Mais quatro items na Lista do Património Cultural Imaterial de Maca

Data de Publicação: 09/06/2012
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Por ocasião da inauguração de “Génese e Espírito” – Exposição e Demonstração de Arte Popular e Folclore da Mongólia Interior, que teve lugar no dia 9 de Junho, no âmbito das comemorações do Dia do Património Cultural da China, o Presidente do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng, anunciou os novos itens incluídos na Lista do Património Cultural Imaterial de Macau, nomeadamente “Crenças e Costumes: A-Ma”, “Crenças e Costumes: Na Tcha”, “Gastronomia Macaense” e “Teatro Maquista (Teatro em Patuá)”, alargando assim a lista do Património Cultural Imaterial local para 10 itens. O Instituto Cultural irá prosseguir com os trabalhos de protecção do património cultural imaterial.

O Governo da R.A.E.M. sempre atribuiu grande importância aos trabalhos de protecção do património cultural, o que é reflectido pelo lugar que estes ocupam na agenda política local. As “Crenças e Costumes de Macau: A-Ma”, enraizadas em Macau há vários séculos, as “Crenças e Costumes de Macau: Na Tcha”cujo historial remonta há trezentos anos, a “Gastronomia Macaense” com as suas influências internacionais e o “Teatro Maquista (Teatro em Patuá)” que reflecte as características dialécticas de Macau, foram confirmados agora como itens do património cultural imaterial de Macau.

 

Apresentação de quatro itens inscritos na Lista do Património Cultural Imaterial de Macau

Crenças e Costumes: A-Má
Localizado na margem ocidental do Delta do Rio das Pérolas, Macau foi, há várias centenas de anos, um porto de pesca, conhecido como “A-Ma-Gau” na dinastia Ming. No séc. XVI, os portugueses desembarcaram no costa junto ao Templo de A-Ma; assim, o nome português “Macau” está também relacionado com as crenças e costumes de A-Ma.

O Templo de A-Ma foi construído durante a dinastia Ming, revelando que os costumes e crenças de A-Ma estavam já enraizadas na comunidade de Macau há mais de quatrocentos anos. A população indígena de Macau era constituída principalmente por pescadores e estes veneravam Mazu – nascida com o nome de Lin Moniang em Putian, Província de Fujian – como sua deusa. De acordo com a lenda, esta abençoava os pescadores quando estes se aventuravam no mar para pescar, concedendo paz e sorte, tornando-se assim a protectora e deusa de navegadores e pescadores. Mais tarde, os pescadores de Fujian levaram o culto de Mazu para a costa da Província de Guangdong, sendo endeusada pela comunidade e sendo-lhe concedidos títulos por vários imperadores de diferentes dinastias. A sua influência está entrincheirada na costa sudoeste da China e em Taiwan. 

Os costumes e crenças de Mazu em Macau adoptam a sua própria lenda única. Mazu é a divindade mais importante para os residentes locais, semelhante aos seus antepassados e assim reverenciada como “A-Ma” (Avó). O Festival de A-Ma (Festival de Tin Hau) realiza-se no 23º dia do 3.o mês do calendário lunar, durante o qual os pescadores e os residentes espontaneamente prestam culto, fazem ofertas e angariam fundos. Em frente do templo de A-Ma, decoram a zona com lanternas coloridas, veneram a deusa, fazem jogos e leilões. São também levadas à cena óperas chinesas dedicadas à deusa num teatro construído em bambu propositadamente para o efeito, o que deu origem à Associação de Ópera Chinesa de Moradores Terrestres e Marítimos da Barra.

Entre os sons de gongos e tambores, a Deusa é convidada a assistir à ópera chinesa – facto conhecido como “A-Ma assistindo às óperas” - o que significava entretenimento para as pessoas e para a Deusa. A seguir ao espectáculo, a Deusa é escoltada de volta ao templo a fim de os crentes mostrarem o seu devido respeito e honra. As pessoas imploram-lhe por segurança no mar e na terra, pela prosperidade dos negócios e pela protecção dos filhos.

No 16º ano do reinado do Imperador Qianlong da dinastia Qing (1751), a primeira monografia sistemática sobre Macau em toda a história chinesa – Breve Monografia de Macau, da autoria de Yin Guangren e Zhang Rulin – descreve a lenda de A-Ma. O livro História Antiga de Macau, do historiador sueco Anders Ljungstedt, bem como numerosas obras literárias e documentos ocidentais fornecem também descrições detalhadas sobre A-Ma. As descrições estendem-se também à pintura, de que é exemplo um quadro de 1863, do pintor alemão Eduard Hildebrandt, de uma ópera chinesa representada sob telheiros de bambu, em frente ao Templo de A-Ma, por ocasião do festival dedicado à deusa.
A cultura da Deusa A-Ma está enraizada em Macau há centenas de anos, tendo um impacto no território. Os paus de incenso nunca param de arder no interior do Templo de A-Ma, retendo-se a integridade dos costumes e crenças tradicionais de A-Ma até ao presente. O templo é inundado de devotos de vários cantos do mundo na véspera do Ano Novo Lunar e durante o Festival de A-Ma, intensificando-se o cheiro do incenso e o ambiente de harmonia. Os costumes e crenças de A-Ma de Macau constituem uma importante parte do culto de Mazu em território chinês, caracterizando-se pela sua longa história, pelas raízes na comunidade, pela continuidade e imutabilidade ao longo das épocas e pelas suas influências tanto no país como no estrangeiro. É um festival popular crucial em Macau e de grande impacto.

Crenças e Costumes: Na Tcha
Uma personagem dos mitos e lendas chineses, Na Tcha é retratado nos romances Fengshen Bang (A Investidura dos Deuses) de Xu Zhonglin e Lu Xixing (séc. XVI) e Xi Lu Ji (Viagem ao Ocidente) de Wu Cheng'en (séc. XVI) com poderes mágicos que eliminam os demónios. É frequentemente representado como uma criança montada nas Rodas de Fogo de Vento com poderes omnipotentes para afastar os demónios e os desastres na terra. Devido aos seus poderes, sempre que havia uma praga, crianças doentes ou a necessidade de realizar exorcismos ou afastar maus espíritos da cidade, as pessoas pediam ajuda a Na Tcha, tornando-se este, com o tempo, parte das crenças populares e patrono das crianças.

Segundo a lenda, durante a dinastia Qing, um rapaz usando um dudou, ou peitilho chinês, com o cabelo enrolado a formar dois puxos, era visto frequentemente a brincar com outras crianças, subindo para cima de rochas e liderando as outras crianças. Embora a encosta fosse íngreme, nunca houve nenhum acidente. Como o seu aspecto era muito similar ao da figura lendária de Na Tcha, as pessoas acreditavam que Na Tcha se tinha feito representar por esta criança. Um templo foi então construído nessa encosta em sua honra.  

A crença em Na Tcha em Macau remonta há mais de 300 anos, honrando e advogando “Na Tcha Príncipe em 33 dias”. Este facto não se combina apenas com os mitos populares, mas combina-se também com os costumes e a cultura locais, desenvolvendo o seu estilo único; lendas, aniversários ou rituais apresentam todos diferenças muito significativas em relação às regiões vizinhas. A sua cerimónia de adoração é muito tradicional e merecedora de estudo.

Embora Macau tenha suspendido a realização de festivais relacionados com Na Tcha durante cerca de três décadas devido a factores políticos, as pessoas que conheciam os rituais deste culto subsistiram, retendo e preservando assim esta tradição. Para além da construção de altares, outras actividades populares incluem desfiles, carros alegóricos, o fabrico de amuletos da sorte, uma corrida de panchões, a distribuição de arroz da paz e ópera chinesa executada para a divindade.

Além disso, em resposta à política nacional em relação ao Património Cultural Imaterial, dois templos dedicados a Na Tcha que tinham tido pouca comunicação nos últimos cem anos iniciaram recentemente uma colaboração e discussão, candidatando-se à inclusão na Lista de Património Cultural Imaterial de Macau. Os seus esforços conjuntos são uma tomada de consciência da necessidade de harmonia e comunhão na preservação da cultura tradicional local.

Gastronomia Macaense
No início do séc. XVI, durante a Era das Descobertas na Europa, os portugueses navegaram até ao Extremo Oriente ao longo da costa ocidental de África, dobraram o Cabo da Boa Esperança e chegaram a Macau através da Índia e de Malaca. Nesses tempos em que a navegação era fonte de poder, as longas viagens marítimas e a ancoragem costeira favoreciam a combinação de estilos de vida e hábitos alimentares de diferentes regiões, raças e culturas, em África e na Ásia, tornando-se parte da vida quotidiana dos portugueses. Quando os navegadores portugueses se fixaram em Macau, na costa do Mar do Sul da China, combinaram a sua própria cultura e os diferentes costumes que assimilaram ao longo da viagem com o estilo de vida dos locais. Hoje, uma das maiores heranças desta mistura é a Gastronomia Macaense.

A grande variedade de condimentos adicionados à comida e às bebidas pelos portugueses são conhecidos colectivamente como “especiarias”; as especiarias orientais eram os principais produtos que alimentavam o comércio marítimo entre o Extremo Oriente e a Europa. Tal comércio trouxe riqueza aos portugueses, que foram os primeiros europeus a apreciar e introduzir no seu quotidiano as especiarias orientais e, subsequentemente a comerciá-las por todo o mundo.

A Gastronomia Macaense é uma cultura gastronómica baseada no método de preparação dos alimentos da culinária portuguesa, integrando ingredientes e métodos culinários de África, Índia, Malásia e também locais. Através da combinação dos méritos da culinária de cada região, a gastronomia local desenvolveu-se de forma única, aperfeiçoando-se ao longo dos séculos, tornando-se um subproduto histórico da cultura da navegação portuguesa.

Hoje, a Gastronomia Macaense, cujas técnicas se espalharam por todo o mundo com a diáspora macaense, é amplamente reconhecida, tendo-se tornado uma culinária com influências e características internacionais.   

Teatro em Patuá
A língua é uma dos veículos de difusão cultural e um instrumento de comunicação humana; reflecte um contexto específico e origens históricas únicas.  

O patuá é um sistema linguístico criado pelos imigrantes portugueses em Macau ao longo dos últimos quatrocentos anos. Aqui viviam os descendentes dos navegadores portugueses que se casavam sobretudo com mulheres da Índia e Malaca e que, juntamente com o influxo de outros portugueses vindos das colónias, deram origem a um grupo de pessoas de sangue misto que gradualmente evoluiu e formou a comunidade macaense. A língua de comunicação que usavam, conhecida por patuá, tinha o português como base, misturando-o com malaio, cantonense, inglês e espanhol. Assim, pode dizer-se que esta língua é uma “língua de mistura”.

O elemento mais importante do teatro é a língua, e o Teatro em Patuá encarna as características únicas deste dialecto. Este teatro caracteriza-se pela combinação de formas e estruturas de várias línguas, fazendo uso das diferenças culturais, da entoação, do vocabulário e do tom. Especializa-se em comédias que ridicularizam e criticam os problemas sociais predominantes. É “heterodoxo” mas abrange características locais. O Teatro em Patuá é favorito de um grande número de macaenses e chineses locais, sendo também um ponto de ligação emocional entre os macaenses e Macau.

Hoje, o patuá está a desaparecer gradualmente. Grande parte da nova geração de macaenses não fala o dialecto que foi em tempos tão popular entre a comunidade macaense, tornando o patuá um dialecto em perigo de extinção. Inegavelmente, o patuá constitui uma importante base para o estudo da antropologia e da cultura macaense e o Teatro em Patuá, através da arte, ajuda a chamar a atenção da sociedade para a cultura macaense.