Paisagismo

A REVOLUÇÃO VERDE DE MACAU
(Séc. XIX — Década de 80)

José da Conceição Afonso*

Desenhos e aguarelas de Didier Raphael Bayle

À chegada a Macau, nem sempre existiu a imagem dum território coberto de florestas verdejantes; até à década de 80, no século passado, o que ficava frequentemente na retina era a imagem de uns montes áridos, escalvados, com casario por entre manchas de saibro avermelhado. Essa imagem triste alterou-se radicalmente a partir daquela época; segundo o Conde de Arnoso, só entre os anos de 1883 e 1887 foram mandadas plantar pelo Governador Tomás da Rosa 60.000 árvores, denotando a existência de uma política intencional e sistemática em tal matéria. Articulando este valor numérico com o valor do censo da população que havia sido elaborado uns anos antes, seria o equivalente a uma árvore por cada habitante da cidade. Essa política era, porém, uma das componentes doutra política mais geral também então iniciada, a do Plano de Melhoramentos do Porto e a do Plano de Melhoramentos de Macau. Vejamos sinteticamente o contexto em que tudo isto se desenvolvia.

Para todo o distrito administratlvo de Macau, o recenseamento geral da população, efectuado a 31 de Dezembro de 1878, contava "68.086 habitantes europeus, chinas e de outras nacionalidades". Só a cidade, considerando a sua pequena dimensão territorial, já apresentava em finais daquele ano uma população de 59.959 habitantes terrestres e marítimos.

Adolpho Loureiro, em "O Porto de Macau / Ante-Projecto Para o Seu Melhoramento", considerando a existência de erros no levantamento deste censo, estimava e alargava a população global do distrito de Macau para cerca de 100.000 habitantes.

Não obstante verificarem-se tais discrepâncias nas estimativas da população existente, é inegável que a pressão humana sobre o espaço físico disponível era já enorme, exigindo para o efeito, e desde há muito, a adopção de medidas cuidadas de urbanismo; contudo, não obstante o estabelecimento dos portugueses neste local se verificar desde o século XVI (1557), só é possível em Macau, dentro duma visão sistémica, falar-se de urbanismo enquanto política, arte, ciência, técnica e instrumento de organização e gestão global do espaço, a partir aproximadamente de 1880. Os objectivos desse urbanismo, então delineados no conjunto de relatórios anuais de diferentes entidades da administração, revelam por um lado grande preocupação quanto ao papel vital, estratégico, desempenhado pelo porto em grave processo de assoreamento, na economia e actividade comercial da cidade, e, de igual modo, fortíssimas preocupações higienistas visando a regularização do traçado urbano, suporte de redes de infraestruturas imprescindíveis, e a criação decondições ambientais salutares para os seus habitantes.

Curiosamente, o entendimentoestratégico desse urbanismo que objectivava o Porto de Macau comouma questão vital da qual tudo dependia, face à gravíssima situação de insalubridade então existente no Território, apontava já nalgumas áreas da intervenção urbana para princípios, meios ecológicos, técnicas e metodologias dinâmicas e progressivas, classificadas hoje em muitos aspectos de grande modernidade; tais propostas de urbanismo poderão, de certo modo, considerar-se inovadoras, mesmo à escala mundial, quer quanto ao esboço de urna concepção prática de zoning, definindo zonas específicas para instalações e actividades poluentes e perigosas, quer na adopção duma política pragmática que nada tinham a ver com formas de urbanismo estático e rígido e que se podem sintetizar nos seguintes aspectos:

— Existência de legislação (Dec. de 31. Dez. 1864) reguladora da elaboração da então chamada figura de "Plano de Melhoramentos";

— Afirmação do primado do plano na organização de toda a área portuária de Macau e do espaço da cidade, em ruptura total com um desenvolvimento casuístico verificado desde as suas origens;

No âmbito do Plano de Melhoramentos do Porto de Macau, combate às causas de desassoreamento do rio, por forma a garantirem-se as condições de acessibilidade mínimas à navegação e criação de condições de abrigo no caso de intempéries e tufões;

No âmbito do Plano de Melhoramentos da Cidade de Macau, obediência do traçado dos alinhamentos da construção ao plano;

— Submissão da aplicação do Plano de Melhoramentos ao Direito, conforme a critérios de justiça, especificamente no que respeita às expropriações necessárias e regras construtivas, quer na parte da cidade portuguesa quer na parte ocupada pela população chinesa;

— Prossecução firme duma política, progressiva e metódica, de regularização do traçado urbano e de saneamento dos bairros, infra-estruturação e de equipamentos, prevista para um período temporal de cerca de 15 anos relativamente à cidade chinesa, cuja construção à partida era de curta durabilidade e qualidade; expressão de maiores dificuldades de regularização do traçado da cidade portuguesa devido aos elevados custos das edificações aí existentes;

— Reformulação dos processos de cultivo da orizicultura, arborização das margens, criação e controle duma rede e tratamento de esgotos com possíveis métodos de bio-transformação associáveis à agricultura, adopção dum sistema adequado para a recolha dos lixos da cidade, secagem de pântanos e dragagens permanentes do rio, execução de aterros e regularização da costa, por forma a serem minimizados os processos de assoreamento; Aplicação de uma política de arborização sistemática do Território, na altura descrito como de grande aridez e escalvado, criação de jardins e reabilitação dos existentes, contra a reacção da população chinesa, a qual, supersticiosa, considerava que as raízes das árvores perturbavam a tranquilidade dos seus mortos; — Exploração de novas fontes, melhoria das existentes e proposta duma solução acautelada que passava pelo abastecimento de água a partir da China, precisamente da Ilha da Lapa, facto que levantava então sérios problemas de estratégia política; — Esboço duma proposta de zoning, totalmente inovadora para a época, especialmente no que respeita às actividades poluentes, tóxicas e perigosas, sem que, contudo, alguma vez esse termo tenha sido utilizado nos documentos analisados; O urbanismo estratégico, colocando as intervenções a nível de toda a área portuária de Macau como uma questão vital, entendia, por sua vez, todas as intervenções a nível do tecido da cidade, como componentes higienistas desse mesmo urbanismo estratégico. Dentro duma visão sistémica, é fácil perceber-se, por exemplo, que o assoreamento do rio que bloqueava a acessibilidade à cidade e consequentemente arruinava a sua economia, andava ligado, entre outros factores, à forte erosão das colinas em época das chuvas só contrariada através de uma arborização metódica do Território e pavimentação das vias, e de igual modo motivado pelas toneladas de resíduos que diariamente eram lançados no rio, relativamente aos quais haveria que adoptar uma rede de infra-estruturas sanitárias adequada. Percebem-se, porém, as dificuldades de execução desta rede perante o facto de em arruamentos estreitíssimos nos bairros chineses, frequentemente estrangulados pelos mais diversos tipos de obstáculos construídos e delimitados por casas quase sem alicerces e de fraca estabilidade, a simples instalação duma canalização de esgotos na via levada a que as casas que a delimitavam tombassem. A acumulação de imundícies pelos mais diversos pontos da cidade'e a recolha das matérias fecais, nas casas e atravessamento das ruas às mais diversas horas do dia sem o devido acondicionamento e seu lançamento nos campos, em pântanos de águas estagnadas, andava, por sua vez, ligada à falta de infra-estruturas e de serviços de saneamento minimamente adequados, provocando epidemias e peste quase ciclicamente, ceifando centenas quando não milhares de vidas, particularmente nos bairros chineses. A renovação do traçado dos bairros, mais do que poder ser entendida como factor de embelezamento dos mesmos vinha facilitar a acessibilidade e implantação da tão necessária rede de infra-estruturas sanitárias, propiciar condições para a limpeza dos mesmos e combater as causas da peste. É essa modernidade de visão de tudo andar ligado a tudo e tudo depender da questão vital que era o porto de Macau, que vemos subjacente ao conjunto dos relatórios elaborados quer pelas Obras Públicas, pelos Serviços de Saúde, pela Capitania dos Portos de Macau, quer por Comissões Conjuntas, entre os anos 80 do século XIX e os anos 20 do novo século. Do conjunto desses relatórios, em síntese, retiramos também a conclusão de que a nível da área portuária, o urbanismo debatia-se com o flagelo do assoreamento do porto e o flagelo dos tufões e intempéries. "As obras de mais subido alcance para a hygiene que tiveram logar em 1885 foram sem dúvida a extinção dos pobres tancás que no canal de Sa-kong e San-Kio, sobre estacas, serviam de pestilento abrigo a uma imunda e miserável sociedade que, segundo a opinião publica, na grande maioria só vivia d'uma vida devassa e criminosa. Eram um perigo para a salubridade e para a ordem publica. Eram talvez para mais de dois mil. Incumbido pelo Ex. mo Sr. Governador de examinar bem as condições d'aquellas improvisadas e desgraçadas residencias, dei o meu parecer em relatorio breve, onde a largos traços deixei impressa a sensação de horror que produzia tudo aquillo ao europeu que ousasse penetrar n'aquellas sujas e suspensas cellulas (permitta-se o termo), onde residia a mais deploravel miseria. Terminei prescrevendo, como'unico remedio, o fogo ou o machado. ab initio, de dia a dia maiores proporções tomaria.

Foi concedido um praso de tres mezes para despejo. Confiados não sei em que, ou entregues á sua natural incuria, deixaram correr o praso, ou porque não acreditaram na realisação da tal ordem, ou porque houvessem combinado uma reacção. O certo é que nem um china só resolvera deixar as suas imundas casas, suspensas sobre terrenos mais imundos ainda. Foi mister que o governo mandasse demolir, empregando previamente para manter a ordem as devidas providencias policiaes. Assim se fez por ordem do actuai Governador."

Um Despacho do Governador, datado de 10 de Maio de 1907, relativo ao bairro de Lou-tin-chin, manda a Direcção das Obras Públicas executar a proposta n. ° 184 da Junta de Saúde para "a evacuação immediata de todos os habitantes e a destruição pelo fogo de todo esse bairro a fim de poupar a vida de toda essa gente e obstar por essa forma a propagação da epidemia ao quartel da Flora onde se acha aquartellada a companhia europeia d'infantaria, visto as condições de salubridade serem pessimas pelo aterro que ja se ha operado no dito bairro."

Em Relatório da Direcção das Obras Públicas, de 6 de Maio de 1910, diz-se sobre os bairros Sankiu, Long-tin-chin, Seac-lu-tau, Tap-seac, S. Miguel, Volong e S. Lázaro: "D'estes sete logares o 2. °, 3. °, e 4. °, antigas povoações suburbanas á primitiva e limitada cidade, inteiramente chineza, insalubres e improprias, foram succesivamente expropriadas e destruidas pelo fogo, a ultima d'ellas, Long-tin-chin, em 1907, na minha administração já. Seac-lu-tau e Tap-seac já estão aterrados; Long-tin-chin vae em muito adiantado aterramento que lhe eleva de 2 metros, em media, o nível do chão para construir. Os muros, minas das antigas casebres do bairro, ficam inteiramente cobertos pelas terras. S. Lazaro e Volong são os dois bairros modernos de Macau, erigidos já sobre os aterros feitos nas minas e logares da antiga horta Volong. Representam elles o primeiro e decidido passo no alargamento da Cidade para fóra das Portas do Campo, e no seu saneamento geral.

Nada a estes bairros de essencial ha que modificar, como os planos indicam; apenas resta prolongal-os, ligando-se com os novos bairros em projecto. E não devo perder o ensejo de consignar a minha admiração pelo meu distinto antecessor, Engenheiro Abreu Nunes, que, com tanta perseverança como proficiencia, soube lançar as bases dos dois lindos referidos bairros que foram, ao tempo, citados em Hong-Kong como verdadeiro remedio contra a peste.

Representavam realmente aquelles antigos bairros fócos notaveis e periodicos d'aquella epiendemia; hoje não ha ali, pode diser-se, um unico caso por anno. É o que succederá com Long-tin-chin, com Sakong e sobre tudo com Patane, o mais activo centro de propagação da peste, cujo saneamento já tive a honra de propor e até de iniciar."

Um pouco como uma perna com gangrena que carece de ser amputada se quisermos salvar o corpo, também estes bairros tiveram de ser arrasados pelo fogo e pelo machado, aterrados depois, para se salvarem da peste muitos, muitos milhares de habitantes, particularmente chineses. Compreende° se a justeza desta política, mesmo na sua extrema dureza, face a uma procura de valores de higiene urbana garante das condições mínimas quanto à qualidade do espaço, para uma vida digna e salutar da população. No fundo, era um caso de vida ou de morte, a não ser que se quisesse aceitar o fatalismo de, ciclicamente, centenas ou milhares de vidas serem varridas pela peste. Julgo, porém, que para se compreender esta mesma política na sua completa dimensão, não poderá deixar de se colocar uma pergunta, para a qual não tenho ainda resposta: era garantido ou não o realojamento destas • populações, mesmo que as condições de habitabilidade de origem, na generalidade dos casos, fossem as dos mais miseráveis tancás ou cabanas?

Uma das componentes mais importantes daquilo que designo por urbanismo estratégico e higienista de Macau, entre a década de 80 no século passado e os anos vinte do novo século foi, sem dúvida, a política de arborização metódica adoptada no Território a partir de 1883, quer como forma de combate à erosão dos solos das encostas que contribuía para o assoreamento do porto, quer como factor importantíssimo de combate à peste e melhoria das condições climatéricas ambientais. Dentro duma visão sistémica em que o urbanismo então foi entendido, vejamos pois algumas das facetas que caracterizaram tal política de arborização e criação e melhoria de jardins, que alterou e melhorou radicalmente a imagem da cidade.
O Código de Posturas do Leal Senado e a Conservação das Árvores 1871 -- "Aos vinte e um dias do mez de novembro, de mil oitocentos e setenta e um annos em Macau, e na sala das sessões, o leal senado da camara em sessão ordinaria. Considerando a utilidade de compilar em uma só, todas as posturas anteriormente publicadas; Considerando a necessidade de rever essas posturas, adoptando-as ás leis e costumes da actualidade, e usando das attribuições que lhe confere o artigo 120. ° do codigo administrativo; Visto o disposto na legislação correlativa, etc.; Assentou-se no seguinte: ^^CAPITULO I Disposições relativas á conservação das arvores, calçadas, e mais pertenças da via publica ^^SECÇÁO I Disposições relativas á conservação das arvores Artigo 1. ° É prohibido prender, ou atar qualquer cousa ás arvores, que estiverem em terreno publico, ou subir a ellas; embora d'isso não provenha damno immediato, punivel pelo artigo subsequente: sob pena de $1 de multa. Art. 2. ° É igualmente prohibido varejar as mesmas arvores, atirar-lhes pedras, páus, ou cousas semelhantes, quebrar-lhes alguma haste ou vergontea, ou finalmente deterioaral-as por qualquer outro modo: sob pena de $2 de multa. Art. 3. ° Incorre no quintuplo da pena comminada no artigo antecedente, quem cortar, ou arrancar pela raiz qualquer d'essas arvores, não estando munido de licença da camara; ou quem tendo esta licença não cumprir todo, ou em parte as condições, com que ella for concedida. (Extracto do Código de Posturas Municipais -- in pág. 122 do B. P. M. T. do ano de 1872) Fizeram-se pela primeira vez sementeiras de pinheiro, com pinhões vindos de Portugal, em algumas colinas e montes, e plantaram-se em diferentes pontos da cidade 550 árvores, das quais nem todas vingaram por causas que o actual director das obras públicas refere no seu relatório. Essas causas, a dificuldade das regas diárias até à estação das chuvas, o roubo das hastes ou pequenas árvores e dos espeques que as sustentam, nos lugares pouco frequentados, e a destruição delas pelo gado e pelos chinas, podem ser vencidas, empregando-se os cuidados indispensáveis e votando-se a quantia necessária para as despesas de que isto carece. A importância de 160 patacas gasta no ano de 1882 com a plantação de árvores e sementeiras, além das 70 patacas com a dos salgueiros em frente da Ilha Verde, é insignificante para objecto de tanta conveniência pública. É necessário atender hão só à plantação de árvores, mas também à conservação delas contra a destruição que ocasionam o gado e os homens, pois não é pequena a que produzem as chuvas torrenciais e os tufões."

Na ilha de Colouan ha diversos pontos, onde de preferencia se devem fazer as sementeiras e são os terrenos proximos do pagode Thin-hao-mio: o vale de Siac-pai-van, e as encostas de Koho.

De todos estes pontos designados, só os da Taipa e povoação de Colouon, é que exigem uma pequena despeza annual para serem vigiados e conservados.

A commissão municipal em breve votará a verba que julgue necessaria para acquisição de sementese arvores para as plantações.

Com muita satisfação communico a v. s. a esta decisão da commissão municipal, concorde com os desejos de v. s. a.

É o que me cumpre dizer em resposta ao citado officio de v. s. a ".

1882 -- "Tratou-se também-da arborização. na Ilha da Taipa, e segundo uma participação do respectivo comandante, estavam já designados os tratos de terreno em que ela se devia fazer." (Lúcio Augusto da Silva -- Relatório do Serviço de Saúde Pública na Cidade de Macau, Relativo ao Ano de 1882, datado de 30 de Março de 1883 -- in Boletim da Província de Macau e Timor- Série de 1883 -- págs. 188 a211)

O exemplo da arborização na vizinha colónia de Hong-Kong

1882 -- "Na vizinha colónia de Hong-Kong não só se atende cuidadosamente à plantação de árvores nas ruas, praças e estradas, mas tem-se tratado de criar florestas nos terrenos incultos e agrestes. Segundo os relatórios que li, plantaram-se em 1880 naquela ilha 211.015 árvores. Do pinheiro indígena, pinus sinensis, foram 206.365 indivíduos, sendo 60.565 por sementeira nos lugares em que deviam ficar, in situ, e outros transplantados; além de 1537 pés de diversas espécies do eucalyptus e de outras plantas. Os trabalhos de plantação de árvores continuaram em 1881, sendo os pinheiros, por um e outro sistema, em número de 751.058 e do eucalyptus de 4.347. Reconheceu-se ali, por experiência de alguns anos, que quanto aos pinheiros era mais fácil e de bom resultado lançar as sementes no ponto onde deviam ficar, ainda que por este sistema estas árvores não se apresentavam nos primeiros anos tão vigorosas como as que eram transplantadas dos viveiros; e que o eucalyptus se desenvolvia perfeitamente entre os pinheiros, não acdntecendo outro tanto quando ficava ao abrigo de outras árvores.

Além das árvores que geralmente se empregam, convém fazer em Macau sementeiras de pinus sinensis, não só nos montes e colinas onde se fizeram no ano próximo passado e foram destruídas pelos chinas, mas também em outros pontos, dispondo as coisas de modo que elas possam vingar. Devia-se igualmente criar viveiros destas árvores e do eucalyptus, escolhendo para isso terreno conveniente em uma das ilhas da Taipa, D. João ou Colovan, para serem dali transplantadas na península de Macau, especialmente do eucalyptus globalus, dessa bela árvore, que além da propriedade que lhe atribuíram, é de crescimento rápido emadeira rija". (Lúcio Augusto da Silva -- Relatório do Serviço de Saúde Pública na Cidade de Macau, Relativo ao Ano de 1882, datado de 30 de Março de 1883 -- in Boletim da Província de Macau e Timor- Série de 1883 --págs. 188 a 211) Relatório acerca da arborização de Macau pelo agrónomo Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro 1883/1884 -- "(...) Confiado este ramo de serviço desde há muito à direcção das obras publicas, era no orçamento d'esta repartição que estava consignada a verba para esses trabalhos, verba mesquinha e insufficiente, englobada na dos jardins publicos e portanto sujeita a ficar mais reduzida, sempre que estes reclamassem qualquer obra de maior vulto. N'estas circumstancias, para evitar difficuldades de escripturação, continuaram as despezas a ser feitas por via d'esta repartição, sendo as folhas de trabalho processadas semanalmente pelo systema ali seguido. A escacez da verba applicada á arborisação não tinha permittido que até aqui se desse o desenvolvimento que merece um ramo tão importante de serviço, porque em Macau não basta arborisar as estradas, é mister tambem povoar as montanhas agora aridas e escalvadas e que tão feio aspecto apresentam ao viajante que se dirige a Macau. É tristonha e desagradavel a impressão que se sente ao entrar na rada e mais tarde no porto quando se vêem alvejar as casas destacando entre as pequenas montanhas nuas, manchadas de espaço a espaço pelo saibro avermelhado. Foi essa a impressão que senti ao entrar pela primeira vez n'esta cidade, e dei-me por feliz, quando encarregado d'estes trabalhos, por poder contribuir, na acanhada proporção dos meus recursos, para o aformoseamento d'essas montanhas que cobertas de vegetação poderão transformar esta colonia em verdadeira Cintra do sul da China.

Para operar a transformação era necessario pesar maduramente as condições do solo e do clima, e para melhor poder avaliar esses elementos por meio dos resultados practicos fui enviado por V. Ex. a a Hongkong, cujo solo é quasi egual ao de Macau, e cujo clima, embora mais rigoroso tanto no frio como no calor, se assemelha um tanto ao d'esta cidade.

O que na visinha colonia se tem feito em materia de arborisação é uma verdadeira maravilha, como o é sempre o fructo da tenacidade e da intelligencia; mas se muito tive que admirar, mais tive que apprender no convívio de alguns dias com Mr. Ford, director do jardim botanico e chefe dos trabalhos de arborisação, do qual escutei preciosos conselhos que a longa pratica de doze annos lhe permittia dar.

As montanhas de Hongkong eram escalvadas e aridas há vinte annos, mas hoje estão cobertas de pinhaes que dentro em pouco abraçarão os pontos mais elevados do pico Victoria. O systema ali seguido para o povoamento não é o da sementeira mas o da transplantação, que se effectua, ao fim de um anno de viveiro, quando as plantas medem aproximadamente 0m,25 do collo da raiz até á extremidade da haste. O periodo d'estes trabalhos é de seis meses em cada anno, a contar de janeiro até ao fim de junho, escolhendo-se sempre tempo chuvoso para o realisar, afim de poupar a enorme despeza da rega, indispensavel durante os primeiros periodos da transplantação.

O governo inglez julgou mais conveniente e menos dispendioso não montar por conta propria os viveiros de pinus sinensis que é a essencia quasi exclusivamente empregada, preferindo antes contractar com os chinas os quaes recebem a semente gratuitamente com a obrigação de fornecerem em praso certo alguns milhares de pés, que são pagos á razão de nove patacas o milhar. O termo medio da mortalidade das plantas transplantadas é de cinco por cento, o que na realidade é uma percentagem bem pouco elevada.

Não obstante a epocha ser adeantada por ir já em meado o mez de julho, ainda assim foi contratado com os proprietarios dos viveiros de Hongkong o fornecimento de cinco mil pés de pinheiros, para, a titulo de experiencia, se ensaiar em casa propria o systema que na alheia tão bom resultado dava. Não foi frustrada a despeza porque em tão boa hora vieram e tão propicio lhes "correu o tempo que não só quasi todos pegaram, como. tambem têem vegetado até hoje com pujança admiravel.

Aproveitando a circumstancia de ter fechado já n'aquelle anno o periodo da plantação, obtivemos dos chinas por preço commodo os pinheiros de que careciamos, sahindo assim o milheiro por cinco patacas e meia. As despezas de acondicionamento e de transporte desde Aberdeen até ao caes dos vapores e d'ahi até Macau é que fizeram elevar mais o custo da acquisiçã0 ficando assim cada pé por 9 réis aproximadamente.

O primeiro cuidado foi escolher terreno em que se realisasse o ensaio de modo que não fosse tão safaro que pela ruim qualidade morressem as plantas, nem tão substancioso que perigasse a verdade no resultado da experiencia, vindo assim a julgar-se por merito do systema o que apenas era fructo da fertilidade da terra.

Convem desde já notar que o solo da pequena peninsula de Macau, com excepção das varzeas é pobre e destituido de elementos nutritivos, sendo a ossada das montanhas formada por granitos que aqui e acolá afloram em rochedos ennegrecidos que entremeiam um terreno composto de saibro cru, pouco rico em substancias mineraes assimilaveis e pobrissimo de materia organica decomposta. Maior era a difficuldade em encontrar solo que pecasse por fecundo, por quanto o arido e infertil estava á mão em todos os pontos que se procurasse.

Resolveu-se fazer a experiencia no principio da encosta do monte da Guia, no terreno a partir da estrada da Victoria até ao primeiro lanço do caminho que em zyzag sobe até á fortaleza. A exposição sudoeste d'esse terreno tambem era favoravel, porque assim menos havia a receiar das lestadas rijas que por vezes açoutam com violencia as arvores, e de que o novo plantio com certeza se resentiria.

Escolhido o terreno procedeu-se á abertura das covas, distanciadas um metro entre si e com a profundidade de 0m,40, sobre egual dimensão em quadro, conservando-se abertas durante alguns dias para que a meteorisação se podesse exercer sobre a terra. Terminados os trabalhos preparatorios começaram a vir as plantas em successivas remessas de quinhentos pinheiros cada uma, e concluida a plantação na forma ordinaria nenhum outro amanho se lhes fez a não ser uma sacha dada em tempo bastante calmoso com o duplo fim de destruir as hervas que rodeavam os pés e para obstar ao dessecamento da terra, o que era de receiar por ir longa a estiagem e acompanhada de temperatura ardente. A ephoca ia adeantada, o transporte de Aberdeen para Macau era moroso devendo portanto as plantas resentir-se, e por ultimo a necessidade do trabalho era para os operarios uma causa de decurarem as recommendações que Ihes tinham sido feitas acerca do modo de plantar; mas, não obstante a inferioridade de condições em que este trabalho se realisou, inferioridade apenas compensada pela chuva que durante os dois mezes que se seguiram a plantação cahiu quasi ininterrupta a mortalidade foi pequenissima, pois não passou de 110 o numero de pinheiros mortos, ou 3,6 por cento, o que é muito inferior á media de Hongkong.

Zona arborizada na Av. da República (Meia Laranja). Slide de Mica Costa-Grande

A boa fortuna d'este primeiro ensaio animou a trabalhar em mais larga escalla, e para isso principiou-se a construir um viveiro onde, quer por semente, quer por estaca, se podesse obter as plantas de que careciamos. Mal principiado ainda foi este trabalho interrompido por serviço mais urgente, qual era o de reparar os estragos do tufão, que caiu rijo, semeando os estragos do costume, mas que açoutou por tal forma as arvores que as deixou em misero estado.

No sentir de pessoas autorisadas nenhum outro tufão, nem mesmo o de 1874, tinha produsido tamanho estrago no arvoredo. Cumpria, pois, antes de tudo reparar os damnos começando por levantar as que jaziam no chão e que, graças á poderosa vitalidade da especie (ficus religiosus) radicaram de novo, apresentando hoje quasi o mesmo aspecto as que foram simplesmente descarregadas, e bracejando com vigor extraordinario aquellas a que se applicou a poda secular.

A causa principal do prejuizo que as arvores soffreram não estava tanto na intensidade do vento como na pouca resistencia que a planta podia offerecer, pelo desmesurado comprimento dos seus ramos. Concluido este serviço de reparação, prosseguiu com rapido andamento a construcção dos viveiros, para os quaes se tinha escolhido local junto ao jardim da Flora, em um espaço limitado ao sul pelo muro do mesmo jardim e ao norte pela parede sobre que corre o cano da fonte que está junto á estrada.

Era o terreno inclinado e cheio de barrancos, de modo que foi necessario bastante trabalho para o nivelar e compor a geito para o fim a que era destinado. Dividindo-se o viveiro em duas partes, ficando uma para reproducções por meio de estaca e a outra para sementeiras, sendo separadas entre si por uma esplanada de 40 metros de comprido rodeada de ailanthus, grevilias e outras essencias, que quebrando a monotonia do viveiro o transformam em local francamente aprazivel.

Terminado o serviço de nivelação ordenou-se uma cava de Om,70 não só para mobilisar a terra, como tambem para extirpar as raizes de grande quantidade de hervas e especialmente de escalracho que retalhavam o solo em todos os sentidos formando rede tão apertada, que difficilmente poderia vegetar qualquer planta que ali se collocasse.

A qualidade do solo era má pela sua constituição physica e mais ainda pela pobreza da sua composição chimica. É um producto de esphacelamento lento dos granitos que em alguns pontos se apresentam como verdadeiras leptynites, e dos quaes os silicatos de alumina foram arrastados em particulas tenues para as varzeas, ficando o quartzo como alimento mais pesado a formar a base quase exclusiva do solo. Urgia, pois corrigil-o para supprir a falta de azote, phosphoro e materia organica e para isso lançou-se mão do adubo de curral fornecido pelos cavallos da secção de cavallaria e pelos bois da camara municipal e das obras publicas. Como, porem, esses estrumes não estavam curtidos, porque á medida que eram levantados dos estabulos eram immediatamente incorporados na terra, foi necessario recorrer aos antigos depositos de lixos com que se tinha enxido algumas das depressões de terreno que fica por detraz do cemitério, e por esta forma foi possivel obter a massa de adubo necessario.

Para o anno futuro convem providenciar sobre esta materia, para evitar os embaraços que houve este anno, e para isso bastará formar uma estrumeira com duzentos carros de lixo, a que previamente se tenha tirado a pedra, misturando com cem carros de estrume de curral.

A parte superior do viveiro ficou reservada para as sementeiras de pinus sinensis, espressus japonica, aleuite triluba, ailanthus glandulosa, ponciana pulcherrima, e bem assim para a plantação de alguns pés de laurus camphora e de ficus elastica.

Das essencias reproduzidas por estaca a que obtivemos em maio e escala foi o morus alba do qual se reproduziram mais de tres mil pés, regulando em media entre trezentas e quatrocentas o numero de reproduções das outras essencias. Quanto ás sementeiras a de producção mais copiosa foi a de pinus sinensis da qual nasceram para cima de duzentos mil pés.

Não contando com os pinheiros, o viveiro poderá fomecer para o anno que vem cerca de seis mil plantas. Continuando os trabalhos de arborisação a merecer a desvellada attenção de V. Ex. a, o que aliás é de esperar, pode-se affirmar que no anno futuro ficarão completos os trabalhos de arborisação das estradas e muito adiantado o revestimento das montanhas, que tambem este anno recebeu impulso muito superior ao dos annos anteriores e de cujos resultados vamos dar em seguida resumida conta.

Vista geral da baía de Hac-Sá, Coloane. Slide de Wong Ho Sang.

Como medida de economia foram requisitados os grilhetas para abrirem as covas nas estradas e montanhas, serviço que começaram a executar em principios de Outubro, e que teve assim a vantagem de por em contacto com a atmosfera durante alguns mezes a terra das covas. Esta correcção não era sufficiente para modificar a pessima qualidade do solo, por isso foi necessario recorrer aos lixos, que foram abundantemente empregados na estrumação das covas.

Em principios de janeiro começou a plantação de estacas, que na sua quasi totalidade foram fornecidas pela poda que ao mesmo tempo se executava nas antigas arvores das estradas e do cemiterio inglez. Estas ultimas foram graciosamente postas á nossa disposição pelo digno consul inglez Mr. Murray que obsequiosamente permittiu o corte dos ramos de que careciamos.

Foram dispostas aproximadamente duas mil e trezentas estacas, quasi todas de ficus religiosus, repeus e retusa; egraças á estrumação, á profundidade a que foram enterradas e aos minuciosos cuidados de que foram objecto, vingaram duas mil que hoje apresentam um vigor de vegetação superior ás estacas de tres annos que geralmente ahi se vêem.

Como das sementeiras dos viveiros sobejou bastante quantidade de semente, especialmente de pinus sinensis, foi toda empregada nas montanhas e semeada a covacho. Para vigiar as sementeiras, evitando que o gado entre n'ellas e as inutilise, e para ao mesmo tempo obstar ás depradações dos chinas nas arvores postas de estaca, foram nomeados quatro loucanes que tem feito bom serviço. (...)”.

(Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro --Relatório da Arborização de Macau, relativo a Junho de 1883/1884 -- in B. P. M. T. de 20 de Junho de 1885 -- pág. 266, 267 e 279)

1885 -- “Uma cordilheira se estende e limita parte da cidade do lado L. [...] As encostas d’estes montes com uma enfezada vegetação n'uns pontos, escalvados n'outros, mostrando em vários sítios a natureza granítica do seu solo, apresentavam um aspecto desolador e triste ainda ha pouco, aspecto que actualmente vão já perdendo; e mais tarde serão formosissimos bosques, graças aos cuidados e interesse que sua Ex. a o Governador Roza tem tomado, em aformosear e beneficiar Macau com larga arborisação.

(...)

É limitada a peninsula ao SO por uma grande montanha, em cujo plateau assenta uma arruinada ermida -- monte da penha. A encosta da montanha que olha para a cidade é muito arborisada, produzindo encantadora vista; a que olha para o mar descae escabrosamente até à fortaleza denominada da Barra. O resto da cidade é quasi todo plano."

(Augusto Pereira Tovar de Lemos --Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor, referido ao ano de 1885, datado de 1 de Fevereiro de 1886- pág. 149 in Boletim da Província de Macau e Timor -Série de 1886)

1885 -- "A utilidade que resulta da arborisação, o elevadíssimo papel que ella assume na hygiene publica é tão conhecido e demonstrado que me abstenho de demorar, repetindo o que já é do dominio publico. Basta que diga que breve se devem sentir os beneficos efeitos da cultura emprehendida pelo Ex. mo Sr. Governador.

O arvoredo que, tirado d'um viveiro da quinta da Flora cuidadosamente tratado foi transplantado para varios pontos da cidade e em especial para a cordilheira que por E circunda o grande largo denominado Flora, já hoje se apresenta viçoso e bonito. A cultura é em larga escala, e entre os cinco ou seis annos lucrarão a hygiene e o aformoseamento da cidade. Aquelles montes que pela sua nudez, pelo seu granito, e rochas em pontos a descoberto impressionavam tristemente o viajante, aqueles montes que pela sua natureza mais convidavam a trabalhos de dynamite, e mais pareciam proprios a fornecer pedra para construção de casas, do que para alimentar em seu seio um vegetal qualquer, converter-se-ão em formosos cerrados bosques. O estrangeiro que visitar Macau receberá as mais gratas impressões.

Segundo se vê no relatorio feito pelo agronomo o Ex. mo Sr. Tancredo do Casal Ribeiro, plantaram-se por duas vezes em julho de 1883 e março de 1884 as seguintes especies.

Pinus sinensis..................... 20,000 pés

Cupressus japonica.............. De cada uma 300 pés

Aleurites triloba..................

Ailanthus glandulosa..........

Poinciana pulcherrima........

Laurus camphora................

Ficus elastica......................

Erytrina...............................

Morus alba..........................3,000 pés

Já depois d'isso mais alguns milhares se tem posto, e actualmente em grande actividade se continua no mesmo trabalho."

(Augusto Pereira Tovar de Lemos --Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor, referido ao ano de 1885, datado de 1 de Fevereiro de 1886- pág. 163 -- in Boletim da Província de Macau e Timor -Série de 1886)

1885 -- "Mostrar aqui quaes as muitas vantagens da arborisação, indicar quanto lucrará a cidade de Macau, quando as suas montanhas aridas e escalvadas ha pouco, se apresentarem cobertas com um luxuriante tapete de verdura, patentear os beneficos resultados, que a hygiene, a salubridade e o aformoseamento da cidade alcançarão, quando a arborisação, assás e devidamente desenvolvida e espalhada, transformar esta terra calida e ardente, n'um ameno e ridente bosque de arvoredo, não é intento meu, porque são bem conhecidas estas vantagens, e em toda a parte, e por todos, é recomendada a arborização, como um dos meios mais efficazes, para conseguir o saneamento do solo e das camadas atmosphericas.

Foi Chevreul quem reconheceu, e provou a grande influencia, que, sobre a salubridade dos terrenos, têem as arvores que, com o seu crescimento e desenvolvimento, lhes roubam as substâncias susceptiveis de se alterar, e que podem vir a ser causas proximas e remotas de infecção.

Por outro lado as experiencias de Scoutetten provam claramente, que as plantas exhalam durante o dia grandes quantidades d'ozone, gaz eminentemente proprio á combustão dos effluvios organicos de corpos em decomposição, e extraordinariamente desinfectantes.

E Pasteur, esse homem hoje respeitado e admirado em toda a parte, quando disse, "il est au pouvoir de l'homme de faire disparaitre les maladies parasitaires. ", apresentou, como um dos principaes meios para conseguir este fim, a arborisação e as plantações urbanas, e nas estradas.

Por estas rasões, e para attender tambem ao aformoseamento da colonia, e commodidade dos seus habitantes, que assim facilmente encontram agradavel sombra durante os excessivos calores, que são aqui usuaes, esta direcção tem-se esforçado por plantar o maior numero d'arvores, como facilmente se deduz do mapa, que acompanha este relatorio, onde vem designadas todas as plantadas, e que vingaram nos ultimos tres annos.

E é bom de notar que, além d'estas, muitas outras, simplesmentte de adorno, foram collocadas nos differentes jardins, e muitos milhares de pinheiros, que foram dispersamente semeados por todas as montanhas de Macau, já hoje apresentam um satisfactorio estado de desenvolvimento, e em breve farão desapparecer a aridêz d'aquellas regiões graniticas.

No anno findo, a que mais especialmente me devo referir, foram plantadas em varios pontos 5344 arvores, e no viveiro da Flora, cujos canteiros foram destinados, uns á reproducção por meio de estaca, e outros ás diversas sementeiras, existem actualmente para poderem plantar-se no futuro as seguintes arvores:

Melia azederack L.

em

56canteiros

5.55

Ficus retuza L.

"

lang=EN-US>12"

2.588

Poinciana pulchemma L.

"

lang=EN-US>10"

476

Ficus nervosa Roth

"

lang=EN-US>2"

90

Wax-tree(?)

"

lang=EN-US>2"

104

Erythrina indica Lamk

"

lang=EN-US>1"

105

Aleurites triloba spr.

"

lang=EN-US>1"

37

Ficus elastica Roxb.

"

lang=EN-US>1"

50

Laurus camphora L.

"

lang=EN-US>1 "

30

Syzygium nervosum DC.

"

lang=EN-US>1 "

80

Ficus Wightiana Wall

"

lang=EN-US>6"

1.296

Ailanthus pomgelion BI.

"

lang=EN-US>3"

1.800

 

lang=EN-US>

lang=EN-US>"

lang=EN-US>Somma

12.206

 

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(José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. — Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1885, datado de l de Julho de 1886 — pág. 357 — in Boletim da Província de Macau e Timor, de 14 de Setembro de 1886 — Suplemento ao n. ° 36)

1886 — "Relativamente á arborisação continuou este serviço em grande escala. Plantaram-se, como se vê no mappa junto, 6/813 arvores, isto é mais 1469 do que no anno anterior, e no viveiro da Flora cujos canteiros são destinados uns á reproducção por estaca outros a sementeiras existem actualmente para serem plantadas no futuro as seguintes arvores:

elia azederack L

 

elia

azederack L.

3:640

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Ficus retusa L.

2:200

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Aleurites

triloba Spr.

7/4

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Poinciana

pulchemma L.

334

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Ficus elastica Roxb

197

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Wax-tree(**)

34

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Ficus wightiana Wall

204

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Laurus camphora L.

84

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Erytrina indicaca Lamk

110

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Jatropha curcas L.

166

lang=EN-US>Allanthus pongelion B.L

lang=EN-US>1:800

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Palmeiras(**)

149

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lang=EN-US>Café(**)

426

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Somma

9:418

 

(José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. — Relatório Sobre Obras Públicas relativo ao Ano de 1887- pág. 370 — in Boletim da Província de Macau e Timor, de 3 de Novembro de 1887)

1887 — O grande promotor de Macau e benemérito das suas zonas verdes foi o governador Tomás de Sousa Rosa (1883-1886). Era tão entusiasta que em vez de dar ordens do seu gabinete, ia ele próprio ensinar como isso se fazia, segundo informa o eng. Adolpho Loureiro no seu livro No Oriente — De Nápoles à China, referindo-se à visita que ele e o governador Rosa fizeram em 1883 aos viveiros da Flora: "Aqui estivemos examinando os viveiros e as sementeiras florestais, para as quais o meu bom amigo Rosa teve muitas vezes de empunhar a enxada para ensinar os chins como qualquer saloio dos arredores de Lisboa sabe fazer os alfobres, os machos e as regadeiras. A arborização daquelas encostas vai auspiciosa, e grande serviço presta o Governador ocupando-se de tão grande melhoramento. Como aqueles sítios serão bonitos, quando os terrenos esbranquiçados, cortados de sulcos abertos pelas águas das chuvas, áridos e secos, estiverem vestidos de verdura!..."

O Conde de Arnoso, que veio com Tomás da Rosa a Macau em 1887, escreveu no seu livro Jornadas pelo Mundo, p. 116: "A península de Macau, cercada de ilhas, pequena como é, com a sua várzea fertilíssima e as suas seis colinas dum relevo gracioso -- Guia, Penha de França, Mong-Ha, D. Maria e Gruta de Camões é tudo quanto se possa imaginar de mais pitoresco. Quando daqui a alguns anos as sessenta mil árvores, criadas e mandadas plantar por Tomás Rosa, e que parecem vingadas, cobrirem com a sua sombra aquelas encostas, Macau será um verdadeiro paraíso e concorridíssima estação de Verão do Extremo Oriente. Já agora os habitantes de Hong-Kong procuram, no clima natural de Macau, um refúgio aos excessivos calores desta quadra. É com verdadeiro prazer que um português se encontra em Macau mesmo depois de ter visitado Aden, Colombo, Singapura, Saigão e Hong-Kong, onde os ingleses e franceses, a peso de ouro, têm criado estabelecimentos de primeira ordem. Nada nos envergonha".

(Carlos José Caldeira -- Macau em 1850 --Quetzal Editores -- Lisboa/1997 -- págs. 64/65)

1888 -- "Tem progredido o serviço d'arborisação geral como se pode inferir do mappa n. ° 3 onde tambem está mencionada a sua importancia. A ausencia de tufões durante estes ultimos annos deu logar a que as arvores dispostas n'uma orientação adequada e beneficiadas pela natureza do terreno se tenham desenvolvido, concorrendo poderosamente para o aformoseamento e para a hygiene da cidade. (...)"

Amancio de Álpoim de Cerqueira Borges Cabral- Director das O. P -Relatório Sobre as Obras Públicas relativo ao ano económico de 1888 a 1889, datado de 1 de Julho de 1889 -- in B. P. M. T., de 3 de Dezembro de 1889 -- Supl. ao n. ° 48-pág. 372)

RELATOS SOBRE OS JARDINS DE MACAU

OCódigo das Posturas Municipais e Disposições relativas a Jardins

1871 -- (X1-21) Data da aprovação da revisão, actualização, integração e síntese das posturas municipais, neste codigo, em sessão do Leal Senado da Câmara, o qual veio a ser publicado nas págs. 122 a 124 do B. P. M. T. de 1872:

CAPITULO X

Disposições relativas aos jardins publicos

Art. ° 72. ° É prohibido cortar, ou arrancar flores, ou outras quaesquer plantas dos jardins publicos, sob pena de $1 de multa.

Art. ° 73. ° É prohibida a entrada nos jardins publicos a maltrapilhos, mendigos, ou pessoas trajadas indecentemente, embriagados, ou que por qualquer circumstancia offendam a moral publica, sob pena de $2 de multa.

O jardim de S. Francisco

1882 -- "O principal jardim da cidade é o de S. Francisco, no fundo do qual existiam os restos duma cascata a desmoronar-se, e que foi reconstruída, dando-se uma nova disposição, tendo também sido substituído na casa do guarda o madeiramento do telhado, que tinha sido destruído pela formiga branca. O jardim é cercado duma balaustrada, que também foi reparada.

Como o prédio em que o Tribunal da Procuratura actualmente funciona tinha vizinho ao jardim de S. Francisco um quintal que deixaria de ser aproveitado, apesar do governo satisfazer ao mosteiro de Sta. Clara a renda correspondente, trata-se de o reunir ao jardim para recreio do público, por isso que no quintal existem algumas árvores frondosas, cuja sombra deve ser bastante agradável, na estação calmosa. E como o jardim de S. Francisco não tem árvores desenvolvidas, mas apenas arbustos e flores, deve tornar-se digno de muito apreço o acrescentamento que vai ter e ainda seria para desejar que se lhe acrescentasse um canto do largo de S. Francisco, onde se acham uns casebres, e de modo que ficassem incluídas no jardim as duas copadas e formosas árvores que ali existem."

(Constantino José de Brito -- Boletim da Província de Macau e Timor, de 15 de Fevereiro de 1883 -- Suplemento ao n. ° 6 -- Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1882, datado de 30 de Janeiro de 1883 -- págs. 41 a 47)

1885 --"... poucos foram os trabalhos ali feitos durante o anno findo.

Limitaram-se, anteriormente á minha chegada á colonia, a uma rampa com uma rua em. zig-zag n'um sitio onde um muro de supporte abatera com as chuvas, e eu restringi-me a mandar collocar pequenos degraos de cantaria n'essa rua de declive muito aspero, batel-a empregando beton para ser de maior duração, continuar em volta da mesma rampa a balaustrada exterior e fazer outros pequenos concertos, quer nos kiosques, quer nas outras ruas. A despeza feita pois com este jardim é devida principalmente aos ordenados, pagos ao encarregado e serventes, ali empregados."

(José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. -- Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1885, datado de 1 de Julho de 1886 --pág. 356 -- in Boletim da Província de Macau e Timor, de 14 de Setembro de 1886 -- Suplemento ao n. ° 36)

1888 -- "(...) pela sua exposição á monsão de sudoeste e por estar mais proximo das habitações europeas, attrahe a concorrencia geral sobretudo nas tardes em que toca a banda da guarda policial. Parece-me que este recinto deveria ser entregue aos cuidados do Leal Senado que custeando já as despesas da sua illuminação, poderia promover maior incremento ás diversões populares e dar-lhe a feição mais adequada aos habitos e costumes dos habitantes da colonia.

(Amancio de Álpoim de Cerqueira Borges Cabral -- Director das O. P. -Relatório Sobre as Obras Públicas relativo ao ano económico de 1888 a 1889, datado de 1 de Julho de 1889 -- in B. P. M. T, de 3 de Dezembro de 1889 -- Supl. ao n. ° 48 --pág. 371)

O jardim do Chunambeiro

1882 -- "O jardim do Chunambeiro é muito açoitado pelo vento, de modo que se torna inteiramente impossível fazer ali medrar quaisquer plantas mimosas, e por isso estabeleceu-se nele um jogo de bola para recreio dos rapazes."

(Constantino José de Brito -- Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1882, datado de 30 de Janeiro de 1883 -- in Boletim da Província de Macau e Timor, de 15 de Fevereiro de 1883 --Suplemento ao n. ° 6 -- pags. 41 a 47)

1885 -- "No jardim do Chunambeiro nada fiz. É muito batido pelo vento, e apenas o julgaria para ser frequentado durante as noites de calma, se estivesse devidamente arranjado e iluminado."

(José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. -- Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1885, datado de 1 de Julho de 1886 --pág. 356 in Boletim da Província de Macau e Timor, de 14 de Setembro de 1886 --Suplemento ao n. ° 36)

1887 -- (VI-16) -- O Processo N. ° 330 --Série R -- da Adm. Civil (A. H. M.) contém documentação sobre as reparações a fazer no Jardim do Chunambeiro.

(Beatriz Basto da Silva -- Cronologia da História de Macau -- 3. ° Vol.)

O jardim particular da "horta da Mitra"

1882 -- "Ao Leal Senado da Camara foram indicadas as providências seguintes:

Atender prontamente ao estado insalubre em que se acha o jardim particular que faz parte da mesma horta, com entrada na rua do Campo, por haver ali uma espécie de tanque que provavelmente serve para rega, mas que é um verdadeiro pântano por conter pedaços de madeira, ramos e folhas em decomposição, e além disso densas matas, muitos detritos vegetais e outros, madeira velha exposta à chuva e ao sol, e nenhuma limpeza e cuidado em tudo."

(Lúcio Augusto da Silva -- Relatório do Serviço de Saúde Pública na Cidade de Macau, Relativo ao Ano de 1882, datado de 30 de Março de 1883 --Boletim da Província de Macau e Timor -- Série de 1883 --págs. 188 a 211)

Jardim da gruta de Camões: proposta de museu, jardim zoológico e botânico

1885 -- Bairro de S. António: " Do lado N fica a casa ou palacete e uma formosissima quinta; cujo dono ha pouco era o sr. Comendador Lourenço Marques, e que actualmente pertence ao estado. N'esta quinta está a gruta histórica de Camões. Foi esta importantissima e formosa propriedade comprada ha pouco pelo Ex. mo Sr. Governador Thomaz Roza, logo que soube que o proprietario a negociava com os missionarios francezes. Por 35:000 patacas se satisfez um dever patriotico, por todos sentido e já pela illustrada sociedade de Geographia lembrado, por ocasião da celebração do tricentenario do Camões.

Descrever a belleza d'aquella quinta, fallar d'aquellas gigantescas arvores, cujas, raizes abraçando caprichosamente as rochas, encantam e extasiam o observador, não é para aqui, nem eu, por incompetente, assumiria tal encargo. Muitas aplicações pode ter tal vivenda, supponho porem que a melhor entre todas, e a que está lembrando aos que a conhecem, é para museu, jardim zoologico e botanico. Em melhores condições naturaes não está de certo o bello e novo museu em Singapura. A idea não é minha, mas seguramente applicação melhor e mais conveniente não pode ter. Corre que ha muito em tão importante e instructivo melhoramento pensa o Ex. mo Sr. Thomaz de Souza Roza. Se conseguir realisal-o, é mais uma obra grandiosa do seu governo.

Em linha com a entrada de tão formosa e encantadora vivenda estão extensas ruínas, esqueletos de doispalacetes, triste recordação do anno de 1874. Pertencem ao mesmo sr. Commendador Lourenço Marques. Diz-se que o seu proprietario tenta de novo erguei-os para arrendar, pois que para si destina parte do grande palacio, que formando do lado SOa face do quadrado do espaçoso largo, foi agora erguido sobre as ruínas d' um outro palacete que o mesmo tufão em intima alliança com um voraz incendio, conseguira abater. Igual sorte ia tendo a igreja de Santo Antonio que fica ao S. Em geral os edificios d'esta freguezia são de modesta apparencia." (*13 págs. 149 a 154)

(Augusto Pereira Tovar de Lemos -- Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor, referido ao ano de 1885, datado de 1 de Fevereiro de 1886- págs. 149 e 154 -- in Boletim da Província de Macau e Timor -- Série de 1886)

1885-- "No jardim da gruta de Camões, fizeram-se trabalhos mais importantes. Levantou-se um grande muro, que abatera com as chuvas em que se despenderam $430,00. Abriram-se novas ruas, construiu-se um pequeno jardim com canteiros limitados por pedras britadas e de cores differentes, compraram-se em Cantão muitas plantas para o adornar, bettonaram-se muitas ruas, empregando uma dosagem tal, que resistisse ás chuvas, como de facto tem succedido, construiu-se um viveiro com canteiros limitados de tijolo vermelho, levantou-se provisoriamente um kiosque de bambú e óla para a banda de musica, mandaram-se fazer 20 bancos de madeira, que custaram $120,00, picaram-se todos os degráos de cantaria ali existentes, e fizeram-se outros trabalhos para adorno e embellezamento.

Este sítio, ultimamente adquirido pelo governo, não só pela tradição historica, que lhe está ligada, mas por ser um dos pontos mais bellos e pittorescos de Macau, merece que se lhe preste uma grande attenção, e não hesito em confessar, que esta direcção não tem tempo nem pessoal para cuidar devidamente.

É n'este sitio, que se ergue a gruta, onde, si vera estfama, o nosso eminente epico, Luiz de Camões, compôz parte do seu magnifico poema,. conhecido hoje em todo o mundo civilizado, e traduzido em quasi todas as linguas.

Esta gruta formosissima achava-se precedida por um portico de alvenaria, e tapada com uma grade de madeira, que a desfeiavam bastante, e sobre ella levantava-se um kiosque de pouco gosto e em máo estado. Tudo isto foi arrancado, conservando-se apenas a obra da natureza, devendo mais tarde este local ser devidamente adornado.

O que ha a fazer aqui? Muito, mas a verba distribuida é tão pequena, que pouco sobrará depois de pagar as despezas ordinarias. E é pena isto. Ha aqui local proprio para se construir um lago, cujas aguas, subindo por meio de bombas, de poços existentes ali, desçam depois formando repuxo. Tem espaço para reter alguns animaes mais raros, e tornar-se assim de curiosidade zoológica, e o viveiro, já mencionado, e magnificamente disposto para ali se dislfibuirem, por classes e familias, differentes plantas, podendo fazer-se assim um attencioso estudo da flora da colonia, o que com certeza é util e instructivo.

Apezar porém de tudo isto, da falta de meios, de tempo e de pessoal, eu jamais descurarei este local, que a cidade de Macau tanto deve appreciar, e que por tantos motivos lhe deve ser caro".

(José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. -- Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1885, datado de 1 de Julho de 1886 -- pág. 356 in Boletim da Província de Macau e Timor, de 14 de Setembro de 1886 -- Suplemento ao n. ° 36)

1885 -- "Embora o processo para aquisição do Jardim de Luís de Camões fosse desencadeado pelo antigo Capitão "do Porto de Macau, João Eduardo Scarnichia, quando deputado no Parlamento de Lisboa, em Maio de 1880, só perante o desejo dos Padres das Missões Estrangeiras de Paris para ali instalarem um sanatório é que se retomou o processo. Foi então que o Governador Tomás de Souza Roza telegrafou ao Ministro da Marinha e Ultramar, Manuel Pinheiro Chagas e, devidamente autorizado, antecipou-se aos franceses, comprando a propriedade à família Marques".

(Beatriz Basto da Silva -- Cronologia da História de Macau -- 3. ° Vol.)

1886- "Nos jardins do Chunambeiro, de S. Francisco e da Gruta pouco ou nada se fez de novo. Apenas n'este ultimo se construiu um pequeno tanque onde a agua, vindo d'um reservatorio collocado a grande altura, cahe em forma de repuxo. A despeza pois feita este anno nos jardins foi apenas a despeza de conservação". (*16-pág. 370)

(José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. _ Relatório Sobre Obras Públicas relativo ao Ano de 1886, datado de 30 de Junho de 1887 --pág. 370 -- in Boletim da Província de Macau e Timor, de 3 de Novembro de 1887)

1888 -- "(...), o da Gruta de Camões muito visitado pelos estrangeiros por conter o monumento commemorativo, que A. Garrett tirou da obscuridade, (...)"

(Amancio de Álpoim de Cerqueira Borges Cabral- Director das O. P. -Relatório Sobre as Obras Públicas relativo ao ano económico de 1888 a 1889, datado de 1 de Julho de 1889 --pág. 371 -- in B. P. M. T, de 3 de Dezembro de 1889 -- Supl. ao n. ° 48)

Jardim da Flora

1883 -- "(...) prosseguiu com rapido andamento a construcção dos viveiros, para os quaes se tinha escolhido local junto ao jardim da Flora, em um espaço limitado ao sul pelo muro do mesmo jardim e ao norte pela parede sobre que corre o cano da fonte que está junto á estrada.

Era o terreno inclinado e cheio de barrancos, de modo que foi necessario bastante trabalho para o nivelar e compor a geito para o fim a que era destinado. Dividindo-se o viveiro em duas partes, ficando uma para reproducções por meio de estaca e a outra para sementeiras, sendo separadas entre si por uma esplanada de 40 metros de comprido rodeada de ailanthus, grevilias e outras essencias, que quebrando a monotonia do viveiro o transformam em local francamente aprazivel. (...)"

(Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro --Relatório da Arborização de Macau, relativo a Junho de 1883/1884, -- in B. P. M. T. de 20 de Junho de 1885)

1887 --Escreveu o Conde de Arnoso: "É deveras bonito o pequeno Palácio da Flora, habitação também do governador, e onde se vêem, ao lado dum jardim do estylo de Le Notre, os viveiros d'onde saíram as árvores que actualmente povoam as encostas de Macau".

(p.e Manuel Teixeira -- "Macau visto pelo Conde de Arnoso -- in Revista de Cultura -- n. ° 7 e 8 -- Ano II 2. ° Volume -- pág. 71)

1888 -- "(...) utilisado em parte para a manutenção de um viveiro de arbustos destinados a alimentar a arborisação geral. (...)"

(Amancio de Álpoim de Cerqueira Borges Cabral- Director das O. P. -Relatório Sobre as Obras Públicas relativo ao ano económico de 1888 a 1889, datado de 1 de Julho de 1889 -- pág.371 -- in B. P. M. T., de 3 de Dezembro de 1889 --Supl. ao n. ° 48)

O Jardim em Frente do Leal Senado

1887 -- (IV-22) -- O Processo N. ° 94 -- Série E -- da Adm. Civil (A. H. M.) aborda o embelezamento do jardim em frente do Leal Senado, hoje remodelado com total revestimento de «calçada à portuguesa» e transformado em vasta Praça de lazer, no coração da cidade.

(Beatriz Basto da Silva -- Cronologia da História de Macau -- 3. ° vol.)

Embelezamento da Praça Luís de Camões

1887 -- (VI-1) -- O Processo N. ° 97 -- Série E -- da Adm. Civil (A. H. M.) contém um projecto de embelezamento da Praça Luís de Camões.

(Beatriz Basto da Silva -- Cronologia da História de Macau -- 3. ° vol.)

Decorrido cerca de um século, depois desta revolução verde assente numa política de arborização metódica e de ajardinamento que transformou o território de Macau num local belo e aprazível, ocorreu uma nova revolução, a do betão armado, numa cidade que obrigatoriamente teria de crescer em altura e parece ter esquecido alguns dos princípios mais elementares da ecologia urbana, sobretudo uma ideia de Cidade-Nova para o século XXI. Em Macau, enquanto símbolos, as velhas árvores que restam integradas no tecido da cidade parecem resistir ao eclipse da memória daquele punhado de Homens, como Tomás da Ros'a, Lúcio A. da Silva, Demétrio Cinatti, Constantino de Brito, Tancredo Casal Ribeiro, José Horta e Costa, Abreu Nunes, Castelo Branco, que independentemente das funções que desempenharam, abnegadamente tudo fizeram para lançar as raízes dum Macau digno do século XX.

Fig. 1-Parque sun Yat-set. Slide de Mica Costa-Grande.

*Arquitecto. Experiência profissional com especial incidência nos domínios do urbanismo. Tem artigos publicados em jornais de grande circulação (Diário de Notícias, Jornal do Fundão, entre outros) e em revistas de cultura (Arte Opinião, Sema).

(**) Ignoro o nome botanico

desde a p. 171
até a p.