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O PRIMEIRO PADRE JESUÍTA CHINÊS

Manuel Teixeira*

Nasceu em Macau a 25 de Maio de 1633; foi baptizado com o nome de Manoel ou Emmanuel de Siqueira, sendo filho de António de Siqueira, chi-nês, e de mãe também chinesa. Em chinês chamava--se Cheng Ma-no Wei-hsin.

A 20 de Dezembro de 1645, o missionário da Cochinchina, P.e Alexandre de Rhodes, S. J., levou--o consigo de Macau para Roma por via terrestre.

Ao passar pela Pérsia, os tártaros que iam na mesma caravana, julgando que Siqueira era um moiro turco disfarçado, planearam raptá-lo ao atra-vessar a Turquia. Ao saber disto, Rhodes meteu-o secretamente num convento dominicano de Ere-van, na Arménia, onde aprendeu a língua. arménia em seis meses que ali esteve.

Só chegou a Roma a l de Janeiro de 1650, le-vado por outro missionário da Cochinchina, P.e Francesco della Roca, S. J..

Ali começou os seus estudos e, em 17 de Outu-bro de 1651, ali ingressou no Noviciado Jesuítico de Santo André.

Após dois anos de Noviciado, registou-se no Colégio Romano, onde estudou Retórica (1653--1654), Lógica (1654-1655), Física ou Teologia Na-tural (1655-1656) e Metafísica (1656-1657).

Como manda a regra, este jovem escolástico interrompeu os seus estudos e ensinou Gramática e Humanidades no mesmo Colégio de 1657 a 1660.

No Verão de 1660 foi para Bolonha continuar os estudos no Colégio jesuítico; tirado o primeiro ano de Teologia, foi para Portugal, em fins de 1661, para o Colégio jesuítico de Coimbra.

Ali foi ordenado sacerdote, provavelmente no fim do seu terceiro ano de Teologia, no primeiro se-mestre de 1667.

REGRESSO À CHINA

O P.e Giovanni Filippo Marini, S. J., missio-nário na China, tinha ido à Europa recrutar padres para esta Missão. Conseguiu o que queria e, a 13 de Abril de 1666, partiram de Lisboa, na nau Capitânia “Nossa Senhora da Ajuda”, em companhia de João Nunes da Cunha, vice-rei da Índia, os seguintes je-suítas: Marini, Manuel de Siqueira e Nicolau da Fonseca (1), ambos chineses; Jean Baptiste Maldo-nado, de Tournai, Bélgica; seis italianos: Ludovico Azzi, de Luca, Cláudio Filippo Grimaldi e Filippo Fieschi, de Génova,.e três de Palermo: Giuseppe Candone, Datio Algiata e Francesco Castiglia; e ainda quatro portugueses: Francisco da Veiga e Rei-naldo Borges (padres) e os escolásticos Tomás Pe-reira e António Duarte.

Eram 14, mas dois morreram na viagem (2); os outros 12 chegaram a Goa a 13 de Outubro. Demo-raram-se ali perto de dois anos. É que as missões da China e da Cochinchina estavam sob a perseguição, não podendo lá entrar os missionários.

Siqueira estudou a língua canarim e missionou em Chaúl.

Finalmente, ele pode partir para Macau com os seguintes companheiros: Filippo Fieschi, Ludo-vico Azzi, Giuseppe Candone, Manuel Ferreira, Francisco da Veiga e Jean de Haynin;(3) embarca-ram em Goa, a 14 de Maio de 1668, na nau “Nossa Senhora da Penha de França”, que chegou a Malaca dois meses depois; após uma demora de nove dias, aportaram a Macau a 19 de Agosto, três meses e seis dias após a partida de Goa (4).

Siqueira estivera em Malaca 22 anos antes, quando viajou para Roma com o p.e Alexandre de Rhodes, S. J., missionário da Cochinchina; chega-ram ambos a Malaca a 16 de Janeiro de 1646, cinco anos depois de conquistada pelos holandeses, e ali se demoraram um mês.

APOSTOLADO EM MALACA

Durante os nove dias que ali passaram, os sete zelosos missionários não estiveram ociosos.

Giuseppe Candone, em carta de 31 de Dezem-bro de 1668, de Macau para o P.e Alessandro Fies-chi, Assistente Geral da Companhia em Roma, re-lata:

“Logo que ouviram a notícia, os homens re-maram ansiosamente nos seus pequenos barcos para nos saudar a bordo; eram tantos que encheram o nosso navio. Cada um deles trouxe um pequeno presente como mostra do afecto e nós ficámos co-movidos até às lágrimas pela devoção cordial e sim-ples e o seu desejo de receber os sacramentos. Ali mesmo os satisfizemos; mas eles pediram-nos tam-bém que fôssemos a terra para atender as mulheres, dispostas a pagar a multa de 200 escudos imposta pe-los holandeses sobre qualquer pessoa que fosse des-coberta escondendo um padre sem a permissão do Governador.

“Mas os Padres decidiram que seria melhor sa-tisfazer a piedade religiosa do povo, munindo-se de autorização oficial para desembarcar, alegando a necessidade de armazenar provisões para o navio.

“Quando, dois dias depois, chegou a autoriza-ção do Governador, limitava a quatro o número de religiosos, podendo só ficar em terra apenas durante o dia, e tendo de regressar a bordo ao cair da noite. Sendo este tempo insuficiente para atender mais de 3000 cristãos que ali havia, há muito sem sacramen-tos (5), nós decidimos iludir estas restrições. Mais membros do nosso grupo desembarcaram e foram secretamente conduzidos a certas casas designadaspelos fiéis, ao longo da margem, sob a sombra da Fortaleza. Alguns de nós ficámos ali escondidos du-rante o dia, outros durante a noite.

“A estes humildes refúgios acorriam os católi-cos das vizinhanças em grupos sossegados, muitos esperando toda a noite para assistir à Missa. Eles mesmos conservaram cuidadosamente através dos anos o que era necessário para o Divino Sacrifício. Durante horas intermináveis ouvimos confissões e distribuímos a Sagrada Comunhão, tão impressio-nados pelo fervor desta boa gente que nos podíamos imaginar num claustro religioso.

“Todas as vezes que qualquer de nós andava pelas ruas, eles corriam das suas casas para nos sau-dar com afecto e presentear-nos com frutas e ofertas para Missas. Imploravam-nos com lágrimas que fi-cássemos entre eles” (6).

EM MACAU

Siqueira chegou a 19 de Agosto de 1668 a Ma-cau, onde havia nascido e donde havia partido, me-nino e moço, a 20 de Dezembro de 1645 com 12 anos de idade.

Em Macau voltou a estudar o chinês que já ha-via esquecido, juntando-se aos estudantes do Colé-gio de S. Paulo. O P.e Maldonado, que chegara um ano antes, escrevia acerca dos dois cursos que se da-vam nesse famoso Colégio: Fervet in duplici acade-mia linguarum studium, alterius sinicae, alterius annamiticae: "ferve em duas academias o estudo das línguas, uma chinesa, outra anamita".

Oito padres estudam a língua anamita e seis, incluindo Siqueira, a chinesa.

Na China fervia também a perseguição contra a Igreja e os padres de várias Ordens Religiosas es-tavam presos em Cantão. O único que andava a visi-tar as Missões era o padre chinês Gregório Ló, O. P., que depois foi nomeado bispo.

O padre jesuíta siciliano Prospero Intorcetta estava preso em Cantão com os outros. Mas, como foi eleito Procurador das Missões a Roma, tratou de se escapar, o que não foi fácil. Para isso arranjou-se, um estratagema. O jesuíta francês, Germain Ma-cret, havia sido exilado para Macau e ofereceu-se para ir substituir Intorcetta; este fugiu e Macret en-trou secretamente, tomando o nome e o lugar do fu-gitivo em 1668.

Em 1670, deu-se outro caso bastante diferen-te: o dominicano Domingo Fernandez Navarrete fu-giu também da prisão de Cantão; mas esta fuga po-deria trazer consequências graves para os outros presos, se não fosse o jesuíta italiano Cláudio Fi-lippo Grimaldi a ir substituí-lo imediatamente, pois ele não tratara disso.

Expulsos ou presos os missionários estrangei-ros, essas Missões haviam ficado abandonadas e apenas o padre chinês Gregório Ló podia circular através da imensa China. Ele fora o primeiro chinês a ordenar-se sacerdote; Siqueira fora o segundo. E estes eram os únicos que poderiam agora missionar na China.

Esta lacuna fôra discutida seriamente pelos missionários presos em Cantão e, agora em Macau, Intorcetta debateu o mesmo assunto com os outros jesuítas, seus colegas. Todos concordaram, incluin-do Siqueira, e assentou-se que o procurador Intor-cetta levasse esta questão a Roma (7). O P.e Si-queira fez um apelo ao Geral no mesmo sentido: “De modo que não resta outro meio para manter es-tes cristãos e administrar os sacramentos da Igreja do que mandar sacerdotes indígenas disfarçados, que facilmente possam andar desconhecidos, o que não podem fazer os europeus. Isto mesmo vieram fi-nalmente a reconhecer e a querer pôr em execução os superiores desta província; mas não acharam pes-soal, porque todo o tempo passado puseram dificul-dades em os receber; e agora precisamente em que tanta necessidade tem de sacerdotes naturais para remediar tão urgente necessidade não os encon-tram; e se isto não se põe em prática, segundo o meu juizo, se as coisas continuarem desta maneira, todas estas missões se perderão”.

Acerca desta crítica de Siqueira aos seus supe-riores, citada por Francis Rouleau, p. 38, o mesmo Rouleau comenta: “O problema era muito mais complexo do que pensava o inexperiente Siqueira e a sua crítica aos superiores neste ponto carece de ser moderada. Todos concordavam, em princípio, na necessidade dum clero indígena para a fundação permanente da Igreja. Mas a dificuldade era encon-trar candidatos que dessem garantias de probidade moral, numa comunidade cristã que era ainda relati-vamente pequena e submergida numa sociedade massiva de não cristãos nas suas ideias e costumes, que não possuía escolas cristãs no sentido moderno e apenas com um punhado de pastores sobrecarre-gados para os instruir- aqui é que estava pratica-mente o busilis que inquietava até os que mais sim-patizavam com o programa da indigenação”. O mais forte destes advogados, Gio. Domenico Gabiani (8) admite tristemente num relatório vice-provincial à casa-mãe (em Roma), mais ou menos uma década depois da carta de Siqueira: “Já há mais de seis anosque fazemos o possível para encontrar alguns cris-tãos chineses cultos de idade madura e virtude que, livres dos impedimentos do século, nos possam aju-dar na cultura desta grande vinha do Senhor, ingres-sando na religião (a Companhia de Jesus) e dispon-do-se como convem ao santo sacerdócio. Mas são tão poucos os cristãos cultos que possuam as quali-dades requeridas, e são tantos os impedimentos es-senciais… que, após fadigas e diligências, pudemos receber apenas um”. (Gabiani, Vice-provincial, 11 de Dezembro de 1681, a Oliva Jap. - Sin. 163, f. 163 v). Como alternativa a este sistema, Gabiani defen-dia a prática de recrutar adolescentes. A sua pro-posta era receber rapazes prometedores nas casas mais importantes da missão e treiná-los, ainda jo-vens, nas virtudes cristãs e nas letras (chinesas e lati-nas), uma espécie de miniatura dum seminário ou duma escola apostólica. Ele próprio deu o exemplo em Nanquim, junto das comunidades cristãs mais populosas e fervorosas da China. Mas, apesar de todo o zelo e cuidado com que o bom Padre tratou dos seus recrutas, parece que o resultado desta ex-periência não correspondeu à expectativa.

Ao relatar para Roma os esforços de Gabiani, o novo Vice-provincial, o francês Jean Valat, decla-rou francamente que o método era despesa inútil: “a experiência ensinou-nos que foi em vão que a vice--província despendeu dinheiro em educar aqui aqueles (jovens)”. Dos quatro seminaristas de Nan-quim, internados e educados por dois anos, um teve de ser expulso por conduta imoral, o segundo reen-viado para casa por falta de talento, o terceiro mos-tra desejo de ingressar na Companhia, mas é medío-cre, e o quarto, ainda que desejando subir ao sacer-dócio religioso, é de carácter tão arrogante que não será recebido “até não termos melhores informa-ções” (9) (Valat, Março de 1685, a Charles Noyelle. Jap.-Sin. 163, f. 273).

NA CHINA

Depois de ter estudado o chinês, Siqueira par-tiu para Cantão disfarçado em fim de 1669, acompa-nhado provavelmente pelo irmão coadjutor Antó-nio Fernandes (10). A religião católica havia sido proscrita pelos Quatro Regentes a 4 de Janeiro de 1665; os missionários foram exilados para Cantão em 1666.

Só o dominicano chinês Gregório Ló circulava pelas províncias. Agora era a vez do jesuíta chinês Siqueira que escolheu, não as províncias do Norte, como o dominicano, mas a de Kwangtung. A Pro- víncia Jesuítica do Japão, a que pertencia Siqueira, havia criado em 1665 as missões de Kwangtung e Hainan. Foi, pois, em Kwangtung que exerceu ele o seu apostolado nos anos de 1669 e 1670. Trabalha-vam ali mais dois jesuítas sob a perseguição. A esse trio se deveu o baptismo de 500 crianças, expostas pelos pais na margem do rio. Baptizaram também vários adultos, tendo-se convertido 150 em 1670.

Em Pequim haviam ficado apenas três jesuítas matemáticos: Ferdinand Verbiest, Luigi Buglio e Gabriel de Magalhães. O grande matemático e as-trónomo alemão Johann Adam Schall von Bell, S. J., passou maus bocados após a morte, em 1665, do imperador manchu Chuen-Tche, que reinava em toda a China desde a tomada de Cantão em 1651. Durante a menoridade de seu filho Kang-hi, for-mou-se um Conselho de Quatro Regentes, que en-carceraram este jesuíta, condenando-o à morte a 12 de Novembro de 1664. Libertado pouco depois, veio a morrer de desgostos a 15 de Agosto de 1666.

Kang-hi tomou as rédeas do poder a 25 de Agosto de 1667, com a idade de 14 anos. Agora vira--se o feitiço contra o feiticeiro. Schall fôra amigo ín-timo de seu pai Chuen-Tchi; Kang-hi reabilita a me-mória do jesuíta, degrada dois dos Regentes e rein-tegra os jesuítas no Tribunal das Matemáticas. Em Março de 1671, permite aos padres, internados em Cantão, o regresso às suas missões. Em Macau can-tou-se um Te Deum de acção de graças.

A 8 de Setembro desse ano, dia da Natividade de Nossa Senhora, os missionários saem em triunfo, em procissão solene, pelas margens do rio.

Dois desses padres, grandes matemáticos, re-ceberam honras especiais: o italiano Cláudio Fi-lippo Grimaldi e o austríaco Christian Wolfang Henriques Herdtricht, que foram destinados a Pe-quim. Foram num barco especial, todo adornado e com os seguintes caracteres honoríficos na bandei-ra: Kiu Ciu Ciu Kim, ou seja: "Tendo sido honrados e escolhidos (pelo Imperador), eles vão para a Capi-tal”.

Neste barco foi também Siqueira, não com o título de missionário, mas como Hsiang-kung, i. é., "secretário chinês dos dois matemáticos da Corte”.

Durante a viagem, Siqueira ia gravemente doente, pois o Inverno era extremamente rigoroso; Grimaldi também adoeceu e foi o austríaco que tra-tou dos dois.

Siqueira teve de interromper a viagem, fican-do num hospício. Os outros dois chegaram a Pequim em princípios de Fevereiro, mas Grimaldi levou seis meses para se restabelecer.

Siqueira estava tuberculoso e só saiu do hos-pício depois da Primavera.

Apenas durou um ano, vindo a falecer a 26 de Maio de 1673.

Demos agora a palavra a Francis Rouleau so-bre o último ano de vida de Siqueira:

"Ele veio para a Capital e ali viveu incognito, sem carta do soberano e desconhecido dos manda-rins da administração imperial, excepto como atta-ché dos barbudos estrangeiros. Como ele certa-mente desejava, permaneceu na obscuridade, es-condido atrás das largas vestes de seda dos Astróno-mos do Oeste, que eram os homens que tinham acesso à Imperial Presença e que ficariam na histó-ria da Igreja. Os seus nomes e os seus feitos seriam publicados pela Europa e, de facto, fizeram desde então parte da grande tradição cristã na China. Pelo contrário, o padre chinês, que vivia ao seu lado e era membro da mesma Ordem e da mesma comunida-de, recebe uma menção passageira em vida; e após a morte, o tempo relegou-o para um oblívio quase total…

"Enquanto Verbiest montava os seus sextan-tes para medir as estrelas e Magalhães moldava en-genhosas esferas que irradiavam as mil cores do prisma, e os tubos do órgão de Herdtrich, que exta-siavam o imperador e os cortesãos com a sua melo-dia, o pequeno e frágil jesuíta chinês ia pela cidade e pelas terras adjacentes num serviço quotidiano muito mais humilde, catequizando e baptizando e administrando os outros sacramentos, ao menos quanto lhe permitiam as suas forças limitadas. Co-mo ele, muitos dos seus cristãos eram da classe mais pobre. Para eles e com eles passou os últimos peno-sos dias da sua vida” (11).

Siqueira morreu a 26 de Maio de 1673, um dia depois do seu quadragésimo aniversário. O P.e Ma-galhães, escrevendo ao Vice-visitador, P.e Jaques Le Faure, S. J., disse no final do seu relatório:

"Sentiu V.a R.a a morte do bom Padre Manuel de Siqueira, honra na verdade, glória e prodígio de sua nação. Mas ainda que Pequim não era favorável para seus achaques, nem por isso poderia demorar muito em outras partes; porque, quando chegou a esta Corte, vinha já tísico confirmado, e no interior todo podre e corrupto. V.aR.a dando pressa aos sa-cerdotes chinas (nós aqui fazemos o mesmo) poderá suprir a falta do Padre Manuel de Siqueira, de quem creio que fará grandes instâncias lá no céu, a seu Deus, sobre a matéria”.

Dunin Szpot, depois de dar uma breve notícia sobre Siqueira, diz: "O P.e Emmanuel de Siqueira... chamado a Pequim… chegando à perfeição em tão pouco tempo, realizou, pela sua virtude e os seus trabalhos, uma longa vida; e ali foi sepultado fora da porta de Feuchim, tendo deixado imensa saudade entre os cristãos da cidade imperial” (12).

A sua pedra sepulcral no Cemitério de Chalá, em Pequim, tem o seguinte epitáfio:

"P.e Manuel Siqueira, de nacionalidade chi-nesa e pátria macaense; jovem foi a Roma e aí in-gressou na Companhia de Jesus, primeiro chinês da mesma Companhia que recebeu o sacerdócio; ter-minados com louvor os estudos de Filosofia e Teolo-gia, regressou aos seus para pregar o Evangelho.

"Faleceu em Pequim no Ano da Salvação de 1673, a 26 de Maio, na idade de 38”.

Ele não tinha 38, mas 40 anos de idade, pois nasceu a 25 de Maio de 1633 (13).

NOTAS

(1) Nicolau da Fonseca nasceu em Macau de pais chineses; foi levado para a Europa por Marini e ingressou nos Je-suítas em Lisboa em 1666, com 25 anos de idade. Saiu da Companhia; mas ordenou-se sacerdote e missionou na Cochinchina, onde tomou a defesa do Padroado Portu-guês e dos Jesuítas contra os Vigários Apostólicos Fran-ceses, enviados para lá pela Propaganda. O P.e Fonseca escreveu um tratado polémico intitulado: "Ciento y veinte mentiras en ciento y veinte paginas de los clerigos de Paris sobre la persecución de Cochinchina”. Ciudad de Sinoa, corte de reyno de Cochinchina, hoy 31 de julio de 1708. (Roma, Biblioteca Nazionale, Fondo Ges. 1256, fasc. 39). O P.e Fonseca, assina-se "missionário apostólico” e rondava então pela década dos 60 anos de idade.

(2) Um deles foi Castiglia, que faleceu a 28 de Agosto à vis-ta de Moçambique; o outro foi Algiata que morreu a 17 de Setembro, cinco dias após a saída de Moçambique.

(3) O belga Haynin devia ter vindo com os outros de Lis-boa; mas adoeceu e só partiu para Goa um ano depois.

(4) Note-se que Maldonado partira de Goa a 29 de Janeiro de 1667; demorou-se um mês em Batávia e aportou a Macau a 29 de Janeiro do mesmo ano no pataxo S. Mi-guel, de Francisco Vieira de Figueiredo. Em Maio de 1673 partiu para o Sião, regressando a Macau em 1684 e tornando a partir para lá em 1687; em 1694 regressou a Macau e aqui descreveu em latim a morte de S. João de Brito, com o título de Illustre certamen. Em 1696 partiu para Camboja e lá morreu a 5 de Agosto de 1699.

(5) Pouco antes tinha ali missionado o P.e Fernando Ma-nuel, que em Março de 1665 foi de Macau para Malaca, onde ainda estava em 1666. Em 1651, trabalharam lá se-cretamente os padres jesuítas Pedro de Mesquita e Ma-nuel Henriques, que partiram de Macau em 1651 e ali trabalharam dois anos; sendo presos, passaram mais dois anos na cadeia. O P.e Henriques nasceu em Monte-mor em 1623, embarcando para Goa em 1641; esteve com o P.e Mesquita em Malaca (1651-1655); em Macau (1657); nas Índias (1671); procurador da Companhia de Jesus em Bandorá, perto de Bombaim (1673); procura-. dor da China e do Japão em Goa em Outubro de 1690. O P.e Mesquita descreveu a odisseia de Malaca numa longa relação de 25 de Dezembro de 1655 endereçada ao P.e Francisco de Távora, Assistente do Portugal em Roma: "Relação da nova missão que fizerão os Padres Pedro de Mesquita e Manoel Henriquez, mandados do Collegio de Macao a Cidade e Fortaleza de 0acca em 651” (Jesuítas na Asia, 49-W-52, fl. 5-39).

(6) Francis A. Rouleau, S. J., The first Chinese p st of the Society of Jesus, Emmanuel de Siqueira 1633-1673. "Archivum Historicum Societatis Iesu”. Excmotum e vol. XXVIII-1959. Roma.

(7) Já em 1667 o P.e Francisco de Rougemont, S. J., escre-vera ao Geral João Paulo Oliva a pedir que se celebrasse a liturgia em chinês, como haviam recomendado antes os padres belgas Ferdinand Verbiest e Philippe Couplet: a educação do clero chinês seria exclusivamente na lín-gua sínica, que substituiria a latina na Missa e nos Sacra-mentos. Em 26 de Março de 1615, a pedido do P.e Nico-las Trigault, o S. Ofício dera a faculdade da liturgia em chinês, sendo este decreto confirmado e promulgado pelo breve Romanae Sedis Antistes de 27 de Junho se-guinte. As circunstâncias da época não permitiram a execução desse decreto e só depois do Concílio Vatino II, ou seja, três séculos mais tarde, é que se realizou esse objectivo.

(8) Giandomenico ou Giovanni Domenico Gabiani n. a 23 de Abril de 1623 em Nice; ingressou na Companhia a 15--9-1639; embarcou em Lisboa a 23-3-1655, chegando a Macau em 1656; missionou em várias partes da China, e esteve exilado em Cantão (1665-1671). Foi vice-provin-cial (1680-83 e 1689-92) em Macau; em 1684 estava em Nanquim, onde fundou um Seminário. Morreu em Yangchowfu a 24 de Outubro de 1694. Entre outras obras escreveu: De ritibus Ecclesiae Sinicae (1680); e De latinae lingua usu Sinensibus non inducendo (Joseph Dehergne, S. J., Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, Roma, 1973, p. 104).

(9) Valat, Março de 1685, a Charles Noyelle. Jap.-Sin. 163, f. 273. Cit. por Rouleau, p. 39.

(10)Fernandes nasceu em Macau, de pais chineses, cerca de 1620; ingressou na Companhia como irmão coadjutor e auxiliou muito os missionários; morreu em Cantão, ví-tima da caridade, por tratar do P.e Carlo della Rocca, que veio a falecer em 10 de Junho de 1670.

(11) Ob. cit., p.47.

(12) Cit. por Rouleau, p. 48.

(13) Este nosso trabalhoé baseado no do P.e Francis A. Rou-leau, S. J.: The First Chinese Priest of the Society of Je-sus, Emmanuel de Siqueira. 1633-1673. "Archivum His-toricum Societatis Iesu Extractum e vol. XXXVIII--1959”. Roma.

*Laureado historiador de Macau, da presença de Portugal e da Igreja no Oriente, com mais de uma centena de títulos publicados. Membro de várias associações e instituições internacionais, v. g. a Associação Inter-nacional dos Historiadores da Ásia. Grande Colar e Sócio da Academia Portuguesa de História.

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