli (norte de Moçambique), o dialecto do sena (Zambézia), o fula (Guiné) e o teto ou galoli (Timor).;

6.o Estudar as linguagens crioulas;

7.o Abrir cursos para as línguas estudadas;

8.o Fazer publicações de textos nas línguas estudadas."20

Encerrado esse ciclo do Expediente Sínico, perfilam-se ainda contribuições de natureza diversa, mais no âmbito da cultura e com um domínio precário da língua chinesa. A abertura compreensiva aos elementos nucleares da cultura chinesa, essencialmente a filosofia e a literatura, foi feita com o concurso das línguas francesa, inglesa e italiana, cuja agilidade editorial era bem superior à nossa.

Camilo Pessanha (1867-1926) é bem o paradigma dessa sinologia cultural, atenta à realidade chinesa cujo desencanto é sublimado pela poética e pela arre. Na tradução, revista por José Vicente Jorge, das suas Elegias Chinesas, Pessanha não leva muito a sério essa sua incursão pelos estudos sínicos, um "fútil passatempo das horas tristes em longos anos de solidão"21, o que pode ser entendido como um momento de desânimo porque, numa conferência, em 1915, lapidarmente concluía "por um apelo dirigido a tantos portugueses moços que os acasos da fortuna ou o dever profissional condenam a passarem nesta remotíssima e exígua possessão portuguesa — verdadeira prisão com homenagem — alguns anos de mesquinha vida intelectual, para que dediquem ao estudo da língua chinesa e da civilização chinesa, nos seus multíplices aspectos, as horas que dos seus serviços obrigatórios lhes restarem livres, pois que, além do alto serviço que com este estudo prestarão à pátria portuguesa, auferirão do seu próprio esforço inefável deleite espiritual"22. Os textos jurídicos de Pessanha 23, sobretudo aqueles onde o jurista faz o equilíbrio possível entre a mentalidade chinesa e os cânones de um direito continental expatriado, mereciam uma edição fac-similada porque correm os mesmos riscos do célebre Caderno Poético, isto é, desaparecem sem ninguém saber por onde.

Um contemporâneo de Pessanha, Manuel da Silva Mendes (1876-1931) é outro expoente dessa sinologia cultural. Silva Mendes foi um grande coleccionador de Arte chinesa e o seu profundo conhecimento da estética e da história conduziu-o até à filosofia tauista. Publicou duas obras 24 consideradas pioneiras, Lao Tse e a sua Doutrina Segundo o Tao-Te-Ching (1908) e os Excertos de Filosofia Tauista (1930). Ainda no contexto da sinologia cultural, merece destaque o padre jesuíta Benjamim Videira Pires (1916), cuja obra, Os Extremos Conciliam-se (1988), é uma síntese bem conseguida da transculturalidade luso-chinesa em Macau.

Bem nos nossos dias e como que a encerrar um longo ciclo, agiganta-se a figura do padre jesuíta Joaquim Guerra (1908-1993), considerado o derradeiro sinólogo português, que concebeu um método inovador para a leitura alfabética da língua chinesa, tendo traduzido uma boa parte dos Clássicos (As Obras de Mâncio, 1990; Escrituras Selectas, 1990; O Livro das Mutações, 1990; O Livro dos Cantares, 1990; Quadrivolume de Confúcio, 1990)25.

Estes sinóLogos legaram-nos a parte substantiva do conhecimento pluridimensional da cultura e da civilização chinesas e só mesmo um país de distraídos é que se pode dar ao luxo de os ignorar pura e simplesmente e cujas obras se deixaram extraviar ou se encontram há tantos anos esgotadas que a memória nem conta.

O fracasso de uma Escola Sinológica Portuguesa, se quisermos, a descontinuidade qualitativa na sinologia portuguesa ficou essencíalmente a dever-se à especificidade político-jurídica de Macau no contexto das relações luso-chinesas e à deficiente organização educativa e escolar, e isto sem referirmos à importação de flutuações ideológicas que perturbavam o equilíbrio social e governativo de Macau. Instalada no Terreiro do Paço, a macrovisão imperial portuguesa olhava para as pérolas mas não enxergava uma pérola de cultura, a sinologia.

É certo que o nosso património sinológico é muito rico e variado, mas falta divulgação em edições acessíveis e em edições críticas, e falta ainda um enquadramento curricularmente estruturante de uma aprendizagem metódica que abra caminho para uma carreira de investigação. Porque continuamos a ter sinólogos, em número escasso, mas com uma grande devoção ao estudo da língua e da cultura chinesas e com uma força anímica extraordinária que lhes permite superar os obstáculos que vão surgindo.

Como dizia o poeta popular J. J. Monteiro:

    "Assim, nesta Macau tão pequenina
    Em íntimo convívio, muita vez, 
    Aprende o português a falar china, 
    E o china a falar bem o português. 
    
    E quando assim não seja, então, gentinha, 
    Bem grita o português e ri-se o china, 
    E vão-se como o pato e a galinha, 
    Sem terem percebido patavina."26

Esta ironia retrata com alguma fidelidade o celebrado encontro de culturas em Macau sendo o problema linguístico, uma barreira real, ultrapassado pelo entendimento a todos os níveis, incluindo a arte do paradoxo.

Um balanço desta natureza é sempre provisório e muito fragmentado. Alinharam-se algumas ideias com o intuito de pensar e de reconstruir os fios condutores da nossa sinologia 27 para a recolocar no coração da cultura portuguesa, alargando racionalmente os seus mecanismos de internacionalização e de enriquecimento. Neste momento é fundamental delinear a história do que fizemos e como o fizemos, assim como uma visão prospectiva do lugar que ocuparemos na sinologia de amanhã.

Este texto corresponde à planificação de uma lição da cadeira de "História Concisa das Relações da China com o Ocidente", da Escola de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau, no ano lectivo de 1996-1997.

Joaquim Afonso Gonçalves, (1781-1841).

NOTAS

1 SANTOS, Domingos Maurício Gomes dos, Macau: Primeira Universidade Ocidental no Extremo Oriente, ḁ ed., Macau, 1994, pp. 31-2.

2 Consultar, entre outros, RULE, Paul A., K'ung-tzu or Confucius? The Jesuit Interpretation of Confucianism, Sydney, Allen and Unwin, 1986; PIH, Irene, Le Père Gabriel de Magalhães: Un Jesuite Portugais en Chine au XVIIe Siècle, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.

3 Veja-se o denso volume Le Voyage en Chine, coordenado por Ninette Boothroyd e Muriel Détrie, Paris, Robert Laffont, 1992, 1509 pp. O napolitano Giovanni Gemelli-Careri descreve um espectáculo que lhe foi dado assistir, no decurso da sua estadia em Macau, em 1695: "Je fus voir le mardi une comédie chinoise. Un nombre de voisins joints ensemble la faisaient représenter à leurs frais, au millieu d'une petite place. Le théatre était assez grand, et contenait trente personnes, tant hommes que femmes. Je nepus pas les entendre, parce qu'ils parlaient en langue mandarine, ou de la Cour; cependant, je jugeai par leurs gestes, leurs tours et leur action, qu'ils étaient habiles. La pièce était mêlée de chants, avec un accompagnement de plusieurs instruments de cuivre et de bois. Les habits étaient propres et enrichis de beaucoup de dorures; les acteurs en changeaient souvent. La comédie dura dix heures, et finit avec les chandelles; parce que quand un acte est tini, les acteurs se mettent à manger, et fort souvent les spectateurs en font autant", p. 325. Compare-se este vivido testemunho com o de Peter Mundy, divulgado por Charles Boxer, sobretudo no que diz respeito à capacidade de compreender o Outro.

4 O historiador José Maria Braga fez um recenseamento dessa bibliografia, sobretudo aquela da autoria do clero diocesano de Macau, em diversos números do "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau".

5 Este raríssimo opúsculo está na posse do Professor Charles Boxer que o divulgou em 1938 no "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau", (410).

6 Grafia modernizada Arquivo do Leal Senado, Termo de 3 de Julho de 1795.

7 Grafia modernizada. Arquivo do Leal Senado, Carta de l de Março de 1809.

8 Grafia modernizada. Arquivo do Leal Senado, Carta de 6 de Março de 1809, dirigida ao Governador Lucas de Alvarenga.

9 Boletim do Conselho Ultramarino: Legislação Novíssima, Lisboa, Imprensa Nacional, 1867, vol. l (1834-1851), p. 52. A Ordem Régia citada é de 14 de Julho de 1838.

10 Id., ob. cit., p. 53. A Ordem Régia é de 16 de Julho de 1838.

11 Artigo reproduzido no "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau", (445) Abr. 1941, pp. 896-7.

12 Boletim do Conselho Ultramarino: Legislação Novíssima, id., pp. 782 e 784, sendo a Lei datada de 18 de Setembro de 1856.

13 "O Eco do Povo", (68) l Jul. 1860; citado por Monsenhor Manuel Teixeira, A Educação em Macau, Macau, Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, 1982, pp. 213-4. Nesta obra se reproduzem igualmente outros documentos importantes para a problemática em apreço.

14 Carta ao Bispo de Macau, D. José Luís Feijó, datada de 28 de Fevereiro de 1864 e transcrita por Monsenhor Manuel Teixeira no "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau", (786) Fev. 1970, p. 116.

15 Esta é uma história por fazer, um dos grandes hiatos na História de Macau.

16 ARESTA, António, O Neoconfucionismo na Educação Portuguesa: Pedro Nolasco da Silva na História da Educação em Macau, "Administração", Macau, 1997, separata.

17 Entre os mais injustamente esquecidos conta-se José Vicente Jorge, sinólogo erudito que publicou diversas obras meritórias. Igualmente no olvido se encontram dois outros sinólogos: José Martinho Marques (1810-1867), que publicou os Princípios Elementares de Música ao Alcance de Todos, em 1853, tendo deixado inédito um Dicionário Chinês-Português; o"Boletim Oficial da Província de Macau e Timor", 13 (27) 8 Jul. 1867, refere que "era incansável em cultivar a língua sínica tão difícil quanto especial. Aos seus estudos se deve a versão em português e em chinês de não poucas obras". O outro sinólogo é João Rodrigues Gonçalves (1806-1870), amigo íntimo do Governador Ferreira do Amaral, desconhecendo-se todavia que obras terá publicado. Cabe, ainda, mencionar dois outros sinólogos, Leôncio Alfredo Ferreira (1849-1920), que deixou obra como pedagogo e moralista, e António Feliciano Marques Pereira (1839-1881), fundador da revista "Ta-Ssi-Yang-Kuo" e autor de Relatório das Atribuições da Procuratura dos Negócios Sínicos da Cidade de Macau, 1867, e As Alfândegas Chinesas de, Macau, 1867.

18 Utilizo a expressão de Jacques Gernet, na sua obra L'Intelligence de la Chine: Le Social et le Mental, Paris, Gallimard, 1994.

19 Decreto-Lei n.o 35885, de 30 de Setembro de 1946.

20 Decreto-Lei n.o 43858, de 14 de Agosto de 1961.

21 PESSANHA, Camilo, Obras de Camilo Pessanha, organização e notas de António Quadros, s. l., Europa-América, s. d., vol. 2, p. 158.

22 China, Estudos e Traduções, 2.a ed., Lisboa, Vega,1993, p.61.

23 Veja-se o estudo pioneiro de Celina Veiga de Oliveira, Camilo Pessanha, o Jurista e o Homem, Macau, Instituto Cultural, Instituto Português do Oriente, 1993.

24 Outras com interesse para a problemática em apreço, MENDES, Manuel da Silva, Colectânea de Artigos de Manuel da Silva Mendes, organizada por Luís Gonzaga Gomes, Macau, 1949, 4 volumes.

25 Citamos as co-edições do Instituto Cultural de Macau e da Aidan Publicities and Printing.

26 MONTEIRO, J. J., Macau Vista por Dentro, Macau, Direcção dos Serviços de Turismo, 1983, p. 143.

27 Ficaram naturalmente por referenciar muitíssimos autores e obras que não cabem neste esboço. Em relação ao problema da atomização das fontes pelos arquivos internacionais, faço menção ao espólio sobre Macau existente na Fundação Cini, em Veneza, pormenorizadamente referenciado por Étiemble, L 'Europe Chinoise, Paris, Gallimard, 1989, vol. 2, pp. 389-99.

*Professor e Investigador.

desde a p. 9
até a p.