Macaenses / Redefinições

MACAENSES UMA SOCIEDADE EM MUDANÇA
(Resultados preliminares dum inquérito)

Ana Maria Amaro*

Página anterior: Arminda Maria dos Santos Ferreira, foto de c. de 1933. Tem hoje 78 anos e vive em Macau. Registo de uma imagem emblemática da cultura macaense, de antiquíssima tradição: a exibição da "Verónica" num dos passos da Procissão do Senhor dos Passos, uma das mais características manifestações religiosas da comunidade macaense.

Segundo Tonkin e Chapman (1989)1 cada grupo costuma seleccionar e recriar a sua história nosprocessos de construção de identidade e de autodefinição como tal.

Até à década de 60, os sócio-antropólogos identificavam os grupos étnicos como grupos cultu-rais. Foi então que o conceito de integração cultural foi desenvolvido como instrumento fulcral de com-paração para padronizar as mudanças étnicas.

Glazer e Moyniham2 identificaram os grupos étnicos como grupos de interesses e depois Cohen3 (1969 e 1974) conceptualizou a etnicidade (que al-guns autores fazem corresponder a identidade cultu-ral), como um fenómeno essencialmente político.

Deste modo, um grupo étnico (grupo com identidade cultural definida por traços ou unidades culturais e sociais significantes) seria um grupo cu-jos pilares de coesão seriam de ordem político-eco-nómica. Foi assim que, a partir dos anos 70, o con-ceito de etnicidade se transformou num conceito operatório, necessariamente definido ou sustentado caso a caso, porquanto nos diversos sistemas histórico-culturais, tanto a natureza como a forma das es-truturas políticas e económicas são necessariamente diferentes.

A relação entre a identidade cultural e a ma-nutenção dos limites da tecnicidade de cada grupo teria assim de ser previamente definida, tal como a interacção entre o grupo em estudo e os diferentes grupos étnicos, mais ou menos vizinhos e mais ou menos isolados, devendo ser ainda estudados os me-canismos de conservação e transmissão dos seus pa-drões, bem como o seu eventual abandono em parte ou no todo.

A investigação antropológica não pode pois ignorar, mas deve outrossim ter em atenção estas características fundamentais da etnicidade dos gru-pos (Epstein, 1978)4.

No âmbito desta investigação deve, também, incluir-se a transferência espacial de cultura e a ma-neira como as populações emigradas adaptam ao seu novo "habitat" os seus antigos usos e valores padro-nizados às vezes durante vários séculos. As soluções encontradas para esta adaptação passaram a ser en-caradas, recentemente, como indicadores relevantes da identidade cultural dos grupos (Lévy, Séguard, 1993)5, e como indicadores da sua resposta à mu-dança.

Mais recentemente, tem vindo a crescer o in-teresse da História pela definição (ou autodefinição) da etnicidade, não só no sentido de se analisar o passado de cada grupo como condicionante do pre-sente, mas também analisando-se a maneira como esse passado, que se experimentou e recriou, é utili-zado nessas definições6.

Foi esta a metodologia que adoptámos, na tentativa de compreender o epifenómeno que consis-te na mudança da sociedade dos macaenses filhos da terra 7.

Conhecemos em Macau, nos anos 60, as últi-mas nhonhonha, senhoras de 70 - 80 anos, que nos falavam, saudosas, dos princípios do século, do seu tempo de juventude e da mudança que os tempos da guerra tinham operado na sociedade macaense.

Contaram-nos as suas histórias, algumas bem dramáticas e, através delas, sentimos o rigor da estratificação social macaense, dos princípios rígi-dos da ética vitoriana que a sociedade inglesa de Hong Kong projectara na cidade portuguesa sua vi-zinha, e também o resultado da importância das cul-turas portuguesa e oriental que, a par da diversidade genética, imprimiu aos macaenses a sua identidade.

Recolhemos, então, dados valiosos acerca dos velhos e dos novos valores e usos dos macaenses, e da sua visão dos Outros (que não apenas o Outro), e das causas do seu isolamento como grupo.

Em Lisboa, nos anos 70, encontrámos um manuscrito inédito dum macaense ilustre do século XIX, o diário do escrivão de direito Francisco Antó-nio Pereira da Silveira. E foi partir dele que confron-támos e completámos os dados recolhidos entre as últimas nhonhonha macaenses, acerca da vida, em Macau, no século passado8.

Podemos, assim, considerar com certa segu-rança que a demarcação do grupo dos macaenses luso-descendentes começou pelo menosprezo que estes tinham pelos chineses (seus criados e emprega-dos noutros serviços vis), de quem justamente des-confiavam devido aos frequentes furtos e reconheci-das deslealdades de que eram vítimas. Igual menos-prezo tinham pelos portugueses europeus, desde que fossem soldados ou civis de baixa condição social, porquanto as mulheres orientais desde sempre deti-veram padrões de cortesia e higiene superiores aos dos homens do Ocidente que demandavam as suas terras. Daí a aculturação dominante se ter verificado, em muitos casos, no sentido Oriente-Ocidente, ex-pressa em novos padrões transmitidos pelas mães aos nhons seus descendentes.

Não é de surpreender este etnocentrismo, ou bairrismo, como se prefira classificar, porquanto a História nos legou o testemunho de quem eram os homens que afluíam a Macau, principalmente quan-do a cidade começou a perder o seu esplendor co-mercial.

No século XVIII, muitos destes homens eram degredados fugidos de Goa, aventureiros não só por-tugueses como de outras nações do Ocidente, e chi-neses em grande parte refugiados de Cantão e pro-víncias limítrofes, escapados à justiça mandarinal. Alguns, mantinham ainda ligações com piratas que, em certos casos, eram grupos embarcados, noutros, membros de Associações Secretas, que actuavam onde quer que houvesse riqueza. Em Macau, entre a população local, este termo pirata tem, por isso mesmo, um significado muito lato.

Quando nos finais do século XIX, com a mai-or segurança e brevidade das viagens dos barcos a vapor, começaram a afluir a Macau mulheres portu-guesas europeias, acompanhando militares ou funcio-nários superiores, a demarcação por rivalidade femi-nina acentuou-se.

O etnocentrismo, considerado racismo por muitos macaenses, que já era sentido relativamente aos portugueses do Reino, agudizou-se entre o ele-mento feminino. Um dos principais motivos de troça era o traje embiocado das mulheres macaenses e o seu colorido patuá, para não falar nos seus traços orientais, embora nalguns casos de grande beleza.

Se o português era denominado pejorativa-mente ngau sôk (cheiro a bovídeo), em consequência do seu cheiro forte a suor e modos geralmente violentos, a mulher europeia era vista pelas mulheres locais como a ngau pó (mulher bovídeo) ou fei pó — a mulher gorda, de grande nariz, e de grandes pés e ainda... de bigode e pelu-da, além de presunçosa.

Praticamente, só as famílias da melhor socie-dade da terra se relacionavam com as famílias europeias, sendo a estrutura social entre os macaen-ses, então, extremamente rígida. Ainda hoje, senho-ras de 80 anos dessas famílias mais principais de Macau, quando ouvem citar o nome de alguma famí-lia macaense de outro estrato, dizem, imediatamente que não conhecem. Por outro lado, mulheres de fa-mílias das 2.a e 3.a classes sociais, que eram por vezes filhas ilegítimas, ou que haviam enviuvado como segundas ou terceiras esposas legítimas de ho-mens de classe social superior, invocavam imediata- mente os seus bons apelidos, como símbolos de prestígio, quando eram apresentadas a alguém.

Se era assim no século passado e assim conti-nuou a ser durante o século XX entre elementos de certas famílias, a verdade é que a abertura à socieda-de chinesa, após a implantação da República na Chi-na e acentuada depois da Guerra do Pacífico, já se vinha a esboçar na segunda metade do século XIX, principalmente entre as famílias de menos posses e mais miscigenadas com elementos orientais. Com a mudança de mentalidades, decorrente principalmen-te das rudes privações que se sofreram em Macau nos anos da 2. a Guerra Mundial e com o afluxo de refugiados à cidade a par da saída de algumas famí-lias de mais elevado estatuto social, mudaram alguns velhos padrões que caracterizavam os macaenses como grupo cultural.

Nos anos 60, identificámos alguns desses pa-drões que usámos como indicadores da mudança en-tre a população macaense, dos quais isolámos os seguintes:

— uso de léxico próprio

— religião e prática religiosa (participação em novenas, confrarias, etc.)

— preferências por certo tipo de cônjuge

— modo de trajar

— noção de profilaxia e dietética e uso de mezinhas e práticas de medicina caseira

— culinária

— arte de batê-saia e costurinha — ocupação dos ócios e serões — relações intra e intergrupais.

Feito o levantamento para os anos 60, do qual demos a conhecer alguns traços gerais no livro "Fi-lhos da Terra", obra que pretendemos tomar de mera divulgação, comparámos esses dados com os que recolhemos no diário do macaense Francisco Antó-nio Pereira da Silveira (do século XIX) para avaliar a tendência de mudança que por observação partici-pante já prevíamos, e dirigimos em 1990/91 um in-quérito a uma amostra de 310 macaenses, optando pelo método de inquérito fechado, apenas com algu-mas questões abertas de fácil análise e dirigido a uma amostragem por quotas.

A fase seguinte do nosso trabalho consiste em fazer cruzamentos entre estes dados e os estatutos sócio-económicos, grupos etários e proximidade ge-nética com a população chinesa dos respondentes. Só então se poderão tirar conclusões mais significa-tivas.

Um primeiro facto a registar, porém, é o des-moronamento da rígida estrutura social que se verifi-cava ainda em Macau nos anos 60, entre a popula-ção macaense, se bem que já atenuada em relação aos verdadeiros tabus dos fins do século XIX e dos princípios do século XX.

É também certo que as famílias ditas princi-pais e aquelas que mais se afastavam dos padrões culturais chineses e da miscigenação, tentando reno-var o sangue europeu ou fazer alianças com famílias de igual ou superior estatuto social (muitas vezes casando-se tios com sobrinhos, primos entre si ou cunhados para se manter o estatuto, a linhagem e a economia), foram saindo a pouco e pouco de Macau, à medida que a economia local e/ou a estabilidade política se sentiam ameaçados. A guerra do Pacífico, a ocupação japonesa, a abertura à sociedade chinesa e a ameaça constante de nova crise prevista antes pelas convulsões que levaram à implantação da Re-pública, depois à revolução comunista e finalmente à revolta dos Guardas Vermelhos, foram alguns dos factores da emigração dos filhos de Macau, onde até há bem pouco tempo tudo sã primo-prima (v. mapa genealógico seguinte).

Os que ficaram estão em vésperas do mesmo dilema mas, desta vez, sem a esperança que, dantes, sempre lhes restava.

Por falta de dados oficiais, inexplicavelmente inexistentes em 19919, tivemos de partir da experi-ência dos estudos exploratórios realizados por nós durante mais de trinta anos, dezasseis dos quais de vivência em Macau, e do trabalho de Jorge Morbey, apoiado numa sondagem feita em 199010; admiti-mos, como hipótese, um universo de 2000 a 3000 indivíduos, cujos pais seriam ambos euro-asiáticos, um euro-asiático e um chinês, um euro- asiático e um português ou um português e um chinês, univer-so possível da nossa definição de macaense como o natural de Macau com ascendência e cultura origi-nais portuguesas.

Foi a seguinte a estrutura da nossa amostra:

Para um universo estimado de c. 2000 indiví-duos, foram recolhidos 350 questionários:

Grupo etário

Grupo

etário

Frequência

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Percentagem

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Percentagem

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das

respostas

válida

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20-29

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style="mso-spacerun: yes"> 68        

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21,0

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     21,8  

30-40

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144

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45,7

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     46,2  

45-59

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style="mso-spacerun: yes"> 48        

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15,2

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     15,4  

+59

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style="mso-spacerun: yes">  3        

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-

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        1

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yes">             

315

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100

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      100  

 

Dentro de cada grupo de idade, metade dos inquéritos foram dirigidos a elementos do sexo mas-culino e outra metade a elementos do sexo feminino. Os respondentes foram abordados nas repartições pú-blicas, escolas secundárias, no Hospital Conde de São Januário, nos três bairros mais populosos de Macau, nos Asilos e nas Ilhas da Taipa e de Coloane.

O presente trabalho consiste, apenas, na divul-gação de alguns resultados deste nosso inquérito e na primeira tentativa de interpretação das principais mu-danças encontradas.

Devido à limitação necessariamente imposta a este nosso artigo não analisaremos todos os indicado-res atrás referidos mas apenas alguns que considera-mos os mais significativos:

1. Linguagem

2. Religião e algumas práticas relacionadas

3. Preferência de cônjuge e festa de casamento

4. Recurso a práticas de medicina tradicional

5. Crenças mágicas

1. A LINGUAGEM

Quanto à linguagem, são duas as característi-cas comuns aos filhos da terra:

1. Uso dum léxico, com pronúncia regional, muito próprio;

2. Facilidade na expressão trilingue.

O dito patuá macaense ou falar da terra, que caracterizava os macaenses como grupo e perdurou principalmente no elemento feminino até meados do século XX, quando o conhecemos já em vias de ex-tinção, tende gradualmente a perder-se, embora se mantenham algumas expressões muito sabr'osas que, acreditamos e muito desejamos, possam vir a perdu-rar como afirmação de consciência de grupo.

Jovens macaenses num casamento celebrado na Igreja de S. Lázaro (c. 1937). Ainda se vêem, ao fundo da Rua Nova de S. Lázaro, fragmentos da antiga muralha da cidade.

Nos anos 60 havia, ainda em Macau, muitas se-nhoras de mais de 50 anos que falavam um patuá já menos rico do que o das suas avós, mas ainda vigoroso.

Perante os Portugueses de Portugal esforça-vam-se por torrá a nossa língua, mas a verdade é que nem a pronúncia dos érres, nem a sintaxe, nem as vogais mudas eram conseguidas pelas mais idosas.

Senhora macaense no dia do seu casamento com um europeu (Macau, 1927).

Este fenómeno era mais notável nas classes so-ciais menos favorecidas e mais miscigenadas com os chineses, num verdadeiro gradiente, e isto como refle-xo dos mais frequentes contactos com os europeus ou com os chineses, respectivamente, bem como devido às diferenças de escolarização que a maior ou menor posse de bens materiais proporcionava.

Sendo um grupo relativamente pequeno e fácil o acesso à escolaridade, principalmente a partir da segunda metade do século XIX, entre os varões maca-enses não se registavam praticamente analfabetos. O mesmo não sucedia com as mulheres.

No entanto, nos fins do século XIX, somente um pequeno número de mulheres portuguesas de Ma-cau não sabiam ler. Talvez se tratasse das últimas criações ou escravas então libertas, e de mulheres chi-nesas ou de outras etnias com cidadania portuguesa11.

Quando Hong Kong, a partir de 1841 - 42, se tomou num pólo atractivo para a imigração de maca-enses, que ali encontravam bons lugares nas firmas comerciais inglesas (que aproveitavam o seu conheci-mento do cantonense e o facto de serem portugueses), acentuou-se entre os filhos da terra o estudo e o aper-feiçoamento da língua inglesa.

Já antes, talvez a partir do século XVIII, por influência dos súbditos ingleses da Companhia das Índias radicados em Cantão e em Macau, muitos eram os macaenses das classes mais favorecidas que completavam a sua instrução indo a Penang ou a Singapura estudar inglês.

Pelo diário inédito do macaense Francisco An-tónio Pereira da Silveira podemos saber que, no Se-minário, se dava primazia ao estudo do Latim e da Língua Portuguesa e também da Francesa mas não da Inglesa, lacuna que ele próprio sentiu e por isso man-dou os seus filhos varões (que igualmente haviam frequentado o Seminário, escola das elites masculinas de Macau) a Penang, para aprender essa língua — considerada, com excepcional previsão, importante num futuro próximo, como veio a acontecer12.

Hoje, verificamos que continua a não haver analfabetos entre os macaenses, crescendo o número de indivíduos habilitados com cursos superiores:

Segundo os dados da nossa amostra, 53,9% dos inquiridos possui o curso liceal,

16,4% frequentaram o ensino básico,

12,2% frequentaram o ensino superior,

8,9% frequentaram o ensino primário e 8,6% o ensino técnico.

Outro aspecto curioso é o uso do cantonense como afirmação de grupo, quando os filhos da terra se encontram e conversam, principalmente fora da sua terra; precisamente esse mesmo cantonense que, dantes, as senhoras das famílias mais consideradas faziam luxo em ignorar, obrigando as suas bichas e criações a aprender português.

Há poucos anos, ouvi uma senhora portuguesa europeia afirmar, com certo despeito, que os macaen-ses não tinham educacão porque falavam chinês quando estavam na presença de metropolitanos.

Tentei explicar-lhe que isso era tão natural na sua forma de comunicar que não poderia considerar--se incorrecção. Eu própria acabara de cometer igual delito quando, reparando numa antiga aluna filha da terra que se encontrava no grupo, lhe dissera sem a mínima intenção de incomodar fosse quem fosse:

Uá! Hou lói n'gó m'kin nei! (Ah! Há muito tempo que não a via!) Curiosamente há poucos dias, um jornalista perguntou-me se eu achava que os maca-enses falavam bem ou mal o português. Será que nós podemos dizer que um alentejano, um minhoto, um mirandês, um brasileiro ou um africano dos Palops fala mal a língua portuguesa? Por mim acho que não. Eu gosto de ouvir os macaenses a falarem o português como o aprenderam na sua infância na sua terra. Uma língua viva tem, de ter, por força, os seus regionalis-mos; que me perdoem os puristas da linguagem.

2. A RELIGIÃO

Em Macau, desde os primeiros tempos que, tanto os chineses como outros gentios que se conver-tiam ao catolicismo, recebiam um nome português e passavam a vestir-se e a comportar-se como os de-mais cristãos. O nome era o do padrinho ou o dum Santo, o do Santo do próprio dia ou outro de grande devoção como, por exemplo, Pedro, Francisco, Antó-nio ou Inácio (de Santo Inácio de Loiola). O próprio apelido era, muitas vezes, também inspirado em no-mes de santos: Xavier, Rosário, Conceição, etc. Supo-mos, porém, que muitos dos padrões culturais dos cheng kau13, como sejam a culinária, a maneira de trajar e a medicina tradicional, por exemplo, nunca teriam sido profundamente alterados com a profissão do novo credo.

É de notar porém, em relação à prática religio-sa, que os macaenses — mesmo os que, fiéis à sua linhagem, mais se aproximavam quer genética quer culturalmente dos europeus — aliavam ao pensamen-to cristão dos seus avós o misticismo oriental, o que os levou a conservar até muito tarde e até a exagerar, por vezes, alguns velhos usos e crenças que se havi-am já perdido, em Portugal, nos princípios do nosso século nos centros urbanos.

Em Macau, ainda nos meados do século XX, todas ou quase todas as senhoras macaenses, fosse qual fosse o seu estatuto social, frequentavam a missa diariamente. Raros eram, também, os macaenses va-rões que faltavam à Missa dominical, nem à dos dias santos de guarda nem à desobriga Pascal, participan-do massivamente nas cerimónias da Semana Santa e nas procissões do Corpo de Deus e Senhor dos Pas-sos. No entanto, nesta altura, já nem todos os macaen-ses pertenciam, como dantes, a Confrarias e nem to-dos concorriam a todas as procissões, às quais nos fins do século XIX a maioria dos macaenses não fal-tava, tal como à Meditação das Quarentoras14, a que os bobos europeus sobrepunham o Carnaval agitado nas ruas, incentivando as tunas locais a imitá-los e incrementando os bailes e os assaltos que se tomaram grande moda nas primeiras décadas do século XX.

Casamento de dois jovens macaenses (anos 70).

Nos nossos dias, as antigas ideias conservado- ras e a devoção que caracterizava os macaenses de ambos os sexos já não são como eram nos anos 60. Se 95% das mulheres continua a seguir as práticas religi-osas com devoção, apenas em 62% dos homens tal se verifica.

Senhoras macaenses numa festa de Carnaval, no palacete de Lou Lim leoc, em Mong Há.

Os vestidos foram encomendados em Paris (ca. 1920).

Relativamente ao respectivo credo religioso, considerando os números totais (para 1991), verifica-mos que a população macaense de filhos da terra é constituída por:

94,9% Católicos, número bastante significativo

0,3% que professam outras religiões

1,0% que se dizem agnósticos, não tendo res-pondido à questão posta 2,6%.

Dos católicos:

32,7% vão à missa todos os dias

69,5% vão à missa aos domingos e dias santos

84,4% comungam uma vez por ano

92, 1 % (mulheres) vão a todas as procissões

52,7% (homens) vão a algumas procissões

As procissões que têm maior concorrência são, por ordem decrescente:

São João Baptista

Enterro do Senhor (Semana Santa)

Nossa Senhora de Fátima

Senhor dos Passos

Na véspera de Natal:

61,6% dos macaenses inquiridos armam o Presépio;

66 % armam a árvore de Natal;

67,9% vão à Missa do Galo;

47,9% beijam o Menino Jesus na Missa do Galo, prática ainda generalizada nos anos 60.

Na Ceia de Natal, 39,7%, nos nossos dias, co-mem bacalhau. Dantes comiam canja de peixe, práti-ca que hoje está reduzida a 8,6% dos respondentes.

Quanto à empada de garoupa com açafrão e pinhão no pires, ainda é preferida por 53,3% dos ma-caenses, ao passo que os doces tradicionais manta ou lençol, almofada e colchão do Menino Jesus (coscorão, fartes e aluá respectivamente), continuam a estar presentes na mesa da Consoada, sendo dada preferência ao aluá (71,4%), a velha alféola árabe que os portugueses adoptaram e porventura terão levado para o Oriente.

Quanto aos coscorões, são consumidos por 50,2% e os fartes por 31,7% dos inquiridos.

Também as filhós rodadas com o fái chi, à maneira das filhós em leque do Alto Alentejo, são ainda preparadas por 22,2% de filhos da terra.

Hoje, as estrelas e as grinaldas de papel na decoração das casas dos macaenses pelo Natal, des-tronaram as laranjinhas colocadas sobre os móveis que as suas avós e bisavós não dispensavam, revelan-do nítida e progressiva influência inglesa.

No futuro, a Igreja manterá liberdade de ac-ção consagrada pela Lei Básica (Arts. 25° a 43°.), com possibilidade de autogestão e de promoção de diálogo intercultural. Verificando-se grande hetero-geneidade nas comunidades que residem em Macau, bem como reconhecida falta de planeamento pasto-ral, parece-nos que esta tendência já esboçada para o afastamento das práticas religiosas poderá vir a acentuar-se depois de 1999.

No entanto, a futura ingerência do Governo da China na vida da comunidade macaense e também, como é óbvio, no funcionamento da Igreja, será tal-vez a maior ameaça à evangelização a partir desta data15.

Três jovens macaenses (c. dos anos 30).

O aumento de casamentos com chineses, prin-cipalmente de mulheres macaenses, noutros tempos inadmissível e rejeitado pelo grupo, poderá também levar ao afastamento das práticas religiosas, por falta de motivação do cônjuge, com reflexos inevitáveis sobre a educação religiosa dos filhos e também à mais ou menos lenta diluição de vários outros complexos culturais portugueses e/ou característicos dos filhos--da-terra.

Duas procissões católicas de grande devoção em Macau, nos anos 50:

Nossa Senhora de Fátima e Senhor dos Passos.

Aliás, embora predomine ainda a ascendência euro-asiática (61%) no grupo, a abertura à etnia chi-nesa, que se esboçava já no princípio do século XX, é já considerável nos nossos dias: 24,5% (no perfil fa-miliar identificado até à 2. a geração — avós).

3. RECURSO À MEDICINA TRADICIONAL

Em 1838, em documento enviado ao Reino pelo Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto, afirma-se que os macaenses se curavam preferencial-mente com os ditos mestres-chinas.

Nesta altura, a medicina ocidental era ainda pouco eficaz, perdendo credibilidade, em competição com a medicina tradicional chinesa essencialmente herbalística.

Quando os jesuítas mantinham no Colégio de São Paulo a sua famosa botica, as famílias gradas da terra tratavam-se de acordo com esta medicina oci-dental, das mais avançadas da época, a que se junta-vam as práticas caseiras de à-mas e parentes, herdei-ras das mulheres-hábeis que haviam curado durante muito tempo os seus familiares com as suas mezi-nhas. Mesmo as famílias mais abastadas e instruídas de Macau recorriam, em muitos casos, aos mestres-chinas mais famosos.

É Francisco António Pereira da Silveira, cujo diário já atrás referimos, que nos conta como se tratou seu irmão Gonçalo de mal de hemorróidas, que vieram a degenerar no tumor maligno que o vitimou. Enquanto o mestre-china mais famoso do Bazar conseguiu bons resultados não foi chamado o médico português, que só numa fase final veio receitar... sanguessugas e o acompanhamento por uma enfermeira.

No futuro, as práticas da medicina chinesa que estão a ser objecto de estudo em escolas superiores da República Popular da China, é natural que venham a impôr-se de novo à população de Macau que continu-ar a residir no território, uma vez que venham a acen-tuar-se, como supomos, os casamentos mistos, ten-dência já hoje bem evidente.

O recurso a mezinhas de casa e aos mestres--chinas (ervanários), dominante ainda nos princípios do século XX como práticas curativas, ao que parece, estão em vias de extinção.

Nos anos 60, as senhoras macaenses de grupos etários superiores a 40 anos ainda mantinham as suas mezinhas de casa para doenças consideradas de pe-quena gravidade, tais como calor, influenza, sarampo, varicela, helmintíase, maquifum e canta-galo (espinhela caída e/ou buxo voltado). Além das frescu-ras, suadoiros e mezinhas específicas para outros ma-les, usavam mezinhas de cortá-sangue em casos de hipertensão e de engrossá-sangue em caso de hipotensão e debilidade. Era famosa a utilização de raiz de Aralia sp. em fraqueza feminina (infertilidade) e havia, também, senhoras muito hábeis a preparar chás abortivos e afrodisíacos.

Havia ainda quem frequentasse as man héong pó receando savan, bagate ou mau ar 16.

Hoje, estas práticas caseiras estão a perder-se, embora muitos suadoiros e muitas frescuras de tradi-ção chinesa e/ou macaense logrem perdurar, bem como certas dietas consideradas eficazes.

42,9% dos respondentes ao nosso inquérito consideram ainda que, após o nascimento duma crian-ça, a mãe deve comer canja de gengibre;

26,7% preferem para esse fim a galinha-chau-chau-parida, receita local variante da anterior.

Porém, apenas 3,8% continuam a dar aos re-cém-nascidos, como primeira refeição, arroz cozido mastigado pelas mães;

18,1% dos inquiridos consultam o mestre-china (ervanário);

17,1% consultam o médico chinês;

66,7 consultam o médico europeu;

17,5% continuam a tomar chás caseiros e chás de ervanário;

12,4% utilizam a acupunctura;

10,2% utilizam a velha prática de ruçá.

Apenas 7% (senhoras de grupos etários mais elevados) continuam a usar a prática de pinchá e 1,6% considera útil fumá (com chiquia de pano con-tendo arroz cozido quente e gengibre contra dores reumáticas ou luxações);

3,8% raspam mordecing contra enjôo;

5,4% tomá bafo contra tosse e rouquidão.

Um grupo de macaenses representativo da comunidade, anos 70, à porta do "Café Solmar". O "Solmar" é um tradicional centro de reunião de tertúlias da sociedade macaense, cenáculo de crítica política e de málínguar. Ainda hoje existe um grupo de crónicos ou históricos do "Solmar". Partindo do centro (em primeiro plano) em sentido directo:

Herculano Silva da Rocha, Amílcar Peres, Eng° Humberto Rodrigues, escritor Adé dos Santos Ferreira, Dr. Delfim Ribeiro e Hugo Silva.

Se estes números não fossem suficientes para comprovar o inexorável abandono destas velhas práticas, que quase todas as senhoras conheciam ain-da nos anos 60, parecem-nos irrefutáveis as seguin-tes percentagens:

36,8% dos macaenses inquiridos declaram conhecer estas velhas práticas curativas mas já não as usarem, e 26% nem sequer já as conhecem.

A verdade, porém, é que, se estão em vias de se perderem, não podem, ainda, considerar-se extintas.

4. PREFERÊNCIA DE CÔNJUGE E FESTA DE CASAMENTO

A tendência para casamentos com chineses é evidente, embora a preferência pela homogamia continue a dominar entre os filhos da terra.

Quanto à preferência do cônjuge e festa de casamento registámos as seguintes percentagens:

31,7% admitem preferir um cônjuge euro-asiá-tico; 19,7% admitem preferir um cônjuge chinês;

16,5% admitem preferir um cônjuge europeu.

Daqui se verifica a tendência para inversão de preferência antiga.

Quanto à festa de casamento que, dantes, era um chá gordo, seguido de grã ceia noite adiante e, nos anos 60, era um copo de água, aliás ainda um verdadeiro chá gordo, embora já despojado dos anti-gos enfeites, de papel recortado mas com mesas pri-morosamente decoradas, e não raramente com bo-necas vestidas com saias franja além de confeitos, auspiciosamente armados em forma de cacho de uvas, hoje, tende a ser substituída por um jantar chi-nês num restaurante (42,2%), seguido, em preferên-cia, por um bufete (31,7%) e só por um chá gordo por 26,7% dos informantes.

Para bolo de noiva é preferido, por ordem de-crescente, o cake (74%) de influência inglesa, optan-do 33,7% da nossa amostra por pão-de-ló de influên-cia portuguesa.

23% preferem este bolo decorado com flores;

20,3% preferem-no decorado com flores cor--de-rosa, preferindo-o decorado com flores brancas apenas 15,6%.

A inversão de gostos é aqui, curiosamente, no sentido inverso da anterior já que a cor branca, lutuosa para os chineses e, daí, de mau agoiro, ti-nha de ser, dantes, quebrada pela cor vermelha ou rosa.

5. CRENÇAS EM INFLUÊNCIAS SOBRENATURAIS

Outra característica muito própria da etnicidade macaense, nos anos 60, era a crença e o temor nos Kwâi 17(impropriamente considerados al-mas penadas no sentido do Ocidente):

45,1% dos macaenses continuam a acreditar na existência dos kwâi;

Destes porém, só 38,2% acreditam nos malefícios destes kwâi e receiam-nos;

Apenas 15,7% acreditam em bagate (feitiço, muitas vezes feito por intervenção dum kwâi);

Mas somente 6,1% consultam uma man héong pó (mulher de virtude chinesa que interroga as divindades, faz rezas, e provoca e desfaz bagates) para o combater.

Quanto ao savan (mau ar, mau olhado), cren-ça muito generalizada em Macau nos anos 60 - 70:

41,5% declaram que conhecem o mal causado por savan mas não acreditam nele;

39,1% desconhecem, já, sequer o que isso seja;

19,4% continuam a acreditar nessa má influ-ência.

Relativamente aos males de susto, poucas eram as senhoras de Macau que não acreditavam no valor das defumações e principalmente no valor des-tas práticas na desinfecção das casas e afastamento de doenças e de outros males. Hoje, só ainda 17% da nossa amostra acredita na eficácia das defumações principalmente contra susto infantil (11,4%), contra maus olhados (9,5%) e contra tosse-convulsa (1,3%).

Para afastar as más influências: 1 2,4% usam amuletos e 35,6% bentinhos, dando 15,9% dos in-quiridos a sua preferência aos cordões roxos do Se-nhor dos Passos.

No nosso inquérito abordámos, ainda, outros elementos e complexos culturais possíveis de com-parar com os que registámos nos anos 60, por obser-vação participante.

Contudo, para não alongarmos demais este artigo, resolvemos apresentar apenas estes cinco exemplos cujo conjunto parece, realmente, apontar para uma futura desagregação da identidade cultu-ral dos macaenses que, porventura, resolvam conti- nuar a viver em Macau, nessa sua cidade que já foi linda, uma jóia luso-asiática onde nasceram os fi-lhos-da-terra, o produto mais conseguido do en-contro da cultura dos portugueses com as culturas do Oriente.

Como é óbvio, os velhos padrões hibridados, característicos da identidade cultural dos luso-asiáti-cos de Macau tenderá, futuramente, a diluir-se nos padrões das novas terras onde procurarem recons-truir as suas vidas depois de 1999.

Analisando o que sucedeu, no decorrer dos tempos, aos macaenses emigrados, podemos verifi-car que as sucessivas gerações que a pouco e pouco abandonaram casamentos preferenciais homogâmicos para se casarem com cônjuges das no-vas terras que os acolheram, irão, a pouco e pouco, perdendo não só os seus traços antropo-somáticos mas também os traços culturais, que se irão diluindo nos da sociedade de acolhimento.

Foi iniciado, em 1990, pelo Dr. Carlos Ma-nuel Piteira, um levantamento desta índole entre os macaenses filhos-da-terra, radicados em Lisboa. Os estudos preliminares registaram a culinária, os passatempos, o léxico e o traje como os traços mais vincados que lograram perdurar, a par da decora-ção de interiores com peças chinesas herdadas ou escolhidas em Macau, bem como o recurso a um ou outro medicamento tradicional da velha China.

Contudo, a nível da 3. a geração, estes usos surgem esbatidos e em vias de se perderem.

Contrariamente, os macaenses que continua-rem em Macau, tenderão a manter durante mais tempo as suas práticas e a adoptar valores locais próprios da comunidade chinesa. Mesmo que a co-munidade macaense perdure coesa, na sua terra, depois de 1999, não cremos que possa vencer o meio século futuro em termos de identidade cultu-ral.

E isto porque atendendo às percentagens de macaenses que pretendem sair de Macau em 1999, grande será a redução do número daqueles que de-têm os padrões mais vivos da sua cultura hibridada, ficando possivelmente, na sua maioria, aqueloutros que apresentem maiores afinidades com a cultura chinesa.

Quanto a este ponto, os macaenses por nós inquiridos revelaram as seguintes tendências em 1990/1991. Dos que pensam ficar em Macau, ape-nas:

29,5% se manifestavam indecisos, expectantes quanto a ficar ou sair;

13,3% desejavam sair mas não tinham possi-bilidades de o fazer; e 6,7% pensam continuar em Macau por convicção na estabilidade futura da sua terra.

Porém, cerca de 70% afirmaram tencionar sair de Macau e, destes,

63,5% tencionam encontrar apoios em Por-tugal;

5,1% pretendem ir para o Brasil;

10,8% para o Canadá;

6% para a América;

4,4% para outros locais e

6,3% dos inquiridos não responderam.

Os motivos que estes 70% que desejam emi-grar apontam para justificar essa sua decisão são os seguintes:

Não acreditarem na continuidade política do território (51,8%), acreditarem com reservas nessa continuidade (28,2%). 15% não se manifestaram re-lativamente às razões do seu desejo de emigrar.

É convicção nossa que, na sua terra ou emi-grados, os macaenses manterão vivo o sentimento de comunidade, manterão a saudade talvez dum equilí-brio nem sempre feliz mas pacífico, duma vivência, da posse duma terra que era sua, do sorriso das suas velhas á-más, do colorido das festas locais vestidas de vermelho auspicioso e alegre como as acácias rubras que decoravam algumas avenidas e lhes fala-vam do sangue e da esperança que levou a Macau os seus antepassados.

Contudo, dos traços sui generis da cultura ti-picamente macaense, para além da culinária que a existência de certos produtos condicionará noutros países de abrigo, para além do uso de um min hap ou de cabaias em festividades colectivas ou privadas e do prazer de tomar chá e jogar uma boa partida de má cheok, não cremos que nada mais vá perdurar a médio prazo. Com profunda mágoa o sentimos.

Em 1999, os macaenses serão estrangeiros na sua própria terra. Que restará dos indicadores da sua etnicidade dentro de 50 anos?

"(...) Algo tem de ser feito para assegurar a sobrevivência de uma multiplicidade de culturas. Um direito humano fundamental, diz-se com fre-quência, é o direito a ser culturalmente diferente".

(John Rex, Raça e Etnia, Ed. Estampa, 1988, p. 186).

BIBLIOGRAFIA

FONTES MANUSCRITAS

Diário do macaense Francisco António Pereira da Silveira, Manuscrito do espólio de João Feliciano Marques Pereira, Bibli. Sociedade de Geografia de Lisboa (Secção de Reser-vados).

FONTES IMPRESSAS

Amaro, Ana Maria — Filhos da Terra, Ed. "ICM", 1988.

Epstein, A. L. — Ethos and Identity — Three studies in Ethnicity, London, Tavistock

Publications, Aldine Publishing Company, Chicago, 1978

Morbey, Jorge, Macau —1999, Ed. do Autor, Macau, 1990

Rex, John — Raça e Etnia, Temas Ciências Sociais, Editorial "Estampa", Lisboa, 1988

Tonkin, E., McDonald, M. and Chapman, Malcom — History and Ethnicity, Asa Monographs 27, Routledge, London and New York, 1989

AGRADECIMENTOS

São devidos públicos agradecimentos ao nosso amigo Senhor Engenheiro-Agr. António Jú-lio Emerenciano Estácio e aos nossos ex-alunos e amigos Sr. Arquitecto José Floriano Pereira Chan e Arq. Áurea M. de Melo Jorge, Dr. Ernesto Basto da Silva, Sr. Américo Léong Monteiro, Dr. a Anabela S. Ritchie, Dr. Alfredo S. Ritchie, Dr. a Cecília Jor-ge, Dr. a Ana Maria Basto e Arq. Carlos A. dos Santos Marreiros, além de muitos outros que sabe-mos que também se empenharam em colaborar connosco no lançamento do nosso inquérito.

Principalmente, sem a preciosa ajuda do Ar-quitecto José Floriano Pereira Chan e do Dr. Ernesto Basto da Silva que duplicaram, distribuiram e me enviaram os 310 questionários preenchidos, generosamente e com manifesto entu-siasmo, dando-me ainda sugestões que me foram valiosas, este trabalho ter-me-ia sido completamen-te impossível de realizar.

Devo ainda agradecer ao Dr. Carlos Manuel Piteira e à Dr. a Paula Vieira a valiosa colaboração no tratamento informático dos questionários.

NOTAS

1Tonkin, E, McDonald, M. and Chapman, M. — History and Ethnicity, Asa Monographs 27, Routledge, London and New York, 1989.

2Glazer, N., Moyniham, D. P. — Ethnicity — Theory and experience, London, Harvard Univ. Press, 1975.

3Cohen, A. (ed.) — Urban ethnicity, London, Tavistock Publications, 1974.

4Epstein, A. L., Ethos and Identity — Three Studies in Ethnicity, London, Tavistock Publications, 1978.

5Rex, John, Raça e etnia, Temas Ciências Sociais, Ed. Estam-pa, n. ° 3, Lisboa, 1988.

6Barth, F., Ethnic Groups and Boundaries, Boston, Little Brown & Co., 1969.

7Ackoff, R. L., Planejamento de Pesquiza social, Col. "Ciên-cias do Comportamento", Erder, ed. da Universidade de São Paulo, 1967.

8Manuscrito do espólio de João Feliciano Marques Pereira da Secção de Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa.

9Dados fornecidos pelos Serviços de Estatística de Macau relativos aos anos de 1970 e 1980.

10Morbey, Jorge, Macau 1999, ed. do autor, Macau, 1990.

11Cf. Boletins Oficiais do Governo da Província de Macau, Vol. XLIII de 1897, (Dados do Recenseamento demográfico relativos ao ano de 1896).

12Cf. Macau dia a dia, Manuscrito do espólio de João Feliciano Marques Pereira — Os dois filhos de Francisco António Pereira da Silveira vieram a fazer fortuna servindo um no exército inglês (o mais velho) e em firmas inglesas, o segun-do. Foram a Penang estudar inglês na sua juventude, o que veio a ser-lhes muito útil.

13Entrado na religião — cristão novo, chinês convertido.

14Meditação das quarenta horas preconizada pela Igreja na quadra Carnavalesca.

15Receio manifestado por algumas autoridades eclesiásticas locais.

16O mau ar confundido com vento sujo (de influência chinesa) e com savan (palavra malaia que significa ar maligno) era causa de doenças súbitas de causas então desconhecidas tais como hemiplegias, apoplexias, etc.. Bagate era o nome dado aos feitiços, às doenças ou outros males provocados por feitiçaria.

17Espíritos erradios. Uma das 3 almas que os chineses consi-deram poder não se deteriorar com o corpo e voltar à terra e prejudicar os mortais principalmente por falta de cerimónias de culto por parte dos parentes.

*Doutorada pela F. C. S. H. da Universidade Nova de Lisboa; Professora do Instituto de Ciências Sociais e Políticas (Departamento de Antropologia). Membro de várias instituições internacionais, v. g. a International Association of Antropology.

desde a p. 211
até a p.