Rotas e Embarcações

A VISÃO DE MACAU DOS CATÓLICOS COREANOS: 1566-1784

Juan Ruiz-de-Medina*

O Director do Instituto de História Jesuíta (I. H. S. I.), em Roma, pediu-me em 1983 para escrever um artigo com o título A Coreia e os Jesuítas desde a Fundação da Ordem em 1540 até 1773, sendo este último o ano em que a Companhia de Jesus foi extinta pelo Papa Clemente XIV.

O tópico agradou-me, porque acabei por apreciar aquele país, há muitos anos, através dos meus contactos com os Coreanos no Japão, alguns deles meus estudantes ou paroquianos em Ximonoseque, Nagato e Hagi, a apenas 200 km da costa coreana.

Por outro lado, pensei que o artigo teria poucas páginas, dada a escassez de informações nos autores dos séculos XIX e XX, interessados nas origens da Igreja Católica na Coreia; por exemplo, Pagés, Dallet, Manuel da Câmara, Papinot, Delplace, Colín-Pastells, Bernard e Ralph Cory.

Habitualmente estes autores iniciam as suas narrativas a partir do ano de 1592 ou 1598 e mencionam regularmente Gregório de Céspedes, um jesuíta espanhol a quem, erradamente, chamam "Capelão do exército de Hideióxi"1, sem ir mais longe na análise da realidade histórica. Contudo, pelo que eu sei, ninguém menciona Francisco de Laguna, outro jesuíta espanhol que, passado pouco tempo, ocupou na Coreia o lugar de Céspedes, nas mesmas circunstâncias.

Alguns escritores falam de outros jesuítas ligados aos Mártires Coreanos da primeira metade do século XVII no Japão, beatificados pelo Papa Pio IX no ano de 1867. No entanto, os autores disponíveis não consideram qualquer plano para a evangelização do país, com excepção de Johannes Laures e Toshio Yanagida, que afirmam que, dadas as circunstâncias adversas, nunca existiu, nem podia existir, um plano.2

Calvário de pousar. Trabalho sino-português do século XVII. Madeira, prata e marfim, 103 x 38 cm. Diocese de Macau, Igreja de São Lourenço. Macau: As Ruínas de S. Paulo: Um Monumento para o Futuro, Macau, Instituto Cultural, [1994], p. 136.

Por outras palavras, para eles, parece que a velha Companhia de Jesus (1540-1773) não teve um verdadeiro contacto com o reino da Coreia e que as relações jesuítas com o povo coreano se limitaram apenas a pessoas deportadas para o Japão como prisioneiros de guerra, durante a invasão japonesa, entre Maio de 1592 e Janeiro de 1599.3

Esta foi a versão que eu próprio aceitei como válida em 1983. No entanto, decidi começar tudo de novo, tirando partido das minhas frequentes idas aos Arquivos da Companhia de Jesus em Roma (ARSI).

Valeu a pena. No códice Japsin, 4 encontrei um manuscrito precioso que narra uma tentativa abortada de evangelização da Coreia em 1566 e de um plano enviado secretamente da Índia pelo jesuíta português, Gaspar Vilela, ao Superior Geral, Francisco de Borja, pedindo-lhe para dar um novo incremento àquele projecto.

A carta de Vilela, datada de 3 de Novembro de 1571, de Goa, tinha o código "Soli" (Confidencial); nela ele explica que Cosme de Torres, um superior de Vilela no Japão, o enviara à Coreia, em 1566, para começar uma nova Missão, mas que as guerras civis no Japão o impediram de passar a fronteira para a Coreia. Nessa altura, a Missão Japonesa existia apenas há 17 anos.

Vilela descreveu o reino da Coreia e a existência de uma nova hipótese de concretizar o plano feito em 1566. Pediu ao Geral para patrocinar o projecto e ofereceu-se como voluntário para a Missão.

Esta proposta pode ser vista como um incidente isolado que merecera apenas uma menção menor na história, mas manuscritos mais recentes mostram que a iniciativa de Cosme de Torres foi mantida viva pelos Jesuítas durante a época de Nobunaga e Hideióxi, 1576-1598, o período apelidado de Azuchi-Momoiama, nos arquivos japoneses.

De facto, do século XVI ao século XVIII foram dados vários passos significativos para fundar uma missão na Coreia. Antes e durante a longa perseguição japonesa à Igreja (1614-1873), os Jesuítas fizeram planos para conseguir uma fundação na Coreia. Estes jesuítas eram missionários em locais espalhados pelo Oriente: Japão, Macau, Filipinas e China continental; tiveram a ajuda de vários jesuítas em Roma e os seus esforços continuaram até à extinção da Companhia de Jesus em 1773.

Mas não estamos a tratar apenas de propostas. Avançando nos estudos, percebi que, antes da invasão japonesa do século XVI, um coreano, que mais tarde se tornou um djuku5 e catequista, fora baptizado e educado pelos Jesuítas no Japão: trabalhara com eles antes dos primeiros prisioneiros da guerra da Coreia chegarem a Mura, Nagasáqui.

Originalmente não sabia o nome do djuku nem a data exacta da sua conversão. Contudo, depois, soube que em Dezembro de 1592, o P.e Pedro Morejón tinha baptizado, em Xiqui, Amacuça, um rapaz coreano de 12 anos, chamado Caum (Kan) Vicente, que todos os outros descrevem como prisioneiro de guerra, mas que, na realidade, foi para o campo japonês de livre vontade "tendo sido levado até lá pelo seu anjo da guarda".6

O baptismo de Caum, conjuntamente com o de mais de dois mil prisioneiros de guerra coreanos que aderiram à Igreja Católica no Japão (1593-1594), deu-me uma razão forte para pensar que a origem da Igreja Coreana era muito anterior a 1784, data tão comummente mencionada pelos autores, como tendo sido a do começo da Igreja naquele País.

Paralelamente à alegria de ter sido confrontado com tal informação, senti-me pouco à vontade, porque a minha pesquisa inicial fora feita em 1983, na época em que a Coreia e a Santa Sé se preparavam para a visita do Papa João Paulo II, para celebrar o que foi apelidado de "Bicentenário da Igreja Católica Coreana", uma comemoração baseada numa data que eu quase me convencera estar bem longe da verdade.

Pude perceber que a minha informação e as subsequentes reavaliações de uma teoria há muito venerada desagradariam a muitos na Coreia, bem como a alguns em Roma, pois estavam a organizar as celebrações conjuntamente.

O meu dilema era: deveria continuar com algo que levaria a uma reacção desagradável ou permitir que o pó se amontoasse, mais uma vez, sobre os velhos documentos, deixando que os historiadores vindouros descobrissem a verdade?

Nos finais de 1983, encorajado por amigos coreanos em Ximonoseque e por outros em Roma, escolhi prosseguir com o trabalho, acreditando que informações importantes, claramente encontradas em registos, deveriam ser apresentadas para serem avaliadas por historiadores interessados.

Em Maio de 1992 encontrei provas com muito interesse: uma carta autografada de 1606 do mártir no Japão, Carlos Spinola - nascido em Madrid de uma família nobre de Génova -, confirmava o que eu já sabia sobre o retorno de "um grande número de cristãos coreanos" à terra natal, em 1605.

Spinola disse:

"No ano passado, chegaram alguns embaixadores da Coreia e por ocasião do regresso de 'muitos coreanos que se tornaram cristãos aqui no Japão', entre eles alguns nobres, ofereci-me ao Fr. Vice-Provincial para ir ao encontro dessa cristandade e cuidar dos que para lá iam; ele, depois de tratar do assunto com os seus consultores, deu-me a sua autorização. Mas foram criadas tantas dificuldades, que não me foi possível ir." 7

Sei que as informações que publiquei na edição espanhola deste livro e mais tarde nas versões alargadas japonesa e coreana foram uma agradável surpresa em muitos sítios; todavia, a informação teve uma forte reacção negativa por parte de alguns cónegos da Igreja Coreana, reacção essa que eu já previra.

Os meus estudos sobre este assunto e os meus contactos com os estudiosos coreanos levaram-me a examinar cuidadosamente a forma de pensar de vários homens da Igreja de lá, cujas opiniões são influentes. É suficiente folhear três ou quatro livros para ver como os estereótipos se repetem. Permitam-me que cite algumas passagens:

"Os nossos antepassados coreanos abraçaram a religião católica, 'não como uma resposta passiva aos ensinamentos dos missionários estrangeiros', mas sim como o resultado positivo e dinâmico do seu zelo na procura da verdade e, tendo sido baptizados em Pequim, espalharam a palavra de Deus entre os seus compatriotas e fundaram a Igreja." 8

"A Igreja Católica na Coreia é marcada pela sua singular origem (...). 'Ao contrário de outras nações', as primeiras sementes da palavra de Deus foram levadas ao país 'pelos próprios coreanos, no século XVIII (1784)', e foi assim que a Igreja se estabeleceu, através dos zelosos esforços de apóstolos leigos, que baptizaram mais de 4000 convertidos, 'antes de qualquer padre missionário' ter chegado a este reino." 9

"É de notar que a Igreja Católica foi introduzida neste país, 'não por missionários estrangeiros', mas sim espontaneamente, por leigos coreanos. Esta é a origem rara da Igreja na Coreia, 'sem paralelo no mundo' e na história da Igreja Católica." 10

Outros trabalhos, incluindo livros escolares, fornecem idênticas informações no que diz respeito à origem da Igreja na Coreia. De facto, dizem que na Coreia não existiam cristãos até Lee Sung-hun,11 baptizado pelo P.e Grammont, S. J.,12 em Pequim, ter regressado ao seu país, em 24 de Março de 1784.

A firme decisão de perpetuar estas ideias pode ser encontrada não só em variadíssimos livros, mas a explicação foi gravada num monumento erigido com a bênção do antigo Arcebispo de Seul, Monsenhor Paulo Ro. Está situado num lugar isolado onde alguns leigos coreanos, proclamados mais tarde "Pais da Igreja Coreana" se encontraram há cerca de duzentos anos. Dizem os autores de Lugares Sagrados:

"Foi erigido um monumento à entrada do vale de Chon Jin-am, inaugurado pelo Arcebispo Paulo Ro, de Seul, em 24 de Junho de 1980 (...), que descreve a 'misteriosa origem' da Igreja Católica na Coreia, 'que não foi fundada por missionários estrangeiros, mas por leigos coreanos'. Os católicos coreanos têm muito orgulho neste facto." 13

Os católicos coreanos têm muito de que se orgulhar, e este pretenso "facto" teria o seu lugar - se fosse correcto. E no entanto, em 6 de Outubro de 1987, num simpósio sobre o meu livro Orígenes de la Iglesia Católica Coreana, organizado pela Universidade de Sogang, em Seul, o Prof. Kim Sung-hae, da Universidade, afirmou que:

"A história anterior (a informação que eu oferecera) pode atenuar o nosso orgulho de sermos um caso único na história missionária, de um povo que voluntariamente procurou a fé cristã." 14

É surpreendente ver como se insiste, fortemente, que os apóstolos da Coreia foram exclusivamente leigos, apesar da história, aceite durante gerações por todos os anteriores coreanos, demonstrar claramente que esses mesmos leigos de 1784 estavam bem cientes da dependência aos missionários europeus em Pequim ou em Macau, os quais os instruíram na fé. É por isso que estes leigos recorriam frequentemente aos missionários, a fim de completarem a sua preparação como catequistas, reconhecendo claramente a sua dependência em relação aos que os tinham formado como cristãos. Os missionários eram, sem dúvida, genuínos representantes da hierarquia eclesiástica e, como tal, tinham influência na Coreia, muito antes da hierarquia coreana ter sido estabelecida em 1831.

Essa genuína obediência aos missionários estrangeiros colocados na China foi o que levou o grupo de Lee Sung-hun a reconhecer, em 1785 e 1787, a invalidade da "Falsa Hierarquia Eclesiástica", que fora organizada por eles, esses pretensos "Pais da Igreja Coreana". O resultado foi a sua actuação cessar em 1790.15

De qualquer forma, "o facto" digno de orgulho pode ser encontrado nos acontecimentos de 1784;16 contudo, o que merece uma consideração um pouco mais jocosa é "o facto" de que o que Lee Sung-hun fez em 1784 foi a repetição de uma antiga colaboração com autoridades da Igreja, por parte de gerações de leigos que transmitiram a fé aos seus compatriotas, dentro da Coreia, desde 1605.17 A partir daí - documentos contemporâneos fidedignos contam-nos - havia na Coreia muitos cristãos que seguiam a fé; até construíram "uma belíssima Igreja".18

Por outro lado, deveríamos realmente reconsiderar expressões como "sem paralelo no mundo" e "ao contrário de outras nações", para que não se passe de ânimo leve sobre o facto de que, desde os seus primórdios, na Igreja Católica, leigos, pais, amigos e conhecidos eram os canais normais de transmissão da fé e da prática do baptismo, desde as suas origens na Terra Santa - a propósito, um país asiático - a todo o Império Romano e para além dele.

Esta tradição católica, que nunca morreu, estava em uso no século XVI nas terras missionárias do Oriente. De facto, a falta de missionários em número suficiente e de catequistas, bem como a geografia e as circunstâncias políticas de vários países, tornavam muitas vezes necessário que as vozes da hierarquia fossem ouvidas através de colaboradores leigos.

Antes que algum missionário percorresse as estradas das 15 províncias chinesas, a fé já tinha sido espalhada por essas províncias, por leigos, e só apenas indirectamente por missionários estrangeiros. Isto também aconteceu em Cochim, na China e em Tonquim, em grandes áreas do Este e Oeste da Tartária, Hocaido, na altura em que esta ilha ainda era independente, e com um grande número de senhores feudais do Japão; e aconteceu na Coreia.19

É de notar que tanto os promotores do Centro da Espiritualidade, já bem implantado no vale de Chon Jin-am, como os organizadores dos festejos de acolhimento ao Papa João Paulo II em 1984, sabiam que alguns cristãos coreanos tinham regressado do Japão em 1605 e que a cristandade existia na Coreia, de facto, antes de 1784.

A História Nacional Coreana padronizada explica que, por volta de 1753 (mais de 30 anos antes de 1784), os governantes de algumas províncias mostraram uma certa inquietação perante "a expansão de doutrinas estrangeiras", querendo claramente significar que existiam descendentes de cristãos repatriados em 1605 e outros cristãos que eram activos e em número crescente.

As comissões e patrocinadores de Chon Jin-am, sempre apelidado por eles, em francês, "Berço da Igreja Católica na Coreia", de certo não desconheciam o facto de alguns católicos coreanos, uma parte dos quais beatificada pelo Papa Pio IX em 1867, terem sido martirizados no Japão, no século XVII. Sabiam os nomes de Ta Júlia e de Caum Vicente, que foram, curiosamente, por eles mudados para Otaa e Kwon. Ouviram algo sobre o que se passara em Pequim em 1650, quando um grupo de nobres coreanos, depois de ter sido catequizado e baptizado pelo jesuíta alemão Adão Schall, regressou a Seul vindo desse país estrangeiro, com intenção de pregar a fé na corte.

No entanto, estes últimos organizadores e comissários fizeram cair esses "factos", e muitos outros, no esquecimento, com a finalidade de proclamarem como fazendo parte integrante da sua história de fé que a Igreja Coreana fora fundada em 1784 pelo leigo Lee Sung-hun e os seus amigos, sem terem necessidade de "missionários estrangeiros", como sustenta a cuidadosamente construída tradição.20

É particularmente difícil entender a omissão de Caum Vicente, um coreano nascido em Hanyang (hoje Seul), em 1580, o filho de um general "de três mil cavalos", que foi baptizado antes do dia de Natal, em 1592; foi o primeiro católico coreano cujo nome original e o nome cristão se lê nos arquivos manuscritos da época; breve se tomou um seminarista, um djuku -catequista e um modelo para os seus compatriotas, bem como para os Japoneses.21 Foi mandado para Pequim (1612-1618), pelo seu superior provincial Valentim de Carvalho, para dar novo incremento à Missão que Spinola anteriormente propusera. Caum passou quase sete anos em Pequim tentando, sem êxito, entrar na Coreia, tendo como objectivo contactar os católicos coreanos repatriados. Caum Vicente, a primeira pedra verdadeira da Igreja Católica na Coreia, notabilizou-se como linguista, calígrafo, como professor de mandarim e, finalmente, como mártir de Cristo.22

Hoje, muitos coreanos não entendem porque é que a comissão que preparou a canonização dos 103 mártires beatificados da Coreia eliminou deliberadamente da sua lista Caum Vicente e uma dúzia de mártires coreanos da primeira metade do século XVII, há muito beatificados pelo Papa Pio IX, em 7 de Julho de 1867, e que ainda hoje aguardam a canonização.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: anjo com a Cruz do Calvário (4.a fileira, à esquerda). Xie Ronghan: fotografia, 1991.

A razão para esta e outras omissões pode ter partido da decisão de considerá-los como estranhos e não como coreanos, esses mártires de Cristo que ofereceram as suas vidas fora do seu país. Esta opinião mantém-se, apesar do facto de, mesmo às portas da morte, os mártires professarem orgulhosamente a sua nacionalidade coreana aos seus executores. Quando, pela última vez, os executores perguntaram o nome a Miguel, martirizado juntamente com o seu compatriota Jinkur Pedro, em 22 de Novembro de 1614, em Cuchinotiso, ele respondeu em voz alta: "Sou Miguel, o coreano, e agradeço muito a Deus por estas graças que me dá." 23 Não foi o único que, na hora do martírio, proclamou publicamente a sua raça e a sua terra natal.

O testemunho de Caum Vicente ainda é mais explícito: "Disse-lhe que era um estrangeiro do reino da Coreia. Eu, Vicente, djuku do Padre João Baptista Zola, da Companhia de Jesus, sou natural da Coreia, nascido na capital desse Reino."24

Outra razão para a exclusão desses mártires talvez tenha sido a beatificação ter sido feita em conjunto com os seus compatriotas e amigos, os mártires japoneses, e, tanto os coreanos como os japoneses, terem mostrado ter necessidade de missionários estrangeiros para receberem a fé cristã; teria negado uma "geração espontânea" da Igreja Coreana.

Os promotores do "Berço da Igreja Católica na Coreia" - assim apelidavam o vale de Chon Jin-am - ignoraram factos anteriores, a fim de afirmarem que a Igreja Coreana fora fundada pelo leigo Lee Sung-hun em 1784.25

Por razões similares, omitiram dois outros nobres compatriotas: um nobre anónimo, que se nomeou catequista leigo e que regressou à Coreia em 1605, determinado a pregar a fé, e Tomás, outro nobre e antigo djuku que o seguiu em 1618.26 Tendo rejeitado os estereótipos tradicionais, a minha curiosidade levou-me a tentar descobrir a razão pela qual os jesuítas na Europa - e, obviamente, outros historiadores - ignoraram informações históricas sobre as actividades da Ordem na evangelização da Coreia e o porquê de aceitarem que tais actividades nunca existiram.

A Coreia, como nação, era praticamente desconhecida na Europa, com fronteiras bem fechadas aos estrangeiros, muito antes de 1550. Os Coreanos também não eram livres de sair da sua nação, com excepção dos membros das embaixadas mandados para ou da corte de Pequim e, eventualmente, outros idos ou vindos da Tartária e do Japão; eram todos bem inspeccionados durante a viagem e ao passar a fronteira.27

O primeiro resultado dum tal isolamento nacional foi os países ocidentais saberem muito pouco sobre a Coreia e vice-versa, apesar do interesse e boa vontade dos missionários que viviam no Oriente.

Esta falta de informação mútua durou muito tempo. Em 9 de Outubro de 1688 um jesuíta belga, António Tomás, escrevendo de Pequim a Tirso González, Geral da Companhia de Jesus, prometeu mandar-lhe "informação sobre a Coreia ainda desconhecida na Europa". Numa carta posterior, de 14 de Setembro de 1689, o mesmo jesuíta, que fora Vice-Presidente e Presidente substituto do Tribunal de Matemática da Academia Imperial de Ciências em Pequim, escreveu a Manuel Fernandes, confessor do Rei de Portugal: "Este Reino (Coreia) é ainda totalmente desconhecido entre os europeus." Tomás repetia a mesma declaração que enviara à devota duquesa de Aveiro, em Madrid, três dias antes, a quem, no entanto, acrescentou: "No próximo ano mandar-lhe-ei muita informação sobre a vasta e pouco conhecida Tartária, bem como o mapa, já preparado, do reino da Coreia."

Sabendo-se pouco sobre a Coreia como nação, a informação sobre a prática cristã deveria ter sido muito escassa.

Na Europa, política do mais alto nível e interesses ocultos também desempenharam o seu papel. Do século XV em diante, a história da Europa fora alterada pela expansão colonial de Portugal e Espanha na África, América, Ásia e ilhas do Pacífico. Mas houve uma forte oposição por parte das outras potências europeias à construção de tal Império; em França surgiu um forte desejo de uma tal hegemonia para a própria França e um grande antagonismo contra as nações ibéricas, onde se incluía a oposição ao Padroado que as nações ibéricas exerciam, no mundo inteiro, sobre a Igreja.28

As mais longínquas missões católicas em actividade, fortemente apoiadas pelas coroas portuguesa e espanhola, floresciam sob a protecção do Padroado Oficial; tal padroado acarretou aos missionários a inimizade dos governos franceses que foram por vezes ajudados por corsários ingleses e holandeses, implacavelmente anticatólicos.

Sobretudo as missões de Franciscanos e Jesuítas no Sudoeste Asiático e no Extremo Oriente tornaram-se o alvo dos políticos franceses, que consideravam os missionários como sendo a maior ajuda moral para a hegemonia portuguesa em terras longínquas.

As autoridades francesas pensaram ser indispensável enviar missionários franceses para erradicar o poder político e comercial de Portugal.

A ordem religiosa que começara e mantivera a missão no Japão, de 1549 a 1593, e que preparara e promovera o apostolado leigo para a Coreia a partir de 1566, fora a Companhia de Jesus. Passado pouco tempo, os Jesuítas sofreram muito com esta luta.

As conspirações antijesuítas são uma constante da cena política europeia do século XVIII. Havia conspirações que envolviam indivíduos poderosos, não só em Paris, mas estrategicamente espalhados por toda a Europa. Por trás de tal oposição, políticos ambiciosos incentivaram os promotores da heresia jansenista, os quais se proclamavam claramente inimigos de Jesus. O movimento tinha o seu quartel-general ideológico em Porto Real, França. Os Jansenistas ganharam influência nos palácios reais e em algumas sociedades clericais, sobretudo na Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris; tinham também influência sobre pessoas em altas posições do governo central da Igreja, em Roma.29

Muitos foram os contaminados por esta rígida espiritualidade mas, por certo, nem todos os vigários apostólicos e prefeitos bem como outros membros do clero, mandados a partir de 1658 para jurisdições eclesiásticas criadas pela Santa Sé no Sueste Asiático e na China, com autoridade para suplantar os privilégios do Padroado Português da Igreja e que puseram fim aos direitos legais na posse da Companhia de Jesus.

Os Jansenistas exploraram a controvérsia sobre a China gerada no Extremo Oriente e o suposto significado religioso dado à veneração devida a Confúcio e seus ancestrais. Os Jesuítas na China e no Japão tomaram posições dos dois lados da controvérsia - tal como fizeram membros de outras ordens. Mas na Europa e na Ásia, os Jansenistas, proclamadores da "Cristandade Autêntica", identificaram toda a Companhia de Jesus como sendo a corruptora das crenças católicas nesta questão.30

Assim começou a Questão dos Ritos, que hoje nos pode fazer sorrir, mas que, naquela época, foi fortemente instigada pelos Jansenistas; alcançou o seu triste auge em 1742, com a condenação da pretensa Doutrina dos Jesuítas.31

Os muitos e sucessivos golpes dirigidos contra a Ordem durante um século e meio foram finalmente bem sucedidos em 1773. Clemente XIV, pouco preparado para as exigências do seu cargo e pouco amante dos Jesuítas - como alguns dos seus irmãos franciscanos, que individualmente, e não como ordem religiosa, alimentaram tal hostilidade -, extinguiu a Companhia de Jesus. Os seus predecessores na Cadeira de Pedro resistiram durante muito tempo a fortes pressões similares.

Os inimigos dos Jesuítas, não contentes com o êxito das suas calúnias, lançaram uma "conspiração de silêncio". Durante os 40 anos da sua supressão, houve um grande vazio sobre qualquer acção de mérito levada a cabo pelos Jesuítas nos seus 234 anos de história. Foram ignoradas muitas missões na América - tal como as famosas "Conversões do Paraguai" - e missões no Extremo Oriente, as quais é claro que incluíram esforços tenazes para evangelizar a Coreia.

Foi em 1784, durante este silêncio "premeditado", numa altura em que a Companhia de Jesus não se podia defender, que começou a história de que o nascimento da Igreja Coreana fora de "geração espontânea" - obviamente um slogan criado por alguém que escolheu ignorar a semântica -, resultando numa igreja fundada por leigos sem necessidade de missionários estrangeiros, isto é, sem precisar dos Jesuítas. Os Jansenistas e os seus seguidores negaram, injustamente, o dedicado trabalho dos Jesuítas e de pessoas de outras ordens religiosas interessadas desde tempos antigos na evangelização da Coreia.

Quando por fim a Companhia de Jesus foi restaurada pelo Papa Pio VII, em 1814, o pó de quarenta anos amontoara-se nos confiscados documentos dos arquivos, parte dos quais foi devolvida aos Jesuítas. No entanto, novos historiadores da Ordem, em número reduzido e sobrecarregados pelo esforço de pesquisar a história da extinção e restauração da Ordem, omitiram a maior parte da rica colectânea de informação referente à história cristã na Coreia.

É entendível que historiadores recentes, incluindo jesuítas, tenham narrado a história dos acontecimentos do século XVI ao século XVIII em poucas páginas, reproduzindo na maioria das vezes o que fora dito no século XIX, quando o Jansenismo de alguns missionários franceses, na China, Indochina, Coreia e Japão, era ainda influente.

Isto talvez também ajude a explicar a razão por que os autores coreanos dos nossos dias não têm interesse em investigar como, quando e com que propósito "foi construída a sua tradição". Também é clara a razão pela qual ignoraram o facto de, há duzentos anos, a Igreja ainda estar minada pelo Jansenismo antijesuíta e que aqueles a quem chamam de "Pais da sua Igreja" foram influenciados por isso.

Observando a forma como os escritores coreanos olham para o seu passado, podemos ver a sua aversão por aqueles missionários estrangeiros inúteis que, apesar do seu zelo, não conseguiram levar a cabo o seu objectivo: viver entre os fiéis da Coreia. Alguns destes missionários eram jesuítas: Spinola, Zola, Eugénio, Sambiasi, Sonmemberg, Verbiest, Tomás, Régis, Resende e Von Hallerstein; outros, dominicanos: Francisco de Morales, Diego de Ribabellosa e João Baptista Cano; e outros, franciscanos: Gaspar de Alenda, Francisco de la Madre de Dios e, acima de todos, António de Santa Maria Caballero.

No entanto, ainda não se conseguiu obter uma explicação racional para a xenofobia demonstrada nas explicações acima citadas. Gostava de saber que relação existe entre tais ideias e o que eu ouvi sobre boatos em circulação relacionados com ressentimentos contra ordens religiosas masculinas. Tais posições não só prejudicaram os Jesuítas, como também prejudicaram todos os padres e irmãos de ordens religiosas que, com o seu trabalho, enriqueceram e universalizaram a Igreja na Coreia.

Na minha imaginação, vejo Lee Sung-hun narrando ao clero integralista de hoje, como, alguns anos antes de 1784, Jesuítas em Pequim e Macau lhe tinham dado, a ele e aos amigos, toda a ajuda, atenção e amor possíveis, da mesma forma que outros missionários trataram os antigos coreanos, membros dessas embaixadas anuais de 1650, e como continuaram a fazer a partir de 1711, quando um decreto imperial garantiu a liberdade de religião na China.

Em todos estes períodos, os Jesuítas instruíram-nos pacientemente na fé e na prática da vida cristã, baptizaram Coreanos e ensinaram-nos a harmonizar os novos cristãos com os antigos cristãos já espalhados pelo seu país.

Há na Coreia aqueles que, induzidos por provas, aceitam que as comunidades cristãs existiam muito antes de 1784; apelidam esse período de "pré-história"32, acrescentando, contudo, que não existia nenhuma ligação com a Igreja de hoje. Afirmações deste tipo são feitas sem provas. Asseguraram-me na Coreia - embora não o pudesse verificar - que Lee Sung-hun sabia da existência de cristãos, tanto na capital como nas províncias, quando começou a fazer prosélitos.

Durante uma estadia de três meses na Coreia, em 1987, conheci, por acaso, duas famílias de mais de três séculos de tradição cristã. Numa delas há mártires do século XIX; nestas famílias é evidente a ligação da Igreja Católica de outrora com a de hoje. Estas famílias reagiram positivamente perante os resultados da minha pesquisa, pois "agora" têm uma resposta concreta para os que os acusam de ser uns sonhadores.

Os factos fielmente relatados no meu livro são baseados em muitos documentos fidedignos do século XIV ao XVIII; não deveriam ser ignorados e muito menos ser repetido durante mais de dois séculos que "este reino é muito pouco conhecido entre os Europeus". Seria pior que tal noção predominasse entre os próprios coreanos.

Quando pessoas com autoridade na Igreja da Coreia escolheram qualificar o que eu apresentei como uma "opinião", chamando-lhe "uma tese a debater", apenas lhes posso dizer, humildemente, que o livro que agora ofereço em inglês não é uma tese hipotética que tenha necessidade de ser provada, mas sim uma exposição cronológica de informações tiradas de documentos autênticos e que tem como único propósito ajudar os leitores a tirar as suas próprias conclusões.

É difícil, mas não impossível, mudar convicções antigas e aceitar verdades recentemente demonstradas, baseadas em factos; a proposta pode mudar o slogan "Bicentenário da Igreja Católica Coreana" para "O Quarto Centenário", que na realidade deveria ter sido celebrado em Dezembro de 1992. Poderiam dar um novo nome a Chon Jin-am, por exemplo, "Vale da Consciência Católica" ou outro belo nome adaptado à sua verdadeira história, e esquecer o nome "Berço". A Igreja Coreana foi concebida em 1566 e nasceu em Dezembro de 1592, quando Caum Vicente foi baptizado. Esse acontecimento teve lugar 192 anos antes de 1784. As necessárias correcções podem ser dolorosas, mas não são impossíveis.

Fachada da Igreja da Madre de Deus ou de São Paulo, pormenor: corda (extremidade da 4.a fileira, à esquerda) a representar a mortificação e o sacrifício de Jesus Cristo.

Xie Ronghan: fotografia, 1991.

Comunicação apresentada no Simpósio Internacional "Religião e Cultura", comemorativo do IV Centenário da Fundação do Colégio Universitário de S. Paulo, realizado pelo Instituto Cultural de Macau, Divisão de Estudos, Investigação e Publicações, entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro de 1994, em Macau.

Tradução da versão inglesa por Maria da Graça Sampaio Nunes (título original: Los Católicos de Corea Vistos Desde Macao: 1566-1784); revisão de Fernando Lima; revisão final de Júlio Nogueira.

NOTAS

1 Foi com prazer que demonstrei, pela primeira vez em 1986 e depois em várias edições de Orígenes de la Iglesia Católica Coreana, que a posição de Gregório de Céspedes era tudo, menos a de "capelão militar".

2 LAURES, Johannes, Koreas erst Berührung mit dem Christentum, Münster, 1956; YANAGIDA, Toshio, Bunroku-Keich no Eki to Kirishitan Senkyshi, "Shigaku 52", Tóquio, (1) 1982, p. 19.

3 As últimas tropas japonesas estacionadas na Coreia apenas regressaram a casa com os seus chefes e oficiais, em Janeiro de 1599, quatro meses depois da morte de Hideióxi, e tiveram de suportar mais um inverno lá. "Todos os senhores japoneses e os seus homens voltaram 'este Janeiro' sem terem conseguido estabelecer uma verdadeira paz." Cf. correspondência de Valignano ao Director Jesuíta Acquaviva, Nagasáqui, 22 de Fevereiro de 1599, ARCHIVUM ROMANUM SOCIETATIS IESU [ARSI], Japsin, 13, II, 260.

4 ARSI, Japsin, 7, III.

5 Em documentos antigos encontramos dogico, doxico, dojuco, dojucu, etc. O termo foi adoptado para referir adolescentes ou adultos celibatários nativos, associados com os Jesuítas no apostolado. O seu trabalho excedia o de catequista. Djuku implicava um "estado de vida", mesmo que temporário, enquanto que catequista era um "cargo", uma ocupação. Ver RUIZ-DE-MEDINA, Juan, "El Neologismo 'Dojuku': Dados Históricos", in Actas do Congresso "Portugal e Japão no Século XVI e Princípios do Século XVII", Colónia, 29 de Janeiro a 3 de Fevereiro de 1991. Síntese em D. J. 1, Apêndice 3 - Djuku, kanb, komono.

6 Pedro Morejón, Macau, 31 de Março de 1627, na Biblioteca da Real Academia da História (BRAH), Jesuits, 9/2666, 462. Ver RUIZ-DE-MEDINA, Juan, A Igreja Católica na Coreia, pp. 297... ss.

7 Carlos Spinola a João Álvares, Assistente de Portugal. Miaco, 3 de Dezembro de 1606, ARSI, Japsin, 36, 151. Devido a circunstâncias inultrapassáveis, este valioso testemunho não pôde ser incluído no livro A Igreja Católica na Coreia.

8 O muito Rev. Paulo M. Ro, D. D., Arcebispo de Seul, na apresentação do livro A Coreia Católica de Ontem e de Hoje, de Joseph Chang-mum Kim e do catequista John Jae-sun Chung, Seul, 1964.

9 Id., p.21.

10 KIM Chang-Seok; LEE Choong-Woo, Os Lugares Sagrados dos Mártires Coreanos, Seul, 1986, p. 6.

11 O nome de Lee Sung-hun também é escrito pelos coreanos como Lee Seung-hun e Yi Sung-hun. Às vezes aparece Pierre Hoon. "Lee Seung-hun nasceu em 1756 em Pyong Ch'ang, na província de Kang-won." Cf. KIM Chang-mum, Joseph, A Coreia Católica de Ontem e de Hoje.

12 Grammont foi jesuíta até à extinção da Ordem em 1773 e voltou a sê-lo em 1806, oito anos antes da Santa Sé a restabelecer, em 1814.

13 KIM Chang-Seok; LEE Choong-Woo, ob. cit., p. 13. Tal mistério não deveria existir, porque os autores explicaram todos os passos dados por Lee Sung-hun e pelos seus amigos. Mas viram que existia um vazio, ao ponto de adoptarem a expressão "geração espontânea", a fim de manterem viva a data de 1784 e o nome de Lee Sung-hun. Tentam esquecer o facto de ele ter "continuado" a evangelização coreana, mas não ter sido ele o "iniciador" e muito menos o seu "Pai Fundador".

14 "Estudos do Oriente Asiático", Seul, (13) Fev. 1988, p.101.

15 Ano em que foi instituído o Vicariato Apostólico Autónomo da Coreia.

16 Ver KIM Chang-mum, Joseph, ob. cit., p. 877, apesar de ter alguns erros menores.

17 Outros "factos" - não mencionados nas publicações católicas coreanas - poderiam levar a uma visão mais realista da Igreja da Coreia: "Os casos de hesitação, de renegação e depois de retorno serão frequentes ao longo da história Coreana. (...) O caso de Pierre Hoon, o primeiro cristão, é mais sério: ele assina para a sua família uma carta de apostasia, mas volta logo a seguir, no início de 1786 (...). Pierre Hoon, considerado como o fundador, renega definitivamente em 1791." Cf. Action du Laїcat Coréen, p. 34, documento lido por Jean Vérinaud, M. E. P., na "Séssion de Chantelle" (CREDIC), de 28 a 30 de Agosto de 1986 (fotocópia do manuscrito). O nome completo de Pierre Hoon era Lee Sung-hun, Pedro.

18 "Este mesmo capitгo Souqui noticia que, no reino da Coreia, existe uma bela igreja e muitos cristгos e padres europeus que nгo podem deixar de ser da Sociedade (Companhia de Jesus); e que o povo desse país se recusou a pagar o tributo que costumava pagar ao Japгo." Carta ou uma relaзгo sumária do que se passou na China e no Japгo até Janeiro de 1666, escrita por um religioso de Sгo Domingos (Vitório Ricci) ao P.e Fr. Joгo de Los Angeles, Provincial das Filipinas, Bimondoc, Filipinas, 13 de Maio de 1666, Biblioteca Nacional de Madrid [B. N. M.], ms. 18553/5, f.o 1-6v.

19 BERNARD, Henri, En Mandchourie et en Corée, Tientsin, 1940, p. 34.

20 Chamam-lhe assim, mas poesia e história nгo sгo a mesma coisa.

21 Referências a estes factos aparecem em livros de Dallet, Choi, Andreas, etc.

22 Caum Vicente era o instrumento de Deus, diziam os seus compatriotas que viviam no Japгo, como mais tarde confessaram antes de regressarem à Coreia: "Serem cristгos e perseverarem na Fé foi uma bênзгo do Vicente. E com os Japoneses passou-se o mesmo." Cf. MOREJУN, Pedro, [BRAH], 9/2666, 462v, original em espanhol.

23 Ver RUIZ-DE-MEDINA, Juan, A Igreja Católica na Coreia, pp. 248, 299.

24 Id., pp. 86, 100... ss, 221, 261.

25 ARSI, Japsin, 148, I,139.

26 Id., 149,512v.

27 Id., 149,510v.

28 Ver METZLER, Joseph, "Бlvaro Benavente, O. S. A., nos Documentos do Arquivo Secreto do Vaticano", in Actas da Conferência Internacional "Agostinhos na América e nas Filipinas", Valladolid, 16 a 21 de Abril de 1990, Arquivos Secretos do Vaticano, vol. 2, p.861.

29 Ver HAY, Malcom, Failure in the Far East: Why and How the Breach Between the Western World and China Began, Wetteren, 1956. O autor, baseado em material inédito, trata com dureza os Jansenistas, bom número de vigários apostólicos e a Sociedade das Missхes Estrangeiras de Paris. Embora, num parágrafo curto, admita que, em muitas ocasiхes, a Companhia - nгo uma ordem religiosa - mereceu ser elogiada.

30 Ver Informatio pro Veritate contra Iniquiorem Famam Sparsam per Sinas cum Calumnia in Patres Societatis lesu (Anno 1717) - xilografia editada na China [Arquivo da Província de Toledo (A. P. T.) em Alcalá de Henares, Madrid, Est. 2, Caja 100, 7, L-1203,1]. Anexo à cópia do A. P. T., um folheto informativo diz: "Esta Informatio pro Veritate..., escrita pelo P. Nicolás Gian-Priamo [sic], S. J., foi posta no índice romano de livros proibidos, por decreto de 2 de Junho de 1720, sob o pretexto de tratar de Ritos Chineses. No entanto, a Relatio..., o libelo infame de Fr. Carlos Horácio de Castorano, frade franciscano, contra quem escreveu o Padre Nicolás, nгo foi posto no tal dito índice apesar de também tratar dos Ritos Chineses (...); convém advertir que os inimigos da Companhia neste assunto estavam protegidos na China pelos Holandeses e em Roma e Franзa, pelos Jansenistas."

31 O decreto radical Ex quo Singulari, de Bento XIV (1742), prejudicou o desenvolvimento das missхes no Extremo Oriente. A controvérsia recomeзou e o Vaticano continuou a publicar documentos pouco convincentes. Finalmente, em Dezembro de 1939, a Instruзгo Plane Compertum, assinada pelo Cardeal Fumasoni-Biondi, Chefe da Propaganda Fide, pфs termo à controvérsia contra Bento XIV, desculpando os decretos deste e dos Papas seguintes como sendo obras ajustadas ao seu tempo, válidas apenas para o passado. Ver MINAMIKI, George, The Chinese Rites: Controversy from Its Beginnings to Modern Times, Chicago, 1985, pp. 197... ss.

32 A expressгo "Pré-história da Igreja Coreana", usada de uma forma pouco culta para classificar os anos anteriores a 1784, parece ter sido criada por Dallet, M. E. P., no século passado. Ainda é usada por professores universitários, mas a História comeзa quando aparece o primeiro documento escrito sobre um facto. No nosso caso, o primeiro documento em que se planeia a evangelizaзгo da Coreia, em 1566, foi escrito em 1571 e, nesse ano, comeзa a sua "História" e nгo a sua "Pré-história".

* Mestre pela Faculdade Pontifícia de Filosofia de Madrid e pela Universidade de Sofia de Tóquio. Historiador, especialista em assuntos relativos ao Japгo, é professor e dirige o Departamento de Estudos Orientais do Instituto de História Jesuíta, com sede em Roma.

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