Liang Peiyun, grande poeta e calígrafo de Macau.
Vários Versos sobre Macau (1968)
Perfumados ciclamores, sumaúmas vermelhas
Névoas ligeiras flutuam na brisa suave
Fins de Março, milhafres voando no céu
E dez mil casas de cortinas levantadas espalham-se por entre árvores verdes
Com a minha bengala passeio pela margem da Praia Grande
A rua ziguezagueante estende-se entre os salgueiros verdejantes
Contemplo uma parte do céu através das folhagens do arvoredo
E respiro ar puro de madrugada na colina da Guia
Moro tranquilamente num prédio de cem metros de altura
Estou encostado ao balcão do meu "Cabo dos Imortais"
A Primavera está cheia de vigor
Não é preciso preocupar-me com a chuva e o vento frio
As gaivotas voam sobre o mar que parece um espelho
Os barcos à vela voltam em ondas calmas
De manhã, compra-se peixe fresco no mercado
Esqueço os perigos da navegação
Aprendo a plantar flores nos vasos do balcão
As orquídeas e os crisântemos brotam dia a dia
Aconselho a brisa primaveril que vem à janela:
Não arranque as flores para pintar os arrebóis do crepúsculo
Passeio à Chuva em Coloane (1968)
Passeio longamente na colina verde e nas praias de areia
As cortinas de chuva abrem-se e fecham-se de vez em quando
Para apreciar as nuvens brancas reflectidas no espelho da água
Desafio a chuva e o vento a atravessar o rio
Canto no Ano Novo (1969)
As sumaúmas vermelhas desabrocham
Os panchões parecem flores sorridentes
O sol vai nascendo no espelho do mar
A Primavera vem ao encontro das famílias
Início do Verão na Colina da Guia (1969)
As flores das árvores de pavão são mais vermelhas que as ervilhas de amor
Parecem irmãs com perfume de rosa
Ouve-se o canto das cigarras à sombra das árvores
E vislumbram-se casas campestres na cidade
Novidades no Kiang Wu (1969)
As chamas elevam-se de repente
Os residentes do bairro enfrentam juntos o incêndio
Aproveitam cada minuto e cada segundo
Correm com a velocidade de um raio
Com a ansiedade no peito
Esquecem-se do perigo e do cansaço
Apagam o incêndio e voltam triunfantemente
Eis o espírito de solidariedade
O tufão vem do mar
Arranca árvores e destrói casas
A chuva torrencial vem atrás
E ruge num choro diabólico
O povo compartilha penas e alegrias
É uma vergonha ficar de braços cruzados
Levanta-se em luta contra as forças da Natureza
Não permite que o tufão actue à vontade
Só toca a retirar quando obtém a vitória plena
A ordem é severa e rigorosa
Um cordeiro perde-se no caminho
E enfrenta perigos por todo o lado
Os vizinhos têm o mesmo coração dos pais
Não conseguem sentar-se para contemplar
Vão buscá-lo e levam-no para casa
Os pais agradecem com lágrimas
As boas coisas são numerosas
Não se limitam a três ou quatro
As pessoas não visam fama e fortuna individuais
Todos têm sentimento de compaixão
Observação (1970)
A minha casa não é o edifício de cem metros de Yuan Long
Mas daí posso observar o mar, encostado ao balcão
As gaivotas voam sobre o mar imenso escondido atrás da cortina de nevoeiro
Árvores verdes espalham-se por toda parte
As velas dos barcos estão cheias de vento
As águas da Primavera transbordam de energia
O sol nascente rompe o espesso nevoeiro
Recolho toda a paisagem pitoresca nos meus olhos
As Flores das Árvores de Pavão Desabrocham no Início do Verão em Macau (1974)
As flores das árvores de pavão desabrocham uma após outra em Maio
Mostram a sua beleza de cor encarnada ao longo das ruas
Como pincéis de tinta verde e vermelha
Pintam cem mil famílias de Hou Kong
Banquete Nocturno pelo 16. ° Aniversário do "Diário de Macau" (1974)
Sentados à mesa, esquecem-se quem são os anfitriões e quem são os convidados
Com sinceridade, fazem brindes
Compõem poemas em louvor à lua no mar meridional
Desejam que as estrelas envolvam a Estrela Polar
O céu e as águas do mar são mais claras no Outono
Com um estilo mais atraente, muitos artigos são publicados
Todos têm saúde, ninguém teme a tempestade
Bêbados, sacamos as águas do Rio da Prata (Via Láctea)
10. ° Aniversário da Associação Geral dos Chineses do Ultramar Regressados ao País (1978)
Os chineses do ultramar voltam com cansaço
Vivem em paz durante 10 anos à margem do Kiang Wu
Não limpam as lágrimas de órfãos espalhados pelo mundo todo
Para apreciar a primavera da China após a chuva
Dois Dísticos ao Pavilhão Yicui do Jardim de Lou Lim Ieoc de Macau: "Percorrer o Grande Oceano fora do País, e Observar o Pequeno Céu dentro da chaleira"
O pequeno tanque quadrado no canto do jardim
Tranquilo é o ambiente em volta do pavilhão
As águas percorrem o grande oceano fora do País
E observam o pequeno céu dentro da chaleira
Bambus e lótus conversam no vento
Filas de pinheiros
Nas horas livres gozo a paz em Cangzhou
E sinto a alegria de passear no jardim
Sensação no Ano Novo (1980)
Não consigo mudar o meu velho hábito
Dedico-me à composição de poemas enquanto Júpiter roda
Com as ameixeiras, a Primavera permanece sempre
Tomo vinho de folhas de cipreste sem me preocupar se ficarei bêbado
Indícios auspiciosos têm surgido
Os pássaros cantam e as flores desabrocham a tempo
A primavera está de volta à China
E a abundante brisa leste passou o mar
Navegação Nocturna no Mar Isolado (1982)
O mar e o céu juntam-se no horizonte sob os arrebóis do crepúsculo
Um barco volta abrindo caminho pelas ondas
O País mostra a sua vitalidade como o sol nascente
Festa da Primavera (1983)
As ameixeiras exalam perfume e as peónias desabrocham
A Primavera vem chegando apesar do frio de Inverno de vez em quando
Velamos a noite da véspera do Ano Novo com coração infantil, segundo o costume
A esposa, de idade avançada, veste-se como uma noiva
As crianças vêm buscar laisi
Que todo o mundo tenha saúde e felicidade
Bebo o vinho Tusu com alegria
Nevoeiro (1983)
Faz nevoeiro e chuvisca
Ouvem-se ainda trovões remotos
As árvores lançam novos ramos como rebentos de bambu
Sem medo do inverno rigoroso nem do frio primaveril
Zhuhai (1984)
As montanhas estendem-se até à beira do mar
O céu e o mar enfeitam a sua beleza
No alto do monte do Leão, contemplo em volta
Xiangzhou parece um prato com pérolas
Princípio do Novo Ano (1985)
As magnólias exalam perfume e os narcisos desabrocham
Chegou o Ano Novo com a volta da Primavera ao mar e às montanhas
Distribuo laisi aos meus netos alegremente
A minha esposa ri-se de um velho enlouquecido
No Banquete Oferecido a Poetas Chineses e Portugueses no Palácio do Governo em Macau (1987)
Sob a luz das velas, reina a cordialidade no salão
Fazem-se mil brindes com toda a alegria
Lêem-se poemas com tanta euforia que se confundem anfitriões e convidados
Os literatos são estrelas que brilham no céu da noite
Delegação de Escritores Chineses Visita Macau (1987)
Acolhemos escritores eminentes na margem do Hou Kong
Flores desabrocham e o céu todo azul
Vocês escreveram coisas magníficas para a China
Espero ouvir a vossa voz ecoando no alto céu
Neve (1987)
A tempestade de neve chega com o ar frio do mar
Com pouca roupa, bebo vinho para enfrentar a frieza do Inverno
Onde estão as auspiciosas nuvens coloridas
Não consigo julgar de acordo com as visões vulgares
Velhice (1988)
Conhecedor de muitos ziguezagues, entrei na velhice
Mantive sempre grandes ideais
Vida tranquila, tenho boas ideias, mas já não posso realizá-las
Depois de me aposentar, continuo pensando na educação
Estou satisfeito com a vida cheia de alegria com filhos e netos
Vivo sem preocupações
Para aproveitar o resto dos anos da minha vida
Vou viajar de bengala tranquilamente pelas montanhas como um génio
Reflexões no 90. ° Aniversário (1996)
Passei os setenta e dois
E aproximo-me dos cem
A vida parece um sonho sem interrupção
Restam-me apenas vários poemas
Assisti a vicissitudes perturbantes
E acostumei-me a enfrentá-las sem susto algum no coração
Ao fazer um brinde, tenho vergonha de enfrentar parentes e amigos
Mas estou satisfeito com o aparecimento da aurora no País
Tradução do original chinês por Wei Ling; revisão de Luís Rebelo.
desde a p. 143
até a p.