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AS ORIGENS DO NOME DE MACAU

Tang Kaijian*

Vista do Porto Interior e do templo de Á-Má, 1788. Gravura de John Webber. Peabody Essex Museum. Inglaterra.

Tendo como base fontes históricas antes do século XVI, o nome de Macau não se encontra registado em qualquer documento, nem em obras clássicas, tanto da Europa como da China. Só aparece à medida que os portugueses avançam nos descobrimentos marítimos no Extremo Oriente, Macau é citado cada vez mais frequentemente nas fontes históricas, tanto do Ocidente como do Oriente, tornando-se, assim, cada vez mais conhecido por europeus e chineses nas suas várias designações e nomes. Baseando-me nas fontes históricas à minha disposição para especulação analítica, e através de estudo cuidadoso, sabemos que esta península do sul da China, além de Macau, o nome como é mais conhecido em todo o mundo, tem muitos outros nomes como Hao-Jing (Rio-Espelho), Hao-Jing-Ao (Rio-Espelho-Baía), Amacon (Porto de A-Ma), Xiang-Shan-Ao (Monte Aromático-Baía), Long-Ya-Men (Portão do Penedo de Dragão), Xiang-Ao (Baía Aromática), Hai-Jing(Mar-Espelho), Ma-Jiao, Lian-Hua-Zhou (Terra de Lótus), Hao-Jiang, Jing-Hu (Espelho-Lago) etc.. Alguns destes são dados por literatos e poetas em obras suas para exprimir os encantos que Macau sugere; deste modo, não têm significado como nomes geograficamente convencionais. Mas, entre eles, alguns tornaram-se conhecidos no sentido geográfico, tais como Macau, Hao-Jing-Ao, Xiang-Shan-Ao, Má-Jiao, Long-Ya-Men. Este artigo tem por objectivo exprimir os meus pontos de vista na discussão sobre esses nomes, embora estes fossem já profundamente analisados por historiadores tanto ocidentais como orientais, de tal maneira que parecerá nada mais termos a dizer. Porém, consultei recentemente algumas fontes históricas, em língua chinesa, e descobri materiais muito úteis à discussão, e de grande credibilidade.

1. Na "História do Distrito de Xiang-Shan", escrita no Reinado de Jia-Jing, não se encontra nenhuma referência ao nome de Macau.

Para estudar a história de Macau, as variantes da "História do Distrito de Xiang-Shan" (香山縣誌) são fontes muito importantes em língua chinesa, e tornam-se ainda mais importantes quanto ao estudo das origens do nome de Macau, porque, desde a dinastia Song (967-1279), Macau pertencia administrativamente à tutela política do Distrito de Xiang-Shan, antes e depois da sua abertura como porto exterior.

O Distrito Xiang-Shan foi fundado nos anos da dinastia Song do Sul (1127-1279). A sua história começou a ser escrita no início da dinastia Ming (1368-1644). O primeiro livro da história do Distrito de Xiang-Shan foi escrito no reinado de Yong-Le (1403-1425), por uma personalidade local do Distrito de Xiang-Shan, com o nome de Rong Ti. No ano 25.° do reinado de Cheng-Hua (1484), o segundo livro foi concluído por Huang Jing, personalidade local também do Distrito de Xiang-Shan. No ano 25° do reinado de Jia-Jing (1546), aliás no terceiro ano de Deng Qian ser nomeado como prefeito do Distrito de Xian-Shan, o terceiro livro começou a ser compilado, e veio a ser concluído por volta do ano 26.° do reinado de Jia-Jing (1547). São estes três os primeiros livros acerca da história do Distrito de Xian-Shan, que conhecemos. No entanto, os primeiros dois livros estão desaparecidos; resta-nos até hoje o terceiro, isto é, aquele que foi compilado por ordem do prefeito Deng Qian e concluído no ano 26.° do reinado de Jia-Jing (1547). Por isso, quanto ao território de Macau ou de Hao-Jing, que pertencia ao Distrito de Xiang-Shan desde a dinastia Song, deve o seu nome ser procurado na "História do Distrito de Xiang-Shan", o que é naturalmente lógico e justo.

Não encontrámos qualquer designação nominal de Macau ou alguma referência ao nome de Hao-Jing na "História do Distrito de Xing-Shan" do reinado de Jia-Jing, o que nos parece uma coisa surpreendente. Mas, na "Sugestão do impedimento da entrada de estrangeiros estacionados na baía", levantada por Wu Guifang, (議阻澳夷疏) podemos ler o seguinte:

"Nos últimos anos, estrangeiros de vários países ocupam e estacionam na baía de Hao-Jing-Ao do Distrito de Xiang-Shan, da tutela da administração de Gong-Chang-Du."1

Desta passagem do texto de Wu Guifang, podemos saber que no reinado de Jiajing, Macau pertencia à zona administrativa do Distrito de Xi-Lang-Shan de Gong-Chan Du. Consultando a "História do Distrito de Xiang-Shan", volume I, podemos ler:

"A terra natal de Gong-Chang-Du é a aldeia chamada "Chang-An" (Estabilidade perpétua), no bairro de Fu (felicidade) nos arredores das aldeias de apelidos Gong e Chang, que ficam a sueste do Distrito a uma distância de 100 Li (equivalentes a 50 kms), e no desenho número três, dentro de uma área de 120 Lis (equivalentes a 60 kms), espalham-se 22 aldeias".

Estas 22 aldeias estão todas anotadas; são registadas também Qian-Shan, (前山) Sha-Wei, (沙尾) Tang-Jia, (唐家) Ji-Da (吉大) etc., locais de fronteira com Macau, sem referência ao nome de Macau ou de Hao-Hing. Por estranho que pareça, o nome da ilha de Coloane está incluído neste livro:

"A ilha-montanha de Ka-Ho, onde os habitantes são todos estrangeiros".2 Ka-Ho é Coloane. "Estrangeiros", são com certeza não-chineses; devem ser comerciantes estrangeiros. Antes do ano 26.° do reinado de Jia-Jing (1547), ao largo do Portão da Cruz (十字門) era antigamente o local onde os comerciantes estrangeiros se reuniam para efectuar negócios. Na obra "Relatórios Variados sobre a Região de Ling-Nan (嶺南雑記) (Província de Guang Dong)", da autoria de Wu Zhenfang, está escrito assim:

"Afastando-se de Macau mais de dez Lis, há muitas portas da cruz que são realmente ilhas-montanhas banhadas pelo mar, com a configuração de dedos juntos, onde todos os barcos que lidam com o comércio estrangeiro vêm aqui reunir-se para fazer negócios".

O livro intitulado "Diário do Comandante Geral do Exército da Região de Cang-Wuk", (蒼梧總督军門誌) volume V "Desenho Global do Mar de Cantão", (全廣海圖) escrito no reinado de Wang-Li (1573-1620) da dinastia Ming, regista o seguinte:

"O portão-baía da cruz (十字門澳) onde os barcos estrangeiros ancoram".

A ilha-montanha de Ka-Ho (Coloane) fica quase junto do portão da cruz, por isso, os barcos de comerciantes estrangeiros que entram no portão da cruz têm de atracar em Coloane. Esta fonte proveniente da "História do Distrito" informa-nos que os comerciantes estrangeiros chegaram realmente à região actualmente chamada Macau, excluindo a península de Macau, antes do ano 26.° do reinado de Jia-Jing (1547). Isto quer dizer que, na região pertencente actualmente a Macau havia residentes estrangeiros (não se podem excluir deles os portugueses) já antes de os portugueses declararem oficialmente Macau como um porto exterior.

A norte da península de Macau estão registadas Qian-Shan, Ji-Da e Tang-Jia. A ilha de Coloane a sul também. Somente a própria península de Macau está ausente de qualquer referência. No entanto, encontramos uma anotação no "Mapa-desenho plenário do Distrito", volume número um da "História do Distrito" a dizer assim:

A sueste do mapa-desenho encontra-se o monte "Fénix" e no mar um pouco mais ao sul do "Monte Fénix" há um outro monte sem nome, que fica separado pelos mares de Ling-Ding-Yang (零丁洋) e de Jiu-Xing-Yang. (九星洋)"3

Segundo "Relatórios de Grande Importância de Cantão, Mapas-desenhos do Litoral da Província de Guang Dong" do reinado de Wang-Li (1573-1620), o "Monte Fénix" está a norte de Hao-jing-Ao (濠鏡澳), ao qual está ligado. De acordo com a "História do Distrito de Xiang-Shan" do reinado de Jia-Jing, volume I:

"O "Monte Fénix" situa-se 100 Lis (50 kms) a sueste do Distrito." E "As Novidades da Província de Guang Dong" (廣東新語) e as posteriores "Histórias do Distrito" dizem todas que Hao-Jing-Ao fica 120 Lis (60 kms) a sueste do distrito4; segundo a situação geográfica, suponho que aquele monte sem nome, que fica no mar a sul do "Fénix", seja provavelmente Hao-Jing-Ao.

Mas, porque é que a "História do Distrito de Xiang-Shan" do reinado de Jia-Jing não se refere a Macau ou Hao-Hing-Ao? Porque é que no mapa-desenho do Distrito Xiang-Shan só se assinala a sua localização sem designar o seu nome? A meu ver, este fenómeno pode levar-nos a duas conjecturas:

1) Antes do ano 25.° do reinado de Jia-Jing (1546), a península de Macau era uma zona despovoada, ou seja, uma zona sem aglomerados populacionais;

2) Antes do ano 25.° do reinado de Jia-Jing (1546), a península de Macau era um território sem designação ou nome convencionalmente aceite entre o povo, ou seja, embora esta zona tivesse então variados nomes ou designações, não foram pelo menos reconhecidos pela população daquela altura, ou seja, esses nomes ainda não tinham sido amplamente divulgados. Se não fosse assim, um prefeito que viesse para aqui governar e desse a ordem de compilar a "História do Distrito", não teria razão para omitir o nome dessa terra sob sua tutela administrativa e executiva.

2. Na obra intitulada "Relatórios de Grande Importância de Cantão, Mapas-Desenhos do Litoral da Província de Guang Dong", (粤大記·廣東沿海圖) Há referência ao nome de "AMACON" (亜媽港)

O nome de "Ao-Men" em mandarim ("Ou Mun" em cantonês) é escrito em português como "Macau". Baseados nas fontes até agora disponíveis, sabemos que o primeiro europeu que utiliza este nome é o Padre Barreto. Em sobrescritos de cartas suas dirigidas a padres europeus e de Goa, escreve: "de Machoam, aos 23 de Novembro de 1555." Uma outra carta datada de 27 de Novembro de 1555, dirigida à Companhia de Jesus, usa "Macau" como endereço. A carta do Padre Mendes Pinto, guardada na Biblioteca da Ajuda de Lisboa, tem como endereço "Amacao", datada de 20 de Novembro de 1555.5 Esses endereços relevam, sem dúvida, os primeiros nomes dados por europeus para designar o Território de Macau. Em muitos outros documentos escritos em português no século XVI, podemos encontrar termos específicos de "Amaquo", "Amacauo", "Amachao" e até "Maquao" para designar o local actualmente chamado "Macau". Nas fontes históricas reveladas pelo Pe. Manuel Teixeira, o termo "Macau" serviu para designar "Amesao".6 De qualquer maneira, tanto "Macau", como "Amacauo" ou outras variantes, são os nomes para indicar o próprio local onde se encontra península de Macau. Mas a polémica está na sua etimologia, isto é, donde veio esse nome e qual foi a sua origem. Como ponto de partida de análise de tão controversas opiniões de todos esses historiadores, podemos resumi-las segundo três pontos de vista:

1)O termo "Macau" deriva do "Penedo de Má-Jiao" (馬交石) que se encontrava na península de Macau. Wells Williams no seu "Guia do Comércio da China", Zhang Tianze na sua "História da Primeira Fase do Comércio Sino-Português", bem como o famoso historiador de Macau, Pe. Manuel Teixeira, na sua obra "Macau e as Suas Dioceses", são favoráveis a esta opinião. Zhang Tianze escreve: "O termo 'Macau', nome geográfico pelo qual é conhecido nos países não chineses, não é, porém, coincidente em chinês para designar o porto chamado 'Macau'. Este nome de 'Macau' era apenas o nome de um penedo muito conhecido que se chamava 'Má-Jiao', que em cantonês se lê 'Má-Kao' e assim foi ouvido, de vez em quando, por turistas estrangeiros da boca dos habitantes locais. Talvez por um engano, talvez por facilidade, toma-se o nome deste penedo como nome geral para designar toda a península".7

2) "Macau" é uma variação fonética da palavra "Barra". O famoso sinólogo e historiador macaense Luís Gonzaga Gomes no seu artigo intitulado "os Diversos Nomes de Macau" e o historiador chinês Prof. Huang Wenkuan na sua obra "Para um Melhor Entendimento da História de Macau" (Ao-Men-Shi-Gou-Chen) estão de acordo com este ponto de vista. Luís Gonzaga Gomes escreve assim: " Quanto à palavra Má Káu馬交 (coito do cavalo), derivada da adulteração de Má Kók馬角(chifre do cavalo), isto é, a Barra, local onde, no Verão do ano 36.° de Ká Tchêng (1558), da dinastia Mêng, desembarcaram os primeiros portugueses que vieram ao Oriente solicitar à China um lugar para aportar os seus navios e edificar lojas ou armazéns, que foram primitivamente construídos em frente do templo que ainda existe, neste sítio. Não deixa de ser verosímil esta hipótese, além de que bem podia ter-se dado o facto de que os primeiros Portugueses ao interrogarem sobre o nome desta cidade, lhes tivessem respondido chamar-se Má Kók, julgando assim satisfazer a curiosidade desses estrangeiros em relação ao nome do sítio onde os mesmos desembarcaram e onde primitivamente se fixaram"8 O Prof. Huang Wenkuan, por seu turno, afirma que a palavra "Macau" é a pronúncia da palavra "舶口" (porto) no dialecto do sul, na Província de Fujian.9

3) A palavra "Macau" é traduzida foneticamente por "Ma-Gang" (馬港). Por exemplo, o Pe. Nicolau Trigault apoia esta opinião na sua obra "De Christiana Expeditione apud Sinas". Além disso, Andrew Ljungstedt na sua obra "An Historical Sketch of Portuguese Settlement in China", e o famoso sinólogo português (白樂賈) na sua obra "Os Pioneiros Ocidentais e a sua Descoberta de Macau" (o título é a tradução chinesa. Não consigo, aliás, encontrar a tradução original), bem como Guo Yongliang na sua obra "As Relações da Primeira Fase entre Macau e Hong Kong", são favoráveis a esta opinião. Andrew Ljungstedt sublinhou que "O que os ocidentais designam por Macau como 'Amá-Ngao' significa porto de Amá. É porque em Macau existe há muito um templo, cuja Deusa Marítima se chama 'Ama', que vem a tornar-se na sua designação".10 E Guo Yongliang, afirma que "Até aos meados do século XVI, os escritores portugueses escrevem em geral 'Amaqauo', 'Amachao' e 'Maquao' para designar 'Macau'. Hoje em dia, há ainda pessoas que escrevem 'Macao'. Tenho a certeza de que esses nomes são derivações inco. rrectas da pronúncia das palavras chinesas 'A-Má-Gang' (阿媽港) ou 'Má-Gang' (馬港). Isto significa que o termo 'Macau' em português veio do Templo de Amá e do nome da baía na sua frente.''11

As três opiniões sobre as origens do nome de Macau, acima referidas, foram apresentadas indubitavelmente com base em certos fundamentos mais ou menos sólidos e poderiam ser credíveis se partissem do ponto da vista da pronúncia verbalmente harmoniosa entre chinês e português. No entanto, a meu ver, embora as duas primeiras opiniões tenham uma certa razão, é até hoje muito difícil encontrar os documentos históricos que as provem e confirmem.

Vamos primeiramente comentar a afirmação do "Penedo de Má-Jiao" (馬交石). O nome do "Penedo de Má-Jiao" pode recuar à sua primeira citação no "Ou-Mun-Kei-Leok" ("Monografia de Macau"), escrito no reinado de Qian-Long da dinastia Qing (1736-1796):

Depois de sair do Cerco, pode-se encontrar o Monte de Lótus (蓮花山); existe na sua encosta um Templo de Amá e na sua encosta norte, o Penedo de Má-Jiao, semi-redondo e fino, sem bases na terra, surpenso em três pedrinhas. Segundo a história, foi levado até ao local por força das ondas marítimas".12 Foram posteriormente tiradas desta passagem todas as afirmações considerando o "Penedo de Má-Jiao" como a origem do nome de Macau. O templo de Amá que ali existe, foi dotado de muitos nomes tais como: Templo de Tian-Fei (Deusa Celeste), Templo Antigo de Tian-Hou (Deusa-Mãe Celeste), Templo do Penedo de Má-Jiao e Templo de Tian-Hou do Penedo de Má-Jiao, por ficar perto do Penedo de Má-Jiao. No "Desenho Global de Macau" anexo do volume 124 do "Panorama Geral da Província de Guang Dong" (廣東通誌) da antoria de Ruan Yuan, o Penedo de Má-Jiao fica situado a norte do Templo de Kun Iam Tong, ao lado de um cabo. No "Desenho Global de Macau" (澳門全圖) anexo do volume 4 da "História do Distrito de Xiang-Shan" (Xiang-Shan-Xian-Zhi), da autoria de Zhu Hai, situa-se o Penedo de Má-Jiao a nordeste da costa de Macau. Segundo "Arruamentos de Macau" (澳門市街名冊):

"O nome "Penedo de Má-Jiao" é para indicar a zona nordeste deste penedo, situado na zona compreendida entre o Reservatório da Companhia de Águas de Macau e a Areia Preta, isto é, junto da Rua dos Pescadores, que se prolonga até à costa. Na extremidade da costa, nesta zona, existe um penedo, e em cima dele, uma superfície muito plana, com o nome da "redondela" dado pelos chineses".

Esses penedos de "Ma-Jiao" desapareceram completamente. Guo Yonglaing publicou duas fotografias dos "Penedos de Má-Jiao" no seu livro intitulado "As Relações da Primeira Fase entre Macau e Hong Kong", uma delas foi tirada no quartel do exército português de Mong Há, no qual as quinas foram esculpidas, com a data de 1847. E a outra a tirada ao lado do Templo de Lin Fong, no qual estão gravadas tembém as quinas, com a data de 1848. Esses dois penedos chamados de "Penedos de Ma-Jiao" foram refutados como falsos através do estudo realizado pelo Sr. Li Dechao, por isso não vale a pena referi-los.13 Embora o "Penedo de Má-Jiao" seja muito famoso, até foi referido e admirado por grandes poetas como Liang Qiaohan na sua antologia poética "As Poesias da Minha Viagem através de Macau e Hong Kong" (港澳旅遊草) e Wang Zhaoyong na sua série poética "As Diversas Poesias de Macau" (澳門雑詩); é pena, mas não conseguimos encontrar referências suas nos escritos históricos anteriores ao "Ou-Mun-Kei-Leok"; pelo menos, nada há anotado nos variados documentos da dinastia Ming. Neste sentido, posso dizer que a associação da palavra "Machao", aparecida primeiramente no século XVI, com o "Penedo de Má-Jiao" (Ma-Kao em cantonês), surgido nos meados do século XVIII, seria impossível se analisado numa base cronológica. Além disso, a zona nordeste da Península de Macau onde se encontrava o "Penedo de Má-Jiao", antes de ser aterrada, era muito afectada pelas tempestades, "face ao oceano vasto, longe do continente da China, ventos fortes com maré violenta, batendo contra rochas fazendo muito barulho, mais aterrador do que o das trovoadas inesperadas".14 Por esse motivo, contemplar as ondas no Penedo de Má-Jiao constituía então uma das oito maravilhas de Macau. A poesia de Qiu Fengja escreve assim: "As ondas vistas de cima do Penedo de Má-Jiao elevam-se, como um exército a combater contra os inimigos."15 Deste modo, sabemos que este lugar não é uma baía para ancorar os navios. E quando os portugueses chegaram pela primeira vez a estas paragens do Extremo Oriente, a zona onde se encontrava o Penedo de Má-Jiao era totalmente deserta. Com efeito, os primeiros portugueses não poderiam desembarcar neste sítio nos meados do século XVI, nem iam encontrar também aqui o penedo acima referido; por isso, ainda mais impossível se tornaria designar toda a península com o nome desta pedra tão feia. Com base em tudo o que foi dito, a opinião segundo a qual o nome de Macau derivou do Penedo de Ma-Jiao não merece nenhum crédito.

Voltamos agora a referir a opinião que diz respeito à palavra "Barra". Os estudiosos favoráveis à mesma partiam de muitos fundamentos. Qu Dajun no seu livro intitulado "As Novidades da Província de Guang Dong" (廣東新語) afirmou que "Onde os navios estrangeiros ancoram, é necessariamente em baías, isto é, barras". "Ou Mun Kei Leok" escreve: "tendo transposto a barra para ancorar em Hao-Jing (Rio-Espelho)". O "Directório Geral de Tributários da Província de Guang Dong" (廣東賦役全書) escreve também: "No ano 14. ° do reinado de Jia-Jing (1536) da dinastia Ming, o comandante geral Huang Qing solicitou ao superior, autorização para ancoragem dos navios estrangeiros em Hao-Jing (Rio-Espelho), que se chama barra, pagando anualmente uma renda de vinte mil em ouro". No livro "Dos Assuntos da Fronteira de Macau" está escrito também: Como de início os portugueses ancoravam seus navios em Ao-Men (澳門), que se passou a chamar Macao. Em cantonês, a palavra "porto" lê-se como "Má", e a palavra "Macao" é derivada realmente da pronúncia de "porto" em cantonês". Os que afirmam que "Macao" é "Porto/Barra", foram apenas o "Directório Geral de Tributórios da Província de Guang Dong" e "Dos Assuntos da Fronteira de Macau" que são escritos muito tarde, tornando-se assim muito difícil de confirmar se a palavra "Machao" já se usava em meados do século XVI. Ora podemos refutar também esta hipótese do sentido da pronúncia harmoniosa entre as duas palavras, pois uma vez que a palavra "porto/barra" é foneticamente semelhante a "Machado" ou "Macao" em cantonês, ou no dialecto de Fujian, será que palavras como "Amacauo" e "Amaquo" etc., surgidas ao mesmo tempo a designar tanto o mesmo local como outros, serão possíveis de comparar com "porto/barra" na pronúncia? Por esse motivo, afirmo que a opinião de considerar "Macau" como uma pronúncia harmoniosa em dialectos chineses de "porto/barra" é muito fraca nos fundamentos, assim como também é muito difícil dar-lhe interpretações satisfatórias.

Agora vamos falar da terceira opinião, com a qual estou perfeitamente de acordo. A palavra "Macau" em português, e a sua homófona chinesa deve ser "阿媽港" (A-Má-Gang) ou "媽港" (Má-Gang). (白樂賈) Escreve-se: "O porto que está em frente do Templo de Ama chama-se 'Amagang' (阿媽港), já era conhecido antes de chegarem os portugueses".16 O Missionário italiano Matteo Ricci, que estava em Macau no século XVI, deixou um escrito assim: "Ali a gente tinha devoção à Deusa Amá, com efeito, o local do porto chama-se Amagang(阿媽港). No italiano, esta palava significa 'o porto de Amá".17 Ora, o Templo de Má-Kok, aliás de Amá, foi construído no primeiro ano do reinado de Hong-Zhi da dinastia Ming (1488), em frente dele, na costa norte da baía encontrava-se um cais; tudo isto, anteriormente referido, podemos ler em lápides ali existentes.18 Assim podemos afirmar que o nome do Templo de Amá e do seu respectivo cais era já muito conhecido, dezenas de anos antes da chegada dos primeiros portugueses. É só por isso que os primeiros portugueses, ao desembarcarem, terão ouvido o nome de "Amagang" (porto de Amá) como resposta à interrogação, levando-os a pensar por mau entendimento, ser este o nome do local em vez de ser o do Templo ou do cais. As palavras em português como "Amacauo", "Amaquo", "Amagão", surgidas nos meados do século XVI, são todas uma adulteração da palava chinesa "Amagang" (阿媽港), quanto às palavras "Machoam", "Macau" e "Maquo" vêem provavelmente, suprimido o prefixo "A", de "Amagang". Consultei recentemente o "Relatório da Grande Importância de Cantão" (Yue-Da-Ji) (粤大記), no seu "Mapa-Desenho do Litoral da Província de Guang Dong", encontrei um lugar assinalado acima de "Hao-Jing-Ao" (濠鏡澳): está marcado com o nome de "Amagang" (亞媽港); ao lado dele foram desenhados dois navios com indicação de "navios estrangeiros".19Esta revelação segundo a qual, acima do local "Hao-Jing-Ao" se situa um porto que se chama "Amagang" neste "Mapa-Desenho", demonstra muito claramente que os nomes portugueses como "Amacauo", "Amaquo", "Amagão", entre outros, são indubitavelmente traduzidos do nome chinês que designa o local do porto de "Amá". Este "Mapa-Desenho" é um documento histórico de alto valor, e confirma que a baía que ficava em frente do Templo de Amá e no sul da península de Macau foi designada como "Amagang" (阿媽港) antes do reinado deWang-Li da dinastia Ming (1573-1620).Nesse caso, quando os primeiros portugueses desembarcaram nesta baía ficaram a saber o seu nome e, a partir do nome desta baía, designaram todo o local como "Amacauo", simplificando para "Macau". O nome "Amagang" (阿媽港) foi descoberto em documentos históricos, em língua chinesa, do reinado de Wang-Li da dinastia Ming (1573-1620), que ajuda grandemente a resolver o problema das origens do nome de Macau. Por outro lado, em documentos japoneses tais como os de um escritor japonês no século XVII, chamado (林羅山) no seu trabalho "As Obras Completas de 林羅山", no volume 12, estão incluídos artigos com títulos como "Anúncio para o Porto de Amá (Amagang)", "Anúncio para Alguns Amigos do Porto de Amá" e "Carta Enviada aos Conterrâneos de Porto de Amá". Com efeito, os japoneses daquela altura designaram também o Território como "Porto de Amá" (Amagang), nome em japonês de tradução fonética, como "Amacauo" e "Amaquo" em português. É preciso declarar que a palavra "Amagão" não é um nome dado por chineses, o nome chinês para designar o local é "Niang-Má-Jiao" (Cabo da Deusa-Mãe)20. O nome "Amagão" (Porto de Amá) é um nome dado por europeus; posteriormente, foi aceite pelos chineses: transformado em "Má-Jiao"(馬交) e "Má-Gao" (馬高)21, são esses nomes traduzidos foneticamente de "Macao". O nome em português "Amagão", não se encontra registado em documentos, nos meados da dinastia Ming; isto quer dizer que este nome foi rapidamente adoptado pelos chineses e divulgou-se amplamente. Resta-nos agora declarar que "Amagão" é apenas um nome para designar a baía no cabo na península no "Mapa-Desenho" do "Relatório da Grande Importância de Cantão", mas para os Portugueses, o nome "Amaguo" ou "Amagão designa toda a península de Macau.

3. Hao-Jing-Ao, o nome que surge mais cedo na Península de Macau

Embora na "História do Distrito de Xiang-Shan" no reinado de Jia-Jing da dinastia Ming não estivesse registado qualquer nome para a península de Macau, não podemos, mesmo assim, afirmar a inexistência de nomes que fossem utilizados pelo povo, mas ocultos no que refere ao vocabulário geográfico; por outras palavras, sendo a sua utilização informal, não alcançaria o reconhecimento geral por parte do governo chinês e do povo do distrito de Xiang-Shan; desta maneira, não seriam incluídos ao escrever-se a história do distrito.

O nome que surgiu mais cedo na península de Macau foi Hao-Hing-Ao (Hou-Keang-Ou, em cantonês) ou Hao-Jing. Segundo a "Suma Oriental" de Tomé Pires: "Além do porto de Cantão, outro porto chama-se Oquem; para chegar lá, três dias por via terrestre, um dia e uma noite por via marítima".22 Noutra passagem do mesmo livro, "Oquem" passa a ser escrito como "Foquem"; por ser esta uma variante derivada de "Oquem"23. A sua forma em chinês devia ser "Hao-Jing" (Hou-Keang). A "Suma Oriental" de Tomé Pires foi escrita entre 1512-1515; ou seja, quarenta anos antes da abertura de Macau como um porto exterior, "Hao-Jing" (Hou-Keang) já era conhecido nos países estrangeiros. Assim, podemos comparar com os livros clássicos em chinês: o primeiro registo do nome "Hao-Jing" (Hou-Keang) apareceu na "História Geral de Guang Dong" (廣東) da autoria de Huang Zuo, que começou a ser escrita no ano 36.° do reinado de Jia-Jing da Dinastia Ming (1557); no seu volume 66, "História das Relações com Estrangeiros" (外誌), deixou escrito "O Departamento da Administração Imperial tem recolhido informações sobre o Sião e outos países na sua dependência tais como o Cambodja, Malaca etc. segundo as quais, nos últimos anos, navios estrangeiros daí provenientes vieram ancorar no mar de Guang-Hai de Xin-Nin (新寜廣海), Wang-Tong, (望峒) ou no mar de Qi-Tan de Xin-Hui (新會奇潭), no mar de Lang-Bai (浪白), Hao-Jing (蠔鏡), Portão da Cruz(十字門) do Distrito de Xiang-Shan". Nesta passagem, o carácter é escrito como "壕" em vez de "濠". Na "História da Dinastia Ming" (明史), o mesmo carácter é substituído por "壕", e escreve-se assim: "Hao-Hing(蠔鏡) está situado no sul do Distrito de Xiang-Shan, além da Porta do Salto de Tigre(虎跳門)."24 Mas, onde é este Hao-Jing? Em conformidade com "Ou-Mun-Kei-Leok", Hao-Jing "possui duas baías, do sul e do norte, em ambas as baías se podem ancorar navios. As duas baías estão sempre tranquilas, de configuração redonda como espelhos, por isso, designadas como Hao-Jing (Mar-Espelho), que vem a ser um nome a atribuído a todo o local de Macau".25 Originariamente a península de Macau tinha duas baías, no sul e no norte; a do sul incluía a Praia Grande e Xi-Wang (西灣), enquanto a do norte está totalmente aterrada. A baía do norte encontrava-se aproximadamente nas actuais ruas do Almirante Sérgio e do Tarrafeiro, em paralelo com a baía do sul. Por motivo da sua capacidade de ancorar navios, as duas baías são designadas como "Ao" (porto). "A Lápide do Grémio de Três Ruas" (XX) tem incrito: "Macau tem configuração de lotus, é uma perínsula banhada por mar, com baías a sul e a norte, onde ancoram navios na dinastia Ming."26 Os terrenos onde as baías do sul e do norte se situaram eram na zona sul da península, a parte maior com que Macau podia então contar. Nas interpretações dessas fontes históricas da dinastia Qing, o termo "Hao-Jing-Ao" (濠鏡澳) indica toda a península de Macau daquela altura. No ano 43.° do reinado de Jia Jing da dinastia Ming (1564), Pang Shangpeng (龐尚鵬) na sua carta intitulada "A Minha Sugestão sobre a Estabilidade Perpétua da Zona Costeira do Sul" (陳末議以保海隅萬世治安疏), dirigida ao imperador chinês, tem assim escrito: A sul de Cantão encontra-se o Distrito de Xiang-Shan, um local costeiro de frente para o oceano. Da aldeia chamada Yong-Mo ao local chamado Hao-Jing-Ao, leva-se um dia inteiro no caminho". Noutra passagem da mesma carta escreve: " (estrangeiros) começaram a entrar nos últimos anos no local de Hao-Jing-Ao, edificando casas para facilitar o seu comércio".27 No ano 44.° do reinado de Jia-Jing da dinastia Ming (1565), Ye Quan (葉權) designou os portugueses residentes em Macau como "estrangeiros de Hao-Jing-Ao" no seu artigo intitulado "A Minha Viagem por Ling-Nan (Guang Dong)" (遊嶺南記).28 Posteriomente, Chen Wude (陳吾德) na carta "Apresentação da Situação Pormenorizada do Este de Guang Dong" (條陳東奥疏), Guo Shangbin (郭尚賓) na carta "Da Defesa do local de Li e de Macau"(......), Wu Guifang na sua carta "Da Proibição à Contribuição dos Estrangeiros de Macau" (議阻澳夷進貢疏), Shen Deqian (沈德潛) no seu livro "Compilação os Boatos no Reinado de Wang-Li" (萬歴野獲編) e Guo Fei (郭棐) na sua "História Geral de Guang Dong" (廣東通誌) designaram o local actualmente chamado Macau como "Hao-Jing-Ao". Com base nessas fontes históricas, torna-se muito claro que Hao-Jing-Ao é o nome mais conhecido e fixado para designar o Território actualmente chamado Macau, sobretudo toda a península, já nos anos dos reinados de Wang-Li e Jia-Jing.29 Através da citação de Pang Shangpeng acima referida "Da aldeia chamada Yong-Mo ao local chamado Hao-Jing-Ao, leva-se um dia inteiro no caminho"30 e do texto "A partir da aldeia Qian-Shan (前山) vinte lis em direcção ao sul (equivalente a 10 kms) encontra-se o local chamado Hao-Jing-Ao onde se está a construir uma porta do cerco a menos de 3 lis (1.5, kms)", da autoria de Shen Lianghan (申良翰) na sua "História do Distrito de Xiang-Shan"31, podemos saber que o nome "Hao-Jing-Ao" indica toda a península de Macau. Esta afirmação baseia-se ainda no "Mapa-Desenho do Litoral" do "Relatório da Grande Importância de Guang Dong", onde se assinala o sul da península com caracteres minúsculos "Amagang" (亞媽港), e o norte com caracteres minúsculos, também, "Aldeia de Monghá" (望夏村) enquanto o meio da península é assinalado com caracteres grandes como "Hao-Jing-Ao".32 Por isso, temos toda a certeza de que "Hao-Jing-Ao" é realmente o nome que indica toda a península de Macau.

No "Desenho Global do Mar de Cartão" (廣海興圖) do livro "Diário do Comandante Geral do Exército da Região de Cang Wu" (蒼梧總督軍門誌), a localização de "Hao-Jing-Ao" é interessante, pois nele se marca uma península no lado esquerdo do Distrito de Xiang-Shan como "Xiango-Shan-Ao" (香山澳), que quer dizer "é onde estrangeiros residem", enquanto se assinala o mar do lado direito como "Hao-Jing-Ao", que "é onde navios estrangeiros ancoram". Através de um estudo analítico sobre a origem deste "Desenho", o seu autor é Liu Yaohai (劉堯澳), governador das Províncias de Guang Xi e da Guang Dong no reinado de Wang-Li da dinastia Ming. Liu Yaohai que conhecia muito bem a situação da defesa marítima do litoral de Guang Dong, assinalou com "Xiang-Shan-Ao" e "Hao-Jing-Ao", no mesmo desenho, diferentes lugares. Por quê? Isso faz-me lembrar uma fonte histórica, rejeitada por alguns historiadores, que é a "História da Dinastia Ming, Referências de Portugueses":33

"No ano 14.° do reinado de Jia-Jing, o Comandante Huang Qing pediu autorização ao seu superior para a ida de portugueses a Hao-Jing, por ter recebido um suborno, dando assim início à entrada de estrangeiros no país".

Esse incidente foi registado em "Os Acontecimentos Verdadeiros da Dinastia Ming" (明實錄). Esta fonte histórica foi tida como inaceitável pela maioria dos historiadores, que acreditam que foi no ano 32°. do reinado de Jia-Jing da dinastia Ming (1553) a data em que os portugueses passaram a ocupar Hao-Jing-Ao, o que é um facto anotado também em diversas edições de histórias da dinastia Ming. Assim, era uma opinião generalizada segundo a qual, no ano 14.° do reinado Jia-Jing da dinastia Ming (1535), os portugueses não tinham possibilidade alguma de ter ocupado e ter radicado em Hao-Jing-Ao. No meu entender, este problema não deve ter solução se não tivermos um ponto de partida concreto, e não um princípio abstracto e absoluto, porque, antes de ser aberto como porto exterior, Hao-Jing-Ao era um nome que indicava uma região compreendendo uma maior superfície que devia abranger Taipa, Coloane etc.. Deixem-me então provar isto. Na "História da Dinastia Ming, Referências de Portugueses" está escrito assim:

"Hao-Jing, encontra-se a sul do Distrito de Xiang-Shan, para além da porta do Solto de Tigre (虎跳門)". No livro intitulado "Os Acontecimentos Verdadeiros da Dinastia-Ming, na Parte do Reinado de Xi-Zong (明實錄·熹宗實錄), volume 6, pode ler-se:

"O local que ocupam e onde residem estrangeiros, chama-se Hao-Jing, que se situa a sul do Distrito de Xiang-Shan, além da Porta do Salto de Tigre, um pequeno recanto costeiro".

No volume 2 intitulado "Terra" do livro "As Novidades de Guang Dong (廣東新誌·地語) lê-se:

"Hao-Jing encontra-se além da Porta do Salto de Tigre."

Todos estes livros acima citados têm a inscrição de "HaoJing" no lugar que fica para além da Porta do Salto de Tigre.34 Neste caso, podemos perguntar, onde é que fica a Porta do Salto de Tigre? No volume I da "História do Distrito de Xiang-Shan" de autoria de Zhu Huai está escrito:

"O Monte da Porta do Salto de Tigre situa-se a sudoeste do Distrito a uma distância de 90 lis (45 kms). No volume 124 intitulado "Apresentação Concisa da Defesa Marítima" (海防略) n.° 2 da "História Geral de Guang Dong"(廣東通誌) da autoria de Ruan Yuan, escreve-se:

"O lado nascente da Fortaleza do Salto de Tigre, pertence à tutela do Distrito de Xin-Shan; e o do lado outro, à tutela do Distrito de Hui. Portanto, sabemos que a Porta do Salto de Tigre faz fronteira entre os distritos de Xiang-Shan e de Xin-Hui, isto é, a região mais ou menos correspondente ao Monte do Tigre (虎門) do acual Distrito de Dou-Men onde fica a cidade Zhu-Hai. No livro "As Novidades de Guang Dong" (廣東新語) e noutras diversas edições de histórias do Distrito de Xiang-Shan tem-se afirmado que Hao-Jing se encontra a sueste do Distrito Xiang-Shan a uma distância de 120 lis (60 kms). Com efeito, sabemos com clareza que "além da Porta do Salto de Tigre" significa "ficar a sueste da Porta do Salto de Tigre". Deste modo, porém, o actual Macau está situado a nordeste do Monte do Salto de Tigre no Distrito de Dou-Men: neste sentido, só quando incluímos Taipa e Coloane no espaço de Hao-Jing, é possível ficar esta localização de Hao-Jing a sueste da "Porta do Salto de Tigre" e "para além de...". E a objectar esta afirmação: o Desenho Marítimo Guang Dong" do "Diário do Comandante Geral do Exército da Região de Cang-Wu", assinala "Hao-Jing-Ao" a sueste da "Porta do Salto de Tigre". Para ter maior certeza devemos investigar uma fonte fornecida pelo volume 66 intitulado "História das Relações Estrangeiras" (外誌) da "História Geral de Guang Dong" escrita por Huang Zuo (黄佐):

"Pelo arquivo da Administração Imperial tem-se recebido nos últimos anos informações sobre o Sião e países na sua dependência como o Camboja e Malaca etc., segundo as quais, têm vindo desses países navios estrangeiros para nossa terra, uns ancoram no mar de Guang-Hai de Xin-Nin (新寜廣海) de Wang-Tong (望峒), outros no mar de Qi-Tan de Xin-Hui (新會奇潭), no mar de Lang-Bai (ondas brancas) (香山浪白), de Hao-Jing (蠔鏡) e do Portão da Cruz (十字門) do Distrito de Xiang-Shan, e ainda outros, no mar ou baías de Ji-Xi (東莞鷄棲), de Tun-Men (屯門) e da Porta da Cabeça de Tigre (虎頭門) do Distrito de Dong-Guan".

A fonte citada deve indicar acontecimentos anteriores à entrada e à ocupação portuguesa de Macau no ano 32.° do reinado de Jia-Jing da dinastia Ming (1553). Porque, segundo Qu Diajun informou, após a ocupação portuguesa de Macau, portos e baías como Guang-Hai (廣海), Wang-Tong (望峒) Qi-Tan (奇潭), Lang -Bai (浪白), Portão da Cruz (十字門), Porta da Cabeça de Tigre (虎頭門), Tun-Men (屯門) e Ji-Xi (鷄棲) ficaram encerrados e vedados, restou apenas "Hao-Jing" (蠔鏡) como o único porto exterior"35. Nos portos com ancoragem de navios estrangeiros, citados por Huang Zuo, o nome de "Hao-Jing" (蠔鏡) está incluído, o que quer dizer que, antes do ano 32.° do reinado de Jia-Jing da dinastia Ming (1553), os portugueses já tinham entrado no local chamado Hao-Jing. No numero 1 deste texto, já descrevi o facto da existência de comerciantes estrangeiros residentes em Coloane antes do ano 26°. do reinado Jia-Jing da dinastia Ming (1548). A ilha de Coloane tem uma superfície maior que a da península de Macau, e situa-se exactamente na Foz do Rio das Pérolas (Portão da Cruz), por isso tinha uma superioridade estratégica e uma importância muito maior no trânsito marítimo do que a península de Macau. Mas, por aparentemente estranho que seja, na referência de vários portos com ancoragem de navios estrangeiros, de Xiang-Shan-Ao (香山澳) o nome do Coloane está ausente. A explicação deve ser feita com base nesta hipótese, segundo a qual, em época mais remota, Taipa e o Coloane estariam incluídos no local chamado "Hao-Jing". É por isso que Chen Wude (陳吾德) na sua "Carta de Apresentação pormenorizada da Situação do Nascente de Guang Dong" (條陳東粤疏), no volume 1, do livro seis, intitulado "obras de Xie-Shan" (謝山存稿) referiu "os vários portos de Hao-Jing". No meu entender. "os vários portos de Hao-Jing" referidos por Huang Zuo indicam realmente Coloane. No "Mapa-Desenho do Litoral de Guang Dong" do "Relatório da Grande Importância de Guang Dong" (粤大記·廣東沿海圖) o local com a indicação de "Hao-Jing-Ao"(蠔鏡澳) prolonga-se dentro do oceano que faz ligação com o Portão da Cruz, sem a referência dos nomes de Taipa e Coloane. No "Desenho Marítimo de Guang Dong" do "Diário do Comandante Geral do Exército da Região de Cang-Wu" (蒼梧總督軍門誌·廣海興圖) assinala-se o nome de "Xiang-Shan-Ao" (香山澳) ao lado da península de Macau, e a sudeste da Porta do salto de Tigre (虎跳門), ao lado de "terras associadas da cruz" (十字窖聨州) assinala-se o nome de "Hao-Jing-Ao" (蠔鏡澳). "Terras associadas da cruz" devem indicar a parte "superior" (上滘) dentro do Portão da Cruz e a parte "inferior" (下滘) fora do mesmo portão. "A parte superior" (上滘) aproxima-se estreitamente da Taipa, e a "inferior" (下滘) está junto de Coloane. Baseando-nos em tudo o acima descrito, sabemos que em tempos mais remotos o nome de "Hao-Jing-Ao" não indicava apenas a península de Macau, mas também toda a superfície marítima a sul dela e as duas ilhas, Taipa e Coloane.

Em todo o caso, com a análise de documentos históricos em chinês, o problema, embora não esteja totalmente esclarecido, ficou aberto à possibilidade de ser resolvido. Todavia, é verosímil na anotação da "História da Dinastia Ming, Referências de Portugueses", segundo a qual, o Comandante Huang Qing recebeu subornos dados por portugueses, para lhes ser permitida a entrada em Hao-Jíng, se entendermos "Hao-Jing" não como península de Macau, mas sobretudo a ilha de Coloane. Podemos confirmar isso ao traçar o itinerário através do qual os portugueses desenvolveram o seu comércio com a China: em primeiro lugar, Shang-Chuan (上川) e Dian-Bai (電白), depois Lang-Bai (浪白), Coloane e finalmente, a península de Macau. Uma trajectória progressiva de poente a nascente. Uma interpretação do termo geográfico "Hao-Jing" (蠔鏡) assim realizada seria mais razoável e aceitável de acordo com a realidade história, em vez de se negarem as fontes inscritas na "História de Ming" (明史) e na obra "Os Acontecimentos Verdadeiros de Ming" (明實錄).

Quando os portugueses conseguiram entrar e residir na península de Macau no ano 32.° do reinado de Jia-Jing (1554), fizeram todo o esforço para melhorar as condições comerciais e residenciais, segundo nos informa a história, "nos últimos anos (portugueses) começaram a entrar em Hao-Jing-Ao (濠鏡澳), edificando casas e lojas para facilitar o comércio. Em poucos anos, o número de bairros residenciais atingiu as centenas, e hoje, quase os milhares."36 Com a radicação portuguesa em Macau, os outros portos marítimos foram vedados e encerrados, "Hao-Jing ficou como o único porto exterior"37. Neste caso, o comércio antigamente realizado em portos como Lang-Bai (浪白), Portão da Cruz (十字門) e Coloane foi proibido ou cancelado. Com esta mudança histórica, o termo "Hao-Jing" veio a tornar-se um nome especial para indicar somente a península de Macau, reconhecido amplamente pelo mundo fora. Em conformidade com as fontes até agora disponíveis podemos afirmar que o nome de "Hao-Jing" era para os Mings um termo mais importante, para indicar uma zona mais vasta que incluía já a península de Macau. Por isso, logo no começo de "Ou-Mun-Kei-Leok" se escreve: "O nome de 'Hao-Jing' é conhecido na história de Ming". Mas, isso não significa que Hao-Jing-Ao só tenha sido conhecido na dinastia Ming; de facto, foi um nome continuamente utilizado até à dinastia Qing.38

4. "Xiang-Shan-Ao" (香山澳), um Nome Comum a Designar Todos os Portos Pertencentes ao Distrito de Xiang-Shan (香山縣) no Tempo Mais Remoto.

Para os Mings, o nome mais importante para designar a península de Macau era "Hao-Jing-Ao". Mas, como já sabemos, eles sempre designaram a península de Macau onde residiam os portugueses como "Xiang-Shan-Ao" (香山澳). Por exemplo, Wang Shixing (王士性)escreveu no livro intitulado "Especulação sobre Histórias" (廣誌譯), volume 4, "As 4 Províncias do Sul do Rio Yang-Ze" (江南諸省):

"Xiang-Shang-Ao é o local onde estrangeiros de vários países ancoram os seus navios. Wang Linxiang escreveu no livro intitulado "Páginas sobre Espadas de Guang Dong" (.....), volume 3, "Histórias de Estrangeiros" (誌外夷):

Desde que houve ocidentais a virem à China, o lugar onde ancoram os seus navios é sempre Xiang-Shan-Ao".

Shen Deqian (沈德潛) escreveu no "A Compilação dos Boatos no Reinado de Wang-Li", volume 30, "Oceano Atlântico":

"Mateus Ricci,... da primeira vez veio hospedar-se em Xiang-Shan-Ao". Com efeito, podemos ter a consciência de que o nome de "Xiang-Shan-Ao" acima citado é o nome que indica a península de Macau onde os portugueses se instalaram então. No entanto, será esse o sentido correcto nesse tempo para "Xiang-Shan-Ao"? Com certeza que não. Inicialmente o termo "Xiang-Shan-Ao" não indicava somente a península de Macau, mas sim todos os portos ou todas as baías pertencentes ao Distrito de Xiang-Shan, isto é, um nome geral para todos os portos ou todas as baías do Distrito de Xiang-Shan.39

O nome de "Xiang-Shan-Ao" aparece primeiramente na "História da Dinastia Ming, Referência aos Portugueses":

"Lin Fu (林富), o magistrado imperial solicitou ao Imperador: (°) e foi autorizado. Desde então, os portugueses conseguiram entrar em Xiang-Shan-Ao para fazer comércio".

Foi no ano 8.° do reinado de Jia-Jing da dinastia Ming (1529) que Lin Fu solicitou ao Imperador a sua autorização para recomeçar o comércio marítimo, segundo essa fonte histórica, e que aos portugueses foi concedida a entrada em Xiang-Shan-Ao para comércio. Ora bem, a solicitação feita por Lin Fu é para recuperar o comércio marítimo, proibindo, porém, as trocas comerciais entre chineses e estrangeiros. Como escreveu Huang Zuo: "Se forem estrangeiros, devem ser imediatamente expulsos, no caso de haver resistência, podem-se enviar soldados para prendê-los".40 A ordem de proibição é dada através de ofício imperial, é certo. Mas se, de facto, a sua aplicação se fez ou não com grande eficácia, isso já é outra coisa. Uma vez a China aberta ao exterior e sendo comerciantes, os portugueses conseguiram sempre encontrar uma solução para comerciar com esse empório do Oriente. Informações sobre Países Estrangeiros"(殊域周咨錄), volume 9, "Portugal" (佛朗機) está escrito:

"Ao proibir o comércio com os portugueses, os seus amigos chineses nunca quebraram os laços comerciais com eles, que se aproximavam dos navios estrangeiros para comércio".

Por esse facto, negar definitivamente a entrada de portugueses em Xiang-Shan-Ao após a solicitação de Lin Fu para a autorização de recuperar o comércio marítimo no ano 8° do reinado de Jia-Jing (1529) é escasso de fundamento. Em tempos mais remotos, o nome de "Xiang-Shan-Ao" abrangeu uma região mais vasta do que mais tarde: além da península de Macau, incluía-se Lang-Bai (浪白), Portão da Cruz (十字門) e Coloane etc.. Este nome de "Xiang-Shan-Ao" era um conceito geográfico local ainda mais lato do que o termo "Hao-Jing-Ao". Por isso, na "História de Ming" têm a designação composta de "Xiang-Shan-Ao Hao-Jing" (香山澳壕鏡), deste modo, sabemos que Hao-Jing era um porto pertencente ao Xiang-Shan-Ao. O livro supracitado "História do Distrito de Xiang-Shan do Reinado de Jia-Jing" (嘉靖香山縣誌) já comprovou que, antes do ano 25.° do reinado de Jia-Jing da dinastia Ming (1548), na ilha do Coloane havia já residentes estrangeiros, e outro livro intitulado "História Geral de Guang Dong" (廣東通誌), da autoria de Huang Zuo, confirma-se que, antes da abertura de Macau como porto exterior (1553), Hao-Jing (蠔鏡), Portão da Cruz (十字門) entre outros, já eram portos em que comerciantes do sudeste da Ásia e portugueses negociavam. Eles conseguiram entrar nesta região de Xiang-Shan-Ao em consequência da solicitação de Lin Fu para o levantamento da proibição marítima no ano 8°. do reinado de Jia-Jing (1529); no entanto, o nome de "Xiang-Shan-Ao" designava então uma vasta zona que incluía Lang-Bai (浪白), Portão da Cruz (十字門) e Coloane etc.. Se essa afirmação fosse verdadeira, o nome de Xiang-Shan-Ao teria surgido primeiramente no ano 8°. do reinado de Jia-Jing (1529).

Pela mesma razão por que, após a entrada dos Portugueses na península de Macau, os vários portos do sul vieram a ser gradualmente abandonados, tomando-se desta maneira, o nome de Xiang-Shan-Ao como designação especial da própria península. Zhang Xie (張變) escreveu no seu livro "Estudos sobre o Oriente e o Ocidente" (東西洋考): Em Março do ano 34° do reinado de Jia-Jing (1555), o Ministério do Protocolo (司禮監) informou o Ministério dos Solos, Impostos e Finanças (户部) que deveriam ser obtidos 50 quilos de âmbar cinzento, que mandou comprar para Xiang-Shan-Ao".41 Yu Dayou no seu livro "Obras Completas de Zheng-Qi-Tang" (正氣堂集): "(no ano 43.° do reinado de Jia-Jing) podendo preparar bem os barcos em Xiang-Shan-Ao, planeava utilizar os barcos de Lin Hongzhong por ser amigo há anos."42 Além disso, escritores como Xu Fuyuan (許孚遠)no seu "Do Levantamento da Proibição Marítima" (疏通海禁書), Wang Shixing (王士性) na sua "Especulação sobre Histórias"(廣誌釋), Wang Linxiang (王臨享) nas suas "Páginas sobre Espadas de Guang Dong" (粤劍篇), Shen Deqian na sua "Compilação de Boatos no Reinado Wang-Li" (萬歴野獲篇), Li Shiwen (李侍問) na sua "Solicitação para Isenção de Impostos sobre Viveiros de Pérolas, Sal, Ferro e Porto" (罷採珠池鹽鐵澳税疏) Li Zhizao (李之藻) na sua "Solicitação para Comprar com Muita Urgência Espingardas ocidentais com o objectivo de Triunfar em Guerras" (奏為制勝務须西铳乞敕速取疏) e no "Arquivo do Governador Nangong, Julgamento sobre o Caso de Wang Bensu e de Outros Réus" (南官署牘·會審本肅等犯一案) têm registado o nome que indica a península onde residiam os portugueses. O grande dramaturgo chinês da dinastia Ming, Tang Xianzu (湯顯祖), descreveu paisagens pitorescas e monumentos típicos de Xiang-Shan-Ao na sua famosa obra, intitulada "Quiosque de Peónias"(牡丹亭), onde descreve exactamente panoramas de estilo português, o que significa que o Xiang-Shan-Ao desta obra se refere à península onde os Portugueses viviam.43 Para fundamentar estes factos que desde a ocupação de Macau por Portugueses, o nome de "Xiang-Shan-Ao" passou a ser um nome a designar a península de Macau, embora seja este um pouco menos importante do que o outro nome de "Hao-Jing-Ao". Embora no Distrito Siang-Shan haja muitas baías e portos, o nome de "Xiang-Shan-Ao" ficou a ser um nome especial para a designação da península de Macau, não se referindo ao mesmo tempo a outros portos ou outras baías, do qual podemos ter provas em documentos históricos acima citados.

O nome de "Xiang-Shan-Ao" encontra-se com mais frequência nos documentos da dinastia Ming, e continua a ser utilizado até aos anos do reinado de Kang-Xi da dinastia Qing (1662-1723)44. Desde então, desapareceu da língua corrente, quando o nome de "Macau" surgiu em documentos modernos. Por isso, quem utiliza o nome de "Xiang-Shan-Ao", está a referir acontecimentos da dinastia Ming.

5. No Princípio, "Macau" Designava Vários Lugares da Região de Macau Actual

O nome de "Macau" é o mais recente dos acima referidos, e parece-nos não só não indicar exactamente um ou mais lugares, como sobre a sua definição e o seu sentido real, muitas opiniões se contradizem umas às outras.

O nome de "Macau" (澳門) em chinês apareceu primeiramente numa solicitação famosa da autoria de Pang Shangpeng (龐尚鵬) da dinastia Ming, onde se escreve:

"A sul de Cantão, encontra-se o Distrito de Xiang-Shan; da aldeia de Yong-Mo (雍麦) ao Hao-Jing-Ao, leva-se um dia inteiro no caminho, onde existem dois montes em frente um do outro, chamam-se o monte do sul e o nome do norte, isto é o Portão do Porto (澳門). (...) Há pessoas tão preocupadas com estrangeiros, que sugeriam encher de pedras a parte mais estreita do canal para impedir a livre passagem de navios estrangeiros, consolidando assim a defesa do Distrito Xiang-Shan".45

É muito claro no artigo acima citado que o nome do "Portão do Porto" (澳門) indica um lugar de Hao-Jing-Ao que fica compreendido entre os montes do sul e do norte. Qu Dajun escreveu (屈大均) nas suas "As Novidades de Guang Dong"(廣東新語):

"Em primeiro lugar, chegamos a um sítio chamado "Ilha Verde", com floresta muito densa, com vivendas construídas à sombra de palmeiras, respirando um ar muito especial. E depois de mais 10 lis (5 kms), estamos no local de Hao-Jing-Ao, onde se encontram dois montes do sul e do norte, um em frente do outro, e, por isso, se chama "Portão do Porto" (澳門)46

Nesta passagem do artigo de Qu Dajun, o local do "Portão do Porto" (Macau) fica a 10 lis da Ilha Verde, é, por isso, um lugar de Hao-Jing-Ao. E onde é que está agora o "Portão do Porto"? Zhang Zengming (章憎命) nas suas "As Narrativas Históricas e Lendárias de Macau" (澳門掌故) escreveu:

"Os dois montes do sul e do norte que se encontram em Hao-Jing-Ao, devem ser o monte (中市山) e o monte (崗頂), os dois de frente um para o outro configurando uma forma de "Portão". O terreno estreito e plano entre os dois era o local onde, no tempo mais antigo, comerciantes se reuniam para negócios; porque, casas, lojas e firmas comerciais foram instaladas por aí, é o que se chamava antigamente "Rua de Macau" ou "Estrada", isto é, a actual Rua dos Mercadores, local onde começa Macau. Este local chama-se "Macau" (澳門) porque numa parede existente no Pátio da Mina, na Rua da Nossa Senhora do Amparo, estão inscritas duas letras em grande escala "澳門" (Macau): muito grandes, quase equivalentes um metro quadrado cada, passaram a ser a marca da localidade de Macau".47

Segundo Zhang Zenming, a antiga localidade de Macau era apenas Rua dos Mercadores. No entanto, em Macau outras duas opiniões contradizem isso: os montes do sul e do norte indicam a Guia e a Barra, ou Mong-há e a Barra, o terreno entre os dois montes é Macau. He Wenyi ( 何文綺) na sua "Reconstrução da Lápide do Grémio de Três Ruas" (重建三街會館碑記) visa conciliar todas estas opiniões:

"A península, banhada por mar, com baías a sul e a norte, onde se encontram os montes do sul e do norte. Os montes em frente um do outro, têm a configuração de um portão, por isso se chama" "澳門" (Macau)48 O nome de "Ao-Men" (澳門) (Macau) tem muitas explicações porque esse nome ao surgir em documentos históricos não tinha um sentido geograficamente exacto e definido; era, portanto, uma comparação figurativa da topografia. Se o terreno entre dois montes se pode chamar "Ao" (澳[嶴]) por outro lado, a superfície marítima entre duas ilhas pode também chamar-se " 澳門" (Portão) (Macau). Por isso, Xue Xin (薛馧) na sua "História de Macau" (澳門記) escreveu assim:

"Ao longo da direcção do sudoeste mais ou menos dez lis (5 kms), a ilha do Duo-Wei (舵尾) no lado direito e a ilha de Ji-Jing (鷄頸) no esquerdo; assim a mais de dez lis, vêm-se a ilha da Montanha à direita e a ilha de Ká-Ou (九澳) à esquerda. Nesta região, baías e ilhas-montanhas espalham-se em quatro direcções, tendo uma configuração em "cruz", por isso, chama-se "Portão da Cruz" ou "Ao-Men" (澳門) (Macau).49 Segundo Xue Xin, o nome de "Macau" é derivado de "Portão da Cruz", isto é, o "Portão da Cruz" é Macau mesmo. Zhang Zhentao (張甄陶) nas suas "Explicações Ilustrativas de Macau" (澳門圖説) é favorável a esta opinião. Os autores de"Ou-Mun-Kei-Leok" uma vez que estão de acordo com Xue Xin escrevem:

"No sul de Macau, quatro ilhas espalham-se em quatro direcções, configurando uma forma de cruz, que se chama "Portão de Cruz", e pelo mesmo motivo, é designado como "Portão de Baías" (澳門) (Macau)". Mas não podiam ter a certeza. Mas como escreveram noutra passagem o seguinte:

"Há pessoas que dizem que o nome de "Macau" é derivado de dois montes que se encontram nesta península no sul e no norte enfrentando-se um ao outro como um portão".50 Na base de tudo o acima descrito, sabemos que até à época do reinado de Qian-Long da dinastia Qing (1736-1796), o problema da origem do nome de Macau mantinha-se ainda obscuro.

De qualquer maneira, já apurámos em que ponto da polémica escritores e historiadores chineses continuam a discutir incessantemente. No percurso do meu estudo deste problema, ficámos esclarecidos que o nome de "Ao-Men" (澳門) (Macau), quando primeiro surge em documentos históricos, não era senão um nome a indicar difusamente vários sítios do actual "Macau"; sem referência exacta do sentido geográfico não se pode entender como igual ao conceito actual sobre Macau. Na solicitação de Pang Shangpeng do ano 43 (1564), "澳門" (Macau) era somente um dos muitos lugares de "Hao-Jing-Ao", e depois de 43 anos, esse nome de "澳門" (Macau) ficou com um sentido geograficamente mais largo, tomando-se assim um outro nome capaz de substituir o nome de "Hao-Jing-Ao". Até ao ano 30°. do reinado Wáng-Li (1602), Guo Fei (郭棐) adoptou o título "澳門" (Macau) para nomear o capítulo dedicado à descrição dos acontecimentos e assuntos de Hao-Jing-Ao ao escrever a sua "História do Distrito Xiang-Shan". Na opinião do autor o nome de "澳門" (Macau) pode substituir perfeitamente o nome de "Hao-Jing-Ao"; desde então, o nome de "澳門" (Macau) passou a ser universalmente reconhecido. No ano 41. ° do reinado de Wang-Li (1613), Wang Yining (王以寜) na sua "Apresentação Pormenorizada da Situação da Defesa Marítima" (陳條海防疏) escreveu:

"No início da fundação do Império Ming, vieram comerciantes de países estrangeiros da Ásia, entre eles, do Vietname, para o comércio de interesse mútuo, de modo a estabelecer um serviço de Mercado para a sua administração. Estes comerciantes trouxeram consigo mercadorias para vender, e regressavam à sua terra finda a Feira, ninguém ficava em Macau. Mas a ocupação por estrangeiros começou no ano 30. ° do reinado de Jia- Jing.52 Com efeito, podemos saber que na visão de Wang Yining, o nome de "Macau" pode substituir "Hao-Jing-Ao", indicando assim todo o Território de Macau. É uma das formas de divulgação de qualquer nome territorial: quanto mais simples for um nome, mais fácil se torna a sua divulgação, e mais acessível a toda a gente.

De qualquer modo, em toda a dinastia Ming, o nome principal que designa a península de Macau era Hao-Jing-Ao, e depois, Xiang-Shan-Ao. Nesta época da dinastia Ming, o nome de "Macau" era muito raramente referido. Ao entrar na dinastia Qing, o nome de "Macau" foi surgindo gradualmente. Sobretudo depois dos anos do reinado de Dao-Qian, nomes como "Hao-Jing-Ao" e "Xiang-Shan-Ao" foram considerados como símbolos do património cultural da dinastia Ming, sendo muito raramente referidos e quase abolidos totalmente pelo governo da dinastia Qing. Neste caso, "Macau". (澳門) ficou como o único nome para designar a península de Macau. Nos primeiros anos da dinastia Qing, o magistrado imperial Gong Xianglin (龔翔麟) escreveu no seu "Relatório sobre a Missão Cumprida na Região do Rio das Pérolas".

"O actual Macau (澳門) é realmente Hao-Jing-Ao, como era chamado antigamente".53 Com base nessas passagens das fontes históricas, verificamos que o nome de "Hao-Jing-Ao" foi abolido com a extinção do Império da Dinastia Ming e é substituído pelo actual nome de "Macau"(澳門)

6. "Long-Ya-Men" (龍崖門) (Portão do Penedo de Dragão), Um outro Nome da Península de Macau na Dinastia Ming

Macau, "não é mais do que uma língua de rocha", mas diversos nomes lhe foram dados ao longo da história. O nome de "Long-Ya-Men",encontro-o apenas numa fonte histórica da dinastia Ming que é, para mim, a única que designa Macau como "Long-Ya-Men". É o livro intitulado "Uma Perspectiva do Japão" (日本一鑑), da autoria de Zheng Xungon (鄭舜功), que escreveu no volume 6, intitulado "Comércio Marítimo":

"Através da investigação, conseguimos ainda verificar que piratas japoneses se reúnem, em nome de comerciantes chineses, em ilhas do nosso país. Por isso, estes piratas japoneses nunca fizeram comércio legal, acompanhando navios europeus que vêm com a finalidade de comerciar no mar de Guang Dong. No ano corrente, o navio ocidental "Neptuno" veio oficialmente ao mercado de "Long-Ya-Men" de Guang Dong, mas, ao saber do mercado negro situado em "San-Zhou" (三洲), propôs aos japoneses a possibilidade de dividir alguns lucros se fossem juntos ao "Long-Ya-Men". Com efeito, conduziram os japoneses para "Long-Ya-Men". Os europeus que tripulavam o "Neptuno" estacionam e residem em "Long-Ya-Men". O povo tem muito receio deles e o governo, muito preocupado, mandou representantes seus para expulsá-los, sem resultado. Por isso, estes europeus conseguiram ficar mais de dez anos. Soubemos ainda que os mesmos andam a comprar cobre para fabricar grandes espingardas, a fim de irem em serviço de tributação à Capital, mas o que querem fazer ao certo não podemos adivinhar. Depois, veio um outro, navio "Fortuna", ficou também em "Long-Ya-Men", o que nos suscitou muitas preocupações".

Esta é uma fonte muito valiosa da primeira fase da história de Macau. O seu autor integrou uma embaixada enviada pelo imperador chinês: a partida de Cantão para o Japão deu-se no ano 32.° do reinado de Jia-Jing, e o livro foi escrito depois do seu regresso. Nesta obra, Zheng Xungong descreveu pormenores de tudo o que ocorreu ao cumprir a sua missão imperial, incluindo tratos de comércio acontecidos no mar da China, onde podemos ler passagens muito verosímeis sobre as actividades dos comerciantes europeus nas províncias de Zhejiang, Fujian e Guang Dong, o que revelou muitas coisas sobre a história mais remota de Macau em que muitos outros livros são omissos. E não sei a razão por que esta fonte nunca foi citada por vários historiadores especializados na história de Macau.

Para esclarecer o que realmente quer dizer esta fonte histórica, temos de investigar qual é o "ano corrente" do texto citado. Infelizmente, a edição do livro que eu consultei é umfacsimile do ano 28.° da República da China (1939), não tem nem prefácio nem posfácio e não consegui saber em que ano foi escrito. Mas, analisando os acontecimentos descritos no livro, apurámos que tiveram lugar o mais tardar no ano 43.° do reinado de Jing (1564); por outras palavras, segundo a história da dinastia Ming, sabemos que Zheng Xungong partiu em missão imperial para o Japão no ano 34.° do reinado Jia-Jing (1555). Portanto, em conformidade com "estes europeus conseguiram ficar aí mais de dez anos" do texto citado, e se analisarmos o fundamento da opinião, segundo a qual os portugueses ocuparam e residiram na península de Macau no ano 32.° do reinado de Jia-Jing (1553), o número de anos ultrapassaria dez até ao ano 43.° do reinado de Jia-Jing (1564): se partirmos da opinião, segundo a qual os Portugueses ocuparam e residiram oficialmente na península de Macau no ano 36.° do reinados Jia-Jing (1557), contando assim a partir daí mais dez anos, podemos concluir que "ano corrente" deve indicar o primeiro ano do reinado de Long-Qing (1567).

O "Neptuno" e o "Fortuna" são dois navios de comércio sino-japonês. Como sabemos, naquela altura, depois de ocupar Macau, os Portugueses de Malaca e Goa enviavam anualmente navios comerciais para Macau, onde estacionavam durante um ano, e o seu capitão podia exercer o cargo de governador durante a sua estadia. Às vezes, por causa das monções, os navios não conseguiriam sair; nesse caso, vinha outro navio a Macau juntar-se ao anterior. O que Zheng Xungong escreveu referia-se indubitavelmente a este caso. No texto, a palavra "San-Zhou" deve indicar "Shang-Chuan", porque o outro nome de "Shang-Chua" é o mesmo que "Shan-Zhou". Ora bem, a ilha de "Shang-Chuan" foi o primeiro mercado marítimo explorado por Portugueses no mar do sul da China54. Iniciou-se nos anos do reinado Zheng-De (1506-1522), e foi depois encerrado55. O que o texto revelou como "o mercado situado em "San-Zhou", devia querer dizer o seguinte; durante alguns anos do reinado de Jia-Jing, comerciantes de outros países vieram"comerciar clandestinamente" a Shang-Chuan, para rivalizar com o mercado estabelecido por Portugueses em "Long-Ya-Men".

Mas, onde está "Long-Ya-Men"? Não consegui encontrar nenhuma referência nas diversas "histórias locais". No entanto, segundo a descrição do texto, "estacionam e residem" e "andam em compras de cobre para fabricar grandes espingardas", e essas actividades suscitaram "receio" do povo, preocupação do governo, "mandou seus representantes para expulsá-los, sem resultado. Por isso, estes europeus conseguiram ficar mais de dez anos", podemos pôr a hipótese de que "Long-Ya-Men" seria exactamente Macau. Conforme Guo Fei na "História Geral de Guang Dong" (廣東通誌), volume 69, intitulado "Macau":

"No ano 32 do reinado Xia-Jing (1553), (vieram) ancorar seus navios em Hao-Jing-Ao, (...) edificando apenas umas dezenas de albergues provisórios, e mais tarde, os que andavam em busca de lucros muito ambiciosos começaram a transportar pedras e tijolos para construção de edifícios muito sólidos, fazendo de Macau quase uma cidade. Quanto às suas compras de cobre, sabemos que logo no início da abertura como porto exterior, havia comerciantes portugueses que instalaram oficinas de artilharia que, pela sua alta qualidade, foram consideradas como a melhor artilharia de todo o mundo feita no extremo-oriente".56 Na base destes factos históricos, podemos verificar que, "Long-Ya-Men" não deveria ser outro lugar senão a península de Macau. No que se refere às actividades portuguesas e a serem expulsos de "Long-Ya-Men", podemos verificá-lo ainda na "Solução de Casos Portugueses" (撫處濠鏡澳夷) da autoria de Pang Shangpeng (龐尚鵬) escrita no ano 43.° do reinado de Jia-Jing (1564):

"Hoje, (portugueses) construíram inúmexas casas, a sua população é quase de milhares de pessoas. A sua fisionomia é muito diferente e vestem-se esquisitamente. Andam por toda a parte do mar e da terra, com espadas a brilhar à luz do sol. Os seus tiroteios e canhoneios fazem o céu parecer de trovoada. Se estiverem alegres e contentes, são humanos; se estiverem zangados, tornam-se feras. Por isso os bandidos chineses gostam de andar com eles para poderem reprimir os habitantes, desprezando os oficiais do governo chinês de "Ao-Men". Tudo isso começou gradualmente. (...) Os habitantes queriam queimar as suas casas para expulsá-los, o que era fácil de fazer. Mas, uma vez quando tentámos realizá-lo, não tivemos nenhum êxito, e corremos muitos riscos. Desde então, os estrangeiros andam sempre com armas para poder responder a qualquer acção da nossa parte. Por isso, será possível queimá-los?".

Na comparação dos dois textos, podemos verificar que o "Long-Ya-Men" onde os Portugueses residiam, descrito em "Uma Perspectiva do Japão", quer do ponto da vista do tempo da história, quer do ponto da vista da vida que é descrita não pode ser outro local senão o próprio Macau. Embora o nome de "Long-Ya-Men" não se encontre em nenhuma edição de diversas "História do Distrito de Xiang-Shan", podemos encontrá-lo no tomo 5 das "Obras Completas do Sr. Huo Wenmin" (霍文敏), da autoria de Huo Tao (霍韜):

"Na costa do Distrito de Xiang-Shan, existem uns penedos íngremes, chamados "Long-Ya-Men" (龍崖門).58 "Long-Ya-Men" situa-se na costa do Distrito/Xiang-Shan, o que pode comprovar geograficamente que o referido "Long-Ya-Men" descrito em "Uma Perspectiva do Japão", é mesmo Macau. Se esta opinião fosse confirmada, o Território de Macau ficaria com mais um outro nome. É pena, porque as fontes de referência sobre "Long-Ya-Men" acabam aqui. Não encontramos mais nenhuma em documentos históricos posteriores.

NOTAS

1 (Dinastia Ming) Wu Guifang: "As Solicitações e Sugestões do General Wu Guifang", volume 1, "Sugestão do Impedimento da Entrada de Estrangeiros Estacionados na Baía em Nome da Tributação".

2 (Dinastia Ming) Deng Xian: "História de Xiang-Shan", volume 1, "Primeira Parte, Costumes e a Terra".

3 (Dinastia Ming) Deng Qian: "História de Xiang-Shan", volume 1, "Mapa-Desenho Plenário do Distrito".

4 (Dinastia Ming) Qu Dajun: "As Novidades de Guang Dong", volume 2, "Terra".

5 Cf. Guo Yongliang: "As Relações da Primeira Fase da História entre Macau e Hong Kong", capítulo segundo, p.10

6 Cf. Graciete Nogueira Batalha: "Este Nome de Macau", na "Revista Cultural de Macau", n.° 21 de 1987.

7 Sobre isto, v. Zilang Tianze: "História da Primeira Fase do Comércio Sino-Português", capítulo "O surgimento de Macau".

8 Cf. Luís Gonzaga Gomes: "Os Diversos Nomes de Macau", edição com tradução chinesa, p.5.

9 Cf. Huang Wenkuan: "Para um Melhor Entendimento da História de Macau", Cf. parte, "Estudos sobre Diversas Histórias Locais".

10 Cf. Andrew Ljunstedt: "The Portuguese Settlements in China", p.9.

11 Cf. Guo Yongliang: "História da Primeira Fase do Comércio Sino-Português", capítulo II, p.11

12 Dinastia Qing Yin Guangren, Zhang Rulin:"Ou-Mun-Kei-Leok", tomo 1, "Situação".

13 Cf. Li Dechao: "Estudos sobre a História Regional de Macau nos últimos Três Anos", in "Macao Daily News", 10 de Setembro de 1990.

14 Cf. Zhang Zengming: "Novidades Históricas e Lendárias de Macau" (澳門掌故), parte nona,"Monumentos Históricos", "Penedo Má-Jiao".

15 Dinastia Qing Qiu Fengjia: "Poesias do Dono da Vivenda Chamada "Montanha, Núvens, Mar e Sol", volume 7, "As Diversas Poesias de Macau".

16 Cf. (白樂賈): "Os Pioneiros Ocidentais e a Sua Descoberta de Macau", edição na tradução chinesa, 1949, Macau.

17 Cf. Mateus Ricci: "Sobre a Vida da China" é preciso confirmar o título original, porque, por grande esforço que faça, não consegui encontrar o original da obra de Ricci. Nota do tradutor, capítulo 2 do volume 2, edição na tradução chinesa, Editora Clássica da China (中華書局)1983.

18 Cf. Zhang Zengming "Novidades Históricas e Lendárias de Macau", parte quarta "Templo de Má-Kok", in Macao Daily News, 8 de Dezembro de 1959.

19 Dinastia Ming Guo Fei: "Relatório de Grande Importância de Guang Dong no reinado Wang-Li", volume 32: "Mapa-Desenho do Litoral de Guang Dong".

20 Idem do 12.

21 Dinastia Qing Ruan Yuan: "História Geral de Guang Dong" (廣東通誌) desenho da defesa marítima, anexo do volume 124 "Apresentação Concisa da Defesa Marítima": "Macau, outro nome, Ma-Jiao". No livro intitulado "Dos Assuntos da Fronteira e dos Impostos de Macau": "Os Portugueses, quando, de início, chegaram de navio, designaram Macau como Má-Jiao".

22 Cf. Tomé Pires: "Suma oriental", p.162.

23 Idem. do 6.

24 "História da dinastia Ming, Referências sobre Portugueses".(明史·佛朗機傳)

25 Idem do 12.

26 Cf. Zhang Zengming": "Novidades Históricas e Lendárias de Macau", parte décima primeira "História dos Grémios", in Macao Daily News", 29 de Junho de 1962.

27 (Dinastia Ming) Pang Shangpeng: "Obras Escolhidas de Quiosque de Mil Assuntos" (百可亭摘稿), volume 1, "A Minha Sugestão sobre a Estabilidade Perpétua da Zona Costa do Sul".

28 (Dinastia Ming) e Quan: "Compilação de Santos Eruditos" (賢博編), "Viagem por Ling-Nan Guang Dong, anexo do tomo segundo.

29 Na opinião de Zhang Zenming, "Hao-Jing-Ao" devia abranger sítios, tais como: Macau, Mong-Há, Long-Tian (龍田), Long-Huan (龍環), Tap-Siac, Nova Ponte (新橋), Patane, Lu-Dou (蘆兜) etc. Cf. "Cidade de Macau", parte sexta da "Novidades Históricas Lendárias de Macau".

30 Idem. do 27.

31 (Dinastia Qing Shen) Lianghan: "História de Xiang-Shan", volume 10, "Estrangeiros de Macau".

32 Idem. do 19.

33 O Prof. Dai Yixuan afirmou: "No ano 14.° do reinado Jia-Jing, o Comandante Geral Huang Qiong aliás, Huang Qing foi subornado por portugueses, solicitando ao superior autorização de residência de portugueses em Hao-Jing. Isso é uma afirmação absurda sem fundamentos." A meu ver, uma atitude assim arbitrariamente negativa perante uma fonte histórica proveniente de "Acontecimentos Verdadeiros da Dinastia Ming, que é uma obra de alta autoridade e crédito, não passa de uma arbitrariedade. Cf. "Correcção da História de Ming, Referências sobre Portugueses", p.61. De acordo com essa atitude, Prof. Huang Wenkuan persistiu firmemente também na negação da mesma fonte na sua obra "Para um Melhor Entendimento da História de Macau". Cf. p.69. No entanto, Zhang Weihua tem uma atitude muito cuidadosa perante a mesma fonte, Cf. "Revisão e Notas da História da Dinastia Ming, Referências sobre Quatro Países Europeus", p.41.

34 No opinião de Dai Yixuan e Huang Wenkuan, a afirmação, segundo a qual "Hao-Jing" está além da Porta do Salto de Tigre, é errada. Huang Wenkuan disse que devia estar além da Porta da Cabeça de Tigre. Mas Li Dechao já refutou o que Dai e Huang afirmaram. Cf. Dai Yixuan: "Correcção da História da Dinastia Ming", p.54; Huang Wenkuan: "Para um Melhor Entendimento da História de Macau", p.198; e Li Dechao: "A origem de Alguns Nomes de Macau", in "Macao Daily News", 9 de Fevereiro de 1992.

35 Idem do 4.

36 Idem do 27.

37 Idem do 27.

38 Ate à época da dinastia Qing, o chefe dos estrangeiros residentes em Macau foi designado como "Administrador dos Assuntos ocidentais de Hao-Jing-Ao". Cf. "Fontes Históricas das Relações Diplomáticas da Dinastia Qing", volume do reinado Jia-Jing, terceira parte. Em arquivos sobre Macau de Bibliotecas de Portugal, as fontes históricas em chinês até ao reinado de Jia-Jing designam sempre "Macau" como Hao-Jing-Ao. Cf. Fang Hao: "Documentos Históricos Chineses em Países Ocidentais", in "obras Escolhidas do Sr. Fang Hao com a Idade de 60 Anos".

39 O Prof. Huang Wenkuan disse: "Xiang-Shan-Ao, originariamente é o nome geral de Lang-Bai, Portão de Cruz, entre outros mais pertencentes ao Distrito Xiang-Shan. Posteriormente, com a abolição de todos os outros portos excepto Macau, o nome de Xiang-Shan-Ao ficou como nome exclusivo de Macau." Cf. ara um Melhor Entendimento da História de Macau", p.198.

40 (Dinastia Ming) Huang Zuo: "Tai-Quan-Ji" (泰泉), volume 20.

41 (Dinastia Ming) Zhang Xie: "Estudos sobre o ocidente e o oriente", volume 12 com citações da "História Geral de Guang Dong".

42 (Dinastia Ming) Yu Dayou: "Oras Completas de Zheng-Qi-Tang", volume "Solicitação de Reunião de Canhoneiras para Combater contra a Rebelião".

43 (Dinastia Ming) Tang Xianzu: "Quiosque de Peónias", na sexta cena "Avistar cor. Saudades" e na vigésima primeira "Encontro", há referências a Macau. A antologia poética do famoso dramaturgo "Poesias de Yu-Ming-Tang" referia o "Xiang-Shan-Ao" como "Xiang-Ao" Baía Aromática. Este nome de "Xiang-Ao" hão deve ser o nome simplificado de Macau, mas sim; Macau naquela altura era muito famoso pela sua abundância de materiais aromáticos, porque na história mais remota, a maioria das mercadorias que os portugueses importavam eram materiais aromáticas. Sobre este ponto, pode-se ler em documentos tanto europeus como chineses; é por essa razão que Macau foi designado como "Baía Aromática".

44 "Compilação dos Despachos de Solicitações do Imperador Kang-Xi" há sempre referências a "Xiang-Shan-Ao".

45 Idem do 27.

46 Idem do 4.

47 Idem do 29.

48 Idem do 26.

49 Dinastia Qing Xue Xin: "Relatório de Macau», in "Biblioteca Geográfica de XioFang-Hu", número 9.

50 Idem do 25.

Dinastia Ming Guo Fei: "História geral de Macau", volume 69 "Macau".

52 Dinastia Ming Vang Yining: "Relações sobre a Zona Poente de Guang Dong" volume 5 "Apresentação Pormenorizada sobre Situação da Defesa Marítima".

53 Gong Xianglin: "Relatório sobre a Missão Cumprida no Rio das Pérolas". In "Os Contos no Norte do Lago" de Wang Shizhen, volume 21 "Xiang-Shan-Ao".

54 Ljunstedt afirmou que a ilha de Shang-Chuan foi "o primeiro porto comercial estabelecido por portugueses no mar da China". Cf. "The Portuguese Settlements in China".

55 Segundo as fontes históricas portuguesas, o comércio da ilha de Shang-Chuan foi encerrado em 1552, cf. Morse "História das Relações Exteriores do Império da China", capítulo da p.45. Mas foi re-aberto em 1537, cf. Trigault: "De Christiana Expeditione apud Sinas".

56 Cf. "Globo", revista mensal, volume 6 p.298.

Idem do 27.

58 Dinastia Ming Huo Tao: Obras Completas do Sr. Huo Wenmin", volume 5 "Prefácio de Long-Ya".

* Professor catedrático do Instituto de Documentação Histórica e Cultural Chinesa, subordinado à Universidade Jinan, de Cantão.

desde a p. 27
até a p.