Álbum

GEORGE VITALIEVICH SMIRNOFF (1903 -1947)

Operíodo da II Guerra Mundial transformou Macau, como muitas outras cidades, num centro de refugiados, fugidos das baionetas dos guerreiros nipónicos.

Ao forte odor a morte e a devastação trazido pelos ventos que sopravam do Pacífico, a população de Macau, naturalmente agregada segundo as vocações linguísticas, respondia com manifestações de vida. Organizavam-se concertos, bailes, récitas, exposições. Ensinava-se pintura, música, fruia-se o sol que ardia sobre as acácias espalhadas pela cidade, percorrida languidamente por vendilhões. De noite, orquestras tocavam no Hotel Riviera ou junto à piscina municipal, esconjurando os fantasmas da guerra, enquanto patrulhas percorriam a cidade e alguns morriam de fome. Eram os anos quarenta.

George Smirnoff chegou em 1944. Nascido no ano de 1903 em Vladivostoque, iniciou a sua vida de nómada forçado aos 12 anos, fugindo para a cidade de Harbina, na Manchúria. A sua Sibéria era varrida pelos ventos da revolução que se avizinhava.

Em Harbina destaca-se como bom estudante, ganhando prémios e um lugar na Universidade, onde frequenta Arquitectura. Com o expansionismo nipónico, a Manchúria é invadida. O jovem arquitecto, já casado, foge com a família para o Norte da China. Em Tsingtao [Qingdao], Smirnoff trabalha como arquitecto, desenhando e concebendo cerca de 200 casas. Como zona de veraneio, Tsingtao não oferecia mais que quatro meses de trabalho intenso. Aproveitando os largos meses de ócio, George Smirnoff entretém-se a pintar.

Autodidacta, em pouco tempo denota a mestria suficiente para vender alguns quadros.

Novamente em 1938 os Smirnoff são obrigados a fugir do avanço japonês. Agora é Hong Kong, onde o arquitecto retoma a sua profissão. Aí estava quando os japoneses avançaram sobre a colónia em Dezembro de 1941.

Só três anos mais tarde conseguem atingir Macau que, embora em paz, estava também povoada de refugiados. Empregos não abundavam, naturalmente. Smirnoff recorre então ao seu gosto pela pintura para sobreviver, tal como fizera em Hong Kong.

O arquitecto tornado pintor confidenciara certa vez ao seu velho amigo Padre Albert Cooney, que "não sabia o suficiente para ser bom, mas sabia já demais para ser mau". Por isso George Smirnoff retoma o pincel, ensina desenho, faz cenários para peças de teatro, expõe em Dezembro de 1945 no Colégio de S. Luís, na Rua da Praia Grande, juntamente com os seus alunos. Em 1944, através de uma encomenda do Governo de Macau, feita pelo Dr. Pedro Lobo, George Smirnoff realiza uma série de sessenta e três aguarelas sobre Macau, hoje pertença do Museu Luís de Camões, que lhe garantem a subsistência. À cidade fica a garantia de que se imortalizará novamente, pela mão deste arquitecto que se notabilizaria pelas suas aguarelas.

George Vitalievich Smirnoff encontra em Hong Kong, após a guerra, numa janela de um andar alto, a solução das suas angústias. Estava-se em 1947.

"Igreja de St° António". Aguarela, 1945. 22,4 x 28.3 cm.

"Igreja do Seminário de S. José e Casario Chinês". Aguarela, 1945. 28,6 x 22.6 cm.

"Igreja da Penha Vista do Porto Interior". Aguarela, 1945, 22,5 x 28,6 cm.

"Farol da Guia Visto da Estrada de S. Francisco". Aguarela, 1945, 28,5 x 22,5 cm.

"Palácio do Governo. Praia Grande". Aguarela, 1944, 27,4 x 32,7 cm.

"Largo do Senado Visto da Travessa do Roquete". Aguarela, 1945, 28,8 x 22,5 cm.

"Travessa do Paiva e Edifício da Alfândega Chinesa". Aguarela, 1945, 22,5 x 28,8 cm.

"Igreja de St° Agostinho Vista da Calçada do Gamboa". Aguarela, 1945. 29 x 25,5 cm.

"Trecho da Antiga Rua da Prata". Aguarela, 1945, 22,6 x 29,3 cm.

"Pátio Interior. Rua da Prata". Aguarela, 1945. 52,4 x 28.8 cm.

"Trecho da Calçada do Monte". Aguarela, 1945, 22,5 x 28,8 cm.

"Praça Lobo d'Ávila. Casas Tradicionais". Aguarela. 1945, 22,5 x 28,8 cm.

"Grémio Militar e Quartel General". Aguarela, 1945, 22,5 x 28,8 cm.

"Pavilhão e Lago do Jardim de Lou Lim leok". Aguarela, 1945, 24,7 x 17,6 cm.

"Macau Visto do Hospital Conde de S. Januário". Aguarela, 1945, 19 x 29,4 cm.

"Igreja de S. Domingos". Aguarela, 1945, 28,5 x 22,5 cm.

desde a p. 205
até a p.