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LIVROS E BIBLIOTECAS EUROPEIAS NO ORIENTE (SÉCULO XVI)

Rui Manuel Loureiro*

Apresença portuguesa no Oriente, ao longo do século XVI, tem sido sistematicamente desbravada pela historiografia moderna, que dela conseguiu já estabelecer uma imagem bastante rigorosa e abrangente.1 Contudo, a intensidade, o alcance geográfico e a duração das relações luso-asiáticas, assim como a vastidão dos resultantes materiais escritos, sempre permitem encontrar espaços de penumbra, áreas temáticas pouco ou nada exploradas, susceptíveis de uma nova ou renovada abordagem. Tal sucede com determinados aspectos da história da cultura — tantas vezes preteridos em favor de temas políticos, militares ou económicos —, que hoje exigem um retorno às velhas fontes, na posse de inovadoras grelhas de questões.

A história do livro e da leitura fazem indubitavelmente parte desse leque temático negligenciado pela nossa historiografia. Com efeito, que sabemos hoje sobre os hábitos de leitura desses portugueses de Quinhentos, que, atraídos por sonhos de honra e proveito, rumavam às Índias? Eram leitores assíduos? E de que tipo de obras? Levavam consigo conjuntos significativos de livros impressos? E, uma vez chegados ao Oriente, acumulavam bibliotecas importantes? Porventura continuavam a receber livros do Reino, enviados por familiares e amigos?

Embarcados em Lisboa, a bordo das naus que largavam anualmente do Tejo, deixariam os nossos ultramarinos para trás o mundo cultural europeu e familiar? Evidentemente que não, pois, embora a vida quotidiana sofresse profundas alterações durante a longa travessia da "rota do cabo",2 os modelos, as práticas e os valores culturais vigentes eram exportados para terras da Ásia, onde, sujeitos embora a inevitáveis influências aculturativas, mantinham as respectivas regras de funcionamento e de reprodução. Uma sondagem breve de um alargado leque de fontes coetâneas permitirá detectar indícios seguros de uma vida cultural intensa, onde o livro e a leitura ocupavam um lugar fundamental, não só como normais processos de construção e de difusão do saber, mas também como estratégias de implantação nacional em paragens remotas.

Os primeiros anos da presença portuguesa em terras orientais foram decerto marcados por urgentes imperativos de ordem material, assumindo as questões culturais um lugar secundário na lógica ultramarina, que privilegiava a navegação, a conquista e o comércio. Porém, as armadas da "carreira", para além de homens e de armas, de víveres e de munições, levavam também, através dos mares, costumes e instituições, práticas e mentalidades, transplantando infalivelmente para novas terras um velho mundo cultural e mental. Lembremos apenas a armada inaugural de Vasco da Gama, onde, para além de marinheiros e soldados, capitães e feitores, seguiam também homens de cultura, encarregados de estabelecer uma primeira ponte de comunicação com a Ásia das especiarias e dos produtos exóticos. Assim, Álvaro Velho e João Figueira vão elaborar preciosos relatos da jornada descobridora, testemunhando, com o respectivo gesto, a indispensabilidade da palavra escrita no processo de captação, apropriação e transmissão de novas realidades humanas e geográficas.3

Parece lógico concluir que os livros e, de forma mais alargada, os materiais escritos, estiveram presentes desde os primeiros momentos na bagagem de muitos dos homens embarcados em Lisboa. Tudo dependia do nível cultural prévio de cada um, e também das missões específicas que iriam desempenhar em terras e mares desconhecidos. Muitos desses homens, por questões profissionais, necessitavam de um rol mais ou menos extenso de obras impressas ou manuscritas. Os pilotos que guiavam as naus e caravelas utilizariam obrigatoriamente literatura técnica no desempenho das respectivas funções, desde almanaques e reportórios até roteiros e livros de bordo, com a ajuda dos quais se retomavam rotas já conhecidas e, por vezes, se inventavam inéditos caminhos marítimos.4 Os homens de religião, por sua vez, faziam-se acompanhar dos necessários instrumentos evangélicos, como Bíblias, missais, saltérios, cartilhas, etc., que lhes permitiriam desenvolver um eficaz trabalho evangelizador. E os funcionários régios não descurariam também, em muitos casos, a bibliografia indispensável ao desempenho dos respectivos cargos, sendo de crer que as Ordenações do Reino, ao lado de outros instrumentos legais, acompanhavam os juízes e ouvidores que seguiam a caminho do Oriente, enquanto capitães, vedores e feitores não dispensariam "regimentos" legais apropriados ao cumprimento das suas funções.

Outros passageiros das armadas portuguesas, por razões mais pessoais, transportariam também livros impressos nos respectivos baús. Os físicos e boticários não poderiam viajar sem os manuais essenciais ao exercício do seu mester, muitas vezes volumosos cardápios manuscritos, onde se acumulava um saber pacientemente recolhido durante anos de exercício profissional.5 Alguns fidalgos mais letrados, e também homens do povo, teriam o cuidado de incluir entre a sua equipagem alguma literatura menos técnica, mais apropriada à ocupação das muitas horas de lazer que eram obrigados a enfrentar. No fim de contas, uma viagem regular entre Lisboa e Goa, em boas condições climáticas, raramente demorava menos de seis meses, espaço de tempo que todos aqueles que não faziam do mar a sua profissão tinham obrigatoriamente de tentar preencher da forma mais amena possível.6

Mal os portugueses fundaram os primeiros estabelecimentos permanentes na Ásia, logo houve a preocupação de assegurar a consolidação e a difusão do modelo cultural nacional, num primeiro momento através do ensino elementar da leitura, da escrita e da doutrina cristã. Este ensino, ministrado por leigos e por eclesiásticos, destinava-se não só aos próprios reinóis, suas mulheres asiáticas e respectivos descendentes, mas também a todos os orientais que gravitavam na órbita dos nossos entrepostos. O instrumento essencial dessa aprendizagem, ao menos nos primeiros tempos, parece ter sido o Cathecismo Pequeno da autoria de D. Diogo Ortiz de Vilhegas, bispo de Ceuta, que fora impresso em Lisboa, por volta de 1504, por Valentim Fernandes e João Pedro Buonhomini de Cremona.7 Anos mais tarde, seriam produzidos instrumentos didácticos mais elaborados, alguns deles bilingues, como a Doctrina Cristãa. Dada em Lingua Tamul do P.c Henrique Henriques, impressa em Coulão em 1578, ou a Doctrina Christãa do P.e Marcos Jorge, impressa também em tamul, em Cochim, no ano seguinte.8

Afonso de Albuquerque, que governou os estabelecimentos portugueses da Índia entre 1509 e 1515, preocupado com a consolidação da nossa presença, mandou "muytos moços" de Cochim, filhos de gente indiana, aprender "a ler e a escrever em escola pubrica", de acordo com o testemunho de um cronista coevo.9 Em 1517, já morto o "Terríbil", os jovens estudantes de Cochim ultrapassavam a centena e meia, pois Fr. António Louro, que se encarregava do seu ensino, recebia do Reino um pacote com outras tantas cartilhas.10 E em 1521 o governador D. Duarte de Meneses mandava entregar ao feitor daquela cidade "cymquenta cartylhas e cimquo Fros Samtorum e qautro avamjeliorum", para serem utilizados no ensino dos moços cristãos.11 Ho Flos Sanctorum em Linguajem Portugue[sa]— vasta compilação de biografias edificantes de santos — havia sido impresso em Lisboa em 1513, nas oficinas de Hermão de Campos e Roberto Rabelo.12 Em Goa, logo após a conquista, procedeu-se exactamente da mesma forma, incentivando-se o ensino de moços cristãos. E em 1521 há notícias da chegada àquela metrópole de duzentas cartilhas para o ensino das primeiras letras,13 sinal claro de que a população cristianizada não cessava de aumentar.

Para além dos estabelecimentos indianos, a Coroa portuguesa atribuiu particular atenção ao reino do chamado Preste João, pois durante as primeiras décadas do século XVI acalentou-se ern Portugal, com algum entusiasmo, a possibilidade de uma estratégica aliança luso-etíope contra o Islão. Ora, na embaixada despachada de Lisboa para a Etiópia em 1515, que de resto teria um conturbado percurso, El-Rei D. Manuel I enviava um lote de cerca de mil e quinhentos volumes, maioritariamente impressos., Sinal claro de que as autoridades portuguesas apostavam também num projecto de divulgação cultural, mediatizado embora por uma componente fortemente religiosa.

A riquíssima biblioteca enviada ao Preste incluía, entre outras obras de devoção, mil cartilhas cobertas de pergaminho, doze catecismos, vinte Flos Sanctorum, trinta cópias do Livro e Legenda que Fala de Todolos Feytos e Payxoões dos Santos Martires, impresso em Lisboa por João Pedro de Buonhomini em 1513,14 e cem exemplares de uma história da destruição de Jerusalém, título que tem sido identificado com a Estoria de Muy Nobre Vespesiano Emperador de Roma, dada à estampa por Valentim Fernandes, em Lisboa, em 1496.15 Constata-se assim que a jovem tipografia portuguesa desde muito cedo começa também a trabalhar para os mercados ultramarinos.

É bastante provável que todos os livros destinados à Etiópia tivessem ficado na Índia, espalhando-se depois pelos vários estabelecimentos portugueses, pois o cronista Gaspar Correia, que se encontrava no Industão desde 1512, refere que o valioso presente enviado ao Preste João — que, evidentemente, não se limitava a materiais impressos, incluindo também muitos outros objectos de valor — foi delapidado pelo governador Lopo Soares de Albergaria em Cochim.16 Talvez valha a pena referir, neste contexto, que anos mais tarde circularia em Itália o rumor de que o florentino Andrea Corsali seguira para a Etiópia com a embaixada portuguesa, tendo-se eventualmente fixado em terras etíopes, onde desenvolvia actividades de mercador e também de impressor de obras em caldeu.17

Planta da Canela, in"Tratado de las Drogas y Medecinas de las Indias Orientales", do médico português Cristovão da Costa (Ed. Burgos, 1578).

Os livros que chegavam de Portugal, contudo, não se destinavam apenas ao ensino elementar, pois desde cedo as comunidades religiosas estabelecidas na Índia começaram a formar bibliotecas especializadas, que constituíam outros tantos núcleos de difusão cultural. Assim, em Janeiro de 1518, o governador Lopo Soares de Albergaria mandava entregar aos franciscanos estabelecidos em Cochim "dous pipos" recheados de volumes impressos.18 O valioso espólio livresco,composto por três centenas de obras, incluía preciosidades tipográficas como um exemplar do Supplementum Chronicarum do agostinho italiano Jacopo Filippo Foresti da Bergamo, volumoso tratado sobre maravilhas orientais, editada pela primeira vez em Veneza em 1483, e com muitas reedições posteriores; os quatro volumes da monumental versão portuguesa da Vita Christi de Ludolfo de Saxónia, impressos em Lisboa por Nicolau de Saxónia e Valentim Fernandes da Morávia, em 1495;19 três exemplares da Suma de São Tomás, talvez em alguma edição espanhola; e quatro exemplares do Boosco Deleytoso, que em 1515 havia saído dos prelos lisboetas de Hermão de Campos.20 Cerca de dois anos depois, a igreja de Cananor recebia do monarca lusitano "quatro livros grandes" destinados aos ofícios religiosos, todos eles "enquadernados e de marqua maior".21

Poder-se-á assumir que em todos os locais onde existiam comunidades portuguesas, e mormente naquelas onde residiam religiosos, se desenvolveram actividades pedagógicas que envolviam a utilização de um maior ou menor número de livros. Forma-se assim uma vasta rede lusófona ao longo de todo o extenso litoral asiático, desde Ormuz até às Molucas, com pólos de difusão da língua e da cultura portuguesa mais ou menos alargados, conforme a relevância estratégica dos locais onde se implantavam, e que pressupunham a reunião de bibliotecas mais ou menos importantes.

Por volta de 1540, Fr. Vicente de Lagos funda um primeiro colégio em Cranganor, onde, para além dos estudos elementares, se desenvolve um ensino de nível superior em latim e em teologia.22 Alguns anos mais tarde, o religioso solicitava a El-Rei D. João III o envio de "livros pera este colegio", juntando uma longa lista, que incluía "breviarios pequenos, dyornais, oras de Nosa Senhora, salteiros pequenos, item um salteiro grande, item hum misal gramde pera o coro, item mais meia duzia de misaes pequenos, item os livros todos que forem necesarios pera a gramatica", e muitos outros.23 Nada leva a crer que o pedido não tivesse sido atendido, tendo em conta a política de apoio às missões posta em prática pelo Rei Piedoso.24 Em meados do século XVI existiam estabelecimentos similares em Baçaim, Chale, Cochim, Cananor, Coulão e Ceilão.25

O mais famoso de todos os colégios fundados pelos portugueses na Índia foi talvez o de São Paulo, na cidade de Goa, inicialmente orientado pelos padres da Ordem da Província da Piedade, mas que a partir de 1545 passou a ser controlado pela Companhia de Jesus. Os missionários jesuítas, chegados ao Oriente escassos três anos antes, possuíam, regra geral, uma preparação cultural mais aprofundada, que lhes permitiu assumirem de imediato um evidente protagonismo no ensino e na missionação. Subsequentemente, o Colégio de Santa Fé, nome popular do estabelecimento jesuíta, transformou-se numa verdadeira escola de ensino superior, onde se seguiam de perto as formas de organização e os planos curriculares então em vigor nas grandes universidades europeias.26

Pode mencionar-se, neste contexto, que o P.e Francisco Xavier, fundador das missões jesuítas no Oriente, ao chegar a Goa em 1542, trazia na bagagem um importante conjunto de livros, oferecido por D. João III.27 O espólio livresco seria integralmente composto por obras de temática religiosa, mas indicia de forma relevante a importância atribuída aos livros e à leitura, ao menos entre o pessoal missionário.

Em 1545, o padre Nicolau Lancilloto pedia de Goa livros para o colégio jesuíta, alegando que apenas possuíam "40 cinque Virgilii et altri tanti Terentii", todos "molto vechii, molto descorretti".28 Referir-se-ia, sem dúvida, a pequenos compêndios em latim, com textos de Virgílio e de Terêncio, que seriam utilizados nas escolas da Companhia. O padre sugeria o pedido de uma esmola ao monarca lusitano, para subsidiar a compra de "libri et carta et penne per questa casa".29 Em finais do mesmo ano, o vigário geral Miguel Vaz endereçava igualmente a D. João III um pedido de "livros de gramatica pera os ouvymtes", assim como de "alguns boons de limgoajem", para uso dos missionários.30

Uma outra carta de Nicolau Lancilloto, redigida em 1546, desvendava alguns segredos da biblioteca do colégio de São Paulo, ao enumerar as obras utilizadas no ensino do latim. Entre outros títulos, o missionário registava as comédias Andriae Eunuchus de Terêncio, as éclogas de Virgílio, as Metamorphoses de Ovídio, os Libri Minores de Catão, as Opera de São Jerónimo, e mesmo um tratado de Erasmo, De Duplici Copia Verbor[um] ac Rerum. P.31 Todas estas obras seriam oriundas de prelos estrangeiros, o que revela bem a intensa circulação de livros operada pela Companhia de Jesus, graças à sua estrutura transnacional. Adiante-se, de passagem, que um exemplar do tratado de Damião de Góis sobre "tudo quamto da fíe tem e guardam os do reino do Abexim" — Fides, Religio, Moresque Aethiopum, impresso em Lovaina, em1540 —, fora despachado para Goa pela armada de 1543, acabando por ir parar ao colégio jesuíta.32

Outro exemplo de bibliotecas inacianas recolhe-se numa missiva do P.e Gaspar Barzeus, que em 1550 escrevia de Ormuz aos jesuítas de Coimbra, informando que o estabelecimento missionário existente naquele entreposto português do Golfo Pérsico possuía uma "grande libreria".33 Dois anos mais tarde, um seu confrade anunciava que na ilha se esperava a todo o momento um ataque dos rumes, pelo que todos os portugueses haviam recolhido "suas fazendas na fortaleza", incluindo o próprio missionário jesuíta, que lá guardara todos os seus livros.34

A dimensão da biblioteca do colégio de Goa da Companhia de Jesus já justificava em 1552 a existência de um bibliotecário e de regras estritas para a circulação de livros entre os padres e irmãos ali residentes.35 Dois anos depois, uma parte das obras era entregue à guarda do P.e Belchior Nunes Barreto, que a devia levar para as casas jesuítas do Japão, para onde se preparava para viajar, em missão simultaneamente evangélica e diplomática. A riqueza da biblioteca jesuíta de Goa pode ser adivinhada através do extenso rol de livros transferidos para o arquipélago nipónico,36 entre os quais figuravam, para além de livros de culto (como Bíblias, pontificais, breviários, concordâncias, etc.), exemplares das seguintes obras:

-- os Opusculum de São Tomás de Aquino, impressos em Coimbra, em 1545, nas oficinas de João da Barreira e João Álvares; P.37

-- o Livro Insigne de Marko Marulic,38 célebre compilação de biografias de santos, talvez em alguma edição latina;

-- "As obras de Platão";

-- "As etiquas de Aristotelis";

-- um livro de Ptolomeu, talvez um exemplar da Geografia, ou a respectiva tradução portuguesa, que fora apensa ao Tratado da Sphera de Pedro Nunes, impresso em Lisboa, por Germão Galharde, em 1537;39

-- a Vita Christi de Ludolfo da Saxónia, já citada anteriormente;

-- o Contemptus Mundi de Tomás de Kempis, editado pela primeira vez em Lisboa, em 1542, em casa de Germão Galharde;40

-- a Historia de la Iglesia, impressa em Lisboa, por Luís Rodrigues, em 1541, obra que corria anónima mas fora compilada por Eusébio de Cesareia;41

-- as Meditações de Santo Agostinho;

-- o Espelho de Perfeyçam de Fr. Henricus de Herpf, publicado em Coimbra, no Mosteiro de Santa Cruz, em 1533;42

-- o Livro Chamado Stimulo de Amor Divino de São Boaventura, impresso em Lisboa, também em casa de Germão Galharde, em 1550.43

Algumas das obras arroladas acabavam de ser publicadas em Portugal, enquanto outras chegavam de vários países europeus. Se estes indícios testemunham a rapidez da circulação de livros impressos entre Portugal e os estabelecimentos orientais, comprovam também o alto nível cultural do intercâmbio livresco estabelecido.

Assim, vemos os jesuítas distinguirem-se no incentivo da prática da leitura, desde que esta fosse movida por propósitos edificantes. Caso contrário, haveria que impor um cuidadoso controlo no material disponível ao público leitor. Os exemplos de práticas censórias multiplicam-se na correspondência dos inacianos, sobretudo em cartas que relatam viagens para a Índia.44 Esta menções, simultaneamente, esclarecem-nos sobre o tipo de obras com que os leitores comuns, sem formação religiosa, ocupavam as longas horas de ócio da viagem de Lisboa para Goa.

Um padre embarcado numa nau portuguesa em 1560 reclama contra os muitos "livros profanos" que existiam a bordo, anunciando aos seus confrades que exortara os viajantes a lançarem tais obras ao mar, "mostrando-lhe[s] o dano que a lição de taes livros lhe[s] fazia"; em casos mais graves, chegara mesmo ao ponto de rasgar algumas obras "muito roins que espicialmente achava em mãos de mininos".45 Dois anos passados, um outro jesuíta era obrigado a morder o braço de um moço para que este largasse "hum livro ruim" que lia; "depois de botar no mar o livro ruim, lhe deu tres boons por elle, e assi ficou o mancebo contente".46 Para evitar o recurso a obras menos ortodoxas, alguns padres embarcados faziam durante toda a viagem leituras públicas de "algunas lectiones de la historia ecclesiástica y de otros libros espirituales".47 Um dos jesuítas que viajou para o Oriente em 1566 recomendava mesmo aos seus superiores que todos os missionários que seguissem idêntico caminho viessem providos de boa quantidade de livros devotos, para poderem a bordo trocá-los pelos muitos "libros perniciosos" que os portugueses embarcados sempre transportavam consigo.48

Que tipo de obras estariam proibidas pelos jesuítas, sendo consideradas profanas e de leitura desaconselhada? Decerto não só aquelas que a partir de 1547 apareceram consignadas em sucessivos "índices expurgatórios", primeiro manuscritos, logo impressos.49 Os padres da Companhia deveriam também ter em consideração obras de ficção e entretenimento, que desviariam os fiéis do caminho da rectidão preconizado pela Igreja. Ao menos assim o dá a entender uma carta de um padre jesuíta embarcado na "carreira" em 1564, que falava de muitos livros deitados ao mar durante a jornada, "huns vedados, outros sem titulo de quem os fez, outros de cavalerias", mas todos eles "livros deshonestos"50 Entre os livros de cavalarias tão temidos pelos jesuítas, poderiam encontrar-se certamente exemplares do Libro Llamado Fiametta de Giovanni Boccaccio (Lisboa, Luís Rodrigues, 1541); de Las Obras de Boscan y Alcunas de Garcilasso de la Vega (Lisboa, Luís Rodrigues, 1543); da anónima Coronica del Valiente y Esforçado Príncipe Dom Florando d'Inglatierra (Lisboa, Germão Galharde, 1545); e de tantos outros de semelhante teor.51

O caso espanhol, bastante mais bem estudado que o nosso, poderá aqui servir de termo de comparação. Com efeito, através de inquéritos efectuados pela Inquisição do país vizinho em navios destinados às Índias de Castela, foi possível estabelecer com algum rigor os hábitos de leitura dos homens embarcados. Raríssima era a embarcação que não transportava uma larga quantidade de obras impressas, e isto para uma jornada que quase nunca ultrapassava os dois meses de duração. Essa literatura de bordo incluía sobretudo obras religiosas — missais, vidas de santos, histórias de pontífices, relações de milagres, conselhos morais, etc. Mas muitos navios transportavam igualmente livros de aventuras e de cavalarias, em prosa ou verso, como o Orlando Furioso de Ludovico Ariosto, o Amadis de Gaula (que entre nós foi impresso em 1587, em Lisboa), El Caballero de Febo, o Palmeirim de Inglaterra (impresso em Lisboa em 1587-1592) ou o Oliveros de Castilla. Outros navios, ainda, levavam romanceiros e cancioneiros, livros de histórias épicas ou heróicas (sobre Júlio César, El Cid, Hernán Cortés, Francisco Pizarro, etc.). E os poetas estavam também representados, embora em pequena quantidade, através de alguns clássicos como Virgílio e Ovídio.52 As preferências dos leitores portugueses não andariam longe destas, tanto mais que era intensa a circulação de bens culturais — e nomeadamente de livros — entre os distintos reinos peninsulares.53 Aliás, um dos missionários jesuítas que rumaram ao Oriente testemunhava em 1578 que muitas das obras que se encontravam a bordo das naus portuguesas eram edições espanholas e italianas.54

Alguns particulares, ao embarcarem em Lisboa para o Oriente, levariam na respectiva bagagem muitas obras avulsas, e mesmo, em alguns casos, consideráveis bibliotecas. Não podemos esquecer que o caminho das Índias foi trilhado por numerosos homens de cultura superior, que não dispensariam a companhia de um conjunto de textos mais ou menos alargado, concordante com a respectiva formação. O caso espanhol pode novamente servir de termo de comparação, já que, entre vários outros, se conhece o rol de uma biblioteca particular levada por um funcionário régio para as Filipinas em 1583, que era composta por cinquenta e cinco títulos, da mais variada temática.55

Em relação a Portugal, refira-se, entre muitos outros, o nome de Tomé Pires, ilustre tratadista que na segunda década do século XVI preparou a primeira grande geografia descritiva do Oriente, que na época permaneceu inédita em português. Pode, sem dúvida, argumentar-se que a Suma Oriental era uma obra eminentemente prática, onde se construía um saber novo, resultado de uma recentíssima experiência vivencial de terras e gentes asiáticas. Mas Tomé Pires alardeia nas suas páginas uma discreta erudição, remetendo para escritos de Aristóteles e de Ptolomeu, e citando depreciativamente as "sumas ou tratados" medievais, que falam "maraujlhas nas cousas do mar", quando na realidade tratam de curtíssimas viagens ao longo do Mediterrâneo.56

Duarte de Resende foi outro homem de letras que passou às Índias, levando consigo, certamente, um considerável lote de livros, que, por sinal, teve ocasião de completar. Assim, sabemos que por volta de 1525, numa altura em que exercia o cargo de feitor real nas Molucas, recebeu um exemplar da Crónica do Imperador Clarimundo, o romance de cavalaria de João de Barros, que fora editado em Lisboa em 1522, por Germão Galharde.57 É provável que durante os ócios do seu ofício Resende se ocupasse com a tradução das obras de Cícero, que poucos anos mais tarde faria imprimir por Germão Galharde, com o título de Marco Tulio Ciceron de Amicicia, Paradoxos e Sonho de Scipião (Coimbra, 1531).58 O próprio João de Barros afirma que Resende "era latino e homem estudioso das cousas do mar e Geographia" e que lhe enviara das Molucas alguns "papees e livros" que tinham pertencido a Andrés de San Martin, cosmógrafo de Fernão de Magalhães, cuja destroçada expedição aportara às Molucas no tempo em que o douto humanista ali servia.59

Páginas do "Tratado da Sphera", de Pedro Nunes (Lisboa, 1537).

Entre os eruditos portugueses que residiram na Índia durante o século XVI, conta-se também Tomé Dias Caiado, que em 1542 era incumbido de ensinar latim na Sé de Goa. Viveu ainda longos anos naquela cidade, onde em 1557 ou 1558 proferia uma oração sobre a morte de El-Rei D. João III, na qual revelava alguma erudição clássica, citando nomeadamente Plínio e Cícero.60 Redigiu um epigrama latino que figura na edição goesa dos Coloquios dos Simples, e Drogas he Cousas Mediçinais da Índia de Garcia de Orta, obra impressa em 1563 por João de Endem.61

Gaspar Correia, que viveu no Oriente durante longos anos, desde cercade 1512 até 1563, terá tambémreunido uma considerável biblioteca de manuscritos e impressos, que utilizaria na composição das suas Lendas da Índia, vasta descrição dos feitos orientais dos portugueses, que permaneceu inédita até'ao século XIX. Entre outras referências intertextuais, podemos encontrar na crónica de Correia indícios da leitura de uma desaparecida relação da primeira viagem de Vasco da Gama, da autoria de João Figueira; do Livro de Duarte Barbosa, vasto tratado de geografia oriental que também permaneceu inédito na época; da Verdadera Informaçam das Terras do Preste Ioam, da autoria do P.e Francisco Álvares, impressa em Lisboa em 1540 por Luís Rodrigues,62 mas que teria conhecido ainda em manuscrito.63 É provável que também lhe tenham chegado às mãos alguns dos livros da História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses de Fernão Lopes de Castanheda, que começou a ser publicada em Coimbra em 1551 por João da Barreira, sendo concluída a publicação três anos mais tarde, sendo igualmente provável o conhecimento das duas primeiras décadas da Ásia de João de Barros, impressas em Lisboa, em 1552 e 1553, por Germão Galharde.64

Conhecem-se também casos de muitos homens de acção, geralmente incumbidos de cargos oficiais na administração ultramarina, que nas horas vagas cultivavam as letras com alguma assiduidade.65 Não podemos esquecer que, no século XVI, a corte régia, onde muitos destes homens adquiriam a sua primeira formação, proporcionava um ambiente adequado ao desenvolvimento de interesses intelectuais.66 Martim Afonso de Sousa, fidalgo ilustre que estanciou largos anos no Oriente, sendo inclusivamente governador do Estado da Índia entre 1542 e 1545, é um claro paradigma desses homens, já que passava as horas de ócio em graves leituras de história, de acordo com o testemunho de Garcia de Orta. O conhecido botânico identifica mesmo uma das leituras favoritas do fidalgo, que seria a obra célebre De Vitis Pontificum Historia, impressa em Veneza em 1518, da autoria de Platina, cognome do humanista italiano Bartolomeu Sacchi.67

Em 1543 embarcava em Lisboa o capitão Baltasar Jorge de Valdez, homem prático das coisas do Oriente, que comandava uma das naus da armada desse ano. Por um documento posterior, sabe-se que levava consigo um valioso espólio bibliográfico, que incluía, para além de obras religiosas e devocionais vulgares em todas as bibliotecas do tempo, exemplares da Vita Christie do Flos Sanctorum; a anónima Coronica do Condestabre de Purtugal Nuno Alvarez Pereyra, impressa em Lisboa, por Simão Galharde, em 1526;68 um relato sobre a destruição de Rodes, talvez da autoria de Jacome Fontano; a história do Cid Campeador; uma gramática de Erasmo, talvez uma das muitas edições europeias da obra de Gulielmus Lilius De Octo Orationis Partium Constructione Libellus, comentada pelo grande humanista, primeiro impressa em Paris em 1534;69 e ainda uma colectânea com textos de Séneca, Valério Máximo e Petrarca. Um homem ilustrado, sem dúvida, mas também dado às armas, uma vez que viria a perecer no segundo cerco de Diu.70

Passados dois anos, em 1545, El-Rei D. João III solicitava a D. João de Castro — que estava de partida para a Índia, onde iria tomar posse da governação do Estado — que providenciasse alojamento "conveniente e apartado" a bordo da sua nau para Mestre Pêro Fernandes Sardinha, onde este pudesse "levar seus livros".71 Esta observação sugere que o futuro bispo do Brasil — a partir de 1552 —, que ia para a Índia como deão da Sé de Goa, desejaria embarcar uma considerável biblioteca, maioritariamente constituída por livros religiosos. Que o padre era bom latinista, prova-o o facto de pouco mais tarde se ter oferecido ao filho do Governador para escrever uma relação em latim sobre o segundo cerco de Diu.72

Podemos especular se a biblioteca de Mestre Pêro Fernandes rivalizaria com a do próprio D. João de Castro, um dos mais ilustrados fidalgos que no século XVI passaram à Índia. Se a curiosidade intelectual do celebrado governador e vice-rei foi já sublinhada, a questão das fontes que utilizou nas suas obras não mereceu ainda tratamento sistemático.73 Contudo, uma recensão rápida dos vários "roteiros" de Castro permite identificar variados títulos que em algum momento lhe teriam passado pelas mãos. E sabendo que compôs as suas principais obras durante as longas viagens marítimas que efectuou, não será arriscado sugerir que se faria acompanhar de um significativo conjunto de obras de referência, com as quais manteria um animado diálogo intelectual. Assim, nos três "roteiros" castrianos, compostos entre 1538 e 1541, aparecem menções explícitas ou implícitas a várias obras clássicas, como a Naturalis Historia de Plínio, o De Situ Orbis de Pompónio Mela, as tábuas da Geografia de Ptolomeu e o De Architectura de Marco Vitrúvio. As três primeiras obras referidas, aliás, estão presentes a cada passo dos escritos de Castro, que sistematicamente confronta a geografia real, por ele observada, com as anotações das autoridades tradicionais. De entre as obras modernas, encontram-se vestígios da utilização certa do Tratado da Sphera de Pedro Nunes, acabado de sair dos prelos, como vimos, em Dezembro de 1537, e talvez também da Verdadera Informaçam das Terras do Preste loam, já atrás referida.74

Visando satisfazer as necessidades do público culto, começava a funcionar, em data incerta, uma livraria em Goa, pois uma obra impressa naquela cidade em 1568 fazia referência à "casa de Fernão da Castilho, livreiro", que se situava "de fronte dos açougues".75 Nesse estabelecimento decerto se podiam adquirir, entre muitos outros, livros do editor João de Endem, e entre eles os Coloquios dos Simples, e Drogas (Goa, 1563), um dos raríssimos livros europeus de temática não-religiosa a ser impresso na Índia, no século de Quinhentos. O célebre tratado de botânica de Garcia de Orta testemunha bem, nas suas páginas, a intensa vida cultural goesa, já que nelas se multiplicam as referências intertextuais e as alusões a debates eruditos entre os portugueses estantes no Oriente. As primeiras e últimas páginas da obra, aliás, dão bem testemunho desse cosmopolitismo cultural: o próprio Orta subscreve uma dedicatória a Martim Afonso de Sousa, um dos mais cultos fidalgos que passaram ao Oriente; Luís de Camões, que então vivia em Goa, nelas publica pela primeira vez um dos seus poemas, dedicado ao Vice-rei do Estado da Índia, conde do Redondo; o físico valenciano Dimas Bosque assina um sentido elogio ao autor dos Colóquios;76 e o Tomás Dias Caiado acima referido assina igualmente um epigrama dedicado a "Gartiam ab Horto medicum apud Indos". 77

Embora o levantamento da "biblioteca ideal" de Garcia de Orta tivesse sido efectuado pelo conde de Ficalho,78valerá talvez a pena, sem necessidade de seguir caminhos já trilhados, tecer alguns comentários marginais. E, logo à partida, coloca-se a questão de ele ter possuído todos os títulos citados nos Colóquios. Bem à maneira dos homens de letras do seu tempo, Orta compraz-se em convocar autoridades livrescas, quer para caucionar as suas próprias alegações, quer para criticar os limites do saber tradicional. Neste último caso, aliás, é bem conhecido, e por demais citado, o seu mote: "diguo que se sabe mais em hum dia aguora pellos Purtugeses do que se sabia em 100 anos pollos Romanos".79

Assim, é provável que uma parte dos autores convocados fossem leituras de segunda mão, isto é, citações de citações. E também é provável que outra parte das obras referenciadas se ligasse a um conhecimento passivo adquirido nos anos de formação em Salamanca. É esse o caso, sem dúvida, das obras de Teofrasto, de Marcellus Empiricus, de Mesué Sénior, de Hermolaus Barbarus e de alguns outros.80 Determinados livros haveria, ainda, que podiam pertencer a conterrâneos residentes como ele em Goa. Tal se passava com as obras de Santo Agostinho, com o Dictionarium Latino-hispanicum de Antonio de Lebrija ou com a Apologia de Giovanni Pico de la Mirandola, que existiriam em livrarias conventuais de Goa, ou com o exemplar de De Vitis Pontificum Historia de Platina, que pertencia ao seu amigo Martim Afonso de Sousa.81

Mas os indícios colhidos nos Colóquios parecem comprovar que o experiente botânico possuía uma considerável biblioteca, onde existiam não só obras especializadas, ligadas ao conhecimento do mundo natural, mas também livros de outras áreas do saber ou de carácter mais geral. Assim, nas notas marginais do tratado botânico colhem-se inúmeras referências, com menção de lugares textuais exactos, a autores como Plínio, Dioscórides, Avicena, Galeno, Serápio e Mateus Silvaticus, referências essas que testemunham um convívio íntimo com a literatura médica clássica. O nosso Orta possuiria decerto edições estrangeiras de obras de todas essas autoridades, repetidamente publicadas em prelos europeus.

O autor dos Colóquios, que revela uma vastíssima erudição, cita também, de forma correcta e informada, numerosas obras de contemporâneos, que decerto existiriam na sua biblioteca pessoal. Entre muitos outros títulos, podem destacar-se, como exemplos: o Itinerário de Ludovico de Varthema, talvez na edição sevilhana de 1520; o Sumario de la Natural y General Istoria de las Indias de Gonzalo Fernandez de Oviedo, primeiro impresso em Toledo em 1526; e a Chorographia de Alguns Logares de Gaspar Barreiros, obra acabada de publicar porJoão Álvares, em Coimbra, apenas dois anos antes da edição do próprio livro de Garcia de Orta.82

Fr. Gaspar de Leão foi outro conhecido homem de letras que viveu na Índia na segunda metade de Quinhentos. Depois de prolongados estudos em Évora e Salamanca, ganhou fama como teólogo, sendo nomeado arcebispo de Évora em 1540. Embarcaria para o Oriente duas décadas mais tarde, como primeiro titular do arcebispado de Goa, cargo que, aparentemente, aceitara contrariado, apenas a instâncias do Sumo Pontífice, pois prezava antes uma vida solitária e contemplativa, pouco consentânea com os "fumos" orientais.83 Na armada de 1560, e sob o patrocínio do próprio arcebispo, seguia um grupo de impressores que iam instalar na capital do Estado da Índia uma segunda oficina tipográfica, sinal evidente de que as exigências culturais da cidade aumentavam.84

O primeiro arcebispo de Goa manteve uma intensa actividade religiosa, que complementou com a redacção de várias obras doutrinais. Em 1561, mal desembarcado na Índia, publicava um Compendio Spiritual da Vida Christãa, nas oficinas tipográficas, também recém-chegadas, de João de Quinquêncio e João de Endem.85 Tratava-se um manual de doutrina e oração, que continha também uma história da vida de Jesus Cristo. Quatro anos mais tarde, por ocasião da introdução da Inquisição em terras do Oriente, a "Carta do Primeiro Arcebispo de Goa ao Povo de Israel", incitando à conversão os muitos judaizantes que viviam nos estabelecimentos portugueses da Índia, era anteposta como introdução ao Tratado que Fez Mestre Hieronimo, publicado por Endem em 1565.86 Finalmente, em 1573, novamente nas oficinas do mesmo impressor, publicava-se um extenso tratado teológico contra a religião islâmica, O Desengano de Perdidos, obra máxima do autor, de que se conhece hoje um único exemplar.87

Uma análise superficial deste tratado revela de imediato a complexa rede intertextual que sustenta a prosa de Fr. Gaspar de Leão, fazendo logo suspeitar da existência de uma respeitável biblioteca de apoio, sem a qual a obra não poderia ter sido escrita em Goa. O levantamento das fontes utilizadas pelo Arcebispo foi já parcialmente efectuado,88 determinando que este teria à sua disposição uma ampla variedade de textos religiosos. Assim, é possível identificar no Desengano ecos de uma enorme variedade de obras: o Tostado sobre el Eusebio, volumoso comentário da Historia Eclesiática de Eusébio de Cesareia, da autoria de Alonso de Madrigal, publicado em Salamanca, nos primeiros anos do século XVI; o Espelho de Perfeiçam de Fr. Henricus de Herpf (Coimbra, 1533), atrás citado; as Instituciones o Doctrinas de Johann Tauler (Coimbra, 1551, talvez nas oficinas de João da Barreira e João Álvares); o Libro Llamado Antialcorano de Bernardo Pérez de Chinchón, que teve uma edição valenciana em 1532; e as Ad Naturalem et Christianam Philosophiam Institutiones de Juan de Vigueras, editadas em Paris, em 1550.

É provável que Fr. Gaspar não possuísse todas as obras a que faz referência directa ou implícita, já que muitas delas estariam disponíveis nas livrarias dos estabelecimentos religiosos goeses. Contudo, o seu principal tratado prova a existência na capital do Estado da Índia de bibliotecas bem apetrechadas, ao menos em textos espirituais e doutrinais, que circulavam e eram lidos e debatidos por um público culto e interessado.

Finalmente, outro dos homem de letras que ao correr do século XVI passaram pelo Oriente foi Jan Huygen van Linschoten, que viveu em Goa entre 1583 e 1588, desempenhando as funções de secretário particular do arcebispo D. Vicente da Fonseca. Durante a sua residência indiana, o viajante holandês, através de um contacto diário com gente portuguesa ligada às actividades marítimas, recolheu cuidadosamente um vasto conjunto de informações sobre a Ásia, abrangendo a geografia e a hidrografia, a botânica e a zoologia, a política e a cultura, os costumes e a vida quotidiana, o comércio e a navegação. Depois do seu regresso aos Países Baixos, em 1592, Linschoten dedicou-se à sistematização de todos os materiais que tivera oportunidade de compilar, produzindo em escassos anos um volumoso conjunto de obras, que foram rapidamente impressas no seu país de origem, que, por esses anos, dava os seus primeiros passos na exploração do oceano Índico e de determinadas regiões do litoral asiático. Em 1596, saía dos prelos de Amsterdão a1.a edição do Itinerário, Voyage ofte Schipvaert van Jan Huygen van Linschoten naer Oost ofte Portugals Indien. Esta obra, que teve um sucesso retumbante, descrevia em pormenor todo o extenso litoral da Ásia, desde o estreito de Babelmandebe ao arquipélago do Japão, reunindo um conjunto impressionante de notícias, até então só conhecidas dos portugueses.89

Ora, na base do Itinerário, para além das vivências orientais do autor, encontrava-se uma importante bibliografia de obras de origem portuguesa, adquiridas, consultadas ou copiadas durante os anos de residência goesa. Nos momentos livres das suas ocupações de secretário do arcebispo, Linschoten compilara pacientemente todos os materiais geográficos e etnográficos produzidos pelos portugueses ao longo do século XVI, que haviam sido lentamente editados pelos prelos nacionais depois de dobrada a metade da centúria.

"Tratado das Coisas da China", Fr. Gaspar da Cruz, frontispício. Évora, 1570.

Um rápido levantamento de fontes permite detectar no Itinerário do holandês vestígios da utilização de diversas obras portuguesas, como a História de Fernão Lopes de Castanheda, cujos oito livros foram impressos em Coimbra, entre 1551 e 1554, por João da Barreira e João Álvares; a Ásia de João de Barros, cujas três primeiras décadas foram impressas em Lisboa, por Germão Galharde, entre 1552 e 1563; os Colóquios de Garcia de Orta (Goa, 1563); Os Lusíadas de Luís de Camões, editados em Lisboa, em 1572, por António Gonçalves;90o Tractado delas Drogas, y Medicinas de las Indias Orientales do português Cristóvão da Costa, que saiu dos prelos de Martín de Victoria, em Burgos, em 1578;91 e o Tractado em que se Contam Muito por Estenso as Cousas da China, de Fr. Gaspar da Cruz, impresso em Évora, na tipografia de André de Burgos, em 1569-1570.92 É muito provável que muitas destas. obras se encontrassem na biblioteca particular do arcebispo, onde o diligente secretário as poderia manusear sem problemas.

*

A breve sondagem efectuada permite concluir, sem margem para grandes dúvidas, que os livros sempre acompanharam os portugueses nas suas andanças ultramarinas. As naus que rumavam à Índia e os navios que cruzavam os mares orientais em todas as direcções sempre traziam a bordo materiais escritos da mais diversa natureza. E nas cidades e fortalezas fundadas um pouco por todo o extenso litoral asiático logo se acumulavam bibliotecas públicas e privadas mais ou menos importantes. Livros devocionais e livros didácticos em primeiro lugar, por força de um ambiente mental e cultural que colocava os interesses religiosos num plano destacado. Mas também livros utilitários, de carácter técnico e científico, necessários ao conhecimento, apropriação e gestão de um mundo repleto de novidades geográficas, naturais e humanas. E ainda livros de entretenimento, utilizados na ocupação dos momentos de ócio e na promoção de indispensáveis formas de sociabilidade. A lista de títulos disponíveis seria infindável.

Em todos os pontos do Oriente encontramos leitores aficcionados, oriundos de todas as camadas sociais e exercendo as mais diversas ocupações. Religiosos e missionários seriam os mais impenitentes leitores, por efeitos da respectiva formação. Mas muitos capitães, feitores ou boticários podiam com eles rivalizar na intensidade e na assiduidade com que se dedicavam à leitura e à escrita em termos de quantidade de obras em circulação, o balanço parece positivo, a variedade dos títulos arrolados testemunha a diversidade de interesses do público leitor, que abrangia praticamente todos os quadrantes do saber.

As oficinas tipográficas instaladas pelos portugueses no Oriente quase só produziram obras de natureza espiritual, com a notável excepção dos Colóquios de Garcia de Orta.93 A circunstância dessas tipografias terem sido patrocinadas por membros de ordens religiosas, e mormente pelos padres da Companhia de Jesus, não será alheia à política editorial que adoptaram, dirigida primordialmente aos interesses da missionação. Mas, no Oriente, a inexistência de produção tipográfica noutras áreas temáticas foi convenientemente superada pela constante importação de livros impressos do Reino. Como exemplo ilustrativo da rapidez com que circulavam os livros entre Portugal e os seus longínquos estabelecimentos orientais, costuma citar-se o caso da Chorographia de Gaspar Barreiros, impressa em Coimbra em 1561 e já disponível em Goa no ano seguinte, a tempo de ser citada no tratado botânico de Garcia de Orta, acabado de imprimir em Abril de 1563, após longos meses de labor de um inexperiente ajudante de impressor.94 Aliás, o intercâmbio funcionava em ambos os sentidos, pois em Novembro de 1561 Fr. Gaspar de Leão enviava a El-Rei D. Sebastião um exemplar de uma obra sua acabada de imprimir na tipografia de João de Endem, o Compendio Espiritual da Vida Christãa (Goa, 1561).95

Para além de importarem livros oriundos da Europa, os portugueses residentes ou estantes em paragens orientais alimentaram também uma ininterrupta produção textual, virtualmente em todos os campos do saber humano. Por um lado, géneros como a poesia, o drama ou a literatura devota, continuaram a ser cultivados em moldes tradicionais nos estabelecimentos ultramarinos. Por outro lado, o contacto com terras ignotas, o convívio com novas gentes e a vivência de inéditas experiências deram origem à elaboração de uma enorme variedade de escritos — crónicas, relatos, itinerários, cartas, informações —, que visavam dar adequada conta dos "novos mundos do mundo".96

Dois casos emblemáticos podem testemunhar a constante presença de livros nas mãos dos portugueses que circulavam por mares e terras orientais, como fiéis companheiros de deambulações incessantes. Primeiro exemplo: António Correia visitouo Pegu em 1519, em missão simultaneamente comercial e diplomática, conseguindo então estabelecer um tratado de amizade e colaboração com o soberano local. Instado a efectuar o juramento de pazes sobre o livro sagrado dos portugueses, recorreu a um volumoso exemplar de "hum Cançeoneiro de trovas emprimidas" que consigo trazia, pois na sua "nao nã avia outro livro que fizesse mayor pompa por ser de folha de papel jnteira".97 Tratava-se do monumental Cancioneiro Geral compilado por Garcia de Resende, que havia sido impresso no Reino apenas três anos antes, nas oficinas lisboetas de Hermão de Campos.98

Segundo exemplo: em finais de 1578, um tal Gil Eanes Pereira, que estanciava no reino de Bengala, estava prestes a embarcar num navio português rumo à costa ocidental da Índia. Antes da partida, porém, foi chamado ao acampamento de um familiar do vice-rei de Chatigão, instalado a algumas léguas da cidade, o qual pedia para ver "algum livro nosso". Gil Eanes obedeceu à chamada, levando consigo um exemplar da "Vita Christi, do tamanho de hum misal, com todos os paços desd'a encarnação até a ascensão iluminados", que foi devidamente apreciado pelo nobre bengali.99

Eis um capítulo pouco explorado da história da presença portuguesa no Oriente ao longo do século de Quinhentos! Mas os testemunhos documentais, apesar de dispersos, são unânimes: os portugueses atribuíam significativa importância à leitura no seu quotidiano ultramarino, sendo o livro considerado um instrumento de cultura essencial e indispensável, mesmo nas mais remotas e inóspitas regiões por onde deambulavam os nossos homens. O caminho seguro para desbravar esta temática será decerto submeter a minuciosos inquéritos as obras dos nossos escritores que no século XVI passaram ao Oriente, tentando determinar com rigor a extensão das suas leituras e o conteúdo das bibliotecas de que naquelas paragens poderiam dispor.

Trabalho apresentado

no decurso de uma bolsa de investigação subsidiada

pelo Instituto Cultural de Macau, DEIP.

Revisão de texto por Pedro Catalão;

revisão final de Júlio Nogueira.

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NOTAS

1 A síntese mais recente deve-se a Sanjay Subrahmanyam, O Império Asiático Português, 1500-1700: Uma História Política e Económica, passim, que fornece amplas indicações bibliográficas.

2 Vd. RUSSELL-WOOD, A. J. R., "Men under Stress: The Social Environment of the 'Carreira da Índia', 1550-1750", pp. 19-35.

3 CORREIA, Gaspar, Lendas da Índia, vol. l, p. l. Sobre a atribuição do conhecido relato da primeira viagem de Vasco da Gama a Álvaro Velho, vd. RADULET, Carmen, Vasco da Gama: La Prima Circumnavigazione dell'África, 1497-1499, pp. 31-57.

4 Sobre este tipo de literatura, vd. ALBUQUERQUE, Luís de, Estudos de História, vol. 5, pp. 135-42; e também PINTO, João Rocha, "Houve Diários de Bordo Durante os Séculos XV e XVI?", pp. 383-416.

5 Vd. MENEZES, José de Vasconcellos e, Armadas Portuguesas: Apoio Sanitário na Época dos Descobrimentos, pp. 113... ss.

6 Vd. algumas observações em REGO, António da Silva, Estudos de História Luso-Africana e Oriental, pp.79-81.

7 SIMÕES, Maria Alzira Proença, Catálogo dos Impressos de Tipografia Portuguesa do Século XVI: A Colecção da Biblioteca Nacional, p. 241.

8 SCHURHAMMER, Georg, Orientalia, pp. 317-27.

9 CASTANHEDA, Fernão Lopes de, História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, vol. l, p. 689. Cf. REGO, António da Silva, ed., Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente: Índia, vol. l, pp. 222-3.

10 REGO, António da Silva, ed., ob. cit., vol. l, p. 338.

11 Id., p.419.

12 ANSELMO, António Joaquim, Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVI, pp. 119-20.

13 REGO, António da Silva, ed., ob. cit., pp. 419-20.

14 ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., p. 146.

15 No Quinto Centenário da "Vita Christi": Os Primeiros Alemães em Portugal, p. 32. Vd., a propósito, HOOK, David, A Note on the Books Sent to Prester John in 1515 by King Manuel I, passim. Sobre a embaixada, vd. AUBIN, Jean, L'Ambassadedu Prêtre Jean à D. Manuel, passim.

16 CORREIA, Gaspar, ob. cit., vol. 2, pp. 464-5.

17 RAMUSIO, Giovanni Battista, Navigazioni e Viaggi, vol. l, p. 11.

18 REGO, António da Silva, ed., ob. cit., vol. l, pp. 336-9.

19 No Quinto Centenário da "Vita Christi", pp. 45-57.

20 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., p. 68.

21 REGO, António da Silva, ed., ob. cit., vol. l, p. 411.

22 Id., vol. 2, p. 328.

23 Id., vol. 4, p. 206.

24 Vd. DIAS, José Sebastião da Silva, A Política Cultural da Época de D. João III, passim.

25 MATOS, Luís de, ed., Imagens do Oriente no Século XVI: Códice Casanatense, 1889, pp. 33-4.

26 Vd. SCHURHAMMER, Georg, Francisco Javier: Su Vida y su Tiempo, vol. 3, pp. 317-36.

27 REGO, António da Silva, ed., ob. cit., vol. 3, pp. 24-5.

28 WICKI, Josef., ed., Documenta Indica, vol. l, p. 35.

29 Id., p. 36.

30 Id., p. 88.

31 Id., p. 136.

32 Id., p. 89.

33 Id., vol. 2, p. 84.

34 Id., vol. l, p. 335.

35 Id., pp. 340-1.

36 Id., vol. 3, pp. 201-5.

37 ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., p. 66.

38 Os catálogos consultados referem apenas uma edição lisboeta de 1579 (ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., pp. 140-1). Haveria outra anterior, como esta referência parece sugerir? Parece mais provável tratar-se aqui de uma edição latina.

39 ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., p. 175.

40 Id., p. 179.

41 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., p. 127.

42 Id., p. 149.

43 Id., p. 66.

44 Vd. LEÃO, D. Gaspar de, Desengano de Perdidos, >pp. XXXVIII-IX

45 WICKI, Josef., ed., ob. cit., vol. 4, p. 614.

46 Id., vol. 5, p. 531.

47 Id., vol. 6, p. 295.

48 Id., p. 772.

49 Vd. SÁ, Artur Moreira de, ed., Índices dos Livros Proibidos em Portugal no Século XVI, passim.

50 WICKI, Josef., ed., ob. cit., vol. 6, p. 308.

51 ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., pp. 299, 302 e 181, respectivamente.

52 PÉREZ-MALLAÍNA, Pablo Emílio, Los Hombres del Océano: Vida Cotidiana de los Tripulantes de las Flotas de Indias (Siglo XVI), pp. 162-7.

53 Vd., a propósito, GARCÍA CÁRCEL, Ricardo, Las Culturas del Siglo de Oro, pp. 113... ss.

54 WICKI, Josef., ed., ob. cit., vol. 11, p. 350.

55 LEONARD, Irving A., Los Libros del Conquistador, pp. 218-30.

56 CORTESÃO, Armando, A Suma Oriental de Tomé Pires e o Livro de Francisco Rodrigues, p. 131.

57 BARROS, João de, Ropica Pnefma, vol. 2, pp. 3-5. Vd. BOXER, Charles Ralph, João de Barros: Portuguese Humanist and Historian of Asia, p. 146.

58 Cf. RESENDE, Duarte de, Tratados da Amizade, Paradoxos e Sonho de Cipião, passim.

59 BARROS, João de, Ásia: Década III, L. 5, cap.o 10, f.o 153 v.

60 Cf. MATOS, Luís de, ed., ob. cit., p. 37, nota 9.

61 ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., p. 151.

62 Id., pp. 296-7.

63 CORREIA, Gaspar, ob. cit., vol. l, pp. l, 134; vol. 2, p.833.

64 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., pp. 88-90, 60-1, respectivamente.

65 Vd., a propósito, REBELO, Luís de Sousa, A Tradição Clássica na Literatura Portuguesa, pp. 195-240, onde é explorado o tópico das "armas e letras".

66 Vd. DIAS, José Sebastião da Silva, ob. cit., pp. 727... ss.

67 ORTA, Garcia de, Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia, col. 2, fl. 7v. Sobre Martim Afonso, vd. FICALHO, Conde de, Garcia de Orta e o seu Tempo, pp. 65... ss.

68 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., p. 116.

69 MARTINS, José Vitorino de Pina, Au Portugal dans le Sillage d'Erasme, pp. 93-4.

70 PEREIRA Gabriel, Espólio de Baltazar Jorge, Juiz da Alfândega de Diu em 1546, pp. 287-92.

71 CORTESÃO, Armando, ALBUQUERQUE, Luís de, eds., Obras Completas de D. João de Castro, vol.3, p.53.

72 SCHURHAMMER, Georg, Orientalia, p. 150.

73 Vd. ASENSIO, Eugenio, "Un Relato Árabe Recogido por D. João de Castro", pp. 395-413; e notas de Armando Cortesão e Luís de Albuquerque às Obras Completas de D. João de Castro, vols. le 2, passim.

74 CORTESÃO, Armando, ALBUQUERQUE, Luís de, eds., ob. cit., vols. l e 2, passim.

75 Cf. frontispício de O Primeiro Concílio Provincial Celebrado em Goa no Ano de 1567 (Goa, João de Endem, 1568), in BOXER, Charles Ralph, A Tentative Check-List of Indo-Portuguese Imprints, p. 576.

76 ORTA, Garcia de, ob. cit., fls. não numeradas.

77 Id., fl. 228v.

78 FICALHO, Conde de, ob. cit., pp. 284-300.

79 ORTA, Garcia de, ob. cit., col. 15, fl. 60.

80 FICALHO, Conde de, ob. cit., pp. 288-91.

81 ORTA, Garcia de, ob. cit., passim.

82 Id., ibid.

83 REGO, António da Silva, ed., ob. cit., vol. 8, p. 18.

84 Vd. MATOS, Manuel Cadafaz de, Livros e Utensilagem Tipográfica na Carreira da Índia (Séculos XV e XVI), passim.

85 ANSELMO, António Joaquim, ob. cit., p. 152.

86 Id., p. 151.

87 LEÃO, D. Gaspar de, ob. cit., passim.

88 Id., pp. LXVI-CIII.

89 Cf. LINSCHOTEN, Jan Huygen van, The Voyage of John Huygen van Linschoten to the East Indies, passim.

90 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., p. 77.

91 Cf. COSTA, Cristóvão da, Tratado das Drogas e Medicinas das Índias Orientais, passim.

92 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., p. 116.

93 Vd. BOXER, Charles Ralph, A Tentative Check-List of Indo-Portuguese Imprints, passim.

94 ORTA, Garcia de, ob. cit., fl. 229.

95 WICKI, Josef., ed., ob. cit., vol. 5, p. 231.

96 Vd. DE SILVA, Daya, The Portuguese in Asia: An Annotaded Bibliography, passim.

97 BARROS, João de, Ásia: Década III, L. 3, cap.o 4, f.o 67.

98 SIMÕES, Maria Alzira Proença, ob. cit., p. 80.

99 WICKI, Josef., ed., ob. cit., vol. 11, p. 424.

* Doutorado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, director da extensão algarvia da Universidade Lusófona, professor visitante da Universidade de Macau e membro do Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Academia de Marinha. Bolseiro do Instituto Cultural de Macau, Divisão de Estudos, Investigação e Publicações.

desde a p. 19
até a p.