Encontro de Culturas

UMA INTERPRETAÇÃO OCIDENTAL DA CHINA CARTOGRAFIA JESUÍTA

Theodore N. Foss*

"A map of China, Tartary and... Corea", de D'Anville. Extraído de: DU HALDE-- The general history of China. vol.1. p.1. AH/LR60

Desde os primórdios da sua missão na China, os jesuítas colocaram como um dos seus principais objectivos a delineação geográfica do império. O material cartográfico que acumularam serviu para instruir e satisfazer a curiosidade entre os chineses sobre o relacionamento entre os continentes. Os mapas missionários posicionavam a China no seu lugar na cartografia moderna e respondia igualmente à pergunta dos chineses: "Qual era a origem destes 'homens sábios do Ocidente'?" Os cartógrafos jesuítas na China publicaram também obras para a instrução dos europeus interessados no Oriente e estavam perfeitamente conscientes dos benefícios que advinham da qualidade pictórica e acessibilidade visual dos mapas, uma vez que transcendiam a língua. Os trabalhos cartográficos dos jesuítas serviram também uma necessidade missionária mais imediata, a de ajudar na evangelização em todo o vasto império chinês.

Desde os primeiros tempos da missão jesuíta na China até ao desmantelamento da Companhia, no último terço do século XVIII, a elaboração de mapas era tida como um projecto de colaboração entre os padres e frades jesuítas e os seus colegas chineses, cristãos ou não. Os jesuítas produziram obras cartográficas ao serviço da corte imperial chinesa tendo em vista a expansão da missão católica e para o apetite insaciável que os eruditos europeus tinham por informações sobre a China.

Esta tradição da cartografia jesuíta na China é uma história com um clímax. O ponto alto da elaboração de mapas da China por parte dos jesuítas foi a produção de um atlas fundamentado em levantamentos reais da totalidade do império chinês, um projecto patrocinado pelo imperador Kangxi (1662-1722) no primeiro quartel do século XVIII. Os resultados foram publicados tanto na China como na Europa e proporcionaram a ambos os mundos a imagem mais exacta do império chinês jamais vista; este atlas serviu mesmo até meados do século XIX.

Independentemente e antes da intrusão ocidental, desenvolveu-se uma forte tradição cartográfica e de descrição geográfica. Produziram-se grandes atlas e mapas provinciais mais específicos. Nos mapas chineses, o posicionamento dos pontos não era feito através da observação astronómica, mas sim pela medição das distâncias de ponto a ponto. Todavia, com estes meios, produziram-se mapas surpreendentemente exactos.1 Apesar de haver uma tradição na China, à semelhança da Europa, de cosmografia religiosa, a maior parte da cartografia chinesa foi criada com fins administrativos. Por exemplo, foram descobertos recentemente mapas que datam de aproximadamente 150 a. C., cuja função parece ter sido militar e burocrática. O estudo da elaboração tradicional de mapas na China é actualmente um tópico de estudos entusiásticos. Em 1137 d. C., foi esculpido em pedra um mapa de todo o império, representando com alguma exactidão a sua costa oriental e os cursos dos seus rios.

A cartografia chinesa atingiu o seu ponto alto na dinastia Yuan (1271-1368), quando Chu Ssu-pen (aproximadamente 1273-1337) compilou o seu Yu di tu (Mapa geográfico), impresso em 1311-12. Este atlas não se encontra na sua forma original, "mas outros mapas produzidos sensivelmente na mesma época (...) tomam claro que a cartografia chinesa, durante a dinastia Yuan, ofusca completamente tudo o que era produzido no Ocidente na mesma altura".2 Lo Hung--hsien (1504-1564), recorrendo à obra de Chu Ssu-pen como fonte principal, produziu uma grande síntese sobre todas as obras geográficas anteriores na sua obra-prima, o Kuang-yu tu (Mapa exaustivo), composto por volta de 1540. Este atlas foi inicialmente impresso em 1555 — somente vinte e oito anos antes da chegada de Mateus Ricci (1552-1610) ao império chinês.

Com a chegada dos jesuítas, introduziram-se na China práticas geográficas europeias. Desde este período inicial da presença missionária, no último quartel do século XVI, que os missionários-cientistas jesuítas se interessaram em compreender a geografia das terras em que labutavam. Estudaram cartografia chinesa, fizeram os seus próprios mapas das regiões e interpretaram os conhecimentos europeus de produção de mapas para os chineses interessados e cépticos.

O primeiro passo importante do processo europeu de produção do mapa da China foi o mapa feito pelo cartógrafo português Luís Jorge de Barbuda (1580), publicado no Theatrum orbis terrarum, de Abraham Ortelius (1527-1598), em 1584. Citado como o "primeiro mapa separado da China a aparecer na Europa",3 respondia à pergunta da Europa: "Qual é o aspecto da China?" Lançou também as bases europeias da cartografia jesuíta da China, uma vez que no mesmo ano, 1584, Ricci, que tinha chegado à China no ano anterior, produziu uma versão chinesa de um mapa-múndi europeu que havia levado consigo. Apesar de não existir nenhuma cópia do primeiro mapa chinês de Ricci,4 sabemos, através dos seus escritos, que conhecia uma edição do Mapa exaustivo, de Lo, assim como outro mapa chinês, Ku-chin hsing sheng chih tu (Mapa das configurações antigas e modernas), que tinha sido reimpresso em 1555.5 Escreve igualmente sobre o facto de possuir as obras de Ortelius e Gerard Mercator (1512-1594).6

Ricci continuou a melhorar o seu mapa-múndi. A versão existente do seu mapa-múndi de 1602 tornou-se num dos mapas mais célebres da história da cartografia. Ricci traduziu todos os termos e nomes de locais para Chinês e colocou a China no centro do mapa, facto que foi ao encontro do tradicional orgulho chinês de considerar a China Zhongguo (Império do Meio).7 Produziu este mapa para responder às perguntas que os chineses lhe colocavam: "De onde vem? Como descreve o mundo?"8 O mapa veio a ser um instrumento importante para fazer com que os chineses se interessassem pela sua obra, uma vez que as informações, os vários prefácios e descrições que continha serviram de ferramenta de propaganda. Ele próprio relata que foram feitos milhares de exemplares deste mapa, alguns sob a sua supervisão, enquanto outros eram exemplares piratas. Na realidade, este mapa tinha uma grande influência na Ásia décadas depois da sua morte. Continuaram a fazer exemplares mas, frequentemente, não passavam de caricaturas do original.

Os jesuítas continuaram a produzir mapas--múndi combinando informações obtidas junto de fontes chinesas. Giulio Aleni, S. J. (1582-1649) produziu, em 1623, uma obra geográfica, Chih-fang wai-chi (Relato sobre países que não figuram no Departamento de Registos).9 Não se trata unicamente de um mapa, mas de um tratado geográfico que descrevia as várias partes do mundo. Bernard Hung Kay Luk afirma que esta geografia pode ter sido produzida como "uma persuasão aos literatos convertidos"10 — conhecimentos ao serviço da fé.

O mapa de Ricci foi objecto de melhorias, caso do mapa-múndi de 1648 feito pelo missionário jesuíta Francesco Sambiasi (1582-1649). Uma obra muito mais simplificada, com muito menos nomes de locais que no mapa de Ricci, o mapa de Sambiasi reflecte alguns conhecimentos novos entretanto coligidos; por exemplo, a Nova Guiné representada correctamente como ilha. Por deferência à nova dinastia chinesa, a China não é denominada Da Ming (O Grande Ming), tal como no mapa de Ricci, recebendo, assim, outro nome, representando fisicamente o Império Chinês do Meio (Zhonghua).

Ferdinand Verbiest, S. J. (1628-1707) produziu uma edição ampliada da obra geográfica de Aleni para acompanhar uma versão chinesa de um mapa-múndi europeu contemporâneo dividido em dois hemisférios. O mapa de Verbiest, Kun yu chuan tu (Mapa completo do globo terrestre), de 1674, tomou como sua fonte o mapa de 1661 de Nicolaus à Wassenaer.11 Verbiest trocou os hemisférios por deferência ao costume chinês de colocar o seu país perto do centro.

Os chineses, japoneses e coreanos adquiriram muitos dos seus conhecimentos acerca do mundo exterior a partir do mapa-múndi de Ricci e dos seus descendentes, assim como da geografia de Aleni. Ao mesmo tempo, persistiam as representações tradicionais do mundo.

No século XVII, os jesuítas da China mudaram gradualmente o seu empenho na interpretação que faziam da Europa e do mundo aos chineses, para a exploração geográfica e elaboração de mapas da Ásia oriental para os europeus. O Extremo Oriente aparecia nos mapas europeus desde os tempos clássicos, mas a sua semelhança com a realidade demorou a acontecer.12

Os jesuítas não só prestaram informações geográficas que eram novas para os chineses, mas também enviaram para a Europa representações novas e mais exactas da China. De facto, pode-se dizer com segurança que a imagem geográfica e cartográfica da China detida pelos europeus nos séculos XVII e XVIII baseava-se quase inteiramente em informações dos jesuítas. Estes, por sua vez, baseavam-se em grande medida na tradição cartográfica chinesa. Muitos estudiosos têm, apressadamente, atribuído uma só fonte chinesa a muitos dos mapas jesuítas da China. Todavia, Kenneth Chen identificou algumas das muitas fontes usadas por Ricci.13

O estudioso chinês Ma Yong argumenta que a crença antiga de que os mapas de Martino Martini, S. J. (1614-1661) eram basicamente traduções do Mapa exaustivo é demasiado simples. Defende o seu ponto de vista num estudo recente sobre o Novus atlas sinensis, de Martini, a obra cartográfica jesuíta mais importante sobre a China na Europa do século XVII.14 Martini baseou-se em muitos dicionários locais do fim da dinastia Ming, comparando criticamente textos e chegando a conclusões pensadas, e definiu o império chinês para a Europa num volume em que incluiu, não só os mapas provinciais exactos, mas também descrições escritas pormenorizadas das várias zonas da China. Forneceu igualmente informações estatísticas, físicas, económicas e geopolíticas sobre cada província. Através de símbolos cartográficos, designou centros administrativos, minas de minério, residências de jesuí tas e pormenores geográficos, como montanhas e lagos. Admitiu livremente que não tinha criado a sua obra geográfica por si só, tendo, pelo contrário, recorrido ao trabalho de colegas jesuítas seus antecessores. Contou igualmente com a ajuda de amigos chineses que o levaram até às melhores fontes e, por vezes, fazia resumos de materiais chineses mais longos.15 Aquando da publicação do Atlas de Martini na Europa, em 1655, um companheiro missionário jesuíta observou: "O padre Martini, no seu Atlas, fez uma descrição geográfica do império chinês tão completa e total que pouco mais faltará acrescentar".16

Ao mesmo tempo que o Atlas de Martini era compilado, outro jesuíta da China, Michel Boym (1612-1659), de origem polaca, produzia um atlas que compreendia mapas provinciais e uma descrição da China. Enquanto Martini trabalhava com a nova família real Qing (1644-1911), Boym chegava à Europa para representar o pretendente Ming, o imperador Yongli [Zhu Yu Lang] (1623-1662), numa esperança vã de garantir o auxílio europeu para restabelecer o controle da dinastia Ming no império chinês. No trajecto para a Europa em 1651-52, Boym trabalhou nos mapas e na geografia da China, mas o seu atlas nunca chegou a ser publicado, muito provavelmente devido ao aspecto da obra de Martini. Os manuscritos dos mapas de Boym estão espalhados e alguns perderam--se.17 Todavia, um dos seus mapas chegou a ser publicado graças ao cartógrafo francês Nicolas Sanson d'Abbeville (1600-1667).18 Uma vez que tanto Martini como Boym se encontravam a trabalhar em atlas do império chinês ao mesmo tempo, a questão colocada por Walter Fuchs relativamente à eventualidade de as duas obras estarem relacionadas é pertinente.19

Philippe Couplet, S. J. (1624-1693) forneceu um mapa para acompanhar a sua Tabula chrono-logica monarchie sinicae. Tal como Martini e Boym antes dele, regressou à Europa numa viagem de propaganda e, à semelhança deles, levou consigo um jovem chinês cristão. O mapa que acompanhava a Tabula de Couplet é posterior ao de Martini e, apesar de Couplet ter livremente recorrido a informações de outros confrades jesuítas, manteve a divisão da China em quinze províncias, relativa à dinastia Ming, apesar da criação de mais três na dinastia Qing.20 Esta segurança que um jesuíta sentia em relação ao trabalho dos seus antecessores na China era, de acordo com o que refere Boleslaw Szczesniak, muito comum.21 Muitos dos projectos levados a cabo pelos missionários da China podem ser tidos como melhoramentos relativamente a trabalhos anteriores, transcendendo a obra de um só homem sendo tudo "para a grande glória de Deus". Martini e os seus confrades tinham sido encorajados a, de forma consistente, marcar posições em redor das suas missões sempre que lhes fosse possível. O próprio Martini procedeu a inúmeras medições para determinar a exactidão dos seus mapas. Contudo, só depois da chegada da primeira missão oficial francesa de jesuítas à China, em 1687, é que se fez um esforço consciente para se elaborar uma cartografia do império fundamentada nos métodos ocidentais de levantamento.22

Desde o início da missão francesa na China, considerava-se que a geografia desempenhava um papel importante, facto que reflectia o significativo interesse francês pela geografia chinesa. Do primeiro contingente francês de jesuítas muitos foram escolhidos devido, entre outras coisas, à sua formação geográfica. Durante a viagem para Oriente, dividiram os seus interesses, uma vez que, após a sua chegada à China, cada indivíduo se teria de especializar, implementando-se, assim, um esforço científico conjunto novo e mais organizado.

Na Europa, Paris tinha-se tomado no centro do progresso cartográfico no fim do século XVII. O astrónomo e topógrafo de origem italiana, Jean-Domi-nique Cassini (1625-1712), foi chamado a Paris em 1669 para aí dirigir o observatório. Em 1679, construiu um grande planisfério que seria objecto de constantes correcções à medida que se ia fazendo mais descobertas, medições e observações.23 Este era o seu plano para fazer um novo mapa-múndi. O ministro de Luís XIV, Jean-Baptiste Colbert, angariou fundos para expedições científicas e encorajou vários tipos de actividades científicas. O próprio Luís XIV visitou o observatório de Paris em l de Maio de 1682, tendo ficado muito impressionado com os avanços feitos no campo da cartografia e com a precisão das descobertas geográficas. Por isso, não admira que, quando Couplet chegou a Paris nesse mesmo ano, vindo da missão da China, o pedido que trazia do imperador chinês para envio de jesuítas franceses fosse bem-vindo e oportuno.

Estudiosos de todo o mundo colaboraram com Cassini na produção do seu mapa. Entre eles encontrava-se Jean de Fonteney, S. J. (1643-1710), professor de matemática no Colégio Louis-le-Grand. Enquanto se preparava para chefiar a primeira missão jesuíta francesa na China, procurou saber junto de Cassini da possibilidade de obter dados astronómicos para o observatório de Paris e de se proceder a observações geográficas. Antes de partir de Paris em 1685, Fontaney recebeu formação sobre técnicas geográficas e prometeu enviar informações sobre a Ásia.24

Há uma outra ligação entre a França, os missionários e a descrição geográfica da China. O estudo de geografia em França, durante o século XVII e a primeira metade do século XVIII, está muito ligado à educação jesuíta.25 A geografia era ensinada no âmbito do currículo da retórica e "belles-lettres". A história, literatura, cronologia e geografia ficavam todas no reino das artes liberais. Os jesuítas, como Philippe Labbé (1607-1667) e Philippe Brièt (1601-1668), ensinavam geografia como parte do currículo do Colégio Louis-le-Grand, em Paris, onde todos os missionários, enviados para a China por Luís XIV em 1685, estudaram.26 A instrução baseava-se em manuais e dicionários geográficos.27

Muitos dos cartógrafos mais importantes da época eram produto da educação jesuíta. A forma como vieram a ser cientistas, apesar do curso rígido e superficial de geografia referido anteriormente, pode--se explicar unicamente se se compreender a dupla função do colégio jesuíta. Os colégios existiam para formar a élite devota de França; os anos de retórica e "belles-lettres" destinavam-se a dar um "acabamento" cultural à laicidade. Contudo, eram igualmente centros de aprendizagem e pesquisa, instituições de aprendizagem superior e investigação dos filósofos--estudiosos jesuítas. É nesta última função, para além dos manuais e pedagogia da geografia liceal, que se deve procurar a base de formação para os métodos científicos e actividades daqueles que produziam mapas em França.

O Globo Terrestre chinês, executado na China em 1623 pelos Padres Jesuítas ManuelDias Júnior e Nicolo Longobardi. Já Ricci, ao mandar executar em Pequim a sua terceiraversão do mapa-mundi (1602), se lamentava de ter que transformar linhas curvas em rectas, porque a melhor forma de representação da Terra seria sob forma esférica. O Mapa de Ricci e este Globo podem considerar-se as duas mais importantes relíquias da primeira cartografia na China. O Siciliano Nicolo Longobardi (1559-1654) entrou na Chinaem 1597. Manuel Dias (1574-1659) nasceuem Castelo Branco e entrou na China em 1611. O Globo pertence ao espólio da BristishLibrary, de quem a RCobteve a necessáriaautorização dereprodução.

No fim do século XVII e no início do século XVIII, a cartografia era um empreendimento familiar dominado por dois clãs, os Sansons e os Delisles, todos educados pelos jesuítas. Além da escolaridade formal, o pai ensinava o filho e o sobrinho, pelo que estas duas famílias produziram mapas durante mais de um século. À semelhança dos Sansons, Guillaume Delisle (1675-1726) juntamente com o seu pai Claude (1644-1720) e irmão Joseph-Nicolas (1688-1768) analisaram um grande volume de material adquirido através de viagens, observações e levantamentos.28 A geografia e as observações astronómicas receberam destaque nos diários da época, casos do Journal de trévoux29 e Mémoires de l'Académie des Inscriptions et Belles-Let-tres. Os relatos sobre viagens de circum-navegação, registos náuticos e achados astronómicos enviados pelos missionários aos seus correspondentes e confrades da Europa provaram aos cartógrafos científicos da época a inexactidão dos antigos mapas e demonstraram a necessidade de se proceder à reforma cartográfica.

Um laço de união, reforçado pelo facto de pertencerem a sociedades intelectuais, cresceu entre os cartógrafos da Europa e os missionários jesuítas que estavam então envolvidos na pesquisa geográfica. Jean-Baptiste Riccioli, S. J. (1598-1671) elaborou marcações de longitude e latitude dos postos missionários fora da Europa e, ao virar do século XVIII, os missionários já tinham estabelecido as posições de quase todas as cidades mais importantes da China. Infelizmente, as medições da longitude e circunferência da terra ainda não eram exactas.30 Só a partir do momento em que se introduziu métodos geográficos modernos, por parte de Guillaume Delisle, é que a China foi posicionada mais ou menos correctamente. Abandonou as medidas ptolemaicas usadas nos mapas clássicos asiáticos de Sanson (o mapa de Sanson de 1669 tem a longitude da China posicionada uns vinte graus a mais para Oriente), passando a adoptar os cálculos de observação directa do missionário Martini no seu Atlas.31 O mapa-múndi de Delisle de 1700 coloca o Extremo Oriente na sua posição correcta relativamente aos novos cálculos da circunferência da terra. Além da utilização do material dos missionários jesuítas na China, Delisle recorreu a relatos russos sobre as regiões orientais moscovitas.32 O seu mapa baseava-se em fontes contemporâneas. Esta é, assim, a base a partir da qual emergiram os cartógrafos jesuítas na China e o meio a partir do qual saiu o editor cartográfico europeu da grande pesquisa jesuíta sobre o império chinês entre 1708-1718.

Após a chegada dos jesuítas franceses à China, em 1687, estes tiveram uma actividade intensa: fazendo conversões à fé cristã, reforçando a posição dos jesuítas junto da corte de Kangxi, prosseguindo os estudos científicos e culturais que tinham planeado. Um dos maiores projectos a que os jesuítas deitaram mãos foi a supervisão do levantamento imperial feito ao império chinês. Na primeira década do século XVIII, o imperador Kangxi tinha necessidade premente de uma representação geográfica correcta da China, devido à rápida expansão do império Qing. Os jesuítas tinham provado o seu interesse e já tinham dado provas suficientes dos seus conhecimentos e capacidade no campo do levantamento e produção de mapas. Contando com o apoio do imperador, juntamente com um número suficiente de jesuítas, formados nas técnicas carto-gráfi-cas, e ainda com bastantes informações de base sobre as áreas a cobrir, os padres puderam contemplar a produção de um atlas completo e científico fundamentado num levantamento do império. O trabalho relativamente a este projecto foi ao encontro do desejo dos jesuítas de fazer um mapa da China e deu-lhes a oportunidade de, uma vez mais, mostrar à corte o seu valor. O atlas que daí resultou foi a primeira representação verdadeiramente exacta da totalidade do império chinês num mapa chinês ou europeu. Os mapas produzidos por esta expedição e estudo científicos não só forneceram um atlas ao governo imperial chinês, como também foram enviados para a Europa e tornaram-se igualmente no atlas europeu da China.

De acordo com Joseph Needham,33 foi Jean--François Gerbillon, S. J. (1654-1707) quem deu ao imperador Kangxi a ideia de produzir um atlas imperial da China, utilizando o talento dos missionários jesuítas de levantamento e técnicas cartográficas. Todavia, Antoine Gaubil, S. J. (1689-1759) concede o crédito de convencer o imperador ao seu confrade Dominique Parrenin, S. J. (1665-1741), escrevendo:"Foi o padre Parrenin que encontrou a forma de criar no imperador Kangxi o desejo de ver um mapa da Grande Muralha."34 Este mapa da Grande Muralha foi um dos primeiros produzidos pelos topógrafos; Gerbillon convenceu então o imperador a dar continuidade ao projecto.35 O mapa da Grande Muralha e outros levantamentos menores foram, em parte, a força que fundamentou o grande projecto (vindo a fazer parte deste); paralelamente, o projecto foi inspirado pelos contactos estreitos entre o imperador e os seus companheiros jesuítas na corte.

As inundações periódicas do rio Baihe e do rio Wenyu, por exemplo, convenceram o imperador Kangxi que era necessário um levantamento pormenorizado das redondezas da capital, Beijing. Em 1700, os jesuítas Antoine Thomas (1644-1709), Joachim Bouvet (1656-1730), Jean-Baptiste Régis (1663-1738) e Parrenin foram convocados para a execução do mapa da região.36 De acordo com o que Jean-Baptiste Du Halde, S. J. (1674-1743) afirma na sua obra Description de la Chine: "Este nobre príncipe dera ordem aos missionários para que elaborassem um mapa das redondezas de Beijing para que ele próprio pudesse julgar quantos métodos europeus eram exactos."37 O mapa ficou pronto e foi entregue ao imperador ao fim de setenta dias.

O monarca, deveras satisfeito com o mapa, pediu a Régis, Bouvet e Pierre Jartoux (1669-1720) que fizessem o mapa da zona que rodeava a Grande Muralha do norte, de Yongping até Xining Gansu.38 Esta antiga barreira contra a invasão estrangeira a partir do norte tinha sido ampliada, reforçada e reparada durante a anterior dinastia Ming. O facto de a muralha ter impedido os tártaros manchus de derrubar o debilitado governo Ming e de ser um símbolo da resistência contra os bárbaros do norte pode ter inspirado o imperador Kangxi a interessar-se pelo seu estado.

Em qualquer dos casos, Régis, um geógrafo experiente, assumiu o projecto e partiu a 4 de Junho de 1708 (reinado de Kangxi, 47ō ano, 4ō mês, 16ō dia) com este pequeno grupo de topógrafos jesuítas. Joseph Anne Marie de Moyriac de Mailla, S. J. (1669-1748), embora não estando envolvido pessoalmente neste projecto, deixou uma crónica da viagem, 39 completando os relatos feitos por Régis e Gaubil. Os três jesuítas, Bouvet, Régis e Jartoux, viajaram até Shanhai guan, a passagem onde a Grande Muralha se encontra com o mar,40 e seguiram a muralha até próximo de Suzhou, continuando depois até à extremidade norte da província de Shaanxi. Daí, desceram até Xinan e regressaram a Beijing no dia 10 de Janeiro de 1709.41 Embora Bouvet tenha adoecido dois meses depois de iniciado o projecto, Jartoux e Régis continuaram o trabalho, marcando as posições com exactidão, regressando com um mapa com uns bons quinze pés de comprimento. Muito pormenorizado, incluía rios e fortes, assim como perto de trezentos portões da muralha, dando conta igualmente de todas as gargantas e colinas por onde ela passava.42

O mapa que resultou deste trabalho foi do agrado do imperador e, com os levantamentos das redondezas de Beijing e da Grande Muralha, considerou que os projectos tinham sido um êxito, facto que o levou a reconhecer o valor que um mapa da totalidade do império poderia ter. Considerava-se que um tal mapa era uma contribuição necessária ao policiamento dos governos locais espalhados, à manutenção do controle imperial e, acima de tudo, à compreensão da situação geográfica e dimensão do império.

Incumbidos pelo imperador de produzir um atlas exacto e específico do império chinês, os jesuítas partiram para fazer o levantamento de todas as províncias chinesas e para coligir informações sobre as regiões limítrofes do Tibete, Tartária e Coreia. Esse projecto extenso levou uma década a terminar, mas o resultado foi uma obra prima notável e precisa que agradou o imperador Kangxi.

Em 8 de Maio de 1709,43 Jartoux e Régis, juntamente com o jesuíta austríaco Ehrenberg Xaver Fridelli (1673-1743), deram início à difícil tarefa de fazer um mapa da Tartária oriental, a terra natal dos manchus - Mukden (Shenyang), Rehe, Wusuli jiang (rio Ussuri), na foz do Heilongjiang (rio Amur).44 Segundo Du Halde:

"Era uma tarefa difícil porque, sendo uma região abandonada há muitos anos, parecia muito improvável encontrar as necessárias ajudas em termos de homens, cavalos e mantimentos, relativamente a um trabalho que deveria durar vários meses. Mas como nada escapava ao imperador, deu ordens aos mandarins manchus, que governavam as cidades e de quem aquelas regiões dependiam, pelo que a obra não registou nenhum atraso, graças ao cumprimento pontual das referidas ordens."45

Para executar um projecto tão vasto como o de fazer um mapa de todo o império, era necessário o patrocínio do imperador e, por este exemplo, vê-se a importância da ajuda imperial no sentido de tomar esta árdua tarefa mais fácil.

Para começar, os jesuítas puderam utilizar o anterior levantamento da Grande Muralha como a fronteira a sul do seu novo projecto. O mapa da Tartária oriental foi concluído no fim do ano. Tal como no caso dos mapas anteriores, este foi bem recebido, uma vez mais agradando pessoalmente ao imperador manchu: "Este trabalho foi muito apreciado pelo imperador assim como pelos manchus nascidos em Beijing que daí contemplavam o seu antigo país e que conseguiram saber mais sobre ele em quinze minutos do que conversando com inúmeros viajantes."46

Então, os três padres receberam ordem para prosseguir com a realização do mapa de Beizhili, ou a província imperial onde fica a capital, Beijing, aí trabalhando de 10 de Dezembro de 1709 a 29 de Junho de 1710. Este mapa era significativo devido à importância da área como sede do governo imperial.

"Este mapa foi o mais aceitável porque a província que descrevia era bem conhecida. O imperador chegou ao ponto de, ele próprio, o examinar, vendo os locais aí incluídos e por onde ele muitas vezes passara, pedindo aos manchus que fizessem as medições (a actividade dos manchus era fazer o levantamento das estradas quando o imperador ia à província), garantindo que responderia pela sua exactidão;

caso o resto fosse de boa qualidade, o seu desempenho seria do seu agrado e ficaria isento de críticas."47

Assim, torna-se aparente que os jesuítas estavam ainda a ser julgados até esta altura. Havia, na comunidade intelectual chinesa, quem se opusesse à influência europeia na produção de mapas, homens que detinham posições ameaçadas pela instrução científica e cartográfica dos jesuítas. Ao encomendar a realização do mapa da província da capital, uma área bem documentada, o imperador Kangxi tinha a possibilidade de estudar os novos mapas e certificar-se da sua superioridade.

"Imperium Sinicum quindecupartitum". Extraído de: KIRCHER, Athanasius, S. J. — La Chine d'Athanase Kirchere, trad. francesa de F. S. Dalquié, p. 4. AH/LR 47

Com o êxito do mapa de Beizhili, os missionários Régis, Jartoux e Fridelli foram enviados para meio do curso do rio Amur,48 para a área do Selengge he (rio Selenga)49 e norte de Ulaanbator (Wulan-batuo), na Mongólia; trabalharam no levantamento desses planos de 22 de Julho de 1710 a 14 de Dezembro do mesmo ano. Relativamente a este mapa "embora suficientemente vazio (...) o imperador ficou contente,"50 porque desejava ver a posição das cidades que fundara com o objectivo de estabelecer bases estratégicas nesta vasta área de tribos nómadas mongóis.51 A área em redor do rio Amur tinha igualmente adquirido importância devido à assinatura do Tratado de Nerchinsk entre o Czar Pedro o Grande (1672-1725) e o imperador Kangxi, em 1689. Vastas zonas de regiões pouco povoadas tinham andado em guerra; o lado manchu tinha conseguido uma vitória diplomática e pretendia manter o que ganhara.52

Em 1711, com o imperador já totalmente a favor do projecto de produção de mapas dos jesuítas, tomou-se visível que, para permitir que o levantamento fosse efectuado rapidamente, os jesuítas teriam de se dividir em várias empresas de levantamento. Assim, os mapas das províncias da China em si e das zonas limítrofes seriam produzidos por grupos trabalhando em simultâneo.53 Régis, juntamente com um matemático54 jesuíta português, João Cardoso (1671-1723), foi para a província vizinha de Beijing, Shantung. Jartoux, Fridelli e Guillaume Fabre-Bon-jour (1669-1714), um frade agostiniano,55 produziram os mapas de Ordos e, depois, o curso superior dos rios Amur e Selenga, assim como a região à volta de Hami (Kumual, actualmente a Região Autónoma de Uighur).56 O ano de 1711 estava no fim e o imperador perguntou se havia possibilidade de se encontrar mais jesuítas com conhecimentos de geografia para ajudar no trabalho. Neste contexto, foram recrutados três: o referido Mailla, Pierre-Vincent de Tartre (1669-1724) e Romain Hinderer (1669-1744). Todos eles foram aceites pelo imperador Kangxi. Seguidamente, três grupos diferentes trabalharam com o objectivo de fazer o levantamento das províncias.57

Tartre e Cardoso concluíram os mapas de Shanxi e Shaanxi em pricípios de 1713. Du Halde descreve estes mapas como tendo "cada um dez pés quadrados".58

"O mandarim apresentou estes mapas ao imperador, informado a majestade de que se precisasse de alguma explicação, o padre Tartre estava pronto a satisfazer o seu pedido; assim, o imperador chamou-o e referiu alguns locais que ele próprio tinha observado nestas províncias: ao fazer isso, o príncipe repetiu várias vezes I-tyen-pu-tso[I tien pu tso], 'Ele tem razão em tudo'.

Nesta audiência aconteceu algo de notável: o imperador referiu que, noutro mapa, relacionado com os mapas de Shanxi e Shaanxi, o curso de um rio estava errado. O padre Tartre, sensível ao erro de Sua Majestade, reiterou a verdade (com o devido respeito) de tal forma clara que o monarca aceitou; Tso lyau [Tso liao], diz ele, 'Estou errado'. Uma grande concessão num imperador da China!"59

No fim de 1715, as restantes onze províncias já tinham mapa:60 Jiangxi, Guangdong e Guangxi (1713-14, por Tartre e Cardoso); Henan (1713, por Régis, Mailla e Hinderer); Jiangnan (1713-14, por Régis, Mailla e Hinderer); Zhejiang e Fujian (1714, por Régis, Mailla e Hinderer); Sichuan (cerca de 1714-15, por Fabre-Bonjour [falecido durante o levantamento, 1714],61 Régis e Fridelli); Huguang e Guizhou (1715, por Régis e Fridelli). Régis, que dirigira o levantamento, regressou a Beijing em 1717 com Fridelli. Aí, sob a direcção de Jartoux, que tinha sido forçado a ficar em Beijing devido a doença, trabalharam na compilação de um mapa geral de todas as províncias; que foi apresentado ao imperador em 1718.

Os métodos e instrumentos utilizados pelos cartógrafos jesuítas no seu levantamento da China estão registados em diversos documentos. Antoine Gaubil escreveu uma carta de Beijing(?), em 1728, sobre as técnicas cartográficas, a Étienne Souciet, S. J. (1671-1744), um correspondente em Paris:

"Estes padres pediram um quadrante de duas polegadas de raio; frequentemente, verificavam-no com cuidado e achavam sempre que as altitudes que representavam eram muito grandes. Tinham uma grande bússola, vários outros instrumentos, um pêndulo e outras coisas necessárias ao cumprimento das ordens do imperador. Com cordas divididas com exactidão, mediram com precisão o caminho com origem em Beijing. Nesta estrada, observavam frequentemente o meridiano do sol. Estavam sempre a observar o rumo e tinham muito cuidado na observação que faziam das variações e declinações dos picos.

Em todas estas regiões, os padres Régis, Jartoux, Fridelli e [Dominique] Parrenin observaram a altura do pólo, mediram as distâncias, observaram as linhas de rumo e familiarizam-se detalhadamente com o país que anteriormente tinha sido conhecido pelo padre Verbiest."62

Anteriormente, Bouvet, na sua obra Voiage de Siam, realçou as preparações científicas e descreveu os instrumentos que os jesuítas franceses levaram deParis para Beijing.63 Régis, na sua obra Nouvelle géographie de la Chine et de la Tartarie orientale, incluiu igualmente um resumo detalhado dos métodos utilizados na recolha de dados.64 Elogiou o método da triangulação e referiu o cuidado com que os jesuítas iam avançando, nomeadamente: as longas observações que faziam da longitude para verificação, anotação de eclipses e medições cuidadosas de todas as áreas. Afirmou que o trabalho actual dos cartógrafos jesuítas na China era ainda mais exacto do que os mapas contemporâneos da Europa e apontou defeitos no sistema geográfico ptolemaico e a incerteza das antigas medições. A terminar, referiu que se descobriu desigualdades nos graus da latitude e que não se podia fazer registos de longitude através da variação da bússola.

Outras fontes referem-se aos processos, mas nenhuma os documenta tão bem como Régis. Basicamente, os pontos eram marcados por triangulação, sendo que a obra daí resultante foi o primeiro grande atlas baseado em medições feitas através deste método.65 John F. Baddeley estima que os jesuítas tomaram um total de 641 pontos de longitude e latitude, estabelecidos por medições astronómicas e geográficas, lembrando-nos que recolheram todo o material possível nas instituições administrativas provinciais.66 Henri Bernard-Maitre, S. J., historiador da missão, do século XX, descreve sucintamente o método:

"Como se pode ver, o método fundamental que os cartógrafos utilizaram consistia em medir as distâncias para obter a latitude e a longitude dos diferentes locais. Relativamente à latitude, este processo foi concluído e verificado através de observações do meridiano do sol e das estrelas polares. Quanto à longitude, por vezes, os missionários contavam com a ajuda dos eclipses da lua e dos satélites de Júpiter, mas, frequentemente, não conseguiam realizar este método com a precisão desejada."67

Os missionários procederam às suas leituras longitudinais tendo Beijing como meridiano. Sabiam que os seus instrumentos eram imperfeitos e imprecisos e que fazer medições tendo Paris como meridiano causaria uma imperfeição ainda maior e, assim, impuseram a inexactidão da distância entre Paris e Beijing em toda a obra.68 No fim do século XIX, os historiadores cartográficos, casos de Julius von Klaproth e Edouard Biot, sabiam que as leituras do levantamento jesuíta eram feitas cada vez mais longe do meridiano de Beijing e, nessa medida, os erros tornaram-se cada vez maiores;69 este facto devia-se, sem dúvida, à imperfeição dos instrumentos existentes. Du Halde, no seu prefácio, explica por que razão se utilizava o meridiano de Beijing: "É a partir do meridiano de Beijing que se conta as longitudes (e tal não é exibido) para se reduzir os erros, por isso, não quiseram recorrer ao meridiano de Paris."70 Vários críticos da obra de Du Halde contrariaram esta orientação, estando entre eles Edward Cave, o editor cartográfico da Description of China. 71

De acordo com o que Baddeley referiu, os jesuítas conseguiram utilizar material nativo para a descrição geográfica do império. Embora, por vezes, fossem estorvados por ciúmes chineses e manchus, devido às diferenças do método e à possível perda de fama e posição,72 a sua vontade prevalecia graças ao patrocínio imperial. Todavia, sem a ajuda de funcionários nativos formados no método cartográfico ocidental, assim como a utilização de explorações chinesas e cartografia tradicional chinesa, os jesuítas não teriam sido capazes de terminar o seu levantamento. Recolheram e estudaram trabalhos indígenas e coligiram informações de funcionários locais à medida que viajavam. Este material chinês era, sempre que possível, comparado com a própria observação dos jesuítas no local.

POSTER RC Mapa-múndi(Mateus Ricci) Kunyn Wanguo Quantu —"Mapa dos dez mil países da Terra. O famoso mapa com que Mateus Ricci apresentou a geografia conhecida do Mundo à nação chinesa. Com algumas alterações de conteúdo e formato, o mapa original de 1584 (hoje desaparecido) teve posteriormente várias "edições "(Nanquim,1600; Pequim,1602). O nosso "poster" baseia-se numa reedição posterior a 1644, da colecção da Royal Geographic Society, Londres, que concedeu à RC direitos de reprodução.

No seu prefácio, Du Halde parafraseia Régis e menospreza a importância do trabalho dos que não eram jesuítas:

"O caso é outro (ao contrário dos trabalhos geográficos anteriores que apareceram na Europa tendo por base sistemas ptolemaicos e fontes chinesas) no trabalho que apresentamos ao público; devido à sua vastidão, julgamos que não nos devíamos limitar aos mapas dos governantes chineses, às distâncias medidas em quase todo o império e, particularmente, na Tartária, com grande empenho e exactidão pelos manchus; nem às memórias impressas de que temos diversas: decidimos começar tudo de novo, utilizando esse material somente como guia para as estradas que íamos tomar e para a escolha dos locais de observação; a nossa intenção era reduzir tudo o que tínhamos à mesma medida e projecto."73

Na realidade, os jesuítas basearam-se mais na ajuda dos nativos do que na sua própria decisão sobre quais "estradas iam tomar."74 A sua dependência do trabalho chinês relativamente aos mapas do Tibete foi quase total. Utilizaram exaustivamente ajudantes chineses e material manchu noutros mapas. No início do seu prefácio, o próprio Du Halde referira a insistência do imperador para que vários mandarins tomassem a seu cargo medições para o levantamento jesuíta:

"O imperador Kangxi mandou aos grandes tribunais que nomeassem mandarins para superintender as medições, porque podiam dar os nomes exactos dos locais mais notáveis por que deviam passar; por outro lado, os tribunais deviam obrigar os magistrados das cidades a dar assistência no interior dos respectivos distritos e com o seu povo, assim como prestar outro tipo de assistência de acordo com as necessidades. Tudo isto foi feito com surpreendente pontualidade, facto que comprova a ordem admirável observada em todo o vasto império."75

Sob ordens do imperador, os chineses e manchus desempenharam muitas outras funções para os jesuítas.

Du Halde, embora inexacto no seu reconhecimento, faz alusão à dívida dos jesuítas relativamente ao facto de os chineses estarem sempre conscientes da importância da geografia e da cartografia. Needham, numa afirmação exagerada sinofílica, escreve: "Foi graças ao trabalho constante de gerações de produtores de mapas chineses que os conhecimentos sobre esta parte do mundo foram incluídos na geografia moderna".76 O facto de os jesuítas conseguirem produzir um atlas do vasto império chinês Qing devia-se tanto à tradição da cartografia chinesa, em que se podiam basear, como à técnica cartográfica dos cientistas jesuítas. O apoio imperial do interessado imperador Kangxi foi, claramente, de uma enorme importância também.

Por certo, uma das funções mais óbvias desempenhadas pelos chineses foi a recolha de material para a produção de mapas do Tibete; embora os mapas dessa região fizessem parte do atlas jesuíta, o Tibete não fazia parte do projecto de levantamento cartográfico dos jesuítas. Para produzir mapas desta região, assim como de outras novas áreas inacessíveis (Japão, Coreia e os extremos da Manchúria, por exemplo), os jesuítas utilizaram informações locais fornecidas por funcionários chineses e manchus.77 Por exemplo, o imperador Kangxi tinha mandado Ho-shou (falecido em 1715), um oficial manchu e o seu novo representante imperial em Lhasa, fazer um mapa do Tibete.78 Du Halde regista: "Durante os dois anos que o embaixador permaneceu no Tibete, empregou alguns dos ajudantes, que ele tinha levado consigo para esse fim, na produção de um mapa de todos os territórios imediatamente sujeitos ao Grande Lama".79 Em 1711, no regresso de Ho-shou a Beijing, os seus esboços cartográficos foram entregues a Régis, fundamentando os quatro mapas do Tibete numa versão original de vinte e oito folhas da edição chinesa do atlas jesuíta da China.80 Assim, Ho-shou foi denominado o fundador da moderna cartografia do Tibete.81Não se deve esquecer que os chineses tinham explorado as áreas montanhosas do Tibete muito tempo antes dos europeus lá terem chegado.82

Os mapas do Tibete que foram entregues a Régis em 1711 não eram totalmente satisfatórios e, em intervalos de mais de dois anos (1715-17), isso deu a conhecer ao imperador. Como consequência, uma vez que o conflito no Tibete tinha sido reprimido e instalado como Dalai Lama um boneco dos Qing, foi enviado outro grupo de levantamento geográfico, incluindo três enviados imperiais e dois lamas que tinham sido formados em ciência ocidental pelos jesuítas. Esta missão científica, que parece não ter tido nenhum objectivo científico, foi chefiada pelo secretário da superintendência mongol, Sengju [Seng-chu]. A missão tinha ordens para adquirir informações geográficas mais detalhadas sobre o Tibete, a determinação de coordenadas e a medição da altitude das maiores montanhas.83

Este material cartográfico foi utilizado na pro-, dução de novos mapas do Tibete para a segunda edição de xilogravuras do atlas jesuíta (com trinta e duas folhas) publicada na China em 1721.84 As informações foram também utilizadas no primeiro esquiço da descrição do Tibete na obra chinesa Ta Ching i tung chih (Geografia geral do Império Qing).

O material cartográfico para a Coreia teve tam-bém origem em fontes chinesas, uma vez que os jesuítas não conseguiram fazer expedições nesse reino. Régis, uma vez mais responsável pela maior parte da compilação do mapa coreano, analisou os achados chineses, comparando-os com a visualização das fronteiras feita pelos seus colegas jesuítas. Desta forma, teve a possibilidade de julgar, embora de certa forma sem êxito, a exactidão do material que lhe foi presente.

Paralelamente ao facto de dependerem de materiais chineses para locais que lhes eram inacessíveis, os padres valeram-se de estudiosos chineses e manchus, ajudantes e assistentes que com eles trabalharam no projecto de levantamento. Entre eles estava Ho Kuo-tung (séc. XVIII).85 Régis, Hinderer e Mailla contaram ainda com a ajuda de trabalhadores chineses na produção dos mapas da Formosa.86

A grande actividade geográfica e cartográfica que teve lugar durante o período Kangxi ajudou certamente o trabalho dos jesuítas. O interesse pessoal do imperador e o seu conhecimento da vastidão dos seus domínios serviram não só de elemento catalisador para o levantamento jesuíta, mas também para as expedições de exploradores chineses, manchus e mongóis.87 Conhecer as dimensões do império, auxiliar nas comunicações e travar as revoltas eram de enorme importância para o controle eficaz deste imenso território.

Pode-se perguntar quem cuidava do rebanho de cristãos chineses enquanto os cientistas jesuítas estavam tão profundamente empenhados no seu trabalho geográfico. Em 1717, cerca de 120 jesuítas trabalhavam na China; destes, vinte e oito pertenciam à missão francesa.88 Louis Pfister, nas suas biografias sobre os jesuítas da China, observa que, mesmo durante as suas expedições científicas, nunca perdiam uma oportunidade de pregar o evangelho nas terras interiores por onde passavam durante a execução do levantamento; por exemplo, sobre Fridelli, diz que "nas suas longas viagens do norte para a região central do império, Fridelli era ainda mais apostólico do que científico e nunca enjeitava a oportunidade de proclamar o evangelho e de pregar aos pagãos".89 Hinderer, Régis e Mailla também tomaram claro que aproveitavam o ensejo das longas viagens para converter onde a mensagem cristã nunca tinha sido ouvida.90 O actual historiador jesuíta das missões, Joseph Dehergne, apresenta o número de 300.000 chineses católicos em 1700.91

Os mapas elaborados pelos jesuítas para o imperador Kangxi foram apresentados em Beijing como um levantamento completo e fizeram-se planos para imprimir uma edição chinesa. Apareceram quatro edi-ções diferentes durante o período 1717-26. A primeira, de 1717, era uma xilogravura de vinte oito mapas. Intitulada Huang yuchuan lan tu (Atlas geográfico imperial exaustivo), esta edição, embora importante para a cartografia porque se tratou da primeira impressão dos dados agrupados, foi rapidamente substituída por edições corrigidas e revistas. Em 1719, uma versão manuscrita, incluindo trinta e dois mapas, foi elaborada, sendo os três mapas adicionais das regiões tibetanas e da parte superior do Rio Amarelo. A nomenclatura fora normalizada e não apareciam palavras manchus nos mapas. Este exemplar, por sua vez, dividia-se em quarenta e quatro placas gravadas em cobre pelo padre secular em Beijing, Matteo Ripa (1682-1745), que participara no levantamento jesuíta e, posteriormente, fundaria o Colegio de' Cinesi della Santa Famiglia di Napoli aquando do seu regresso à Europa. Gravador experiente, tinha feito anteriormente um conjunto de trinta e seis placas de cobre —vistas da vivenda imperial em Rehe.92 Dera início ao seu trabalho nas placas para os mapas, em 1718,93 e produziu um atlas de quarenta e quatro placas denominado Yu chin ta ching i tung chuan tu (Atlas geográfico moderno e completo)94 à escala de 1:1.400.000.95 O imperador Chien-lung (1736-1796), na sua introdução poética ao atlas jesuíta produzido para ele entre 1750 e 1759, falou desta edição do atlas de Kangxi "gravar placas de cobre para imprimir por forma a que o atlas possa ser passado eternamente".96 A edição das placas de cobre foi enviada para Luís XV de França em agradecimento pelo apoio que dera à missão,97 havendo cópias guardadas na colecção topográfica de Jorge II da Inglaterra98 e no Istituto Universitario Orientale di Napoli (sucessor do Collegio de' Cinesi de Ripa).99

Página seguinte: Mapa-múndi (Qiankun Wanguo Quantu Gujin Renwu Shiji, "Mapa do Céu e da Terra e dos dez mil países do Mundo"). Única cópia do primeiro mapa chinês do Mundo, que incorporou os conhecimentos geográficos introduzidos pelos Jesuítas na China. Baseado no primeiro mapa-múndi de Ricci (1584), desaparecido. É o primeiro mapa chinês que inclui as Américas.

Em 1721, foi impressa uma segunda edição xilográfica em trinta e duas placas idênticas no formato à versão manuscrita de 1719 e na qual Ripa se tinha baseado; as únicas emendas feitas a esta edição foram as correcções introduzidas nos mapas do Tibete e da zona superior do Rio Amarelo e a nomenclatura manchu foi escrita em Chinês.100 Esta edição final revista foi enviada pelos jesuítas para a Europa e forneceria a Du Halde o material para os mapas previstos que seriam acrescentados à sua Description de la Chine. A escala desta versão xilográfica chinesa e dos mapas separados provinciais, assim como os mapas detalhados do Tibete e da Tartária na obra de Du Halde é idêntica: 1:2.000.000.101 Este facto permite comparar-se a versão europeia com o seu original chinês bastando colocar um em cima do outro. O historiador de cartografia Marcel Destombes, que pesquisou a própria cópia da xilogravura de 1721 que foi utilizada na produção dos mapas da Description de la Chine, afirma que esteve guardada nos Archives des Affaires Étrangères de Paris até 1943,102 altura em que foi levada para a Alemanha, nunca mais sendo vista.103 Antes de desaparecer, Henri Cordier fez o seguinte comentário acerca desta cópia:

"Os mapas originais dos padres da Companhia de Jesus encontram-se registados no Arquivo dos Negócios Estrangeiros. Foram adquiridos a d'Anville pelo senhor Vergennes a troco de uma anuidade vitalícia de 3000 francos. Estes mapas formam um Grande Atlas (nō 1684a); são feitos em papel da China, colocados sobre papel mais robusto e rodeado por uma borda de seda azul chinesa. Os nomes das cidades estão assinalados em caracteres chineses."104

Mapa geral, incluindo China, Tartária chinesa e Tibete, de Jean-Baptiste d'Anville.

Extraído de: RONAN, Charles E., S. J.; OH, Bonnie B. C., ed. — East meets West.

Em 1726, folhas separadas da China propriamente e da Manchúria, mas excluindo do Tibete e Mongólia, foram incluídas, sem coordenadas, na grande enciclopédia Qing Ku chin tu shu chi cheng (Síntese de livros e ilustrações dos tempos antigos e modernos).105Paralelamente, tem havido reedições da edição xilográfica de 1721. Em 1832, foi reimpresso um mapa à mesma escala da edição de 1721, residindo a única diferença no facto de a nova edição ser feita numa longa tira em vez de mapas separados. Intitula-se Huang chao i tung yu ti chuan tu (Atlas geográfico exaustivo da actual dinastia [Qing]), vindo também a ser reimpresso já em 1894.106

"Tabula geodoborica itinerum a variis in Cataium susceptorum rationem exhibens".

Extraído de: KIRCHER, Athanasius, S. J. — La Chine d'Athanase Kirchere, trad. francesa de F. S. Dalquié, p. 4.

AH/LR 47

Mais tarde, no século XVIII, o imperador Chien-lung autorizou um segundo levantamento jesuíta. Os jesuítas portugueses Félix da Rocha (1713-1781) e João de Espinha (1722-1788) foram enviados para fazerem o levantamento e mapas de Sungaria, Turquestão e da terra dos Calmucos, territórios que tinham recentemente passado a fazer parte do império chinês. Trabalhando de 1756 a 1759 no projecto,107 apresentaram ao imperador suas informações e mapas destas regiões afastadas. Em 1769, Michel Benoist, S. J. (1715-1774), que recentemente tinha terminado um mapa-múndi em Chinês para o imperador Chien-lung, recebeu instruções desse monarca para elaborar um novo mapa do império; devia incluir as informações inéditas sobre as terras adjacentes ao império e que tinham sido obtidas durante a expedição de Ro-cha-Espinha de 1756-59. No mesmo ano (1769) e com o auxílio de outros, Benoist elaborou uma edição xilográfica e, apesar de insistir que não era adepto da gravação em cobre, lançou uma edição gravada em cobre do mesmo mapa em 1775.108 Os seus mapas baseavam-se grandemente nos esforços do levantamento Kangxi/jesuíta de 1708-18, diferindo desses mapas principalmente pela inclusão que faziam, pela primeira vez, de informações cartográficas recentes recolhidas pela expedição de Rocha-Espinha sobre a Sungaria, Turquestão e a terra dos Calmucos. O atlas de Benoist, contudo, não exerceu tanta influência como os dos primeiros jesuítas na China porque não tinha um editor europeu que pudesse interpretar as informações para o Ocidente.

A partir da correspondência de Antoine Gaubil, sabemos que Jean-Baptiste Régis enviou um exemplar (exemplares?) do atlas Kangxi/jesuíta, na edição de xilogravuras de 1721, para França,109 em consequência do que "o mapa jesuíta foi oferecido em 1725 ao rei de França pelo padre de Linière, um confessor jesuíta de Sua Majestade, e o padre Du Halde tinha este mapa em Paris".110 Du Halde, por sua vez, empregou uma estrela em ascensão na cartografia francesa, Jean-Baptiste Bourgiunon d'Anville (1697-1782), como editor cartográfico de uma versão europeia do atlas jesuíta chinês e os mapas que criou para a Description de la Chine, de Du Halde, foram verdadeiramente impressionantes.

Os excelentes mapas da Description de la Chine, de Du Halde, foram o resultado de um conjunto complexo de circunstâncias fortuitas. Conforme referido anteriormente, muitos dos jesuítas franceses que foram para a China no fim do século XVII eram especialistas em matemática e geografia, sendo de realçar os conhecimentos que possuíam de levantamento trigonométrico. A sua chegada coincidiu com a rápida expansão do controle Qing, facto que provocou que as autoridades imperiais pensassem na produção de um atlas exaustivo de um império que tinha tido uma grande expansão. Os jesuítas, aproveitando a sua tradição cartográfica da China, demonstraram os seus conhecimentos científicos e receberam o patrocínio imperial para este projecto cartográfico gigantesco.

Os jesuítas tinham muitos motivos para perseguir um projecto destes. A curiosidade científica era certamente um deles. A elaboração dos primeiros mapas da China, os de Martini, por exemplo, não utilizou os métodos da triangulação de levantamento e, muitas vezes, baseava-se mais na tradição da cartografia chinesa do que na nova pesquisa expedicionária. Os mapas de Martini reflectiam igualmente um império de dimensões mais reduzidas da dinastia Ming. Era necessário compilar novos mapas utilizando métodos actualizados e os jesuítas franceses aproveitaram a oportunidade de demonstrar aos chineses e ao imperador Kangxi, em particular, que os métodos e os conhecimentos trazidos da Europa poderiam ser úteis.

O levantamento de dez anos, 1708-18, proporcionou igualmente uma oportunidade de os jesuítas viajarem oficialmente como representantes da corte. Os missionários cientistas não só travaram amizade com o imperador através do trabalho deste importante projecto, como também tiveram a possibilidade de abrir novos caminhos na sua obra apostólica. Ao visitar locais remotos, ao trabalhar com talentos nativos ou ao encontrar funcionários locais, nunca se esqueceram de que a sua principal missão era espalhar a mensagem cristã. Durante este projecto de produção de mapas que durou uma década, os jesuítas chegaram à conclusão que não podiam fazer pesquisas cartográficas em todas as partes do reino Qing. Eram poucos e a região muito vasta. Por isso, os missionários-cientis-tas viram-se forçados frequentemente a recorrer a investigadores nativos com formação adequada, sendo um bom exemplo a compilação dos mapas do Tibete. Para algumas regiões, nomeadamente a Coreia, utilizaram-se mapas nativos da área depois de terem sido estudados para se determinar a sua correcção.

A rivalidade nacional entre os jesuítas europeus na China teve igualmente um papel importante na produção dos mapas. Desde o primeiro, os padres franceses separaram-se dos portugueses que, até 1700, tinham nominalmente o controle de todos os jesuítas na China. Com a criação da missão francesa em 1685, os jesuítas franceses ocuparam uma posição independente, única no sistema administrativo jesuíta. As relações eram tensas entre os jesuítas franceses e portugueses desde a chegada do primeiro contingente dos padres de Paris em 1688, uma tensão que se prolongou até ao século XVIII.111Gaubil e os outros missionários franceses estavam muito preocupados com o facto de os portugueses virem a publicar o atlas jesuíta da China em Portugal, muito embora os mapas tenham sido produzidos quase exclusivamente por jesuítas franceses. Portanto, os que se encontravam na China estavam ansiosos que uma edição dos mapas aparecesse em Paris o mais depressa possível. Depois de terem enviado os mapas para França, aproximadamente em 1725, não compreendiam o atraso de Du Halde em imprimi-los. As perguntas dos jesuítas da China aos seus correspondentes em França eram frequentes, procurando saber por que razão os mapas não eram publicados. A razão de Du Halde, claro, era reter os mapas até que conseguisse compilar um comentário que os acompanhasse.Esse projecto, que começou como um complemento ao atlas, veio a tornar-se na Description de la Chine, de quatro volumes, uma obra muito mais desejável com a inclusão do espectacular mapa.

O levantamento da China representou a reprodução em mapa de uma vasta região que interessava aos estudiosos, comerciantes, missionários da Europa e ao seu público. Os mapas que Du Halde e d'Anville criaram foram tão bem produzidos e o material do levantamento jesuíta tão exaustivo que a China foi representada com mais precisão do que muitas regiões da Europa nos mapas existentes em meados do século XVIII. O Atlas jesuíta de 1708-18 e as suas várias edições permaneceram como a base dos mapas da China, Tartária e Tibete até ao fim do século XIX.

Neste Atlas, juntaram-se as pontas da empresa cartográfica jesuíta. Os esforços iniciais de 125 anos de actividade missionária, juntamente com o estudo da cartografia chinesa indígena, foram o fundamento utilizado pelos jesuítas. O Atlas jesuíta da China foi um esforço conjunto dos jesuítas franceses que tinham como objectivo último a evangelização do império, embora o seu grande valor científico tenha sido também prontamente reconhecido. Foi interpretado como o meio para atingir o fim. O resultado foi um trabalho que fez com que o imperador da China aceitasse os jesuítas, proporcionou a estes uma visão melhor do território e permitiu-lhes viajar aos locais mais remotos do império.

Publicação gentilmente autorizada pelos editores. Do original: East meets West: the Jesuits in China, 1582-1773 / ed. por Charles E. Ronan, S. J. e Bonnie B. C. Oh. — Chicago: Loyola University, 1988. —Pp. 129-52.

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NOTAS

1 NEEDHAM, Joseph — Science and civilization in China, Cambridge, 1954, vol. 3, pp. 497-590; sobre cartografia nativa chinesa.

2 JONES, Yolande, et al. — Chinese and Japanese maps: an exhibition organised by the British Library at the British Museum, l February-31 December 1974, London, 1974.

3 LACH, Donald F. —A sia in the making of Europe, Chicago, 1965-, vol. l, livro 2, p. 818.

4 Todavia, consultar: FOSS, Theodore N. — La cartografia di Matteo Ricci, in: CONVENGNO INTERNAZIONALE DI STUDI RICCIANI, Macerata-Roma, 22-25 ottobre 1982— Atti del..., ed. [a cura di] Maria Cigliano, Macerata, 1984, pp. 177-95.

5 D'ELIA, P. Pasquale M., S. J. — Ilmappamondo cinese del P. MatteoRicci, S J. (terza editionePechino 1602) conservato presso laBiblioteca Vaticana, commentato tradotto eannotato dal..., Vaticano, 1938. Cf., UNNO, Kazutaka— Yoroppa ni okeru Koyozu: Shina chizugaku seizen no shoki jokyo [O Kuang-yu, Mapa exaustivo, na Europa: influência inicial chinesa na cartografia ocidental], "Osaka daigaku kyoyo-bu kenkyu-shuroku" [Estudos japoneses sobre humanidades e ciências sociais], (26) 1978, pp. 3-28. Cf., SZCZESNIAK, Boleslaw — Matteo Ricci' s maps of China, "Imago mundi", (ll) 1954, p.129.

6 D'ELIA, P. Pasquale M., S. J. — Op. cit. Cf., CHEN, Kenneth — Apossible source for Ricci' s notices on regions near China, "Toung pao", (34) 1938, pp. 179-90.

7 FOSS, Theodore N. — Op. cit., p. 181.

8 Sobre o mapa-múndi de 1602, um dos poucos locais que Ricci refere da Itália é Marcas.

9 LUK Hung-kay, Bernard — A study ofGiulioAleni's Chih-fang wai chi, "Bulletin ofthe School of Oriental and African Studies", London, 40 (l) 1977, pp. 58-84.

10 Idem, p. 83.

11 SCHILDER, Gunter — Australia unveiled, Amsterdam, 1976, p. 84.

12 LACH, Donald F. — Op. cit., vol. 2, livro 3, pp. 446-89.

13 CHEN, Kenneth — Op. cit., pp. 179-80.

14 MA Yong — Attività di Martino Martini inCinae sue opere di storia e geografia della Cina, in: CONVENGNO INTERNAZIONALE Dl STUDI RICCIANI, Trento, 9-11 ottobre 1981 — Martino Martini: geografo, cartografo, storico, teologo: Trento 1614 - Hangshou 1661: atti del..., ed. bilingue italiana-inglese, a cura di Giorgio Melis, Trento, 1983, pp. 229-47. Trata-se de uma tradução italiana de um documento lido em Chinês. O texto em Chinês foi publicado na LI SHIH YEN CHIU [Pesquisa histórica], Beijing, 1980, vol. 6, pp. 153-68.

15 MELIS, Giorgio— Presentazione, in: MARTINI, Martino, S. J. — Novus atlas sinensis: ad lectorempraefatio versioni, Trento, 1981, pp. 19-21.

16 MAGALHÃES, Gabriel de, S. J. —A new history of China, trans. [of] John Ogilby, London, 1688, prefácio.

17 CHABRIÉ, Robert — Michel Boym: jésuite polonais et la fin des Ming en Chine (1646-1662), Paris, 1933, pp. 228-34, 256. Cf., FUCHS, Walter — A note on Father M. Boym's Atlas of China, "Imago mundi", (9) 1952, pp. 71-72. Cf., SZCZESNIAK, Boleslaw — The mappa imperii sinarum of Michael Boym,"Imago mundi", (19) 1965, pp. 113-15.

18 D'ABBEVILLE, Nicolas Sanson —Abbregé de la Chine du R. P. Bouyon, 1658. Cf., SZCZESNIAK, Boleslaw — The seventeenth century maps of China: an inquiry into the compilations of European cartographers, "Imago mundi", (13) 1956, pp.116-36.

19 FUCHS, Walter — Op. cit., 1952, p. 72.

20 SZCZESNIAK, Boleslaw — Op. cit., 1956, pp. 128-31. Uma palavra acerca do número e nomes das províncias da dinastia Qing: a China compreendia a Mongólia exterior, Alashan, Mongólia interior, Qinghai e Tibete, assim como a própria China. No interior da China, o governo Qing de Kangxi nomeou dezoito províncias; partindo do ocidente para oriente e do norte para sul, essas províncias eram: Gansu, Shanxi, Shaanxi, Suzhuan (ou Suzhou), Guizhou, Yunnan, [Bei-]Zhili (capital, Beijing), Henan, Hupei, Hunan, Guangxi, Anhui, Jiangxi, Shantung, Chiangsu, Zhejiang, Fujian, Guangdong. Durante o período Ming, a China estava agrupada em quinze províncias. Em 1645, o novo governo Qing-Manchu criou uma décima sexta, a província de Mukden (Shenyang) da Manchúria, como a segunda província metropolitana. Em 1676, o imperador Kangxi dividiu a China em dezoito províncias; Shaanxi e Gansu, na dinastia Ming, eram conhecidas por Shaanxi; Hunan e Hupei eram conhecidas por Huguang; e Chiangsu e Anhui eram conhecidas por Nanzhili, Nanchang ou Jiangnan. Beizhili incluía Hopei e parte de Chahar e Rehe. O nome Zhili significa "Governo directo"ou"Província Metropolitana". Antes de 1421 (quando a capital do império foi transferida de Nanjing para Beijing), a província de Nanchang ou Jiangnan era conhecida por Zhili ou "Província Metropolitana do Sul", e a província da nova capital era conhecida por Beizhili ou "Província Metropolitana do Norte." A República Popular da China divide-se em vinte e duas províncias. À lista Qing acrescentam-se os nomes de Liuling, Jilin, Heilongjiang, Taiwan, Qinghai e subtrai-se o nome de Guangxi.

21 Idem, ibidem.

22 WITEK, John W., S. J. — Understanding the Chinese: a comparison of Matteo Ricci and the French jesuit mathematicians sent by Louis XIV, in: "East meets West: the jesuits in China, 1582-1773", ed. by Charles E. Ronan, S. J. and Bonnie B. C. Oh, pp. 62-102.

23 BROWN, Lloyd A. — Jean Dominique Cassini and his worldmap of 1696, Ann Arbor, 1941, pp. 40-41.

24Idem, p. 42.

25 DANIEL, C. — La géographie dans les collèges desjésuites auxXVIIe et XVIIIe siècles, "Études", (3) 1879, pp. 801-23. Cf., BERNARD-MAITRE, Henri, S. J. — Les étapes de la cartographie scientifique pour la Chine et les pays voisins depuis le XVle jusqu'à la fin du XVIIIe siècle, "Monumenta serica", Bonn, (l) 1936, pp. 428-77.

26 DANIEL, C. — Op. cit., p. 810.

27 Idem, pp.818-23.

28 Idem, pp. 814-15.

29 O título formal do jornal é "Mémoirs pour servir à 1'histoire des sciences et des beaux-arts", mas até ao século XVIII era conhecido por "Joumal de trévoux". Para mais informação acerca do jornal, consultar: DESAUTELS, Alfred, S. J. — Les mémoirs de 'Trévoux et le mouvement des idées au XVIIIe siècle (1701-1734), Roma, 1956.

30 BRUCKER, Joseph, Abbé — Communicationsurl' exécution des cartes de la Chine par les missionaires du XVIIIe siècle d'après documents inédits, in: CONGRÉS INTERNATIONAL DES SCIENCES GEOGRAPHIQUES, 4, Paris, 1889— [ Actedu... ], Paris, 1889, vol. l, pp. 384-86. O problema do reconhecimento da longitude só viria a ser resolvido depois da adopção do cronómetro. Cf., THROWER, Norman J. W. — The discovery ofthe longitude: observations ofcarrying timekeepers for determining longitude at sea, 1530-1770, "Navigation", (5) 1957-1958, pp. 375-81.

31 EDIN, Sven — Southern Tibet: discoveries in former times compared with my own observations in 1906-1908, Stockholm, 1917-1922, vol. l, pp.216-22. Cf., BERNARD-MAITRE, Henri, S. J. — Op. cit., 1936, p. 465. Cf., BRUCKER, Joseph, Abbé — Op. cit., vol. l, p. 381.

32 BADDELEY, John F., ed. — Russia, Mongolia, China: being some record ofthe relations between them from the beginning ofthe XVIIth century to the death of Tsar Alexei Mikhailovich, A. D.,1602-1676, London, 1919, vol. l, pp. VI-VII.

33 NEEDHAM, Joseph — Op. cit., vol. 3, p. 585.

34 GAUBIL, Antoine, S. J. — Correspondance de Péking,1722-1759, Geneva, 1970, p. 214. O original francês é:"C'est le P. Parrenin qui trova le moyen de faire naître à 1'empereur Kang-Hi le désir de voir une carte de Ia grande muraille."

35 TING Tchao-tsing [TING Chao-ching] — Les descriptions de la Chine parles français (1650-1750), Paris, 1928, p. 47.

36Este projecto de elaboração de mapas é referido numa carta endereçada a Gottfried Wilhelm von Leibniz, de 4 de Novembro de 1701, impressa no "Joumal de trévoux", (11) 1704, p. 155. Cf., nota 29.

37DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — Description géographique, historique, chronologique, politique, et physique de 1'empire de la Chine et de la Tartarie chinoise, Haye, 1735, vol. l, p. XXXVI. O original francês é: "Ce grand Prince ayant ordonné aux missionaires de dresser une carte des environs de Peking, jugea par lui-même combien les méthodes européanes sont exactes."

38 Sobre este projecto de mapas, consultar a nota de Henri Cordier relativamente aos escritos de Antoine Gaubil: Mélanges géographiques et historiques: manuscrit inédit du PèreA. Gaubil, S. J., publiéavec notes. ...,"Toungpao", (16) 1915, pp. 529-44. Entre o mapa de Régis e o mapa militar da dinastia Qing pode-se fazer uma comparação fascinante entre práticas de execução de mapas ocidentais e chinesas contemporâneas. O mapa militar data de aproximadamente 1680-1700; representa cerca de três quartos do comprimento da muralha de 10.000 li (um li = aproximadamente meio quilómetro) e apresenta guarnições. Para uma ilustração do mapa chinês, consultar: MEIJER, MJ., A map ofthe Great Wall of China, "Imago mundi", (13) 1956, pp. 110-15.

39 MAILLA, Joseph Anne Marie de Moyriac de, S. J. — Histoire générale de la Chine, ou annales de cet empire; traduites du Tong-kien-kang-mou[(...) tradução dos pontos principais do "Universal mirror"], publiées parl'abbé Grosier, Paris, 1777-1785, vol. 11, pp. 314-17.

40 Na dinastia Ming, a província de Shantung incluía as penínsulas de Liudong e Shan-tung. A Shanhai guan, que literalmente significava "Passagem marítima da montanha", tinha importância estratégica porque ficava ao nível do chão, entre o mar e as montanhas, na qual a península de Liudong podia ser cortada.

41 BADDELEY, John F., ed. — Op. cit., vol. 1, p. CLXXXI. Cf., MAILLA, Joseph de — Op. cit., vol. 11, p. 314. Baddeley refere que a muralha tinha sido examinada cuidadosamente pelo padre Alexandre antes de 1694. Cf., IDES, Evert Ysbrandszoon — Driejaarige reize naar China, te lande gedaan door den moskovischen afgezant..., Amsterdam,1704, p.138.

42 DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — Op. cit., 1735, vol. 1, p. XXXVIII.

43 Idem, ibidem.

44 FUCHS, Walter — Der jesuiten-atlas der K'anghsi-zeit seine entstehungsgeschichte nebst namensindices für die karten der Mandjurei, Mongolei, Ostturkestan und Tibet, Beijing, 1943, pp. 9-10.

45 DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — A description of the empire of China andChinese Tartary, London, 1738-1741, vol. l, pp. VII. Excepto quando o contrário for indicado, todas as referências em numeração romana nesta edição inglesa respeitam o prefácio de Du Halde.

46 Idem, vol. l, p. VIII.

47 Idem, ibidem.

48 PFISTER, Louis, S. J. — Notices biographiques et bibliographiques sur les jésuites de l'ancienne mission de Chine: 1552-1773, Chang-hai, Imprimerie de la Mission Catholique, 1932-1934, vol. 1, p.531 (Variétés sinologiques, 59-60).

49 Du Halde, na sua Description de Ia Chine, chama a área de "Saghalian" (Selenga).

50 DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — Op. cit., 1738, vol. l, p. VIII.

51 Sobre os mongóis desta área, na época, consultar: GROUSSET, René — The empire of the steppes: a history of Central Asia, trans. by Naomi Walford, New Brunswick, 1970, pp. 529-33.

52 Sobre o tratado de Nerchinsk e a participação jesuíta na vitória dos manchus, consultar: SEBES, Joseph, S. J. — The jesuits and the Sino-Russian treaty of Nerchinsk (1689): the diary of Thomas Pereira, S. J., Roma, 1961. Cf., TIKHOVLEVA, Praskovia— PervyRusso Kitayskydogovor 1689 goda [O primeiro tratado sino-russo, 1689], Moscow, 1958. Cf., MANCALL, Mark — Russia and China: their diplomatic relations to 1728, Cambridge, 1971.

53 Antoine Gaubil, S. J. dá pormenores da expedição de 1711 na sua Histoire de Thang, in: "Mémoires concemant l'histoire, le sciences, le arts, le moeurs, leusages, etc. deschinois, par le missionaries de Pékin", ed. C. Batteux, et al. Paris, 1776-1814, vol 15, p. 402.

54 Esta é adesignação que Mailla dá à maioria destes cartógrafos jesuítas.

55 Padre Toumon foi detido por ordem do Imperador Kangxi em 1707, em Macau. Neste mesmo ano e sem seu conhecimento, fora nomeado cardeal, em Roma. Entretanto, Fabre-Bonjour foi a pessoa incumbida de trazer-lhe o "chapéu vermelho". Este chegou a 4 de Janeiro de 1710 e, dois dias depois, a cerimónia de investidura teve lugar em privado. Todavia, o "cerceado" cardeal morreu passados seis meses. Cf., ROULEAU, Francis A., S. J. — Maillard de Tournon, papal legate at the court of Pking, "Archivum historicum Societatis lesu", (31) 1962, pp. 264-323.

56 Consultar a tradução para termos geográficos modernos, em: FUCHS, Walter — Op. cit., 1943, p. 10. Relativamente à descrição desta expedição feita por Gaubil, consultar: CORDIER, Henri — Op. cit., 1915, pp. 526, 536-37.

57 MAILLA, Joseph, S. J. — Op. cit., vol. 11, p. 316.

58 "Dix pieds en quarré".

59 DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — Op. cit., 1738, vol. 1, pp. VIII-IX, prefácio do autor.

60 FUCHS, Walter— Op. cit., 1943, pp. 9-11.

61 Régis foi enviado em substituição de Fabre-Bonjour, depois da morte deste em Yunnan.

62 GAUBIL, Antoine, S. J. — Op. cit., p. 214. Segue-se o original Francês:

"Ces Péres prirent un quart de cercle de deux pieds deux pouces de rayon; on eut souvent soin de le vérifier, et on trouva constamment qu'il représentoit les hauteurs trops grandes d'une minute. Ils avoient de grandes boussoles, plusieurs autres instruments, une pendule et autres choses propres à 1'execution des ordres de 1'empereur. Avec des cordes divisées exactement ils mesurèrent exactement le chemin depuis Péking... Dans ce chemin ils prirent souvent parobservatiolahauteurméridiennedusoleil; ilsobservaient à tout moment le rhumb et eurent grand soin d'observer Ia variation et déclinaison de 1'aiguille...

Dans tous ces vastes pays, Les P. P. Régis, Jartoux, Fridelli, [Dominique] Parrenin ont observé la hauteur du pôle, mesuré les distances, observé les rhumbs et ont fait connaître en détail un pays dont le P. Verbiest avait déjà donné plusieurs connaissances."

Pode-se encontrar a biografia de Verbiest em: BLONDEAU, R. A. — Mandarijn en astronoom: Ferdinand Verbiest, S. J. (1623-1688) aan het hof van de Chinese Keizer, Bruges, 1970. A obra de Verbiest era: Astronomia europaea sub imperatore tartare-sinico Cam-hy appelato, Dilingae, Bencard, 1687.

63 BOUVET, Joachim, S. J. — Voiage de Siam du Père Bouvet, ed. Janette C. Gatty, Leiden, 1963, pp. 15-16.

64 Du Halde recolheu grande parte das suas informações geográficas nesta obra. Cf., RÉGIS, Jean-Baptiste — Nouvelle géographie de la Chine et de la Tartarie orientale, Bibliothèque Nationale, Paris, MS. fr. 17242, folhas 5v-11 v.

65 BRUCKER, Joseph, Abbé — Op. cit., vol. l, p. 388.

66 BADDELEY, John F., ed. — Op. cit., vol. l, p. CLXXXVII.

67 BERNARD-MAITRE, Henri, S. J. —Note complémentaire sur l'atlas de Kang-hsi, "Monumenta serica", Bonn, (11) 1946, pp. 198-99. Segue-se o original em Francês: "Comme on le voit, laméthode fondamentale qu'employèrent les cartographes consistait à mesurer les distances pour obtenir la latitude et la longitude des différents endroits. Ce procédé était complété et contrôlé au moyen de l'observation méridienne du soleil et des étoiles polaires pour la latitude. Quant à la longitude, les missionaires s'aidèrent parfois des éclipses de la lune et des satellites de Jupiter, mais ils furent souventempêchés d'effectuercette opération aveclaprécision désirable."

68 DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — Op. cit., 1735, vol. l, p. XXXVI. Contudo, d'Anville fez tal conversão para o meridiano de Paris na sua versão do mapa geral daDescription de la Chine. Refira-se que, mantendo o erro que vai aumentando à medida que nos afastamos da capital chinesa, compreende-se melhor os métodos de levantamento do que se o meridiano fosse mudado para Paris. Contudo, o editor cartográfico da edição inglesa não pensava assim. Cf., idem, 1738, vol. l, prefácio do tradutor.

69 PFISTER, Louis, S. J. — Op. cit., vol. l, p. 534.

70 DU HALDE, Jean-Baptiste, S. J. — Op. cit., 1735, vol. l, p. XXXVI. Segue-se o original em Francês:"C'est sur le méridien de Péking que sont comptées ces longitudes; & c'est pour ne point s'exposer à tomber dans quelque erreur, qu'on na pas voulu les réduire au méridien de Paris".

71 O problema da longitude causou confusão aos cartógrafos até ao fim do século XVIII. Cf., TROWER, Norman J. W. — Op. cit., pp. 376-77. Cf., BROC, Numa—La géographie des philosophes, géographes, et voyageurs français au XVIIIe siècle, Paris, 1972, p. 16. Cf., DU HALDE — Op. cit., 1738, vol. l, prefácio do tradutor.

72 Este problema era constante para os missionários jesuítas da China desde o início. O problema era particularmente agudo quando os missionários assumiram a chefia do Departamento de Astronomia.

73 DU HALDE— Op. cit., 1738, vol. l, p. XI, prefácio do autor.

74 É interessante comparar a proximidade de Du Halde com o manuscrito original de Régis. Du Halde, no original francês, declara:

"II n'en est pas de même dans l'Ouvrage qu'on donne au Public; tout vaste qu'il est, on n'a pas cru devoir s'en tenir, ni aux Cartes des Gouverneurs Chinois, ni aux dimensions faites presque partout, principalement dans la Tartarie, par les Mantcheous également laborieux exacts, ni à divers Mémoires imprimez. Mais on s'est déterminé à recommencer tout de nouveau, n'usant de ces connoissances que pour se régler dans les routes qu'on avoit à prendre, & dans le choix des lieux dignes de remarque, rapportant tout ce qu'on faisoit, non seulement à um même dessein, mais encore à une même mesure employée sans interruption". Cf., DU HALDE — Op. cit., 1735, vol. l, p. LII.

E o original do manuscrito de Régis:

"Aulieu que dans 1'ouvrage qu'on donne aupublic, tout vaste qu'il soit en effet, on n'a pas cru devoir sen tenir ni aux Cartes des Gouvemeurs Chinois ni aux dimensions faites presquepartout, surtout dans la Tartarie quelques années au paravant par des mantcheoux [palavra riscada] également laborieux et diligents ni à divers mémoires imprimés mais ont sest déterminé à recommencer tout de nouveau ne se scrivant de ces connoissences que pour se régler dans les routes qu'on avoit à prendre et dans le choix des lieux dignes de remarque et rapportant tout ce quon faisoit non seulement à un mesme dessein mais enchore à une mesme mesure employée sans interruption". Cf., RÉGIS, Jean-Baptiste — Op. cit., fol. 9r.

75 DU HALDE — Op. cit., 1738, vol. l, p. VII, prefácio do autor.

76 NEEDHAM, Joseph — Op. cit., vol. 3, p. 590.

77 MCCUNE, Shannon — Geographical observations ofKorea: those of Father Régis published in 1735, "Journal of socialscience and humanities", Seoul, (44) 1976, pp. 7-8.

78 PETECH, Luciano — China and Tibetin the early eighteenth century, Leiden, 1972, pp. 18-20. A expedição geográfica de Ho Shou não foi a primeira feita por um chinês ao Tibete; Needham refere-se a uma anterior: Lasi e Sulan realizaram uma expedição de cinco meses ao Tibete em 1704, que resultou, após investigações mais detalhadas de Amida em 1782, à publicação oficial de Ching ting ho yuan chi lueh [Registo das nascentes dos rios, encomendado pelo imperador]. Cf., NEEDHAM — Op. cit., vol. 3, p. 585.

79 DU HALDE — Op. cit., 1738, vol. 2, p. 384. No início do século XVIII, houve uma divisão entre os lamas do Tibete, separando os "chapéus vermelhos", que continuavam a apoiar o Dalai Lama, e os"chapéus amarelos", que apoiavam os conquistadores Qing. Cf., Idem, vol. 4, p. 570.

80 FUCHS — Op. cit., 1943, pp. 14-18, nº 16-19.

81 Idem, ibidem.

82 HEDIN, Sven — Op. cit., vol. 3, p. 29. Nesta época, havia europeus leigos e religiosos no Tibete; entre eles, encontravam-se Ippolito Desideri, S. J. (1648-1733) e J. G. Renat, um fabricante de armas e fundidor de canhões sueco. Sobre Desideri, consultar: PUINI, Carlo — Il Tibet (geografia, storia, relegione, costumi) secondo la relazione del viaggio del P. Ippolito Desideri (1715-1721), "Memorie della Società Geografica Italiana", (10) 1904, pp. LXIV-402. Sobre Renat, consultar: HEDIN —SOp. cit., vol. l, pp. 253-61.

83 DU HALDE — Op. cit., 1735, vol. 4, p. 571. Du Halde retirara também esta informação do manuscrito de Régis.

84 PETECH, Luciano— Op. cit., p. 20. Cf., FUCHS — Op. cit., 1943, pp.12-18.

85 Ho Kuo-tung era irmão de Ho Kuo Tsung (falecido em 1766), que mais tarde ajudaria no levantamento de Sungaria (Chun-ko-erh) em 1755; um projecto igualmente levado a cabo por jesuítas, integrado no segundo levantamento da China, por eles realizado, para o imperador Chien-lung. Consultar: HUMMEL, ArthurW., ed. — EminentChineseof the Ching period. (1644-1912), Washington, D. C., 1943-1944, vol. l, pp. 285-86. Cf., FUCHS — Op. cit., 1943, pp. 35-36.

86 Consultar a carta de Mailla, de Agosto de 1715, redigida em Jiujiang (Chiu-chiang); cf., AIMÉ-MARTIN, L., ed. — Lettres édifiantes etcurieuses, d' écritsdes missions étrangères par quelques missionaires de la Compagnie de Jésus, Paris, 1838-1843, vol. 3, pp. 253-67. Pesquisar as edições dos diferentes volumes de Lettres é um pesadelo bibliográfico. Para uma investigação das edições, consultar: PALTSITS, Victor Hugo — Data concerning the 'Lettres édifiantes', in: THWAITES, Reuben Gold, ed. — Thejesuit relations and allied documents, Cleveland, 1896-1901, vol. 66, pp. 298-334.

87 NEEDHAM—Op. cit., vol.3, p.585.

88 DEHERGNE, Joseph, S. J. — Répertoire des jésuites de Chine de 1552 à 1800, Roma, 1973, p. 338. Estes jesuítas encontravam-se agrupados em três orgãos jurídicos diferentes: sob a província do Japão, 52 homens, dos quais 34 eram padres e com cerca de 10 residências em Guangdong e Guilin; sob a vice-província da China, 40, dos quais 36 eram padres, com 4 colégios e 37 residências; sob a missão francesa, 28 padres e irmãos com "várias casas". Edwin O. Reischauer e John K. Fairbank apresentam estes números para 1701: "A China tinha 59 jesuítas, 29 franciscanos, 18 dominicanos, 6 agostinianos e 15 padres seculares, pertencendo grande parte dos últimos à Companhia Francesa das Missões Estrangeiras (Société des Missions Étrangères). Os jesuítas em 1701 tinham 70 residências de missões e 208 igrejas e capelas". Cf., East Asia: the great tradition, Boston, 1960, p. 249. Consultar: DEHERGNE — Op. cit., pp. 352-53,357-59; para um mapa dos postos missionários na China em 1701; o mapa é acompanhado de um texto.

89 PFSTER, Louis, S. J. — Op. cit., vol. 2, p. 608; citando: HALLERSTEIN, Augustin von, S. J. — Epistolae anedoctae, carta la. O original em Francês é o seguinte: "Dans ses immenses voyages du nord au midi de l'empire, il fut encore plus apôtre que géomètre et ne manqua jamais l'occasion d'annoncer l'Évangile et de prêcher aux paÏiens."

90 PFSTER — Op. cit., vol. 2, pp. 532, 597, 612. A obra de Pfister é, claramente, uma fonte de valor incalculável mas, por vezes, está escrita num estilo ortodoxo católico hagiográfico do século XIX.

91 DEHERGNE — Op. cit., p. 336.

92 Sobre este assunto, consultar: PELLIOT, Paul — Les conquêtes de l'Empereur de la Chine, "Toung pao", (20) 1920-1921, p. 273. Para informações sobre Ripa, consultar: COMENTALE, Christophe— MatteoRipa, peintre-graveur--missionaire à la courde Chine, Mémoires traduits, présentés etannotés par..., Taipé, 1983.

93 É evidente que Ripa tinha iniciado a sua obra recorrendo ao material da primeira edição como guia.

94 A edição tem quarenta e uma ou quarenta e quatro placas. Walter Fusch escreve: "Ob diese indessen mit den Mukdener platten identisch sind [uma edição recente impressa em Mukden [Shenyang], em 1929, e intitulada Man han ho pi Ching nei-fu i-tung yu-tipi-tu] erscheint wegen der differenz in der anzahl der platten - dort sind es nur 41 - fraglich." Cf., FUCHS — Materialien zur kartographie der mandju-zeit, "Monumenta serica", (l) 1935-1936, pp. 426-27.

95 DESTOMBES, Marcel — Les originaux chinois des plans de ville publiés par J. B. Du Halde, S. J., en 1735, in: COLLOQUE INTERNATIONAL DE SINOLOGIE, Chantilly, 20-22 septembre 1974— La missionfrançaise de Pékin auxXVIIe etXVIIIe siècles: actes du..., Paris, 1976, p. 86.

96 Citado em: FUCHS — Op. cit, 1935, p. 398.

97 HEDIN—Op. cit., vol 3, p.29.

98 Este exemplar tem os mapas dispersos, todos juntos formando um grande mural de 3,17 x 2,95 metros. A colecção de Jorge II foi para o Museu Britânico em 1828. Consultar: WALLIS, Helen — Missionary cartographers to China, "Geographical magazine", (47) 1975, p. 752.

99 FUCHS — Op. cit., 1943, p. 7. Paralelamente, Fuchs dá conta de que em 1943 havia um exemplar no palácio imperial de Mukden [Shenyang].

100 PETECH — Op. cit., p. 186.

101 Este atlas de 1721 é o que foi reproduzido por Fuchs como material acompanhante, caixa de mapas, do seu estudo. Cf., FUCHS — Op. cit., 1943, pp. 44-48.

102 DESTOMBES — Op. cit., p. 86.

103 Idem, ibidem.

104 CORDER, Henri — Bibliotheca sinica, vol. l, col. 184. Segue-se o original em Francês:

"Les cartes originales des pères de la Compagnie de Jésus sont déposées aujourd'hui aux Archives des Affaires Étrangères. Elles furent achetées de d'Anville, par M. Vergennes, moyennant une rente viagère de 3000 francs. Ces cartes forment un Grand Atlas (no. 1648a): elles sont sur papier de Chine, montées sur du papier fort et entourées d'une bordure de soie bleue chinoise. Les noms des villes sont marqués en caractères chinois."

Parece que Cordier desconhecia que tinham sido impressas na China várias edições do atlas jesuíta. Para uma descrição mais completa do manuscrito, consultar: FUCHS — Op. cit., 1935, p. 398; idem, 1943, pp. 43-48. Joseph-Nicolas Delisle também tinha um exemplar do atlas chinês em S. Petersburgo.

105 Grande parte das informações anteriores foram recolhidas da obra de Fuchs, Derjesuiten-atlas... Sobre os mapas na obra Tu shu chi cheng[Enciclopédia imperial (de assuntos) antigos e modernos], consultar: NEEDHAM — Op. cit., vol. 3, p. 585; BERNARD-MAITRE — Op. cit., 1946, p. 192. Fuchs refere também que os mapas podem ter sido gravados em placas de jade branco. Consultar a sua obra Materialien..., p. 397, nō45; onde cita Cordier, Bibliotheca sinica, vol. l, col. 184. Baddeley fala também de "versões chinesas em jade, cobre emadeira," Russia, Mongólia, China..., p. CLXXXIX. A passagem de Cordier relata-nos que as informações foram recolhidas do levantamento e depois transferidas "(...) sur de minces lames de jades blanc, larges de deux pieds et demi environ. Les contours et les noms de villes étaient marqués par des traits dorés. On conservait ces planches au palais du Youen ming youen [Yuanmingyuan, o palácio manchu de Verão; elles existaient encore à l'époque du pillage [durante as represálias dos europeus contra a rebelião Boxer], mais on ignore ce qu'elle sont devenues depuis". Gaston Cahen também segue Cordier. Cf., CAHEN, Gaston — Les cartes de la Sibérie au XVIIIe siècle: essai de bibliographie critique, Paris, 1911, pp. 55-56,59,101-29,139,199-200,280,339. Uma das práticas comuns era a gravação de mapas em pedra, colocados assim para a posteridade. Alguns dos primeiros mapas existentes da China foram preservados desta forma. Consultar: NEEDHAM — Op. cit., vol. 3, p. 548; NELSON, Howard — Maps from old Cathay, "Geographical magazine", (47) 1975, p. 704.

106 PFISTER — Op. cit., vol. l, p. 533.

107 Sobre este projecto, consultar a mesma obra, Notices..., vol. 2, pp. 774-77,865. Cf., WALLIS, Helen — Op. cit., p. 752.

108 Numa carta de Michel Benoist a "M—, aproximadamente em 1773; cf., AIMÉ-MARTIN—Op. cit., vol. 4, pp. 231-32.

109 GAUBIL — Op. cit., 1970, pp. 216, 735.

110Idem, p. 302. Segue-se o original francês: "La carte des jésuites fut offerte en 1725 au Roy de France par le R. P. de Linière, jésuite, confesseur de Sa Majesté, et le P. Jean Baptiste Du Halde a cette carte à Paris."

Luís XV recebeu provavelmente a edição em placa de cobre de Ripa, embora também pudesse ter recebido a edição xilográfica. O exemplar do atlas do rei permaneceu na biblioteca real particular até à Revolução Francesa; cf., HEDIN — Op. cit., vol. 3, p. 29.

111 Consultar: SEBES, Joseph, S. J. — Op. cit., pp. 137-41.

*Director associado do Instituto de História Cultural Chinesa no Ocidente, da Universidade de São Francisco. Especialista em Cartografia Jesuítica e Chinesa, e de Impacto Chinês na Europa Setecentista.

desde a p. 129
até a p.