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ATÉ BREVE

Luís Sá Cunha

Com esta edição dupla da RC em Língua Portuguesa (N°s 38/39) acontece o fim de um ciclo da vida editorial desta revista. Iniciada em 1987, tinha conhecido uma inflexão a meio do percurso, assinalada com a entrada de uma IIa Série.

Não temos ainda clara decisão sobre as formas da sua continuidade no futuro breve: sabemos, de certo, que ela irá continuar, isto é, que o novo modelo a publicar não significará um corte, mas uma metamorfose onde o anterior será reconhecível.

Há quatro anos já, começámos a mentar este novo modelo, força da evolução da própria nossa publicação, que a ia fazendo aproximar-se daquilo que havia sido arquitectado no seu início.

De certo, sabemos também que pretendemos melhorá-la quanto pudermos e alargar-lhe ainda mais horizontes.

Integrada na China, Macau em nada contractará a sua vocação histórica de porta giratória aberta ao anfiteatro de todos os povos e culturas do Mundo. No limiar do "mundo global" continua a caber-lhe função dinâmica no intercâmbio cultural universal, dando aqui notícia da modernidade ocidental e impulsionando a sinologia em áreas geográfica-culturais que profundamente a desconhecem.

Macau está entre os pioneiros factores da unidade do Mundo e, animados de messianismo luso, outra coisa nos não orientou se não uma escatologia da fraternidade universal.

Assim queríamos que tudo continuasse para o futuro.

No resto, e olhando o que passou, temos a noção clara das nossas limitações, e do que fizémos para superar obstáculos e quietivos.

Fomos, sobretudo, alentados no ânimo por tantas palavras e testemunhos devidos à cordialidade de quem nos escrevia ou visitava.

Em treze anos, a RC contribuiu para a substanciação cultural da identidade de Macau; foi catalizador da maior curiosidade pela realidade e temas desta área geográfica; promoveu o melhor conhecimento mútuo e o intercâmbio cultural China/Portugal; estimulou a investigação, publicitou autores e obras; deu apoio editorial a seminários e congressos; atraiu e apoiou a investigação de inúmeros intelectuais chineses sobre a realidade de Macau; contribuiu para o conhecimento de Macau no interior da China, em vésperas da reintegração; foi factor de consolidação da estratégia de Macau como "cidade de cultura" e divulgou Macau em vastos meios culturais internacionais.

De tudo, e sobre tudo, restou-nos na consciência uma outra conclusão: ficámos aquém e sentimo-nos em começo.

Porque, neste campo e vocação, o caminho é interminável ou infinito, enquanto a evolução não realizar a perfeição num tempo e num espaço reais — a história dos homens.

Da operosidade da fábrica editorial destes quarenta números saberão aqueles que mais empenhadamente foram colaboradores da RC ao longo destes treze anos, em experiência inédita de produzir uma revista trilingue. São eles que merecem as nossas palavras de agradecimento e de felicitações.

Orgulhamo-nos deste humilde serviço prestado ao Instituto Cultural de Macau e, através dele, a Macau, a Portugal e à China.

Do passado para o futuro, assim seja.

O Director da Revista de Cultura

Luís Sá Cunha

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