Rotas e Embarcações

O COLÉGIO DE SÃO PAULO: A PRIMEIRA UNIVERSIDADE EM MACAU

Huang Qichen*

Quando se fala sobre as escolas superiores em Macau, geralmente considera-se a Universi-dade da Ásia Oriental como a primeira universidade, fundada em Março de 1981. Mas isto não corresponde à verdade, porque os factos apresentam-nos o Colégio de São Paulo como a primeira universidade do território, que foi fundada em 1594 e que tem hoje uma história de quatrocentos anos. Pretendo com este artigo fazer uma análise sobre a criação do Colégio de São Paulo, o seu sistema, a sua dimensão e o papel que desempenhou no encontro das culturas chinesa e ocidental.

São Miguel Arcanjo. Trabalho sino-português do século XVII. Marfim com vestígios de policromia, 41,5 cm. Colecção particular, Lisboa. Macau: As Ruínas de S. Paulo: Um Monumento para o Futuro. Macau, Instituto Cultural, [1994], p. 148.

l. Depois de terem entrado em Macau e de se terem instalado neste território por arrendamento, os portugueses abriram rapidamente as três rotas marítimas de comércio internacional para a manutenção de relações comerciais entre o Ociente e o Ocidente, isto é, a rota de Macau-Goa-Lisboa, a de Macau-Nagasáqui e a de Macau-Manila-México, formando dessa maneira três longos percursos marítimos. Os comerciantes portugueses, espanhóis e holandeses, entre outros, começaram então a afluir a Macau uns após outros para fazer comércio e fortuna. Ao mesmo tempo, os jesuítas da Companhia de Jesus iam também chegando a Macau em navios de comerciantes, e, depois, entravam no interior da China para evangelizar o país.

Em 1556, o jesuíta Gregório Gonzáles foi o primeiro a chegar a Macau; depois foram os padres Baltasar Sargogo, que passava então a sua velhice no Japão, Diogo Pereira, Manuel Teixeira e Francisco Peres, que vieram a Macau durante o período compreendido entre 1560 e 1561. Construíram, junto à actual Igreja de S. António, uma capela chamada da Madre de Deus com palha de arroz, e começaram a sua actividade de evangelização. Em 1563, Macau já tinha oito jesuítas e os crentes atingiram cerca de seiscentas almas. Como os padres católicos tinham então a responsabilidade de realizar os ritos religiosos para os comerciantes e marinheiros portugueses, assim como para os seus familiares e empregados, evangelizando-os e fazendo com que respeitassem as regras religiosas, começaram a organizar aulas nos próprios bairros católicos, conforme a tradição, para fazer a educação inicial das crianças portuguesas e dos filhos dos crentes chineses, eliminando o analfabetismo e instruindo a população.

Em 1565, fundou-se uma escola primária chamada Colégio de São Paulo junto à Fortaleza de Nossa Senhora do Monte, nas proximidades da Capela da Madre de Deus. Nessa escola ensinava-se em língua portuguesa. Em 1579, o Colégio alargou as suas dimensões, podendo agora albergar cento e cinquenta estudantes. Em 1582, o Colégio foi transferido para o lugar onde actualmente se encontram as ruínas da Igreja de São Paulo e os estudantes aumentaram para duzentos. As despesas do ensino oficial eram pagas pelo Governo. A partir de 1574, o Rei de Portugal passou a atribuir anualmente dez mil cruzados dos impostos vindos de Malaca para o apoio desse ensino oficial. A partir do ano de 1578, os comerciantes portugueses passaram a entregar por ano cinquenta dos mil e seiscentos dans (um dan equivale a 50 quilos) de seda crua obtidos na China aos jesuítas, para estes os venderem no Japão, cujas moedas de ouro do produto vendido eram destinadas ao pagamento das despesas do ensino.

Na medida em que se vinham desenrolando as actividades de evangelização, o Papa Pio V nomeou, em 1566, para o cargo de Bispo de Macau, Melchior Carneiro, que aqui chegou em Maio de 1568 para presidir publicamente às actividades de divulgação do Cristianismo. Depois de ter chegado a Macau, Melchior Carneiro construiu primeiramente a Igreja de S. Lázaro, que se tornaria a sua base de evangelização, e, em seguida, a Santa Casa de Misericórdia, o Hospital de S. Lázaro e o Hospital de S. Rafael, com o objectivo de albergar crianças abandonadas e órfãos e de curar os doentes, atraindo dessa maneira os residentes chineses ao Cristianismo. Tomando em consideração o desenvolvimento positivo das actividades de apostolado, o Papa Gregório XIII autorizou D. Sebastião a promulgar, a 25 de Janeiro de 1576, um decreto em que se mandava estabelecer a Diocese de Macau, que ficava sujeita directamente à Diocese de Goa e tinha a responsabilidade de tratar dos assuntos da propaganda do Cristianismo na China, Japão e Aname. A partir daí Macau transformou-se na primeira base de divulgação do Cristianismo no Oriente.

Os jesuítas, no entanto, não ficavam satisfeitos apenas com a divulgação do Cristianismo em Macau, pois o seu objectivo mais alto era tornar Macau uma base de onde partissem para espalhar o Cristianismo em grande escala na China. Vendo que Diogo Pereira e seus companheiros de batina não sabiam a língua chinesa e tinham imensa dificuldade de entrar no interior da China, a Sede da Companhia de Jesus decidiu mandar Miguel Ruggieri para Macau, para presidir localmente à Ordem, pois este tinha formulado a opinião de utilizar a língua chinesa nas actividades religiosas na China. A 22 de Julho de 1579, Miguel Ruggieri chegou a Macau e, logo a seguir, começou seus estudos de chinês. Há documentos que registam o facto:

"O primeiro professor de língua chinesa do P.e Miguel Ruggieri foi um pintor chinês. Utilizando o pincel, ensinava-lhe a forma e o significado dos caracteres. Quando estivesse certo de ter dominado suficientes caracteres, surgir-lhe-ia a vontade de entrar na China." 1

Depois de dois anos e dois meses de aprendizagem e instrução, Miguel Ruggieri dominava 12.000 caracteres e os principais ritos chineses. Entre 1580 e 1583 Miguel Ruggieri foi três vezes a Cantão com comerciantes portugueses para participar em feiras comerciais periódicas. Nessas viagens, praticava a língua chinesa e aproximava-se dos mandarins de Guangdong. Como se mostrasse homem de boas maneiras, o governador das províncias de Guangdong e Guangxi teve uma boa impressão dele. Em 1582, a convite desse governador, Miguel Ruggieri deslocou-se a Zhaoqing, onde o mesmo se encontrava instalado. E assim se iniciou o prelúdio da evangelização católica pelos jesuítas no interior da China.2 Em Dezembro de 1582, Ruggieri voltou de Zhaoqing para Macau e encontrou-se com os jesuítas Francisco Pasio e Mateus Ricci que, na altura, já se encontravam no território a aprender a língua chinesa ao mesmo tempo que traduziam os clássicos chineses. A 18 de Dezembro do mesmo ano, Miguel Ruggieri levou Francisco Pasio a Zhaoqing para o ajudar na sua tarefa; em Setembro do ano seguinte convidou também Mateus Ricci para a eles se juntar no Templo de Tianning (Templo da Paz Celestial), na mesma localidade, e com os mesmos objectivos.

Miguel Ruggieri e Mateus Ricci não se conformavam apenas com a evangelização da população de Zhaoqing. Em 1586, sendo convidado pelo novo governador, Guo Yingpin, Miguel Ruggieri foi para Shaoxing divulgar o Cristianismo. Em 1589, Mateus Ricci transferiu-se para Shaozhou (actualmente Shaoguan), onde continuou a pregação católica. O governador de Shaozhou doou-lhe um terreno oficial que se encontrava situado em frente ao Templo de Guangxiao, junto a um rio, onde foi construída uma igreja em estilo chinês com um púlpito. A partir de então, aproveitando as condições favoráveis em Shaozhou, que geograficamente se tratava de um ponto-chave, pois se encontrava situada numa zona de comunicação entre o Sul e o Norte, Mateus Ricci começou a promover sistematicamente as suas actividades de evangelização no Norte da China.

Os êxitos alcançados através da utilização da língua chinesa por Miguel Ruggieri e Mateus Ricci fizeram com que o Geral da Companhia ficasse muito contente. Na sequência disso, uma grande quantidade de jesuítas veio a ser enviada para a China através de Macau. Tendo em vista as experiências bem sucedidas de Miguel Ruggieri e Mateus Ricci, a Companhia de Jesus decidiu que todos os jesuítas que fossem para a China tinham de aprender a língua, os ritos e costumes chineses em Macau. Com base nestas circunstâncias o então Inspector do Oriente e Vice-bispo, Alexandre Valignano, apresentou uma proposta ao Geral da Companhia de Jesus em Roma, solicitando-lhe a criação de uma universidade no território de Macau com o propósito específico de preparar e instruir os jesuítas na língua chinesa, para que estes fossem depois enviados para a China, Japão e outros países orientais, promovendo ainda mais as actividades de evangelização. Com a autorização, António Quadros, o Geral da Companhia em Goa, nomeou, a 1 de Dezembro de 1594, Francisco Peres e Manuel Teixeira, para alargar o então Liceu de São Paulo, transformando-lhe o estatuto de estabelecimento de ensino primário para universitário, com o nome de Colégio de São Paulo. Este foi também a primeira universidade de sistema de ensino ocidental tanto na China como noutros países orientais. O Colégio foi fundado com 283 anos de antecedência relativamente à Universidade de Tóquio, fundada em 1877, e 285 relativamente à Universidade de São João, em Xangai, que é considerada a primeira universidade contemporânea do continente chinês.

A fundação do Colégio de São Paulo não foi totalmente um produto do desenvolvimento económico, mas sim fruto das necessidades então urgentes da Companhia de Jesus para o seu programa, já que o objectivo principal consistia na preparação de jesuítas em língua chinesa, para depois os enviar para a China, Japão e outros países do Oriente. Assim, as estruturas do Colégio, as disciplinas estabelecidas, a origem dos estudantes e o objectivo de formação estavam todos intimamente ligados à divulgação do Cristianismo.

2. Tomando por base o sistema e os regulamentos da Universidade de Coimbra, o Colégio de São Paulo tentava adaptá-los às necessidades da China. Por fim, foi definido o estatuto universitário do Colégio. O sistema de provas era idêntico ao de universidades europeias e seriam considerados graduados e poderiam obter títulos académicos aqueles que conseguissem passar nos exames, condição para os jesuítas que quisessem entrar na China. Quando as autoridades chinesas contratavam os jesuítas que possuíam títulos académicos concedidos pelo Colégio, atribuíam-lhes cargos consoante os títulos. Durante as dinastias Ming e Qing, havia não poucos jesuítas que assumiam cargos nas duas cortes, o que demonstrava que os títulos académicos eram reconhecidos pelas autoridades chinesas.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: o cipreste (à direita do nicho central inferior, 3.a fileira). Xie Ronghan: fotografia, 1991.

As disciplinas do Colégio de São Paulo eram determinadas segundo as necessidades do apostolado na China. Ensinavam-se então Língua Chinesa, Latim, Filosofia, Teologia, Matemática, Astrologia, Física, Medicina, Música, Retórica, entre outras. De entre estas disciplinas, a Língua Chinesa era a mais importante, a que ocupava mais horas e a que todos tinham de aprender, porque era o instrumento de comunicação básico para a evangelização, não só na China como em todo o Extremo Oriente. Além dos estudantes jesuítas, os professores também tinham que aprendê-la. Júlio Aleni, por exemplo, não só era um conceituado professor de Matemática do Colégio como também era, ao mesmo tempo, um estudante do Colégio. O seu nome encontrava-se na relação dos estudantes graduados (ver a Relação mais à frente) pelo Colégio. Como muitos dos jesuítas que vinham ao Oriente já possuíam bastantes conhecimentos gerais e de teologia, o seu objectivo, ao entrar no Colégio de São Paulo, era o de aprender a língua chinesa.

O Colégio de São Paulo foi criado para promover a causa da evangelização sendo assim natural que o seu reitor e demais professores fossem jesuítas. O primeiro reitor foi Duarte de Sande (1594-1596), seguido por Manuel Dias Sénior (primeiro mandato, 1596-1601; segundo, 1609-1615) e, posteriormente, André João Lubelli (1671-1673), todos famosos membros da Companhia. De acordo com a obra Biografia de Jesuítas que Entraram na China, há mais de trinta professores que se podem identificar através de documentos históricos, de entre os quais os mais famosos foram Francisco Sambiasi, professor de Matemática; João Monteiro e Gabriel de Magalhães, professores de Filosofia; Manuel Dias Júnior, Afonso Valignano, João Monteiro e João Pereira, professores de Teologia; e José Pereira, professor de Gramática e Literatura.

Os estudantes admitidos pelo Colégio de São Paulo eram nomeadamente jesuítas europeus. Havia também estudantes da China e do Japão. À volta do ano de 1600, no Colégio de São Paulo, que era considerado de grande envergadura, viviam cerca de oitenta jesuítas e este número ascendeu a mais de duzentos.3 De entre eles, 122 estavam registados cronologicamente, o que perfaz 60% do número total e 26% dos 467 jesuítas que entraram na China no período entre 1583 e 1770. Apresenta-se a seguir uma Relação de nomes dos jesuítas graduados no Colégio de São Paulo, do ano de 1594 até ao ano de 1805, e os lugares para onde foram mandados em missão de apostolado.

RELAÇÃO4

Nome

lang=EN-US style='font-family:宋体'>Nome     

style="mso-spacerun: yes">       

style="mso-spacerun: yes"> Chegada a Macau

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style="mso-spacerun: yes">     Local

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Lázaro Cattaneo

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1594

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Shaozhou

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João Rocha

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1594

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Shaozhou

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João Soeiro

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1595

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Nanchang

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Nicolau Longobardi

1597

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Shaozhou

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Diego de Pantoja

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1599

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Pequim

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Afonso Valignano

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1599

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Nanquim

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Feliciano da Silva

1599

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Nanquim

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Pedro Ribeiro

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1600

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Nanquim

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Bartolomeu

Tedeschi

1600

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Shaozhou

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Manuel Dias Sénior

1601

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Shaozhou

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Gaspar Ferreira

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1604

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Pequim

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Jerónimo

Rodrigues

1605

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Shaozhou

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Sabatino de Ursis

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1606

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Pequim

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Francisco Sambiasi

1610

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Pequim

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Júlio Aleni

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1610

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Pequim

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Nicolau Trigault

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1610

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Nanquim

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Manuel Dias

Júnior

1610

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Shaozhou

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Pedro Van Spiere

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1611

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Nanquim

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Álvaro de Semedo

1613

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Nanquim

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João Rodrigues

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1614

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Nanquim

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João Ureman

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1616

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Nanchang

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Jacob Rho

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1619

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Shanxi

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João Terrenz

Schreck

1620

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Hangzhou

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João Adão

Schall von Bell

1620

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Pequim

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Wenzel Pantaleão

Kirwitzer

1620

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Cantão

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Francisco Furtado

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1620

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Hangzhou

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Rodrigo de

Figueiredo

1622

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Hangzhou

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Manuel de

Figueiredo

1622

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?

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António

Francisco Cardim

1623

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Cantão

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Simão Xavier da

Cunha

1624

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Fuzhou

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André Rodomina

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1626

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Fuzhou

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André Palmeiro

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1628

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Qiongzhou

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Pedro Canevai

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1630

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Fuquiém

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Agostinho

Tudeschini

1631

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Shaanxi

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Inácio da Costa

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1636

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Shaanxi

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João Monteiro

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1637

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Jiangxi

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Francisco Buglio

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1637

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Jiangnam

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Ludovico Buglio

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1637

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Chengdu

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Gabriel de

Magalhães

1640

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Chengdu

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Martinho Martini

1643

Hangzhou

Martinho Martini

João Nicolau

Smogolenski

André João

Lubelli

Miguel Boym

Adriano Gresion

Filipe Couplet

Gonçalo da

Fonseca

Jacob Motel

Próspero

Intorcetta

Ferdinando

Verbiest

João Domingos

Gabiani

Francisco de

Rougemont

Cristiano

Herdtricht

Filipe Maria

Grimaldi

Francisco de Vega

Tomás Pereira

José Soares

António Tomás

Manuel Mendes

Bernardo Stumpf

João Laureati

Francisco José

Provana

João Pereira

Domingos Parrenin

António Dantes

José Pereira

João Baptista

Regis

Francisco Xavier

d'Entrecelles

João Francisco

Foucquet

João Mourão

Júlio Plácido

Hervieu

Pedro Jartoux

José Moyriac de

Mailla

Manuel de Sousa

Ehrenbert Xavier

Fridelli

Romano Hinderer

João Francisco

Cardoso

Mateus Ripa

Guilherme Favre

Bonjour

José Castiglione

João José da

Costa

André Pereira

Inácio Kögler

Caetano Lopes

Manuel Pinto

António Gaubil

Valentim Chalier

Alexandre de La

Charme

João Mateus

Félix da Rocha

António Gogeisl

Floriano Bahr

Agostinho de

Hallerstein

Pedro d'Incarville

Miguel Benoist

Inácio

Sichelbarth

José de Espinha

João José Maria

Amiot

António Pires

André Rodrigues

José Bernardo de

Almeida

Pedro Cibot

Luís António

de Poirot

José Panzi

Roberto de

Mericourt

Alexandre de

Mericourt

José Ribeiro

Caetano Pires

Domingos Ferreira

1643

1643

1645

1650

1656

1656

1657

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Cantão

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Através da relação pode-se ver que o Colégio de São Paulo se tornara numa base de instrução para os jesuítas europeus que se deslocavam à China para predicar o Cristianismo. O facto de ter havido uma grande quantidade de jesuítas qualificadamente formados, que dominavam bem a língua chinesa, tanto na sua forma falada como escrita, assim como os ritos e costumes chineses, fazia com que os chineses do continente, sobretudo os que viviam nos diferentes distritos do delta do Rio das Pérolas, afluíssem a Macau uns após outros para aderir ao Cristianismo, receber o baptismo e ouvir missa. Na obra Recordações de Xiangshan, pode ler-se seguinte:

"Junto à Igreja de São Paulo, construiu-se uma capela de Deus, que era chamada casa de adesão ao Cristianismo e que servia para os chineses prestarem culto a Deus. (...) Vinham aqui peregrinos dos distritos de Nanhai, Panyu, Huiyang, Shude, Xinhui e Xiangshan. Depois de terem ouvido missa, alguns voltavam logo para as suas terras de origem, enquanto outros ficavam dois ou três dias em Macau." 5

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: anjo a incensar que ladeia, à direita e em baixo,3.afileira, o nicho onde se encontra a estátua de Nossa Senhora da Assunção.

Xie Ronghan: fotgrafia,1991.

De entre os católicos chineses de Cantão que vinham a Macau apresentar-se para se baptizarem ou para ouvir missa, a Companhia de Jesus admitiu alguns no Colégio de São Paulo para que pudessem estudar e receber formação. Depois de se formarem, eram mandados de volta para a China a serviço da Companhia. Segundo a obra Biografia e Bibliografia dos Jesuítas que Estiveram na China, de entre os jesuítas chineses formados que foram para a China encontram-se:

·António Fernandes (Cai Anduo), António Leite (Lei Andong), Domingos Mendes (Qiu Liangbing), Francisco Ferreira (Fei Zangyu), Francisco Lages (Shi Hongji), Francisco Martins (Huang Mingsha), Francisco Xavier do Rosário (He Tianzhang), Jacob Niva (Ni Yage), João Pacheco (Guo Tianpang), Ludovico de Faria (Hua Lie), Ludovico de Figueiredo (Fei Zangyu), Ludovico Gonçalves (Pang Keji), Manuel Costa (Ka Site), Manuel Gomes (Lu Youji), Manuel Morais (Mo Lasi), Manuel Pereira (You Minghui), Manuel Rodrigues (Ma Manuo), Manuel Sequeira (Zheng Manuo), Pascoal Fernandes (Fan Youxing), Pascoal Mendes (Qiu Lianghou) eSebastião Correia (Ka Lie), naturais de Macau.

·Simão Xavier da Cunha(Wu Yushan ou Wu Li), natural de Changshou, na província de Jiangsu.

·André Li (Li Ande), natural de Chenggu, na província de Shaanxi.

·Domingos (Lu Xiyan), natural de Huating, na província de Jiangsu.

·João Fernandes (Zhong Mingli) e Sebastião Fernandes (Zhong Mingren), naturais de Sanhui; etc.

Estes estudantes católicos chineses vieram para o Colégio de São Paulo em Macau, receberam primeiro o baptismo e começaram depois a dedicar-se ao estudo da Teologia e do Latim, entre outras disciplinas. Como disse Simão Xavier da Cunha:

"De longe vimos para São Paulo; debruçando-se sobre a aprendizagem do Latim, vivemos três ou quatro anos nesse Colégio tão silencioso."6

Depois de se terem graduado e obtido títulos académicos no Colégio, a maioria deles voltava para o interior da China, acompanhando os jesuítas estrangeiros nas actividades de evangelização. Por exemplo:

·André Li, após a promoção ao sacerdócio, foi sucessivamente para Guangdong, Fuquiém, Sichuan, Huguang, entre outras províncias, em missão de evangelização.

·Manuel Sequeira, depois de se ter formado no Colégio, foi para a Universidade de Coimbra com o objectivo de aprofundar os seus conhecimento de teologia, tornando-se assim o primeiro sacerdote chinês. Voltou para Macau em 1668 e depois foi para as proximidades de Cantão, para missionar e, em 1672, foi para Pequim em serviço.

·Simão Xavier da Cunha, após o ano de 1688, voltou para Nanquim, e foi depois para Xangai e Jiading, promovendo o Cristianismo durante mais de trinta anos.7

Os lugares do interior da China para onde foram outros católicos chineses são:

·António Leite foi para Pequim.

·Domingos Mendes, para a ilha de Ainão.

·Francisco Ferreira, para Xian, Kaifeng e Hangzhou.

·Francisco Lages, para Hangzhou, Nanquim, Jiangzhou e Jingchang.

·Francisco Martins, para Nanquim.

·Francisco Xavier do Rosário, para Shanxi, Shaanxi e Hebei.

·Jacob Niva, para Pequim.

·João Fernandes, para Nanchang, Nanquim e Hangzhou.

·João Pacheco, para Cantão.

·Ludovico de Faria, para Nanquim.

·Ludovico de Figueiredo, para Xangai.

·Ludovico Gonçalves, para Hangzhou.

·Manuel Costa, para Jiangxi.

·Manuel Gomes, para Jiangxi.

·Manuel Morais, para Hunan e Guangdong.

·Manuel Pereira, para Nanquim.

·Manuel Rodrigues, para Pequim.

·Pascoal Fernandes, para Jianping.

·Pascoal Mendes, para Nanchang, Jianchang e Pequim.

·Sebastião Correia, para Yanping.

·Sebastião Fernandes, para Pequim, Nanquim e Hangzhou.8

Assim, os jesuítas, tanto estrangeiros como chineses, depois de se terem formado no Colégio de São Paulo, foram entrando no interior da China, promovendo actividades de evangelização de sul a norte, nas províncias de Nanzhili e Beizhili, Shandong, Shanxi, Shaanxi, Henan, Sichuan, Zhejiang, Jiangxi, Guangdong, Guangxi, num total de 12 províncias. Os crentes aumentavam de dia para dia. Segundo estatísticas incompletas, havia apenas 20 crentes católicos em 1585, mas no ano de 1735, os crentes tinham aumentado para 300.000.9 Entre estes crentes, não só se encontravam elementos das camadas populares, como também nobres do clã imperial das dinastias Ming e Qing, mandarins da corte, parentes dos imperadores e respectivas mulheres. No último ano do reinado de Chongzhen, da dinastia Ming (1644), por exemplo, havia na própria corte 154 crentes, entre os quais 40 mulheres. Ao nível dos governos locais, "muitos mandarins importantes, tais como supervisores, chefes de distrito e comandantes militares, atraídos pela curiosidade, iam publicamente às capelas para o culto e as missas". 10 Pode-se ver que, durante o período da dinastia Ming, o Cristianismo se ia divulgando em grande escala e em profundidade na China.

Foi pena que, a 26 de Janeiro de 1835, o Colégio de São Paulo tenha sido destruído por um incêndio causado por relâmpagos, deixando, no entanto, ficar a fachada de sua igreja, hoje em dia o símbolo da cidade de Macau e lugar de interesse histórico e turístico.

Nessa altura, para garantir o ensino e as necessidades dos estudos, construiu-se uma biblioteca no Colégio, com uma colecção de 4.000 obras. Era então a biblioteca com maior número de livros no Extremo Oriente. Estabeleceu-se também uma imprensa. Em 1588 requisitou-se um novo prelo com caracteres móveis e, em Agosto de 1590, essa imprensa editou a obra em latim De Missione Legatorum laponensium ad Romanam Curiam, da autoria de Duarte de Sande. No mesmo ano, Alexandre Valignano transferiu a imprensa de um japonês para o Colégio, aumentando assim a sua capacidade. Ao mesmo tempo, construiu-se um observatório para os estudantes do curso de Astronomia para praticarem o que aprendiam. Para garantir a saúde dos professores e estudantes estabeleceu-se também um pequeno hospital e uma botica, facilitando assim o tratamento de doenças e o levantamento de medicamentos.

No que respeita às despesas, o Colégio tinha obtido o apoio do Governo de Portugal e dos comerciantes portugueses, apoio esse que só terminou quando da destruição do Colégio.

3. Embora o Colégio de São Paulo tenha sido criado num território tão pequeno como o de Macau, a origem das suas despesas, a disposição das disciplinas e dos professores, o objectivo da admissão de estudantes e a colocação dos estudantes graduados tornaram-no uma verdadeira universidade internacional de alto nível. Professores e alunos participavam num processo dinânico de ensino-aprendizagem, pois complementando-se uns aos outros, obtinham o que lhes faltava, através dum intercâmbio mútuo. Como diz Simão Xavier da Cunha (Wu Yushan), famoso pintor e poeta jesuíta chinês, num de seus poemas:

"Sob as luzes conversamos em própria língua,

E, por quanto difícil fosse, há compreensão, recorrendo

    
                                                    [ à escrita. 

Enquanto eu escrevo uma cabeça de mosca, ele desenha umas

    
                                                  [ garras de ave, 

Uns lidos na vertical, outros na horizontal, que difícil é essa

    
                                              [ comunicação!"11

A maioria dos estudantes jesuítas estrangeiros formados pelo Colégio de São Paulo, aproveitando os seus conhecimentos, dedicavam-se com empenhamento, depois de terem entrado na China, ao estudo da civilização chinesa, a fim de satisfazer necessidades surgidas na evangelização e, além disso, faziam a apresentação dessa cultura na sua própria pátria, o que dinamizava culturalmente a Europa, e traziam para a China a ciência e a tecnologia, para não falar da cultura europeia, o que promoveu o desenvolvimento da ciência e da cultura chinesas. Neste período, a Europa e a China atraíam-se e aproveitavam mutuamente o que cada uma possuía de bom em seu próprio benefício, progredindo assim em conjunto. Se se considerar que os jesuítas foram os intermediários no intercâmbio cultural entre o Ocidente e a China durante o período que decorreu entre os séculos XVI e XIX, então pode-se afirmar que o Colégio de São Paulo foi o berço onde nasceu esse intercâmbio cultural pelas seguintes razões:

Em primeiro lugar, os jesuítas formados pelo Colégio de São Paulo levaram a civilização chinesa até à Europa, divulgando-a em grande escala, o que iria produzir um grande e profundo impulso na Europa.

Uma vez na China, os jesuítas europeus começaram a traduzir e a analisar obras clássicas chinesas, num total de cerca oitenta obras. Estas traduções foram depois editadas nos países europeus, levando a uma crescente adesão aos estudos ligados à sinologia. O jesuíta francês cujo nome chinês é Fu Shengze levou da China para a Europa um total de 3.980 títulos clássicos, que depois foram oferecidos à Biblioteca Real de França. A divulgação desses livros com conteúdos tão ricos promoveu ainda mais o interesse pela sinologia.12

Em 1681, o jesuíta belga Filipe Couplet escreveu a obra Confucius Sinarum Philosophus, fazendo uma apresentação da filosofia confuciana nos países europeus. Um outro jesuíta belga, Francisco Noel, escreveu também uma obra intitulada Philosophus Sinico e traduziu os clássicos chineses A Piedade Filial e A Iniciação Infantil, demonstrando ao público francês a sua compreensão e impressões a respeito da filosofia confuciana. O filosofo alemão Godofredo Guilherme Leibniz conheceu o jesuíta italiano Filipe Maria Grimaldi e alguns outros padres da mesma Ordem que tinham voltado da China, em Itália, entre 1657 e 1690, e desses jesuítas obteve muitos livros clássicos e materiais sobre o confucionismo. Desde então, começou a dedicar-se com empenhamento à leitura desses livros, sobretudo Confúcio e Laozi, recebendo gradualmente o pensamento de Confúcio e do tauismo. Escreveu então a obra Novissima Sinica, em 1697, explicando, duma maneira simples e directa, ao público da Alemanha e da Europa em geral, as ideias da teologia natural de Confúcio e da cultura chinesa e elogiando a grandeza da civilização da China. Disse ele:

"Antes, nenhum de nós acreditava que existisse no mundo uma nação cuja maneira de estar fosse mais avançada do que a nossa. Esta é a nação chinesa, que nos faz despertar."

Nesse livro salientou ainda que a filosofia de Confúcio já ultrapassava a filosofia da Europa, dizendo:

"A característica especial da civilização europeia consiste nas ciências da matemática especulativa; na ciência militar, a China não pode comparar-se com a Europa, mas em termos de filosofia prática, os europeus são inferiores aos chineses."

Assim, fez um apelo aos estudiosos europeus:

"Eu até considero que é necessário convidar a China a mandar para aqui alguém que nos oriente no que diz respeito ao objectivo e prática da teologia natural." 13

Leibniz estudava com esforço a filosofia de Confúcio e a sua doutrina foi lançada sobre o essencial do pensamento confuciano, criando a filosofia especulativa, que seria depois transmitida para o seu discípulo Cristiano Wolff. Este último debruçou-se ainda mais sobre o estudo da filosofia de Confúcio e, em 1722, fez o seu discurso De Sinorum Philosophica Pratice, conjugando a ética de Confúcio com a ética do Cristianismo. Wolff sistematizou e teorizou a filosofia especulativa, dividindo pela primeira vez a filosofia em sete partes: ontologia, cosmologia, psicologia, teologia natural, ética, economia e política, considerando que todos os princípios da filosofia poderiam ser estabelecidos através da matemática ou da dedução. A filosofia especulativa de Wolff foi também aceite pelo seu discípulo Emmanuell Kant. Posteriormente, Fichte, Schelling e Hegel fundaram, sob a influência da filosofia especulativa de Leibniz, a teoria da dialéctica. De onde se demonstra que a filosofia clássica alemã foi de algum modo influenciada pela filosofia confucionista.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: anjo que remata o nicho central inferior (3.a fileira) onde se encontra a estátua de Nossa Senhora da Assunção.

Xie Ronghan: fotografia, 1991.

Os jesuítas levaram também as ideias da fisiocracia da China para a Europa, o que fez com que se criassem condições para a formação da escola fisiocrática francesa no século xvIII, que foi considerada por Karl Marx como "a verdadeira iniciadora da economia política contemporânea".14

O criador da escola fisiocrática, Francisco Quesnay, então chamado o "Confúcio da Europa", debruçou-se sobre o estudo das ideias de Fuxishi, Rao, Shun e Confúcio, através dos clássicos chineses e escreveu as obras Tableau Économique e Le Despotisme de la Chine, respectivamente em 1758 e 1767. No último livro, dedicou sete capítulos à apresentação da cultura chinesa. Na introdução do primeiro capítulo, fala sobre a origem da China, a sua dimensão territorial, a sua prosperidade, as categorias sociais e a força militar; enquanto nos outros capítulos trata da organização judicial, direito, leis, sistema de impostos e da administração; no capítulo oito, enumerando 24 razões, apela aos países europeus para que aprendam com a China no sentido de estabelecer um sistema fisiocrático de estado, conforme as leis naturais, com o objectivo de tornar a agricultura a base da economia.

Quesnay instigou Luís XV, de França, na Primavera de 1750, a celebrar um "Grande Rito Consagrado à Agricultura", imitando o que os imperadores chineses faziam. Sob a influência do sistema de impostos chinês relativamente às terras cultiváveis, que obteve através da obra Ritos da Dinastia Zhou, Quesnay propôs que a França lançasse impostos sobre a propriedade da terra, porque julgava-os indispensáveis para o Estado. O reformista da escola fisiocrática Turgot, então ministro das Finanças, assimilou e desenvolveu as ideias de Quesnay, considerando que o trabalho agrícola era a única origem de toda a fortuna e a base e a pré-condição natural da existência independente de todas as relações de trabalho. Para conhecer suficientemente as ideias dos fisiocratas chineses, encarregou dois estudantes chineses, Yang Dewang e Gao Guisi (também jesuítas), que se deslocaram de França em direcção à China, de recolher dados sobre a economia, concretamente sobre a agricultura, terras, trabalho, capital, rendas de terras, impostos, com o objectivo de utilizar esses dados como referência para a reforma das finanças francesas. Posteriormente, Turgot escreveu a obra Observações sobre a Formação e a Divisão da Fortuna, referindo-se pela primeira vez à questão da mais-valia no sector do trabalho agrícola, salientando que a renda é a única forma de criar mais-valia.

Entre 1764 e 1766, o economista inglês Adão Smith esteve em França e contactou com Quesnay e Turgot, de quem obteve dados sobre a economia da China, assimilando as ideias de "liberdade natural" de Confúcio e de "economia liberal" de Sima Qian. Em 1776, Adão Smith escreveu e publicou a sua obra representativa, An Inquire into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, criticando nesse livro a teoria e a política do mercantilismo então muito corrente nos países europeus, o que desempenhou um papel importante na reforma da política económica da Inglaterra. Deste modo, pode-se ver que a economia clássica da França e da Inglaterra sofreu uma grande influência da fisiocracia da China.

O historiador alemão Adolfo Reichwein disse que a escola da fisiocracia da França e da Inglaterra constituiu a doutrina das bases económicas do Estado, tal como havia acontecido na China na Antiguidade.15 Trata-se duma afirmação correcta, porque, se lermos pormenorizadamente a obra An Inquire into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, vemos que se citam nesse livro mais de trinta vezes dados sobre a China.

Em 1620, quando Nicolau Trigault veio para o Extremo Oriente, "transportou mais de sete mil livros bem decorados para a China através de Macau".16 Desses sete mil livros, mais de quinhentos estão guardados na Biblioteca de Pequim.17 Esses livros abordam conhecimentos científicos e culturais nos mais variados campos do conhecimento: astronomia, calendário, hidráulica, geologia, física, geometria, medicina, matemática, música, entre outros. Destas matérias, "a única que estabeleceu o seu campo de acção durante longo tempo é a matemática".18

Em 1605, Mateus Ricci escreveu a obra Significado do Corpo Cósmico, em dois volumes, com a finalidade de obter o respeito dos chineses para assim facilitar a sua evangelização na China. No segundo volume, discute-se matemática. As explicações são simples e dadas em frases curtas.

Em 1606, Xu Guangqi traduziu os seis volumes de Elemento de Euclides, através do relato oral de Mateus Ricci. Desses volumes, "o primeiro trata do triângulo, o segundo de linhas, o terceiro do círculo, o quarto da forma exterior e interior do círculo, o quinto e o sexto de proporções".19

Em 1613, Mateus Ricci relatou oralmente e Li Zhizao escreveu dando à luz dessa maneira a obra Epitome Arithmeticae Practicae, que explica e prova as proporções, progressões e evoluções aritméticas. Este livro é considerado como a obra que introduz a aritmética ocidental na China.

Depois de Ricci, Júlio Aleni escreveu Princípios Essenciais da Geometria. João Terrenz Schreck traduziu a obra Grande Medição e Tabela das Linhas no Corte do Círculo, respectivamente em 1623 e 1631; Jacob Rho traduziu em, 1744, as obras Noções Gerais de Medição e Preparações para os Cálculos; João Nicolau Smogolenski traduziu a obra Logarítimos em Proporções. Todas estas obras tiveram uma influência muito profunda na promoção da matemática contemporânea da China. Durante a dinastia Qing, surgiram 112 matemáticos chineses que se tornaram grandes conhecedores tanto da matemática chinesa como da ocidental,20 e vieram à luz muitas obras em que se combina a matemática ocidental com a chinesa, obras estas consideradas de iniciação ao estudo da matemática contemporânea da China.

Mateus Ricci introduziu pela primeira vez na China o calendário gregoriano, que tinha sofrido uma reforma com base no calendário juliano. Enquanto estava em Zhaoqing, Mateus Ricci desenhou mapas e fabricou instrumentos astronómicos, tais como uma esfera celestial, um globo terrestre, um relógio solar, um anunciador de horas, etc., apresentando dessa maneira ao público chinês conhecimentos científicos de astronomia e marcando a introdução dessa ciência ocidental na China. A partir de meados do século XVI e durante os duzentos anos que se seguiram, os jesuítas publicaram, na China, mais de cinquenta obras sobre astronomia e fabricaram trinta e quatro instrumentos astronómicos, o que demonstra a profundidade da sua influência.

Mateus Ricci desenhou também o Mapa Universal de Montanhas, Mares e Terras, a partir do original do Mapa de Dez Mil Países, com explicações em chinês, marcando o início da introdução da geografia e cartografia ocidentais na China. Em 1602, a convite do Imperador Shenzong, Mateus Ricci calculou a longitude e latitude de Nanquim, Pequim, Hangzhou e Xian, e desenhou o Mapa Global de Dez Mil Países, no qual a China ficava no meio, significando que a China era o primeiro país do Mundo, o que agradou muito ao Imperador. O referido mapa apresentou ao público chinês a cartografia ocidental e a maneira de calcular a longitude e a latitude, assim como os cinco continentes e as cinco zonas climáticas. Através de tudo isto, os chineses tomaram conhecimento da grandeza do Globo e abriram os seus olhos ao Mundo.

Comunicação apresentada no Simpósio Internacional "Religião e Cultura", comemorativo do IV Centenário da Fundação do Colégio Universitário de S. Paulo, realizado pelo Instituto Cultural de Macau, Divisão de Estudos, Investigação e Publicações, entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1994, em Macau.

Tradução do original chinês por Cui Weixiao; revisão de Pedro Catalão; revisão final de Júlio Nogueira.

NOTAS

1 FEI Laizhi, Bibliografia de Jesuítas na China, trad. de Feng Chengjun, Comércio, 1938, p. 33.

2 SHEN Defu, Dados não Oficiais do Reinado de Wanli, vol. 30.

3 WATH, Biografia de João Adão Schall von Bell, trad. de Yang Bingchen, p. 78.

4 Esta relação foi feita a partir da obra Notices Biographiques et Bibliographique sur les Missions de l'Ancienne Chine, de autoria de Louis Pfister. Dela não constam mais de dez jesuítas que tinham estudado antes de 1594 no Liceu de São Paulo e três jesuítas que chegaram a Macau em 1805, mencionados na obra Documentos Históricos da Diplomacia Chinesa no Período da Dinastia Qing.

5 "O Território de Macau", in Recordações de Xiangshan no Reinado de Qianlong, vol. 8.

6 WU Yushan, "Viagem ao Oeste de Sanyu Ji", in Poemas de S. Paulo.

7 FANG Hao, Antologia de Artigos, p. 1947.

8 Id., Biografia de Personalidades Católicas da China, Editora da China, 1988, vol. 2, p. 186.

9 INTORCETTA, Próspero, Compendiosa Narratione, 1672; DE Lixian, História do Cristianismo na China.

10 PEI Huaxing, Memórias sobre a Evangelização da China no Século XVI, trad. de Xiao Ruirong, Comércio, 1936, p. 191.

11 WU Yushan, ob. cit.

12 WITEK, John W., "Fu Shengze e os Livros Chineses da Biblioteca Real", in Comunicações de Estudos de Sinologia da Segunda Conferência Internacional de Sandiye, Paris, 1980.

13 REICHWEIN, Adolfo, Encontro das Culturas Chinesa e Europeia no Século XVIII, trad. de Zhu Jieqin, Comércio 1991, p. 71.

14 MARX, Karl, A Teoria da Mais-Valia, vol. 1, p.15.

15 REICHWEIN, Adolfo, ob. cit., p. 129.

16 YANG Dingyun, "Dúvidas", in Crónicas.

17 XU Wenfing, Obras Escolhidas, vol. 60.

18 WATH, ob. cit., p. 422.

19 "Secção de 'Zi': Matemática Astronómica", in Catálogo Principal do Siku Quanshu, vol. 106, série 2.

20 Três Textos de Pessoas da Mesma Geração.

*Mestre em História pela Universidade de Zhongshan, onde é professor associado.

desde a p. 109
até a p.