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Chaúlponto avançado no controle da navegação do Mar Arábico

Helena Martins*

Em 1516 estabelece-se o primeiro ponto avançado no controle da navegação no norte do Mar Arábico: a feitoria em Chaúl, povoação do extremo Norte do reino de Decan, por impossi-bilidade da concretização de um ponto avançado no reino de Cambaia.

A glória de Chaúl, visível nos restos que a natureza não devorou.

Em 1521, em guerra com o vizinho a Sul, o capitão da cidade da Chaúl assina um contrato que permite aos portugueses a construção de uma fortaleza em troca da entrada de cavalos da Arábia e Pérsia, via Ormuz.

A implantação da feitoria, e depois fortale-za, insere-se numa nova política de intervenção, latente durante os últimos tempos de Afonso de Albuquerque e que desabrocha logo imediata-mente à sua morte.

Calecut 1513, (in Livro das Cidades e Fortalezas do Ultramar, Luís Silveira).
Baçaim 1536, (in Livro das Cidades e Fortalezas do Ultramar, Luís Silveira).

Enquanto que Afonso de Albuquerque, Governador do Estado da Índia desde 1509, procurou com uma visão global a conquista dos pontos estratégicos para a implantação dos por-tugueses no Oriente - Goa (1510), Malaca (1511), Diu (tentativas em 1512 e 1514) e Ormuz (1515) - imediatamente após o seu desapareci-mento passam a ser reforçadas as posições exis-tentes através da transformação de simples acor-dos comerciais em feitorias (Chaúl-1516), feito-rias fortificadas (Coulão-1518 e Ilhas de Mal-diva-1519) e fortalezas (Columbo-1518) ou pela tentativa de aumento do território envolvente (Goa-1517 e 1520); numa perspectiva imedia-tista da conquista do poder.

Neste movimento, a componente econó-mica foi determinante, estando ainda por estu-dar a relação dos grupos de poder existentes e as alterações introduzidas.

Chaúl mantivera-se garantido entreposto, tendo o relacionamento com os portugueses sido cimentado num avanço progressivo:

1506, a armada portuguesa passa a dar pro-tecção aos navios de carga dos aliados (Coulão, Cochim e Cananor) desde o cabo Samorim até Chaúl "que era o lugar a que se elas mais esten-diam";

1507, Lourenço de Almeida morre no rio de Chaúl num ataque de navios muçulmanos, porque os portugueses não se organizaram a tempo "tendo as galés a proa em terra, todos ocupados em folgar, e prazer, como quem estava em Cochim". Cochim era o principal porto e en-treposto português na costa da Índia;

1509, Chaúl torna-se tributária do rei de Portugal, em consequência da vitória sobre a ar-mada egípcia ao largo de Diu;

1513, é em Chaúl que Afonso de Albu-querque estabelece conversações com um em-baixador do rei de Cambaia a fim de obter um lu-gar para uma fortaleza na costa deste reino.

A fortaleza portuguesa, localizada na vizi-nhança de um intenso tráfego comercial, irá ori-ginar o desenvolvimento de uma importante co-lónia de navegadores comerciais portugueses.

Para além de um marco na zona norte do Mar Arábico, não de primeiro plano como viria a ser Diu, será essencialmente um ponto de apoio às naus de controle da navegação na zona Norte.

A sua forma desenvolve-se principalmente para uma defesa terrestre.

Após sucessivas intervenções, em 1531, no regresso da terceira ida frustrada a Diu, são-lhe acrescentados elementos que ampliam e defen-dem o essencial da propriedade do Estado e dos portugueses da região: as embarcações e, por-tanto, a Ribeira.

É uma fortaleza de transição das constru-ções medievais para as fortificações abaluartadas que concretizam no séc. XVIII a defesa perfeita para a artilharia de então.

Construída depois da fortaleza de Calecut (1513) desenvolve-se ainda com base numa torre de menagem, mas progressivamente irá adqui-rindo elementos que correspondem já ao novo conceito de defesa: o baluarte.

Os seus baluartes, ainda redondos, e não com a forma que o desenvolvimento teórico do desenho irá permitir, criam em conjunto uma defesa à fortaleza e Ribeira.

Em 1534, os portugueses obtêm nova posi-ção na zona norte: Baçaim, já no reino de Cam-baia, mas com características bem diferentes de Chaúl; fora entregue a cidade com todas as terras e jurisdição.

Na costa da Índia é Goa a única em situação semelhante.

Em 1535, é obtido finalmente um lugar para a implantação de uma fortaleza em Diu, pretendido desde 1512.

BIBLIOGRAFIA

ALBUQUERQUE, Afonso de- "Cartas", Lisboa, Acade-mia Real das Sciencias, 1884.

BARROS, João de - "Da Ásia", Lisboa, Real Officina Typografica, 1777.

COUTO, Diogo - "Da Ásia", Lisboa, Regia Officina Typografica, 1778 á 1781.

MARTINS, Oliveira - "Portugal nos Mares", Vol. I e II, Lisboa, Ulmeiro, 1984.

SANCEAU, Elaine - "Cartas de D. João de Castro", Lis-boa, Academia Real do Ultramar, 1954.

Chaúl (in Livro das Cidades e Fortalezas do Ultramar, Luís Silveira).

*Arqultecta. Bolseira em 1986 da Fundação Calouste Gulbenkian.

desde a p. 59
até a p.