Atrium

Macau, na Lusitânia

Carlos Alberto dos Santos Marreiiros Presidente do ICM

Dsede que, provedor de mortos e desaparecidos, Luís de Camões pisou o chão de Macau, e aqui convocou as suas musas e louvou Dinamene, tem esta Terra a sua sagração lusíada. Do dia da morte do Poeta nasceu o Dia de Portugal, dia da comunhão dos vivos na sua Memória. Ante a ameaça de desaparecimento e morte de tanta coisa, nos dias de hoje vamos invocando Camões, o espírito do Curador e do Vate da portauglidade, e buscando, com humildade nas palavras e nas obras, actualizar no tempo os elos da tardição e as moções do futuro.

Assim tem sido em Macau, nos últios tempos, com as Comemorações do Dia 10 de Juho, sob a paternidade da sua Comissão Organizadora e na execução de programas comemorativos onde o Instituto Cultural de Macau tem a mais ampla participação, responsabilidade e iniciativa. Pela distância, situação geográfica e tradição própria, pelo genuíno poder de convocação com que Macau foi afirmando a sua personalidade na História, pode dizer-se que em poucos lugarde da grande Pátria Lusíada o Dia de Portugal alcança a dimensão que enverga em Macau. Pela chamada de tantas, tão longínquas e tão diversificadas participações em culto do mesmo espírito.

Este ano, no ivtervalo de um mês, e para referir apenas alguns dos principais pontos do programa, Macau pôde ver-se nas primeiras fotografias que historicamente documentam alguns aspectos da sua fisionomia urbana e social. Fotografias do Museu Nacional da Fotografia de Paris, executadas pelo Sr. Alphonse Itier seis anos após o aparecimento dos primeiros daguerreótipos. De Faraça veio um pouco da memória de Macau. Também, para aprofundar essa memória, os mais desatados historiadores de Macau estiveram reunidos em seminário subordinado ao tema: “Que História temos, que História podemos ter? ”Esteve patente ao público a exposição “Os Reis”, de Costa Pinheiro, colecção em que o consagrado pintor retrata os reis de Portugal. O "Papel da Língua Portuguesa no Mundo"foi tema tratado em conferência pela Professora Edith Estrela. Eunice Muñoz veio dizer Camilo Pessanha. Veio a musica folclórica, os “Trovante”e o futebol da Associação Académica de Coimbra em romagem também de saudade e confraternização com os antigos estudantes. Reforçada com o Maestro Jorge Matta e o violinista Aníbal Lima, a Macau Sinfonieta do ICM, na totalidade composta por músicos chineses, interpretou peças do compositor setecentista português, Sousa Carvalho.

Continuando a tradição recente da presença de representações de comunidades histórica e culturalmente marcadas pelo espírito lusíada, veio este ano até nos o Grupo Folcl'órico de Damão que, em saraus e de par com outros agurpamentos folclóricos, animou os arraiais de convívio e confraternização, trazendo até nós a música de sabor indo-rortuguês.

E, em meio de tudo isto, o Fado-que alguns filósofos consideram tecido da alma lusa e cerne do Ser Português. E Amália-nome do fado, bandeira em que os portugueses intimamente se reconhecem e uqe tem o condão de os convocar em todas sas latitudes e lonjuras.

Amália, nome de amor e de guerra, que em outonal pujança ainda é a autora primeira da radiografia da alma portuguesa eatampada nos azulejos desa Casa Portugusa que, apesar de tudo, ainda é Macau, com o seu cheirinho a alecrim à mistura com o de soja, com a sua alva toalha de linho branco sobre a mesa torta, com guardanapos de bordado chinês, e com a flor de lótus da purificação que brota do lodo do pecado, ao lado do vinho do Douro que ainda sublima o acto litúrgico de se ser cristão.

E nesse quadro universal, coknsidero que Amália veio almar ainda mais a esfera inicialmente desenhada por Camões, Bocage, Wenceslau e Pessanha, num gesto de grata emoção que, oxalá, todos os Portugueses temham num gesto de grata emoção que, oxalá, todos os Portugueses tenham entendido. Potugueses de Macau e do Continente, PRINCIPALMENTE ESTES, a quem exijo, em nome da legitimidade de quatro séculos de indesmentível portugalidade de Macau, que a esta dediquem o melhor de sua generosa alma, na consolidação e futuração da grande família lusíada, onde a errância não deve ser o único destino para a nossa mala de cartão humedecida de saudade.

Pontos de um programa que por certo irão merecer atenção mais detalhada no próximo número desta Revista de Cultara.

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