Rotas e Embarcações

COM O JAPÃO EM VISTA: ALEXANDRE VALIGNANO E A ABERTURA DO COLÉGIO EM MACAU

John W. Witek*

Um ano antes da morte de Santo Inácio de Loiola, em 1556, João de Polanco, o secretário do fundador da Ordem dos Jesuítas, escreveu: "A intenção do nosso padre é, especialmente nesta fase inicial, que os colégios, mais do que as residências, se multipliquem1. Embora não se saiba se Alexandre Valignano alguma vez leu as palavras de Polanco, uma consciência do ambiente cultural do número crescente de colégios jesuítas e do seu impacto na Europa de Seiscentos tornou-se parte das discussões sobre as missões ultramarinas, no que diz respeito às formas de criar uma presença permanente da Igreja Católica em terras não europeias. À medida que a expansão portuguesa progredia para além da Índia e de Malaca, Macau tornava-se um importante porto do Sueste Asiático.

Estante em cedro do Japão, lacada e embutida. Arte namban, período Monoiama, finais do século XVI. Museu Municipal de Portalegre. Arquivo Nacional de Fotografia. "Oceanos", Lisboa, (12) Nov. 1992, p. 118.

MACAU COMO UMA NOVA CIDADE NA ÁSIA

Por forma a evitar a construção desalinhada de edifícios dispostos incongruentemente, os projectistas da cidade procuram a simetria entre os sectores urbanos, onde se incluem as residências e os edifícios públicos, ruas e uma infinidade de pormenores que permitam uma união coesa. Podem ser encontrados exemplos na história asiática em áreas tão longínquas como na civilização do vale do Indo em Harappa (Penjabe) e em Mohenjo-Daro (Sind) entre 3000 e 2000 a. C., ou nas cidades de Xian e Luoyang na China. Nem se poderia omitir a extensa e fascinante cobertura de Hangzhou durante o período Yuan, visitada por Marco Polo e descrita por Jacques Gernet.2

Durante as primeiras décadas em que os chineses autorizaram os portugueses a estabelecerem-se em Macau, franciscanos, dominicanos, agostinianos e jesuítas instalaram residências no território. Os jesuítas tinham aberto a residência da Madre de Deus em 1565 e, vinte anos mais tarde, à medida que a missão no Japão florescia e alguns confrades tinham conseguido entrar na China com êxito, novas ideias começaram a surgir sobre a relação de Macau com o empreendimento da Missão Jesuíta. Houve alguns factores que levaram os jesuítas do Sueste Asiático a defender posições diferentes dos seus confrades da Índia, sobretudo no que toca ao estabelecimento do colégio em Macau sob a direcção de Alexandre Valignano (1539-1606), o seu fundador.

DADOS BIOGRÁFICOS SOBRE VALIGNANO

Aqueles que apenas deram uma vista de olhos pela história do Colégio Universitário de São Paulo em documentos ingleses têm encontrado o nome de Alexandre Valignano, mas sem muitos pormenores biográficos3 Nascido em Chieti, em Itália, entrou para a Companhia de Jesus em 1566 e foi ordenado no palácio de Latrão quatro anos mais tarde. Apenas algumas semanas depois de ter professado os quatro principais juramentos, em 1573, partiu para Lisboa e, no ano seguinte, foi nomeado Visitador de todas as missões jesuítas na Ásia, da Índia ao Japão, à excepção das Filipinas. Chegou a Goa em Setembro de 1574 e quatro anos depois visitou Macau pela primeira vez. Em Julho de 1579 parte para o Japão onde organiza a primeira missão diplomática do Japão à Europa que duraria de 1582 a 1590. Durante a sua permanência em Macau, de Março a Dezembro de 1582, manteve conversações com Miguel Ruggieri (1543-1607) e Mateus Ricci (1552-1610), que ele tinha mandado vir da Índia para estudarem a língua chinesa, preparando-os assim para entrar no Império do Meio. Valignano foi Provincial na Índia entre Outubro de 1583 e Outubro de 1587. No último ano foi de novo nomeado Visitador das Índias Orientais, cargo que ocupou até 1596. Depois de passar quase dois anos em Macau (de Julho de 1588 a Junho de 1590), parte seguidamente para o Japão como embaixador do Vice-rei das Índias. Regressou a Macau em 1592 onde permaneceu até Novembro de 1594. Foi neste período que supervisionou a construção do Colégio de São Paulo. Pouco depois da abertura do colégio, viajou para Goa e Cochim, mas regressou a Macau em Julho de 1597 onde ficou até Julho do ano seguinte. Passou os cinco anos seguintes no Japão. Depois de regressar a Macau em 1603, Valignano contribuiu grandemente para a separação da administração da Missão Jesuíta da China da Missão de Macau, cidade na qual veio a falecer a 20 de Janeiro de 1606.

OPOSIÇÃO AO COLÉGIO EM MACAU

Estudos anteriores sobre o Colégio de São Paulo, realizados por Benjamim António Videira Pires, S. J., em 1964, e Domingos Maurício Gomes dos Santos, em 1968, centram-se nos seus primeiros tempos, incluindo de alguma forma o papel de Valignano. É estranho que Gomes dos Santos não tenha citado o artigo de Pires. Ainda mais estranho é a omissão de ambos os artigos no mais recente livro de J. F. Moran sobre Valignano e a Missão do Japão4 Em vez de reiterar o ponto de vista destes trabalhos o objectivo desta comunicação centra-se num outro tipo de abordagem: as objecções à abertura do colégio que Valignano encontrou por parte dos seus confrades da Índia. A partir da análise das suas respostas, a importância do colégio torna-se clara e surge também a sua perspectiva do desenvolvimento das missões do Japão e, depois, da China.

As respostas de Valignano podem encontrar-se num relatório intitulado: "Jesus/ Informaciones del Fin para lo qual se Hizo el Collegio de Amacao y Respuesta a las Objectiones Contrarias q[ue] se Hizieron en la India".5 Dado que este manuscrito é parte integrante deste estudo inclui-se uma breve descrição. Todo o relatório é escrito com tinta chinesa pela mão do jesuíta Luís Fróis (1532-1597), mas assinado por Valignano no fólio 210r. O verso deste e o fólio 211r estão em branco, mas o fólio 211v tem, também em tinta chinesa, um curto título em espanhol escrito por Fróis e, depois, em tinta europeia, outro curto título em latim escrito por um secretário da cúria jesuíta em Roma.6 Como relatório enviado ao Padre Geral e aos assistentes em Roma, o estilo é algo sucinto, mas expõe claramente os argumentos e contra-argumentos.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: cartela que remata a porta central. Xie Ronghan: fotografia, 1991.

Para uma melhor compreensão das negociações sobre este assunto, Valignano referiu que era necessário considerar as razões da fundação do colégio tal como tinha escrito ao Provincial da Índia durante o ano anterior (1593).7 Refere ainda que a assembleia de 1592 da Vice-província do Japão concordava que um colégio em Macau seria a solução única e simples para o desenvolvimento da Companhia de Jesus e da cristandade no Japão.8 Para Valignano o objectivo do colégio tinha como base, sobretudo, quatro pontos fundamentais que ele descreve pormenorizadamente.

Em primeiro lugar os irmãos japoneses, cujos números estavam a aumentar, necessitavam de um colégio.9 O conselho consultivo no Japão afirmava que todos aqueles que chegavam ao Japão deveriam aprender os hábitos do país. Valignano acrescenta que estes métodos estavam mais pormenorizadamente descritos no Sumario de Japón, nomeadamente nos capítulos XVI e XVII.10 Achava que o método português de gestão de uma missão era, em geral, bom, mas que não era adequado à realidade do Japão. Os missionários necessitavam de aprender a cultura local, facto que, admitia Valignano, era uma ideia completamente nova, mas que era para o bem da Igreja e da Companhia de Jesus.

A segunda razão apontada por Valignano para justificar a abertura do colégio era que a missão no Japão passaria a ter um seminário composto pelo seu próprio pessoal, os quais, depois de graduados, ficariam à disposição do Vice-provincial.11 Enfatizava a importância do estabelecimento de um colégio em Macau para a Igreja japonesa, de modo a que os jesuítas vindos da Europa e da Índia pudessem estudar o japonês, bem como os costumes do país, interagindo com os japoneses. Tudo isto para preparar a chegada destes jesuítas ao Japão e contribuir para a sua tarefa de missionários e, sobretudo, evitar insultos embaraçosos ("injurias ineptas") quando tivessem que se relacionar com os japoneses.

A terceira razão teria a ver com o facto de o Japão, uma terra de muitos gentios, ser governada por reis com pouco poder e onde havia muitas perseguições, tal como a experiência já tinha ensinado aos jesuítas. Este facto, argumentava Valignano, criava uma atmosfera hostil na qual era impossível manter um colégio e um seminário no Japão, uma vez iniciadas as perseguições. Contudo, a continuidade da formação educacional era vital à missão por forma a que os dojoku pudessem vir também estudar para Macau.12 Esta afirmação de Valignano, proferida em 1594, aludia à mudança que encontrou no Japão durante a sua breve estadia entre 1590 e 1592. Toiotomi Hideióxi, o governante japonês impulsionador de uma verdadeira hegemonia, publicou um edital em 1587 em que dava ordem de expulsão a todos os missionários. Embora ainda não inteiramente em vigor, este edital levou às primeiras fases de um tenso período na relação entre a Igreja e o Governo, situação que o próprio Valignano teve oportunidade de testemunhar. Para além disso, ficou a conhecer as políticas de unificação levadas a cabo por Hideióxi, tal como o estudo feito relativamente às terras e o censo à população, os quais parecem ter assegurado Hideióxi da sua própria segurança no Japão, de tal forma que iniciou a invasão da Coreia. Estas foram algumas das várias fases levadas a cabo para pôr fim à desordem da era Sengoku ("Estados Guerreiros"), quando muitos dáimios (os "reis" de Valignano) detinham o poder num Japão descentralizado.

A quarta razão apontada por Valignano referia-se ao facto de a Ordem dos Jesuítas testemunhar o crescimento da cristandade no Japão, embora num futuro previsível a Igreja no Japão viesse a ser em parte europeia e em parte japonesa. Para evitar escândalos e para ajudar a construir a Ordem no Japão, o colégio seria a única solução para o vantajoso desenvolvimento da Igreja neste país. Valignano argumentava que estas quatro razões fulcrais, consideradas no seu conjunto, poderiam ser compreendidas como o propósito total da fundação do colégio na China.13

Depois desta introdução, Valignano centra a sua atenção nas quinze objecções que alguns jesuítas da Índia tinham levantado relativamente à abertura do colégio em Macau. Antes de comentar cada uma delas, referiu que todos os jesuítas se deveriam lembrar que o poder e o método para governar tal instituição em Macau para o Japão seria adaptar-se à compreensão do Superior local. Se o colégio tinha essa função no Japão, então também seria necessário que se adaptasse às mesmas condições que o Padre Geral tinha estabelecido para as residências e colégios aí. Isto significava, especificamente, que seriam instituídos provisoriamente, numa base temporária, e não como instituições permanentes. Já que o colégio em Macau seria parte da missão do Japão, também seria provisório.14 Para além disso, acrescenta Valignano, os jesuítas deviam pensar na futura ordenação de padres japoneses, embora houvesse jesuítas que alegassem que entre os japoneses havia grandes tentações e inquietação espiritual e que estas circunstâncias constituíam impedimento suficiente para que não fossem ordenados. Para Valignano, este tipo de atitude era prejudicial à Companhia e não tomava em consideração que, com o tempo, os japoneses desenvolveriam as virtudes e as capacidades literárias necessárias ao exercício do sacerdócio. Os irmãos jesuítas que fossem integrar o colégio de Macau seriam ordenados gradualmente. Estas reflexões levariam Valignano a responder a cada uma das quinze objecções levantadas na Índia contra a abertura do colégio.

VALIGNANO RESPONDE ÀS OBJECÇÕES

A primeira objecção consistia em que a abertura do colégio em Macau era contra a Constituição da Companhia. Em resposta, Valignano citou o texto latino da Constituição mostrando que era permitida a fundação de um colégio. Acrescenta que se houvesse apenas alguns colégios, os jesuítas não deveriam então pedir donativos, a não ser que um dos colégios fosse extraordinariamente pobre.15 Depois de uma longa discussão sobre os fundos que teria no Japão, Valignano insiste em que nem um cêntimo, tanto do Japão como da Índia, iriam ser gastos para sustentar o colégio.16

A segunda objecção dizia que a criação do colégio seria prejudicial para a missão do Japão e impediria o aumento de convertidos que Valignano procurava atingir. Respondeu que prudência, aprendizagem, virtude e zelo pelas almas se encontravam tanto no Japão como na Índia, mas que tanto aqueles com experiência no Japão como a congregação aí estabelecida indicavam que as necessidades dessa missão eram diferentes. Salientou que disciplinas como Gramática, Humanidades, Filosofia e Teologia não poderiam ser ensinadas numa residência mas apenas num colégio. Para além disso, lembrou que o grande colégio de Malaca tinha crescido a partir da Índia, de modo que o colégio que se propunha abrir em Macau ficaria também ligado à Índia. No entanto, acrescenta Valignano, o colégio deveria ter juízes eclesiásticos diferentes, que seriam somente aqueles da missão do Japão e mais ninguém.

Os padres da Índia também se manifestariam contra a abertura do colégio porque preparar os japoneses para a aprendizagem era não ser capaz de reconhecer as dificuldades encontradas na essência dos próprios japoneses. Esta situação não poderia ser resolvida por uma pessoa nem por todos eles. Em resposta, Valignano citou as resoluções que tinham sido tomadas nas conversas tidas em 1580 e 1581 por jesuítas de 26 postos diferentes do Japão. Todos eles concordavam que os jesuítas poderiam ensinar a Filosofia japonesa e Teologia de acordo com o talento e capacidade de cada pessoa, de modo a que pudessem tornar-se, de facto, eclesiásticos. Valignano concordava que o Padre Francisco Cabral (1528-1609) tinha argumentado que não era vantajoso ensinar estas disciplinas aos japoneses.17 Mas Valignano sublinhou que Cabral tinha aparentemente mudado de opinião, uma vez que nessa mesma assembleia consultiva tinha assinado o documento que continha a opinião da maioria. Por isso, quando os padres da Índia sustentavam que Cabral tinha uma opinião e que os padres do Japão outra, os da Índia ficaram sem bases para argumentação. Então, Valignano realçou que sem um colégio os japoneses permaneceriam em "perpétua ignorância".

Sendo isto verdade, Valignano argumenta que seria o mesmo que afirmar que os jesuítas não deveriam ensinar em determinadas partes da Europa e que os franceses não deveriam aprender teologia em Espanha nem os espanhóis ensinar em França. No entanto, isso não acontecia entre estes países devido ao intercâmbio de línguas e hábitos. Por outro lado, continua Valignano, os japoneses não eram diferentes dos Alanos, dos Vândalos ou dos Godos do passado europeu, ou das nações bárbaras das Índias Ocidentais e Orientais, e da própria Índia onde muitos malabares negros e canarins tinham sido ordenados.18 Valignano perguntava se em todo o Oriente os japoneses deveriam ser excluídos de entrar para o sacerdócio na Ordem dos Jesuítas. De facto, assinalou que eventualmente haveria seminaristas que, com as suas capacidades linguísticas, poderiam ensinar, aumentando assim o estatuto da religião no Japão.19

GIRÃO, João Francisco, Traslado de uma Carta que o Padre João Rodrigues Girão Escreveu de Macau... ao Padre Bartolomeu de Sequeira... ,12 Nov. 1618. Biblioteca Nacional de Lisboa, Manuscrito. O Japão Visto pelos Portugueses, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993, il. 18.

A quarta objecção vinda da Índia era que, vivendo em Macau, os japoneses iriam corroborar a sua fraca impressão relativamente aos portugueses, ficando escandalizados com o seu modo de vida. Na opinião de Valignano isto era um argumento imaginário, uma vez que as residências e as instituições dos jesuítas no Japão não tinham essa reputação, nem os padres da assembleia realizada em Nagasáqui concordavam com os confrades da Índia.20 Pelo contrário, argumentava Valignano, se os japoneses fossem para Macau ficariam em contacto com o modo de vida cristão nas residênciais e nos hospitais, bem como com a prédica e com o exemplo dos sacerdotes de outras ordens religiosas.

Na sua quinta objecção os jesuítas portugueses da Índia afirmavam que ter chineses e japoneses no mesmo seminário era uma estratégia pouco sensata, já que os dois povos eram inimigos. Este argumento foi também refutado por Valignano, que continuou, afirmando que tal ponto de vista não reflectia um conhecimento das evoluções no Sueste Asiático, onde as relações entre portugueses e chineses se poderiam considerar hostis.21 No entanto, nem isto era verdade, uma vez que as quatro ordens religiosas se encontravam em Macau com a anuência dos chineses e que estes não tinham manifestado qualquer atitude hostil para com os portugueses. Os chineses estavam não só a ajudar à construção do colégio, como os mandarins que estavam em contacto com compatriotas em Cantão tinham aprovado o projecto. De facto tinha planeado usar o mesmo tipo de madeira que os mandarins usavam para as sua spróprias residências.

A sexta objecção por parte da Índia consistia no facto de o colégio não poder ser auto-suficiente, já que dependeria da Espanha através das Filipinas, e ser, assim, negativo para a Índia.22 Rejeitando veementemente este argumento, Valignano refere que tinha escrito especificamente ao Padre Geral para não enviar nenhum jesuíta da Nova Espanha nem das Filipinas para o Japão ou para Macau. Qualquer pessoa que entrasse, quer em Macau, quer no Japão, teria que vir via Portugal. Enfatiza que não estava a difamar os espanhóis ("mal aficionado") e o bom trabalho que estavam a desenvolver na Companhia. Mas todos aqueles que viessem para as missões do Japão teriam, em primeiro lugar, que aprender a língua e os costumes dos portugueses.

Com os anos a Companhia tinha recebido colégios que tinham sido deficientemente fundados, o que levou o Padre Geral, em 1588, a estabelecer regras para tais instituições. Concordando que esta sétima objecção tinha algum crédito, Valignano fez também notar que era importante considerar o território onde iria ser fundado um colégio para os não-cristãos. Se fosse feito provisoriamente, se não afectasse adversamente a Companhia e não custasse mais do que seiscentos ducados, como tinha sido o caso de Goa, Baçaim e Malaca, então poder-se-ia fazer o mesmo no caso do Japão23

O oitavo argumento contra a abertura do colégio era que a instituição em Macau ficaria totalmente separada da Província da Índia e tornar-se-ia um encargo com os professores e outros profissionais que teriam necessariamente que manter o edifício. Valignano referia que este argumento era semelhante ao segundo e à sua preocupação de que o colégio de Macau desenvolveria um conjunto de mestres, superiores, etc., e assim destruiria a missão do Japão. Isto não aconteceria, referia Valignano, uma vez que o colégio da Índia não tinha tal efeito. Mas nem o colégio de Goa nem o de Malaca poderiam ser úteis ao Japão. Valignano previu que o colégio de Macau tivesse seis alunos de gramática, num curso de três anos.24 Dois ou três outros poder-se-iam juntar aos 13 a estudar filosofia e aos 14 a estudar teologia, embora tivesse referido que nem sempre o colégio iria ter alunos em teologia.

Os jesuítas da Índia também argumentavam que seria melhor ter jesuítas a estudar teologia em Goa como preparação para o seu trabalho no Japão em vez de experimentar qualquer outro método. Concordando que o conteúdo teológico seria o mesmo para o colégio de Macau do que o existente em Goa, Valignano referia que os alunos de teologia que fossem para o Japão seriam ensinados por instrutores que, familiarizados com o Japão, inseririam a teologia que ensinavam no contexto do país. Acrescentava que embora alguns jesuítas pensassem que uma pessoa pudesse ser Superior na Índia e depois no Japão, era claro que esta não era uma boa política.25 Por outras palavras, o que se aplicava ao contexto da Índia não se poderia aplicar ao Japão.

Os jesuítas da Índia acusavam também Valignano de instituir o colégio contra as instruções do Padre Geral, fazendo-o enquanto iniciativa própria. Valignano respondeu que a fundação do colégio estava relacionada com todos os jesuítas do Japão e não apenas com ele próprio. Os princípios sob os quais tinha sido fundado não iam contra a Constituição da Ordem Jesuíta e tinham sido, de facto, aplicados a todos os colégios e residências da Companhia no Japão. Valignano continua salientando que a objecção se baseava num equívoco relativamente ao papel do Visitador na Companhia de Jesus, visto que aqueles que defendiam este ponto de vista acreditavam que só o Padre Geral tinha o poder de tomar tais decisões, como, por exemplo, de fundar um colégio. Esqueciam-se que o Visitador recebia os seus poderes do Padre-mor e que estava autorizado a abrir uma nova residência na Província. Valignano relembrava propositadamente os seus confrades da Índia que Jerónimo Nadal, enquanto delegado em Espanha, tinha poderes emanados directamente de Santo Inácio para tomar este tipo de decisões. Insistia que enquanto na qualidade de Visitador das Índias Orientais não estava a subestimar o papel do Padre Geral, enquanto Superior de toda a Ordem Jesuíta, mas estava, de facto, a executar as suas responsabilidades de acordo com o Instituto.26

A penúltima objecção referia que o colégio de Macau não dependia directamente do Provincial da Índia, que a Província da Índia não tinha estado envolvida nas deliberações e que o inspector, sem esperar pela decisão final de Roma, tinha dado continuação ao projecto, agindo assim como se tivesse a autoridade do Padre Geral. Valignano referia que o Provincial da Índia não poderia interferir pois o Japão era uma Vice-província com o seu próprio Vice-provincial nomeado pelo Padre Geral. O Vice-provincial do Japão tinha os mesmos poderes que o Provincial da Índia, podendo fundar residências, colégios e seminários. Depois de uma discussão exaustiva sobre o papel de cada um destes superiores e de como estes recebiam a sua autoridade, Valignano mostrou-se algo exasperado ao comentar que as palavras daqueles que enviavam cartas para Roma sobre estes assuntos eram merecedoras de severa repreensão.27

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: exemplar do monograma que coroa as portas laterais. Xie Ronghan: fotografia, 1991.

A última objecção dos jesuítas da Índia repetia, em certa medida, algumas das queixas já referidas, residindo no facto de Valignano não esperar pela resposta de Roma antes de dar início ao colégio de Macau. Valignano referia que o colégio teria dez quartos, não contando com a enfermaria nem com a hospedaria destinada aos convidados. Devido à incerteza quanto ao transporte, os jesuítas nomeados para o Japão poderiam ter que esperar no colégio um ou dois anos antes de poderem continuar a sua viagem para a missão. Então, o colégio deveria ser também um lugar onde se pudessem executar cerimónias de ordenação, já que não havia bispo no Japão.28 Em breves linhas, Valignano continuava a discutir a possibilidade de abertura de um seminário na China. Esta breve referência oferece uma pista quanto ao facto de Valignano considerar a hipótese de Macau representar o centro do estabelecimento de sacerdotes locais tanto do Japão como da China.

Tendo terminado os seus comentários relativamente a cada uma das objecções, Valignano evidenciava que no centro de todas elas residia um equívoco por parte dos seus confrades da Índia, no que dizia respeito ao papel do Padre Geral e do Vice-provincial e à autoridade destes relativamente à construção de novas residências necessárias ao bem geral da Ordem Jesuíta e da Vice-província em particular. Insistia que todos os jesuítas no Japão apoiavam a abertura do colégio como a única solução para o progresso e conservação da cristandade neste país. Valignano relembrava os padres da Índia que tinham levantado as quinze objecções, que todos os jesuítas estavam ligados pelos mesmos princípios, mas que as províncias eram entidades autónomas sujeitas ao Padre-mor da Companhia.29

A RELAÇÃO ENTRE O COLÉGIO E A RESIDÊNCIA

Dado que o objectivo do novo colégio de Macau era a continuação da missão do Japão, diferindo da residência que os jesuítas tinham aberto anteriormente em Macau, Valignano estabelece inteligentemente um conjunto de directrizes relativamente à relação que se esperava que as duas instituições jesuítas mantivessem entre si.30 De acordo com estas directrizes, deveria haver ordem entre a residência e o colégio, e o Vice-provincial deveria publicar regulamentos para ambos e nenhuma das instituições deveria ficar subordinada à outra. De facto, a residência dever-se-ia encarregar do ministério da Igreja, enquanto que a função principal do colégio seria educar os irmãos jesuítas. Havia até uma regra que referia que a porta entre o colégio e a residência deveria permanecer sempre fechada. No seu último ponto Valignano evidenciava o facto de o colégio se destinar aos padres e irmãos que se encontravam a caminho do Japão. Todos os que vivessem no colégio deveriam usar camisa e calções como no Japão. Deveriam seguir os costumes japoneses e ninguém deveria ser dispensado de cumprir estas regras a não ser por expressa autorização do Reitor do colégio. Nos parágrafos finais, depois destas directrizes, Valignano refere ainda que o Reitor e o Vice-provincial do Japão deveriam elaborar outros pormenores amigavelmente. O Vice-provincial do Japão deveria fazer o mesmo com o Provincial da Índia, mas acima de tudo o Vice-provincial que, através do Reitor do colégio, fosse o responsável pela instituição.

AVALIANDO OS PRIMEIROS ANOS DO COLÉGIO

Em qualquer política de risco, a formulação e a execução nem sempre coincidem, de modo que se pode perguntar de imediato se este novo sistema encontrado para ambas as instituições de facto resultou. Durante os primeiros anos do colégio a resposta é claramente afirmativa, de acordo com Duarte de Sande, o Reitor do colégio. Escrevendo de Macau ao Padre Geral, a 2 de Janeiro de 1596, indicava que as relações entre as duas instituições eram muito boas. Na residência da Madre de Deus o Reitor, Padre Lourenço Mexia (1539-1599), estava envolvido em vários ministérios da Companhia. Entretanto, as aulas com vista à licenciatura em teologia eram oferecidas no colégio. Acrescenta, para além disso, que havia aulas de latim e aulas especializadas em ensinar os hábitos e costumes dos japoneses. À altura da viagem de Julho para o Japão, explica Sande, todos os jesuítas nomeados para a missão no Japão estariam prontos para partir. Refere também que dois bispos jesuítas, Pedro Martins (1552-1598) e Luís Cerqueira (1552-1614), estavam a viver em Macau e tinham acrescentado comentários interessantes relativamente ao apostolado missionário de Ricci em Nanquim31 A opinião de Sande é tanto mais notável quanto três anos antes ele se opusera ao estabelecimento do colégio alegando que era prematuro.32 Tal não impediu, contudo, que tivesse sido nomeado para primeiro Reitor do colégio.

A avaliação positiva do novo colégio feita por Sande foi compensada em certa medida por uma carta de Pedro Ramón (m. 1611). Depois da sua chegada ao Japão tornou-se mestre de noviços e mais tarde Reitor do seminário. Regressa a Macau em 1595 para convalescer e preparava-se para regressar ao Japão quando escreve ao Padre Geral, a 7 de Janeiro de 1596. Concordando com os seus confrades que o Japão necessitava de sacerdotes locais, não ficou impressionado com o colégio e duvidou que este pudesse dar algum contributo positivo. No entanto, elogia Valignano, a quem compara a Aníbal por empreender tarefas difíceis.33 Nesse ano, mas um pouco mais tarde, Cabral escreve de Goa uma defesa algo forte sobre a sua visão negativa dos japoneses classificando-os de orgulhosos e como pessoas em quem não se pode confiar, reafirmando a sua oposição ao colégio de Macau.34 Por altura desta carta de Cabral já o colégio se encontrava a funcionar há dois anos. Embora tivesse havido mudanças na estrutura administrativa, tal como a fusão do colégio com a residência, a missão educativa do colégio perdurou.

FRÓIS, Luís, Lettera Annua dei Giappone deU'Armo M. D. XCVI, Roma, Luigi Zannetti, 1599.

Biblioteca Nacional de Lisboa.

O Japão Visto pelos Portugueses, Lisboa, Comissão Nacional para asComemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993, p. 111.

CONCLUSÃO

Definições pormenorizadas de controle bem como distinções entre os Superiores da Ordem dos Jesuítas parecem ser supérfluas quando se fala da fundação do colégio em Macau. É precisamente o oposto. Aqueles que não estão familiarizados com a história das ordens religiosas, especialmente a Ordem de Jesus, podem por vezes considerar tais grupos como simples monólitos comandados por superiores que exigem que todos os que estão hierarquicamente dependentes deles executem os seus desejos imediatamente. Tal ponto de vista é deficiente quando se tenta distinguir entre a tomada de decisão e a execução desta. De facto, espera-se que qualquer religioso cumpra uma decisão, desde que esta tenha sido dada como derradeira por um superior. No entanto, o que se revela como dado importante para os historiadores é determinar como um superior religioso alcançou a decisão e, acima de tudo, descobrir se houve vozes que se lhe opuseram antes de esta ser concretizada. Valignano, enquanto Visitador com poderes de Superior Geral na Ásia, teve de enfrentar resistência por parte dos seus confrades da Índia.35 Algumas das suas opiniões foram mais importantes do que outras, como, por exemplo, quando se questiona a autoridade de Valignano para abrir um colégio sem primeiro consultar o Padre Geral e esperar a sua aprovação. Para Valignano o que estava em jogo era algo ainda mais fundamental, uma vez que ele compreendia os problemas que a missão do Japão enfrentava. Os jesuítas que trabalhavam na Índia não entendiam inteiramente a situação cultural e política em mudança no Japão e o impacto da fundação de um colégio em Macau. Por outro lado, os seus confrades do Japão compreendiam essa necessidade, de tal forma que Valignano estava a tentar implementar um programa pelo qual os confrades do Japão se tinham decidido de forma unânime, como resultado da assembleia de 1592. Deste modo, demonstrou as suas qualidades de liderança, já que estava determinado a manter a missão do Japão, a qual prometia muito no futuro da Ásia.

De acordo com a perspectiva de Valignano, o colégio de Macau tinha um objectivo muito específico. Aqueles que residiam no colégio deveriam viver num ambiente japonês, de acordo com os hábitos japoneses, incluindo a roupa, de modo a que pudessem ficar bem preparados para entrar no Japão. Esta sua opinião de 1594 foi o corolário daquela expressa antes por Valignano, mais pormenorizadamente, no seu Sumario de las Cosas de Japón (1583), bem como em Adiciones de 1592.36 Os portugueses dever-se-iam adaptar aos japoneses e não vice-versa. Um livro recente sobre Valignano, contudo, refere que ele queria trazer escolásticos jesuítas japoneses para o colégio em Macau, de modo a que eles pudessem voltar para o Japão "transformados". Tal transplantação temporária permitiria aos japoneses "viver entre os portugueses e ver, aprender e vir a respeitar os costumes europeus e o ambiente europeu, onde os hábitos se enquadram".37 Esta avaliação das intenções de Valignano relativamente ao colégio é inquestionavelmente muito errada e reflecte o fracasso do autor em consultar as fontes manuscritas respeitantes à regulamentação estabelecida por Valignano para o colégio e para a residência.

Outro elemento crucial dos escritos de Valignano é que a missão do Japão não poderia durar a não ser que os japoneses fossem admitidos na Companhia e ordenados padres. Os problemas que mais tarde Valignano teve que enfrentar, tentando implementar este plano, não se encontram no âmbito deste estudo. Contudo, as quase duas décadas que ele passou tentando desenvolver a sua política no Japão, mesmo antes da fundação do colégio, fazem parte dos antecedentes do seu profundo interesse em fundar tal instituição em Macau.

Aquando da abertura do colégio em 1594 registaram-se mudanças na relação entre o Padroado português e o espanhol, porque Espanha e Portugal ficaram unidos sob a mesma coroa entre 1580 e 1640. Esta situação afectou não só a Ordem dos Jesuítas mas também a história das missões na Ásia, e mais concretamente no Sueste Asiático. No entanto, Valignano insistia que um jesuíta só deveria entrar na missão através de Portugal e não através da Nova Espanha ou de Manila. Valignano realçou que um jesuíta poderia ser treinado para ir para a Índia, mas mesmo tornando-se Superior aí, não significava que pudesse ou devesse ser Superior no Japão. Para além disso, os documentos citados anteriormente indicam que Valignano também considerava a relação da iniciativa missionária que tinha sido iniciada na China somente uma década atrás. Da sua discussão com Mateus Ricci, antes do último ir para a China em 1583, e mesmo depois, Valignano aprendeu que a língua e os costumes dos chineses eram muito diferentes dos dos japoneses.38 Apercebeu-se que no futuro um jesuíta já não poderia transferir-se de uma missão para outra na Ásia, uma vez que a complexidade e a diversidade dos países asiáticos pugnava contra este método. Como resultado, impunha-se que um jesuíta fosse preparado para uma determinada missão antes de partir para esse território. Para Valignano o colégio em Macau era um elemento chave no processo de assistência ao futuro missionário do Ocidente para entrar no Japão com o máximo de preparação possível, mesmo providenciando a educação necessária para os jesuítas japoneses.

Numa abordagem sobre o tema das conversões e do clero na Ásia, Charles Ralph Boxer, um dos principais historiadores do império português, nota que: "Os filhos de Loiola instauraram e mantiveram níveis bastante mais elevados do que os seus antecessores, e o notável desenvolvimento das missões portuguesas entre 1550 e 1750 fo sobretudo fruto do seu trabalho, facto que produzia nos protestantes reacções hostis."39 A abertura do Colégio de São Paulo em Macau, sob a liderança de Valignano, foi importante para a continuação da missão do Japão. Três décadas depois da morte de Valignano o Japão tornou-se inacessível a qualquer missão ocidental e a qualquer comerciante vindo do Ocidente, à excepção dos holandeses. Embora estes acontecimentos tivessem afectado o propósito primeiro do colégio, esta instituição educacional permaneceu um importante elo entre as missões da China e do Sueste Asiático, contribuindo assim para um "notável desenvolvimento das missões portuguesas".

Comunicação apresentada no Simpósio Internacional "Religião e Cultura", comemorativo do IV Centenário da Fundação do Colégio Universitário de S. Paulo, realizado pelo Instituto Cultural de Macau, Divisão de Estudos, Investigação e Publicações, entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1994, em Macau.

Tradução do original inglês por Custódio Martins; revisão de Pedro Catalão; revisão final de Júlio Nogueira.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: estátua em bronze a representar São Francisco Xavier (primeiro nicho à direita da janela central, 2a fileira).

Xie Ronghan: fotografia; 1991.

NOTAS

1 O autor agradece a Edward Malatesta, S. J., pelas várias referências usadas nesta comunicação. A declaração de Polanco numa carta a Francisco de Borja é citada em O'MALLEY, John W., The First Jesuits, Cambridge, 1993, p. 201.

2 GERNET, Jacques, Daily Life in China on the Eve of the Mongol Invasion, 1250-1276, Stanford, 1962.

3 Ver dados biográficos sobre Valignano em SCHÜTTE, Josef Franz, Valignano's Mission Principles for Japan, St. Louis, 1980-1985, vol. l, pp. 30-9; e MALATESTA, Edward, Alessandro Valignano, Fan Li-an (1539-1606): Estratega da Missão Jesuíta na China, "Revista de Cultura", Macau, 2 (21) Out.-Dez. 1994, pp. 51-66.

4 PIRES, Benjamim Videira, The Genesis of the Jesuit College at Macao, "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau", (62) 1964, pp. 803-13; SANTOS, Domingos Maurício Gomes dos, Macau: Primeira Universidade Ocidental do Extremo Oriente, "Anais", (17) 1968, pp. 203-37; MORAN, J. F., The Japanese and the Jesuits: Alessandro Valignano in Sixteenth Century Japan, London, 1993, pp. 174-7. Ver outros dados biográficos sobre Valignano e o Japão em VALIGNANO, Alexandre, Les Jésuites au Japon: Relation Missionaire (1583), Paris,1990; e JORISSEN, Engelbert, Alessandro Valignano e o Japão: Duas Visitas e Três Documentos: "Os Advertimentos" (1581/82),"Sumario de Japón" (1583), "Adiciones del Sumario de Japón" (1592), "Revista de Cultura", 2 (17) Out.-Dez. 1993, pp. 49-72. Este artigo, contudo, aparece somente na sua versão portuguesa e não na versão inglesa.

5 Archivum Romanum Societatis Iesu (ARSI), Jap. Sin. 22, f. os 198-211v; outra cópia Jap. Sin. 23, f.os 299-31 lv. Para uma lista das quinze objecções dos jesuítas da Índia, ver "Rezoens por as quais Pareceo na Co[n]sulta q[ue] Aqui se Fez em Goa, Nao se Dever Fu[n]dar Collegio da Comp.a em Amacao", in Jap. Sin. 22, f.os 192-197v. Estes manuscritos são citados, mas não exaustivamente examinados, por SANTOS, Domingos Maurício Gomes dos, ob. cit., pp. 214-5.

6 O relatório está nas mãos de Fróis, já que é idêntico àquele encontrado na carta de Valignano ao Padre-mor, Cláudio Acquaviva, de 8 de Novembro de 1594. Ver WITEK, John W., ed., Documenta Indica, Roma, 1984, vol. 16, p. 763.

7 De 1592 a 1597 Francisco Cabral (1528-1609) foi Provincial na Índia. Missionário no Japão de 1570 a 1582, recusou-se a aprender os hábitos dos japoneses com o intuito de propagar a cristandade e alegava que os japoneses eram argutos, instáveis e não se coadunavam com a vida religiosa. Contudo, Valignano tinha visitado o Japão pela primeira vez entre 1579 e 1582. Sob a sua orientação, a assembleia consultiva dos Jesuítas, realizada no início de 1582, defendia uma política de aculturação para a missão japonesa. Cabral foi enviado nesse mesmo ano para Macau onde se tornou Reitor da residência e no primeiro Superior da missão da China até 1586, altura em que partiu para Goa.

8 "... un collegio en Amacao, como unico y singular remedio del buen progresso de la Comp. a y christandad de Japón", cf. ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 198. A assembleia da Vice-província decorreu em Nagasáqui, de 3 a 14 de Fevereiro de 1592.

9 A palavra portuguesa "irmãos" nos documentos jesuítas do século XVl pode referir-se tanto aos escolásticos (que entravam na Ordem para se tornarem padres) como aos irmãos que desempenhavam, quase sempre, deveres seculares, mas que não eram ordenados. Devido a esta ambiguidade usar-se-á o termo original. Ver tambéma nota do editor em SCHÜTTE, Josef Franz, ob. cit., vol. l, pp. 251-2.

10 Valignano aqui refere-se a um título breve do seu trabalho. Ver VALIGNANO, Alexandre, Sumario de las Cosas de Japón, 1583: Adiciones del Sumario de Japón, 1592, edição de J. L. Alvarez-Taladriz, Tokyo,1954, pp.198-206.

11 ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 198v. Esta frase foi sublinhada na cúria jesuíta em Roma.

12 Id., f.os 198v.-199r. O termo dojoku refere-se aos catequistas leigos e tradutores dos jesuítas, alguns dos quais aspiravam a entrar na Ordem dos Jesuítas. Ver as notas do editor na obra de SCHÜTTE, Josef Franz, ob. cit., vol. l, p. 340.

13 ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 199r.

14 "... per modum provisionis ad tempus...", cf. ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 199v.

15 "nisi tante paupertate collegium praemeretur", cf. ARSI, Jap. Sin. 22, f.os 200r-v.

16 "... ni una blanca de Japón ni de la India", in ARSI, Jap. Sin. 22, f.os 201r. Repetia este ponto ("sin gastar un solo real de Japón") na sua carta ao Padre Geral, 9 de Novembro de 1594, cf. WITEK, John W., ed., ob. cit., vol. 16, p. 783.

17 Sobre Cabral, ver nota 7.

18 ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 202v. Canarins é o nome incorrectamente dado pelos portugueses aos que viviam no território compreendido entre Goa e o Malabar. Ver DALGADO, S. R., Glossário Luso-Asiático, Coimbra, 1919-1921; reedição, Hamburgo, 1982, vol. l, p. 197.

19 ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 203r.

20 Id., f.os 203r-v.

21 A objecção vinda da Índia refere-se aparentemente aos chineses enquanto empregados domésticos e não enquanto alunos. É talvez por esta razão que Valignano sublinha o papel das autoridades chinesas e dos trabalhadores na construção do colégio.

22 Ver ARSI, Jap. Sin. 22, f.os 204r-v, relativamente a esta e à objecção anterior.

23 "... seis cientos ducados de renta...", cf. ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 205r.

24 Id., f.os 206r-v.

25 Id., f.o 206v.

26 Id., f.o 207v; sobre Nadal, ver O'MALLEY, John W., ob. cit., pp. 63-4. O Instituto da Ordem Jesuíta refere-se aos documentos papais pertencentes à Ordem, à Constituição escrita pelo fundador, aos decretos das assembleias gerais e aos regulamentos e instruções do Padre Geral.

27 "... las quales palabres son dignas [d]e much reprehension", cf. ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 209r.

28 Id., f.o209v.

29 Id., f.os 209v-210r.

30 Este documento, que contém dezoito pontos, intitulado "Ordem que Deve Aver entre o Collegio e Casa de Amacao", termina com um ensaio algo longo; ver ARSI, Jap. Sin. 12, II, f.o 232r-235v.

31 ARSI, Jap. Sin. 22, f.o 341-342v. Para mais informações sobre estes dois bispos que mais tarde foram para o Japão, ver DEHERGNE, Joseph, Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, Roma, Paris, 1973, pp. 51,168; e COOPER, Michael, Rodrigues, the Interpreter: An Early Jesuit in Japan and China, New York, Tokyo, 1974, pp. 108-11.

32 Ver a sua carta ao Padre Geral, 15 de Novembro de 1593, in ARSI, Jap. Sin. 12, l, f.o 124.

33 ARSI, Jap. Sin. 12, II, f.o 345-346v.

34 Cabral para João Álvares (Padre Assistente em Roma), Goa, 10 de Dezembro de 1596, in WITEK, John W., ed., ob. cit., vol. 18, pp. 603-26, especialmente pp. 606-17.

35 Havia 17 jesuítas, para além de Cabral, que esboçaram as quinze objecções à fundação do colégio. Pouco depois do colégio abrir, Valignano foi a Goa onde reuniu com estes confrades. Ver a sua carta ao Padre Geral, Goa, 27 de Novembro de 1595, in WITEK, John W., ed., ob. cit, vol. 17, pp.313-28, especialmente pp. 316-7.

36 Ver também a obra de SCHÜTTE, Josef Franz, ob. cit., citado na nota 9, supra; e ELISON, George, Deus Destroyed: The Image of Christianity in Early Modern Japan, Cambridge, 1973, pp. 70-4.

37 MORAN, J. F., ob. cit., pp. 174, 221 (nota 62). A nota refere-se à carta de Valignano ao Padre Geral, 9 de Novembro de 1594, cf. ARSI, Jap. Sin. 12, 11, f.os 222-225v, como prova da opinião de Moran sobre o colégio. Mas partes da carta em SCHÜTTE, Josef Franz (1968), pp. 163-165 (citado incorrectamente por Moran como SCHÜTTE, Josef Franz/1975/) e outras partes da carta encontradas em WITEK, John W., ed., ob. cit., vol. 16, pp. 779-86, não apoiam a interpretação de Moran. O seu livro de 1993 não se refere ao resto da carta, que tinha sido publicada em 1984.

38 Nos finais de 1592 Ricci deixou a China temporariamente e veio para Macau a pedido de Valignano. Para além de terem discutido a missão da China, Ricci procurou assistência médica devido a uma ferida que tinha na perna. Ver RICCI, Mateus, Fonti Ricciane, edição de Pasquale d'Elia, Roma, 1942-1949, vol. l, p. 323.

39 BOXER, Charles Ralph, Portuguese Seaborne Empire: 1415-1825, Middlesex, Penguin, 1973, p. 67.

* Professor de História da Ásia Oriental no Departamento de História da Universidade de Georgetown, Washington. Entre os trabalhos publicados, destacam-se Controversial ldeas in China and in Europe: A Biography of Jean-François Foucquet (1665-1741), Understanding the Chinese: A Comparison of Matteo Ricci and the French Jesuit Mathematicians Sent by Louis XIV e Ferdinand Verbiest (1623-1688): Jesuit Missionary, Scientist, Engineer and Diplomat.

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