História

REFORMULAR AS ORIGENS DE MACAU- IMPERADORES, ÂMBAR-CINZENTO E MACAU

Jin Guoping* e Wu Zhiliang**

INTRODUÇÃO

Ao longo de 4 séculos da presença portuguesa em Macau1 e a uma distância de apenas 2 meses da sua transferência para a China, mantém-se actual - em relação ao circunstancialismo que rodeou o estabelecimento português da Macau portuguesa, tão misterioso como "o Encoberto" - uma pergunta multissecular, ainda por responder devidamente. Como já Monsenhor Manuel Teixeira, laureado historiador-decano e referência obrigatória da historiografia de Macau, confessou, "há cerca de 4 décadas que procuramos ansiosamente a solução de um mistério: qual a origem de Macau?"2

A fundação de Macau tem sido objecto de muitos estudos,3 mas permanece nebulosa. Daí entendermos, neste ponto, que só com um estudo comparativo de fontes chinesas e ocidentais, sobretudo portuguesas, será possível tentar desvendar um dos maiores mistérios do Império Português, já ele próprio, para usar das palavras de J. H. Plumb, "um dos maiores enigmas da história". 4

Terão sido muitos os factores que contribuíram para a fixação dos Portugueses em Macau. Além dos factores de necessidade de combate a piratas e de angariação de receitas fiscais para a administração local (sobretudo para o orçamento militar local), outros motivos terá havido que contribuíram para o estabelecimento lusitano em Macau.5 Destacamos desde já a aquisição do âmbar-cinzento.6

Que saibamos, foi Liang Jiabing quem, pela primeira vez em 1934,7 se debruçou sobre esta questão num artigo intitulado Adendas à Crónica de Folangji8 do Esboço da História dos Ming.9 Também muitos dos historiadores modernos chineses de Macau, como Dai Yixuan,10 F. C. Fok,11 Huang Qicheng,12 Camões Tam,13 Fei Chengkang14 ou Tang Kaijian,15 aludem ao facto, não o considerando embora o principal e o mais decisivo factor de fixação dos Portugueses em Macau. Da parte portuguesa, embora haja muitas referências a este produto,16 só Rui Manuel Loureiro, na vertente política da questão, abordou este assunto.17

Ora, e por mais incrível que isso possa parecer, a procura imperial deste produto teria mudado o destino dos antigos lusos que andaram pela China imperial; ou, por outras palavras, a procura do âmbar-cinzento decretada por despachos e ordens imperiais, constituiu o factor decisivo para o estabelecimento português em Macau.18

A SUCESSÃO DO IMPERADOR ZHENGDE

O Imperador Jiajing,19 que sucedeu ao Imperador Zhengde,20 foi o 11° soberano da Dinastia Ming. De nome Zhu Houcong,21 nasceu em Anlu,22 em Huguang,23 a 16 de Setembro de 1507.

São conhecidas as circunstâncias desta sucessão: em Outubro de 1520, na viagem de regresso a Pequim após uma inspecção em Nanquim,24 o Imperador Zhengde, sofreu um naufrágio quando saiu a pescar num pequeno barco no Grande Canal e contraiu uma doença de que não tornou a recuperar. Na Primavera de 1521, encontrando-se já bastante agravado o seu estado de saúde, deixou de tomar conta da Corte, pelo que o Shoufu25 Yang Tinghe,26 decano dos ministros, previu com muita preocupação as dificuldades da sua sucessão. Antes do falecimento do imperador moribundo, Yang Tinghe fez com que se promulgasse, ainda em nome do Imperador, um decreto a nomear Zhu Houcong, sobrinho de Jiajing, herdeiro do título nobiliárquico de Régulo já ostentado pelo pai, Xingxian,27 recentemente falecido.28

Jiajing, que não tinha descendentes directos e que "já se encontrava moribundo no dia Yichou da 3ḁ lua do 16° ano,29 intimou os eunucos da Direcção de Sili30 dizendo-lhes: "Sei que a minha doença já é incurável. Transmitam esta minha mensagem à Imperatriz-Mãe:31 os assuntos do Império são de muita responsabilidade, pelo que devem ser, com muita cautela, resolvidos conjuntamente com os Gelao32 ecom os ministros. Os erros que cometi na minha vida não eram por vós previsíveis".33 Com apenas 31 anos, o Imperador acabou por falecer em 18 de Agosto de 1516, na chamada Casa dos Leopardos,34 dando a conhecer por decreto que era sua última vontade ser sucedido pelo referido sobrinho Zhu Houcong.

No mesmo dia em que o Imperador Wuzong deixou o mundo, Yang Tinghe ordenou aos eunucos da Direcção de Sili que solicitassem instruções35 à Imperatriz-Mãe no sentido de formalizar a nomeação de Zhu Houcong como o legítimo sucessor de Jiajing.36 Cumpridos na capital os trâmites exigidos, a 7 de Maio de 1521,37 uma grande missão, composta por altos funcionários palacianos38 deixou Pequim com destino a Luan para "levar o decreto imperial com a última vontade do Imperador falecido para o Palácio do Régulo Xingxian afim de entronizar, no local, o sucessor indicado".39 Com apenas 13 anos, Zhu Houcong tomou-se assim Imperador da China, o 11° da sua dinastia.40

Sumariando o estilo da sua governação, afirma-se na História Oficial dos Ming que logo "no início do seu reinado, o Imperador Shizong41 tentou, com todo o esforço, erradicar os males da governação imperial, conseguindo uma excelente administração, que é objecto de elogios de toda a gente."42

O IMPERADOR JIAJING E A PROCURA DO ÂMBAR-CINZENTO

Na noite de 27 de Novembro de 1541, algumas camareiras, aproveitando-se do estado de embriaguez em que se encontrava o Imperador, tentaram assassiná-lo por estrangulamento. Crime43 que não se concretizou devido à pronta reacção da Imperatriz. Segundo a História Oficial dos Ming, "a partir do crime falhado das camareiras ocorrido no 20° ano, 44 o Imperador mudou-se para o Palácio Interior do Oeste e todo o seu tempo era passado a procurar conseguir a longevidade, deixando de prestar culto nos templos situados nos subúrbios de Pequim, e de comparecer às audiências diárias com os seus ministros, criando-se deste modo uma separação entre o monarca e os seus vassalos... "45

Em simultâneo, como teve problemas em relação à legitimidade da sua sucessão, em Jiajing nasceu desde cedo um ardente desejo de ter descendentes para assegurar não só a sua própria sucessão, mas também a sua actual governação. Além dum harém imperial com milhares de mulheres à sua disposição, Jiajing teve sucessivamente 3 Imperatrizes. A primeira, de apelido de Chen46 foi oficializada em 1522. Todavia, em 1528, esta Imperatriz, que se encontrava grávida teve uma discussão muito violenta com o Imperador por ciúmes de outras concubinas que estavam na graça do soberano, sofreu um aborto e veio a falecer a 21 de Outubro do mesmo ano.47 A segunda, de nome de família Zhang,48 tornou-se imperatriz em 1529. Por ser estéril, foi repudiada em 9 de Novembro de 1534.49 A terceira, foi escolhida como cortesã e entrou na Cidade Proibida em 1539. No ano seguinte, com a recomendação da Imperatriz-Mãe, foi-lhe concedido o estatuto de concubina imperial, enfim, "no dia Rengzi50 a Concubina Virtuosa, de apelido Fang51, foi coroada como Imperatriz".52 Aconteceu assim que nos primeiros dez anos do seu reinado, o Imperador não viu vir ao mundo qualquer filho,53 o que se tomou num motivo de intensa preocupação. Ao ponto de se decidir a recorrer à alquimia taoista, como aliás já o fizera seu tio.

A crer, uma vez mais, no testemunho da História Oficial dos Ming, "O Imperador Shizong, ao entronizar-se, e dando crédito ao que dizia Cui Wen,54 entre outros dos camareiros mais próximos, ficou fascinado pelas bruxarias e passava o dia inteiro a dedicar-se aos cultos taoistas. Os seus funcionários com responsabilidade s de censura mais de uma vez lho chamaram à atenção. A nada e a ninguém deu ouvidos. No 3° ano [1524] do Reinado de Jiajing [1522-1566], mandou chamar Yuanjie55 para a capital imperial. Este foi recebido pelo Imperador numa sala privada do Palácio Imperial e foi coberto de favores pelo monarca. Mandou instalá-lo no Templo das Aparições, dando-lhe competências para dirigir os actos de cultos e orações... Acontece que o Imperador ainda não tinha sucessor estabelecido e repetidas vezes o Imperador ordenou a Yuanjie que estabelecessem salas de culto taoista nomeando Xia Yan56 como inspector das Cerimónias. Foram dadas ordens imperiais para que todos os funcionários tanto civis como militares, queimassem incenso nas orações diárias. Passados 3 anos, os filhos do Imperador nasceram uns atrás de outros, pelo que o soberano ficou muito contente e não parou de cobrir Yuanjie de graças, chegando a nomeá-lo Ministro do Ministério dos Ritos, com direito ao uso das vestes de mandarim de 1a classe".57 Em Abril de 1539, o favorito morreu de velhice. "... O Imperador chorou a sua morte e ofereceu-lhe o título de Shaoshi58 e dez altares de sacrifícios. A Guarda Imperial foi destacada para acompanhar o funeral, que foi organizado pelas autoridades competentes com exéquias equiparadas às de um conde".59

Mas nem com a morte de Yuanjie terminou a propensão de Jiajing à superstição taoista e aos seus cultores: "Nos últimos anos da vida de Yuanjie, ocorriam ocasionalmente no Palácio Imperial fenómenos diabólicos, que ele próprio, mesmo com muitos esforços, não conseguiu dominar, pelo que recomendou Zhongweng60 ao Imperador. O recomendado, molhando a sua espada em água, conseguiu acabar com as bruxarias que ensombravam o palácio. O príncipe herdeiro, foi atacado de varíola, e Zhongweng, com as suas alquimias taoistas, rapidamente conseguiu curá-lo, o que lhe mereceu muita confiança e graças imperiais. No 18° ano [1539], quando o monarca saiu da capital para uma inspecção do Império, Yuanjie que estava doente foi substituído por Zhongwen. Ao chegarem a Weihui,61 levantou-se em volta da carruagem imperial uma ventania que demorou algum tempo a desaparecer. O Imperador perguntou: "O que terá sido isto?". A resposta foi: 'Trata-se de presságio de algum incêndio. Aconteceu que ao entardecer deflagrou um incêndio na residência itinerante, em que morreu muita gente da comitiva imperial, pelo que o Imperador se tornou um grande admirador de Zhongwen"62

O novo favorito do Imperador tinha ao seu serviço muitos especialistas em diversas áreas da alquimia taoista,63 sendo a sua própria especialidade a elaboração de Jindan.64 Propôs-se também preparar para o Imperador uma nova "mezinha de longevidade" chamada de "Bolo Fragrante de Dez Mil Anos [Wansuixiangbing]". Sendo o âmbar-cinzento o componente indispensável para a sua elaboração, foram dadas ordens imperiais para a obtenção desta matéria pelo Império inteiro.

"No 34° ano [1555] do Reinado de Jiajing [1522-1566] - afirma o erudito Gu Yanwu -foi ordenado ao Ministério das Fazendas a procura e a compra de 100 cates65 de âmbar-cinzento. Não se conseguiu nenhuma quantidade dentro da Capital Imperial. Mais tarde foram dadas ordens ao Fansi66 de Guandong para que tentasse adquirir este produto. Ao receber o ofício ministerial, foi convocado um conselho no Taisi.67 Ofereceram-se 1200 taéis por um cate68 deste produto. Conseguiram-se apenas 11 mazes69 e foram mandados à Capital Imperial. A Casa Imperial fez um teste e descobriu que era diferente e mandou-o armazenar. Chegou mais um ofício ministerial. Um cativo em Guangzhou, de nome Manaliedi70 tinha consigo 1 tael e 3 mazes, da cor parda. Foram mandados à Capital Imperial. Mais tarde, bárbaros de Mididumidi71 trouxeram de tributo 6 mazes, de cor esbranquiçada. É duma forma fina. Dizem que a parda provém das águas e a branca, das montanhas. São autênticos. Pouco tempo depois comerciantes de Mididumidi trouxeram mais alguma quantidade. Ao todo, conseguiram-se 17 taéis, 3 mazes e 5 condorins, que seguiram no ano seguinte72 para Neifu. Foi comprovada a sua veracidade de maneira que foi aceite para o uso imperial."73

Sobre esta procura imperial do âmbar-cinzento, promovida em 1555, a Verídica Crónica do Imperador Shizong, no verbete do dia Xinyou74 da 5a lua do 34° ano do Reinado de Jiajing [1506-1521] desse ano fornece-nos mais algumas informações de interesse:

"Aconteceu que não houve nenhuma resposta às ordens imperiais de procura de âmbar-cinzento, emitidas havia já um dezena de anos atrás. Foram assim dadas novas ordens ao Ministério das Fazendas para que destacasse um enviado especial75 para os lugares com contactos com os bárbaros do litoral afim de, com todos os recursos, procurar e comprar este produto para a Corte".76

Note-se a afirmação - "aconteceu que não houve resposta nenhuma às ordens imperiais de procurar âmbar-cinzento, emitidas já um dezena de anos atrás" - afirmação que nos leva a concluir que as ordens imperiais remontavam efectivamente a um período situado entre 1540 e 1545. Compreende-se também que tendo este produto sido sempre trazido de fora da China, Pequim o mandasse comprar nos "lugares com contactos com os bárbaros do litoral". Nessa altura, Guangdong e Fujian eram os únicos lugares de comunicação comos "bárbaros".

Retomando o testemunho das velhas crónicas, refere a Crónica Geral da Dinastia Ming quanto ao resultado da busca referida que "No dia Bingzi,77 o Censor-Inspector de Fujian mandou 16 taéis de âmbar-cinzento para a Corte e de Guangdong, pouco mais de 19 taéis".78 Ou seja, se as ordens imperiais tinham estabelecido a quantia de 100 cates, de Março/Abril de 155579 até a 19 de Agosto de 1557 só se conseguiram 35 taéis, isto é 3 cates e pico da matéria ansiosamente procurada pelo Imperador.

Recorde-se agora que, nas circunstâncias dessa altura, imperando as mais rigorosas interdições marítimas,80 eram os Portugueses os únicos a poder trazer este produto para a China. Facto documentalmente comprovado pelas próprias fontes quinhentistas portuguesas. Veja-se, por exemplo, Garcia da Orta nos seus célebres Colóquios dos Simples e Drogas da India, uma obra impressa em Goa em 1563, onde se afirma inequivocamente:

"... E este ambre não tam somente val muyto ácerca dos Mouros, mas tambem val muyto ácerca dos Gentios; e, o que he mais de maravilhar, he ter mayor valia ácerca dos Chins, porque o levarão lá os nossos Portuguezes, e venderão hum cate, que são vinte onças, por 1500 cruzados; por onde os nossos levarão tanta quantidade, que valeo muito mais barato, e cada vez valerá menos lá, segundo a cobiça dos que o lá querem levar. Ruano: Como sabem estes Chins que he boa mézinha, pois a comprão tão cara? Orta: Dixeme Diogo Pereira,81 que he hum homem fidalgo muito conhecido nessas terras, que os Chins tem ácerca da criação de ambre aquilo tudo o que nós temos, e que elles lho contarão palavra por palavra, e dizem que aproveita muyto pera a conversação das molheres, e que aproveita ao coração, e ao cerebro e ao estomago"82

Sabendo-se que na altura a principal base comercial dos portugueses na China já era Macau, em detrimento de Lampacao, compreende-se o testemunho de Zhang Xie:

"Na 3a lua do 34° ano [Março-Abril de 1555]do Reinado de Jiajing [1522-1566], a Direcção de Sili transmitiu a ordem imperial ao Ministério das Fazendas no sentido de comprar 100 cates de âmbar-cinzento. Os ofícios seguiram para os Zhufan83 oferecendo um preço público de 1200 taéis por um cate. Foram-no comprar a Xiangshan 'ao e só voltaram com 11 taéis."84

A identificação de Xiangshan 'ao85 poderá oferecer alguma polémica.86 Todavia, pela cartografia publicada na Crónica Militar de Cangwu,87 sabemos que (pelo menos na data em que este livro foi editado, isto é, 1579), era essa a designação da actual Barra de Macau e da zona da entrada do Porto Interior. De modo que o Xiangshan'ao supracitado, onde de Pequim se mandou comprar o âmbar-cinzento, deveria ser com a maior probabilidade o Macau de hoje.

E por que é que se escolheu Xiangshan 'ao para a compra do âmbar-cinzento? Porque este produto aparecia ocasionalmente entre os comerciantes "bárbaros,88 de Xiangshan'ao, embora o autêntico89 só se conseguisse da mão dos Portugueses. Se admitirmos a identificação de Mateus de Brito com o mencionado Yunaliedi, o âmbar-cinzento do cativo de Guangzhou, embora pesasse apenas "1 tael e 3 mazes", era verdadeiro como revelou o resultado dum teste e por isso seguiu para Neifu90, fornecendo aos Portugueses uma oportunidade para, com a apresentação desta preciosidade, resgatar os cativos de Cantão.91

De facto temos testemunhos que o âmbar-cinzento serviu de moeda de troca neste tipo de situações. Recorde-se a operação que Mestre Melchior Nunes Barreto92 levou a cabo em 1555, precisamente em relação a Mateus de Brito:

"Duas vezes depois de aqui chegar fui a Cantão, e de cada uma estive lá um mês. A primeira foi por ver se podia tirar do cativeiro uns três portugueses, pessoas honradas, e outros três cristãos da terra que estão presos no tronco da mesma cidade, e de umas prisões tão fortes que tive dor de ver um deles que o mandarim aí mandou trazer que chamam Mateus de Brito. Veio descalço, sem barrete, com as mãos ambas metidas num cepo, com uma tábua metida no pescoço, com umas letras que declaravam o seu crime, e uma cadeia nos pés; e da mesma maneira dizem que estavam os outros. E que este é o modo dos que têm caso de morte. Estes e outros cativos há na China porque até agora esteve de guerra, e quando se perdia alguma nau os tomavam, ou levavam presos, o que agora não é porque os portugueses pagam direito. Levava para resgate destes cativos um pouco de âmbar que há seis anos93 que é buscado de el-rei da China, com grande prometimento a quem lho trouxesse, porque acham em seus livros que dá longa vida aos velhos se o comerem com certas confecções."94

Segundo bem parece, Mestre Melchior Nunes Barreto não conseguiu resgatar todos os cativos, facto que deu origem a uma segunda operação de resgate, desta feita testemunhada no Inverno de 1556 pelo Dominicano Fr. Gaspar da Cruz.95 Uma vez mais a busca oficial do âmbar-cinzento foi pormenorizadamente descrita:

"A prontidão e presteza com que os loutias são servidos, e quão temidos sejam não se pode dizer por pena, nem por palavras explicar, mas somente se há-de ver para saber o que é.96 Todos fazem seus mandados e os servem correndo e com muita presteza, não somente os escrivães e meirinhos, e outros ministros, mais ainda os loutias aos grandes. E se algum falta tamalaves da diligencia e presteza acostumada, ou comete a menor negligência do mundo diante do loutia, de nenhuma qualidade tem remissão, mas logo incontinente que faz a falta, lhe metem uma bandeirinha na mão e há de estar com ela na mão posto de joelhos até que se acabem de despachar as partes: e então lhe manda dar o loutia os açoutes que lhe bem parece: e são tais os açoutes quais diremos abaixo. Pelo que todos os ministros e oficiais que andam nas casas dos loutias andam emplastrados, ou assinalados dos açoutes, de maneira que já entre si têm por afronta não andarem assinalados de açoutes por ser a cousa muito geralmente comum entre eles. E quando se embravece e se ira de alguma cousa o loutia, é muito para a turvação e temor que há entre todos os circundantes. Estando eu com uns portugueses em casa do Ponchássi97 tratando do Livramento de uns portugueses que estavão cativos e presos no tronco, para o qual levámos umas oito onças de âmbar, que era deles naquele tempo muito estimado, e agora por lhe haverem levado muito não vale tanto,98 não lhe querendo nos dar o âmbar, sem nos dar ambos os portugueses tomou por ocasião por nos fazer terror, agastar-se contra um moço de um português que estava na companhia que nos servia de língua. Pelo qual se alevantou da cadeira e se fez vermelhocomo sangue, e fizeram-se-lhe os olhos encarniçados, e fez um pé avante pondo os polegaresna cinta, olhando para os circundantes com um aspecto terrível: e fazendo o pé avante, o alçou e de uma pancada no chão com ele, e disse com terrível voz, Tá, que quer dizer, açouta. Cousa foi maravilhosa de ver em quão pouco espaço tomaram o moço e lhe amarraram os braços atrás com uma corda e o estenderam de barriga com as coxas descobertas, e puseram-se dois algozes, uns de uma banda e outro doutra com os pés feitos avante e com os açoutes a ponto para darem-lhe os açoutes que lhe mandassem da. Certo foi tudo feito quase em um momento. Turbaram-se os mercadores que iam em nosso favor, e apartaram-se a uma parte tremendo com medo. A isto disse um dos presos. Senhores não hajais medo que não pode açoutar esse moço. E na verdade soubemos que era assim, porque segundo suas leis não havia culpa porque o pudesse açoutar, e tinha pena se o fizesse. Ouvindo o loutia a voz do preso, mandou com presteza que o tornassem ao tronco. E não fazia o loutia mais que para nos fazer terror para que lhe déssemos o âmbar por um dos presos, porque não nos podia dar o outro, porque era já sentenceado à morte, e confirmada a sentença por el Rei, que não tinha revogação, e ele queria haver o âmbar, porque esperava haver del Rei outra mercê maior que a de Ponchássi pelo âmbar. Porque o comia para sustentar a vida, e havia já muitos dias99 que o pediam aos portugueses, mas como lhe não sabiam o nome que nós usávamos, não se acabavam de entender até que o ano dantes100 houve o Aitão de Cantão101 um pouco por via de soltar um português: pelo que acrescentaram ao Ponchássi.102 E este queria também haver para o mesmo fim de ser acrescentado o âmbar de nossas mãos. Todavia vendo-nos atados e não termos língua por quem falar, e o moço à disposição de açoutes, demos-lhe o âmbar. Veio-lhe logo um fogareiro para o provar, e também o preso lançou um pequeno no fogo, e vendo que fumo ia direito acima, ficou contente, e espalhando o fumo nos narizes e disse Hoao, que quer dizer, é muito bom. E mandou-nos logo entregar o preso solto. Cousa foi maravilhosa de ver com quanta presteza foi pesado, e os pedaços contados e metido em um papel e posto em cima pelo escrivão ali diante de todos os números dos pedaços e o peso que ali ia. E após aquele papel outro, grudado tudo logo. E após aquele outro. E no terceiro pôs o Ponchássi o seu sinal de letra vermelha, e o que se continha dentro. E no mesmo continente veio um caixãozinho e logo metido dentro foi tapado, e sobre o tampão lançado um papel grudado,103 e em cima o sinal do Ponchássi: e logo chegou um loutia pequeno capitão de armada com seus soldados, e todos longe se puseram de joelhos, e ali recebeu este capitão o recado em joelhos, dizendo a cada palavra Quó, que quer dizer sim, abaixando a cabeça e a mão até ao chão. E recebido o recado, logo assim como veio correndo se tornou correndo com o caixão a embarcar para levar o âmbar como lhe mandavam ao Tutão104 para dele ser mandado a el Rei. Contei este caso pelo miúdo, porque se veja com quanto concerto e recado fazem suas cousas e com quanta diligencia obedecem os seus mandatos: porque todo o que tenho dito se faz quase em continente, antes que nós dali bolíssemos. Queria também este haver de nós o âmbar antes que viesse o loutia daquela cadeira,105 que se esperava cada dia por ele para entrar de novo: porque este era somente Locotente.106"107

Estas cenas vividamente descritas pelo Frei Gaspar da Cruz comprovam as operações de ansiosa busca do âmbar-cinzento em Guangdong. Ânsia que, afinal, nada mais era do que o reflexo da ânsia com que na Corte Imperial encarava a busca do âmbar-cinzento. Nos reinados anteriores ao de Jiajing, este produto fazia parte dos tributos que alguns países do Sudeste Asiático traziam para a China. Outra via da sua obtenção era através das viagens marítimas chefiadas pelo eunuco Zheng He. "O início e o fim das navegações do Almirante Zheng He constituíram, respectivamente, o momento mais alto e o começo da decadência da ligação externa da China Antiga, e também, o percurso da queda do Império Ming marcando o momento mais poderoso no rumo do seu declínio."108 Com a suspensão de tais navegações, os países tributários da China, deixaram de vir com tanta frequência, o que provocava a escassez de tal produto ao ponto de a Corte de Pequim ver-se obrigada a tentar consegui-la fora dos circuitos do comércio tributário, isto é, pela via dos comerciantes estrangeiros. Sabe-se, de facto, que o Imperador Jiajing, passadas uma dezena de anos sobre as suas ordens de busca do âmbar-cinzento, acabou por ser tomado da maior perturbação. É esse o testemunho de Gu Yanwu,109 na sua Geografia Universal:110

"Na 2a lua do 44° ano [Março-Abril de 1556], Sua Majestade disse ao Neige:111 De há muitos anos para cá, dei ordens ao Ministério das Fazendas para procurar e comprar âmbar-cinzento. Até agora, o que se conseguiu não passa de 3 ou 4 cates. Ora, sendo coisa que existe, são vocês que não dispensam esforços suficientes para o conseguir. Embora houvesse tempo em que Liang Cai112 chegou a afirmar que se tratava de coisa que não existia, esta preciosidade está descrita em Yongledadian113 dos nossos augustos antepassados. O que se conseguiu não atingiu de modo algum a quantia estabelecida [100 cates] e por isso foi dinheiro mal gasto".114

A primeira vítima da ira imperial face à frustração dos seus intentos foi o predito Liang Cai, Ministro das Fazendas, alvo de severa reprimenda: "Pela prática, disse o Imperador, este perfume115 destina-se à elaboração do Bolo Fragrante de Dez Milanos. A sua composição atrasou-se pela calúnia e demora de Liang Cai". O repreendido viu, assim, a sua carreira arruinada pela simples afirmação da não inexistência deste produto e não ter conseguido a quantia requerida pelo Imperador: "Aconteceu que para estabelecer altares de culto taoista era preciso âmbar-cinzento. [Liang] Cai não conseguiu o produto a tempo. O Imperador passou a alimentar contra ele ressentimento e acusou-o de irresponsabilidade e busca de renome, exonerando-o do cargo que ocupava. Voltou à sua terra natal, onde veio a falecer pouco tempo depois com 71 anos. "116.

O que não apagou a ira do Imperador que avisou todos os seus vassalos: "... Porque seguem o seu exemplo [de Liang Cai]? Consigam-me o produto autêntico, porque ele existe. E, de cada vez, apresentem 3 ou 4 cates para o meu uso".117

Ao que parece Gao Yao,118 Director do Armazém Imperial, reflectindo no desaire, terá ficado "muito perturbado e com medo, solicitando uma autorização para despachar um enviado especial ao Guangdong e ao Fujian, com ordens expressas aos Censores-Inspectores e Anchashi locais no sentido de procurarem por todas as maneiras conseguir este produto".119 E com sucesso: Gao Yao, por ter "conseguido 1 cate e 8 taéis de âmbar-cinzento e o ter oferecido ao Imperador",120 foi promovido em 1560121 a Director do Armazém Imperial a Ministro das Fazendas, e, mais tarde, em 1562,122 honrado como o título de Taizishaobao,123 a que acresceu, já no reinado seguinte,124 em 1566, o título de Taizitaibao.125

Mas estudemos com mais pormenor as vicissitudes desta fase da busca do âmbar-cinzento - negativas para uns mas positivas para outros126 - e que bem reflectem o que Fr. Gaspar da Cruz definiu como "a prontidão e presteza com que os loutias são servidos...". O seu protagonista principal é o mencionado enviado especial Wang Jian.

Em 1556, pelas razões expostas, o Imperador Jiajing teria emitido um édito imperial com termos invulgarmente severos: "No dia Rengzi,127 Sua Majestade disse: O Ministério das Fazendas de há uns dez anos que não apresenta nenhuma quantidade de âmbar-cinzento. Estais vós, meus vassalos, a troçar de mim? Apresentem memoriais ao Trono a informar dos lugares produtores deste produto e vou mandar receber este produto da parte do Ministério das Fazendas".128

Assim, segundo a História Oficial dos Ming, teria sido solicitada uma autorização ao Imperador "para mandar novos enviados especiais para irem com toda apressa a Fujian e Guangdong, afim de, junto com os que já estavam nessa missão, empregar todos os esforços na procura do produto em todos os lugares do litoral que tivessem trato com bárbaros, sem olhar a custos, por mais elevados que eles fossem. Foram nomeados novos enviado e ordenado a todos os titulares do Sansi129 que tentassem conseguir o âmbar-cinzento autêntico, ficando as culpas da demora devidamente registadas e os vencimentos suspensos até ser conseguido o verdadeiro âmbar-cinzento; o que se fez com ordem de Sua Majestade. Foi fixado um prazo para a apresentação deste produto. Qualquer nova demora seria castigada com severidade. Foi despachado um mandarim para Yunnan, também à procura da mesma preciosidade. Qualquer pessoa, funcionário ou popular,130 poderia oferecer este produto se o tivera consigo, sendo compensado com o preço estipulado quando foram emitidas as ordens de procura de Lingzhi131 e de âmbar-cinzento. Estas buscas nacionais e internacionais agravaram a já muito debilitada situação financeira, em consequência das guerras no Norte132 e das calamidades naturais".133

Nestas circunstâncias, alguns daqueles enviados, pelo medo de poderem vir a ser severamente castigados como ameaçara o desesperado Imperador, apresentaram relatórios a dar conta da situação da procura do âmbar-cinzento:

"Inicialmente, foi despachado o Zhushi,134 Wang Jian, 135 entre outros, à procura do âmbar-cinzento pelo Fujian e pelo Guangdong. Gastou-se muito tempo e nada se conseguiu. Então Wang Jian sugeriu: mediante estudos e exames da situação, convém fixar as taxas da cobrança percentual136 feita aquando da entrada dos barcos no[s] ancoradouro[s].137 Só aos que tragam âmbar-cinzento será dada autorização para contactar os nossos comerciantes para compra de mercadorias. Desta maneira teremos mais facilidade em conseguir o âmbar-cinzento a um preço não muito exorbitante e não haverá mais necessidade de mandar enviados especiais para esse fim. O Ministério estudou a proposta, e, achando-a conveniente, solicitou a autorização imperial para chamar de volta os enviados, mas encarregando o Censor-Inspector de Guangdong e o Anchashi de tentar por todos os meios ao seu alcance que conseguisse este produto fixando adequadamente as taxas da cobrança percentual. Foi então concedida a autorização solicitada. Dado o consentimento, realizou-se a procura por separado durante uma dezena de anos e se demorou pouco tempo em conseguir alguma quantidade." Assim, com a supracitada deliberação ministerial, chancelada pelo Imperador, "Desde o Reinado de Jiajing [1522-1566] até agora,138 os bárbaros, ao tomarem conhecimento da necessidade de apresentar este produto como tributo, vieram pouco a pouco afazer o comércio com âmbar-cinzento. Foi fixado o preço de aquisição em 100 taéis de prata por tael. Mesmo assim, continuou a ser difícil conseguir este produto".139

Outra fonte chinesa onde todo este processo de desesperada e imposta busca ficou registado são as Instituições dos Ming.140 Lá se diz que "Nos inícios do Reinado de Shizong, houve uma quebra nos fornecimentos ao Neifu. [...] Durante mais de uma dezena de anos foi ordenada a compra por separado de âmbar-cinzento, razão pela qual o enviado141 solicitou autorização para que os barcos bárbaros pudessem entrar no[s] ancoradouro [s]. Com o passar do tempo, conseguiu-se o produto...".142

Ao referir-se esta permissão de entrar nos "ancoradouros", tocamos num ponto que é fundamental desenvolver: em chinês, o termo original é Ao, que também poderia ser traduzido como baía. Nos últimos tempos da Dinastia Ming [1368-1644], Ao tornou-se na abreviatura de Xiangshan 'ao. Citamos um trecho da Crónica da Itália da História Oficial dos Ming que pode abonar a favor do nosso argumento: "... Esse país é um grande produtor de canhões, que são ainda maiores que os de Xiyang.143 Foram introduzidas no interior da China, mas as pessoas não sabem usá-los. Durante os reinados de Tianqi [1621-1627] e de Chongzhen [1628-1644] dadas as operações militares no Nordeste, em várias ocasiões foram chamadas as pessoas de Ao para a capital para que os generais e soldados pudessem aprender com eles, o que fizeram todos com os seus melhores esforços."144 Ao, aqui, refere-se com toda a evidência, a Macau, pelo que nos parece legítimo concluir que o Ao para o qual Wang Jian conseguiu autorização de entrada dos barcos é esse mesmo Macau.

NAS PEGADAS LUSAS

A partir das informações dadas tanto pelas fontes chinesas como pelas portuguesas sobre a questão da busca imperial do âmbar-cinzento, tentamos ir agora ao encontro das pegadas lusas deixadas por esse imenso Império do Meio fora.

Pouco antes da chegada da Embaixada de Tomé Pires, Wu Tingju - alegando a impossibilidade de conseguir incensos e perfumes que a Corte mandara comprar e a quebra na receita fiscal local - apresentou um memorial ao Trono a solicitar a autorização para revogar as rigorosas interdições marítimas que isolavam a China do resto Mundo. Talvez por isso, a missão do Reino de Portugal, ausente da lista dos países tributários, foi admitida em Guangdong. Após alguma demora nesta cidade e mediante a intervenção de eunucos influentes, foi conseguida a autorização para que Tomé Pires fosse recebido em audiência pelo Imperador Zhengde, na altura em Nanquim. De facto, o monarca recebeu a missão nessa cidade, mas encaminhou-a para Pequim para uma audiência oficial. Como também já referimos, o naufrágio que Zhengde sofreu na volta à Capital Imperial levou o Imperador à doença que o conduziu à morte sem descendência. Com o falecimento do Imperador Zhengde, o seu favorito Jiang Bing,145 protector dos Portugueses, foi executado por ordem da Imperatriz-Mãe, que firmara uma aliança política com o Grande Secretário Senior Yang Tinghe. Durante a regência deste último - que, por motivos de segurança nacional e para assegurar a sucessão, esteve à cabeça do governo do Império durante um interregno de 35 dias. Sendo ele assim, praticamente, o Chefe do Estado, ordenou o seguinte: "As autoridades competentes deverão guardar rigorosamente as fronteiras, sem deixar ninguém sair ou entrar. Os Bárbaros Folangji serão enviados, acompanhados de enviados nomeados para o efeito, para Guangdong, à espera de novas ordens."146 A existência desta ordem é corroborada pela História Oficial dos Ming: "os embaixadores tributários de Hami,147 Turfan148 e de Folangji149 foram recompensados pelo tributos trazidos e mandados de volta para os seus respectivos países".150

Foi, assim, nestes termos - no fundo, de mera segurança interna - que o Embaixador Tomé Pires e os seus acompanhantes foram reenviados a Guangdong. Aí, vendo os mandarins locais que os simpatizantes dos Portugueses, o Imperador Zhengde e o favorito Jiang Bing, já tinham morrido, começaram a perseguir os Portugueses, tanto os da comitiva (prendendo-os como reféns contra a devolução da cidade tributária de Malaca conquistada em 1511 por Afonso de Albuquerque), como aqueles que se tinham estabelecido em Tamão. Consequência do conflito entre a frota chefiada por Martim Afonso de Melo e as forças navais de Guangdong, os Portugueses subiram pelo litoral acima em demanda de outros portos. Fundaram uma colónia em Liampó que veio a ser destruída em 1548. Tomaram Chinchéu, donde foram expulsos em 1549. A São João chegaram em 1550. Entretanto, Pequim activou o processo da procura do âmbar-cinzento.

Na sequência directa desse facto e nas circunstâncias que acima relatámos, as autoridades de Guangdong abrandaram a perseguição contra os Portugueses. Em 1553, o Haidao151 de Guangdong assentou pazes com os Portugueses mediante um chamado "assentamento" com Leonel de Sousa, deixando-os passar para Lampacao. A partir da data desse acordo, os Portugueses começaram a frequentar Macau.

Como vimos também, em 1555, de Pequim foi ordenado que fosse conseguida a quantia estabelecida de âmbar-cinzento. Por essa razão, terão liberto os Portugueses de Macau das restrições comerciais antigas que lhes impunham a residência temporária em choupanas erguidas durante os períodos de comércio. Em 1556, o Imperador Jiajing fixou o prazo para que os mandarins centrais e locais conseguissem o âmbar-cinzento, sob pena de castigos severos. No mesmo ano, a pedido do enviado especial nomeado pelo Ministério das Fazendas, Wang Jian, foi dada a autorização imperial para que "os barcos bárbaros pudessem entrar no[s] ancoradouro[s]" - o que nós interpretamos, pelas razões acima aduzidas, como sendo a base do estabelecimento dos Portugueses em Macau - assegurando o fornecimento regular152 do tão desejado âmbar-cinzento.

Entendemos ser este o curso dos acontecimentos, o mais aproximado à verdade de factos já apagados pelo tempo.

Há meio século atrás o Prof. António da Silva Rego, após uma exaustiva mas frustrada busca nos arquivos portugueses de qualquer prova documental sobre a origem duma Macau portuguesa, afirmou: "a fixação portuguesa em Macau tinha que assumir a forma dum convite."153 Ora, à vista dos factos relatados e documentados tanto nas fontes chinesas como nas fontes portuguesas, a presunção de Rego é verosímil. E basta recordar o testemunho quinhentista de Fernão Mendes Pinto em relação às origens de Macau para o aceitar: "... Ao outro dia pela menham nos partimos de f ta ilha de Sanchaõ, & ao fol pof to chegamos a outra ilha que e ftâ mais adiante feis legoas para o Norte chamada Lampacau, onde naquelle tempo os Portuguefes fazião sua veniaga cos Chins, & ahy se fez fempre ate o anno de 1557 que os Mandarins de Cantaõ a requerimento dos mercadores da terra nos deraõ e f te porto de Macao onde agora fe faz...".154

Vários historiadores modernos chineses têm seguido esta senda de explicações. É sobretudo o caso, por exemplo, de Liang Jiabing:

"Analisando as várias aberturas do comércio externo de Guangdong, veremos que Haojingao passou dum lugar de transacções para um arrendamento, tudo por causa da falta de 'incensos e perfumes para a Corte Central'. Com a tomada da Malaca pelos portugueses, a China ficou completamente desacreditada perante os países do Mar Meridional, não seria isto por acaso 'o início dos fracassos diplomáticos que a China ia sofrer'? Não será assim [...] Resumindo: Quando os Portugueses iniciaram os seus contactos com a China, o Comissário da Administração Civil Provincial Wu Tingju, pela falta de 'incensos e perfumes para a Corte Central', autorizou, em contravenção das antigas regras, a embaixada tributária com comerciantes. Também pela mesma falta, foram eles autorizados a habitar em Haojing. Até à Dinastia Qing, por causa dos impostos do ópio, foi-lhes autorizada a governação perpétua de Macau. E digo eu: Macau perdeu-se primeiro pelo âmbar-cinzento e depois pelo ópio!"155

O que Wu Zhiliang comentou mais recentemente:

"Os Portugueses, pelo ínfimo preço do âmbar-cinzento e do ópio, conseguiram no território do Filho do Céu "levantar casas e construir toda uma cidade à beira-mar quase que formando um país à parte".156 Razões quase lendárias, que nos levam a imaginar quais não serão, para um futuro estudo subjectivo e científico da História de Macau, as dificuldades a ser enfrentadas!".157

NOTAS

1 Macau possui muitos nomes variantes, dos quais um é Haojing. Recentemente, Tang Kaijian descobriu que Haojing era nome dum molusco. Cf. Tang Kaijian Um Contributo para a etimologia de Haojing, in Diário Macau, edição de 28 de Fevereiro de 1999.

Sabemos que Macau também é conhecido como Haijing. Este nome, um tanto literário, costuma ser interpretado como "Espelho do Mar". Na Abreviada Monografia de Macau existe um poema com alusão a Haijing; trata-se dos Versos Escritos no Pujicanyuan [Mosteiro budista da Benevolência Universal] dirigidos aos discípulos de Donglin.

Conformo-me com uma vida tranquila, Escrevo umas linhas para a informação de Donglin.

Crianças bárbaras, com a sua longa permanência por cá, conseguem aprender a língua chinesa, Os bebés e mães, recém-chegados, passam a pronunciar esses estranhos sons.

A paisagem montanhosa dos dois lados reflecte-se no Haijing.

Às seis horas, os sinos soam em uníssono como a música do órgão.

Pena é que as interdições marítimas sejam cada ano mais rigorosas, Não tive tempo de passear a cantarolar poemas.

Haijing refere-se ao Porto Interior. Apurámos (cf. o nosso artigo Ao encontro das etimologias de Macao e Macau) que o Haijing é nome dum molusco, o mesmo que Haojing. O seu nome científico é Amusium japonicum (Cf. Cihai (Mare Lexicum), Edição Compacta de 1979, Editora dos Dicionários de Shanghai, 1980, pp. 1369, Grande Dicionário Enciclopédico da Língua Chinesa, Instituto da Cultura Chinesa, Taipei, vol. 19, pp. 310, com uma gravura de R. Tucher Abhott e S. Peter Dance Compendium of Seashells A Full-color Guide to more 4200 of the Word's Shells, E. P. Dutton. INC. New York, 1982, pp. 303, com fotografias a cores e Tetsuaki Kira Shells of the Western Pacific in Color, vol. I, 1270 Full Color Photographs, pp. 210 e a fotografia N.° 49.). Na zona do actual Macau, abundava este molusco, daí a verdadeira origem do termo Haojing, que é o nome chinês original e vernáculo do actual Macau. No Dicionário Português-Chinês, inédito, atribuído aos Padres Matteo Ricci e Miguel Ruggieri a pp. 170r-171r temos "Maguao=Haojing'ao" (Cf. Pasquale d'Elia, Fonti Ricciane. Storia dell'introduzione del cristianesimo in China/scritta da Li Madou (Matteo Ricci) S. I., Libreria dello Stato, Roma, 1942, vol. I, pp. 151-152, nota N.° 6. Nas fontes chinesas, Haojing aparece na Crónica Geral de Guangdong, da autoria de Huang Zuo, xilogravada em 1561 e Haojingao figura no memorial ao Trono apresentado por Pang Shangpeng em 1564. Isto quer dizer que o nome Maguao, que evoluiu para a actual Macau, embora seja de origem chinesa, derivado do nome da Deusa Ama, tinha na sua correspondência um nome vernáculo chinês-Haojing. Este desfasamento semântico é assaz frequente na toponímia macaense.

Aomen que quer dizer Porta da Baía, apareceu documentado pela primeira vez no memorial ao Trono apresentado por Pang Shangpeng em 1564.

2 Cf. Manuel Teixeira, Primórdios de Macau, Instituto Cultural de Macau, 1990, pp. 11.

3 A bibliografia existente é extensa e familiar aos estudiosos de Macau, de modo que é escusado referi-la neste espaço.

4 C. R. Boxer, O Império Marítimo Português 1415-1825, Edições 70, Lisboa, 1992, pp. 11.

5Cf. Wu Zhiliang, Segredos de Sobrevivência. O Sistema Político e o Desenvolvimento Político de Macau, Associação de Educação de Adultos de Macau,1998, pp. 48.

6 Em chinês, o nome mais conhecido é Longxianxiang, literalmente quer dizer Dragão (long), Saliva ou Baba (xian) e Incenso ou perfume (xiang).

Também é conhecido com Ambaerxiang, que é uma transcrição de âmbar. Tem ainda outro nome que é Tianxiang, que significa Incenso ou Perfume do Céu. Neste trabalho, dedicamo-nos apenas a uma história política de âmbar-cinzento, ligada à fundação de Macau portuguesa. A parte cultural, desenvolvê-la-emos num outro trabalho a seguir, de modo que suprimimos o historial do âmbar-cinzento. É de salientar que uma obra fundamental sobre este tema é A History of the Perfume Trade of the Sung Dynasty, Hong Kong, 1960, de Lin Tien-Wai. Para informações sobre as diferenças entre o âmbar amarelo e o âmbar-cinzento, cf. Anders Ljungstedt An Historical Sketch of the Portuguese Settlements in China; and of the Roman Catholic Church na Mission in China, Viking Hong Kong Publications, 1992, pp. 237-238.

7 Liang Jiabing, Adendas à Crónica de Folangji do Esboço da História dos Ming, in Boletim Mensal do Instituto da Literatura e História da Universidade Nacional de Sun Yat-sun, vol. II, N.° 3-4, pp. 43-142, reeditado in Wang Xichang e outros, Relações Exteriores da Dinastia Ming, Taipei, Livraria Estudantil, 1968, pp. 7-60.

8 Este termo, na Dinastia Ming [1368-1644], era a designação um pouco pejorativa dos Portugueses, mas a sua origem é muito mais remota. É atestado nas obras históricas chinesas a partir da Dinastia Sui [5 89-618], cuja conotação era diferente da Dinastia Ming. Nessa altura, com esta palavra designava-se o Império Romano de Leste e o litoral mediterrâneo sob o seu domínio. Sendo o seu uso anterior às Descobertas Marítimas, é de crer que a sua introdução na China se verificou pela via terrestre. Para mais informações, cf. Chen Jiaorong, Xie Fang e Lu Junling Glossário da Toponímia Antiga do Mar Meridional, Pequim, Livraria China, 1986, pp. 941-942. Sobre a etimologia deste termo, cf. Luís Felipe Thomás, "Frangues" in Luís de Albuquerque, op. cit., vol. I, pp. 435. Dos estudos mais recentes, pode-se citar Stefania Stafutti Portogallo e Portoghesi nelle Fonti Cinesi del XVI e del XVII Secolo, Cina, N.° 19 (1989), pp. 29-51. A autora explorou bastante bem as fontes chinesas sobre esta questão, mas é de salientar que já em 1986, um estudioso chinês de nome Li Li publicara "Uma discussão sobre os Folangji da Dinastia Ming e os Folin", in Boletim Académico da Universidade de Pequim (Edição da Filosofia e das Ciências Sociais), N.° 115, 1986, pp. 121-126. A questão de Folin foi abordada pela estudiosa italiana no seu trabalho a pp. 37-38, mas o trabalho mais exaustivo continua a ser o de Chen Jiaorong, Xie Fang e Lu Junling, op. cit., pp. 941-942.

9 Liang Jiabing, op. cit., pp. 7-60.

10 Dai Yixuan, Adendas à Crónica de Folangji da História Oficial dos Ming, Editora das Ciências Sociais da China, Pequim, 1984, pp. 73.

11 F. C. Fok, The Macao Formula: A Study of Chinese Management of Westerners from the mid-sixteenth century to the Opium War Period, tese de doutoramento apresentado na Universidade do Hawai, Maio de 1978, (ainda hoje não publicada) pp. 93-95 e, do mesmo autor, Estudos sobre a Instalação dos Portugueses em Macau, Gradiva, Lisboa, 1996, pp. 51-54. Convém esclarecer que este autor, tanto na sua tese em inglês com na versão portuguesa abreviada, fez - talvez por desconhecimento rigoroso do chinês - uma leitura fonética errada de âmbar-cinzento. A sua transcrição na forma de "lung-yen-hsiang" é um vulgarismo inaceitável. A versão correcta é "lung-hsien-hsiang", no sistema de Wade-Gilles e "Longxianxiang", no sistema de Pinyin.

12 Huang Qicheng, História de Macau Desde a Antiguidade até a 1840, Sociedade da História de Macau, 1995, pp. 43-44.

13 Camões Tam, Disputes concerning Macau's Sovereignty between China and Portugal (1553-1993), Lifework Press, Taipei, 1994, pp. 40, nota N°36 a pp. 40-41.

14 Fei Chengkang, 400 Anos de Macau, Edições Populares de Shanghai, 1988, pp. 22. Na versão em inglês do supracitado livro intitulado Macao 400 Years, The Publishing House of Shanghai Academy of Social Sciences, 1996, o autor não se refere a este assunto. Mais tarde, publicou o artigo Algumas hipóteses sobre a importação do âmbar-cinzento na Dinastia Ming, in Revista de Cultura, N.° 32 (II Série) Junho/Setembro de 1997, pp. 117-118.

15 Tang Kaijian, Intelectuais e Mandarins das Dinastias Ming e Qing e Macau, Fundação Macau, 1998, pp. 72-76.

16 É o caso dos cronistas portugueses das Descobertas, Duarte Barbosa, Tomé Pires, Melchior Nunes Barreto, Gaspar da Cruz, Garcia da Orta, Fernão Mendes Pinto (capítulos 143,165 e 168), etc. Para um resumo das informações sobre âmbar-cinzento, cf. Luís de Albuquerque, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Caminho, 1994, vol. I. pp. 62.

17 Tratado das coisas da China (Évora, 1569-1570), com introdução, modernização do texto e notas de Rui Manuel Loureiro, Cotovia e Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1997, pp. 195, notas N.° 437, 439 e 440. Notamos, porém, que Loureiro alude ao âmbar-amarelo, em chinês Hubo, quando se trata na questão de âmbar-cinzento, o referido Longxianxiang, que quer dizer Incenso ou Perfume da Saliva ou Baba do Dragão.

18 Não só no Reinado de Jiajing [1522-1566], mas já desde o reinado anterior, isto é de Zhengde [1506-1521], que tivera início a procura do âmbar-cinzento. Isto estaria na origem da admissão da embaixada de Tomé Pires em Guangdong. Sobre esta questão, já existe uma bibliografia pequena, mas um estudo mais aprofundado está por ser feito. Veja-se adiante.

19 Sobre a etimologia de Jiajing, cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett The Cambridge History of China, Volume 7 The Ming Dynasty, 1368-1644, Part I, Caves Books, Ltd, Taipei, pp. 440, nota N° 1. Este capítulo (de 440 a 510), intitulado The Chia-Ching Reign, 1522-1566, de autoria de James Geiss, é essencialmente baseado na Biografia de Shizong da História Oficial dos Ming.

20 Sobre o Reinado de Zhengde [1506-1521], cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 403-439. Este capítulo, o 7°, intitulado "The Cheng-Te Reign", 1506-1521, de autoria de James Geiss, é essencialmente baseado na Biografia de Wuzong da História Oficial dos Ming.

21 Cf. Zhang Tingyu, História Oficial dos Ming, Livraria China, Pequim, 1974, pp. 215.

22 Cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 90, 121 com um mapa, 440. 446 e 447.

23 Cf. Zhang Lihe, Grandíssimo Dicionário da Toponímia Antiga e Moderna da China, The Commercial Press, Hong Kong, 1982, pp. 915-916.

24 Paul Pelliot, Le Hoja et le Sayyid Husain de l'Histoire des Ming, in T'oung Pao, N.° 39 de 1949, pp. 81 nota N.° 1.

25 Grande Secretário Sénior. Cf. Charles R. Hucker, A Dictionary of Official Titles in Imperial China, Taipei, 1995, SMC Publishing INC, pp. 432.

26 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 5031 - 5039.

27 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp 3551 - 1553.

28 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 215.

29 17 de Agosto de 1516.

30 Direcção das Cerimónias. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 451

31 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3528-3529.

32 Ou seja Grandes Académicos ou Membros do Gabinete Imperial. São os Colao das fontes portuguesas. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 278-279.

33 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 212.

34 Cf. Paul Pelliot, op. cit., pp. 82-83, a nota N.° 5, pp. 83-84.

35 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3528.

36 Em conformidade com o princípio de "O irmão mais novo sucede ao irmão mais velho no caso do falecimento deste" que consta das Injunções Ancestrais. Cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 118, 132-133, 168, 174-178, 187,191. 192, 195, 216,229,289-290, 359,367, 441-442, 442, nota N. ° 3,668 e 689.

37 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 212.

38 Para uma lista dos membros desta missão, cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 212.

39 Idem, ibidem.

40 Como sobrinho e não filho do Imperador, quando Zhu Houcong, a 27 de Maio de 1521 chegou a Pequim, teve que resolver as polémicas relativas ao estatuto dos seus pais, sobretudo da sua mãe, o que conseguiu, legitimando assim a sua sucessão e a futura governação. Para os dados biográficos dos seus pais, Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3551-3555.

41 Jiajing.

42 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp 212.

43 Este atentado é pormenorizadamente relatado por Zhang Tingyu. Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp 3531-3532.

44 1541.

45 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 7896.

46 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3530.

47 Idem, Ibidem.

48 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3530-3531.

49 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 226.

50 28 de Janeiro de 1534.

51 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3531-3533.

52 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 226.

53 A vida sexual do Imperador Jiajing deve ter sido muito intensa considerando a existência de um vasto harém imperial, assim descrito pela História Oficial dos Ming: "O Imperador não teve nenhum filho nos primeiros dez anos do seu reinado. O Grande Académico Zhang Fujing (Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp 5173-5180) fez a seguinte proposta: 'Desde tempos imemoriais, os antigos Imperadores tinham as suas imperatrizes, além disso, possuíam 6 palacianas, 3 cônjuges, 9 concubinas, 27 mulheres plebeias e 81 esposas imperiais, afim de obter uma descendência numerosa. Vossa Majestade que está na plenitude da sua vida deverá procurar por todo lado mulheres virtuosas para ter uma descendência próspera'. Foiaceite. " Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3531.

54 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 4669-4670.

55 O seu nome completo é Shao Yuanjie.

56 Um importante ministro do Reinado de Jiajing [1522-1566]. Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 5191-5199.

57 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 7895.

58 Preceptor Júnior. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp 415.

59 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 7895.

60 O seu nome completo é Tao Zhongweng.

61 Cf. Zhang Lihe, op. cit., pp. 1240.

62 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 7896.

63 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 7898, 7899 e 7903.

64 Literalmente quer dizer "Pílula Dourada". Trata-se de uma mistura feita com "Jade Líquido" (à base de ouro fundido), chumbo e mercúrio, entre outros componentes minerais. Os taoistas atribuem-lhe propriedades afrodisíacas e rejuvenescedoras considerando-a uma mezinha para a tão desejada longevidade. Cf. Dicionário das Religiões, Editora de Dicionários de Shanghai, 1981, pp. 692.

65 O equivalente a 50 quilos.

66 Um tratamento oficioso de Buzhengshi, o vulgo Tesoureiro das fontes portuguesas. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 208.

67 Um dos muitos tratamentos do Anchashi. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 355.

68 Comparem com Garcia da Orta: "e, o que he mais de maravilhar, he ter mayor valia ácerca dos Chins, porque o levarão lá os nossos Portuguezes, e venderão hum cate, que são vinte onças, por 1500 cruzados". 1200 taéis eram sensivelmente 1500 cruzados. O Imperador Jiajing, desesperado, em relação ao preço que ia oferecer, ordenou: "dispensar todos os esforços na procura deste produto em todos os lugares do litoral que tenham tratos com bárbaros, sem olhar para opreço, por mais elevado que seja."

69 O equivalente a meio quilo.

70 Uma corruptela de Mateus de Brito, comprovada-mente cativo em Cantão nesse tempo? Zhang Xie dá outra transcrição: "Na 3a lua do 34° ano [Março-Abril de 1555] do Reinado de Jiajing [1522-1566], a Direcção de Sili transmitiu a ordem imperial ao Ministério das Fazendas no sentido de comprar 100 cates de âmbar-cinzento. Os ofícios seguiram para os Zhufan70 oferecendo um preço público de 1200 taéis por um cate. Foram-no comprar a Xiangshan 'ao e só voltaram com 11 taéis. Urgia ir buscar o verdadeiro à cadeia de Guangzhou, onde, um cativo bárbaro, de nome Yunaliedi tinha consigo 1 tael e 3 mazes, de cor parda. Foram mandados à Capital Imperial. Mais tarde, bárbaros de Mididumidi70 trouxeram de tributo 6 mazes, de cor esbranquiçada." Cf. Zhang Xie, op. cit., pp. 274.

71 Por identificar.

72 1556.

73 Cf. Gu Yanwu, Geografia Universal, edição fac-símile do manuscrito, The Commercial Press, Pequim, pp.10828.

74 16 de Junho de 1535.

75 Wang Jian.

76 Cf. Verídica Crónica do Imperador Shizong, edição de Taipei, vol. 422, pp. 12.

77 19 de Agosto de 1557.

78 Cf. Xia Xie Crónica Geral da Dinastia Ming, Livraria China, 1959, Pequim, vol. 61, Crónica 61, pp. 2366, Verbete do dia Bingzi da 7a lua do 36° ano (19 de Agosto de 1557) do Reinado de Jiajing [1522-1566].

79 "Na 3a lua do 34° ano do Reinado de Jiajing [Marçoe Abril de 1522-1566] (Março-Abril de 1555), a Direcção de Sili transmitiu a ordem imperial ao Ministério das Fazendas no sentido de comprar 100 cates de âmbar-cinzento." Cf. Zhang Xie Estudos dos Mares do Leste e do Oeste, edição xilogravada da Colecção da Enciclopédia das 4 Secções, de Wengyuange, pp. 274. Para mais informações sobre a vida e a obra do autor, cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 773 e Leonard Blussé e Zhuang Guotu Fuchienese Commercial Expansion into the Nanyang as Mirrored in the "Tung Hsi Yang K'ao, in Revista de Cultura, N° 13/14 de Janeiro/Junho de 1991, edição português/inglês, pp. 140-149.

80 Sobre este tema, em chinês, pode-se consultar Zhang Weihua Súmula do Comércio Externo da Dinastia Ming, Edições Populares de Shanghai, 1956, pp. 17-46, Chen Wenshi A Política das Interdições Marítimas durante os Reinados de Hongwu [1368-1398] e Jiajing [1522-1566] da Dinastia Ming, Faculdade de Letras da Universidade de Taiwan, Taipei, 1966, pp. 111-175. Dai Yixuan Wokou (piratas japoneses) e a pirataria do período entre o Reinado Jiajing [1522-1566] e o Reinado Longqing [1567-1572]) e o aparecimento do Capitalismo na China, Editora da Academia das Ciências Sociais da China, Pequim, 1982 Stephen Chang Maritime Activities on the South-East Coast o f China in the Latter Part of the Ming Dynasty, vol. I, China Committee for Publication Aid and Prize Award, Taipei, 1988. Em inglês, pode-se consultar Roland Louis Higgins Piracy and Coastal Defense in the Ming Period, Government Response to Coastal Disturbance, 1523-1549, tese de doutoramento apresentada na Universidade do Minnesota, 1981, Kwan-wai, So Japanese Piracy in Ming China during the 16th Century, Michigan State University Press, 1975, pp. 1-14. Desta bibliografia especializada seleccionada, a obra de Chen Wenshi, é, de longe, a melhor de todas, pela sua riqueza informativa baseada em Verídicas Crónicas dos Ming.

81 Sobre ele, c f. Manuel Teixeira, Vultos Marcantes em Macau, Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, 1982, pp. 21-22.

82 Cf. Garcia da Orta, Colóquios dos Simples e Drogas da Índia, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, vol. I, pp. 51-52 e Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias Orientais ou Portuguesas que tem um capítulo baseado em Garcia da Orta, cf. a edição preparada por Arie Poe e Rui Manuel Loureiro, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1997, pp. 243-244.

83 Quer dizer diversos bárbaros.

84 Cf. Zhang Xie, op. cit., pp. 274.

85 Literalmente Baía ou ancoradouro do Monte Odorífero.

86 Cf. Liang Jiabing, op. cit, pp. 26-34, Zhang Weihua Notas sobre as 4 Monografias da História Oficial dos Ming, relativas aos Países de Folangji, Filipinas, Holanda e Itália, Editora dos Clássicos de Shanghai, Shanghai, 1982, pp. 27, Dai Yixuan op. cit., pp. 52-53. e Tang Kaijian, Um Contributo para a etimologia de Haojing, in Diário Macau, edição do 28 de Fevereiro de 1999.

87 Cangwu era a designação genérica na antiguidade para as actuais zonas dos Dois Guangs. Cf. A Crónica Militar de Cangwu, edição fac-símile da edição xilogravada de 1579, Centro de Reproduções e Microfilmagem das Bibliotecas Públicas da China, Pequim, 1991, pp. 486. A cartografia encontra-se a pp. 91.

88 Segundo parece, já desde 1535 que Macau se abrira ao comércio externo. A partir de 1545, aproximadamente, todos os "bárbaros" vieram cá comerciar os seus produtos por troca com os dos chineses, como consta do seguinte memorial ao Trono apresentado por Wu Guifang em 1565: "Países tais como o Folangji, que foram expressamente proibidos por ordens imperiais de apresentar os seus tributos, misturavam-se com os enviados de outros países a fim de conseguir lucros ilícitos. Até há bem pouco tempo, têm sido obedientes. Uma localidade de nome Gongchangdu de Haojing 'ao de Xiangshan foi ocupada pelos mais diversos bárbaros, onde levantaram clandestinamente palhotas, até quartéis.

Tiveram a liberdade de construir igrejas bárbaras para a missa dominical. Frequentam a localidade ou para uma curta visita ou para uma permanência, onde têm descendentes. Verificamos que no início disto tudo, havia poucos barcos bárbaros ancorados. Agora com as novas leis promulgadas, todos os bárbaros cumprem com os seus deveres fiscais, que residem na medição, disso a China tem beneficiado bastante.

Com o passar do tempo e uma vez dentro do nosso sistema, começaram a fugir à medição e a ser menos obedientes.... Aliás, não são da nossa raça. Com uma população de cerca de dez mil habitantes, já ocuparam a Baía, convertendo-a numa sua residência de há uma vintena de anos.", Cf. Wu Guifang Memorial ao Trono com a proposta de impedir a tentativa dos bárbaros da Baía de apresentar os seus tributos. A tentativa dos bárbaros da Baía de apresentar os seus tributos, em Chen Zilong e outros Colecção de Escritos de Assuntos Estatais da Augusta Dinastia Ming, edição de Pinglutang, 1638, Memoriais ao Trono apresentados pelo Vice Rei Wu, vol. I, pp. 15-16. Por este memorial, sabemos que Gongchandu, que era a divisão administrativa que abrangia as zonas dos dois lados da actual Porta do Cerco "foi ocupada pelos mais diversos bárbaros, onde levantaram clandestinamente palhotas, até quartéis". Dado que este memorial ao Trono foi apresentado com a data de 1565, recuando uma vintena de anos, estaríamos entre 1540 e 1545. Nessa altura os portugueses ainda eram perseguidos pelas autoridades de Guangdong desde os anos 20, o que nos levaria a afirmar que os portugueses não estariam incluídos nos "mais diversos bárbaros". A partir de 1553, os portugueses foram atraídos para Macau e conseguiram impor-se a outros "bárbaros". Até agora, nas fontes portuguesas não temos informações sobre uma presença portuguesa, anterior a 1553 no local a que hoje se chama Macau.

89 Como nessa altura pouco se sabia sobre a proveniência do âmbar-cinzento, surgiam falsificações. O verdadeiro foi primeiramente conseguido das mãos de Mateus de Brito, se é a ele que se refere o documento chinês alusivo ao detido na cadeia da cidade de Cantão. Mais tarde para verificar a qualidade deste produto, na administração local do Distrito de Xiangshan, foi mesmo instituído um cargo que se chamava sargento-verificador de Produtos Odoríferos [Yanxiangbazong] (Cf. Zhang Xie, op. cit., pp. 274), que supervisionava um organismo oficial, de nome Repartição da Verificação de Produtos Odoríferos de Xiangshan[Xiangshanyanxiangsuo]. Cf. Tang Kaijian, op. cit., pp. 74-75.

90 Armazém Imperial. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp 345.

91 Aliás com o assentamento entre Leonel de Sousa e o Haidao Wang Bai, cessaram as hostilidades entre os portugueses e os chineses, de maneira que não havia razão para manter os cativos lusos nas cadeias cantoneses. Talvez a não libertação dos presos se justificasse com a tentativa de conseguir o que Pequim mandava procurar servindo-se dos presos como reféns.

Sobre o acordo verbal entre Leonel de Sousa e o Haidao Wang Bai, cf. Jin Guo Ping Leonel de Sousa e Wang Bai, in Boletim de Estudos de Macau, Fundação Macau e Universidade de Macau, vol. 7, 1998, pp. 122-143. Parece-nos que o motivo que levou o Hiadao Wang Bai a fixar a taxa de 20% para os portugueses teria sido uma consequência directa das instruções de Pequim. Vejamos: "... Então Wang Jian sugeriu: convém fixar as taxas de cobrança percentual, mediante estudos e exames da situação quando os barcos marítimos entrarem no(s) ancoradouro(s). Só aos que tragam âmbar será autorizado contactar os nossos comerciantes para comprar mercadorias. Desta maneira teremos mais facilidade em conseguir o âmbar-cinzento a um preço não muito exorbitante e não haverá mais necessidade de mandar enviados especiais para o fim. 'O Ministério estudou a proposta achando-a conveniente. solicitaram a autorização imperial para chamar de volta os enviados, mas encarregando o Censor-Inspector de Guangdong e o Anchashi de tentar através de todos os recursos ao seu alcance conseguir este produto, ao fixar adequadamente as taxas da cobrança percentual' Deu-se a autorização solicitada. A partir daí, realizou a procura por separado durante uma dezena de anos e demorou pouco tempo a conseguir alguma quantidade. Com esta deliberação ministerial, chancelada pelo Imperador, "Desde o Reinado de Jiajing [1522-1566] até agora, os bárbaros, ao tomarem conhecimento da necessidade deste produto com um presente tributário, vieram pouco apouco afazer o comércio com âmbar-cinzento. Foi fixado o preço de aquisição no montante de 100 taéis de prata por tael. Mesmo assim, era sempre difícil conseguir esteproduto."

92 Sobre esta personagem, cf. Manuel Teixeira VultosMarcantes, pp. 23-24.

93 Recuados seis anos estaríamos em 1550; quererá isto dizer que a partir dessa data as autoridades de Cantão já tinham a intenção de afrouxar a perseguição contra os portugueses começada em Liampó e passaram a tolerar a presença portuguesa em São João, mais tarde em Lampacau e finalmente em Macau. Todo este processo era conduzido pela procura imperial do âmbar-cinzento. Tendo os portugueses mais à mão, haveria mais facilidade de conseguir esse produto para satisfazer as necessidades da Corte.

94 [Sublinhado nosso] Cf. Carta do PeMelchiorNunes Barreto aos Irmãos da Companhia de Jesus em Goa in Rebecca Catz e Francis M. Rogers Cartas de Fernão Mendes Pinto e Outros Documento, Lisboa, Editorial Presença/Biblioteca Nacional, 1983, pp. 71.

95 Sobre a vida e a obra deste autor, cf. Tratado dascoisas da China (Évora, 1569-1570), com introdução, modernização do texto e notas de Rui Manuel Loureiro, Cotovia e Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1997, pp. 13-54.

96 Com a mesma "prontidão e presteza", qualquer mandarim tentava servir o Imperador para poder ser promovido, se conseguisse o que o soberano com tanta ansiedade procurava. O superior de Wang Bai foi promovido a Comissário da Administração Civil Provincial e o próprio Wang B ai substituiu o seu antigo chefe.

97 Em 1556, o Comissário da Administração Civil Provincial da Esquerda era Wang Fang e o Comissário da Administração Civil Provincial da Direita era Wei Lianggui, cf. Ruan Yuan, Crónica Geral de Guangdong, edição da Editora dos Clássicos de Shanghai, Shanghai, 1990, vol. I, pp. 356.

98 Temos uma descrição no Colóquio de Garcia da Orta: "... e, o que he mais de maravilhar, he termayor valia ácerca dos Chins, porque o levarão lá os nossos Portuguezes, e venderão hum cate, que são vinte onças, por 1500 cruzados; por onde os nossos levarão tanta quantidade, que valeo muito mais barato, e cada vez valerá menos lá, segundo a cobiça dos que o lá querem levar".

99 O Mestre Melchior Nunes Barreto especificou o tempo ao informar-nos de que "Levava para resgate destes cativos um pouco de âmbar que há seis anos que é buscado de el-rei da China, com grande prometimento a quem lho trouxesse, porque acham em seus livros que dá longa vida aos velhosse o comerem com certas confecções."

100 1555. Refere-se a primeira operação de resgate realizada nesse ano pelo Mestre Melchior Nunes Barreto. Fr. Gaspar de Cruz que esteve em Cantão em 1556. Recuados seis anos estaríamos em 1550; quererá isto quer dizer que a partir dessa data as autoridades de Cantão já tinham decidido uma aproximação aos portugueses para a obtenção do âmbar-cinzento.

101 Wang Bai.

102 Wang Bai foi promovido ao Comissário da Administração Judicial Provincial em 1557. Cf. Ruan Yuan, op. cit., pp. 369.

103 Papel de selagem.

104 O vice-rei de 1556 era Tan Kai. Cf. Wu Tingxie, Cronologia dos Vice-Reis e Governadores da Dinastia Ming, Pequim, Livraria China, vol. II., pp. 659. Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 2385, 2412, 4560 e 5554 e Ruan Yuan, op. cit., pp. 346, 356 e 4238.

105 Era o próprio Tan Kai, que tinha a sua sede em Wuzhou, que é o "Ucheo" das fontes portuguesas.

106 Lugar-tenente.

107 Gaspar da Cruz, Tratado em que se contam muito por extenso as cousas da China, Museu Marítimo de Macau, Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, 1996, pp. 107-109.

108 Cf. Wu Zhiliang, O Encontro Luso-Chinês em Macau, in Administração, N° 33 (3° de 1996), Volume IX, Setembro de 1996, pp. 659.

109 Cf. Arthur W. Hummel Eminent Chinese of theCh'ing Period, SMC Publishing Inc, Taipei, 1991, vol. I, pp. 421-426.

110 Idem. pp.424.

111 Grande Secretariado, Gabinete Imperial. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp 346-347.

112 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 5145-5151.

113 Grande Repositório Literário do Reinado de Yongle. Cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 220-221, 729 e 749.

114 Gu Yanwu, op. cit., pp. 108-28.

115 Convém esclarecer que o âmbar-cinzento não é uma especiaria, como afirma algum historiador menos avisado e a sua proveniência não se limitava a Samatra. Cf. F. C. Fok Estudos sobre a Instalação dos Portugueses em Macau, Gradiva, Lisboa, 1996, pp. 52-54.

116 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 5145-5151.

117 Cf. Gu Yanwu, op. cit., pp. 10828.

118 O seu nome completo é Gao Yao. O carácter [耀] possui 3 valores fonéticos, que são Yao, Shuo e Shao. Optamos para o nosso estudo pelo primeiro.

119 Gu Yanwu, op. cit. pp. 10828.

120 Idem, ibidem.

121 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 3468-3469.

122 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., p. 3469.

123 Guardião Júnior do Herdeiro do Trono. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 485.

124 Reinado de Longqing que durou de 1567-1572.

125 Grande Guardião do Herdeiro do Trono. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 485.

126 Lin Tien-Wai dedica um capítulo inteiro a esta questão. Cf Secção 3 As Promoções ou Exonerações de Inspectores do Comércio Externo e outros funcionários e o Comércio dos Incensos e Perfumes in A History of the Perfume Trade of the Sung Dynasty, Hong Kong, 1960, pp. 148-163.

127 29 de Setembro de 1556.

128 Cf. Verídica Crónica dos Ming, vol. 438, pp. 4.

129 Os 3 Dignitários, isto é o Comissário da Administração Civil Provincial, o Comissário da Administração Judicial Provincial e o Comandante Militar Provincial. Para mais informações, cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 401-402.

130 A apresentação estava reservada aos funcionários imperiais, como vimos na descrição de Frei Gaspar da Cruz.

131 O nome científico de Lingzhi é Ganoderma lucidum. Cf. Cihai (Marum Lexicum), edição compacta de 1979, Editora de Dicionários de Shanghai, Shanghai, 1980, pp. 1066. Sobre a procura imperial de Lingzhi, cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit, pp. 481-482.

132 Cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit, pp. 450-453 e 466-478.

133 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 250-251.

134 Secretário Ministerial. Cf. Charles R. Hucker, op. cit., pp. 183.

135 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 4506 e 4508.

136 "Direitos a vymte por cento" Cf. Jordão de Freitas Macau Materiais para a sua História no séculoXVI, Instituto Cultural de Macau, 1988, pp.

137 Se optarmos pelo singular, seria Macau de hoje. No caso de interpretarmos como plural, são os ancoradouros indicados para o comércio externo, que Tomé Pires chama de "... os portos Já Determjnados de cada nação...". Pelas fontes chinesas, sabemos que "Nos últimos anos os barcos bárbaros de Sião e dos seus domínios tais como Cambodia e Nakhon Srithamarat, assim como os de Malaca, Sunda, Chapa ancoram ou em Guanghaie Wangdong de Xingning, ou em Quitan de Xinghui, ou Langbai (Lampacao), Haojing (Macau) e Shizimen (Canal da Taipa) de Xiangshan, ou em Jixi, Tunmen, Huotoumen (Boca do Tigre) de Dongguan, entre outros ancoradouros. Eles fundeiam em surgidouros diferentes." (Cf. Huang Zuo Crónica Geral de Guangdong, edição xilografada de 1561, vol. 68, pp. 70). Na Crónica Geral de Guangdong, de autoria de Gui Fei, edição xilogravada de 1602, vol. 69, pp. 72, temos estas informações: "Os barcos bárbaros escolhem baías como os seus ancoradouros. Nos primeiros tempos não tinham residência fixa. Tais ancoradouros eram Guanghai e Wangtong de Xingning, Langbai e Haojing'ao, Shizimeng de Xiangshan e Hutoumeng, Tunmen e Jixi de Dongguan. ". José Maria Braga citou e traduziu umas informações semelhantes de Gu Yanwu, cf. The Western Pioneeers and their Discovery of Macao, Imprensa Nacional, Macau, 1949, pp. 80 e China Landfall 1513 Jorge Alvares' Voyage to China A Compilation o f some Relevante Material, Instituto Português de Hongkong (Secção de História), Imprensa Nacional, Macau, 1955, pp. 65-66.

138 1617, ano em que foi concluída a obra de Zhang Xie.

139 Zhang Xie, op. cit., pp. 274. E temos um relato semelhante ao de Gu Yanwu: "A partir daí, os barcos bárbaros, ao tomarem conhecimento da necessidade de apresentar este produto como tributo, vieram pouco a pouco a fazer o comércio com âmbar-cinzento.

Foi fixado o preço de aquisição em 100 taéis de prata por tael." Cf. Gu Yanwu, op. cit. pp. 10828.

140 A sua primeira edição xilogravada data de 1583. Amais corrente é a edição revista e aumentada de 1587.

141 Wang Jian.

142 Cf. Sheng Shixing, Instituições dos Ming, edição fac-símile da edição xilogravada de 1587, Livraria China, Pequim, 1989, pp. 1118. Na História Oficial dos Ming, editada em 1739, encontramos outra versão com pouco variações: "No início do Reinado de Shizong, houve uma quebra nos fornecimentos a Neifu na ordem de 90% em relação ao Reinado de Zhengde.

Desde os meados [1535-1545] do mesmo reinado começaram as construções civis em grade escala e estabelecimentos de altares de cultos taoistas, razão pela qual foram dadas ordens de procura de madeiras, de incensos e perfumes, pérolas e jades, o que fez com que as autoridades e o povo não tinham mãos a medir só com estas procuras,... Mandaram comprar por separado o âmbar-cinzento durante mais do que uma dezena de anos, razão pela qual, o enviado solicitou a autorização para os barcos bárbaros entrar no[s] ancoradouro[s]. Com o passar do tempo, conseguiu-se o produto", cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp 1993-1994.

143 Portugal.

144 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 8461. Sobre a ajuda militar de Macau aos Ming, cf. C. R. Boxer Expedições militares portuguesas em auxílio dos Ming contra os Manchus, 1621-1647, em Estudos para a História de Macau Séculos XVI a XVII, Obras Completas de Charles Ralph Boxer, Fundação Oriente, Lisboa, 1991, pp. 119-133. É de salientar que ainda existem bastantes fontes chinesas sobre esta questão por ser exploradas, por exemplo os memoriais ao Trono apresentados por Xu Guangqi e Li Zhicao. Já é tradicional o erro que confunde os Portugueses que ocupam Macau com os Italianos. Investigando o motivo deste erro, talvez esteja no facto de que na época dos Ming, os jesuítas italianos, encabeçados por Matteo Ricci, que vieram à China tomavam Macau como a sua base de evangelização, daí os chineses dessa altura chegarem à conclusão de que os ocidentais em Macau já todos eram italianos. Esta confusão teria sido criada, de propósito, pelos jesuítas com o fim de tentar mudar a imagem negativa dos Folangji perante a China, pois com os conflitos armados luso-chineses verificados, desde os anos 20 até aos anos 50 dos Seiscentos, em Guangdong, Liampó e Chinchéu, os missionários que estavam ao serviço do Padroado Português do Oriente não conseguiam levar a cabo o projecto xavieriano de abrir a porta duma China hermeticamente fechada ao exterior. Sobre esta questão, pode-se consultar Henri Bernard Aux Portes de Chine Les Missionaires du Seiziéme Siécle 1514-1588, Hautes Études, Race Cource Road, Tiensin, 1933. pp. 179-194 Avec ou sans les Fo-lang-kis.

Nesta discussão duma possível mudança da política inaciana com a China, promovida pelo visitador Alexandre Valignano (Cf. Louis Pfister, S. J., Notices biographiques et bibliographiques sur les jésuites de l'ancienne mission de Chine 1552-1773, Imprimerie de la Mission Catholique, Chang-Hai 1932, vol. I, pp. 13-15 e Joseph Dehernge, S. J., Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, Institutum Historicum S. I. - Letouzey & Ané, Roma-Paris 1973., pp. 281) aconteceu um episódio perfeitamente imprevisto que permitiu os jesuítas entrarem na China, que foi o caso de Chen Rui, cf. Pasquale d'Elia S. I.

Fonti Ricciane. Storia dell'introduzione del cristianesimo in China/scritta da Li Madou (Mateo Ricci) S. I., Libreria dello Stato, Roma, 1942, vol. I,. 161, nota N° 5 e Luís Gonzaga Gomes Macau Um Município com História, Organização e Prefácio e notas de António Aresta e Celina Veiga de Oliveira, Leal Senado, Macau, 1997, pp. 81-83.

145 Cf. Zhang Tingyu, op. cit., pp. 7885-7889.

146 Cf. Yang Tinghe, Três Relatos do Senhor YangWenzhong, edição xilogravada da Colecção da Enciclopédia das 4 Secções, de Wengyuange, pp. 822.

147 Cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 223,317,322 e 224 com o mapa.

148 Cf. Frederick W. Mote e Denis Twitchett, op. cit., pp. 223,393,394,452-453 e 224 com o mapa.

149 Portugal.

150 Cf. Zhang Tingyu, op. cit, 1974, pp. 5034.

151 Sobre este cargo, cf. Jin Guo Ping Combates a Piratas e a Fixação Portuguesa em Macau, in Revista Militar, Número Especial-Presença Portuguesa no Oriente, N° 2364 e N.° 1 de 1999, Lisboa, 1999, pp. 204-205, nota N. °. 26.

152 Esta situação continuou até aos reinados seguintes, por exemplo, "Na 12a lua do 21° ano [Janeiro-Fevereiro de 1594] do Reinado de Wanli [1573-1620], o eunuco Sun Shun, afim de preparar umas orações, apresentou um memorial ao Trono a solicitar a compra de 5 cates. Foram dadas ordens ao Sargento-Verificador de Produtos Odoríferos Jiang Jun para a procura e compra de tal quantia. Na la lua do 24° ano [Fevereiro-Março de 1598] foram apresentados à Corte 46 taéis. Na 12a lua do 26° ano [Dezembro de 1598 e Janeirode 1599] adquiriram-se 48 taéis, 5 mazes e l condorim. Da mesma maneira, conseguiram-se97 taéis, 6 mazes e 2 condorins na 8a lua do 28° ano [Setembro-Outubro de 1600]. Desde o Reinado de Jiajing [1522-1566] até agora, os bárbaros, ao tomarem conhecimento da necessidade de apresentar este produto como tributo, vieram pouco a pouco afazer o comércio com âmbar-cinzento. Foi fixado o preço de aquisição em 100 taéis de prata por tael. Mesmo assim, continuou a ser difícil conseguir esteproduto" Cf. Zhang Xie, op. cit., pp. 274.

153 António da Silva Rego, A Presença de Portugalem Macau, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1946, pp. XIII.

154 Cf. Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, edição fac-símile da edição de 1614, Castoliva editora, Lda., Maia, 1995, pp. 294v.

155 Liang Jiabing, op. cit., pp. 11 e 37.

156 Wang Zhichun, História das Afeições da nossa Augusta Dinastia para com o Estrangeiro, vol. I, Estudos Geográficos Universais, edição xilogravada da Livraria Guangya de 1891, pp. 8.

157 Wu Zhiliang, O que penso dos estudos da História de Macau, in A História de Macau e os Estudos dos Contactos entre a China e o Ocidente-Colectânea em homenagem do Prof. Dai Yixuan pelo seu 90°aniversário, Editora do Ensino Superior de Guangdong, Guangzhou, 1998, pp. 24.

* Licenciado em Português pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. Tradutor e autor de vários temas de Literatura Portuguesa.

** Licenciado em História. Vogal do Conselho de Gestão da Fundação Macau.

desde a p. 5
até a p.