Lusíada

OS DICIONÁRIOS LUSO-SÍNICOS**
Relance histórico-bibliográfico

João de Deus Ramos*

O aparecimento dos primeiros léxicos sino-europeus está naturalmente ligado à acção dos missionários da Companhia de Jesus, na China, a partir de finais do séc. XVI.

Na época, em virtude da preponderante presença portuguesa nesta área do Mundo, através do Padroado do Oriente que assistia à Coroa de Portugal, não admira que os primeiros daqueles dicionários utilizassem a Língua portuguesa, ao tempo, juntamente com o Latim, a língua ocidental mais comum; o Português era, então, a "língua franca "no Oriente.

Os missionários jesuítas depressa adoptaram a genial estratégia de penetração no Império do Meio traçada por Matteo Ricci: conquistar, seduzindo pelo intelecto e pelo espírito, a boa vontade das elites, do mandarinato. Para tanto, os missionários aprendiam a língua e a cultura chinesas, os clássicos, os filósofos, conseguindo assim o diálogo de igual para igual com o escol chinês; a sedução operava de seguida, desvanecidos os intelectuais perante estes homens vindos de tão longe e que não procuravam benesses materiais, seus pares na cultura e no espírito. Abria--se o caminho aos Inacianos para insinuar os princípios da ciência e do pensamento europeus, e finalmente, mas como objectivo principal, os do seu ideário ético-religioso.

Tendo em conta a dominante relação triangular, nos finais do séc. XVI, entre Portugal, a Companhia de Jesus e a China, os primeiros esforços lexicológicos surgem naturalmente, como já se disse, com a língua portuguesa. Infelizmente, estes primeiros dicionários permanecem até hoje manuscritos, e assim inéditos.

O P.e Pasquale d'Elia, S. J., no segundo volume das Fonti Ricciane, reproduz fotograficamente uma página do na do Dicionário Português-Chinês, o primeiro entre esta língua e uma língua europeia.1 É da autoria dos P.es Ricci e Ruggieri, e elaborado, avança d'Elia, provavelmente entre os anos de 1584 e 1588. Escreve o P.e d'Elia: "Questo cimelio della sinologia, che rappresenta il primo dizio-nario europeo-cinese del mondo e a cui possiamo dare il titolo di Dizionario portoguese-cinese, esiste ancora manoscrito in ARSI, Jap. Sin., I, 198, dove e stato da me ritrovato e identificato nel 1934. Esso consta di ff. 189 in carta cinese di cm. 23x16,5. "2 É bem clara a afirmação deste erudito orientalista italiano: o primeiro dicionário sino--europeu do mundo é um dicionário Português -Chinês. D'Elia descreve o manuscrito, que vai da palavra abitara zunir, em três colunas: a primeira com os vocábulos portugueses, a segunda com a romanização italiana, a terceira com os caracteres das palavras em Chinês. Como nem sempre há o equivalente chinês do vocábulo português, o dicionário não está infelizmente completo.

Só mais de meio século depois, aí por 1640, é que surge novo dicionário luso-sínico, desta vez da autoria de um Jesuíta português. Trata-se do P. ê Álvaro Semedo (1586-1658), bem conhecido pela sua Relação da Grande Monarquia da China, autor de dois léxicos manuscritos, português--chinês e chinês-português.3 Referem-se-lhe Barbosa Machado, Pfister, Henri Bernard, Couling, e provavelmente outros.4 O P. ê Manuel Teixeira escreve (Cfr. Religião e Pátria, 1960, p.614): "Em 15-11-1870 existia na Biblioteca do Seminário de S. José, de Macau, pertencente ao Seminário de Pequim, fundado em 1601, um velho dicionário feito por um dos primeiros missionários jesuítas na China (possivelmente o P. ê Semedo). Trouxe-o de Pequim o lazarista P. ê Joaquim Afonso Gonçalves e enviou-o, em 1870, para a Real Biblioteca Nacional de Lisboa, o Dr. Carvalho, Governador do Bispado de Macau".5

Outro Dicionário da língua Chinese (sic) e Portuguesa, manuscrito provavelmente da mesma época do anterior, é referido por Barbosa Machado (não encontrei referências nem em Pfister, nem em H. Bernard, nem em Cordier) como da autoria do P. ê Gaspar Ferreira, S. J., (1574-1649).6 Diz Barbosa Machado que colheu esta informação na Nouvelle Relation de la Chine, do P. ê Gabriel de Magalhães, que é a versão francesa da sua obra inédita em português As doze Excelências do Império da China.

Pfister e Couling mencionam outro manuscrito do P. ê Gabriel de Magalhães (1610-1677), um tratado sobre a escrita e língua chinesa, em que ele próprio refere ter recolhido terminologia teológica e filosófica.7 Mas desconhece-se o paradeiro deste manuscrito, que não seria um verdadeiro dicionário, mas talvez um vocabulário ou glossário.

Diversos autores e bibliografias mencionam outros dicionários luso-sínicos manuscritos. Tentarei fazer o seu elenco sem pretender ser exaustivo; e, tendo em conta que alguns não têm autoria conhecida, nem data, é provavel que venham referidos em ordem incorrecta.

Pfister assinala que o P. ê H. Bernard e o Irmão van den Brandt encontraram em Roma, em 1933, um dicionário chinês-português manuscrito, sem data, nome de autor ou prefácio. Avançam Pfister e d'Elia (que também se lhe refere) que deve ser de 1660 ou 1661. Com efeito, este manuscrito contém, no fim, uma lista em latim e chinês de 77 missionários, desde S. Francisco Xavier até ao P. ê Cristiano Herdricht, chegado à China em 1660. Esta lista, bem como uma outra de 16 jesuítas que não chegaram ao sacerdócio, considerada raríssima, vem reproduzida fotograficamente por Pfister no início do 2° volume das suas Notices. O dicionário e a lista foram adquiridos, nos anos trinta, pela Biblioteca Nacional de Pequim.8

Outros dicionários luso-sínicos são assinalados na notável e sempre útil Bibliotheca Sinica de Cordier, nos vols. III e IV. Ao ocupar-se de diversos dicionários manuscritos (col. 1626 e segs.), refere o dicionário chinês-latim-francês-português--italiano-alemão do P. ê Florian Bahr. Cordier diz não o ter encontrado, sugerindo uma possível confusão com o manuscrito do P. ~&e De la Charme, apesar de lhe ter sido indicado pelo Ministro de França em Pequim, Conde Julien de Rochechou-art, que ele existia na Biblioteca dos Lazaristas, no Beitang. Mas a verdade é que o Catalogue de la Bibliothèque du Pé-T'ang, Pékin, Imprimerie des Lazaristes, 1949, não lhe faz referência.

Cordier indica a existência de dois dicionários manuscritos na Biblioteca Real de Estocolmo: um chinês-português (e latim), de 880 pp. in folio e sete mil caracteres (este dicionário vem na Bibliografia Macaense de Luís G. Gomes, com o n. ° 504);9 e outro chinês-latim (e português). Assinala também um dicionário português-chinês manuscrito, dito "Dicionário de Varo", existente na Biblioteca Apostólica Vaticana, fundo Borgia Cinese 420: Vocabolario da lingoa Mandarina ordenado por el RR P. ~&e Fr. Francisco Varo da orden de Pregadores [...]feite [sic] nella igreja de N. P. ~&e. Santo Domingo da cidade de Fôning a 20 de Mayo do anno 1670 (Repare-se na confusão entre o Português, o Espanhol e o Italiano).10

Na Biblioteca Vaticana, também no fundo Borgia Cinese 473, há um outro dicionário manuscrito chinês-português, por radicais dos caracteres, em que na parte da caligrafia europeia Cordier sugere que possa ser da mão de Foucquet.11 Nos manuscritos sobre o Extremo-Oriente da Biblioteca Vaticana, há ainda um outro dicionário chinês-português, com os vocábulos por ordem alfabética romanizada, com a indicação "anno do Senhor de 1625", e que pertenceu a Castorano.12

ATÉ aqui, todos os dicionários luso-síni-cos em reportório são, como se viu, manuscritos inéditos. Quanto sei, só a partir do séc. XIX começaram novos léxicos a ser dados à estampa. Os primeiros passos nesse sentido devem-se ao P. ~&e Joaquim Afonso Gonçalves, que passou trinta anos da sua vida em Macau. Presbítero da Congregação da Missão, foi autor de Gramáticas, Léxicos, etc.. O seu Dicionário portuguez-china, no estylo vulgar mandarim, e clássico geral, foi publicado pelo Colégio de S. José, em Macau, em 1831. Dois anos após saía o Dicionário china-portuguez, no estylo vulgar mandarim, e clássico geral, no mesmo Colégio. Embora desactualizados e de algo difícil consulta, constituem um trabalho pioneiro e valioso, mostrando além do mais o "cursivo" dos caracteres chineses ao lado da forma de imprensa.

Já no presente século, aumentou considera-velmente o número de dicionários luso-sínicos vindos a lume, que tentarei agora inventariar, mais uma vez sem qualquer pretensão de ser exaustivo.

Refiro em primeiro lugar, pois entendo que se justifica apesar da inversão cronológica, o Dicionário Chinês-Português de Análise Semântica Universal, do P. ~&e Joaquim A. de Jesus Guerra, S. J., publicado em Macau em 1981. Ao longo das suas 1118 páginas reflecte-se uma vida de estudo que dignifica a sinologia portuguesa.

Para os restantes dicionários publicados em Macau, valho-me da Bibliografia Macaense de Luís G. Gomes, publicada pelo Instituto Cultural de Macau em 1987, em reedição fac-similada, que referirei pela sigla B. M.. Incluirei outros cuja indicação devo ao meu amigo Dr. António Graça de Abreu e aos seus vastos conhecimentos sobre o mundo chinês e as suas ligações com o português.

- Alexandre Majer, Vocabulário português-chinês, Macau, Escola Tipográfica do Orfanato, 1934, B. M. n° 964.

- Luís G. Gomes, Vocabulário cantonense-português, Macau, Centenário da Fundação e Restauração, 1941, B. M. n" 706.

- Luís G. Gomes, Vocabulário português-cantonense, Macau, Centenário da Fundação e Restauração, 1942, B. M. n° 707.

- Luís G. Gomes, Vocabulário português-inglês-cantonense, Macau, San Chong Trading & C°, 1954, B. M. n° 708; 2a ed., 1958, B. M. n° 709.

- Dicionário de algibeira chinês-português, Macau, Edição do Governo da Província, 1962, B. M. n°502.

- Dicionário chinês-português, Macau, Edição do Governo da Província, Imprensa Nacional de Macau, 1962, B. M. n" 503.

- Dicionário de algibeira português-chinês, Macau, Edição do Governo da Província, Imprensa Nacional de Macau, 1969, B. M. n° 505.

- Dicionário português-chinês, Macau, Edição do Governo da Província, Imprensa Nacional de Macau, 1971, B. M. n. ° 506.

- Um dicionário sem data, plagiando os de Macau, publicado em Hong Kong pela Guoji yuyan zhongxin yinghang, intitulado Dicionário de Algibeira Português-Chinês, e em chinês Xin-bian Pu Zhong Zidian, ou seja "Novo Dicionário Português-Chinês".

- Dicionário Português-Chinês, Pu Zhong Zidian, São Paulo, Artes Gráficas Editora, 1974.

EM cerca de 400 anos, pois, temos uns doze dicionários luso-sínicos manuscritos inéditos e uns treze impressos. Desnecessário será sublinhar o grande interesse, de um ponto de vista histórico e linguístico, dos primeiros. A circunstância de a língua portuguesa ter sido a dominante, a "língua franca" de então, na Ásia Extrema,16 bem podia justificar um esforço de investigação e editorial, agora que nos aproximamos, com o fim do milénio, do termo do nosso "ciclo do Oriente". Desejando-se que uma das vertentes da nossa presença futura nesta área seja a cultural, bem enriqueceria os estudos orien-talistas portugueses a publicação de um daqueles dicionários luso-sínicos dos primeiros tempos. E porque não o primeiro de todos, o manuscrito de Ricci e Ruggieri, conservado no arquivo da casa--mãe dos Jesuítas, em Roma, numa edição científica e graficamente cuidada que nos prestigiasse nos meios sinológicos mundiais? Tal aconteceu, embora com escasso envolvimento nosso, com a publicação no Japão, em 1980, do Vocabulario da lingoa de Iapam, de 1603.17 Que esta iniciativa possa servir de exemplo, e sobretudo de estímulo, nos últimos anos da nossa presença administrativa na Cidade do Nome de Deus na China.

Publicado in Revista de Cultura, N°22, II Série, Janeiro/Março de 1995.

** Não encontrei uma fórmula sintética, que satisfizesse, para referir o conjunto dos léxicos de chinês para línguas europeias e destas para aquela; conformei-me com a expressão "dicionários sino-europeus". E convencionei, para os de português-chi-nês e chinês-português, adoptar uma expressão semelhante, "dicionários luso-sínicos".

* Mais do que plágio, trata-se da reprodução fotográfica de todo o texto, em edição "pirata" (N. R.).

NOTAS

1) Pascuale M. d'Elia, S. J., Fonti Ricciane, Documenti Originali concernenti Matteo Ricci e la Storia delle Prime Rela-zione tra l'Europa e la China (1579-1615), Roma, Libreria dello Stato, 1949, 3 vol.. A página do dicionário português--chinês vem reproduzida no vol. II, p.33, Tavola V; corresponde à f.33v do manuscrito conservado no ARSI, e vai de "Abreviada cousa" até "Acometer", em quatro colunas. Esclarece d'Elia "La prima colona è di un amanuense qualun-que, la scconda è del Ricci la terza del Ricci o del Ruggieri, la quarta del Ruggieri." A primeira contém os vocábulos portugueses, a segunda a romanização do vocábulo em chinês, que constitui a terceira coluna em caracteres chineses, a quarta a palavra equivalente em italiano. O dicionário tem assim, segundo a descrição de Pascuale d'Elia, páginas com quatro ou com três colunas. Diz ainda que, terminada a parte lexicológica, o dicionário contém dados sobre as latitudes das províncias chinesas, explicações sobre algumas palavras e sobre o relógio solar, a história do neófito Martinho (de Cantão, de nome chinês Cai Yilong,.que esteve mais tarde na origem de uma calúnia de adultério contra Ruggieri), e indicações sobre caracteres menos comuns.

2) D'Elia, Fonti Ricciane, II, 32, 1.

3) A Relação foi primeiro publicada em Madrid, em 1642, na versão em castelhano feita por Manuel de Faria e Sousa. Saíu depois em italiano (1643), francês (1645), inglês (1665). A edição em português, com o título Relação da Grande Monarquia da China que corresponde ao da versão italiana, é muito mais recente, pois foi publicada na "Colecção Notícias de Macau" em 1956, em 2 volumes. (Cf. Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, I, 144 e sobretudo Inocêncio, Dicionário Bibliographico, I, 50.)

4) Bibliotheca Lusitana, I, 144; Pfister, Notices Biographiques et. Bibliographiques sur les Jésuites de L'Ancienne Mission de Chine, Chang-Hai, 1932, p. 146; Henri Bernard, Les Adaptations Ghinoises d'Ouvrages Européens, Bibliogra-phie Chronologique depuis la venue des Portugais à Canton jusqu' à la Mission Française de Pékin, 1514-1688, in "Monu-menta Sinica", vol. X, 1945, p. 41; Samuel Couling, Encyclo-paedia Sinica, Shanghai, 1917, p. 302, o artigo sobre "Lexi-cography".

5) P~&e. Manuel Teixeira, 'Macau e a sua Diocese, VIII, 159, Não tive oportunidade de verificar se é este o manuscrito existente na Biblioteca Nacional de Lisboa (Cod. 3306), referenciado no Catálogo da exposição "Portugal e a China, cinco séculos de Relacionamento", organizada pela B. N. em 1984, com o título Prosódia ou Diccionario da [lingoa] Chi-neza e Portugueza.

6) Bibliotheca Lusitana, II, 351.

7) Pfister, Notices, p.88.

8) Pfister, Notices, p.996,1) e Tomo II, p. I-X para a reprodução fotográfica. D'Elia, Fonti Ricciane, I, 289.

9) Cordier, Bibliotheca Sinica, III, 1635, e não a indicada no n. ° 504daBibl. Nac..

10) Id., ibid., III, 1636 e V, 3907.

11) Id., ibid., V, 3910. A sugestão quanto a Foucquet merece acolhimento pelo seu biógrafo John W. Witek, Controver-sial Ideas in China and in Europe: A Biography of Jean-François Foucquet, S. J. (1665-1741), I. H. S. J., Roma, 1982. Na p. 344 escreve Witek a propósito dos escritos de Foucquet: "Dictionarium Sinico-Lusitanum. Incomplete Chinese-Portuguese dictionary with Chinese characters (written by a Chinese hand) and romanization and transla-tion in Foucquet's hand; 1714? Partially based on Lei-tsuan Ku-wen tzu-k'ao (author not indicated). Divided into five major sections; copies by Foucquet from another source?".

12) Cordier, Bibliotheca Sinica, V, 3910.

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16) Plagio o título da obra do P. ~&e António de Gouveia, manuscrito inédito em seis livros existente na Biblioteca da Ajuda, colecção "Jesuítas na Ásia", com as cotas 49-V-1 e 49-V-2. Cf. Maria de Lourdes Belchior, A Ásia Extrema do Padre António de Gouveia, relato seiscentista da China nos séculos XVI e XVII, in "Os Homens e os Livros. Séculos XVII e XVIII", p.87- 108, Editorial Verbo, Lisboa, 1971, trabalho que não consultei. Refere-se-lhe também Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana, I, 296.

17) Trata-se do Vocabulario da língoa de Iapam com a declaração em Portugues, feito por alguns padres, e irmãos da Companhia de lesu. Com licença do Ordinario & Superiores em Nangasaqui no Collegio de lapam da Companhia de Iesus. Anno MDCIII. Seguiu-se um Supplemento deste vocabulario impresso no mesmo Collegio da Cõpanhia de Jesu com a sobredita licença & aprovação. Anno 1604. Mantém-se até hoje a dúvida sobre quem seriam aqueles Padres e Irmãos, havendo quem tenha defendido a tese da participação activa de João Rodrigues Tçuzzu, jesuíta português que mereceu aquele sobrenome, ou seja, o "intérprete". O biógrafo deste missionário, o P. ~&e Michael Cooper, S. J., da Universidade de Sophia em Tóquio, autor do livro Rodrigues the Interpreter, J. Weatherhill, New York, Tokyo, 1974, não apoia aquela tese, e escreve a propósito da possível participação de Rodrigues na elaboração do Vocabulario que "there is no direct evidence to prove his collaboration in the project, and weighty arguments, based on stylistic and linguisticgrounds, have been advanced to show that in fact he did not edit the Vocabulario." (Op. cit., p. 223).

J. Laures, (Kirishitan Bunko, Tokyo, 1940, p. 41) indica os exemplares conhecidos do Vocabulario: na Biblioteca Bodleiana de Oxford, na Biblioteca Nacional de Paris, na Biblioteca Pública de Evora, no Convento de S. Domingos em Manila, e uma cópia manuscrita na Biblioteca da Ajuda. Inocêncio (Diccionário Bibliographico, VII, 452) apenas diz que "o Vocabulario é raríssimo"; Cordier (Bi-bliotheca Japonica, p. 242) só conhece o exemplar da Bodleiana e H. Inata (Bibliography of Translations from the Ja-panese into Western Languages from the 16th century to 1912, Sophia University, Tokyo, 1971, monografia da "Mo-numenta Nipponica", p.1) não refere o manuscrito da Ajuda. Quanto a este último, nos Manuscritos da Ajuda, C. E. H. U., Lisboa, 1966, p.480, vem o manuscrito referenciado com a cota 46-VIII-35 (que Laures não indica, mas que vem em J. F. Schütte, S. J., Introductio ad Historiam Socie-tatis Jesu in Japonia, 1549-1650, Roma, I. H. S. J., 1968, p. 802), com a data de 1593, ou seja dez anos antes da primeira impressão. Aí se lê que o manuscrito tem a seguir à data a indicação: "Esta tresladada do Livro Emprenso que esta na secretaria da Provincia de Japão no Collegio de Macau, hoje 22 de Agosto de 1747. João Álvares." (Este João Álvares, Irmão Coadjutor a que Schütte se refere na Introductio, colaborou com o P. ~&e José Montanha, enviado em 1742 a Macau pela Academia Real da História Portuguesa para recolher documentação dos arquivos). Não encontrei nem nos autores nacionais nem nos estrangeiros a elaboração do que poderá representar para o estudo histórico do Vocabulario esta "nota" de João Álvares ao manuscrito da Ajuda. O mesmo P. ~&e Schütte, na Monumenta Historica Ja-poniae (inserta na série das Monumenta publicadas pela Companhia de Jesus em Roma, fundamentais para o estudo da presença cristã dos primeiros tempos no Oriente e no Novo Mundo), recorre várias vezes ao Vocabulario para a explicação de termos usados na documentação coeva. Os autores enfatizam hoje o valor que tem o Vocabulario para os estudos linguísticos do Japonês nos séculos XVI e XVII. Na época foi também considerado trabalho valioso, o que proporcionou, em 1630, a tradução para espanhol pelo P. ~&e Jacinto Esquível, O. P., com o título Vocabulario de Iapon Declarado Primeiro En Portugues... (Cf. Laures, op. cit., p.78); mais tarde, na segunda metade do século XIX, Léon Pagès fez a tradução francesa com o título Dictionnaire Japo-nais-Français... Traduit du Dictionnaire Japonais-Portu-gais... (Cf. Inata, op. cit., p. 2). Inata escreve: "This dictio-nary is still regarded to be of vital importance to scholars of Japanese language and literature, since it shows the pronunciation and usage of the sixteenth century Japanese language." Com efeito, o Vocabulario e o seu suplemento contêm 32.798 items, com a especificação das palavras próprias da área de Myako e de Kyushu, indicações sobre a pronúncia elegante utilizada na capital, termos poéticos e literários, expressões próprias do sexo feminino e idiomáticas, e citações dos clássicos japoneses e de provérbios populares. (Cf. Cooper, op. cit., p. 222).

* Lic. Direito (Un. Lisboa); ingressou na carreira diplomática (1967), com serviços em Tóquio e Genebra; Encarregado de Negócios na Embaixada em Pequim (1979); Chefe de Repartição da África, Ásia e Oceania da Direcção Geral dos Negócios Políticos (MNE), 1982; Embaixador no Maputo (1983); membro da Delegação portuguesa às conversações luso-chinesas sobre Macau e vogal da Comissão Internacional sobre Macau; Ministro Plenipotenciário de 2a classe (1987); Chefe Adjunto do Grupo de Ligação Conjunto luso-chinês e Chefe do Grupo de Terras luso-chinês (1988).

Comendador da Ordem de Isabel a Católica, de Espanha; Oficial da Ordem de Mayo Al Merito, da Argentina; Ordem do Tesouro Sagrado, do Japão; Cavaleiro da Ordem de Orange-Nassau, dos Países Baixos; Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, do Brasil.

desde a p. 167
até a p.