Crónica Macaense

UM BOTÂNICO MACAENSE DESCONHECIDO

Manuel Teixeira*

Arquivo Histórico de Macau-LR.0601.

DADOS GENEALÓGICOS

O botânico é João Maria António da Silva, que nasceu em Macau em 7 de Setembro de 1834, sendo filho de João Maria da Silva e de Alexandrina Maria Vieira (casados na Sé de Macau a 5-10-1833), neto paterno de João da Silva e de Maria Esperança Xavier e materno de Joaquim Vieira Ribeiro e de Ana António de Barros.

Este Joaquim Vieira Ribeiro era filho de Inácio Vieira Ribeiro, chinês, e de Caetana Simões, n. p. de Tomás Vieira Ribeiro e de Clara de Lacerda, e materno de Domingo Simões e de Caleta de Abreu, chinesa, criada de Nicolau Fiume.

Foi Tomás Vieira Ribeiro que deu o nome à Rua Tomás Vieira, que começa na Rua de Coelho do Amaral e termina na Estrada do Cemitério.

João Maria António da Silva, botânico macaense, casou e teve, entre outros, uma filha, a quem deu o nome de Maria Alexandrina.

Vamos agora tratar da vida e obra de João Maria António da Silva, que muito se distinguiu no campo da botânica.

O BOTÂNICO MACAENSE

José Pedro Braga, no seu opúsculo The Portu-guese pioneers of Hong Kong, escreve à pág. 10: "Os primeiros arrendatários da Coroa em Kowloon foram os Sr. J. M. A. da Silva, Matias Azevedo, A. Brandão, A. M. Alves, A. Chagas, E. X. Ribeiro e Cândido A. Ozório."

Sobre o primeiro, diz Jack Braga no prefácio desse opúsculo de seu pai: "Quando Marconi deu a conhecer ao mundo as maravilhas da telegrafia sem fios, o falecido Sr. J. M. A. da Silva apresentou, pela primeira vez, esta nova invenção na grande sala de entrada do velho clube Lusitano em Shelley Street. O Sr. Silva é o autor dum livro em português intitulado Noções de Botânica aplicada, cuja edição é pequena e que infelizmente não está traduzido em inglês. A sua tradução seria do maior interesse para botanistas e naturalistas, além de dar ao livro uma maior projecção". E nós acrescentamos: seria bom que se reeditasse este livro em português.

Em 1933, A. C. de Sá Nogueira publicou o livro Catálogo descritivo de 380 espécies botânicas da Colónia de Macau. Entre as obras consultadas, cita o Repositório de noções de Botânica de J. M. A. da Silva.

Nem Jack Braga nem Sá Nogueira deram o nome completo do autor nem o título exacto desse livro de 332 pág.; que é o seguinte: Repositório de noções de Botânica applicada e productos vegetáes mais conheci- dos e usados na China, tanto na economia domestica como na the pareutica e nas artes, extrahidas e compiladas de diversas obras, por João Maria António da Silva, Cavaleiro da ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, Hong Kong, 1904.

O exemplar dessa obra que nós possuímos tem a seguinte oferta: "A minha querida filha Maria Alexandrina, para preservar como memória d'um pai muito extremoso. O Auctor."

A filha preservou-o durante toda a sua vida.

Passou para os seus herdeiros, vindo por fim parar às nossas mãos, que o preservamos também por se tratar dum grande botânico macaense e um dos pioneiros de Hong Kong.

No prefácio da sua obra, escreve João Maria António da Silva que este livro pretende servir de guia aos seus compatriotas "que, há séculos, estão fazendo uso de várias plantas da China e das regiões occidentais, cujas folhas, raízes e frutos, e os produtos destes, têm sido empregados como medicamentos e como artigos de alimentação."

"É indubitável que certos medicamentos, que no Oriente são eficazes para certas moléstias, não produzem os mesmos efeitos noutros países, onde o clima é diverso. E não é raro notar-se que entre os povos orientais há doenças que se curam admiravelmente com folhas, raízes e frutos que na Europa, ou não são conhecidos, ou não se empregam medicinalmente, porque a diversidade de climas produz excepções que constituem especialidades.

E é nesta novidade, e somente nisto, que consistirá o merecimento deste livro, que outro valor talvez lhe não achem, nem eu pretendo que tenha."

Termina o prefácio, agradecendo a Manuel Fernandes de Carvalho pela revisão e correcção do livro e a João Maria (filho do autor), por ter corrigido as provas.

Este livro é precioso, pois nos dá a história, as qualidades e o uso de cada planta e apresenta os seus nomes em português, chinês e inglês, além do seu nome científico. Vamos dar alguns exemplos.

* Historiador de Macau, da presença de Portugal e da Igreja no Oriente, com mais de uma centena de títulos publicados. Grande Colar e sócio da Academia Portuguesa de História. Membro de várias instituições internacionais, v. g. a Associação Internacional dos Historiadores da Ásia.

desde a p. 112
até a p.